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ELEVANDO O PADRÃO DO META-PADRÃO

CAYRO LÉDA

RESUMO DO META-PADRÃO

O Meta-padrão é composto de 4 partes extremamente simples de lembrar:


1: Associar o cliente ao Estado-Problema (EP)
2: Dissociá-lo do Estado-Problema
3: Associar o cliente ao Estado de Recursos (ER)
4: Colapsar

Apesar de termos 4 partes bem distintas, devemos entender que o Meta-padrão não
é uma ferramenta, não é uma técnica, não é uma simples sequência de passos a
serem seguidos. O Meta-padrão é uma estrutura que está presente na maioria dos
métodos e ferramentas eficazes que são utilizadas para mudanças de
comportamentos.
Quando possuímos o entendimento do Meta-padrão como uma estrutura, podemos
utilizar qualquer técnica ou ferramenta já existente ou até mesmo criar novas
ferramentas no momento em que estamos fazendo a terapia.

Apesar da descoberta dessa estrutura ter sido feita por um profissional da PNL -
John Overdurf - para o Meta-Padrão acontecer não é preciso PNL, nem Hipnose,
nem qualquer outra forma de terapia organizada, é preciso apenas que saibamos
como lidar com os estados emocionais do sujeito. Uma vez que você entenda e
domine isso, você pode se utilizar da sua psicoterapia favorita e com muito mais
resultados do que teria se simplesmente aplicasse as ferramentas sem entender o
fundamento que rege tudo isso.

Quando analisamos a terapia regressiva, por exemplo, observamos claramente o


Meta-padrão:
1. “Volte para o primeiro momento que você sentiu isso” (Associar ao EP)
2. “Agora quero falar com o adulto/pai/mãe/parte da mente responsável por isso/
etc.” (Dissociar)
3. “Peça perdão para o fulano e para si mesmo/dê um conselho para a criança/
repita comigo “eu sou forte”/etc. (Associar ao ER)
4. “Volte para o início da cena” (Colapso)

Entendendo o Meta-padrão fica fácil perceber que a terapia regressiva funciona


porque roda o meta-padrão e não porque vai na suposta “causa” do problema, até
porque nossas memórias podem ser falsas e se você fizer regressão em um
cliente que não lembrava de certo evento e acaba relatando um abuso que não
existiu, você pode acabar trazendo ainda mais problemas para a vida daquela
pessoa e até mesmo para a sua.

O foco principal que devemos ter ao trabalhar com Meta-padrão é saber identificar
de forma muito clara o estado emocional do sujeito, CALIBRAR o cliente. Não
adianta o cliente falar “eu estou tranquilo” se o corpo dele fala o contrário. Dê o
máximo de atenção em saber diferenciar cada estado do seu cliente, e o resto da
terapia vai fluir naturalmente.
APROFUNDANDO O META-PADRÃO

Passo 1: Associar o cliente ao Estado-Problema

a. Entenda o verdadeiro EP do cliente


Muitas vezes o cliente já chega associado ao EP e você não vai precisar associá-lo.
Mas é preciso entender bem se o cliente realmente está associado ao EP que ele
quer resolver. É comum, por exemplo, o sujeito ficar nervoso por estar diante de um
terapeuta e nós devemos tomar muito cuidado para não confundir esse nervosismo
com o EP que o sujeito quer realmente resolver.

b. Encontre os gatilhos
Foque no momento exato em que a reação fisiológica do cliente começa. O gatilho
pode ser qualquer coisa (um objeto, uma cor, um cheiro, uma palavra etc.). É muito
comum o cliente generalizar dizendo que “a ansiedade acontece o tempo inteiro”

c. O mapa não é o território


É importante que deixemos o cliente revelar os gatilhos sem a nossa interferência.
Eu poderia acreditar que o medo de falar em público do meu cliente vem do medo
do julgamento, mas pode ser que para ele o gatilho seja o microfone na mão. Nunca
devemos interpretar as situações ou emoções de acordo com o nosso mapa de
mundo.

