Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
1
Leonardo Alfredo da Rosa
2
Rafaela Smania Mendes Blauth
ABSTRACT: The right to freedom and equality in the task of promoting the social
inclusion of persons with disabilities are essential prerogatives of respect for human
dignity. Recognized by international treaties of which Brazil is a signatory, by the
Federal Constitution of 1988 and deepened by infraconstitutional laws, especially the
Statute of Persons with Disabilities, Law No. 13. 146/2015 creates the impression,
given the range of protective legal norms, that these people find in their daily lives the
fullness of personal and social development. However, with formal equality
established, we are still very far from finding the consolidation of rights in its practice.
The present work proposes, therefore, to discuss the conflict between the formal
equality advocated by traditional Human Rights, inspiring the Brazilian laws to protect
this class of people and the difficulty they experienced in the process of social
inclusion, seeking through reflection theorist of thinkers of the critical theory of
Human Rights in Latin America, find real paths to the true exercise of citizenship by
people with special needs.
1
Mestrando do Programa de Pós-Graduação em Direito da Universidade do Extremo Sul
Catarinense, UNESC. E-mail: leonardorosa1979@gmail.com
2
Mestranda do Programa de Pós-Graduação em Direito da Universidade do Extremo Sul
Catarinense, UNESC. E-mail: rafaelasmania@gmail.com
2
1 INTRODUÇÃO
burguesa pelo mundo, alcançando, assim, as próprias colônias, razão pela qual,
nossas primeiras legislações formalmente consideradas, tiveram forte influência
portuguesa, através das ordenações do reino que, naturalmente, fizeram influir sobre
nascentes constituições.
Nessa linha, ESCRIVÃO FILHO e SOUSA JÚNIOR (2016) relembram
nossa colonialidade, pois até 1888, nossos trabalhadores e trabalhadoras eram
escravos, isso muito depois da primeira Constituição brasileira, de 1824, nascida sob
o princípio formal de respeito aos “direitos do homem” formulado pelo pensamento
liberal que é marca registrada da Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão
de 1789, na qual era sonora a idéia de que “homens nascem livres e iguais”.
Portanto, não sejamos inocentes em desconhecer a forte influência
européia sobre nossas primeiras constituições e, consequentemente, sobre nossa
Constituição Democrática de 1988.
Nela, os direitos e garantias das pessoas com deficiência se encontra em
diversos dispositivos, sejam eles elencados como Direitos e Garantias
Fundamentais, no capítulo dos Direitos e Deveres Individuais e Coletivos (art.3º,
3 4 5
incisos IV e art. 5º ), como direito social (art. 7º, inciso XXXI ). Ainda, no título sobre
6
a Organização do Estado, informa em seu art. 23, inciso II , a competência da
União, Estados, DF e Municípios, além da proteção e integração social anunciada no
7
art. 24, XIV .
8
No capítulo da Administração Pública, preleciona no art. 37 a garantia de
reserva de percentual de cargos e empregos públicos para pessoas portadoras de
3
Art. 3º Constituem objetivos fundamentais da República Federativa do Brasil: (...)IV - promover o
bem de todos, sem preconceitos de origem, raça, sexo, cor, idade e quaisquer outras formas de
discriminação.
4
Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos
brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à
igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos seguintes:(...)
5
Art. 7º São direitos dos trabalhadores urbanos e rurais, além de outros que visem à melhoria de sua
condição social:(...) XXXI - proibição de qualquer discriminação no tocante a salário e critérios de
admissão do trabalhador portador de deficiência;
6
Art. 23. É competência comum da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios: (...)
II - cuidar da saúde e assistência pública, da proteção e garantia das pessoas portadoras de
deficiência;
7
Art. 24. Compete à União, aos Estados e ao Distrito Federal legislar concorrentemente sobre:
(...) XIV - proteção e integração social das pessoas portadoras de deficiência;
8
Art. 37. A administração pública direta e indireta de qualquer dos Poderes da União, dos Estados, do
Distrito Federal e dos Municípios obedecerá aos princípios de legalidade, impessoalidade,
moralidade, publicidade e eficiência e, também, ao seguinte (...)
8
9
Art. 203. A assistência social será prestada a quem dela necessitar, independentemente de
contribuição à seguridade social, e tem por objetivos: (...)
IV - a habilitação e reabilitação das pessoas portadoras de deficiência e a promoção de sua
integração à vida comunitária;
V - a garantia de um salário mínimo de benefício mensal à pessoa portadora de deficiência e ao idoso
que comprovem não possuir meios de prover à própria manutenção ou de tê-la provida por sua
família, conforme dispuser a lei.
10
Art. 208. O dever do Estado com a educação será efetivado mediante a garantia de:
III - atendimento educacional especializado aos portadores de deficiência, preferencialmente na rede
regular de ensino;
IV - educação infantil, em creche e pré-escola, às crianças até 5 (cinco) anos de idade;
en11Art. 227. É dever da família, da sociedade e do Estado assegurar à criança, ao adolescente e ao
jovem, com absoluta prioridade, o direito à vida, à saúde, à alimentação, à educação, ao lazer, à
profissionalização, à cultura, à dignidade, ao respeito, à liberdade e à convivência familiar e
comunitária, além de colocá-los a salvo de toda forma de negligência, discriminação, exploração,
violência, crueldade e opressão (...)
§ 1º O Estado promoverá programas de assistência integral à saúde da criança, do adolescente e do
jovem, admitida a participação de entidades não governamentais, mediante políticas específicas e
obedecendo aos seguintes preceitos:(...)
