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Teatros de Lisboa

(1591-1976)
Advertência
A presente obra encontra-se protegida, ao abrigo do Código do Direito de Autor e dos Direitos Conexos.
É expressamente proibida a cópia ou reprodução, parcial ou total, de qualquer dos conteúdos desta obra,
sem autorização expressa do autor.
A utilização não autorizada pode configurar a prática de um crime de usurpação ou contrafação (artº.s 195ª e
196º do CDADC), para além de incorrer em irresponsabilidade civil conducente a um pedido de
indeminização.

[2018], Teatros de Lisboa (1591-1976) © José Augusto Leite


Prefácio

Este novo e-Book intitulado “Teatros de Lisboa” (1591-1976), com 186 páginas com 314 fotografias e
documentos, surge na sequência do primeiro, intitulado “Cinemas de Lisboa” (1896-2011), publicado e
disponibilizado no blog “Restos de Colecção”, em 3 de Abril de 2018. A exemplo do primeiro, este também
poderá ser vizualizado, compartilhado e baixado (em PDF) para o seu computador, tablet, telemóvel, ou ser
impresso.

Desta vez, foram reproduzidas na integra todas as histórias ilustradas, disponibilizadas no blog, acerca
dos Teatros, que existiram - e de alguns que ainda existem - em Lisboa. Estão incluídas neste e-Book 39
Teatros de Lisboa, em que incluo algumas fotos e documentos.

Apenas indicarei na listagem e nos títulos dos Teatros de Lisboa, os anos de fundação dos mesmos, já
que muitas se transformariam em salas de animatógrafo, ou cinema, tendo regressado, alguns deles, à sua
vocação inicial, de Teatro. A vertente de sala de Cinema de alguns Teatros, foi abordada no e-Book anterior,
“Cinemas de Lisboa” .

As salas de Teatro de Lisboa cujas histórias são aqui publicadas, abrangem o maior número de bairros
de Lisboa e diferentes épocas. Disponibilizei um número suficiente e possível de fotos, e documentos,
referentes cada sala de Teatro, e limitei-me, na sua essência, a reproduzir o texto já publicado no meu blog
“Restos de Colecção”. Quanto às restantes fotos, programas, bilhetes, plantas e outra documentação,
poderão ser baixados no artigo respectivo, cujo link directo disponibilizarei no final de cada história.

Este e-Book, “Teatros de Lisboa” (1591-1976), assim como o primeiro, encontra-se protegido, ao abrigo do
Código do Direito de Autor e dos Direitos Conexos, conforme “Advertência” publicada na página anterior.

Maio de 2018

O autor :

José Augusto Leite

Blog: “Restos de Colecção”


Índice

Breve referência histórica ao início do Teatro em Lisboa .......................................... .......................... 03


Listagem de Teatros de Lisboa (1591-1976) ............................................................... ……………………….. 11
Teatro da Rua dos Condes …………………………………………………………………………………….. ……………………….. 17
Teatro do Salitre / Teatro de Variedades .................................................................. ……………………….. 23
Teatro Nacional de S. Carlos ...................................................................................... .......................... 29
Teatro de Thalia ou Teatro das Laranjeiras …………………………………………………………… ……………………….. 34
Teatro Nacional D. Maria II ……………………………………………………………………………………. ……………………….. 41
Teatro do Gymnasio .................................................................................................. .......................... 45
Teatro-Circo de Price ................................................................................................. .......................... 49
Teatro do Principe Real / Teatro Apolo ..................................................................... .......................... 52
Teatro da Trindade .................................................................................................... .......................... 57
Teatro Taborda .......................................................................................................... .......................... 63
Recreios Whittoyne ................................................................................................... .......................... 67
Novo Teatro de Variedades / Teatro do Rato ............................................................ .......................... 72
Teatro Luís de Camões ............................................................................................... .......................... 75
Real Colyseu de Lisboa e Paraizo de Lisboa .............................................................. .......................... 79
Teatro Avenida .......................................................................................................... .......................... 83
Colyseu dos Recreios ................................................................................................. .......................... 88
Teatro Rainha Dona Amelia / Teatro República / Teatro São Luiz ……………………........ ……………………….. 93
Teatro Principe D. Luiz Filipe ou Teatro da Luz .......................................................... ......................... 99
Music-Hall S. Bento-Rato ........................................................................................... ........................ 103
Casino / Teatro Etoile ................................................................................................ ........................ 105
Salão Foz .................................................................................................................... ........................ 107
Teatro Phantastico ..................................................................................................... ........................ 111
Rocio Palace ............................................................................................................... ........................ 113
Teatro Moderno ........................................................................................................ ........................ 115
Politeama …………........................................................................................................ ........................ 120
Eden Teatro ............................................................................................................... ........................ 125
Parque Mayer - Apontamento Histórico ………………………………………………………………. ……………………… 130
Teatro Maria Vitória ................................................................................................... ........................ 135
Teatro Joaquim de Almeida ………………………………………………………………………………….. ……………………… 138
Teatro Variedades …………………................................................................................. …………………141

1
Capitólio ………….……………………………………………………………………………………………………. ....................... 146
Monumental .............................................................................................................. …………………….. 151
Teatro ABC ................................................................................................................. ........................ 156
Aula Magna da Reitoria da Universidade de Lisboa .................................................. ........................ 159
Teatro Villaret ............................................................................................................ ........................ 163
Teatro Laura Alves ..................................................................................................... ........................ 166
Teatro Maria Matos ................................................................................................... ........................ 169
Teatro Vasco Santana ................................................................................................ ........................ 172
Teatro Ádóque ……………………………………………………………………………………………………… ……………………… 176
Outros Teatros de Lisboa ………………………………………………………………………………………. …………………….. 181
Antigas Publicações Periódicas de Teatro ……………………………………………………………… …………………….. 183

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Breve referência histórica ao início do Teatro em Lisboa

Breve referência histórica ao início do Teatro em Lisboa

«Reparando para as rubricas iniciaes dos Autos de Gil Vicente, vê-se que elles foram na maior parte re-
presentados na corte de Dom Manoel e Dom João III, nos Paços da Ribeira, em Almeirim, Evora, Coimbra e
Thomar ; algumas vezes representou o insigne comico a pedido da Abbadeça de Odivellas, e da Viuva de
Dom João II, ou na procissão de Corpus. Por estas indicações, não se póde deduzir que o povo assistisse a
taes espectaculos; apenas na farsa de Quem tem farellos? se diz, que o povo lhe dera este titulo. No Auto de
El-Rei Seleuco, de Camões, vê-se pelo prologo, que a representação era feita em um Pateo ou corro, para
divertimento de um particular que assim regalava seus amigos.
É de suppor, que as comedias representadas diante do povo fossem introduzidas pelas Companhias
ambulantes hespanholas, que percorriam a Peninsula; na linguagem popular ainda se encontra a palavra
Moiganga, que descobre este uso. Segundo Rojas, a Moiffanga era uma Companhia formada de duas
mulheres, cinco ou seis comediantes , com um repertorio de seis peças, tendo quatro cavalgaduras, duas para
levarem os caixões do vestuario, e as outras duas para irem montados, revezando-se. Na lingua portugueza
existe palavra Cambaleo y que accusa a vinda a Portugal de Companhias hespanholas, formadas de uma
mulher ue canta, e de quatro homens que berram, tendo no spertorio uma comedia, dois autos, e trez ou
quatro interimedios. Cambaleo, demorava-se de ordinario seis dias em cada terra.
É a contar da influencia e governo dos Philippes, que a imitação directa do theatro hespanhol se
manifesta em Portugal; Francisco Rodrigues Lobo, que tambem cultivou a forma dramatica, diz que dos
hespanhoes nos veiu a designação de jornadas ; foi tambem de Hespanha que tornámos o theatro como um
divertimento popular. No meado do seculo XVI o theatro recebeu em Hespanha uma forte perseguição da
auctoridade ecclesiastica; era costume lá, fazer-se as representações em pateos, ou pequenos largos,
servindo as janellas das casas vizinhas de camarotes para os espectadores.

Para vencer os escrupulos da auctoridade ecclesiastica, ou como condemnação do divertimento


profano, as Companhias dramaticas foram forçadas a darem parte do rendimento das suas recitas para os
hospitaes e instituições de caridade. Isto se deu egualmente em Portugal, duante o reinado dos Philippes.» in
“Historia do Theatro Portuguez” por Theophilo Braga, 1870.

Em Portugal, e no século XVII, as festas teatrais estavam confinadas aos espaços privados do Paço
Real, da Igreja e da Universidade - incluindo os colégios jesuíticos -, embora a baixa nobreza e a plebe,
sobretudo a plebe lisboeta mais endinheirada, tivessem à sua disposição alguns pátios onde vinham fazendo
furor as comédias "de capa e espada" de origem espanhola. E se bem que este tipo de espectáculo tenha
sofrido algum descrédito a partir da Restauração de 1640, só muito lentamente o gosto daquele público se vai
afazendo às adaptações das peças dos autores italianos (Alfieri, Goldoni ou Metastasio) ou dos autores
franceses mais importantes (Molière, Racine, Corneille, Crébillon).

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Breve referência histórica ao início do Teatro em Lisboa

O nosso atraso em relação ao que se passava noutros países da Europa era notório e se se tinha já
ouvido, na corte portuguesa, em 1682, qualquer coisa que se assemelharia a uma ópera (uma "cantata
alegórica"?) - que foi, aliás, recebida com manifestações de escárnio e desagrado ter-se-ia, porém, de
aguardar quase meio século para se assistir à primeira adaptação portuguesa de um dos melodramas de
Metastasio. No entanto, existiu em Lisboa, desde 1735, um espaço exclusivamente dedicado ao bel canto, a
“Ópera da Trindade” ou “Academia da Trindade” (um dos vários teatros que a história do teatro português
designará por “Teatro do Bairro Alto”), o pri-meiro teatro lírico português, onde, em 1736, se representaram as
óperas Alessandro Nell'Indie e Artaxerxes com libretto da autoria de Metastasio.

Mas se estes espectáculos de elite estavam vetados ao "povo miúdo", para estes se cultivavam géneros
mais acessíveis - cultural e economicamente - como o "teatro de fantoches" e os "entremezes" sobre temática
religiosa que eram apresentados em "presépios" montados em casas particulares ou em barracos miseráveis -
os já mencionados "pátios" de influência espanhola. Em idênticas condições logísticas se podia também
assistir às comédias e farsas da tradição vicentina, acomodadas ao gosto e às modas do momento, cujos
textos, originais ou adaptados, se vendiam em folhas volantes "a cavalo num barbante" - o chamado "teatro de
cordel"-, forma de difusão bibliográfica que, aliás, incluía também os textos do repertório mais culto.

O “teatro declamado” - designação que ainda no século XVIII supunha uma recitação empolada do texto
teatral - cedia lugar, então, ao espectáculo musical e às mágicas de cenários rebuscados, maquinismos
complexos e aparatosa exuberância de luxo e espectacularidade.

Não admira, pois, que tenha sido a ópera o género que mais protecção real recebeu também entre nós,
sobretudo nos reinados de D. João V (1706-1750) e de D. José (1750-1777). Essa protecção traduziu-se,
porém, muito menos na dinamização ou na promoção de um teatro nacional que num proteccionismo de
carácter imediatista que visava resultados de curto prazo.

Não deixa, contudo, de ter sido de grande importância o facto de D. João V ter oferecido bolsas de
formação no estrangeiro, sobretudo em Itália, a cantores e compositores nacionais que, nalguns casos, como
o de Luiza Rosa Aguiar Todi (1753-1883), chegariam a alcançar prestígio internacional, como também não
deixou de ser importante a construção ou adaptação de uma rede de teatros fixos, alguns dos quais tentando
ombrear em fausto e modernidade com os teatros mais avançados da Europa.

O êxito da ópera como modalidade de importação - e de uma "importação" realmente se tratava, pois
tudo vinha de Itália, desde as partituras, aos músicos e cantores, aos adereços, figurinos, cozinheiros,
maccarroni, chocolates ou mesmo a alfazema para perfumar os cenários e as plateias! - deveu-se a um
investimento forte dos mecenas nobres, sobretudo o Rei, que, deste modo, e à imagem dos demais “déspotas
esclarecidos" europeus, promoviam a ima-gem do seu poderio através da exposição do luxo e da
magnificência.

Nota: Texto anterior retirado de uma “Sebenta | Colecção História do Teatro Português” intitulada “Espaços
Teatrais da Lisboa do Barroco aos Séculos XVIII e XIX” da autoria de Eugénia Vasques.

De seguida, a transcrição das seguintes passagens do livro de 1883: "Real Theatro de S. Carlos de
Lisboa", de Francisco da Fonseca Benevides:
«Antigamente, de 1588 a 1762, tinha o previlegio de alugar theatros para representações, ou dal-as,
fazendo de empresario, o Hospital de Todos os Santos, situado no Rocio, proximamente no local onde fica o
primeiro quarteirão de casas, pertencentes ao conde do Paço do Lumiar, do lado oriental da praça, e que
ardeu pelo terramoto de 1755. Foi aquelle previlegio concedido por Filipe II de Hespanha, durante a
denominação castelhana.
(...) Em 1753, por ordem do rei D. José, se construiu o grande theatro regio nos Paços da Ribeira,
segundo os planos de João Carvalho Bibiena; o mesmo architecto construiu os theatros dos palacios de
Salvaterra e Ajuda. O theatro da rua dos Condes foi reconstruido em 1770, e o do Salitre em 1782. Além
d'estes, houve o theatro do Bairro Alto, situado no pateo do Conde de Soure, á Rua da Rosa, e outro mais
recente do mesmo nome construido por Joaquim da Costa em 1812 perto de S. Roque. (…)
(…) Apezar da protecção que ás composições theatraes dispensava o esclarecido governo do grande
marquez de Pombal, e do muito que a musica era cultivada e apreciada pela côrte do rei D. José e da rainha
D. Marianna Victoria, comtudo os theatros não prosperavam em Lisboa, e sobre tudo os artistas passavam
amarga vida. Estavam então em todo o seu vigor os prejuizos contra os comicos; a carreira theatral era tida

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Breve referência histórica ao início do Teatro em Lisboa

em pouca consideração; se os actores não eram bem olhados por grande numero de individuos orgulhosos ou
hypocritas, as actrizes ainda inspiravam menos confiança.
(...) e como então o famoso ministro de D. José tinha posto em relevo os commerciantes e os
industriaes, pela vitalidade e desenvolvimento, que havia procurado dar ao commercio e á industria, foi
tambem debaixo da forma de companhia ou sociedade de homens de negócio, que elle emprehendeu
organizar e fazer prosperar os theatros eos artistas n'esta cidade»

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Breve referência histórica ao início do Teatro em Lisboa

“Pateo da Bitesga”

«E' este o primeiro pateo de comedias, de que ha noticia em Portugal. Não se sabe a data exacta em
que começou a funccionar; sabe-se apenas que existia em 1591, porque a 6 de julho d'esse anno começou o
emprezario Fernão Dias Latome a pagar a parte que dos espectáculos pertencia ao Hospital de Todos os
Santos, pelo privilegio que este tinha de auctorisar esses espectáculos.
Diversos investigadores contradizem-se sobre ser o Paleo da Bitesga o mesmo que depois se chamou Pateo
da Mouraria ou Theatro da Mouraria. Querem uns que não, porque a rua da Bitesga era a mesma que hoje
existe e a Mouraria começava mais além; mas affirmam outros com razão que não era crivei que n'aquella
epocha existissemdois theatros tão próximos um do outro.
Nunca se encontraram referencias aos dois na mesma epocha. Em que sitio da rua da Bitesga era o pateo, ou
theatro, nunca se poude apurar.» in: “Diccionario do Theatro Portuguez” de Sousa Bastos (1908).

Por outro lado Theophilo Braga no seu livro “Historia do Theatro Portuguez” de 1870, escrevia:
«Sabe-se que o Pateo da Bitesga já funccionava a 11 de Julho de 1594, por isso que pelo registo do Hospital
se vê n'esta data o seguinte recibo: «da caixa de Manoel Rodrigues, das comedias da Bitesga, 2$320.» Como
competia ao Hospital de Todos os Santos, pela escriptura da fundação do Pateo, as duas quintas partes do
que rendesse, vê-se por este recibo, que a recita produzira liquidos 5$800 reis; o que era um bom resultado,
se attendermos ao valor da moeda no seculo XVI. Se a este producto do mez de Julho de 1594, ajuntarmos as
duas quintas partes dos lucros produzidos em Novembro e Dezembro d'este mesmo anno, e em Janeiro e
Fevereiro de 1595, que foram 85$130, temos 87$450 reis, vêmos que o producto total foi de 394$800 reis.
Esta simples indicação da economia do nosso theatro no fim do seculo XVI, quando a nação estava enlutada e
pobre, basta para revelar quanto o Pateo da Bitesga era frequentado, talvez pela novidade dos seus
espectaculos, que então seriam o ecco da côrte de Madrid, e ao mesmo tempo, descobre-nos a sua grandeza.
A este Pateo tambem se julga ter sido dada a denominação de Pateo da Mouraria.».

“Pateo das Fangas da Farinha”

«Existiu no local em que hoje é o tribunal da Boa Hora e antes foi convento de frades da Ordem de
Santo Agostinho, sob a invocação de Nossa Senhora da Boa Hora. Foi fundado por D. João Hiranço e Luiz de
Castro, no anno de 1619, por occasião das festas com que em Lisboa foi recebido o rei D. Filippe III. D. João
Hiranço era sobrinho de Fernão Dias Latome, o fundador dos pateos da Bitesga e da Rua das Arcas; Luiz de
Castro era senhor da Casa de Barbacena e possuia um palácio nas Fangas da Farinha, no qual se fabricou o
pateo. Durou muito pouco e com vida tormentosa pelas desavenças entre o senado, o hospital e o proprietário.
O Pateo das Fangas da Farinha nunca teve popularidade. Em 1633 Luiz de Castro fez doação d'elle a
uns religiosos, que transformaram os camarotes em pequenas cellas e o palco ou tablado em capella. Os
padres hibernios ali estiveram até 1659. Entraram depois os padres do Oratório até 1674.
Por fim, por doação, entraram na posse do pateo os Agostinhos Descalços, que ali fundaram o Convento de
Nossa Senhora da Boa Hora. Nada absolutamente se sabe sobre os espectáculos
que foram dados no Pateo das Fangas.» in: “Diccionario do Theatro Portuguez” de Sousa Bastos (1908).

“Pateo da Rua das Arcas”

«No cartorio do Hospital de S. José só se encontra rendimento d'este pateo de 1601 em deante. Sabe-
se que, por escriptura de 31 de maio de 1593, Fernão Dias Latome comprou ao commendatior D. Diniz de
Alencastre umas casas e quintal que possuia na praça da Palha e rua das Arcas. Esta compra foi para cumprir
o contracto com o Hospital de Todos os Santos, em que, por escriptura de 9 de maio de 1591, se obrigou a
construir dojs pateos em sitios convenientes.

Foi o primeiro o Pateo da Bitesga e o segundo o Pateo da rua das Arcas. Este contracto durou até 1698,
em que o Hospital adquiriu a propriedade do pateo. Durou portanto mais de um século. A este pateo vinham
frequentemente companhias hespanholas com actores notáveis. Também ali se representaram as notáveis
comedias de Jacintho Cordeiro. Por documentos que existem no cartório do Hospital de S. José vê-se : que o
Pateo das Arcas estivera por bastante tempo como propriedade dos frades do Carmo; que os prédios

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Breve referência histórica ao início do Teatro em Lisboa

contiguos tinham janellas sobre o pateo; que havia assignaturas de camarotes ; que o preço de cada camarote
era de 320 réis ; e que já n'aquelle tempo havia grande numero de borlistas.

O Pateo da rua das árcas ardeu a 10 de dezembro de 1697. Foi grande o incêndio, que devastou
diversos prédios, causando prejuizos de mais de um milhão. O Hospital, para não perder os lucros que o pateo
lhe dava, reedificou-o em melhores condições, começando de novo a funccionar em 12 de abril de 1700. Tinha
o novo pateo 20 forçuras (camarotes) no primeiro andar, seis camarotes e assentos geraes com cinco degraus
em roda de todo o pateo no segundo andar, 21 camarotes no terceiro andar e outros 21 no quarto andar.

O local em que ficava este theatro era no sitio em que hoje está a rua Augusta, junto ao Rocio. Era ahi
um largo com o nome de praça da Palha, que deu depois o nome á travessa da Palha, hoje rua dos
Correeiros. Seguia até S. Nicolau com o nome de rua das Arcas. O theatro devia ficar, pouco mais ou menos,
onde hoje está o segundo quarteirão da rua Augusta.Até 1703 esteve o theatro arrendado a Manuel Rodrigues
da Costa, que mandava vir as companhias por sua conta. Em 1704 deram-se alguns bailes e trabalhou a
companhia de Domingos Laboana, que aqui morreu.

Desde 1710 até 1725 foi emprezario das companhias do Pateo das Arcas um tal José Ferrer. De 1726 a
1729 esteve uma companhia com os notáveis artistas Francisco de Castro e José Garcez. Estes artistas
tinham percentagem nos lucros e, para aquelle tempo, os fabulosos ordenados de 90$000 e 45$000
réis.Apesar d'isso, o theatro vinha em grande decadência, a ponto de ter o Hospital de acabar com a
exploração por causa dos prejuizos.

Esteve o Pateo das Arcas fechado até 1735, em que foi arrendado por nove annos a Francisco Luiz
Valente pela quantia annual de 40$000 réis! Assim mesmo o contracto não foi cumprido e, em 1740 fez-se
novo arrendamento com Luiz Trinité pela quantia de 600$000 réis annuaes.» in: “Diccionario do Theatro
Portuguez” de Sousa Bastos (1908).

“Theatro Opera do Tejo” ou “Real Casa da Opera”

O “Theatro Opera do Tejo” , “Real Casa da Opera” ou “Theatro dos Paços da Ribeira”, foi inaugurado
em 31 de Março de 1755. Seria destruído pouco tempo depois, pelo terramoto de 1 de Novembro de 1755. No
seu lugar seria, décadas mais tarde, construído o “Arsenal da Marinha”.

«Em 1753, por ordem do rei D. José, se construiu o grande theatro regio nos Paços da Ribeira, segundo
planos de João Carvalho Bebiena. Para o theatro dos Paços da Ribeira mandou o rei D. José escripturar
famosos cantores: taes foram os celebres (castrati) Caffarelli, Gizziello, e Raaff, Manzuoli, Balbi, etc; o famoso
sopranista Caffarelli que representou no Theatro dos paços da Ribeira, e depois em outros theatros, foi
escripturado como cantor da real camara pela enorme somma de 72:000 francos ou mais de 12:000$000 réis
annuaes, o que era verdadeiramente colossal para a epocha. Foi para estes cantores que o maestro David
Perez, mandado vir por D. José, escreveu a sua opera Alessandro nelle Indie, que subiu á scena no theatro

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Breve referência histórica ao início do Teatro em Lisboa

regio em 31 de março de 1755, dia dos annos da rainha D. Marianna Victoria. Mezes depois, em 1 de
novembro do mesmo anno, era o grande theatro sepultado nas ruinas da immensa catastrophe que derrocou e
incendiou grande parte de Lisboa.» in: livro de 1883 "Real Theatro de S. Carlos de Lisboa", de Francisco da
Fonseca Benevides.

“Theatro de D. Fernando”

O “Theatro de D. Fernando” foi construído no local onde existira a Igreja de Santa Justa, na Rua dos
Fanqueiros. Inaugurado em 29 de Outubro de 1849, o empresário e ensaiador Emilio Doux apresenta o drama
“Adriana Lecouvreur”, tendo Emília das Neves como actriz principal. Durante a sua curta existência, o espaço
opta por um reportório popular, não chegando a atingir grandes êxitos. Em 1859 o edifício é demolido e no seu
lugar foi construído um hotel.

“Theatro do Bairro-Alto”

Pouco se sabe sobre o primeiro “Theatro do Bairro-Alto”, onde se estrearam as óperas de António José
da Silva; a hipótese, bem documentada, de António de J. Ribeiro Guimarães é a de que terão existido no
século dezoito dois espaços com este mesmo nome na cidade de Lisboa: um antes do terramoto de 1755 e
outro depois, em funções a partir de 1761, denominado “Casa da Ópera do Pátio do Conde de Soure” (vulgo
“Theatro do Bairro-Alto”), sito na Rua da Rosa, montado pelo ex-boticário e animador da capital, João Gomes
Varella, que arrenda a antiga morada. As obras do antigo teatro duraram todo o Inverno de 1760 e custaram
6.023$853 réis. Oferecia uma vasta plateia, 27 camarotes de primeira e segunda ordens e botequim próprio
que servia «agua nevada» (água com gelo) e sorvetes. Foi no “Theatro do Bairro-Alto” que se estreou Luiza
Todi em 1768 com 15 anos.Na época, cantavam também as duas irmãs, Cecília Rosa e Izabel Iphigénia.

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Breve referência histórica ao início do Teatro em Lisboa

Os folhetos anteriores, e da esquerda para a direita, são: o primeiro de 1787, e os dois restantes ambos
de 1824.

Já no século XIX, foi inaugurado em 1815, um outro “Theatro do Bairro-Alto”, também chamado
“Theatro do Pateo do Patriarca” ou “Theatro de S. Roque”, sito no Largo de S. Roque, (actual Largo da
Misericórdia) em Lisboa, onde fora o Palácio de Niza. Os espectáculos pretendiam retomar a tradição das
marionetas do Bairro Alto. Roberto Xavier de Mattos, empresário, mandou desenhar e equipar uma pequena
companhia de fantoches manobrados sob o tablado. Por se chamar Roberto, ficaram os bonecos a chamar-se
também “robertos”, e o espectáculo de “Teatro Dom Roberto”, nome pelo qual ainda hoje é conhecido.

Desactivado o teatrinho, em 1836, começou a degradação do pátio de S. Roque. Por lá passaram,


instalando-se nas ruínas dos cenários, cocheiros e taberneiros. Em 1865 albergou a fábrica de seges, e a
partir de 1894, a “Companhia de Carruagens LIsbonense”. Nos anos 20 do século XX seria tudo vendido
à “Santa Casa da Misericórdia de Lisboa”.

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Breve referência histórica ao início do Teatro em Lisboa

Maioria dos Teatros de Lisboa, activos entre o século XVIII e finais do século XIX

1733 - “Theatro do Bairro Alto” - destruído, pelo sismo de 1755. Depois de reconstruído reabriu em 1765.
1735 - “Academia da Trindade”, no Bairro Alto no actual Largo Rafael Bordallo Pinheiro.
1737 - Theatro da Ajuda”.
1738 -“Theatro Novo”, nos terrenos dos Condes da Ericeira, onde viria a instalar-se o “Theatro da Rua dos
Condes”, depois destruído pelo terramoto de 1755.
1753 - “Sala das Embaixadas” - Teatrinho do Paço da Ribeira da Casa da Índia.
1755 -“Theatro Ópera do Tejo” ou “Real Casa da Ópera” inaugurado em 31 de Março. Foi, igualmente,
destruído pelo terramoto de 1 de Novembro de 1755.
1761 - “Casa da Ópera do Pátio do Conde De Soure”, vulgo “Theatro do Bairro Alto”. Para uns o terceiro com
este nome, para outros o segundo.
1765 - “Theatro da Rua dos Condes”. Demolido em 1882 deu lugar a outra sala de seu nome “Theatro Chalet”
da Rua dos Condes.
1767 - “Theatro da Graça”.
1782 -“Theatro do Salitre” - Erguido na junto da Praça de Touros com o mesmo nome. Depois de mudar de
nome para “Theatro das Variedades Dramáticas", foi demolido em 1879.
1793 - “Theatro de São Carlos” inaugurado em 30 de Junho.
1812 - “Theatro Pinturesco e Mechanico” . Fechou em 1833.
1815 - “Theatro do Pátio do Patriarca”, vulgo “Teatro do Bairro Alto”. Para uns o quarto com este nome, para
outros o terceiro.
1820 - “Theatro de Thalia” ou “Theatro das Laranjeiras” na “Quinta das Laranjeiras” e propriedade do Conde
de Farrobo.
1846 - “Theatro Nacional D. Maria II”.
1846 - “Theatro do Gymnasio”, na Rua Nova da Trindade.
1849 - “Theatro de D. Fernando”, na Rua de Santa Justa.
1852 - “Theatro do Gymnasio”. Este veio substituir o que abriu em 1846 Viria a sofrer um incêndio em 1921 e
foi demolido e substituído pelo novo em 1925.
1852 - “Theatro do Calvário”, no Largo do Calvário em Alcântara.
1865 - “Theatro do Príncipe Real”, ex-“Salão Meyerbeer” e que por sua vez ex-“Salão Wauxhall”.
1867 - “Theatro da Trindade”, na Rua Nova da Trindade.
1870 - “Theatro Taborda”, na Costa do Castelo.
1880 - “Theatro do Rato”, ao Largo do Rato. Depois de destruído por um incêndio, encerrou em 1906.
1880 - “Theatro Luís de Camões”, na Calçada da Ajuda.
1883 - “Theatro Chalet” da Rua dos Condes, no lugar do 2º “Theatro da Rua dos Condes” (1770-1882) e que,
em daria lugar ao “Theatro (Novo) da Rua dos Condes”, em 1888.
1885 - “Sociedade de Instrução Guilherme Cossoul”.
1885 - “Chalet Dramático” na Rua das Amoreiras.
1886 - “Sociedade de Recreio Dramático”.
1887 - “Real Colyseu de Lisboa”, na Rua da Palma.
1887 - “Theatro Terpsichore”, na Rua da Conceição.
1888 - “Theatro Avenida”. Foi destruído por um incêndio em 1967.
1888 -“Theatro (Novo) da Rua dos Condes”, erguido por Francisco Grandella. Foi demolido em 1951 para dar
lugar ao Cinema Condes.
1890 - “Clube Estefânia”.
1890 - “Colyseu dos Recreios”, na Rua das Portas de Santo Antão.
1890 - “Theatro d’Alegria”.
1894 - “Theatro Rainha D. Amellia”.
1895 - “Apolo”, em Alcântara.