Passo 2: Dissociar o cliente do Estado-Problema

a. Modifique a fisiologia do cliente


Quando o estado emocional muda, a postura corporal também muda. Modificar a
fisiologia do cliente AJUDA a acelerar esse processo. Você pode fazer isso pedindo
para o cliente mudar de lugar, ou simplesmente se mexer.

b. Regra dos 90 segundos


No livro “The Meta-Pattern - Sarah Carson e Shawn Carson”, os autores afirmam
que, como regra geral, o “banho químico” que ocorre no cérebro quando sentimos
um estado emocional dura em torno de 90 segundos. Portanto, teoricamente,
simplesmente esperar 90 segundos dissocia o cliente, contanto que não haja uma
ativação novamente. O mais importante é não pensar no tempo em si, mas observar
se o cliente está realmente dissociado e não ter pressa para passar para o próximo
passo.

Passo 3: Associar o cliente ao Estado de Recursos

a. Pergunte os recursos que o cliente quer


Qualquer recurso serve para o Meta-padrão mas, de novo, não devemos colocar
nosso julgamento. Se o cliente tem ansiedade sempre que precisa apresentar um
projeto, podemos supor que ele precisa de confiança, mas pode ser que a palavra
confiança para ele signifique “estar preparado” e ele, estando preparado, queira
apenas tranquilidade. Isso pode gerar, inclusive, uma aversão do cliente ao
processo. Calibre, sempre!

b. Sempre aumente ao máximo o Estado de Recursos


Quando fazemos o colapso, não estamos substituindo um estado emocional ruim
por um bom. O que fazemos na verdade é ativar os dois estados emocionais
juntos. Portanto é importante que o Estado de Recursos seja maior que o Estado-
Problema para que haja o Colapso, inclusive é exatamente por isso que o nome do
último passo é Colapso.

Passo 4: Colapso
a. Traga o gatilho de forma rápida
Quando a pessoa está com o ER bem forte, traga de imediato o gatilho. Se for uma
fobia de barata, por exemplo, mostre uma foto de barata para o cliente.

b. Repita o Meta-padrão
Se você faz um Meta-padrão calibrando com excelência, você vai perceber que é
muito comum que o cliente não sinta mais absolutamente nada da reação negativa.
Mas mesmo assim é importante que você rode o Meta-padrão mais vezes.

c. Calibre, calibre e calibre!


Você pode até dar sugestões boas no colapso, mas lembre que você precisa
calibrar o cliente. Se você falar “note como você se sente bem” e ele não estiver
sentindo de verdade, pode ser que o cliente concorde com você mas não esteja de
verdade se sentindo bem. Não há problema algum se no colapso o cliente falar que
ainda está sentindo a reação ruim, basta você rodar o Meta-padrão mais vezes.

PROBLEMAS COMUNS E COMO CONTORNÁ-LOS:

Passo 1 - Associar ao EP:

a. O cliente tenta fugir do EP: “Quando eu entro no avião eu começo a pensar


em outras coisas, eu fecho os olhos, ou eu viro o rosto, eu fico pensando em
coisas boas…”

Conduza a pessoa para sentir o EP “Mas o que acontece se você não fechar os
olhos e não virar o rosto?”. O importante aqui é saber identificar quando a pessoa
está querendo fugir e trazê-la de volta. Isso é muito comum, porque o cliente não
quer se sentir mal, e o que a pessoa faz na vida real é justamente tentar fugir, ela já
está acostumada a isso e pode fazer o mesmo no consultório.

b. O cliente generaliza: “Eu sinto esse medo o tempo inteiro”

A generalização também é uma fuga, o cliente evita se associar para não se sentir
mal. Mais uma vez, o mais importante é identificar isso, para que você não caia no
erro mais comum de quem conhece o Meta-padrão mas não tem resultados
satisfatórios: passar para o próximo passo sem ter realmente concluído o anterior.
Uma boa forma de contornar esse problema da generalização é focar em apenas
um evento e no momento exato em que a reação acontece “Se isso acontece o
tempo inteiro, então é fácil você me falar de uma vez que isso aconteceu”