II - criação de programas de prevenção e atendimento especializado para as pessoas portadoras de
deficiência física, sensorial ou mental, bem como de integração social do adolescente e do jovem
portador de deficiência, mediante o treinamento para o trabalho e a convivência, e a facilitação do
acesso aos bens e serviços coletivos, com a eliminação de obstáculos arquitetônicos e de todas as
formas de discriminação (...)
§ 2º A lei disporá sobre normas de construção dos logradouros e dos edifícios de uso público e de
fabricação de veículos de transporte coletivo, a fim de garantir acesso adequado às pessoas
portadoras de deficiência.
9
12 estado atual
12
marginalizadas diante das minorias elitistas que usam e seu proveito imediato a
maior parte dos recursos disponíveis, apesar de que são a menor parte da
humanidade (ELLACURIA apud MARTÍNEZ, 2015).
Assim, a tese de Martínez (2015), chamada “Filosofia da Libertação” (FL)
vem afirmar que a análise da quebra dessa hegemonia parte da mudança de
percepção, que deve partir da perspectiva da vítima, representada por um grupo
social, uma maioria discriminada (pobres) ou uma minoria, mas que são esquecidos
e vítimas do sistema tradicional de garantias formais SILVA (1987 apud CARMO,
1991).
Para SANTOS (2005 apud MARTÍNEZ, 2015) é palpável que o fato de as
três grandes promessas da modernidade, a saber, a promessa de igualdade, a
promessa de liberdade e a promessa de dominação da natureza, não terem se
cumprido tem trazido consequências não desejáveis. A igualdade se vê desmentida
ante a pobreza do Terceiro Mundo; a liberdade ficou insatisfeita ante a violência
policial, o trabalho infantil ou em condições pouco dignas, os conflitos raciais contra
as minorias, a violência sexual, etc.; e o domínio da natureza se realizou de maneira
perversa com a destruição da natureza e a geração da crise ecológica.
Para tanto, MARTÍNEZ (2015) apresenta três vias para fundamentar
direitos humanos como o objetivo de que estes sejam instrumentos da práxis de
libertação dos povos. Essas vias são: o fundamento da alteridade, o fundamento
sociopolítico ou da práxis da libertação, e o fundamento da produção da vida.
A alteridade, quando analisada sob a perspectiva das pessoas com
necessidades especiais, objeto da presente pesquisa, é, de fato, algo incomum, mas
de profundo sentimento de humanidade, pois exige a mudança pessoal, a quebra de
pré-conceitos e de cultura, para se exigir a aproximação com o próximo.
Ela pressupõe o sentir-se no outro, o desprendimento egoístico, pessoal,
centralizado, para poder, através da proximidade, perceber quais são as reais
dificuldades, os obstáculos, a indiferença e o grau de preconceito com que as
pessoas com necessidades vivenciam os espaços “comuns” em seu cotidiano e
promover ações reais que tenham resultado prático.
Ainda, o fundamento sócio-político através da práxis da libertação exige
que haja uma participação efetiva das massas no processo político de
transformação dos espaços públicos, de promoção de políticas sensibilizadas com a
14
realidade, capazes de romper com a apatia regada pela completa outorga de ações
que hoje estamos acostumados a assistir.
Por isso, MARTÍNEZ (2015) fala que a FL se constitui não como
recuperação “do outro sem razão”, mas da “razão do outro”.
Desse modo, Antônio Carlos Wolkmer (2002 apud MARTÍNEZ, 2015),
informa a necessidade de se produzir uma prática pedagógica libertadora,
diferenciada, que rompe com a estagnação e a apatia política, social e ideológica,
para definitivamente emancipar os esquecidos sujeitos históricos oprimidos,
alienados, excluídos.
A filosofia da libertação, nessa linha, busca encontrar valores de
emancipação que se comprometam com o sentir-se, o comprometimento com a
dignidade do outro, não mais limitadas com suportes teóricos hegemônicos ligados a
práticas sociais cotidianas e necessidades históricas tradicionais (WOLKMER, 2002
apud ROSILLO, 2015).
A libertação, portanto, não é um acontecimento único, mas um processo
de aproximação, de diálogo e de transformação e, porque não, de uma revolução?
(ELLACURÍA, 2000d apud MARTÍNEZ, 2015).
Por isso, DUSSEL (1998 apud MARTÍNEZ, 2015) reforça a idéia de
dignidade, ao afirmar que o reconhecimento do outro é um processo de rompimento,
de “re-conhecê-lo”, desde sua vulnerabilidade traumática e não mais a partir de um
contexto tradicionalmente apresentado, insuficiente e com exigências não
cumpridas. A responsabilidade pelo outro, pois este não tem condições de lutar, de
gritar, de pôr-se em pé.
Assim, as pessoas com deficiência, em busca da práxis da cidadania, não
podem se conformar com o alento legislativo de normas protetivas, cuja prática está
totalmente alheia aos seus anseios e que não é capaz de romper com os obstáculos
diários de desenvolvimento que essa classe de pessoas busca.
Essa libertação e a emancipação, para RUBIO (2014), se desenvolve
efetivamente através da luta, com o inconformismo e o forte desejo de
transformação, pois não se tolera mais a exclusão, a discriminação e a injustiça. Os
grupos afetados conquistam reconhecimento, autoestima, autonomia e
responsabilidade enquanto sujeito.
15
6 CONSIDERAÇÕES FINAIS
REFERÊNCIAS
ESCRIVÃO FILHO, Antônio; SOUSA JÚNIOR, José Geraldo de. Para um debate
teórico conceitual e político sobre os Direitos Humanos. Belo Horizonte: Editora
D’Plácido, 2016.
WOLKMER, Antonio Carlos. Bases éticas para uma juridicidad alternativa. In:
JesúsAntonio de la Torre Rangel (Coord.). Derechoanternativo y crítica jurídica.
México: UAA-Iteso-Porrúa, 2002.