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Listagem da maioria dos Teatros de Lisboa (1591-1976)

Listagem da maioria dos Teatros de Lisboa (1591-1976)

Lista da maioria dos Teatros que existiram, e dos ainda existentes, na cidade de Lisboa, com indicação
do ano de fundação, desde 1581 até 1976.

Os nomes em azul, contêm o link directo para a sua história ilustrada no blog “Restos de Colecção”.

Teatro Romano de Lisboa - Existiu, provavelmente na época do Imperador Augusto de Roma, entre 27 a.c. e
14 a.c.

1591 - Pateo da Bitesga, na Rua da Bitesga


1593 - Pateo da Rua das Arcas, na Rua das Arcas. Ardeu em 10 de Dezembro de 1697.
1619 - Pateo das Fangas das Farinhas, no actual Tribunal da Boa-Hora.
1720 - Teatro do Paço da Ribeira. Inaugurado em 22 de Outubro.
1720 - Teatro do Bairro Alto, no Pateo do Conde de Soure
1735 - Opera da Trindade ou Academia da Trindade, no Bairro Alto no actual Largo Rafael Bordallo Pinheiro -
um dos muitos teatros apelidados de Teatro do Bairro Alto, que destruído, pelo sismo de 1755, seria
reconstruído e reaberto em 1765.
1737 - Casa de Opera da Real Quinta de Belém, ou Casa de Opera da Ajuda, Real Theatro da Ajuda ou
Opera Real de Belem. Mandada construir por D. João V. Foi o primeiro Theatro de opera à italiana em
Portugal. Estaria na origem ao Theatro de Luiz de Camões inaugurado em 8 de Junho de 1880.
1738 - Teatro Novo, nos terrenos dos Condes da Ericeira, onde viria a instalar-se o Teatro da Rua dos
Condes, depois destruído pelo terramoto de 1755.
1740 - Pateo dos Condes, junto ào Largo da Anunciada.
1750 - Pateo das Comédias, na rua da Bitesga
1753 - Sala das Embaixadas - Teatrinho do Paço da Ribeira da Casa da Índia.
1753 - Casa da Ópera da Rua dos Condes.
1755 - Teatro Ópera do Tejo ou Real Casa da Ópera inaugurado em 31 de Maio. Foi destruído pelo terramoto
de 1 de Novembro de 1755.
1761 - Casa da Ópera do Pateo do Conde de Soure, vulgo Teatro do Bairro Alto. Para uns o terceiro com este
nome, para outros o segundo.
1765 - Teatro da Rua dos Condes. Demolido em 1882 deu lugar a outra sala de seu nome Teatro Chalet da
Rua dos Condes.
1767 - Teatro da Graça, na Calçada da Graça
1782 - Teatro do Salitre - Erguido na junto da Praça de Touros com o mesmo nome. Depois de mudar de
nome para Teatro das Variedades, foi demolido em 1879.
1793 - Teatro de São Carlos inaugurado em 30 de Junho.
1808 - Teatro de Buenos Ayres, na Rua de Buenos Aires.
1812 - Teatro Pinturesco e Mechanico. Também chamado de Teatro de S. Roque ou Teatro da Patriarcal.
Encerrou em 1833.
1814 - Teatro de S. Roque ou Pátio do Patriarca, vulgo Teatro do Bairro Alto. Quarto com este nome, para
outros o terceiro
1814 - Teatro da Boa Hora, em Belém.
1820 - Teatro de Thalia, ou Teatro das Laranjeiras, na Quinta das Laranjeiras e propriedade do Conde de
Farrobo. 1843 - Teatro da Quinta do Pinheiro
1846 - Teatro Nacional D. Maria II.
1846 - Teatro do Gymnasio, na Rua Nova da Trindade.
1847 - Circulo Lisbonense, na Rua do Vigario
1849 - Teatro D. Fernando, na Rua de Santa Justa. Inaugurado em 29 de Outubro e demolido em 1860.
1852 - Teatro do Ginásio. Este veio substituir o que abriu em 1846 Viria a sofrer um incêndio em 1921 e foi
demolido e substituído pelo novo em 1925
1852 - Teatro do Calvário, no Largo do Calvário em Alcântara.
1852 - Sociedade Tália.
1853 - Novo Gymmnasio Lisbonense, no Largo do Poço do Borratém.
1855 - Teatro Floresta na Sala de Cristal, na "Floresta Egípcia", na Rua da Escola Politécnica.
1858 - Teatro de Variedades, na Rua do Salitre e ex-Teatro do Salitre.
1858 - Teatro Mechanico, no lado oriental do Passeio Público

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Listagem da maioria dos Teatros de Lisboa (1591-1976)

1860 - Teatro-Circo de Price, junto ao passeio Público e Praça da Alegria. Demolido em


1865 - Teatro do Príncipe Real, ex-Salão Meyerbeer e, que por sua vez, ex-Salão Wauxhall.
1865 - Teatro Particular do Aljube
1865 - Teatro das Variedades Dramáticas - ex-Teatro das Variedades, na Rua do Salitre
1867 - Teatro da Trindade, na Rua Nova da Trindade.
1867 - Teatro Dom Luiz, junto às Amoreiras.
1867 - Teatro da Ilha dos Amores, na Rua da Fábrica da Pólvora em Alcântara.
1870 - Teatro Taborda, inaugurado em 31 de Dezembro, na Costa do Castelo
1872 - Teatro do Infante D. Augusto, em Alcântara
1872 - Teatro D. Afonso, no Largo dos Jerónimos. Seria substituído pelo Teatro D. Luiz I.
1872 - Teatro Lisbonense, considerado o primeiro Teatro de Feira. Nas Feiras de Belém e Amoreiras.
1872 - Teatro de Alfama
1872 - Teatro do Pateo do Tijllo, no pateo do Tijollo
1872 - Teatro D. Augusto, em Alcântara
1873 - Teatro Popular d'Alfama - ex Sociedade Tália criada em 1852.
1874 - Recreios Whittoyne
1877 - Teatro dos Recreios
1878 - Teatro Alliança, na Feira das Amoreiras
1879 - Teatro Infantil dos Irmãos Dallot - Quinta da Várzea em Alcântara
1880 - Novo Teatro de Variedades, ao Largo do Rato. Após um primeiro incêndio foi renomeado de Teatro do
Rato e após um segundo incêndio, encerrou em 1907.
1880 - Teatro Luís de Camões, na Calçada da Ajuda
1880 - Teatro D. Affonso, na Rua do Olival
1881 - Teatro do Rato, no Largo do Rato
1883 - Teatro Chalet da Rua dos Condes, no lugar do 2º Teatro da Rua dos Condes (1770-1882) e que, em
1888 daria lugar ao Teatro (Novo) da Rua dos Condes.
1884 - Chalet Dramatico, na Rua das Amoreiras Inaugurado em 9 de Maio.
1885 - Sociedade de Instrução Guilherme Cossoul
1885 - Chalet Dramático, na Rua das Amoreiras
1886 - Sociedade de Recreio Dramático
1887 - Real Colyseu de Lisboa, na Rua da Palma.
1887 - Teatro Terpsichore, na Rua da Conceição.
1888 - Teatro Avenida. Foi destruído por um incêndio em 1967.
1888 - Teatro (Novo) da Rua dos Condes, erguido por Francisco Grandella. Foi demolido em 1951 para dar
lugar ao novo Cinema Condes
1889 - Clube Estefânia, na Rua Alexandre Braga.
1890 - Colyseu dos Recreios , na Rua das Portas de Santo Antão.
1890 - Teatro da Alegria, inaugurado na Rua Nova da Alegria em 11 de Janeiro.
1890 - Teatro das Trinas, na Rua das Trinas
1890 - Teatro Pairet, (Feira de Alcântara)
1892 - Teatro Guinol, na Rua de São Paulo
1892 - Teatro Folias Dramáticas, (Feira do Campo Grande)
1894 - Teatro Rainha D. Amelia
1895 - Apolo, em Alcântara
1895 - Circo da Ribeira Nova
1895 - Teatro Chalet Aliança
1901 - Teatro do Infante, na Avenida da Liberdade - inaugurado a 3 de Abril
1901 - Teatro Electro Mágico, no Largo de São Domingos, no Palácio da Regaleira
1902 - Teatro da Mouraria ou Páteo da Bitesga - inaugurado em 11 de Julho
1903 - Teatro Lisbonense, (Feira de Belém)
1903 - Teatro Chalet do Rato
1903 - Teatro Príncipe D. Luiz Filipe ou Teatro da Luz, no Largo da Luz - inaugurado em 2 de Março
1904 - Teatro Andronio (Feira de Alcântara)
1904 - Teatro Apollo (Feira de Alcântara)
1904 - Teatro Chalet, (Feira de Alcântara)
1904 - Teatro Chalet Recreio Villar (Feira de Alcântara)
1904 - Teatro Electro-Magico (Feira de Alcântara)
1904 - Teatro Nova Aurora (Feira de Alcântara)
1904 - Teatro Recreio Villar (Feira de Alcântara)

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Listagem da maioria dos Teatros de Lisboa (1591-1976)

1905 - Teatro Juvénia, na Rua das Escolas Gerais em Alfama.


1906 - Teatro Chalet, (Feira de Belém)
1906 - Grande Casino de Paris, na Avenida da Liberdade
1907 - Bijou Teatro (Feira de Alcântara)
1907 - Music-Hall S. Bento Rato, inaugurado em 09 de Outubro, na Rua de S. Bento
1907 - Paraizo de Lisboa, na Rua da Palma
1907 - Teatro Circo (Feira de Alcântara)
1907 - Casino Etoile, na Rua da Estrela. Passa a Teatro Etoile em 1910.
1907 - Teatro Independente, no Poço do Bispo
1907 - Teatro Águia d'Ouro, (Feira de Belém)
1908 - Salão Foz, no Palácio Foz, na Praça dos Restauradores
1908 - Teatro Chalet (Feira d'Agosto)
1908 - Teatro Chalet-Avenida (Feira d'Agosto)
1908 - Teatro Chalet Esperança - Inaugurado a 4 de Dezembro na Rua Poço dos Negros
1909 - Teatro Chalet Luzitano (Feira d'Agosto)
1908 - Teatro Popular do Casino de Santos, na Rua das Janelas Verdes
1908 - Teatro S. Bento Rato - Inaugurado em 25 de Julho e ex-Music-Hall S. Bento Rato
1909 - Chalet-Teatro (Feira de Alcântara)
1909 - Salão de Santa Marta
1909 - Teatro Phantastico, na rua de Santo Antão
1910 - Teatro Apolo, ex-Teatro do Príncipe Real, após mudança de nome, em 11 de Outubro de 1910,
consequência da instauração da República. Foi demolido em 1957.
1910 - Rocio Palace, no largo de S. Domingos, veio a ser também animatógrafo. Encerrou em 1914.
1910 - Teatro Salão dos Anjos - Encerraria, já como animatógrafo (desde 1910), em 1923.
1910 - Estephanea Terrasse
1910 - Teatro Chalet 5 de Outubro - inaugurado em 25 de Dezembro
1910 - Teatro Estrela d'Ouro - Teatro de feiras e afins
1910 - Teatro Moderno, na Rua Álvaro Coutinho, em Arroios. Seria demolido em 1918.
1911 - Teatro República, ex Teatro Dona Amelia, após mudança de nome consequência da instauração da
República. Foi destruído por um incêndio em 1914.
1911 - Teatro da Natureza, no Jardim da Estrela (ar livre).
1911 - Teatro das Variedades - ex-"Music-Hall", na Praça dos Restauradores
1911 - Teatro Júlia Mendes, inaugurado em 16 de Agosto, na Feira de Agosto
1912 - Edison-Teatro, ex-animatógrafo "Salão Edison", no Largo do Conde Barão
1912 - Paraizo de Lisboa, na Rua da Palma. Mais tarde passaria a animatógrafo
1913 - Teatro Politeama, na Rua das Portas de Santo Antão.
1914 - Teatro S. Luiz, ex-Teatro República.
1914 - Eden Teatro, na Praça dos Restauradores.
1917 - Teatro Fantastico, ex Salão Rubi, ex-Paradis, ex- Theatro Phantastico
1917 - Teatro dos Anjos
1918 - Teatro da Graça
1922 - Teatro Maria Vitória, no Parque Mayer inaugurado em 15 de Junho de 1922.
1923 - A Voz do Operário, na Rua Voz do Operário, à Graça
1924 - Teatro-Cine Tivoli, na Avenida da Liberdade
1925 - Teatro do Ginásio veio substituir o anterior devastado por um incêndio em 1921.
1925 - Teatro Joaquim d'Almeida, na Praça do Brazil, hoje Largo do Rato inaugurado em 6 de Maio.
1926 - Teatro Variedades, no Parque Mayer inaugurado em 15 de Junho de 1922.
1931 - Teatro-Cine Capitólio, no Parque Mayer inaugurado em 15 de Junho de 1922. .
1937 - Teatro Recreio, no Parque Mayer. Seria demolido em 1940 para dar lugar ao ringue de boxe.
1943 - Teatro de Mestre Gil - Teatro de fantoches, inaugurado a 23 de Março no antigo café do Coliseu dos
Recreios passaria para a Feira Popular de Lisboa.
1946 - Teatro Estúdio do Salitre, instalado numa sala adaptada do Instituto Italiano de Cultura, na Rua do
Salitre.
1951 - Teatro Monumental, na Praça Duque de Saldanha
1956 - Teatro ABC, no Parque Mayer inaugurado em 15 de Junho de 1922.
1957 - Aula Magna, na Reitoria da Universidade de Lisboa, ao Campo Grande
1957 - Teatro da Estufa Fria, na Estufa Fria, no Parque Eduardo VII.
1959 - Teatro de Carnide, na Estrada da Luz, em Carnide

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Listagem da maioria dos Teatros de Lisboa (1591-1976)

1963 - Casa da Comédia. Como grupo teatral já existia desde 1946. As suas instalações a partir de 1963
eram na Rua S. Francisco de Borja, às Janelas Verdes.
1965 - Teatro Villaret, na Avenida Fontes Pereira de Melo
1968 - Teatro Laura Alves, na Rua da Palma, e ex-Cinema Rex inaugurado em 1936
1969 - Teatro Maria Matos, hoje Teatro Municipal, na Avenida Frei Miguel Contreiras.
1971 - Teatro Laboratório de Lisboa
1972 - Teatro da Comuna na Praça de Espanha. Fundado em 1 de Maio como “Comuna - Teatro de Pesquisa”
na Rua D. Pedro Nunes, 2º andar.
1972 - Teatro Vasco Santana. Ex-Cinema Vasco Santana. Desde 1961, na Feira Popular de Lisboa em Entre-
Campos.
1973 - Teatro do Bairro Alto, actualmente sede da Companhia de Teatro da Cornucópia
1974 - Teatro Adóque, no Largo Martim Moniz
1976 - Teatro A Barraca, inicialmente na Rua Alexandre Herculano e desde 1989, até hoje, no “Cinearte” no
Largo de Santos.
1976 - Teatro Aberto na Praça de Espanha.

Algumas agremiações e outros Teatros Lisboa, sem o ano da sua fundação


Academia Instructiva Recreio Operario
Academia Recreativa da Ajuda
Academia Recreativa de Lisboa
Academia Recreativa Portuguesa
Academia Recreativa de Santo Amaro
Academia Recreio Artístico
Academia Sabino de Sousa
Associação de Socorros Mutuos Affonso d'Albuquerque
Associação Impressores Typogrphicos
Círculo Católico
Club Commercial
Club Dramatico Carlos Posser
Club Dramatico Ferreira da Silva
Club Estephania
Club Lusitano
Club Recreativo da Lapa
Club Recreativo Lusitano
Club Simões Carneiro
Estephania Terrasse
Gremio Luzitano
Gremio Commercial Lisbonense
Grupo Dramático Actor Joaquim Costa
Grupo Dramatico de Lisboa
Grupo Dramatico Familiar
Grupo Dramático União e Alegria
Lisboa Club
Lisboa Music-Hall
Novo Teatro de Variedades
Pedrouços Club
Real Associação Musical 11 de Março
Salão Liberdade
Sociedade Alumnos de Minerva
Sociedade de Instrucção Guilherme Cossoul
Sociedade João Rodrigues Cordeiro
Teatro Chalet 5 de Outubro
Teatro da Caixa, na Avenida da República
Teatro da Lisboa Antiga
Teatro do Mundo, na Estufa Fria
Teatro do Povo
Teatro Estrela d'Ouro
Teatro Infantil do Rossio, Salão Rossio ou Salão Arco do Bandeira

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Listagem da maioria dos Teatros de Lisboa (1591-1976)

Teatro Lisbonense
Teatro Popular do Casino de Santos
Theatro D. Fernando, na Rua do Olival às Janelas Verdes
Theatro das Trinas
Trio Paulus

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Teatros de Lisboa (1591-1976)

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Teatro da Rua dos Condes

Teatro da Rua dos Condes (1738/ 1766/ 1888)

O primitivo “Theatro da Rua dos Condes”, destruído pelo terramoto de 1755, foi edificado, segundo um
artigo do “Diário de Janeiro”, de 4 de Fevereiro de 1738, por iniciativa de um grupo de negociantes que
requisitaram ao Conde da Ericeira uma porção do seu terreno, constituída por «(…) parte de hum picadeiro e
do canto da rua para um Theatro de Ópera com 270 palmos de comprido e 110 por largo.»

Foi edificado no lugar onde fora a “Cadeia do Tronco” ou, presumivelmente, onde estivera situado um
dos "pateos" em que se representava comédias - o “Pateo da Horta dos Condes” (por pertencer aos Condes
da Ericeira, morgados da Anunciada) - entre 1765 e 1766, com traçado do arquitecto Petronio Mazzono.

O nome desta rua - Rua dos Condes - tem origem no facto de esta ter sido construída após o terramoto
de 1755, nos terrenos dos Condes da Ericeira que eram donos da maior parte desta zona e que se estende
até ao Largo da Anunciada. Este “Theatro da Rua dos Condes”, em 1782 passou à categoria de “Theatro
Nacional Normal”, tal era a sua importância no panorama artístico. A administração era comum ao “Theatro de
São Carlos”. A vida literária e teatral portuguesa passava forçosamente por ali. Lá se faziam representações
de teatro e ópera.

O “Theatro da Rua dos Condes”, «possuía 23 camarotes em cada ordem, dos quais cinco ao fundo e
nove de cada lado» e que «se desenvolvia em dois corpos paralelos e independentes, embora adossados. O
que se dá a conhecer é uma sala simples, comprida e estreita, traçado sem rigor ». in: revista “Occidente”

«Até 1792 eram os principaes theatros publicos de Lisboa, o do Salitre, do Bairro Alto e da rua dos
Condes; era n'este ultimo que mais frequentemente se davam operas; como todos podiam vêr ainda no anno
que escreviamos, semelhante theatro era um edificio verdadeiramente vergonhoso e mal cheirosos, no qual se
ouvia mal, via mal, e se estava encommodado, correndo-se o risco de se morrer assado ou esmagado, se a
fatalidade accendesse um fogo rapidamente se desenvolvesse, e que lamberia decerto o misero barracão em
pouco tempo.» in: livro de 1883, “O Real Theatro de S. Carlos", de Francisco da Fonseca Benevides.

O escritor Camilo Castelo Branco ao transcrever uma carta de um amigo, num dos livros de «Noites de
Insomnia: offerecidas a quem não pode dormir», apresentando-o como um teatro extremamente
desconfortável, em parte, pelas grandes variações de temperatura experienciadas em diferentes locais da sala
– «No meio da plateia arde em fogo (…) o desgraçado espectador que acha ali lugar; pelos lados da mesma
plateia vem um vento encanado pelos corredores, que atormenta todo o miserável que ocupa esses

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Teatro da Rua dos Condes

assentos». Os camarotes são apresentados como sendo «mesquinhos como tudo o mais», uma vez que o
Teatro não tinha foyer, pelo que «cada um fica exposto à porta da rua ou no aperto dos corredores, até que
chegue a carruagem que o há-de transportar»

O “Theatro da Rua dos Condes” fechou definitivamente as suas portas a 20 de Maio de 1882, após a
última representação da peça “Os Sinos de Corneville”, tendo sido demolido, ainda nesse ano, quando uma
comissão reunida com o objetivo de averiguar as condições de segurança nos teatros da capital o decretou
um perigo para o seu público.

Nos terrenos do velho “Theatro da Rua dos Condes” , viria a ser construído, em 1888, um novo teatro,
que ficou conhecido como o novo “Theatro da Rua dos Condes”. Entre a demolição de um e a construção do
outro, esteve em funcionamento, naquele mesmo lugar, entre 1883 e 1886, um pequeno teatro denominado
“Theatro Chalet”, comummente chamado “Chalet do Araújo”, nome retirado do seu proprietário: o actor Manoel
José de Araújo. Este teatro vinha da zona do Salitre, onde funcionara desde 1843.

Primitivo “Theatro da Rua dos Condes”

Todavia, os anos de atividade deste espaço estão envolvidos em alguma incerteza, uma vez que há
autores, como Luís Soares Carneiro, que apontam como possibilidade que a sua demolição tenha ocorrido
apenas em 1888. O “Theatro Chalet” foi caracterizado por vários autores, entre eles Gervásio Lobato, como
um «(…) reles barracão de madeira que, apesar de não ter grandes condições, deu ao seu proprietário lucros
consideráveis.»

«Havendo a camara municipal de Lisboa resolvido alargar a rua dos Condes, ficou decidida ao mesmo
tempo a destruição da casa de espectaculos que d'ella tirava o nome. (...).Hoje, no local em que existiu a
construcção durante quasi cento e cincoenta annos, está armado o barracão denominado Theatro Chalet, cujo
dono ainda explora o renome do velho colyseu, escrevendo as palavras Rua dos Condes em grandes letras
no seu cartaz. E o caso é que o publico lá acóde, em chusma, todas as noites. Porque se não há de aproveitar

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Teatro da Rua dos Condes

aquelle sítio para um theatro popular? Que necessidade haverá em fazer a rua dos Condes muito larga, se é
só destinada a dar serventia á estreita rua das Portas de Santo Antão?.» in revista “Occidente”
Manuel José de Araújo, antigo actor, manteve uma parceria com o escritor Francisco Jacobetty que levou
alguns êxitos a este espaço durante a sua curta existência.

O proprietário do “Theatro Chalet” acabou por vender os terrenos do velho “Theatro da Rua dos
Condes” a Francisco de Almeida Grandella, o abastado comerciante e futuro proprietário dos “Armazens
Grandella & C.ª”. Após a demolição do barracão de madeira, deu-se início à construção do edifício do “Theatro
Novo da Rua dos Condes”, cujas obras foram financiadas por uma sociedade encabeçada por Francisco
Grandella, projectadas pelo arquitecto Dias da Silva, e formada por «títulos de dez mil réis, com garantia de
entrada por meios preços nos espectáculos, quatro vezes por mez, e amortizáveis cada anno, por sorteio».

«Neste mesmo local foi edificado, em 1888, um outro theatro, custeado por Francisco Grandella, que se
vai especializando em operetas e no teatro de revista, sem que a chegada do regime republicano opere
qualquer mudança significativa na sua orientação. Com Luz Júnior como empresário, passa, no início de 1915,
a animatographo, alternando a projecção de fitas com a apresentação de espectáculos de variedades. Em
1916, por iniciativa de Castello Lopes, assume-se definitivamente como o Cinema Condes»

Relativamente à sala do “Theatro Novo da Rua dos Condes”, recordamos a descrição de Sousa Bastos:
«platéa é dividida em quatro classes: fauteuils, cadeiras, superior e geral. Junto ao palco há 3 pequeninas
frizas de cada lado. Tem duas ordens de camarotes com 21 em cada uma». A decoração desta sala, que
ostentava no tecto medalhões com retratos de grandes figuras do teatro português - como Garrett ou Emília
das Neves - ficou a cargo dos cenógrafos Eduardo Reis e Júlio Machado e foi muito criticada por Sousa
Bastos que fez uma apreciação extremamente negativa deste teatro, considerando acanhado o seu palco.
Contudo, Gervásio Lobato, num tom mais otimista, escreveu: «(…) um theatrinho pequeno, mas muito fresco,
muito elegante e muito aceado», com um interior que correspondia «(…) perfeitamente ao seu aspecto
exterior, que produz muito boa impressão e apesar de não ter luxo de architectura, tem uma apparencia
sympathica e elegante (…)».

Contrariamente ao “velho” “Theatro da Rua dos Condes”, a fachada principal do teatro ganhou nova
orientação por questões de reorganização do espaço urbano, uma vez que a Avenida da Liberdade se tornara,
entretanto, uma área de importância crescente no tecido urbano e social, pelo que a entrada lateral (a da Rua
dos Condes) ficou desde então reservada apenas aos artistas e restantes funcionários do teatro. O público
entrava agora por três grandes portas viradas para a Avenida da Liberdade, que se abriam para um vestíbulo
através do qual se tinha acesso ao ”espaçoso salão-bufete”, que ocupava todo o piso térreo do teatro e cujo
tecto fora executado pelo pintor Augusto Gameiro, em estilo árabe. Este mesmo vestíbulo dava, também,

19
Teatro da Rua dos Condes

acesso à plateia - situada imediatamente acima do botequim - e pisos superiores, por meio de duas largas
escadarias.

Os primeiros empresários a explorar o espaço foram Salvador Marques e Casimiro de Almeida. Juntos
montaram uma companhia dirigida e ensaiada por Sousa Bastos e composta por Pepa Ruiz, Guilhermina de
Macedo, Laura Godinho, Luiza d’Oliveira, Encarnação Reis e Isabel Ficke, bem como por Alfredo Carvalho,
Sergio d’Almeida, Roque, Salazar, Mathias d’Almeida, Carlos Rocha, Caetano Reis, Pinheiro, Pereira
d’Almeida, Lima e Cruz. Foi esta mesma companhia que, a 23 de Dezembro de 1888, inaugurou o espaço,
com a opereta “As Duas Rainhas”.

Ainda sobre esta opereta “Negrito de Chaves”, em que o elenco era composto por actores negros, o
jornal “O Século” de 22 de Abril de 1911 escrevia: «Estreou-se ontem, a nova companhia de negros das
nossas possessões ultramarinas, contratada pelo empresário Segurado e dirigida pelo actor José Rodrigues
Chaves.». Nesse ano, a mesma Companhia também levaria à cena as operetas: “Grã Duquesa de Gerolstein”,
“Boccácio na Rua”, “Amor Luso-Brasileiro” e “Reino da Bolha”.