Passo 2 - Dissociar do EP:

a. Terapeuta associado
Se você estiver associado, muito envolvido com a história do cliente, pode ser que
isso dificulte o cliente dissociar, porque o cliente está em rapport com você (estude
pacing and leading). Se você tem uma postura corporal para baixo enquanto tenta
dissociar o cliente, ele pode ter dificuldade para conseguir sair do EP. Dissocie-se
primeiro e depois traga o cliente também.

a. O cliente dissocia do EP, mas volta a associar antes de você passar para o
próximo passo
Aqui é interessante você “interromper o padrão” do cliente, enquanto ele está se
associando. A Melissa Tiers costuma falar “STOP” e colocar a palma da mão na
frente do rosto do cliente para interromper o “caminho” que o cliente está
percorrendo para se associar ao EP.

c. O cliente tem receio do gatilho


Se você explica exatamente como funciona o meta-padrão ou como será a terapia,
talvez o cliente fique com medo de você mostrar o gatilho para ele a qualquer
momento, principalmente se for uma fobia e você mostrou uma foto no início. Você
pode evitar isso, deixando de comentar sobre como funciona o Colapso, ou pode
simplesmente lidar com isso caso aconteça. Você pode simplesmente falar para o
cliente “não se preocupa que não vou mostrar a foto para você no final, a gente
vai fazer outra coisa.” ou pode continuar buscando dissociar, sem pressa.

No passo 3 - Associar ao ER:

a. Negação
Quando você pergunta ao cliente o que ele gostaria de sentir ao “olhar uma barata”,
ele pode dizer “gostaria de NÃO SENTIR medo”. Nesse caso, PROVAVELMENTE
ele ainda está associado ao EP e você deve voltar ao Passo 2 e dissociá-lo. Você
poderia dizer ao cliente “Eu já sei o que você gostaria de NÃO SENTIR, agora me
fala o que você gostaria DE SENTIR”.
É sempre melhor quando o cliente diz o que ele gostaria de sentir e não o que não
gostaria. Mas lembre-se, o mais importante é você CALIBRAR. Talvez o cliente fale
“eu gostaria de não sentir medo” e mesmo assim esteja associado ao estado de
Recursos!

b. Descrença no processo
Se o cliente não confia muito na terapia e foi só para “ver se funciona”, ele pode ter
dificuldades para se associar ao ER, mesmo que os dois primeiros passos tenham
sido um sucesso. Aqui, o ponto principal é explicar para o cliente que ele é o agente
ativo do processo e que você não é um mágico que vai resolver o problema dele
sem que ele tenha participação direta nisso. Outra coisa que pode ajudar é
comentar sobre outros clientes que tiveram o mesmo problema e como eles se
livraram disso (prova social).

c. Leading
Assim como no Passo 2 você precisa conduzir o cliente, aqui é interessante que
você incentive a associação do cliente, modificando o seu tom de voz, sua postura,
sua respiração. Mas faça isso de forma natural, para não perder a congruência.

b. O recurso é impossível
É comum o cliente trazer um recurso que não dependa dele: “eu gostaria que
minha mulher parasse de fazer isso”. Uma forma de evitar isso é perguntar para o
cliente como gostaria de se sentir e não o que ele gostaria que acontecesse (a não
ser que você esteja utilizando alguma ferramenta que utilize essa pergunta, como a
Clean Language). Mas caso isso aconteça, você pode falar “tudo bem… mas
considerando que a sua mulher não entenda isso e continue fazendo as
mesmas coisas, como você gostaria de se sentir quanto a isso?”. Aqui também
poderia caber uma pequena explicação (ou puxão de orelha): “Ok… mas você
sabe que isso não depende de você, você só tem controle sobre as suas
próprias ações. Então como você gostaria de se sentir considerando que ela
não mude?”