Nas caves do “Theatro da Rua dos Condes” abriria um restaurante, onde se realizavam as reuniões
gastronómicas do grupo maçónico “Os Makavenkos”. Este grupo, era uma sociedade gastronómica-
filantrópica fundada em 1884 por Francisco de Almeida Grandella (fundador dos “Armazens Grandella & C.ª”)
com fins de solidariedade e beneficência. Faziam parte, entre outros, o duque de Lafões (D. Caetano de
Bragança), Bulhão Pato, Rafael Bordalo Pinheiro, D. Francisco de Sousa Coutinho e o almirante Ferreira do
Amaral. Política e religião eram assuntos nunca discutidos, tendo o seu ex-líbris como divisa «Honni soit qui
mal y pense».

«Entravam bem trajados pela Rua dos Condes, como se fossem para o teatro. Empresários, políticos,
artistas, médicos, jornalistas, aristocratas e plebeus, monárquicos e republicanos, maçons, ultraconservadores
e revolucionários passavam as bilheteiras sem parar, desciam dois lanços de escada e tocavam à porta da

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Teatro da Rua dos Condes

sociedade 'secreta' dos makavenkos... um clube privado lisboeta para polígamos "de todas as qualidades,
excepto os vadios", que gostavam de petiscar na mesa e na cama. Ali, cozinhava quem sabia e desfrutava
quem podia, sempre em agradável companhia feminina, também aceite sem descriminação de classe, da
nobreza à rua, conformeas paixões dos convivas.
À entrada, vestiam o modo de ser makavenkal: o prazer da boa mesa, da "alegre rapioqueira", e a
compensação dos 'pecados' com actos de benemerência. Mas, ao fim de 26 anos, quebraram uma das regras.
Ou nunca cumpriram essa de não falar de política e religião. No ano de 1910, na Casa dos Makavenkos, onde
a prioridade era dar "largas à alegria e elasticidade à tripa", preparou-se a revolução. Na cave do Teatro
Condes, edifício que já foi cinema e é agora o Hard Rock Cafe, os republicanos e maçons Francisco de
Almeida Grandella, 57 anos, José António Simões Raposo, 35, José Cordeiro Júnior, 40, José de Castro, 42,
Machado dos Santos, 35, e Miguel Bombarda, 59, conspiraram contra a monarquia, contra o rei D. Manuel II,
de 21 anos e no trono havia 29 meses.» in: revista Única do jornal “Expresso”

A estreia do “Theatro da Rua dos Condes” como cinema e teatro de variedades, ocorreu a 30 de Janeiro
de 1915, pela ”mão” da “Empreza do Salão Olympia” propriedade de Leopoldo O’Donnell, com o filme italiano
“Cleópatra”.

O jornal “a Vanguarda” no dia seguinte escrevia:


«A empreza do Salão Olympia inaugurou hontem aquelle theatro com espectaculos de «cine» e
variedades.
(...) «Las Hermanas Sanches» uma »parelha» de baile pouco propria para uma casa da cathegoria em que a
Empreza O'Donnel quer collocar o Rua dos Condes. Apresente a empreza uma Dorita Ceprano, Isabel Perez,
Mary-Marima, Estrella d'Andaluzia, Paquita Escribano, Eloisa Carbonell e muitas outras e então sim. No
entanto louvamos a iniciativa.O theatro foi restaurado. A pintura a branco e ouro dá-lhe um bonito aspecto.

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Teatro da Rua dos Condes

Assitencia muito escolhida. Ao espectaculo assistiu o sr. ministro da Bélgica. Fazemos votos por uma longa
vida e prosperidades.»

Mas apesar destes simpáticos votos … as receitas insatisfatórias levaram rapidamente o primeiro
empresário do animatógrafo, a abandonar o projecto. Depois de voltar a teatro a 26 de Março do mesmo ano
com a reposição da revista “Feira da Vida”, encerra a 17 de Abril do mesmo ano e reabre a 18 de Novembro
de 1915, com a «revista lyrico phantastico Quadros Vivos».

Contudo, José Martins Castello Lopes viu no espaço uma oportunidade a aproveitar e a 5 de Fevereiro
de 1916 deu início à exploração do espaço pela empresa “Castello Lopes, Limitada.” passando, desde então,
a utilizar a designação oficial de “Cinema Condes”, tendo mandado pendurar sobre o ferro forjado das
varandas dos primeiro andar dois letreiros com a nova designação. O edifício, construído em 1888, foi, no
Verão de 1919, alvo de obras que alteraram significativamente o seu interior, aumentando a sua lotação e
transformando o ambiente e a disposição da sala.

*****

Acerca da continuação da história desta sala de espectáculos como Cinema, assim como acessar a
muitas mais fotos e documentos, consultar o e-book “Cinemas de Lisboa” ou o respectivo artigo no blog
“Restos de Colecção” no seguinte link:

http://restosdecoleccao.blogspot.pt/2014/09/cinema-condes.html

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Teatro do Salitre / Teatro das Variedades

Teatro do Salitre (1782) / Teatro das Variedades (1858)

O "Theatro do Salitre", mais tarde "Theatro das Variedades", foi inaugurado na Rua do Salitre, em
Lisboa, em 27 de Novembro de 1782. Era propriedade de João Gomes Varela, foi construído pelo arquitecto-
decorador Simão Caetano Nunes, «que fora ponto no teatro do páteo do Conde de Soure e que nele montara
lambem os scenários e maquinismos.». No espectáculo de inauguração tomou parte o «o famoso equilibrista
Tersi que fazia prodígios, assustando os ingénuos com falsas quedas e outros truques de efeito naqueles
tempos em que os títeres eram o enlevo das pessoas crescidas.»

Em 1781, João Gomes Varela pensou em aproveitar uma das duas propriedades que possuía no
Salitre, para um centro de diversões. Se bem o pensou melhor o fez. Principiou por instalar um Jogo da Péla;
afixou os seus habituais editais em letras vermelhas e conseguiu estabelecer uma certa frequência ao novo
estabelecimento. Em 1784 já lhe tinha adicionado, casa da ópera, botequim, bilhar, jogo do Cachei (?).

Mais tarde, corridas de touros, para o que tinha construído uns palanques. Inauguraria, em 4 de Junho
de 1790, um tauródromo a primeira praça de touros de Lisboa, a “Praça do Salitre”. Para tal o construtor ter-
se-á limitado a copiar a praça que existia na Calle de Alcalá, em Madrd, reduzindo as dimensões.

«Pegado ao teatro existia o tauródromo, de forma rara porque atirava para o quadrado, construído entre
1777 e 1780. Em 1790 é inaugurado pelo príncipe D. João e Pina Manique, uma nova Praça de Toiros, a
primeira destinada ao público. Espectáculo bárbaro que humanistas deputados nas Cortes bem pensaram
proibir; em vão, pois como Fernando Tomás confessa, até eles aos domingos lá estavam caídos a assistir às
lides taurinas. Espectáculos sempre anunciados pelas ruas da capital com cortejo vistoso, tinham entre as
lides e os habituais combates entre toiros e cães de fila, os momentos cómicos em que pontificava o preto Pai
Maranhão e as lutas entre balões aquecidos a gás.»

Em 1831, desapareceram dali as touradas, que reapareceriam depois na “Praça do Campo de


Sant’Anna”, inaugurada em 3 de Julho de 1831.

Segundo Gustavo Matos Sequeira o “Theatro do Salitre”, era um espaço apertado, feio, sem atractivos.
Ao “Theatro do Salitre”, depois “Nacional e Real Theatro do Salitre” e finalmente "Theatro Nacional do Salitre",
(antes de renomeado de “Theatro das Variedades”), terá valido o seu variadíssimo reportório, tendo
conseguido atrair diversas camadas da população lisboeta. Apresentou grande variedade de espectáculos:
ópera, tragédia, drama, comédia, farsa, mágica, vaudeville, variedades, bailado, música, ginástica,
equilibrismo, malabarismo, ventriloquia, prestidigitação, fantoches e até feras amestradas, conseguindo,
assim, atrair diversas camadas da população lisboeta.

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Teatro do Salitre / Teatro das Variedades

Desenho anterior composto por três partes:


Em cima: praça circense hexagonal (Praça do Salitre); acrobatas actuam em palco montado na arena;
homem a cavalo e luta entre mouros e soldados de Cristo; público em camarotes e público em pé. Centro: rua
onde se situava o Teatro das Variedades (designação que viria a ser adoptada pelo Teatro do Salitre) e
retratos de Isidoro e António Pedro.

Em baixo: interior do teatro destruído e algumas figuras, entre as quais um diabo, um morcego e um
homem de cartola e bengala. Interesse teatral: A imagem procura fixar a destruição do Teatro do Salitre
através da ilustração de alguns dos seus momentos altos: a praça circense que estava ligada ao teatro, onde
eram muito apreciadas as lutas entre Cristãos e Mouros e as danças pírricas; a modernização do teatro,
quando assume o nome de Teatro das Variedades; Isidoro e António Pedro, dois actores que deixaram
marcas naquele teatro; e, finalmente, aliadas à imagem da destruição, algumas personagens de mágicas, o
género que vingou nos últimos anos daquele espaço teatral.

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Teatro do Salitre / Teatro das Variedades

«Nos fins do seculo XVIII representou se no theatro do Salitre uma farça intitulada Casa de café e bilhar.
Era ornada com musica de Marcos Portugal. N’ella eram satyrisados, entre outros indivíduos, o José Pedro
das Luminárias, então empregado no Nicola, o padre Lagosta (José Agostinho de Macedo), e o Pax- Vobis,
um pobre diabo que, trajando casaca encarnada, vagueiava pelas ruas seguido da gaiatagem. N'esta farça
visava-se o botequim do Nicola.» in: “Lisboa d'Outros Tempos” (Tinop) 1899.

Entretanto nem tudo correu bem e …


«Em junho deste ano (1852) o Carreira «maneta», meteu-se a emprezário do Condes, de sociedade
com o José Vicente do Guarda-Roupa do Calhariz, e organizou companhia levando do Salitre alguns
elementos artísticos. Durou menos de um ano a nova empreza, pois tendo começado a 13 de junho de 1852
veiu a acabar a 13 de fevereiro do ano seguinte. O Salitre entra então na agonia. O público divorciara-se
definitivamente do inestético teatro, onde parece que todas as noites se representava o drama suísso, tantos
eram os «cães» que o infestavam.
De 1853 a 1855 emudecem os cartazes e os anúncios. Era o princípio do fim.(...)
Depois dos espanhóis, fechou o Salitre por uns dias. As estridentes exclamações castelhanas, sucederam os
uivos e os rugidos de outros actores.
A 24 de abril de 1857, a empreza apresentava ao público uma colecção de feras: !O Manes de Thalia!
Com o rugido da última fera, foi-se o último alento do velho teatro do Salitre, mas, como a Fénix da lenda,
renascia, pouco depois, em 1 de fevereiro de 1858, com o título de «Theatro de Variedades» levando à scena,
todo pintado e retocado de novo, a célebre mágica A lotaria do Diabo, de Francisco Palha e do Oliveira.
Os vistosos cartazes do Xavier meteram à força, pelos olhos do público, os atrativos da nova peça e da nova
companhia; e todos sabiam que o ensaiador era o elegante, mas sebento, José Romano, originalíssimo
sugeito que fora a Paris sem cinco réis, «pedibus calcantibus» pedindo pelas estradas como um mendigo; que
o Isidoro, que na peça fazia o Abdalah era o director-gerente da sociedade; que os scenários e os faios eram
novos em folha, e que a estrela era a provocante e telhuda Luísa Cândida, uma das Circes da scena que mais
javardos fez com o filtro dos seus encantos pessoais.
Da companhia faziam também parte a Maria do Ceu, que fora bailarina em São Carlos, a Ludovina e a
Elisiária, duas bonitas raparigas, a Maria Emília e a Francisca. Dos actores, àlêm do Isidoro, contavam-se os
seguintes : Rodrigues, Faria, Queiroz, Nunes, João Ferreira, Sousa, Guerreiro, Gonçalves e os dois estreantes
Joaquim de Almeida e António Pedro, tendo este entrado para o teatro a ganhar uma moeda por mês.» in:
"Depois do Terramoto - subsidios para a história dos bairros ocidentais de Lisboa" - Vol II de Gustavo Matos
Sequeira (1917).

O “Theatro do Salitre”, antes e depois de transformado em “Theatro de Variedades” era maior que o
“Theatro da Rua dos Condes”, mas ainda muito mais feio, um enorme corredor tortuoso e deselegante.

Em 17 de Agosto de 1864, tinham sido aprovadas, na reunião dos accionistas da «Sociedade» algumas
alterações aos antigos estatutos sociais e parece que os interessados contavam que a próxima época os
indemnizasse dos prejuízos sofridos e decorresse sem que as bocas do mundo teatral se apercebessem. Tal

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Teatro do Salitre / Teatro das Variedades

não sucedeu e «a chicana estabeleceu os seus alcaçares na calçada do Salitre», escrevia a “Chronica dos
Theatros”, no seu número de 1 de Janeiro de 1866. Joaquim José da Silva Cordeiro, como procurador de D.
Josefa Serrate, proprietária do Teatro, abrira, então, fogo cerrado contra a direcção da «Sociedade». A viúva
do fundador João Gomes Varela, que o alugara, primeiro por 400$000 réis, depois por 480$000 réis e, mais
tarde, por 600$000 réis, fazendo-se o arrendamento por três anos, desde 1 de Outubro de 1863 a 30 de
Setembro de 1866, vendo que lhe não pagavam, accionou uma penhora à empresa; apoderou-se das chaves
e tomou posse do Teatro.

«Finalmente no meio desse prélio entre Thetis e Thalia, aparece um homem que soluciona tudo. Como?
não sei. E António Gonçalves Pinto Bastos. Aplaca os contendedores, amansa D. Josefa Serrate, afasta do
Salitre os beleguins, organiza uma companhia e acrescenta o título do teatro. Vai funcionar o “Theatro das
Variedades Dramaticas”».

A empresa, querendo renovar o “Theatro das Variedades Dramaticas”, em finais de 1864 mandou pintar
a sala, os salões e os corredores dos camarotes. Pelo que se lia no jornal “Diario de Noticias” de 6 de Janeiro
de 1865:

«O theatro de Variedades Dramáticas, como já noticiamos, deve abrir no dia 20 do corrente com a
comédia mágica do sr. Joaquim Augusto d'0liveira - «Os amores do diabo», a qual tem 3 actos e 1 prologo,
divididos em 19 quadros. O scenário é pintado pelos srs. Villela e Lima ; os aderesses, do sr. João Francisco
Pereira dos Santos ; o vestuário, do sr. Cruz.»

Após a sua inauguração o mesmo “Diario de Noticias” relatava:

«Realizou-se a inauguração na noite de 4 de Fevereiro. Foi um verdadeiro triunfo! Aplausos e palmas


que farte, felicitações ao emprezário, muita alegria e muita animação. Excepto as maquinarias do mestre
Assunção, que estava longe de ter os méritos do João Vieira, o mais tudo agradou até o desempenho, coisa
que há muito tempo não sucedia no Salitre.
O regente da orquestra, não mencionado na informação do Noticias, era Eduardo Azimouth.»

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Teatro do Salitre / Teatro das Variedades

As duas últimas companhias que pisaram o palco arqueológico do Salitre, foram as dirigidas pelo
popular Costa Marreco, que reincidira em ser empresário, e pelo actor Avelar Machado. E…
«Em 24 de agosto de 1879 soou o primeiro embate da picareta contra as paredes do infeliz e glorioso
teatro que suportara durante noventa e sete anos os mais duros revezes da sorte. (...)
Sob o asfalto da mais nobre artéria cidadã repousam os teus restos. Em derredor pairam, com a tua memória -
aos olhos dos visionários como eu - as comoções, as lágrimas, as gargalhadas e os deslumbramentos que tu
proporcionaste a umas poucas de gerações.
Foste generoso e liberal. Merecias ter tido melhor sorte.» in: "Depois do Terramoto: subsidios para a historia
dos bairros ocidentais de Lisboa" - Vol II de Gustavo Matos Sequeira (1917).

Com o início das demolições do Teatro e dos edifícios próximos teriam, igualmente, início as obras de
construção da Avenida da Liberdade, assim referenciadas no livro “Diccionario do Theatro Portuguez” de
Sousa Bastos (1908): «A 24 de Agosto de 1879, para dar principio ás grandes obras da Avenida da Liberdade,
começou a demolir- se o theatro das Variedades, antigo theatro do Salitre., de péssima construcçâo, mas que
deixou saudades pejas alegres noites que alli se passaram com Izidoro, António Pedro Furtado Coelho,
Joaquim d'Almeida, Lucinda Simões e outros artistas notáveis.»

Em 11 de Janeiro de 1890, seria inaugurado um novo teatro na Rua Nova da Alegria, o “Theatro
d’Alegria” , construído em ferro e madeira, cuja gravura e artigo no jornal “Diario Illustrado” publico de seguida.
Este teatro era propriedade de “Castanheiro e Barata”, e foi projectado por João Augusto Barata, tendo a sua
construção durado cinco meses.

«A salla é elegante, como dissemos, e dispõe dos seguintes logares: quatro frizas; doze camarotes,
n'uma só ordem, cento e vinte e seis cadeiras de balcão; trezentas e quarente de platéa; e cento e vinte seis
logares na galleria que fica ao fundo do balcão, em amphitheatro.
Depois do antigo theatro das Variedades e do velho templo da arte mais profanamente conhecido pelo Rua
dos Condes, é decerto o theatro d'Alegria o que melhor preenche a falta de theatros populares, proprios para
verão e inverno, assim como que um divertimento de meia estação.» in revista “Occidente”.

O “Theatro d’Alegria” não teria uma vida longa, mas antes curta, tendo sido vendido em hasta pública e
posteriormente demolido.

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Teatro do Salitre / Teatro das Variedades

Décadas mais tarde, na Rua do Salitre, e em 1946, seria fundado, por três homens de teatro, Gino
Saviotti, Vasco de Mendonça Alves e Luís Francisco Rebelo, o “Teatro Estúdio do Salitre”. Foi um projeto que,
durante quatro anos, levou à cena um número significativo de peças de teatro de autores nacionais e
estrangeiros, no micro Teatro, do “Instituto Italiano de Cultura de Lisboa”, instalado no edifício da ”Casa
d’Itália”, situada na Rua do Salitre, próximo do Largo do Rato.

O seu primeiro espectáculo, “O Homem da Flor na Boca”, de Luigi Pirandello e encenado por Gino
Saviotti, foi apresentado em 30 de Abril de 1946. Este teatro seria extinto, quatro anos depois, em 1950.

“Teatro Estúdio do Salitre”

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Para consulta do respectivo artigo no blog “Restos de Colecção”, acedendo a mais fotos e documentos,
com referência às fontes de onde foram retirados os mesmos e, igualmente, alguns reproduzidos aqui, clicar
no seguinte link:

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Teatro Nacional de S. Carlos

Teatro Nacional de S. Carlos (1793)

Construído nos finais do século XVIII em apenas seis meses, na zona do Chiado em Lisboa, o “Real
Theatro de S. Carlos”, projectado pelo arquitecto José da Costa e Silva, foi inaugurado em 30 de Junho de
1793 pela Rainha D. Maria I para substituir o teatro “Opera do Tejo”, que foi destruído no Terramoto de 1755.
Na inauguração foi estreada a ópera “La Ballerina Amante” de Domenico Cimarosa.

«O Teatro de S. Carlos era vulgarmente denominado, em 1793, Ópera do Theatro Moderno e Nova
Ópera. O Livro das Décimas de 1794 chamava-lhe Caza da Ópera de S. Carlos e o de 1802 Ópera Italiana.
Nos seus princípios, os italianos davam-lhe o nome de Regio Teatro de S. Carlos, detto della Principessa, por
que o Intendente Manique alvitrára que se denominasse Teatro da Princesa do Brasil, com o título de S.
Carlos.
O vigamento-mestre do teatro foi feito com grossíssimas traves de madeira do Brasil. Sôbre o arco de
proscénio, havia um grande relógio, coroado por um Cupido, que olhava para a plateia, e ladeado por duas
figuras: o Tempo, empunhando a sua foiçe, e uma das Musas, tocando na sua lira.
Este relógio ainda existia em 1842 e foi posteriormente substituído por outro mais pequeno. A sala era
iluminada a velas de cera da Rússia e os camarins a velas de cebo. Em 1851, ainda os camarins teatrais eram
iluminados a velas de cebo e a azeite, e os tangões tinham luzes fixas de velas.
O empresário Lodi começou em 1794, por pagar a renda anual de S. Carlos a importância de 1.200$000
réis, “segundo o Arbitrio que fizerão os mestres”, mas os empresários Crescentini e Caporalini pagavam
2.000$000 réis anuais em 1799.» in “Lisboa de Outrora” de João Pinto de Carvalho (Tinop) - 1938.

Em 1755, a Coroa portuguesa fez inaugurar a faustosa sala “Ópera do Tejo’", um teatro de corte, anexo
ao antigo Paço da Ribeira, onde só se era admitido por convite. Este teatro de ópera, que esteve em
actividade apenas alguns meses, foi destruído pelo terramoto de 1 de Novembro de 1755. Com a inauguração
do “Real Teatro de S. Carlos”, deixou de ser representada ópera italiana no “Theatro da Rua dos Condes’ .

A construção do “Teatro Nacional de S. Carlos”, decidida em 1792, num contexto político de hostil
posição às ideias iluministas, só se tornou possível justificando-se como fonte de receita para uma obra de
caridade - a “Real Casa Pia de Lisboa”, fundada em 29 de Outubro de 1780 pelo intendente Pina Manique.

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Teatro Nacional de S. Carlos

Foi, aliás, este, então intendente da Polícia e antigo homem de confiança do primeiro-ministro Sebastião de
Carvalho e Melo, quem conseguiu obter da Coroa a permissão. Por detrás da justificação oficial, estavam,
porém, os interesses de abertura e modernização da sociedade portuguesa de um grupo de grandes
negociantes de Lisboa, entre outros, os contratadores do tabaco, que haviam prosperado na época pombalina.
O seu custo foi de 165.845$196 reis ….

Os referidos negociantes de seus nomes Anselmo José da Cruz Sobral, Jacinto Fernandes Bandeira,
João Pereira Caldas, António Francisco Machado, Joaquim Pedro Quintela e António José Ferreira Sola. Um
deles, Joaquim Pedro Quintela, feito barão em 1805 (mais tarde Conde de Farrobo, e Director do próprio Real
Teatro de São Carlos entre 1838 e 1840), cedeu os terrenos para o edifício em troca da propriedade de um
camarote de primeira ordem, com anexos e acesso privado à rua, fronteiro ao camarote lateral, de proscénio,
da família real. O Conde de Farrobo, já empresário do “Teatro Nacional de São Carlos”, em 1820 inaugura o
seu O “Teatro da Laranjeiras” , na sua propriedade, junto ao seu “Palácio nas Laranjeiras” contíguo ao Jardim
Zoológico.

O “Teatro Nacional de S. Carlos” é um exemplar da arquitectura civil pública, neoclássica, e recebeu


algumas influências de inspiração italiana, designadamente do “Teatro di San Carlo’” em Nápoles, e do “Teatro
della Scala” de Milão. Merece referir a participação de vários artistas nacionais e estrangeiros na decoração do
interior do teatro, nomeadamente Cirilo Volkmark Machado, Appianni e Manuel da Costa.

Nesse tempo, a empresa do “Teatro Nacional de S. Carlos”, tinha a seu cargo a “Sociedade dos Actores
do Teatro Nacional” da Ruas dos Condes, e ostentava como primeiros artistas: Neri e Vergé, primeiras damas
sérias; Favini e Fensi, primeiras damas cómicas; Mary, primeiro tenor e Martinelli, primeiro buffo; en dança
Coralli e Gerard, primeiros bailarinos.

Em 1850, a iluminação do interior foi alterado para iluminação a gás, a mais recente tecnologia
disponível.

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Teatro Nacional de S. Carlos

Para vencer as mil vicissitudes que periodicamente atravessava o “Real Theatro Nacional de S. Carlos”,
foi sem dúvida o sistema de rifas e lotarias a que recorreram as empresas de 1797 a 1800, outros subsídios
anedóticos colhidos nos jornais do tempo, do mais pitoresco e característico significado.

Neles se encontra, em 25 de Novembro de 1797, o complicado «Plano da Riffa de Trastes, camarotes e


bilhetes que se hade fazer no Real Theatro de S. Carlos, para a Quaresma do anno de 1798 no capital de
9.600$000 reis, dividido em 6.000 Bilhetes de 1$600 reis cada hum, e na extração dos Numeros sahirão os
seguintes prémios ...»

Em resumo: 6.000 bilhetes, dos quais 4.000 brancos e 2.000 premiados. A extracção fez-se em 2 de
Março do ano seguinte, e o interessante é que os felizes contemplados não tiveram pressa em recolher os
trastes, pois ainda em 21 de Abril, outro anúncio comunicava ao público que prosseguia todas as terças-feiras
e sábados, no teatro, a entrega dos prémios.

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Teatro Nacional de S. Carlos

Este processo repetiu-se, como mencionei anteriormente, em Março de 1800. Desta feita, para maior
tentação, além dos bilhetes de entrada anual os prémios a sortear eram todos em bom metal sonante. Não
iam longe - 2.380$000 réis apenas desde o prémio maior de 800$000 réis aos mais inferiores de 200$000 réis.

Sete mil bilhetes de 1$600 réis (um total de 11.200$000 réis) para 1.010 prémios, e 5.990 bilhetes
brancos, que todos se venderam «no Theatro, nas lojas da Gazeta, do Nicola e do Coutinho ao Rossio, no
Caffé de Belém e no Caffé novo da Junqueira»

A iluminação eléctrica seria instalada em 1887, depois do edifício ter sido adquirido pelo estado em
1854.

No ano de 1940, o “Teatro Nacional de S. Carlos” sofreu, durante 8 meses importantes obras de
melhoramentos, restauro, consolidação e conservação exterior e interior, mandadas fazer pelo engº Duarte
Pacheco, Ministro das Obras Públicas, reabrindo em no dia 1 de Dezembro de 1940 …

Ultimamente o largo fronteiro foi recuperado como espaço de passeio e lazer, incluindo uma esplanada
que serve o restaurante concessionado pelo “Teatro Nacional de S. Carlos”. Ocasionalmente, têm sido
transmitidas récitas, em directo, para o Largo ("Teatro ao Largo") através de uma tela gigante e de um sistema
de som especialmente montados para o efeito. A época de ópera decorre sensivelmente de Novembro a
Junho, mas há concertos e bailado noutras alturas do ano. Alguns dos espectáculos organizados pelo “Teatro
Nacional de São Carlos” são levados à cena no palco do grande auditório do “Centro Cultural de Belém”.

Actualmente, o “Teatro Nacional de São Carlos”, oferece, também, no seu interior um restaurante
gourmet baseado na Cozinha Portuguesa e Italiana.

32
Teatro Nacional de S. Carlos

Hoje em dia o “Teatro Nacional de São Carlos”, oferece, também, no seu interior um restaurante
gourmet baseado na Cozinha Portuguesa e Italiana.

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Para consulta do respectivo artigo no blog “Restos de Colecção”, acedendo a mais fotos e documentos,
com referência às fontes de onde foram retirados os mesmos e, igualmente, alguns reproduzidos aqui, clicar
no seguinte link:

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Teatro de Thalia ou Teatro das Laranjeiras

Teatro de Thalia ou Teatro das Laranjeiras (1820)

O “Theatro de Thalia” ou “Theatro das Laranjeiras”, inserido no “Palácio das Laranjeiras”, propriedade
de Joaquim Pedro Quintella do Farrobo, 1º Conde de Farrobo desde 1802, teve a sua primeira representação
em 1825. Com capacidade para 560 lugares, a sua construção tinha sido iniciada em 1820, sob o projecto do
arquitecto Fortunato Lodi. As artes de estucador ficaram a cargo do italiano Félix Salla e João Paulo da Silva,
e as pinturas interiores da responsabilidade de António Manuel da Fonseca. Esta seria a primeira versão deste
Teatro.

Entre 1841 e 1843, seria refeito e remodelado pelo mesmo arquitecto, passando a oferecer luxuosos
camarins e um salão de baile, com paredes revestidas de espelhos de Veneza, vindo a ser inaugurado em 26
de Fevereiro de 1843, com um espetáculo a que assistiu a Rainha D. Maria I.

«Joaquim Pedro Quintella do Farrobo, 1º conde de Farrobo por decreto da regencia do duque de
Bragança, em 1833, 2º barão de Quintella, par do reino, 2.° senhor da villa do Préstimo, 2.° alcaide-mór da
villa da Sortelha, grã-cruz da ordem da Conceição e commendador da de Christo, Inspector geral dos theatros
e espectáculos públicos, coronel de cavallaria nacional de Lisboa, abastado proprietário e capitalista, nasceu
em Lisboa a 11 de dezembro de 1801.
O Conde de Farrobo foi o fidalgo mais opulento e cavalheiresco que Portugal tem possuido. Foi tambem
um protector das bellas artes e um dedicado amigo dos artistas. Ainda até á morte os seus mais estimados
convivas foram os notaveis actores Taborda e Izidoro. Foi emprezario do theatro da Rua dos Condes, dando-
lhe todo o brilho e esplendor compativel com a epocha. Foi o mais bizarro e enthusiasta emprezario que o
theatro de S. Carlos jámais tem tido.
Mandou construir na sua maravilhosa quinta das Laranjeiras o mais bello e confortavel theatro de
Portugal, em que dava os mais extraordinarios e luxuosos espectaculos com distinctos amadores da alta
sociedade e com os mais afamados artistas da epocha, que mandava vir do estrangeiro.

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Teatro de Thalia ou Teatro das Laranjeiras

O Conde de Farrobo tinha enorme paixão pela muzica. Tocava perfeitamente violoncello e contrabaixo e
er a eximio em trompa. Tinha sempre em casa uma banda de musica, formada pelos seus criados, aos quaes
mandava ensinar qualquer instrumento, para o que tinha um mestre contractado.» in “Diccionario do Theatro
Portuguez” de Souza Bastos.

Joaquim Pedro Quintella de Farrobo (1801-1869)

Para ilustrar grande parte deste artigo, vou transcrever excertos do XIV capítulo do livro “Lisboa
d’Outros Tempos - I Figuras e Scenas Antigas”, de Pinto de Carvalho (Tinop), editado pela “Livraria de António
Maria Pereira”, em 1898, intitulado “As Festas do Farrobo”.

«O theatro Farrobo começára em 1820 n’um palco improvisado no palacio das Laranjeiras, no qual,. de
1825 a 1827, se cantou opera. Em 1833 recomeçavam as recitas nas Laranjeiras. Depois de 1820 lançaram-
se os fundamentos d’um theatro, que foi reedificado em 1843, por occasião da grande festa offerecida á rainha
D. Maria II, e que veiu ainda a soffrer bastantes alterações. Theatro e palacio foram illuminados a gaz em
1830, vinte annos antes de Lisboa o ser por esse meio.

Garrett ensaiou muitas vezes, mas, ultimamente, o ensaiador habitual era o grande actor Izidoro, que,
por vezes, tomou parte no desempenho, e que o Farrobo convidara para aquelle cargo, propenso, como
sempre foi, a proteger a arte e os artistas. Os scenographos eram : o professor Fonseca, o Rambois, e o
Cinatli, que viera para aqui em 1836, escripturado para S. Carlos, pela empreza d’Antonio Lodi. Cinatti casou
em 1837 com Maria Rivolta, d’uma familia milaneza residente em Lisboa, e associou-se a Rambois, que,
desde 1834, se encontrava entre nós. Cinatti e Rambois constituiram uma firma artistica, cujos magistraes
productos scenicos foram admirados por tres gerações nos palcos de S. Carlos e de D. Maria. A collaboração
desses dois artistas produziu, durante quarenta e dois annos, mais de seiscentos scenarios. Alguns
notabilisaram-se.

Que esplendorosas festas se deram na quinta das Laranjeiras, por elegantes noites de inverno, nas
quaes - ao mesmo tempo que as serpenteantes caudas casquinavam risadas de seda nos passos elásticos
das quadrilhas - a orchestra da sala misturava suas sonoridades às notas doloridas arrancadas por Eolo ás

35
Teatro de Thalia ou Teatro das Laranjeiras

harpas do arvoredo . . . Que representações tão distinctas, que bailes tão deslumbrantes, então que se
manifestava um como movimento regressivo ás suggestivas décollettages do Trianon e do Directorio, aos
sumptuosos decotes que proclamavam galantemente a liberdade dos seios, pondo a nú túrgidas carnações de
selim alambreado, estrelladas de brilhantes e camapheus, listradas pelos rocaes de pérolas, cylindrados
hombros d’uma brancura lunar, a claridade magnética d’espaduas riscadas em triângulo pelo hialus dos
corpetes . . E, enquanto a ampla e magnífica luz dos lustres fazia scintiilar as pedrarias, que fustigavam os
olhos como um granizo de fogo, o jubilo perlava de sons argentinos as frescas boccas femininas, como uma
mesma corrente pondo em vibração muitas campainhas eleclricas.
Um jornal descreveu assim o aspecto das salas: «As innumeraveis luzes de gaz que illuminavam esses
salões, as ricas toilettes, e as magnificas pedrarias de que ellas faziam valer todo o brilho; os uniformes, as
insignias das ordens, e os trajes da côrte, de que os mais eminentes personagens, tanto portuguezes como
estrangeiros, se tinham revestido; os espelhos gigantescos nas molduras douradas, que enchiam os muros
multiplicando os objectos; os florões do tecto, tão delicadamente desenhados e d’uma douradura admiravel,
d’onde pendiam tres soberbos lustres; os ornamentos, os vasos de flôres, e a galeria circular, que, pela altura
da sua cornija, parecia coroar todas estas maravilhas; essa reunião d'objectos seductores dava logar ás mais
deliciosas sensações, e admirava>se, ao mesmo tempo, que esse palacio de Armida estivesse cheio dos
gosos mais reaes e mais palpaveis.

O theatro fôra renovado sob o risco de Fortunato Lodi, que lhe fez duas galerias, podendo assim
comportar seiscentos espectadores, e que o tornou bonito e pimpant como uma toilette de baile do século
XVIII. O pintor Fonseca encarregara-se de pintar as figuras da sala de baile e do theatro; Rambois e Ginalti
pintaram as decorações da peça com um brilhantismo, que fazia reviver as riquezas dos paços dos antigos
reis castelhanos; os dourados das cornijas e das molduras dos espelhos foram restaurados, em menos de
dois mezes, pelo Margotteau e seis aprendizes. A despeza total montou a sessenta contos de réis. Era assim
a bizarria do homem, que acabava de deixar a sua empreza de S. Carlos com perda de quarenta contos de
réis, e sem que nunca tivesse manifestado uma só d’aquellas hesitações, que levavam um autocrata russo a
dizer á Malibran, que lhe pedira sessenta mil francos para cantar: Os meus marechaes ganham apenas trinta
mil. Ao que também a espirituosa prima-donna replicara : Sire, faça os cantar!»

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Teatro de Thalia ou Teatro das Laranjeiras

«A 9 de setembro de 1862 jantava o conde de Farrobo descançadamente na sua esplendida


propriedade campesina quando um dos creados lhe apresenta n'uma salva de prata um telegramma, e diz:
- Acabam de entregar isto para V. Ex.ª
Joaquim Pedro pega no papel, abre-o, lê, dcbra-o com a máxima serenidade, mette-o na algibeira e prosegue
na refeição sem que a physionomia tranquilla e attrahente revelasse qualquer commoção. Ao terminar o jantar,
depois de tomar o café e de ter accendido o charuto, com o ar mais natural do mundo, virou-se para a esposa
e participou-lhe:
- Ardeu o theatro das Laranjeiras.
- Ardeu o theatro das Laranjeiras ? ! - repetiu D. Marianna
Lodi não podendo acreditar na veracidade de tão infausta noticia.
- Os operários que andavam alli trabalhando, por qualquer descuido, ponta de cigarro ou lume accêso para
necessidade inadiável pegaram fogo. . . (1)
(1) Originou o incêndio o descuido de uno operário que soldava uma clarabóia.

- Não se conseguiu salvar nada?


- Nada. Perdeu-se tudo, o scenario e o guarda-roupa.
- Tão importante o primeiro, tão rico o segundo !...
- Tudo se ha de recompor.

De regresso a Lisboa, o conde ordenou que começassem os trabalhos de reparação. As festas


continuavam, no entanto, como em plena prosperidade.As offerecidas a 8 e 9 de agosto eccoaram por todo o
reino com a mesma retumbante repercussão de pródiga magnificência. Na quinta hospedaram-se mais de
cem pessoas, incluindo vinte senhoras. Durante esses dois dias nenhum soberano da Europa receberia com
mais bizarra dissipação. Em ambos se correram veados na tapada attinente á soberba vivenda.» in: “Estroinas
e Estoinices - Ruina e Morte do Conde de Farrobo” de Eduardo de Noronha (1922).

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Teatro de Thalia ou Teatro das Laranjeiras

Palácio das Laranjeiras

«Foi na quinta das Laranjeiras que se fez, em 7 d’abril de 1867, a experiencia da nova espingarda de
precisão apresentada por mr. Benet. Congregaram-se varias damas e cavalheiros. Á noite passaram a uma
das salas, elegante e fina como uma moderna boite a bonbons de Pihan ou de Boissier, dançaram
contradanças, fizeram charadas figuradas, jogaram o whist. Foi a derradeira festa, foi o canto do cysne. Gomo
na Escriptura - tudo estava consummado.
As Laranjeiras fecharam, cerrou-se o templo das artes. E o seu novo proprietário (Jose Pereira Soares)
mandou arrancar o lemma que ornava o portão de ferro: «Olia Tuta.,». Onde gorgeava o idyllio, suspirou
depois a elegia. As musas fugiram espavoridas, soffraldando as túnicas. E se alguma ainda vagueia perdida
nos recessos umbrosos das Laranjeiras, é, decerto, a musa craintive de Millevoye. E o homem que vivera, até
certo tempo, n’um mundo de crystal e oiro banhado de rosea luz, mergulhava por fim na caligem da morte,
levando comsigo os últimos echos da velha elegancia lisbonense. O conde de Farrobo morria ás 6 e meia da
tarde de 24 de Setembro de 1869, exactamente no dia, e poucas horas depois, d’aquelle em que, havia 36
annos se finara em Queluz o seu amigo, o duque de Bragança ao qual abrira a bolsa para manter as tropas
liberaes. E morria na sala Chineza do seu palacio da rua do Alecrim, n’essa mesma sala em que recebera e
banqueteara os ministros do rei-soldado. Quem dispendêra dinheiro, com uma largueza epica, e vivera uma
vida de poema, nem sequer acabava na dourada mediania tão querida do poeta. »

Quanto ao “Palácio das Laranjeiras”, no último quartel do século XIX o palácio, cujo brilho iluminara a
época e deslumbrara os contemporâneos, foi a leilão. A morte poupou, no entanto ao Conde de Farrobo
aquela afronta. Adquiriu-a então, em 1874, um fidalgo espanhol, duque de Abrantes e Liñares, que o mandou
novamente restaurar. Mas a 11 de Abril de 1877 foi comprado pelo comendador José Pereira Soares, que
adquiriu também as Quintas contíguas das Águas Boas e dos Barbacenas.

Em 1903, foi a vez do Conde de Burnay comprar o conjunto das quintas e do palácio cedendo, em
1904, os jardins da primitiva “Quinta das Laranjeiras e Águas Boas” ao “Jardim Zoológico e d’Acclimação de
Lisboa” - inaugurado em 28 de Maio de 1905 - que, até então, ocupava um local no “Parque da Palhavã”. Os
restantes espaços ficaram na posse da sua família até 1940, ano em que, para efeito de partilhas se procedeu

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Teatro de Thalia ou Teatro das Laranjeiras

à venda dos mesmos, tendo o palácio das Laranjeiras sido adquirido pelo Ministério das Colónias, para aí
instalar o museu da Marinha. Desde então vários ministérios tiveram sede nas Laranjeiras sendo que, desde
Abril de 2002, com a tomada de posse do XV Governo Constitucional, se instalou o Ministério da Ciência e do
Ensino Superior, mais tarde Ministério da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior.

Depois de abandonado durante décadas, o “Teatro Thalia” ou “Teatro das Laranjeiras”, e classificado de
interesse público pelo IGESPAR, desde 21 de Dezembro de 1974, seria finalmente recuperado o seu exterior
e o seu interior, em 2010, mas sem a opulência de tempos idos como é natural.

Do antigo teatro ainda existem referências visíveis à beleza do essencial e sólido nessa construção: os
volumes do Foyer, Plateia e Cena. Presentemente destina-se a ser usufruído para fins científicos e culturais
quer pelos organismos do próprio Ministério da Educação e Ciência, quer pela comunidade em geral. A
requalificação do antigo “Teatro Thalia”, uma iniciativa do Ministério da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior,
teve projecto de arquitectura de “Gonçalo Byrne Arquitectos, Lda.” e “Patrícia Barbas e Diogo Lopes
Arquitetos, Lda.”.

«O Teatro Tália apresenta dois pisos, mais um sobre a cimalha; a fachada de sete vãos apresenta 4
colunas de ordem dórica sobre as quais assenta um frontão triangular de tímpano liso, sobre o qual e estátua
de Érato; sobre os acrotérios duas urnas; no prolongamento das colunas, e sobre plintos que avançam do
peristilo, quatro esculturas, em pedra, representando esfinges deitadas e apoiadas sobre as patas; a fachada
E. apresenta corpo simples com oito vãos simples simétricos distribuidos por dois níveis e porta central.
Interior: encontra totalmente esvaziado (todos os elementos de arquitectura e decoração do revestimento
desapareceram) apenas existindo, de pé o grande arco em alvenaria que separa o palco da plateia. ANEXOS:
a S., no seguimento da fachada lateral, existem as antigas cavalariças e casas dos cocheiros constituídos por
edificações de dois pisos seguidas de terreiro irregular que confina com os jardins. A N. no seguimento do
Teatro Tália e anexo a este, habitação de dois pisos (antigos camarins do teatro); mais a N. e, acompanhando
o muro, passando o lago junto à escadaria monumental, outro grupo de habitações antigas, com poço e
pequeno pavilhão.» in “SIPA - Sistema de Informação para o Património Arquitectónico”.

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Teatro de Thalia ou Teatro das Laranjeiras

Bibliografia:
- “Lisboa d’Outros Tempos - I Figuras e Scenas Antigas”, de Pinto de Carvalho (Tinop), editado pela “Livraria
de António Maria Pereira”, em 1898.
- “Diccionario do Theatro Portuguez” de Sousa Bastos (1908)
- SIPA - Sistema de Informação para o Património Arquitectónico.

*****

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Teatro Nacional D. Maria II

Teatro Nacional D. Maria II (1846)

O “Teatro Nacional D. Maria II” foi construído no mesmo lugar onde outrora se situava o “Palácio da
Inquisição”, mais tarde o “Paço dos Estaus” e por fim o “Palácio da Regência” tendo sido destruído pelo
Terramoto de 1755.

«Em 1449, iniciou-se a sua construção, no Bairro do Conde de Ourém, ao Rossio, no local onde está
hoje o Teatro Nacional Dona Maria II. Nele se alojavam as personagens estrangeiras que visitavam a Corte
portuguesa no século XV. No século XIX, o edifício integrava-se na praça onde os lisboetas passeavam
pacatamente.» in Rocio/Rossio .Terreiro da Cidade.

Na sequência da revolução de 9 de Setembro de 1836, Passos Manuel assume a direção do Governo e


uma das medidas que tomou nesse mesmo ano foi encarregar, por portaria régia, o escritor e político Almeida
Garrett de pensar o teatro português em termos globais e incumbi-lo de apresentar «sem perda de tempo, um
plano para a fundação e organização de um teatro nacional, o qual, sendo uma escola de bom gosto,
contribua para a civilização e aperfeiçoamento moral da nação portuguesa».

Por esse mesmo decreto, Almeida Garrett ficou encarregue de criar a “Inspeção-Geral dos Teatros e
Espetáculos Nacionais” e o “Conservatório Geral de Arte Dramática”, instituir prémios de dramaturgia, regular
direitos autorais e edificar um Teatro Nacional «em que decentemente se pudessem representar os dramas
nacionais».

Almeida Garrett, nomeado inspetor-geral dos "Teatros e Espectaculos Nacionaes", redige um ofício ao
governo do Reino, datado de Dezembro de 1836, solicitando o Palácio do Tesouro, ao Rossio, para as
instalações do Teatro Nacional. Luigi Chiari foi o arquiteto escolhido para o 1.º projeto que, rapidamente, foi
abandonado; embora tivesse muita qualidade, este era extremamente caro.

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Teatro Nacional D. Maria II

Entre 1836, data da criação legal do Teatro Nacional, e 1846, o já existente e degradado “Teatro da Rua
dos Condes” funcionou desde 1765 como provisório Teatro Nacional função que dividia com o “Teatro do
Salitre”. O seu público eram as classes médias e baixas da sociedade portuguesa e, em 1837, o Padre José
Agostinho de Macedo falava no «denso e fedorento vapor de sebo e azeite de peixe (...) vai o pingado pano
acima, em que eternas teias de aranha formam ou barambases ou bambolinas». Já William Beckford, viajante
inglês que viveu algum tempo em Portugal (1797) afirmara que o “Teatro da Rua dos Condes" «era baixo e
estreito, o palco uma pequena galeria e os actores, pois não há actrizes abaixo de toda a crítica». O Condes,
para o inglês, era «mais tolerável do que o Salitre, mas mesmo assim bastante pobre». in: O Inferno

Por vicissitudes políticas, somente em 1840, com Garrett já deputado, se renovaria a ideia do teatro.
Cria-se uma comissão promotora da construção do edifício, escolhendo-se o local do antigo “Palácio dos
Estaús”, ao Rossio. Abre-se um concurso internacional, cujo júri recusa os seis projetos apresentados. Fora de
prazo surge um projeto de ótima qualidade, de Fortunato Lodi, contestado por Garrett e Herculano, que não
viam com bons olhos a intervenção dum artista estrangeiro. Graças ao Conde de Farrobo, cunhado de Lodi, o
projeto vence com a aprovação do governo e as obras iniciam-se em 1842.

Integrado nas festividades do 27º aniversário da Rainha Dona Maria II ( de seu nome completo: Maria
da Glória Joana Carlota Leopoldina da Cruz Francisca Xavier de Paula Isidora Micaela Gabriela Rafaela
Gonzaga de Bragança ), filha do Rei D. Pedro IV (Imperador do Brasil como D. Pedro I), o teatro inaugura em
13 de Abril de 1846 com a peça de Álvaro Gonçalves, «O Magriço e os Doze de Inglaterra», um original
oferecido por Jacinto Heliodoro de Faria Aguiar de Loureiro. O aniversário da Rainha D. Maria II era a 4 de
Abril, mas como este dia coincidia com as festas da semana santa, os festejos foram adiados para o dia 13.

Primitiva sala de espectáculos antes do incêndio de 1964

Toda a fachada e frontão foram modelados e esculpidos pelo insigne discípulo de Machado de Castro,
Francisco Assis Rodrigues, este em colaboração com António Manuel da Fonseca, ambos professores da
Academia de Belas Artes. A fachada principal do edifício sugere um templo grego, sendo guarnecida dum
nobre peristilo neoclássico sustentado por seis grandes colunas jónicas que haviam pertencido à fachada da
desaparecida igreja de S. Francisco da Cidade, e o seu frontão que ostentava o Escudo Real foi substituído

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Teatro Nacional D. Maria II

depois pelo grupo Apolo (ou Zeus) e as Musas, e encimado com as estátuas de Gil Vicente, de Tália e de
Melpomene.

Durante um largo período de tempo, o Teatro Nacional foi gerido por sociedades de artistas que, por
concurso, se habilitavam à sua gestão. Após a implantação da República passou a chamar-se “Teatro
Nacional de Almeida Garrett”.

A gestão mais duradoura foi a da “Companhia Amélia Rey Colaço / Robles Monteiro” ( companhia de
teatro mais duradoura da Europa) que permaneceu neste teatro de 1929 a 1966, mas a mais célebre terá sido
a da companhia Rosas e Brasão, entre 1881 e 1898, durante a qual foi ousada uma mudança de reportório
sendo apresentadas as primeiras criações de peças de Shakespeare em Portugal.

Salão Nobre Átrio

Em 2 de Dezembro de 1964, pelas quatro e vinte da madrugada, o “Teatro Nacional D. Maria II ” sofre
um violento incêndio que apenas poupou as paredes exteriores e a entrada do edifício. Foi nomeada uma
comissão para a sua reconstrução imediata pelo então Ministro das Obras Públicas, Engº Arantes e Oliveira,
tendo sido nomeado para a chefiar o arquitecto Guilherme Rebelo de Andrade. Este arquitecto já tinha sido
responsável pela reconstrução do “Palácio Nacional de Queluz” em 1934 e pela renovação do “Teatro
Nacional de S. Carlos” em 1940.

O interior do edifício foi totalmente reconstruído respeitando o original estilo neoclássico tendo reaberto
as suas portas só em 11 de Maio de 1978, com a representação do «Auto da Geração Humana», atribuído a
Gil Vicente e, «O Alfageme de Santarém», de Almeida Garrett. O Teatro Nacional foi reconstruído e
modernizado em relação à anterior estrutura: as oficinas de construção e montagem de cenários são
subterrâneas e o palco é rotativo e possui elevador. Na cave estão o arquivo e respetiva biblioteca e, no último
piso, a "Sala Estúdio".

Na sua reabertura foi muito discutida em grande polémica, o nome mantido de “Teatro Nacional D.
Maria II “. Muitos artistas e políticos defendiam a mudança de nome para “Teatro Nacional Almeida Garrett”.

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Teatro Nacional D. Maria II

Em Março de 2004, o “Teatro Nacional D. Maria II “ foi transformado em sociedade anónima de capitais
públicos, passando a ser gerido por administração própria e sujeito à superintendência e tutela dos Ministérios
das Finanças e da Cultura. Em 2007, é integrado no sector empresarial do Estado.

O “Teatro Nacional D. Maria II “ actualmente, possui duas salas: “Sala Garrett”, com 436 lugares e a
pequena “Sala Estúdio” com 91 lugares.

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Teatro do Ginásio

Teatro do Ginasio (1846/ 1925)

Em 12 de Outubro de 1845, abriu o “Gymnasio Lisbonense”, tendo como primeiro proprietário o sr.
Motta, que era tipógrafo. Esta casa de espectáculos ocupava os terrenos do antigo Palácio Geraldes, na
Travessa do Secretário da Guerra, próximo da Rua das Portas de Santa Catarina a caminho da Trindade.

Pouco tempo depois muda de mãos para um ex-fiscal do “Teatro Nacional de S. Carlos”, o de seu nome
Manoel Machado, que organizou a primeira companhia de declamação, tornando-se num teatro popular
exibindo, também, uma grande variedade de espectáculos. A segunda companhia seria liderada por Emilio
Doux.

Menos de um ano depois, uma sociedade composta por alguns artistas, pelo mesmo Manoel Machado,
e pelo sr. Lima, camaroteiro, remodelam totalmente este local e inauguram o “Theatro do Gymnasio” em 17 de
Maio de 1846 com o drama “Os Fabricantes de Moeda Falsa”. «era um teatrinho de cartas, sem proporções,
sem espaço, mas alegre e simpático» (Julio Cesar Machado). Neste teatro estreou-se o actor Taborda, que
tinha trabalhado na oficina de tipografia do sr. Motta.

«A boa escolha dos espectaculos, o aceio, em que poz a salla, e uma rigorosa policia acreditou em
pouco tempo de tal sorte o theatro do Gymnasio, que ordinariamente estava cheio de espectadores .
O Gymnasio é muito frequentado. O público da capital gosta da comédia e da farça, e este theatro apresenta-
lhas.
A primeira sociedade frequentava o teatro, e D. Fernando quiz lá ir. O Teatro não tinha cómodos. Daí a ideia
de construir outro, no mesmo local.» in “Galeria Theatral”, 1849.

«O Theatro do Gymnasio, onde todas as noites se reunia a primeira sociedade de Lisboa,seguia


prosperamente. Suas Magestades manifestaramdesejos de assistir áquelles espectáculos;rftas o theatro era
de tal ordem,que não podia recebel-as. Começaram então os sócios a pensar em demolir o nojento barracão,
sujo, tortuoso, de escadas Íngremes e corredores acanhados e no mesmo local mandaram construir uma
decente e commoda casa d'espectaculos. Eram bonros desejos, mas faltavam os recursos. Os artistas tinham
o maior empenho em ser agradáveis ao publico; este só queria auxilial-os. Manuel Machado conseguiu que o

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Teatro do Ginásio

ministro Rodrigo da Fonseca Magalhães auxiliasse a reconstrucção do theatro, dando credito á empreza. Os
illustres scenographos Rambois e Cinatti prestaram-se gratuitamente a fazer a planta e a dirigir os trabalhos.
O mestre d'obras Ruas, avô dos actuaes emprezarios do theatro do Principe Real, tomou conta da
construcção fornecendo todo o material e pagando as ferias aos operários. As condições foram estas: o
empreiteiro obrigou-se a dar o theatro prompto a funccionar no prazo de sete mezes pela quantia de
12:000$000 réis, paga no prazo de doze annos, em prestações semestraesde 600$000 réis, sendo 500$000
réis de capital e 100$000 réis de juros de mora.
Faltavam ainda os meios para fornecer o theatro de scenario, mobilia g outras coisas indispensáveis.
Todos os fornecedores se prompti(icaram a entregar tudo, esperando pelo pagamento. Suas Magestades
tomaram os camarotes, que ainda hoje conservam, dando 600$000 réis por anno, que ainda hoje dão, e
mandaram-os decorar e mobilar a expensas suas. El Rei D.Fernando e seus filhos D.Pedro e D. Luiz foram
visitar o theatro em obras,tal era o interesse que por elle tomavam. A sociedade artistica obteve ainda do
Banco de Portugal um credito de 5:000$0000 réis.
Concluídas as obras no prazo marcado, em que os artistasderam espectáculo no Porto e outras terras
para obterem os meios de subsistência, fez-se a inauguração do novo Theatro do Gymnasio a 18 de
novembro de1852 com a comedia em 3 actos, original de Mendes Leal Júnior, O tio André que vem do Brasil e
as comedias em 1 acto: O homem das botas, original de Braz Martins e o Misantropo imitação de Paulo
Midosi.
No final dos annuncios do espectáculo,lia-se o seguinte: «Os camarotes acham-se forrados d'um papel
ordinário provisoriamente, por não ter chegado ainda o que se escolheu e encommendou.
Os sócios do Gymnasio n'esse momento eram: Taborda, Pereira, Moniz,Braz Martins, Areias, Romão,
Marques,Ramos, Assumpção, Emília Cândida. Joaquina,o Rocha scenographo, o Manuel Machado,fiscal e
Izidoro Lima, camaroteiro e thesoureiro.Eram escripturados os artistas: Abreu,César de Lima, Joaquim Moniz,
Santos,Margarida Lopes, Emília Letroublon, Maria José Noronha, Ludovina, Magdalena e
outrosinsignificantes. O ponto era o Fidanza.Os directores da scena eram: Taborda, Moniz e Manuel Machado.
Os preços do theatro eram os seguintes: camarotes de 1ª ordem,1$920; 2ª ordem, 1$440; 3ª ordem,960
réis; plateia superior, 320; geral, 240; varandas, 160 réis.» in: “Diccionario do Theatro Portuguez” de Sousa
Bastos (1908).

Em 1908 o “Theatro do Gymnasio” já era propriedade do cantor português Francisco de Andrade.

Em 5 de Novembro de 1921 o “Theatro do Gymnasio” é totalmente consumido por um violento incêndio.


Decidida de imediato a sua reconstrução pelo empresário Luiz Galhardo, a mesma vai ficar a dever-se ao

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Teatro do Ginásio

benemérito Manuel José Mendes, conhecido nos meios teatrais pelo «pae Mendes». Fazendo parte do
concelho de família do falecido Francisco de Andrade, já que o único herdeiro e filho deste ainda era menor de
idade, Manuel Mendes encabeçou a tarefa da reconstrução do “Theatro do Gymnasio”.

Foi formada a "Sociedade Dramática do Teatro do Gimnasio de Lisboa”, formada pelos banqueiros João
Nascimento Santos, Eduardo Maria Rodrigues e António Botelho que colocaram à disposição todo o capital
necessário, cerca de 1.500 contos (1.500.000$00). Esta empresa ficou encarregue de construir e explorar
este novo Teatro, durante determinado número de anos e em determinadas condições vantajosas para a viúva
e o filho de Francisco de Andrade.