No passo 4 - Colapso:

a. O cliente ainda tem a reação negativa


Pergunte ao cliente se a sensação está igual ou menor. Se estiver menor, rode o
Meta-padrão mais vezes, com o cuidado de deixar o ER bem forte.
Se a reação estiver igual, rode o Meta-padrão utilizando alguma ferramenta. Se
você é Hipnoterapeuta, talvez o cliente esteja esperando ficar de olhos fechados em
algum momento, faça um relaxamento ou uma indução. Se o cliente tem um trauma
pontual você pode fazer uma “Cura rápida de fobias”, ou uma terapia da linha do
tempo. Mude a estratégia, porque talvez o cliente espere algo diferente.

b. Peça para o cliente notar as diferenças


Muitas pessoas fazem comparações notando as semelhanças entre duas coisas. Ao
se comparar um carro e uma bicicleta, por exemplo, essa pessoa poderia falar
“ambos tem a mesma cor”. Se o cliente está claramente mais tranquilo mas
conversa como se não tivesse mudado nada, peça a a ele para observar as
diferenças: “como essa sensação agora é diferente da que você tinha antes?”.

c. O cliente fala que está melhor, mas o corpo diz o contrário


Além do motivo principal de gerar a mudança neurológica, o Colapso tem uma
função secundária de Calibragem. Se você fala para o cliente “agora olhe para o
seu pai e observe como você se sente bem, como fica tranquilo, como se
sente seguro etc.”, você está sugerindo para o cliente como ele deve se sentir
(mas trazer recursos é função do Passo 3). Talvez, pelo simples fato de você estar
pressionando o cliente com as sugestões boas, ele diga que está melhor, mesmo
sem estar.
Não tenha medo de “jogar” o cliente diretamente no gatilho. Se o ER for bem
estabelecido você não precisa dar sugestões boas no Colapso, e pode
simplesmente falar para o cliente “agora imagina o seu pai na sua frente falando
aquilo e me diz como você se sente”. Dessa forma você não interfere no
processo, o cliente vai ser verdadeiro, o feedback será real e você terá uma
excelente indicação se o cliente está igual, se está melhor ou se já está bem.

ESTRUTURA DA TERAPIA BASEADA NO META-PADRÃO CONVERSACIONAL:

1. Anamnese
2. Meta-padrão
3. Ponte para o Futuro

A anamnese necessária para o Meta-padrão pode ser extremamente rápida. O


importante é você coletar informações que possam ajudar você a trazer os estados
desejados no cliente. Descobrir os lugares que ele frequenta quando tem a reação
ruim, pode ajudar a encontrar os gatilhos corretos; Descobrir o que ele gosta de
fazer, por exemplo, pode ajudar na dissociação; Se o cliente tem a reação negativa
mas lembra de quando não tinha, trazer essa lembrança pode ser útil para o ER. A
anamnese deve ser focada em encontrar recursos para o Terapeuta rodar o Meta-
padrão de forma mais fácil.

Após o Meta-padrão é importante fazer uma “Ponte para o Futuro”, ou seja, pedir
para o cliente imaginar uma situação no futuro em que ele poderia ter aquela reação
negativa e dizer como ele se sente. A ponte para o futuro é importante porque a
situação da vida real não será igual à da terapia. Provavelmente o cliente não vai
estar sentindo um sentimento muito bom logo antes de olhar uma barata, por
exemplo. Na terapia fazemos “Estado de Recursos seguido do gatilho”, mas na vida
real do cliente o padrão vai ser “Estado normal seguido do gatilho”. Então é preciso
que a gente modele essa situação real no cérebro do cliente.

Por isso, ao fazer a Ponte para o futuro, é interessante que você não sugira “agora
sente essa sensação boa e imagina que você está em um momento futuro,
olhando para a barata e sentindo isso”. Ao invés disso, diga “Imagina agora um
momento no futuro em que aquela mesma reação ruim poderia acontecer, e
me diz o que você sente”. Mais uma vez, dessa forma é mais fácil você calibrar a
mudança.

É importante repetir a Ponte para o Futuro várias vezes, para gerar um reforço
desse novo padrão. E quando a terapia terminar, incentive o cliente a passar pela
situação real (acompanha ele até o elevador, se ele foi tratar claustrofobia). Mesmo
que você tenha uma percepção extremamente aguçada sobre a eficácia da terapia,
o resultado verdadeiro é quando o cliente passa pela situação na vida real.

Cayro Léda
Insta: @cayro_naooficial
Youtube: Cayro Léda

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