As obras do novo Teatro foram efectuadas pelo construtor Domingos Mesquita, e dirigidas pelo
engenheiro Fernando Iglésias de Oliveira, seguindo o projecto do arquitecto João Antunes laureado da
Academia de Belas Artes. A pintura do tecto da sala de espectáculos ficou a cargo do mestre Domingos
Costa.

A capacidade do novo teatro ficou assim distribuída: Plateia: 380 lugares; Frisa: 27; Camarotes de 1ª
ordem: 29; Balcão de 1ª ordem: 80 lugares; Camarotes de 2ª ordem: 29; Balcão de 3ª ordem :100 e gerais de
na 3ª ordem para 250 entradas.

«Sendo a lotação do teatro, calculadas as frisas e camarotes com 5 pessoas, 1.335 espectadores e a
receita bruta, a preços moderados, poderá computar-se d'entre seis a sete mil escudos».

Anos mais tarde, foi convertido em cinema, até aos anos 50 do século XX, altura em que passa a ter a
classificação de cine-teatro, passando a ser obrigado a exibir por um período de três meses uma peça teatral
anualmente.

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Teatro do Ginásio

Nos anos 80 do século XX o seu interior foi demolido e, mantendo a fachada foi construído o seu interior
nos anos 90 para aí alojar um centro comercial com 62 lojas, 25 escritórios, um café-concerto e um parque
automóvel subterrâneo. Já século XXI este antigo teatro e cinema viu o interior novamente renovado
passando a funcionar como teatro, chamando-se actualmente "Espaço Chiado".

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Teatro-Circo de Price

Teatro-Circo de Price (1860)

O original “Theatro-Circo de Price”, foi fundado em 1853 por Thomas Price, um irlandês domador de
cavalos, descendente de uma trupe de acrobatas, chegada a Madrid em 1847. Thomas Price pertencia a uma
família inglesa de grande tradição circense, possuindo circos e theatros-circo em Espanha, Portugal e países
escandinavos. Thomas Price morreria devido a um acidente, em 1878, sendo sucedido por outro domador de
cavalos e cavaleiro, William Parish, casado com Matilde de Fassi, afilhada de Thomas Price.

O “Theatro-Circo de Price” teve a sua aparição em Madrid, no Paseo de Recoletos em 1853, tendo sido
transferido para a Plaza del Rey, em 1880.

O “Theatro-Circo de Price”, em Lisboa, inaugurado em 11 de Novembro de 1860, veio ocupar o lugar da


primeira praça de touros em Lisboa a “Praça do Salitre” inaugurada em 4 de Junho de 1790 - também
conhecida por “Circo de Cavalinhos”, “Circo de Mme. Tournour”, “Novo Circo Price” e “Lisbon Amphitheatre
Anglo Franco Português” - que existiu em Lisboa, na Calçada do Salitre, junto ao “Theatro do Salitre”, também
conhecido por “Theatro de Variedades”. A iniciativa do inglês Thomas Price, com o seu grupo de ginastas e
acrobatas estrangeiros impressionou a juventude lisboeta da época e esteve na origem do atual “Ginásio
Clube Português”.

Segundo a revista “Illustração Portugueza”: «O Circo Price ficava situado do lado esquerdo da calçada
do Salitre, defronte do velho theatro das Variedades. Era mais amplo que o actual Colyseu dos Recreios, e a
sua enorme cúpula assentava sobre grossas vigas de madeira.»

No número do “António Maria” de Raphael Bordallo Pinheiro de 2 de Outubro de 1879, pode-se ler:
«No circo, diga-se para honra do nosso publico, emquanto a orchestra executa as delicadas sonatas
dos grandes mestres, reina sempre absoluto silêncio, perturbado apenas por um ou outro espectador que
ladra ou por um cão que rebola das bancadas. Entretanto, isto que a muitos pode parecer recolhimento, é
tambem um quasi nada somnolencia. A cidade mostar assim o seu respeito para com os immortaes classicos:
admira-os e dorme.»
Como referiu o escritor Eça de Queirós, no livro “Os Maias” e lançado no Porto em 1888, o “Theatro-
Circo de Price” era um espaço extremamente popular, mas um lugar pouco confortável e abafado. Embora

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Teatro-Circo de Price

sendo originalmente uma sala especializada em circo e ginástica, passou mais tarde a apresentar comédias,
zarzuelas, operetas e outros espetáculos populares à época.

Em 7 de Maio de 1880 o “Theatro-Circo de Price”, depois de profundas obras de renovação, seria


reinaugurado com a nova denominação de “Coliseo de Lisboa”. Quanto á inauguração escrevia o “Diario
Illustrado” em 9 de Maio:
«Inaugurou-se antehontem o Coliseo de Lisboa, estreiando-se tambem o maestro Langenbach, que
vinha precedido da fama que adquiriu na direcção dos brilhantes concertos em Vienna d'Austria, por occasião
da ultima exposição.
O velho Circo Price está completamente transformado. A sala do espectaculo, o jardim, o tunnel onde
estão diversos jogos, tudo emfim foi arranjado com bom gosto.
Todo o programma executado pela grande orchestra dirigida por mr. Langenbach foi vivamente
applaudido, sendo algumas peças bisadas, e entre ellas, na primeira parte, os 'Sonhos de creança', mimosa
fantasia de saro, e a mazurka 'Convite para dançar', excelente composição do maestro Langenbach.
No jardim, ao ar livre, desempenhou a banda da guarda municipal com applauso, as peças designadas no
programma.
A concorrencia foi grande, os camarotes estavam todos tomados; poucas cadeiras, que são 700,
estavam de voluto; na geral era enorme o numero de espectadores.
Vimos no Coliseu grande parte da primeira sociedade de Lisboa, o que nos dá a certeza de que aquella
casa de espectaculos vae ser um agradabilissimo ponto de reunião. E na verdade é justo que assim seja;
muita ordem, boa musica, excellente serviço, e porte delicado e attencioso dos empregados para com os
espectadores, são attractivos na verdade muito poderosos.
Sabemos que a empreza tenciona variar os espectaculos, tornando-os deveras apeteciveis.»

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Teatro-Circo de Price

Última referência que descobri ao “Circo Price”, foi na revista “António Maria” de 10 de Novembro de
1881, juntamente com uma referência ao “Theatro do Gymnasio”.

Com a expropriação e demolição do “Coliseo de Lisboa”, no início de 1882, inserido no processo de


demolição do “Passeio Público” e posterior construção da Avenida da Liberdade, ficou um vazio na capital que
só viria a ser em parte colmatado numa primeira fase com a abertura em 1887 do “Real Colyseu de Lisboa”,
na Rua da Palma, e numa segunda fase, com a construção do apelidado “Coliseu dos Recreios” , localizado
na esplanada dos “Recreios Whittoyne”, nos jardins do “Palácio de Castelo Melhor” e que seria inaugurado em
27 de Maio de 1882, com um sarau “gymnastico-equestre” pelo “Real Gymnasio Club Portuguez”.

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Para consulta do respectivo artigo no blog “Restos de Colecção”, acedendo a mais fotos e documentos,
com referência às fontes de onde foram retirados os mesmos e, igualmente, alguns reproduzidos aqui, clicar
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Teatro do Príncipe Real / Teatro Apolo

Teatro do Principe Real (1865) / Teatro Apolo (1910)

O “Theatro do Príncipe Real” foi inaugurado em 1865, em homenagem ao Príncipe D. Carlos e futuro
Rei de Portugal, nascido em 28 de Setembro de 1863. O edifício projectado por Luís Ruas situava-se na
esquina na Rua da Palma, na freguesia de Santa Justa, em Lisboa. “Dois Pobres e Uma Porta”, em 3 actos e,
“Muito Padece Quem Ama”, em 1 acto, foram as comédias apresentadas na sua inauguração.

Recordo que na cidade do Porto, já tinha sido inaugurado, em 1855, um teatro com o mesmo nome o
“Theatro do Príncipe Real”. Começou por ser um barracão de madeira, e, em 1867, seria construído outro de
pedra e cal. Com a implantação da República em 1910, este “Theatro do Príncipe Real”, do Porto, passaria a
designar-se “Theatro Sá da Bandeira”.

No livro de Sousa Bastos, “Diccionario do Theatro Portuguez” , editado em 1908, pode-se ler:
«Francisco Vianna Ruas, avô dos actuaes emprezarios d'este theatro, era um afamado mestre d'obras e
proprietário d'uma estancia de madeiras á Boa Vista. Foi elle quem reedificou o theatro do Gymnasio. O velho
Ruas achou-se de uma vez emprezarioo do theatro de S. Carlos. Dera com os burrinhos n'agua o emprezano
lork, a quem o theatro fora adjudicado por três annos ; passou a empreza a Martins & C* e pouco depois a
Ruas & C.ª Este pouco tempo lá esteve ; mas ficou-lhe o vicio dos espectáculos. N'um terreno desoccupado
que havia depois da abertura da nova rua da Palma, á esquina da carreirinha do Soccorro, edificou Ruas um
salão, a que deu o nome de Wauxhall e realisou alli bailes de mascaras, que pouco resultado deram. Como
fosse infeliz na tentativa, mudou o nome para Salão Meyerbeer e alli realisou sem resultado também alguns
concertos. Aproveitando as paredes, transformou o salão n'um modesto theatro e convidou o actor Cezar de
Lima a associar- se a elle para formarcompanhia.
Assim foi, inaugurando-se o Theatro do Príncipe Real com a comedia em 3 actos, Dois pobres a uma
porta e a comedia em 1 acto, Muito padece quem ama, ambas imitadas por Aristides Abranches, e Rangel de
Lima.

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Teatro do Príncipe Real / Teatro Apolo

Na companhia estreiou-se uma actriz de grande valor, Margarida Clementina, irmã da actriz Anna
Pereira; esta egualmente, os actores Gama, Bayard, César de Lima, Paulo Martins, Gil, etc. O theatro do
Principe Real, que depois foi modificado, transformando- se n'uma bonita casa de espectáculos, tem tido
epochas brilhantissimas, principalmente a do actor Santos, a de Rossi, a de Paladíni, a da Preciozi e Maria
Denis e muitas outras.»

1873

No final da primeira temporada da companhia “Theatro Livre”, em 1905, Araújo Pereira e Luciano de
Castro - seus fundadores em 1904 - abandonaram esse projeto para fundar, com Simões Coelho, a
companhia “Theatro Moderno”, que ficou sediado no “Theatro do Príncipe Real”, onde se apresentara, antes, a
companhia “Theatro Livre”. A companhia “Theatro Moderno” teve, contudo, uma existência ainda mais
efémera do que o seu antecessor, durando apenas o mês de Julho de 1905. Sob a direção artística de Araújo
Pereira, destacou-se por ter levado à cena um repertório exclusivamente português, com textos de Ramada
Curto (“O Stygma”), Carrasco Guerra e Eloy do Amaral (“Mau Caminho: Episódio Doloroso”), Bento Mântua
(“Novo Altar”), Mário Gollen (“Degenerados”), Afonso Gayo (“Quinto Mandamento”), Amadeu de Freitas e Luís
Barreto da Cruz (“A Lei Mais Forte”).

Em 11 de Outubro de 1910, o regime republicano altera o seu nome para “Theatro Apollo”. “Agulha em
Palheiro”, é primeira revista original após a instauração da República. De Ernesto Rodrigues, Félix Bermudes
e Lino Ferreira, foi um êxito estrondoso estreado em 23 de Fevereiro de 1911, e considerada a primeira revista

53
Teatro do Príncipe Real / Teatro Apolo

verdadeiramente republicana, pelo seu «espírito revolucionário»… em 3 actos e 12 quadros e com música de
Filipe Duarte e Carlos Calderón, foi interpretada por nomes como Lucinda do Carmo, Nascimento Fernandes,
Amélia Pereira, Isaura, e João Silva, entre outros, foi um acontecimento.

Na obra “O Teatro em Lisboa no tempo da Primeira República” pode -se ler:

«Situado na Rua da Palma desde 1866, o ex-Teatro do Príncipe Real anunciava, logo após a
implantação da República, dramas populares e baixa comédia, operetas e teatro de revista. Era, na altura, seu
ensaiador António Pinheiro, funções de que foi dispensado no fim da época quando Eduardo Schwalbach
alugou o teatro a Luís Ruas, então seu proprietário».

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Teatro do Príncipe Real / Teatro Apolo

O teatro em Portugal, volta a merecer uma atenção particular de uma crítica algo agastada com o
excesso de produção revisteira, de qualidade duvidosa. «Em cada teatro, em cada animatógrafo, em cada
casino surge uma revista. Ultimamente foram um fracasso na sua maioria talvez mercê do ambiente, talvez
pelos excessivos rigores da polícia do antigo regime.».

A última companhia que esteve no “Teatro Apolo” foi brasileira, dirigida pela actriz Maria Della Costa. A
primeira visita da companhia de “Teatro Popular de Arte do Brasil” de Maria Della Costa a Portugal tinha
ocorrido em 1956, ano em que o público pôde assistir, no “Teatro Apolo”, a textos de autores variados como
Abílio Pereira de Almeida («Moral em Concordata», 1956), Henrique Pongetti («Manequim», 1957),
Tennessee Williams («A Rosa Tatuada», 1957), Jean Anouilh («O Canto da Cotovia», 1957) e Jean-Paul
Sartre («A Prostituta Respeitosa», 1957), entre outros. De referir que a peça «A Prostituta Respeitosa» só
pode ir à cena com cortes, depois de uma longa batalha com a censura do Estado Novo, sendo chamada
pelos meios de comunicação, de modo conservador, de «A... Respeitosa».

55
Teatro do Príncipe Real / Teatro Apolo

A segunda estada da “Companhia de Teatro Popular de Arte” de Maria della Costa viria a ser no “Cine-
Teatro Capitólio”, entre Outubro de 1959 e Março de 1960. A última peça a ser representada no “Teatro Apolo”
foi «A … Respeitosa», de Jean Paul Sartre, pela companhia de “Teatro Popular de Arte” de Maria della Costa
estreada a 10 de Maio de 1957. A última representação teatral, nesta teatro foi na noite de 14 de Junho de
1957. Na altura do encerramento do “Teatro Apolo” o empresário deste teatro era Erico Braga.

Apesar dos inúmeros sucessos, o “Teatro Apolo” após ter sido leiloado o seu recheio em 22 de Agosto
de 1957, foi demolido no mesmo ano.

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Teatro da Trindade

Teatro da Trindade (1867)

O "Theatro da Trindade" foi inaugurado em 30 de Novembro de 1867, pela "Sociedade do Theatro da


Trindade", constituída em 10 de Outubro de 1866, cujo director era Francisco Palha e associado aos capitães
Francisco e Fortunato Chamiço, Duque de Palmela, Frederico Biester, Oliveira Machado, Freitas Guimarães,
Ribeiro da Cunha, António Thomaz Pacheco, entre outros. O nome provem de um antiquíssimo “Convento da
Trindade”, erguido no logradouro que então era arrabalde da cidade.

O local escolhido foi o terreno do antigo Palácio dos Condes de Alva, onde em 1735 o empresário
italiano Alessandro Paghetti havia criado a “Academia da Trindade”, «o primeiro teatro popular de Ópera» que
funcionou apenas três anos, tendo sido encerrada em 1738. «Foi em uma das casas alugadas defronte do
convento da Trindade, a que deram o nome de Academia, que pela primeira vez se representou, para o
publico, a opera italiana em Lisboa» in: "O Real Theatro de S. Carlos" livro de Francisco da Fonseca
Benevides. Após o terramoto de 1755 o local albergava apenas restos do palácio e alguns casebres, que em
1865 deram lugar às obras de construção do novo Teatro.

Acerca do director e um dos proprietários do “Theatro da Trindade”, Gomes de Brito, redactor do


«hebdomadario de caricaturas» de Raphael Bordallo Pinheiro, e de seu nome “O Binóculo”, em 10 de
Dezembro de 1870:
«O sr. Francisco Palha tem uma casa para dar expectaculos ao publico; e como homem de gosto,
homem intelligente, e o mais acabado dos empresarios, espreita o gosto publico e serve-o a seu modo. O
publico paga? Pois bem sirva-se o publico. O publico gosta? Pois bem attenda-se o publico. E quando o
pubico se abhorrecer cá estou para lhe espreitar o appetite, para lhe variar os acepipes, e tambem, o que é
justissimo, para receber os proventos, e auferir os lucros do meu trabalho e disvêlo. O que o digno empresario

57
Teatro da Trindade

não faz é impingir a ninguem gato por lebre, permita-me os termos. Quando houver de ser gato, descanse que
elle terá o cuidado e a honradez de o fazer annunciar.»

O projecto do "Theatro da Trindade" foi da autoria do arquitecto Miguel Evaristo de Lima Pinto, que
concebeu o teatro mais cómodo, elegante e tecnicamente avançado da capital no seu tempo. De assinalar o
belo frontão da sala, da autoria de Leopoldo de Almeida, colocado nos anos 30 do século XX e os 12
medalhões do tecto, representando dramaturgos, segundo projecto de José Procópio, discípulo dos grandes
cenógrafos Rambois e Cinatti.

Quanto ao seu interior, a revista “Archivo Pittoresco” nº 37 de 1867 descrevia-o do seguinte modo:
«É dividida a platéa em tres partes. A 1ª, mais chegada ao palco, compõe-se de 76 cadeiras de braços, feitas
de mogno; 500 réis é o seu preço para cada noite de espectaculo. A 2ª, consta de bancos de mogno com
costas, e assentos de palhinha, em que ha 176 logares ao preço de 400 réis; esta é a chamada superior. A 3ª,
que é a geral, tem 200 logares, em bancos da mesma madeira, e sendo o preço de 200 réis.
Tem a sala de espectaculos frisas, uma galeria ou balcão por baixo da ordem nobre com 80 cadeiras eguaes
ás que estão na platéa, e cujo preço é de 600 réis; 22 camarotes na ordem nobre, além de 2 da familia real, ao
quaes corresponde interiormente uma sala, quarto de toucador, camarim e cópa; 24 camarotes na 2ª ordem;
14 camarotes na 3ª ordem, 7 de cada lado de uma galeria denominada paraiso, com logar para 200
espectadores, que pagarão 100 réis cada um.
(...) Consta-nos que o custo deste edifício, por effeito de uma severa economia e zelosa vigilancia na direcção
e fiscalisação das obras, não excedeu a 80:000$000»

O espectáculo de abertura foi o drama em 5 actos, "A Mãe dos Pobres", original de Ernesto Biester. Foi
nesta peça que o actor Taborda, nas suas memórias, lembra que «a primeira voz que se ouviu neste teatro foi
a minha». Foi também exibida na inauguração, a comédia num único acto "O Xerez da Viscondessa", tradução
de Francisco Palha.

O “Salão da Trindade”, anexo ao Theatro, foi o primeiro a inaugurar, abrindo as portas ao público no
Carnaval de 1867 com uma série de bailes de máscaras. Destinado a bailes, concertos e conferências, tinha
cerca de 200m² e uma galeria sobre colunas à volta do espaço, assim como um anfiteatro para a orquestra e,
mais tarde, um proscénio. A seguir foto e cartaz do “Salão da Trindade”.

Salão da Trindade

A primeira “Companhia do Theatro da Trindade” era composta pelos artistas Delfina do Espírito Santo,
Rosa Damasceno, Emília Adelaide, Emília dos Anjos, Gertrudes Carneiro, Lucinda da Silva, Tasso, Izidoro,

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Teatro da Trindade

Eduardo Brazão, Leoni, Bayard, Lima, Queiroz, entre outros. Nos meses que se seguiram, de consolidação de
elenco e de equipa, foi assinalável o êxito do espetáculo “As Pupilas do sr. Reitor”, adaptação por Ernesto
Biester do romance de Júlio Dinis, onde brilharam Rosa Damasceno e Brazão. Mas foi com a aposta na
opereta que Francisco Palha encontrou a verdadeira fonte de sucessos do “Theatro da Trindade”. A opereta
“O Barba Azul”, estreado a 13 de Junho de 1868, ficou em cena durante meses e revelou o talento de Ana
Pereira, - do elenco da companhia “Sociedade do Theatro da Trindade” -, que nos anos seguintes ali brilhou,
«fadada para as cenas de capricho, de gracejo, e de fantasia (...), a actriz do repertório de Offenbach».

A 22 de Janeiro de 1921 o proprietário Serrão Franco, vendeu o “Teatro da Trindade”, por 350 contos, à
“Anglo-Portuguese Telephone Company”, que ali instalaria os seus escritórios. O “Salão da Trindade”, palco
de eventos como a palestra de Serpa Pinto sobre as colónias em 1879, a apresentação do fonógrafo de
Edison em 1879, a conferência dos exploradores Hermengildo Capelo e Roberto Ivens, à qual assistiu a
Família Real em 1880, foi totalmente demolido. Sabendo que a nova empresa proprietária necessitaria apenas
do espaço do Salão e anexos, o empresário José Loureiro propôs a aquisição da parte do teatro, que foi
aceite. Como tal, em 9 de Novembro de 1923 o “Teatro da Trindade” foi vendido a José Loureiro pela quantia
de dez mil libras esterlinas e foram iniciadas as obras de remodelação do interior do edifício, dirigidas pelo
engenheiro Alexandre Soares - data desta altura o famoso frontão com a Trindade, da autoria de Leopoldo de
Almeida, que ainda hoje encima o proscénio

Reabriu em 5 de Fevereiro de 1924, com a peça de Eduardo Schwalbach "Fogo Sagrado". Nele foram
apresentados espetáculos de teatro declamado e teatro musicado, fantasias, óperas e dramas, mas foi com a
opereta que fez mais sucesso e atraiu um público fiel. Acolheu companhias fulcrais da cultura portuguesa,
como a “Companhia Rey Colaço-Robles Monteiro”, a “Companhia Portuguesa de Ópera”, “Os Comediantes de
Lisboa” ou o “Teatro Nacional Popular”, além das sessões de animatógrafo e cinema, que ajudaram a
ultrapassar períodos de crise financeira.

O "Teatro da Trindade" representa um modelo arquitectónico de Teatros oitocentista à italiana, que


resistiu à especulação imobiliária, às novas centralidades urbanas e até à menor adequação da estrutura de

59
Teatro da Trindade

camarotes à exploração cinematográfica: pelo contrário - o cinema é exibido pela primeira vez no Trindade em
1913 e nos anos 30 e 40 do século XX, sob a designação de "Cine-Teatro da Trindade", depois ser equipado
com um moderno sistema de projecção de cinema em 1938, torna-o também numa sala de cinema. Assistiu-
se lá a um certo surto de estreias de filmes portugueses, com destaque para o excelente “Amor de Perdição”,
de António Lopes Ribeiro (1943) estreia de Carmen Dolores.

Em 1940, outro projecto teve estreia no “Teatro da Trindade”: os “Bailados Portugueses Verde Gaio”,
companhia de dança impulsionada por António Ferro, na altura Diretor do “SPN - Secretariado de Propaganda
Nacional”. A reação do público foi fraca, sobretudo em comparação com o sucesso que tiveram, pouco tempo
depois, “Os Comediantes de Lisboa”, companhia dos irmãos Francisco Ribeiro (Ribeirinho) e António Lopes
Ribeiro. Estiveram no Trindade entre 1944 e 1947, apresentando temporadas brilhantes apenas equiparadas,
alguns anos depois, pelo “Teatro d’Arte de Lisboa” (em 1955-56) e o “Teatro Nacional Popular”, (entre 1957 e
1960) - este último responsável, a 18 de Abril de 1959, pela primeira encenação de Beckett em Portugal, com
“À Espera de Godot”.

Lembro que Eça de Queirós , em “Os Maias“ coloca no Trindade o longo “sarau de beneficência” de
onde saem, ao fim da noite João da Ega e o sr. Guimarães - e daí decorre, como sabemos, o desenlace do
tragédia do incesto, com a revelação de cartas onde se demonstra que Maria Eduarda é irmã de Carlos da

60
Teatro da Trindade

Maia. Aliás, já em “A Tragédia da Rua das Flores” Eça refere, e logo no inicio um espectáculo do Trindade, o
que mostra a importância do teatro na época.

Foi longo o historial de empresários, actores e dramaturgos, que vão dos iniciais Francisco Palha e José
Loureiro, a Sousa Bastos, Amélia Rey Colaço, Francisco Ribeiro (Ribeirinho) que ali dirigiu a companhia
"Teatro Nacional Popular", ou Orlando Vitorino com o “Teatro d’Arte de Lisboa”, Couto Viana com a
"Companhia Nacional de Teatro"… e actores como Palmira Bastos, Eduardo Brazão, Assis Pacheco, Álvaro
Benamor, Cármen Dolores, Eunice Muñoz, Rui Mendes, Raul Solnado…

Em 1962 o Teatro da Trindade mudou de novo de mãos. Os herdeiros de José Loureiro venderam-no,
por 8000 contos, à FNAT, atualmente designada INATEL. Sofreu novas obras de remodelação em 1967 e,
embora com novos equipamentos técnicos, a atenção recaiu sobre a decoração, coordenada por Maria José
Salavisa – a sala, antigamente em tons de vermelho e dourado, vestiu-se de dourado e azul. O novo Trindade,
com novas cores, acolheu a “Companhia Portuguesa de Ópera” e todas as suas produções até à sua extinção,
em 1975. Pelo meio, um pequeno período de temporadas partilhadas com a Companhia Rey Colaço-Robles
Monteiro (entre 1970 e 1974), que havia sido desalojada do Nacional pelo incêndio em 1964 e que passara,
entretanto, pelo “Teatro Avenida” e pelo “Teatro Capitólio” antes de se apresentar no Trindade. O 25 de Abril
trouxe de novo ao “Teatro da Trindade” a variedade de espetáculos e companhias, com apresentações de
ópera, teatro profissional e amador, cinema, bailados, operetas, a par das conferências e exposições.

Uma nova remodelação, desta vez profunda, teve lugar entre 1991 e 1992, com obras no telhado, na
fachada, no átrio, na sala de espetáculos, no palco, no foyer, nos camarins, nas oficinas – no fundo, em todo o
edifício, procurando torná-lo mais funcional e adequado às novas exigências de um teatro lisboeta daquela
dimensão: o estúdio de ensaios foi transformado na “Sala-Estúdio”, destinada à apresentação de teatro

61
Teatro da Trindade

experimental; o bar foi ampliado, possibilitando a realização de eventos e pequenas apresentações; novas
instalações de luz, som e canalização; assim como novas instalações para os serviços administrativos.

O actual dono, a "Fundação INATEL", não só tem mantido o edifício em actividade e sempre bem
preservado, como ainda criou a “Sala Estúdio”, um Bar e o Salão Nobre.

Bibliografia: Centro Virtual Camões - “Teatro em Portugal - Espaços”

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Teatro Taborda

Teatro Taborda (1870)

O “Theatro Taborda”, localizado na Costa do Castelo, em Lisboa, construído por iniciativa de João
Augusto Vieira da Silva e segundo projecto de Domingos Parente da Silva, foi inaugurado em 31 de Dezembro
de 1870, em terrenos que tinham pertencido à cerca do “Coleginho da Companhia de Jesus”, integrando uma
pequena ermida seiscentista com a invocação de São Francisco Xavier

«A Sociedade Taborda foi fundada em 16 de Janeiro de 1870 por Jesuino Francisco Chaves, Augusto
Freire, Gaspar Moreira, Francisco Homem, Augusto César Vieira da Silva, Eduardo Coral e outros. Entraram
mais tarde para a mesma Sociedade, tomando n'ella parte digna de menção : Eduardo António Costa, Júlio
Xavier, Portulez pai e outros. Em seguida á íundação da sociedade, prestou-se João Augusto Vieira da Silva a
mandar edificar o theatro. a que se deu o titulo da mesma sociedade, Theatro Taborda.
Depois das obras começadas, no local da Costa do Castello, prestou-se obsequiosamente a dirigir a
construcção e decoração do theatro o archilecto Domingos Parente da Silva. O Theatro Taborda foi
inaugurado a 31 de dezembro de 1870 com o seguinte espectáculo: Hymno da Sociedade offerecido pelo
professor Augusto José de Carvalho ; A Sociedade aos seus convidados, poesia de José Ignacio de Araújo,
recitada por Jesuino Chaves ; O Mundo e o Claustro, drama em 3 actos, original de Lino da Assumpção,
desempenhado por Jesuino Chaves, Portulez, Gaspar, Fernando Lima, Veríssimo Borges, Júlio Xavier,
Francisco Homem, G. Santos, Libanio Ferreira, António Silva, Maria do Carmo e Augusta ; a comedia A
Grammatica desempenhada por Portulez, Chaves, Gaspar, Veríssimo e Augusta ; e a comedia O Morgado,
desempenhada por Chaves, Hygino Paulino. Fernando de Lima, Portulez, Gaspar e Maria do Carmo.» in:
“Diccionario do Theatro Portuguez” de Sousa Bastos (1908).

O nome “Taborda” foi atribuído a este teatro em homenagem ao grande actor de teatro, da época,
Francisco Alves da Silva Taborda (1824-1909), a quem Sousa Bastos não lhe poupa elogios: «incomparável,

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Teatro Taborda

carater de ouro, artista sublime, joia mais preciosa do palco português, a mais veneranda relíquia da arte
nacional».

Actor Francisco Taborda (1824-1909)

De referir no que respeita ao espectáculo de inauguração, o mesmo foi enriquecido com cenários de
Rambois e Cinatti, recuperados do velho, e extinto, “Theatro das Laranjeiras”, ou “Theatro Thalia”.

Quanto à inauguração Fernando Midões escreveria em 2006: «A festa, muito à maneira da época, e
devido à extensão do programa, durou até de madrugada. Iniciou-se com uma surpresa, a do “Hymno da
Sociedade”, oferta do Prof. Augusto de Carvalho ao que se seguiram: declamações de poesia “A Sociedade
aos seus Convidados” de José Inácio de Araújo, recitada por Jesuíno Chaves. o drama em três actos “O
Mundo e o Claustro” de Thomaz Lino da Assumpção e duas comédias “A Gramática” e “O Claustro"».

Em 1908, o imóvel do “Theatro Taborda” seria adquirido por por João Antunes da Silva Júnior, que o
manteria na sua posse até 1955, ao que se seguiria, em 1909, um pedido de autorização à Câmara Municipal
de Lisboa para se proceder a alterações ao edifício, onde ainda vieram a realizar espectáculos de três
sociedades recreativas: o “Círculo Católico”; o “Grupo Dramático Actor Joaquim Costa”; a “Academia Instrutiva
do Pessoal dos Caminhos de Ferro Leste e Norte”.

64
Teatro Taborda

Entretanto a actividade do “Teatro Taborda” é intermitente e passam a funcionar no edifício várias


estações de rádio -“Rádio Continental”, “Rádio Restauração”, “Rádio Hertz”, etc.- tendo ainda, posteriormente,
servido o imóvel como estúdio de gravações discográficas, armazém de mobílias e aparelhagens domésticas,
etc. Entre 1954 e 1955, é inquilino Fernando Cardelho de Medeiros encontrando-se instalada no edifício a
“Rádio Restauração”, posto transmissor de T.S.F. de que é proprietário. Em 1956 Mariana Rodrigues Antunes
da Silva Cruzeiro, cabeça de casal da herança de João Antunes da Silva, torna-se proprietária do edifício do
“Teatro Taborda”.

Em 20 de Maio de 1966 a Câmara Municipal de Lisboa compra o imóvel com a intenção de o


transformar em teatro municipal, ideia que foi logo depois abandonada, por se optar pelo “Teatro de São Luiz”.

O jornal “Diario de Lisbôa” num artigo de 18 de Outubro de 1968, acerca deste Teatro, noticiava:
«Esteve ameaçado de ser demolido, mas o Município adquiriu-o e agora, em boa hora, tomou a
iniciativa de o reconstruir para poder continuar a servir a sua missão cultural e recreativa.
Foi na reunião de ontem que foi adjudicada ao sr. Luís Magalhães Pinto, por 210 contos, a obra de
reconstrução.»

Em 1974, o edifício encontrava-se em muito mau estado de conservação, com parte das dependências
ocupadas por uma família que a CML ali instalara, tendo o Ministério da Educação manifestado, junto do
Município, o desejo de instalar serviços no mesmo. Mas, finalmente em 1980 é celebrado o contrato com vista
à recuperação do teatro, sob a coordenação do “Gabinete Técnico da Mouraria” (e concretamente do
engenheiro Jorge Evans de Sousa), com projecto de arquitectura da responsabilidade dos arquitectos Nuno

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Teatro Taborda

Teotónio Pereira e Bartolomeu Costa Cabral. Com a falência da firma “AGERC” a quem as obras tinham sido
adjudicadas, estas foram suspensas, sendo retomadas apenas em 1994.

Em 1 de Junho 1995, o “Teatro Taborda” é reaberto, inserido num conjunto de medidas tomadas pelos
pelouros do Turismo e da Reabilitação Urbana dos Núcleos Históricos, da CML - projecto Integrado do “Teatro
Taborda” e “Quinta do Coleginho”.

O grupo teatral “Artistas Unidos” sairiam deste Teatro em 2006, depois de o utilizarem até Junho de
2005, como grupo residente. No ano seguinte, 2006, e a convite da “EGEAC/Câmara Municipal de Lisboa”,
estrearia o grupo teatral “Teatro da Garagem” - novo grupo residente - com a peça “À Procura de Júlio César” .

«O Teatro da Garagem é uma companhia fundada em 1989 que dedica o seu trabalho artístico à
pesquisa e experimentação, através da investigação de novas formas de escrita para teatro e de novas formas
cénicas que a acompanham.
A companhia trabalha com um autor/encenador residente, um músico, um núcleo de atores, uma equipa
de produção, um dramaturgista, um desenhador de luz, um cenógrafo e um figurinista. Para além das criações
próprias, a partir de textos originais de Carlos J. Pessoa, a companhia desenvolve um trabalho com a
comunidade, através das atividades do Serviço Educativo e dá a conhecer o trabalho de novos criadores
através do Ciclo Try Better Fail Better.» in: “Teatro da Garagem”.

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Recreios Whittoyne

Recreios Whittoyne (1875)

O Circo e Teatro "Recreios Whittoyne", propriedade de sociedade por accções "Empreza Exploradora
de Recreios WHittoyne", fundada pelo palhaço Henry Whittoyne, foi inaugurado em 6 de Novembro de 1875,
nos jardins do "Palácio Castelo Melhor" - concluído em 1858 - actual "Palácio Foz”.

A empreza "Empreza Exploradora de Recreios Whittoyne" foi criada em 22 de Dezembro de 1874,


tendo as suas primeiras acções sido colocadas à venda a partir desse dia, usufruindo os seus accionistas de
uma entrada gratuita semanal, além do livre acesso aos ensaios. As restantes acções foram oferecidas para
subscripção pública, no dia seguinte 23 de Dezembro. Ainda antes da inauguração do Circo-Teatro a primeira
administração já se tinha demitido, razão pela qual, em 10 de Setembro de 1875, era convocada uma reunião
para eleição da nova administração ...

Estas primeiras instalações eram compostas por um circo, teatro, café, restaurante, casa de jogos
diversos, alamedas e jardins iluminados, etc.

«Desmanchado o circo do Price veiu este alugar parte do edificio, com jardins, e ali inslailou os celebres
Recreios de Withoyne, que fizeram as delicias da rapaziada de ha vinte e tantos annos. Construíram lá dentro
um grande theatro, onde houve enchentes e delirantes applausos quando lá se fez ouvir Moriones e outras
artistas hespanholas, com as suas desenvoltas zarzuellas. Alli se representaram dramas e vaudevilles, com a
graciosa Pepa, quando Salvador Marques leve a empreza. Tudo lá vae. . . Hoje o que ali está é o sumptuoso
palácio do marquez da Foz, e o grande hotel contíguo. No fim de contas a gente vê com certa magoa estas
transformações que levam na corrente em cada escombro alguma coisa da nossa vida, das nossas crenças,
da nossa mocidade ! . . .» in: “Lisboa Antiga e Lisboa Moderna” (1900)

Estas instalações seriam substituídas pelo Grande Colyseu, que vira a ser designado de “Colyseu dos
Recreios” e cuja construção, no mesmo local, teve início em 6 de Junho de 1881 sob projecto do arquitecto

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Recreios Whittoyne

Parente, com um custo total de 26 contos de réis. Seria inaugurado, em 27 de Maio de 1882, com um sarau
«gymnastico-equestre» pelo "Real Gymnasio Club Portuguez", em benefício dos Albergues Nocturnos.

Nestas novas instalações, actuaram além de companhias de ginástica, acrobáticas e equestres,


algumas de ópera, opereta e zarzuela. A propósito da sua inauguração, a revista "Occidente" comentava:
«O coliseu é um recinto vasto: a arena é mais pequena que a do antigo circo de Price, mas em geral o
circo é muito maior e comporta muito mais espectadores. Tem quatro qualidades de logares: 560 cadeiras,
logo em torno da arena; 200 fauteuils por detraz das cadeiras na disposição em que o circo de Price eram os
camarotes, 2000 logares de geral, pelo mesmo systema d'aquelle circo, e por cima da geral 62 camarotes
n'uma ordem só.
Estes camarotes fazem mau effeito porque estão collocados a uma grande altura, mais altos que a 2ª
ordem de S. Carlos e as divisorias convergindo todas para o centro da arena, tornando-os muito incommodos
para os espectaculos que se derem no theatro.
Em frente do palco, por cima da entrada principal do circo, ficam os camarotes reservados para el-rei D. Luiz e
para el-rei D. Fernando, para o proprietario do terreno dos Recreios, a filhinha do falecido marquez de Castello
Melhor, e para a direcção da sociedade exploradora dos Recreios Whittoyne composta hoje dos srs. José
Miguel Marques Rego, Julio Cesar da Silva e José Carlos Gonçalves.
A ornamentação do coliseu é pobre, mas da pior das pobrezas, d'aquella que finge rica e que no fim de contas
sae carissima mais tarde.
Como circo o coliseu preenche as condições necessarias, mas como theatro deixa muito a desejar.
Parece-nos que foi um erro, na nossa terra e no nosso tempo, ao construir uma grande casa de espectaculos,
pensar mais em fazel-a um circo de que um theatro.

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Recreios Whittoyne

No deliniamento do coliseu dos Recreios fez-se isso. Não é um theatro circo: é um circo, que em caso de
necessidade arremedeia para theatro. (...)
O palco é acanhado, não tem urdimento que comporte o movimento theatral, o tablado não tem o
declive proprio, de modo que as figuras que n'elle trabalharem, quando estiverem em varios planos
empastam-se.
A sala depois de armada em platea é plana sem declive, de modo que os espectadores de traz difficilmente
poderão ver o que se passa no palco, vendo apenas as cabeças dos espectadores que lhes ficarem á frente.
Dos camarotes muitos d'elles são inteiramente perdidos para os espectaculos theatraes, porque não se vê
d'elles o palco.
Do aspecto geral do coliseu da sua architectura e ornamentação dá conta a nossa gravura.»

Por outro lado Maria Rattazzi, no seu livro (traduzido) “Portugal de Relançe” de 1880, comentava:
«M. Whittoyne era um clown inglez que encantava o publico dos circos pelas suas deslocações,
arleqninadas e pantomimas. Dotado do instincto mercantil da sua pátria, teve a habilidade de farejar
capitalistas e de conseguir interessal-os na ideia de criar um jardim de verão, com diversões, jogos e theatros;
o que prova a sua intelligencia e constitue o seu melhor elogio, por que não é negocio de pouca monta,
segundo me informam, resolver um portuguez que tem dinheiro a empregar os seus fundos de maneira
diversa que não seja a do empréstimo com a hypotheca privilegiada, a juro de 20 por cento! Mas como
descobrir, como obter ura jardim no centro de Lisboa? Não era fácil empreza.
Procurou-se, investigou-se por muito tempo; cançados de explorar, foram por fim assentar vistas n'uma
propriedade do marquez de Castello Melhor, n'uma collina cortada a pique, para a qual se sobe por quinze ou
vinte lances d"escada, habilmente dissimulados, mas cujos declives era suavisar. Encontrado o local, tratou-se
de recrutar accionistas; constituiu-se uma empreza e emittiram-se acções de 100 francos, que tiveram fácil
collocação, porque representavam uma multidão de direitos qual d"elles mais próprio para engodar, a entrada
livre, o passeio, o concerto, etc; emfim, a colónia viu apparecer successivamente sobre as suas cristas, um
pouco espantadas, um theatro de madeira e de cartão pintado, uma .«galeria de lona pintada, kiosques de
papulão pintado, um circo lilliputeano de papel pintado, e tudo isto subordinado a uma administração
igualmente de papelão pintado, porque, pouco tempo depois da abertura d'esse maravillioso Eldorado que
promettia todos os prazeres, e que se inaugurara ao som dos hymuos de risonhas esperanças, vendiam-se as

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Recreios Whittoyne

acções, nas ruas de Lisboa, a 25 sous cada uma. Ora, ahi está o que sào as cousas! Assim passa a gloria
n'este mundo! Sic transit gloria mundi!
Da derrocada financeira da empreza, restou, porem uma cousa: uma palmeira magnifica, objecto de todos o
mais notável do estabelecimento, o único que realmente não é de papel, papelão ou cartão pintado. Os outros
cartões subsistem ainda, verdade é; mas quão distantes das primeiras esperanças e como as suas frescuras
estão baças e amortecidas! O theatro que aberto a todos os ventos se assemelha a uma estufa em que as
vidraças estivessem quebradas, é explorado por acrobatas, velocipedistas, bezerros de três cabeças e outros
phenomenos e uma companhia de zarzuela hespanhola (opereta). Merece esta menção honrosa; representam
por vezes peças originaes que não carecem de brio e de bom sainete.
A clientela habitual dos Recreios não é absolutamente de primeira plano; aos domingos de verão uma
excellente banda de musica regimental attrahe algumas pessoas de todas as classes ao jardim convertido em
centro commercial de cocottes de toda a proveniência e natureza, convertendo-se assim em uma espécie de
Bolsa galante; as vendedoras d'agua trajam á moda de vivandeiras, no género do vestuário da Isabel do
Jockey-Club, e constituem uma das curiosidades d'aquelle recinto e das duas pseudo-divisões.
N'uma palavra, a invenção do clown inglez é pouco bafejada pela aura da fortuna; o jardim é um verdadeiro
calvário.»

O “Colyseu dos Recreios”, assim designado, teria uma vida curta já que em virtude da construção da
estação central ferroviária do Rossio, estes viriam a ser expropriados. O seu último espectaculo ocorreu em 9
de Julho de 1887, com a exibição da ópera “La Traviata”. Oito dias depois já estava demolido. Recordo que

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Recreios Whittoyne

estas construções eram em madeira pelo que a sua demolição era rápida, assim como quando ocorria um
incêndio as consequências eram devastadoras.

Entretanto a "Empreza Exploradora de Recreios Whittoyne", é extinta e criada a “Sociedade de Recreios


Lisbonense”. Esta adquire um terreno na, então, Rua de Santo Antão e promove a construção do actual
“Coliseu dos Recreios”, que seria inaugurado em 14 de Agosto de 1890.

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com referência às fontes de onde foram retirados os mesmos e, igualmente, alguns reproduzidos aqui, clicar
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Novo Teatro de Variedades / Teatro do Rato

Novo Teatro de Variedades (1880) / Teatro do Rato (1881)

O "Theatro do Rato", teve a sua origem no "Novo Theatro de Variedades", propriedade do Dr. José
Maria Couceiro da Costa e inaugurado em 27 de Março de 1880, na quinta do Ferreira, na Rua Direita do
Rato, em Lisboa, com a peça "O Crime do Benformoso" de Costa Braga e a peça sacra "Martyrio e Gloria, ou
Torquato", o Santo" de Antonio Mendes Leal.

No dia seguinte, 28 de Março de 1880, o jornal "Diario de Noticias", noticiando a abertura do "Novo
Theatro de Variedades", comentava:
«Surgio com alleluia a nova casa de espectaculos do Rato, bonita, decente, com uns ares de elegancia
despretenciosa, salão de sophás estofados, ouvreuses para abrir os camarotes e obsquiar as senhoras, bôa
iluminação dando relevo às alegres decorações, mais de 500 espectadores e razoavel orchestra. (...)
Algumas vistas de emerecimento. Escreve-se isto no meio do espectaculo. Parabens á empreza pelo exito
total da inauguração e pelo bom arranjo do sympatico theatro popular. Parabens a todos os que cooperaram
neste resultado principalmente ao inteligente director e actor macedo, garantia de futuras prosperidades.»

Foi empresário deste teatro Dr. José Maria Couceiro da Costa e como director e ensaiador o actor
António Augusto Macedo, e como maestro, Lagrange. Ao fim de seis récitas, e após ruidosas manifestações
de desagrado, a empreza acabou e este Teatro encerrava. Já neste mesmo local tinham estado instaladas
diferentes barracas de espectáculos da “Feira das Amoreiras”, mas sem o carácter permanente desta.

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Novo Teatro de Variedades / Teatro do Rato

Um ano depois, em 1881 o Marquês Francisco Palavicini, proprietário do terreno, moveu, uma execução
judicial contra o proprietário do Teatro, o Dr. José Maria Couceiro da Costa. Para pagamento dessa execução,
foi à praça três vezes, a última das quais em 23 de Março daquele ano com todos os seus pertences e
dependências. Fechado o Teatro em resultado do litígio judicial, reabriria em 22 de Setembro de 1881, já
como "Theatro do Rato", com uma Companhia dirigida por Salvador Marques, da qual faziam parte Adelina
Abranches e António Cardoso do "Theatro do Gymnasio".

Salvador Marques 23 de Setembro de 1881

O jornal "Diario de Noticias" informava, em 21 de Setembro de 1881:


«Reabre amanhã, quinta feira, o theatro do Rato, um theatro popular, de preços economicos e de boas
commodidades. A empreza tenciona apresentar um variado e escolhido repertório, começando pela peça de
inauguração, o Zé Povinho, escrita pelo sr. António de Menezes, e cheia de situações de magnifico effeito. Em
deguida representar-se-ha a Estrella do Norte, escrita pelos srs. Alcantara Chaves e pessoa, e a comedia-
drama em 3 actos A Riqueza do Trabalho, escrita pelo sr. Julio Rocha, offerecida á classe operaria. Os preços
da plateia são entre 300 réis os mais caros e 100 réis os mais baratos; os camarotes de 1ª ordem 1$500 e
1$200, e frizas 1$200 e 1$000 réis. O Theatro está publico de quinta feira em diante para quem o quizer vêr.»

Pouco tempo depois fechou o Teatro, de novo, e ora aberto ora fechado, - uma das vezes vítima de um
incêndio, em Setembro de 1888 - foi sempre arrastando uma vida difícil com raros meses de bons resultados
financeiros que lhe proporcionavam as revistas de Baptista Diniz, como "O Livro Proibido", e outras. «Este
theatro dava quasi sempre prejuízo por estar longe, por não ter commodidades e por ser edificado dentro
d'uma quinta e ao lado de uma casa de comidas e bebidas».

Até que em 1906, O “Theatro do Rato”, já propriedade do actor António Manuel dos Santos Junior, sofre
um incêndio que o destruíu por completo, «perdendo êste artista, no sinistro, tudo quanto possuía, scenário,
guarda-roupa, aderêcos e repertório. O que conseguira alcançar em cinco anos de trabalho lá ficou nos
escombros.» textos transcritos anteriormente, retirados do livro “Depois do Terremoto - Subsídios para a
história dos bairros ocidentais de Lisboa” de Gustavo de Matos Sequeira, Vol III de 1922.

O incêndio também destruiria uma barraca, chamada de "Bazar-Tourada", que era de um feirante
chamado Dias, e que estava instalada junto ao Teatro. Chegou a dizer-se que o fogo não fora acidental, tendo
mesmo sido preso o sogro do actor Santos Júnior, mas nada se provou. De referir que já anteriormente tinha
havido outro incêndio que danificara esta modesta casa de espectáculos.

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Novo Teatro de Variedades / Teatro do Rato

Antiga entrada para o páteo do “Teatro do Rato”, em foto de 1944

«Como edificio foi, pois, pequena a perda, mas muitos choraram a destruição do popular teatrinho,
porque aquele tablado estreito e modesto representava o ganha-pão de alguns artistas, primeiro degrau de
uns para gloriosas carreiras e ultimo asilo dos mais desafortunados.»

Resta dizer que o actor e proprietário deste Teatro, viria a ser compensado por sua madrinha D. Antónia
Bárbara da Cunha, que mandaria construir o “Teatro Moderno” inaugurado em Arroios nos finais de 1909, e no
qual o actor Santos Junior viria exercer as funções de actor, empresário e gerente.

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Teatro Luiz de Camões

Teatro Luiz de Camões (1880)

O “Theatro Luiz de Camões” localizado na Calçada da Ajuda, em Lisboa, foi mandado construir por
João da Cunha Açúcar e inaugurado em 8 de Junho de 1880, durante as comemorações do tricentenário da
morte do poeta Luiz Vaz de Camões em 10 de Junho de 1580.

Este Teatro é remanescente de um edifício mandado construir pelo Rei D. João V, entre 1735 e 1737
como sendo a “Casa de Opera da Real Quinta de Belem”. Também conhecido como “Casa de Opera da
Ajuda”, “Real Theatro da Ajuda” ou “Opera Real de Belém”, entre outras designações, foi o primeiro Teatro
real de ópera «à italiana» construído em território português. Funcionou regularmente como Teatro do Rei até
ao adoecimento de João V em 1742.

O “Theatro Luiz de Camões” permaneceu fechado até a ascensão do Rei D. José I e continuou a ser
utilizado até ao reinado da Rainha D. Maria I, sendo fechado após a abertura do “Real Theatro de São Carlos”
em 30 de Junho de 1793. Passou por períodos de abandono e foi utilizado como Celeiro Real - celeiro de uso
do Palácio de Belém e de suas cavalariças situadas defronte junto ao Picadeiro Régio - até ser vendido na
década de 1870 a João da Cunha Açúcar, proprietário de uma drogaria na Rua da Junqueira, com a ideia de o
explorar como Teatro, tendo procedido a uma profunda reforma. Por esta altura, já ninguém mais tinha
recordação do Teatro que ali um dia existira, razão pela qual foi noticiada a inauguração de um novo Teatro,
o “Theatro Luiz de Camões”, em 8 de Junho de 1880, com a primeira récita “Camões e o Jau”, de Casimiro
d’Abreu, a ser exibida em 10 de Junho.

Depois de, em 1892, passar para a propriedade de Joaquim Maria Nunes, o “Theatro Luiz de Camões”
não teve grande sucesso como tal e, depois de um processo de herança, permaneceu fechado por alguns
anos. A este propósito já em 1908, no seu livro “Diccionario do Theatro Portuguez”, Sousa Bastos desabafava:
«Outras companhias ali tentaram dar espectáculos. O publico não concorre aos theatros de Belém e
Alcântara, por mais tentativas que se façam.»

Até que é 2 de Fevereiro de 1912, dia a partir do qual se instala o “Belém Club”, - fundado na Rua de
Belém em 1899 - uma Associação formada por dissidentes do antigo “Belém Recreio”. Em 1925 o imóvel já
era propriedade de D. Amélia Peyssonneau Nunes, viúva de Joaquim Maria Nunes.

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Teatro Luiz de Camões

8 de Junho de 1880

«Como em tantas outras colectividades recreativas de bairro, era aqui que se reuniam as famílias para
conviver, dançar, fazer teatro ou música, comemorar datas festivas, jogar, etc. Também seria mais um
daqueles locais onde, à época, se proporcionaram os namoricos dos jovens, sob o olhar atento e respeitável
dos papás e mamãs! À medida que o tempo decorreu, com a evolução natural na vida , os hábitos de lazer
das pessoas também se modificaram. Por outro lado, uma obrigatoriedade de obras na zona do palco e a
habitual falta de meios e espera de subsídios, originou que, agora, a actividade no Club esteja bastante
reduzida. Fazem-se, no entanto, ainda algumas exposições de arte e, por vezes ensaios e gravações
musicais.» in Simecq.cultura(15-11-2008) . Foi neste Teatro que foi realizado o programa “Melodias de
Sempre”, grande sucesso da RTP em 1960 e apresentado por Jorge Alves.

No átrio, no lugar onde existia o bengaleiro estava agora um pequeno bar. Um pouco para a direita
situava-se uma escadaria que levava ao andar superior. As paredes laterais estavam cobertas com diversas
placas que assinalavam a passagem por ali de grandes figuras do espectáculo já desaparecidas, como:
Procópio Ferreira, Alves da Cunha, Adelina Abranches, Tomás Alcaide, Mirita Casimiro, Luís Piçarra, João
Villaret, entre outros.

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Teatro Luiz de Camões

A sala principal, pela sua configuração, era o o que vulgarmente se designa por «um teatro à italiana».
Na plateia, restavam algumas das cadeiras primitivas de madeira. Os camarotes que rodeavam a sala, num
plano superior, estando assentes em colunas de madeira e, delimitados por um varandim em ferro forjado.

Em 1952 o edifício do “Teatro Luís de Camões” encontrava-se em muito mau estado de conservação
(designadamente no que respeitava à cobertura) e em 1954 o proprietário do imóvel, Justino Gonçalves,
depois de ignorar sucessivas intimações do Município lisboeta, para que realizasse as obras necessárias
(designadamente no palco), a Câmara Municipal de Lisboa torna-se proprietária do imóvel, via expropriação,
em virtude do não cumprimento das referidas intimações.

A este propósito, pode-se ler no blog “Cidadania LX” a seguinte carta dirigida ao Presidente da CML, em
1 de Julho de 2016:

«Exmo. Senhor Presidente


Dr. Fernando Medina
Cc. AML, DGPC, SRU Lx Ocidental, Arq. MGDias, JF e media.

Serve o presente para apresentarmos o nosso protesto veemente pela destruição quase integral do Teatro
Luiz de Camões/Belém Clube, teatrino histórico sito da Calçada da Ajuda, por iniciativa da empresa municipal
SRU-Lisboa Ocidental e ao abrigo de um so de reabilitação do espaço, do arq. Manuel Graça Dias, que afinal
se revelou um projecto de alterações profundas e de construção nova, apenas isso.
Assumimos, erradamente, que o intuito de tal projecto fosse a reabilitação de facto do edifício, que
necessitava, basicamente, de uma operação de restauro, e que o deixassem genuíno, eximindo-se os
intervenientes da tentação de nele exibirem "marca de autor", contemporânea, num edifício que dela não
necessitava. Acreditámos, infelizmente, na bondade de uma iniciativa apregoada pelos agentes envolvidos
como de valorização da zona. E acreditámos na resposta da SRU Lx Ocidental ao nosso pedido de
esclarecimentos de 2012. Puro engano, já que Lisboa ficou mais pobre.
Mais uma vez, os responsáveis pela destruição de património na cidade ficarão impunes.
Melhores cumprimentos»

Andamento das obras em Dezembro de 2017

A opinião e avaliação do Professor Doutor Arquitecto Paulo Roberto Masseran da Universidade


Estadual Paulista, de São Paulo, Brasil, especializado em arquitectura teatral luso-brasileira, e que gentilmente
partilhou comigo o essencial da sua investigação histórica acerca do “Teatro Luís de Camões”, vem reforçar a
ideia do texto anterior.

«Tomei conhecimento do início das obras de reforma do prédio, realizadas pela Câmara Municipal de
Lisboa, por meio de um blog e fiquei surpreso com o grau da intervenção impetrada ao histórico edifício. O
projeto arquitetônico desenvolvido age sobre um edifício do século XIX, erroneamente, pois trata-se,

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Teatro Luiz de Camões

efetivamente, de um dos principais monumentos arquiteturais do conjunto do Palácio de Belém, construído no


século XVIII. O grau de transformação do espaço interno era mínimo, reservado à substituição dos gradis dos
camarotes superiores, ao plafond da sala de espetáculos e à reformulação dos acessos, aquando a escadaria
central, outrora privativa do rei e que o conduzia diretamente à Tribuna Real, transformou-se em acesso
principal ao piso superior. Era um teatro simples, longe do fausto decorativo das arquiteturas empreendidas
por D. João V, mas preservava as colunatas, a Tribuna Real, a boca-de-cena e a estrutura do palco, quase
intocadas, o que o tornava um monumento singular.»

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Real Colyseu de Lisboa e Paraizo de Lisboa

Real Colyseu de Lisboa (1887) e Paraizo de Lisboa (1907)

O “Real Colyseu de Lisboa”, abriu as suas portas em 24 de Dezembro de 1887, na Rua da Palma, em
Lisboa, nos jardins da propriedade da Condessa de Geraz de Lima, e veio, em certa medida, substituir os
“Recreios Whittoyne” que tinham sido demolidos, no início desse ano, a fim de ser construída a “Estação do
Rossio”, e cuja construção teve início em 21 de Maio de 1887.

Recordo que o “Circo Whittoyne”, propriedade da “Empreza Exploradora de Recreios Whittoyne”, tinha
sido inaugurado em 6 de Novembro de 1875 e ocupava grande parte dos jardins contíguos ao “Palácio
Castelo Melhor”, actual “Palácio Foz”. O seu nome era o apelido do palhaço “Henry” que trabalhara no
“Theatro-Circo de Price”, no Salitre. Em 1881 transforma-se em “Recreios Whittoyne” e mais tarde
em “Colyseu dos Recreios”.

Por altura da sua demolição, em Julho de 1877, a revista “Occidente” escrevia:


«Os "Recreios Whitoyne", nos seus jardins, offereciam ao mesmo público de verão, concertos ao ar
livre, fogos de vistas, e ás vezes até umas tentativas de café concerto, com umas canções muito frescas
cantadas por umas francezas que já o não eram muito: o seu Colyseu dava-nos opera italiana, zarzuella
hespanhola, e ás vezes até companhia de declamação».

Por outro lado, o “Real Colyseu de Lisboa” era um espaço de diversões dentro do mesmo estilo do
anterior. Era um barracão desprovido de comodidade com paredes de madeira e cobertura assente em pilares
de ferro que não lhe conferiam o aspecto que o fizesse distinguir de outros recintos, como também a sua
localização numa zona pouco central. Lembro que nessa altura o Chiado, Rossio e Cais de Sodré eram as
zonas mais habitacionais de Lisboa nos finais do século XIX.

Sousa Bastos, no seu livro “Diccionario do Theatro Portuguez” publicado em 1908, resumia
sucintamente a história do “Real Colyseu de Lisboa” no seguinte texto:

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Real Colyseu de Lisboa e Paraizo de Lisboa

«Esta casa de espectáculos, sita na rua Nova da Palma, tem funccionado com companhias equestres
acrobáticas, gymnasticas, mímicas, de opera, opera cómica, zarzuela e opereta. Foi este theatro-circo
construído em terrenos da Condessa de Geraz de Lima, hoje do seu viuvo, o Conde da Folgosa. Foi feito por
meio de obrigações. Tendo fallido a empreza, ficaram os obrigacionistas sem coisa alguma.»

O empresário do “Real Colyseu de Lisboa”, António dos Santos Júnior, chama o electricista de
Budapeste, Edwin Rousby que viria a ser o introdutor do cinema em Portugal. Tal sucedeu no “Real Colyseu
de Lisboa”, na Rua da Palma, a 18 de Junho de 1896. O empresário António Manuel dos Santos Júnior que,
tendo assistido à sensacional novidade em Espanha, decidiu revelar o “Animatographo” entre nós. Para
cumprir a promessa, Edwin Rousby veio de Madrid, chegando a Lisboa em 15 de Junho.

Primitivo recinto do “Paraizo de Lisboa”

A apresentação do “Theatrograph” de Robert W. Paul decorreu no início da tarde do dia 18 de Junho,


para a Imprensa, seguindo-se à noite a divulgação ao público. Lisboa era a oitava grande cidade europeia a
alcançar tal privilégio. Em 22 de Junho, Edwin Rousby concluía os cinco espectáculos para que fora
contratado, logrando o empresário António Santos Júnior retê-lo no “Real Colyseu de Lisboa”, embora já

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Real Colyseu de Lisboa e Paraizo de Lisboa

estivesse comprometido com sessões em Barcelona. Em 17 de Julho, o “Animatographo Rousby” exibir-se-ia


no “Theatro-Circo do Príncipe Real” no Porto, em sessões a que assistiu Aurélio da Paz dos Reis. Seguiram-
se Espinho e Figueira da Foz.

Inicialmente anunciado o "número" de Rousby como "Animatographo e Cinematographo", para 17 de


Junho de 1896, as coisas correram mal. O "Real Colyseu de Lisboa" não tinha electricidade e o gerador
alugado não foi eficaz, pelo que os 200 convidados tiveram de aceitar as desculpas de Rouby, ficando a
sessão adiada para o dia seguinte. No dia seguinte, 18 de Junho de 1896, tudo correu bem , com os 8 filmes
de 20 segundos a 1 minuto cada, exibidos.

Nessa altura, estava em cena no "Real Colyseu de Lisboa" a opereta em 3 actos "O Comendador
Ventoinha". O espectáculo de "animatographo e cinematographo" foi apresentado num dos intervalos, sem
encarecer o preço, que era de 100 réis na "geral". Havia uma tela branca, para ecrã com a dimensão de 3,00
mts. por 2,5 mts., com a projecção efectuada nas costa do ecrã, humedecido para aumentar a transparência.

Como explicou o DN na altura: «Mr. Rousby coloca o aparelho (…), ao fundo do palco, vindo as figuras
projetar-se num quadro de tela fixado à boca de cena, algo que encanta e maravilha, por ser a reprodução da
vida».
«Os circos são os primeiros locais que trazem as experiências científicas. O cinema aparece nos circos
porque eles traziam companhias de palhaços, mas também traziam os chamados “fenômenos” e também as
novidades técnicas. O Real Coliseu e o Coliseu dos Recreios eram espaços versáteis. Por isso, é que se
chamavam teatros-circos. Isso é uma invenção portuguesa.» Margarida Acciaiuoli.

Em 1907 é gravado do 1º fono-filme em Portugal, no palco exterior do "Real Colyseu de Lisboa",


efectuada por João Freire Correia, proprietário da "Fotografia Londres" na Rua das Chagas, e Manuel
Cardoso, com a participação da actriz Júlia Mendes. Esta película viria a ser exibida entre 2 actos da revista
“Ó da Guarda”.

Foyer e sala de espectáculos do “Real Colyseu de Lisboa”

Em 12 de Julho de 1907 é inaugurado o famoso, e novo, “Paraizo de Lisboa”, na “Quinta da Folgosa”,


nos terrenos contíguos ao Colyseu. Propriedade de Rodrigo de Sousa, Carlos Esteves, João & José
Vasconcelos, Lorjó Tavares e Jaime Victor, era um parque de diversões, na Rua da Palma entre o chafariz do
Intendente e o “Real Colyseu de Lisboa”. A seguir foto do novo edifício do “Paraizo de Lisboa”.

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Real Colyseu de Lisboa e Paraizo de Lisboa

”Paraizo de Lisboa” em 1912

O “Paraizo de Lisboa” tentava recriar, em Lisboa, os afamados "bals" parisienses, igualmente já


desaparecidos. Este recinto ornado de pequenas muralhas, com "promenade" ao ar livre, ringue de
patinagem, barracas de comes e bebes, circo e animatógrafo, labirinto de espelhos e um palco em “art-
noveau” instalado sobre ... um lago. A área - amplo espaço da Rua da Palma, entre o “Real Colyseu de
Lisboa” e o “Palácio Folgosa” - acabou por ser urbanizada na década de 20 do século XX. Todos estes
terrenos pertenciam ainda, em 1900, ao património da “Casa de Folgosa”.

O “Real Colyseu de Lisboa” viria a encerrar em 1925. Depois de ter servido de armazém de
encomendas postais dos Correios, o edifício foi demolido e o seu espaço daria lugar à garagem “Auto-Lys”
construída no ano seguinte em 1930. Quanto ao recinto “Paraiso de Lisboa” depois de demolido daria lugar ao
quarteirão do desaparecido “Cine-Rex / Teatro Laura Alves” inaugurado em 23 de Novembro de 1936.

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Teatro Avenida

Teatro Avenida (1888)

O "Theatro da Avenida", localizado na Avenida da Liberdade, em Lisboa, foi inaugurado em 11 de


Fevereiro de 1888, com as comédias "De Herodes para Pilatos" e "Tio Torquato".

No seu livro “Diccionario do Theatro Portuguez”, de 1908, Sousa Bastos escrevia:


«Foi construída n'um terreno pertencente á esposa de João Salgado Dias. Este cavalheiro e o fallecido
Alexandre Mó, juntamente com Ernesto Desforges emittiram um certo capital em acções do valor de l0$000
réis, levantaram a credito outras quantias e levaram ao cabo a obra. Mais tarde o theatro foi hypothecado e, a
requerimento dos credores, vendido em hasta publica, e adquirido pelo credor hypothecario, Dr. Daniel
Tavares; hoje e propriedade de seu filho. Os accionistas e os mais credores perderam o seu dinheiro. A
primeira empreza era composta dos promotores da edificação, que em breve a passaram exclusivamente ao
sócio Ernesto Desforges.
Em Maio d'esse anno (1888) foi o theatro alugado ao emprezario Alves Rente, que para alli trouxe a
companhia do Príncipe Real, do Porto. Em seguida Sousa Bastos tomou o theatro por dois mezes para o
explorar durante a Exposição Industrial da Avenida. Seguiu-se um tal Drummond, que alli teve companhias
francezas, hespanholas e portuguezas. Teem explorado o theatro depois as emprezas de Cyriaco de Cardoso,
Edmundo Cordeiro, Cinira Polónio, Barata, Salvador Marques, Taveira, Pepa, Sousa Bastos, José Ricardo, D.
José Saraga e ultimamente Luiz Galhardo.»

Um almanaque de 1917 descrevia o “Theatro da Avenida” nos seguintes termos:


«De aparencia exterior e interior simples é tambem muito elegante a sala de espectaculos deste teatro
que muito em especial se dedica à exploração da opereta e da comédia musicada, sem esquecer em cada
época a apresentação de consagradas peças nacionais.»

Lembro que, um dos referidos fundadores do “Theatro da Avenida”, Alexandre Mó, um dos homens
mais respeitados da alta sociedade lisboeta, e responsável pelo aparecimento da empresa que explorava as
exibições do animatógrafo do “Coliseu dos Recreios”, e na sequência dum desentendimento com o seu sócio
Manuel Costa Veiga, fez com que se aventurasse sozinho e investisse numa nova sala exclusiva para sessões

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Teatro Avenida

cinematográficas, o animatógrafo “Salão Avenida”. Explorado pela “Empreza A. Santos & C.ª”, teria uma
existência curta, encerrando um ano depois de ter sido inaugurado. O seu edifício foi depois reutilizado para
ser o local do depósito da empresa açoreana “Água das Lombadas”, posteriormente sede da “Aero-
Portuguesa” e, finalmente o “Café Lisboa”.

Muitos outros empresários e companhias teatrais passaram por esta sala de espectáculos como: Sousa
Bastos, Drummonde, Ciríaco Cardoso, Edmundo Cordeiro, Cinira Polónio, Salvador Marques, Taveira, Pepa,
José Ricardo, José Saraga, Luiz Galhardo, com toda a espécie e qualidade de espectáculos e elencos,
incluindo companhias francesas, espanholas e mistas (ibérica, luso-francesas).

A grande maioria dos mais de 300 espectáculos (306 registados), apresentados no “Theatro da
Avenida”, desde a sua abertura, foram interpretados por Companhias teatrais das quais se destacaram as
seguintes:
Grande Companhia de Opereta do Theatro Avenida de Lisboa
Souza Bastos & C.ª
Companhia José Ricardo
Companhia Luíza Satanella-Estevão Amarante
Companhia de Zarzuelas Rafaela Haro
Companhia de Opereta em Sociedade
Companhia Cremilda-Chaby Pinheiro
Companhia Aura Abranches
Companhia de Artistas Unidos
Companhia Maria Matos
Empreza José Loureiro
Os Comediantes de Lisboa
Empresa Vasco Morgado
Teatro de Sempre
Companhia Rey Colaço-Robles Monteiro

Em 1910, o “Theatro da Avenida” é dirigido por Luís Galhardo, que anuncia revistas e operetas. Em
1911, passa a ser explorado pelo empresário Armando Vasconcelos que aí se mantém até aos anos 20 do
século XX. Até 1923, o teatro chega a pertencer a duas das mais prestigiadas empresas: a "Companhia Luíza
Satanella-Estevão Amarante" e a "Companhia Maria Matos- Mendonça de Carvalho", sendo depois tomado
pela “Empreza José Loureiro”.

84
Teatro Avenida

Em 1923, o empresário José Loureiro, firmou o último contrato de arrendamento com o proprietário do
edifício, Carlos Tavares, contrato esse que se manteve em nome da viúva Loureiro tendo passado
posteriormente para o empresário de teatro, Vasco Morgado.

Era uma sala modesta, mas com a dupla qualidade da localização e da própria estrutura à italiana, com
duas ordens de camarotes. A exploração e a intervenção cultural, digamos assim, foi sempre irregular: de tal
forma que, em rigor, é em meados do seculo XX que este teatro alcançou um nível de maior destaque. Com
efeito, no “Teatro Avenida” funcionou, a partir de 31 de Outubro de 1958, a “Nova Companhia do Teatro de
Sempre”, dirigida por Gino Saviotti, professor do “Conservatório Nacional” e co-fundador, em 1946, com Luis
Francisco Rebello e Vasco de Mendonça Alves, do “Teatro Estúdio do Salitre”, a funcionar nas instalações do
“Instituto Italiano de Cultura”, de que Saviotti era director.

1902 1958

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Teatro Avenida

A “Nova Companhia do Teatro de Sempre” seria responsável pela representação das seguintes peças:
“O Mentiroso” (31-10-1958); “O Gebo e a Sombra” (5-12-1958); “O Soldadinho Medroso” (1959); “O Fim do
Caminho” (10-1-1959); “Marido em Rodagem” (6-02-1959); “Seis personagens em Busca de Autor” (03-04-
1959); “Fachada” (18-05-1959).

Outubro de 1962 Fevereiro de 1963

Mas em 1964, o “Teatro Avenida” assumiria novamente uma relevância cultural que constituiria aliás a
sua derradeira fase de actividade. Com efeito, foi neste Teatro que se instalou a companhia do “Teatro
Nacional D. Maria II”, dirigida por Amélia Rey Colaço, - “Companhia Rey Colaço-Robles Monteiro” - na
sequência do incêndio que, naquele mesmo ano, tinha destruido o “Teatro Nacional D. Maria II”.

Depois de desalojada a “Companhia Rey Colaço-Robles Monteiro”, são iniciadas a obras de renovação
e melhoramentos no "Teatro Avenida" que culminaram com a sua reabertura em 6 de Fevereiro de 1965, com
a peça "O Motim" de Miguel Franco, e á qual assistiu o Chefe de Estado Almirante Américo Thomaz. A
“Companhia Amélia Rey Colaço-Robles Monteiro” ali, regressada, ali se manteria, com o estatuto de Teatro
Nacional, até ao inicio da temporada de 1967/1968.

A propósito da estreia desta peça “O Motim”, o “Diario de Lisbôa” escrevia:


«Lisboa regista hoje um acontecimento que está muito para além da rotina das estreias de teatro. No
Avenida, completamente remodelado, apresenta-se o primeiro original português que o Conselho de Leitura
do teatro Nacional Dona Maria II havia escolhido para ser representado, esta temporada. Trata-se da peça "O

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Teatro Avenida

Motim" de Miguel Franco, um autor que faz a sua estreia como dramaturgo, e que vai, certamente, chamar
sobre si as atenções do publico.»
E no dia seguinte …
«(…) Evidentemente que ontem foi uma noite de estreia, mas é forçoso dizer-se que a grande vedeta da
noite foi sem dúvida a própria casa de espectáculos, que está transformada num pequeno teatro parisienese
do melhor estilo, instalado em pleno coração de Lisboa. Por isso para Lucien Donnatt, vai a nossa mais
calorosa palavra de aplauso pelo trabalho feito. A Amélia Rey Colaço é devida igualmente uma palavra de
admiração pela tenacidade com que sabe defender a sua carreira e a sua obra.»

No dia 11 de Dezembro de 1967 estreava a que seria o último espectáculo a ser exibido no “Teatro
Avenida”. A última peça a ser exibida foi “Feliz Aniversário”, de H. Pinter, que seria interpretada pelo elenco do
“Teatro Nacional D. Maria II” pela “Companhia Rey Colaço-Robles Monteiro”.

Um incêndio, em 13 de Dezembro de 1967, provocado por um curto-circuito ditou o fim do “Teatro


Avenida”, cujo edifício, anos mais tarde, viria a ser demolido.

Bibliografia:
“Lisboa Desaparecida” - Volume 2, de Marina Tavares Dias - Editora Quimera.
“70 Anos de Cultura” - Blogue do Centro Nacional de Cultura
Blog “Cinemas do Paraíso”

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Coliseu dos Recreios

Coliseu dos Recreios (1890)

O último, “Colyseo dos Recreios” em Lisboa, localizado na, Rua de Santo Antão e propriedade da
“Sociedade de Recreios Lisbonense”, foi inaugurado em 14 de Agosto de 1890, com a ópera cómica
“Boccacio”. O seu primeiro empresário foi o comendador António Santos Júnior vindo do “Real Colyseu de
Lisboa” .

A "Sociedade dos Recreios Lisbonense" - constituída pelo solicitador José Frederico Ciríaco, o
professor de filosofia Pedro António Monteiro, o dono de armazéns António Caetano Macieira e o comerciante
de carnes João Baptista G. de Ahneida - teve a sua origem na extinta "Empreza Exploradora de Recreios
Whittoyne", extinta em Setembro de 1877 e cujo teatro-circo, montado nos jardins do "Palácio Castello
Melhor", tinha sido expropriado e demolido para a construção da "Estação do Rossio". Para tal esta sociedade
adquiriu os terrenos que existiam no lado oriental da Rua das Portas de Santo Antão, terrenos vastíssimos e
em rampa, que tratou de os adaptar para a construção do Colyseo.

Tendo o contributo de artistas estrangeiros, o “Coliseu dos Recreios” foi inovador na introdução da
arquitectura do ferro, ainda insipiente em Portugal, através da espectacular cúpula em ferro, com 25 metros de
raio, vinda da Alemanha, e encomendada à firma “Hein Lehmann e C.ª”. O telhado, também em ferro foi
instalado em 1889, da responsabilidade do engenheiro Lacombe. O traço da obra deveu-se aos engenheiros
Goulard, pai e filho e ao português Manuel Garcia Júnior; a construção metálica coube a Castanheira das
Neves e a decoração ao pintor António Machado. Do arquitecto Cesare Lanz é o projecto da fachada do

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Coliseu dos Recreios

edifício, última parte concluída, de três pisos, com motivos decorativos em reboco e algumas carrancas, que
lhe conferem e aumentam a grandiosidade.

O interior do edifício tem a configuração de um octógono ou polígono de nove lados, e a sua grande
cúpula de ferro assenta sobre as paredes exteriores do edifício, pelo que todo o interior é desafogado de
colunas, existindo apenas as que sustentam as duas ordens de camarotes e a grande varanda do Promenoir.

Quanto à descrição mais pormenorizada, atente-se a esta passagem dum texto retirado da revista
“Occidente”:
«O recinto do circo armado em plateia, comporta 1:200 logares de cadeira; a geral, que corre em roda
da plateia, e é em amphitheatro, está lotada para 2:500 espectadores.
Tem 110 camarotes divididos por duas ordens, havendo na segunda ordem uma galeria para 300 pessoas.
O camarote real occupa as duas ordens e está situado fronteiro ao palco. É luxuosamente decorado, no
mesmo estylo que o resto da sala.
Sobre a segunda ordem de camarotes é o Pormenoir, uma innovação para Lisboa, importada dos
grandes circos estrangeiros e que em Paris é frequentado pela ‘jeunesse que s'amuse’.
O Promenoir é uma vasta galeria que côrre em volta de todo o circo e em que 1:200 espectadores podem
gosar o espectaculo, de pé ou sentados, conversando e libando-se á vontade, sem quasi serem vistos dos
espectadores da sala.
Sommando estes logares todos e calculando que nos camarotes estejam 500 pessoas dá 5:700
espectadores, que o novo Colyseo pode acommodar sem esforço, o que não obstou a que nas primeiras
noites de espectaculo chegasse a acommodar 8:000 pessoas, segundo se diz.
A decoração da sala é deslumbrante, e raro o estylo etrusco, em que é feita, terá sido tão bem
applicado. O proscenio sobre tudo é de muito bom gosto, e honra sobre modo o scenographo portuguez sr.
Machado, que delineou e sob a direcção do qual foi executada.
O palco tem 30 metros de fundo por 20 de largo e 28 de altura. As varandas do ordimento assentam
sobre vigamentos de ferro.
Duas grandes chaminés e onze lucarras fazem a ventilação. No exterior ha uma escada de ferro para serviço
de incendios.

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Coliseu dos Recreios

A cavallariça é toda de ferro fechada em abobadilha á prova de fogo, e tem logar para cincoenta
cavallos, tendo tambem uma enfermaria.»

A “Sociedade de Geografia de Lisboa”, fundada em 1875 instalar-se-ia no edifício anexo ao “Coliseu


dos Recreios” dois anos depois, em 1892. Das várias missões e iniciativas efectuadas ao longo de um século
a Sociedade possui um museu colonial e etnográfico nas suas salas, onde se destacam também as Salas de
Portugal, obra em ferro da autoria de José Luís Monteiro, e a Sala de Lisboa, reservada à magnífica biblioteca
da instituição.

O “Coliseu dos Recreios” assumiu-se sempre como uma sala de espectáculos popular, estabelecendo
preços baixos e apresentando espectáculos de diversos tipos, entre os quais a ópera - poucos anos antes, em
1887, tinha aberto ao público o “Real Colyseu de Lisboa”, na Rua da Palma, no qual também funcionaram
companhias de ópera mas que teve uma vida muito mais efémera. O Coliseu evidenciou-se especialmente no
campo da ópera durante a Primeira República, constituindo então uma alternativa ao “Teatro Nacional de S.
Carlos”: em Dezembro de 1916 estreou-se uma companhia, organizada por Ercole Casali, da qual faziam
parte Elvira de Hidalgo e Tito Schipa, e a partir daí cantaram no Coliseu nomes como Alfredo Kraus, Antonietta
Stella, Carlo Bergonzi, Elena Suliotis, Fiorenza Cossotto, Joan Sutherland, Piero Cappuccilli, Tito Gobbi ou
Tomás Alcaide. Entre 1959 e 1981 os espectáculos líricos passaram a ser organizados em colaboração com o
S. Carlos, oferecendo a possibilidade de ouvir algumas das grandes vozes que vinham a Lisboa por preços
acessíveis.

Desde 1897, em conjunto com o “Real Colyseu de Lisboa” da Rua da Palma, e com os seus 2447
lugares, foi o principal dinamizador do cinema em Portugal nos primeiros tempos. Estreia a 4 de Fevereiro de
1899 “Chegada dum Combóio de Cascais”. Em 22 de Abril na inauguração do “Animatographo Excelsior”, do
“Coliseu dos Recreios”, estreia “A Procissão da Senhora da Saúde” pelo fotógrafo Coutinho e o electricista
Mathevon; manivelado no dia 18, regista «todo o préstito, desde o piquete de artilharia, abrindo o caminho, até
o cabido patriarcal e dião da Sé, com os seus acólitos». Em 1918, a companhia “Lusitânia Filme” tomou conta
desta sala fazendo do cinema a sua principal actividade, até ao encerramento da mesma.

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Coliseu dos Recreios

Em 1923, aparece o grande empresário Ricardo Covões que dinamizou grandemente esta sala
passando a funcionar como sala “multiusos”, pois aqui tiveram lugar espectáculos de Revista, Patinagem,
Lutas de Boxe, Bailado, Circo, etc.

Entre 4 e 13 de Julho de 1925, acolheria o “I Salão Automóvel de Lisboa”, o primeiro a ser considerado
oficial, e quarto de Portugal, organizado pelo “Automóvel Club de Portugal”.

Entre 1959 e 1981 os espectáculos líricos passaram a ser organizados em colaboração com o S.
Carlos. Célebres as companhias de circo de Natal, que enchiam o “Coliseu dos Recreios”, e às quais eu
assisti anos seguidos na minha infância durante a década de 60 do século XX.

Em 1960 instalar-se-ia o cinema “Arco-Íris” no mesmo edifício e na porta ao lado da entrada do Coliseu.
Era um cinema de sessões contínuas. Encerraria no início dos anos 80 do século XX. daria lugar ao “Bar 25
Pipodrom”…

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Coliseu dos Recreios

O “Coliseu dos Recreios” vinha, desde há muito, necessitando de obras de remodelação, algumas das
quais com, carácter de urgência. Solicitado o auxílio económico da Câmara Municipal de Lisboa, acabou esta
por chamar a si a iniciativa das mesmas e por suportar todos os encargos inerentes. Essas obras trouxeram
ao Coliseu várias modificações. A mais importante das quais diz respeito à segurança e consistiu na
substituição de toda a instalação eléctrica , incluindo um sistema de alarme contra incêndios. Mais visíveis
foram as modificações do aspecto de várias zonas do edifício.

Nos anos 90 foi alvo de profundas obras de remodelação, e melhoramentos, da responsabilidade do


arquitecto Maurício de Vasconcelos, incluindo de limpeza, segurança, acessos, estéticos e acústicos. Passou
a haver no tecto da sala um grande globo central, rodeado por outros ao longo de duas circunferências
concêntricas. A sala passou a ser dominada pelo cinzento, "avivado aqui e ali com cor azul" (antes era
predominante um vermelho acastanhado). As obras terminaram em 1994 e o novo Coliseu foi apresentado à
cidade em 26 de Fevereiro desse ano, integrando o programa da “Lisboa 94”.

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Teatro D. Amelia / Teatro Republica / Teatro São Luiz

Teatro D. Amelia (1894)/Teatro Republica (1911)/Teatro São Luiz (1918)

Sob a iniciativa do actor Guilherme da Silveira constituiu-se uma sociedade para a edificação de um
teatro, na antiga rua do Tesouro Velho hoje Rua António Maria Cardoso, em terrenos pertencentes à “Casa de
Bragança” com a qual foi elaborado um contracto de cedência. O actor juntou-se com os capitalistas Visconde
de São Luiz de Braga regressado do Brasil e que ficaria como empresário deste Teatro, Celestino da Silva
empresário brasileiro, Alfredo Miranda, Alfredo Waddington e António Ramos Miranda negociante do Rio de
Janeiro, familiar de Ramalho Ortigão. O Teatro chamar-se-ia "Theatro D. Amelia".

O "Theatro D. Amelia", projectado pelo arquitecto francês Louis-Ernest Reynaud, levou menos de um
ano a ser construído e foi inaugurado dia 22 de Maio de 1894, data do 8º aniversário do casamento do Rei D.
Carlos I com a Rainha D. Amélia tendo «a empreza, por tal motivo, resolver transferir a inauguração para esse
dia, em primeira recita d'assignatura e com recita de gala».
A “Companhia Gargano” estrearia com a opereta cómica de 3 actos e 4 quadros “Filha do Tambor Mór”
de Offenbach, e … «A assignatura para as quinze primeiras recitas inauguraes excedeu toda a expectativa. A
enchente de hoje será collossal. O espectaculo começa às 8 horas e meia da noite». in: jornal “Diario
Illustrado”

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Teatro D. Amelia / Teatro Republica / Teatro São Luiz

A entrada deste Teatro com iluminação a gás, era feita por uma escadaria de meia laranja. A asa direita
dava ingresso à plateia e a esquerda sobre o “Jardim de Inverno”. O tamanho da sala de espectáculos era
semelhante ao do “Teatro Nacional de São Carlos”. Contava com balcão, camarotes de 1ª ordem, 2º balcão,
camarotes de 2ª ordem e galerias, contando também com um camarote real encimado pelas armas reais. O
foyer quase todo em branco e dourado, tinha as paredes cobertas por espelhos e painéis pintados pelos
cenógrafos Claudio Rossi e Manini, com decoração estilo Luís XV.

Em 1896, o "Theatro D. Amelia" é equipado com o «Cinematographo»: a «Photographia Animada». Em


1898, torna-se residência da "Companhia Teatral Rosas & Brasão" e no ano seguinte é apresentada a
comédia “Lagartixa” pela actriz Ângela Pinto.

Na primeira década passaram por este Teatro as seguintes companhias: Opera Lírica de Turpini;
Companhia Italiana Gargano; opereta portuguesa de Cyriaco Cardoso; opereta italiana Rafael Tomba;
Companhia Portuguesa Taveira; Dora Lambertini; Sociedade Artística Portuguesa de Lucinda Simões;
Companhia de Variedades de Edna y Voed; Companhia de opereta italiana de Bonazzo e Milzi; Companhia
portuguesa do Valle e Lucinda do Carmo; Companhia dramática francesa de Burguet et Antoine entre outras.
E os seguintes artistas: Maria Guerrero, Sarah Bernhardt, Jane Hading, Clara Della Guardia, Georgette
Leblanc, os Coquelin, Anna Judic, Le Bargy, Leconte, Tina di Lorenzo, Antoine Kubelik, Loie Fuller, etc.

Em 1909 estreia-se a peça “Os Postiços” de Eduardo Schwalbach. Acerca deste autor Alvaro Lima no
"Jornal dos Teatros", em 1917 escrevia:
«Seja, porém, como for, o que é facto é que Eduardo Schwalbach é, incontestavelmente, entre nós, o
primeiro homem de teatro. O seu nome no cartaz é o melhor réclame que se faz à peça da sua autoria e
nunca o público ou o crítico sofre uma desilusão. E não sofre porque tem, de antemão, a certeza de que a
peça que vai ver tem, pelo menos, os seguintes requisitos: uma ideia que presidiu à sua confecção e que, em

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Teatro D. Amelia / Teatro Republica / Teatro São Luiz

geral, sai da vulgaridade, como sucede no "Dia de Juízo", uma técnica impecável como a dos "Postiços", a
graça genuinamente portuguesa da "Bisbilhoteira", uma sentimentalidade capaz de todos nós a sentirmos,
como a do seu "Poema d’Amor", e finalmente o espírito educativo que preside a todas as suas obras»

Em 1911 na sequência da revolução do 5 de Outubro de 1910, o "Theatro D. Amelia" muda de


designação para "Theatro Republica". Não foi o único, pois o “Teatro Nacional D. Maria II” também mudaria a
sua designação para "Teatro Nacional Almeida Garrett". O “Jardim de Inverno” do "Teatro da República" passa
a animatógrafo com a designação "The Wonderful".

Mas .. «Em 13 de Setembro de 1914, grande incêndio no Teatro Republica, tendo comparecido 25
voluntários e 3 viaturas. Utilizaram-se 560 metros de mangueira e fizeram-se vários curativos no local do
sinistro». Era nestes termos noticiada pelos Bombeiros Voluntários Lisbonenses, a trágica notícia do incêndio
que consumiu totalmente o interior do Teatro.
«Lisboa perdeu, com o Teatro Republica, a sua melhor, e mais moderna, mais chic casa de
espectáculos, a que estavam ligadas as mais fundas recordações de horas inolvidáveis. Pelo Teatro
Republica, agora um montão de escombros que a muita inteligência e o grande tacto administrativo do seu
director convertera n'um verdadeiro capitólio de arte, passaram não só os maiores actores como as sumidades
teatrais europeias. Ali trabalharam os Rosas, Brasão,Damasceno, e Lucilia, ali se apresentaram ao publico
português a Duse, Zaconi, Noveli, Emmanuel, Tina di Lorenzo, a Vitaliani, Guiltry, Sara Bernhardt.» in:
Illustração Portugueza

Dois anos depois, em 1916 a sociedade exploradora do Teatro com o Visconde S. Luiz de Braga,
Celestino da Silva e António Ramos consegue a reabertura do "Teatro Republica" após a sua reconstrução
com projecto do arquitecto Tertuliano Lacerda Marques. A peça de estreia foi “Poema de Amor” de Eduardo
Schwalbach, na presença do então Presidente da República, Dr. Bernardino Machado. Teve igualmente lugar
a conferência “Ultimato Futurista” por Almada Negreiros.

No ano seguinte, em 1917, e depois de receber aulas de teatro por Augusto Rosa, estrear-se-ia neste
Teatro a futura grande actriz Amélia Rey Colaço na peça "Marinela" de Benito Pérez Galdós. Para fazer a
personagem, uma rude vagabunda, aprendeu, durante meses, a andar descalça e a usar farrapos, no interior
do jardim do seu palacete. O êxito foi retumbante.

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Teatro D. Amelia / Teatro Republica / Teatro São Luiz

Em princípios de 1974, Amélia Rey Colaço regressa ao “Teatro São Luiz”, de onde partira. O ciclo fecha-se.
Pouco depois dá-se o 25 de Abril e percebendo que a vão encarar como um símbolo do Estado Novo,
suspende a "Companhia Amélia Rey Colaço / Robles Monteiro" e sai de cena.

Com a morte do Visconde de São Luiz de Braga em 1918, o "Teatro da Republica" muda de nome
definitivamente para "Teatro São Luiz".

Em 1928, o “Teatro São Luiz” é adaptado a Cinema, com decoração de Leitão de Barros, passando a
designar-se "Cine-Teatro São Luiz". A 7 de Abril de 1928 é inaugurado com a estreia do filme mudo de Fritz
Lang “Metropolis”, acompanhado por uma orquestra de 15 elementos dirigida pelo maestro Pedro Blanc, que
escreveu a partitura. Em 1929, o Jardim de Inverno serve de estúdio de cinema para o filme mudo “Ver e
Amar” de Chianca de Garcia.

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Teatro D. Amelia / Teatro Republica / Teatro São Luiz

No ano de 1930, estreia-se o cinema sonoro com o filme “Prémio de Beleza” de Augusto Genina, com
argumento de René Clair, tendo como protagonista Louise Brooks. Estreia em 17 de Junho de 1931, o
primeiro filme sonoro («fonofilme») português: A “Severa” de Leitão de Barros. Este filme foi um enorme
sucesso de bilheteira e esteve 6 meses em cena. Seguem-se as estreias de “A Canção de Lisboa” de Cotinelli
Telmo em 1933, e em 1938, estreia “A Canção da Terra” de Jorge Brum do Canto. Em 1943, seria estreado
nesta sala o filme "Costa do Castelo", realizado por Arthur Duarte.

Em 1971, torna-se Teatro Municipal com a designação "Teatro Municipal São Luiz". O espectáculo de
estreia foi “A Salvação do Mundo”, uma peça de José Régio em três actos, com a actriz Eunice Muñoz.

É lançado, em 1998, o concurso público internacional, para as obras de requalificação e conservação do


"Teatro Municipal São Luiz", sob o programa do arquitecto Francisco Silva Dias e projectos de arquitectura da
Divisão de Obras do Departamento de Património Cultural da CML. Na sequência é adjudicada no ano
seguinte, a empreitada “Teatro Municipal São Luiz - Obras de Reabilitação e Conservação” que recebe o
apoio da União Europeia. No ano seguinte e no âmbito da 2ª fase da empreitada é lançado, a 29 de Junho, o
concurso público internacional para a obra de reabilitação e beneficiação da “Sala Mário Viegas”, “Jardim de
Inverno” e “Cafetaria”, com o projecto do arquitecto José Romano.

Em 2002 o "Teatro Municipal São Luiz" é cedido para a apresentação do music hall Amália, de Filipe La
Féria. Reabertura, em Novembro do mesmo ano, de todo o equipamento constituído por: Teatro São Luiz,
Jardim de Inverno, Sala Mário Viegas e Café dos Teatros. A seguir fotos da sala de espectáculos e Jardim de
Inverno.

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Teatro D. Amelia / Teatro Republica / Teatro São Luiz

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Teatro Dom Luiz Filipe ou Teatro da Luz

Teatro Dom Luiz Filipe ou Teatro da Luz (1903)

O "Theatro do Principe Real D. Luiz Filippe de Bragança”, parte integrante do, então, “Real Collegio
Militar”, foi inaugurado mo Largo da Luz em 2 de Março de 1903, por ocasião das comemorações do primeiro
centenário deste Colégio, e com a presença do Rei D. Carlos I.

Em 1814, quando o “Real Colégio Militar” se transferiu da Feitoria (Oeiras) para o “Hospital Real de
Nossa Senhora dos Prazeres”, situado num dos topos da Alameda da Luz, havia um outro edifício que se
destacava do lado poente no qual era ainda visível a ruína que o terramoto de 1755 lhe causara. Do lado sul
estavam os restos do que fora o imponente santuário de Nossa Senhora da Luz. Seguia-se-lhe para norte o
extenso piso térreo de um edifício conventual, decapitado dos seus dois andares superiores pelo abalo
sísmico que destruíra Lisboa. Conta-se que, no lugar desse santuário, teria aparecido a um homem que fora
cativo dos árabes quando da falhada conquista de Tanger em 1437, uma imagem rodeada de "luz" igual à
que, no cárcere africano, lhe valera às suas súplicas de liberdade.

Nasceu assim uma espontânea devoção popular pela santa e pelo local, a quem deram o nome de
"Luz". Seguiu-se-lhe a construção de uma ermida que foi benzida em 1464, sendo por D. João III confiada aos
cuidados de freires de Cristo que, até disporem de um convento que se iria construir, ficaram acomodados
numa pequena e humilde casa local. Tal convento só veio a concretizar-se anos mais tarde e, apesar de já
dispor em 1599 de algumas condições de habitabilidade, as obras de edificação prosseguiram nos anos
imediatos. O santuário definitivo (de que hoje só existe o que foi a capela-mor) mandou-o construir às suas
expensas a infanta D. Maria (filha do terceiro casamento de D. Manuel e irmã de D. João III), para servir a sua
jazida eterna.

Com a secularização das ordens militares em 1789, retiraram-se do “Convento da Luz” os poucos
freires que ainda ali residiam depois do terramoto. E o que restava do convento foi ficando ao abandono até
1851, quando aí (e no hospital) foi instalado o “Depósito Geral de Cavalaria”, quatro anos mais tarde mudado
para Belém.

99
Teatro Dom Luiz Filipe ou Teatro da Luz

Quase decorridas duas décadas, em 1873, o “Real Collegio Militar”, depois de deambular por Rilhafoles
e, duas vezes, por Mafra, regressou em definitivo à Luz, ocupando então o edifício do antigo hospital e
também o outrora convento dos freires de Cristo, cujas instalações se encontravam, como se calcula, em
muito mau estado e que ficariam conhecidas, até há bem pouco tempo, por "quartéis velhos".

Fernando da Costa Maya, major e professor do Colégio, refere em 1903, na página 97 da sua obra
"Memoria Historica e Descriptiva do Real Collegio Militar", fazendo referência a um relatório de 22 de
Setembro de 1902 do general Morais Sarmento, então director, que desde 1892 estaria sendo construído um
Teatro onde o general tencionava «fazer realizar pelos alunos não somente representações de comédias,
como conferências literárias e científicas, recitações de poesias escolhidas nas línguas ensinadas no Colégio,
concertos musicais, etc.», acrescentando em nota de rodapé: «Deve ser inaugurado no dia 2 de Março do
corrente ano, por ocasião da festa do centenário do Colégio.»

Se aquela data está correcta o "Teatro Principe Dom Filipe" terá demorado dez anos a ser construído, a
menos que tivesse sido interrompida a sua construção. «(...) Foi aprovado pelo Conselho Superior de Obras
Públicas o projecto de uma sala de espectáculos que, quando concluída, será uma das mais notáveis e
proveitosas instalações deste estabelecimento. Para iniciação das respectivas obras destinou já o Senhor
Ministro das Obras Públicas a verba que, de momento, podia conceder, sendo nossa esperança que o seu
espírito esclarecido continuará a dispensar a essa obra a atenção que merece, dados os seus intuitos
educativos. Mas, como foi que semelhante aspiração, sempre desejada pelas sucessivas gerações de alunos
e jamais realizada entrou nos domínios da execução? (...) e só me resta confirmar que é, efectivamente ao
elevado e generoso patrocínio que Sua Alteza Real se dignou dispensar dispensar á ideia da construção de
uma sala de espectáculos, que o corpo de alunos deverá a realização desse seu ardente desejo.»

100
Teatro Dom Luiz Filipe ou Teatro da Luz

Com a construção da sala de espectáculos pretendida, o Teatro adquire no Colégio crescente


importância e adesão de alunos e professores. E a primeira prova de força foi logo na inauguração, dia 2 de
Março de 1903, pelas 21 horas. O espectáculo teve a intervenção da tuna colegial, e foram representadas
duas comédias em um acto. Na primeira parte "Roca de Hercules" de Manuel Pinheiro Chagas, interpretada
pelos alunos Soares Branco, no papel de Visconde e Prostes da Fonseca, fazendo em travesti a personagem
de Viscondessa. Na segunda parte a peça "O Portador d'esta", da autoria do ex-aluno Conde de Mesquita.

Depois da implantação da República em 1910, o "Teatro Principe Dom Luiz Filipe" sofre uma
interrupção na sua actividade como narraria Tomás Alcaide:
«O teatro do Quartel Velho esteve impedido de servir durante a conflagração que ensanguentou a
Europa de 1914 a 1918, por se encontrar ocupado por um grupo de metralhadoras do Exército.
Esse impedimento não correspondeu à total ausência de espectáculos escolares por muito tempo, pois
apenas se debelaram as naturais preocupações da guerra, e apesar de não haver salão apropriado, se
fizeram récitas, para as quais se transformavam em verdadeiros teatros os gerais ou camaratas das
companhias.»

Com as transformações e reorganização operadas no “Colégio Militar” nos anos quarenta do séc. XX,
no antigo convento ficou instalada a "Formação" colegial, uma subunidade militar de apoio de serviços -
reabastecimento, transportes, oficinas, manutenção de instalações -, que integrava também as cavalariças e
as instalações dos soldados que já ali existiam do antecedente.
«Também no edifício do Quartel Velho, lado da igreja, existia o Teatro D. Luiz Filipe, uma sala de
espectáculos pequenina, mas montada com muito gosto; tinha um palco espaçoso, uma plateia comportando
duas cenetenas de lugares, um balcão cuja lotação rondava a meia centena de assentos, e um camarote com
algumas cadeiras onde tinha lugar o Director e seus acompanhantes. Era no teatro que tinham as aulas de
Canto Coral.» transcrições anteriores in: “História do Colégio Militar”.

A concretização de um plano geral de infra-estruturas delineado em 1978 para o “Colégio Militar” e


concluído trinta anos depois, permitiu que o edifício dos "quartéis velhos" ficasse definitivamente devoluto no
final de 2007.

O convento de freiras de Cristo ficou então confiado à “Associação dos Antigos Alunos do Colégio
Militar”, que nele tem a sua sede e demais instalações sociais, e que vem procedendo à recuperação e
adaptação do conjunto edificado, no respeito pelo património e pela sua traça arquitetónica original.

101
Teatro Dom Luiz Filipe ou Teatro da Luz

Por outro lado, o actual “Teatro Dom Luiz Filipe” - ou “Teatro da Luz” - é, gerido pela “Associação
Armazém Aér(i)o”, uma companhia de novo circo que propõe o cruzamento interdisciplinar de diferentes
elementos e linguagens artísticas. Com uma lotação para 200 espectadores, exibe espectáculos de Teatro,
Circo, Dança e Música.

Bibliografia: “História do Colégio Militar” de José Alberto da Costa Matos

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Music-Hall S. Bento-Rato

Music-Hall S. Bento-Rato (1907)

O “Music-Hall S. Bento-Rato”, localizado na Rua de S. Bento, em Lisboa, propriedade da firma “Music-


Hall S. Bento Rato, Lda.”, foi inaugurado em 4 de Outubro de 1907, com a projecção de “Viagens em Caminho
de Ferro”.

Este Teatro foi construído por Paulo Henrique Machado, cujos trabalhos foram iniciados em Junho do
mesmo ano, e em 9 de Julho de 1907, o jornal "Diario Illustrado" informava:

«Vão muito adiantados os trabalhos de construcção da grande galeria e casa das machinas que, vindas
de Inglaterra, deverão ser assentes por todo o mez, sob a direcção do distincto engenheiro electricista William
Scott.
Já começaram tambem os trabalhos de scenographia applicavel a uma das diversões que mais deve
enthusismar o publico e que deve produzir um effeito surprehendente.
O novo recinto cuja decoração conforme alguns desenhos que já vimos deve produzir o mais bello
effeito será acessívela a todas as classes em vista do preço excessivamente barato porque o publico podesrá
assistir a um espectaculo verdadeiramente sensacional.»

Quanto às características do espectáculo inovador que esta sala propunha, transcrevo a nota, bastante
elucidativa, acerca das suas características, publicada no dia seguinte á sua inauguração, ocorrida em 4 de
Outubro do mesmo ano de 1907, pelo jornal “Diario Illustrado”:
«Inaugurou-se hontem este estabelecimento sito na rua de S.Bento, de ha tanto annunciado, e que
apresenta a novidade do espectador fazer a viagem n'uma carruagem de 1ª ou 3ª classe, de forma que recebe
a impressão que a vista que vae deslisando no animatographo representa a realidade, dando-lhe, por vezes,
vontade, quando chega a uma estação, de desembarcar e beber, pelo menos, um copo de cerveja.
De maneira que assim como ha o mal de mar, é tanta a visão nítida d'essa viagem em caminho de ferro
que não duvidamos que chegue a dar a vertigem.

103
Music-Hall S. Bento-Rato

Porteiros, empregados, todos trajam como se fossem alistados n'uma gare, e o phonographo que se
ouve nos intervallos é o mais perfeito que por ahi tem appparecido.
Enfim um espectaculo interessante e que ha-de chamar bastante concorrencia.»

Os cenários eram da responsabilidade do cenógrafo Luiz Salvador, que estav entre os melhores da
época a par de Eduardo Machado, Augusto Pina, Eduardo Reis, e José d'Almeida. Luiz Salvador que tinha
cursado na “Academia de Bellas Artes”. «Como scenographo tem apresentado trabalhos importantes nos
theatros de Lisboa e Porto, e é hoje dos mais considerados pelo seu talento e seriedade.» in: “Diccionario do
Theatro Portuguez” de Sousa Bastos (1908).

Em 1908 a firma “Music-Hall de S. Bento Rato, Lda.”, decide construir, no mesmo pátio um novo espaço
a que chamaria “Theatro S. Bento Rato”, que seria inaugurado em 12 de Setembro de 1908, com a revista em
3 actos e 9 quadros “Visões do Rabi”, original de Raymundo Alves e música do maestro Alves Coelho (1882-
1931). Foi com este espectáculo que este grande maestro iniciou a sua actividade musical no teatro de revista.
Seguir-se-iam mais de 50 revistas, além de operetas e vaudevilles.

Não sei quando foi o encerramento definitivo do “Theatro S. Bento Rato”, mas que em 1910 já não
constava de nenhuma lista em nenhum periódico ou revista, que tive acesso, foi um facto.

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Casino / Teatro Etoile

Casino / Teatro Etoile (1907)

O “Casino Etoile” e mais tarde “Theatro Etoile”, localizado na Calçada da Estrela, em Lisboa, foi
inaugurado em 27 de Abril de 1907, tendo a sua primeira referência publicitária, aparecido logo a 4 de Maio no
jornal “Diario Illustrado”.

No seu livro “Diccionario do Theatro Portuguez”, Sousa Bastos descrevia assim esta sala de
espectáculos:
«N'um terreno que existe no começo da calçada da Estrella, junto à rua de S. Bento, medindo 85 mts
de comprimento e 18 mts. na maior largura, pertencente a Jeronymo José Pereira, edificou A. Vieira da Silva
um barracão bem construído e decente para espectaculos animatographicos e folies Bergére.
Passado tempo augmentou o palco para ser utilisado na representação de outras peças, começando n'uma
revista, desempenhada por artistas modestos, mas de certo valor, sobresaindo a actriz Henriqueta Veiga, o
actor Victor e o tenor Ribeiro.
A inauguração do casino Etoile foi a 27 de abril de 1907. Tem por enquanto pouco scenario de Augusto
Pina e Rogério Machado.
Pelos preços baratos que tem, cada sessão de espectaculo pode render 30$000 réis, tendo já feito por
dia 100$000 réis.

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Casino / Teatro Etoile

Tem três plateias com 120 logares cada uma. Ao fundo ha um pequeno balcão com 20 logares. Para
beneficios aluga-se por réis 30$000 por dia.»

Depois de abandonar a actividade de animatógrafo, reabre em 14 de Julho de 1910, como “Theatro


Etoile” propriedade da “Sociedade Artística” com a peça “Os Lazaristas”, protagonizada pelo famoso actor
Joaquim d’Almeida (1838-1921) que passaria à reforma em 21 de Dezembro do mesmo ano.

Anos depois o “Theatro Etoile” encerra, e depois de obras de beneficiação, reabre em 30 de Julho de
1915 com a nova designação de “Salão de Variedades”, que terá encerrado definitivamente em 1918.

Folheto publicitário Março de 1908 12 de Abril de 1908

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Salão Foz

Salão Foz (1908)

O “Salão Foz”, foi inaugurado em 27 de Março de 1908, no “Palácio Foz”, paredes meias com o “Central
Cinema”, com entrada pela Calçada da Glória. Era propriedade da “Empreza Freire & Ereira”, da qual eram
sócios Raul Lopes Freire - também proprietário do “Central Cinema” - e José Nunes Ereira.

O “Salão Foz”, encerraria em 1913 para obras de transformação e renovação. Reabriria em 1 de


Outubro de 1914, após de profundas obras de remodelação que incluíram um aumento da capacidade dos
lugares da plateia, a construção de um novo balcão superior que circundava a sala e onde sobre um dos lados
se abriam amplas janelas com vista para o pátio do palácio. A juntar a todas estas alterações a sala passava a
ter um palco amplo que lhe permitia receber um leque maior de espectáculos, como representações teatrais e
musicais.

107
Salão Foz

Em 17 de Agosto de 1918 o “Salão Foz” é arrendado ao empresário Arthur Emaúz, que acumularia com
a gerência do “Chiado Terrasse” e do “Salão Trindade”. Nesta nova fase, passa a incluir espectáculos de
variedades na sua programação fazendo deles o seu cartaz principal relegando para segundo plano as
exibições cinematográficas, tomando as características de um verdadeiro music-hall.

Em 29 de Janeiro de 1929 o “Salão Foz” é completamente destruído por um incêndio, que tendo tido
início às 2 horas da madrugada terá sido, provavelmente, provocado por um cigarro, que começando no palco
se estendeu rapidamente aos camarins e escritório.

108
Salão Foz

Quanto ao combate ao incêndio o “Diario de Lisbôa” noticiava...


«Dois obstaculos surgiram, porém: a falta de agua que só vinte minutos depois adquiriu pressão
suficiente para as mangueiras funcionarem e o alpendre que a Carris cololcou ao fundo da Calçada da Gloria,
fazendo com que desse lado apenas pudesse ser elevada uma escada «Magyrus», da Rua da Gloria.»
O "Salão Foz" tinha, na altura, em cena a revista "Mulheres e Flores" , de Lourenço Rodrigues e Álvaro Leal, e
que no dia seguinte comemoraria a centésima representação. As consequências do combate ao incêndio
estender-se-iam a outros dois estabelecimentos instalados nessa ala do “Palácio Foz” o Club “Maxim’s” e o
“Cinema Central”.

Depois de muitos anos encerrado (desde 1937 salvo erro), foi recuperado e a partir de 29 de Setembro
de 1958 passa a albergar as instalações da “Cinemateca Portuguesa” - fundada em 1948 como “Cinemateca
Nacional” - até 1980, ano em que se muda para as actuais instalações, na Rua Barata Salgueiro, em Lisboa.

A partir dos anos 80 do século XX, o espaço do antigo “Salão Foz” passou a funcionar como
“Cinemateca Júnior”, - e que ainda, hoje, lá se mantém - sendo os filmes mudos acompanhados ao piano,
aliás como acontece também com as outras salas da “Cinemateca Portuguesa”.

A “Cinemateca Júnior” é um serviço da “Cinemateca Portuguesa-Museu do Cinema”, criado em 2007 e


direccionado para os espectadores infantis e juvenis. As actividades têm como base a “Exposição Permanente
de Pré-Cinema”, dando ao público a possibilidade de interagir com os objectos expostos, conhecendo o seu
funcionamento e a sua importância histórica, sensibilizando-o para o cinema, não só como entretenimento,
mas também como arte e memória de uma arte. Aos Sábados à tarde sessão de cinema..

109
Salão Foz

1909

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Teatro Phantastico

Teatro Phantastico (1908)

O “Theatro Phantastico” ou “Salão Phantastico” situado na Rua Jardim do Regedor, em Lisboa, abriu as
suas portas em 8 de Março de 1908, apresentando peças de teatro e fitas cinematográficas, funcionando
desse modo, também, como animatógrafo - tendo sido um dos primeiros de Lisboa. O primeiro animatógrafo
de Lisboa tinha sido o “Salão Ideal”, inaugurado em 1904, Rua do Loreto. A seguir anuncios em Junho de
1910 e Maio de 1912.

111
Teatro Phantastico

A sua decoração era arrojada para a época. O interior da sala tinha uma atmosfera diferente devido
essencialmente à decoração do tecto que ostentava estalactites feitas de pasta de papel, que aliada a uma
iluminação bem conseguida causava no espectador a sensação de estar dentro de uma gruta.

Palco do “Thetro Phantastico”

Em 29 de Junho de 1915º “Theatro Phantastico”, muda de empresa exploradora e também de nome,


passando a designar-se "Paradis". Um ano depois volta a mudar de empresa exploradora passando a
designar-se de “Salão Ruby”. Em 1917, terminam as exibições de fitas cinematográficas e o local passa a ser
utilizado como Teatro recuperando o nome “Teatro Fantastico”, onde, aliás, chegou a actuar a actriz Maria
Vitoria. Encerraria definitivamente em 1918.

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Teatro Rocio Palace

Teatro Rocio Palace (1910)

Outra sala de teatro e cinema, abria em 28 de Junho de 1910, meses antes da implantação da
República, a 5 de Outubro, o “Theatro Rocio Palace”. Propriedade de E. Anedda e A. Malmer, incluía
«Animatographo e Museu Ceraplástico». Este Teatro estava instalado no 2º andar do “Palácio Regaleira” no
Largo de São Domingos em frente à igreja com o mesmo nome. O Palácio deve o nome ao seu proprietário, o
Conde de Regaleira e na época para além do cinema no 2º piso nele se localizava também um “Centro
Republicano” que ocupava o 1º piso. Neste edifício tinha estado instalado o “Grande Hotel Continental”, entre
1891 e 1901. Em 1902 já era ocupado pelo “Lyceu Nacional de Lisboa”.

O “Theatro Rocio Palace”, apesar da sua localização privilegiada, e virado mais para teatro infantil,
esteve aberto ao público apenas durante 4 anos, tendo encerrado em 1914.

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Teatro Rocio Palace

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Teatro Moderno

Teatro Moderno (1910)

O "Theatro Moderno" foi inaugurado 15 de Dezembro de 1910 na Rua Álvaro Coutinho, em Arroios, com
projecto de Hygino Vieira Dias, «conductor de trabalhos da Camara de Lisboa». O edifício foi mandado
construir por D. Antónia Bárbara da Cunha, madrinha do actor António Manuel dos Santos Júnior, que por
muito tempo tinha sido actor e empresário (desde 1888) e depois proprietário do "Theatro do Rato", até este
ter sido destruído por um incêndio, em 1906.

A designação “Theatro Moderno” aparece pela primeira vez no final da primeira temporada teatral de
1905, quando Araújo Pereira e Luciano de Castro fundaram, com Simões Coelho, a Companhia Dramatica
“Theatro Moderno”, que ficou sediado no “Theatro do Principe Real” - mais tarde “Teatro Apolo” - na Rua da
Palma, em Lisboa. A seguir gravura do actor António Manuel dos Santos Junior.

Actor Antonio Manuel dos Santos Junior

115
Teatro Moderno

A Companhia “Theatro Moderno” teve, contudo, uma existência ainda mais efémera do que a sua
antecessora, durando apenas o mês de Julho de 1905. Sob a direção artística de Araújo Pereira, destacou-se
por ter levado à cena um repertório exclusivamente português, com textos de Ramada Curto (“O Stygma”),
Carrasco Guerra e Eloy do Amaral (“Mau Caminho” ), Bento Mântua (“Novo Altar”), Mário Gollen
(“Degenerados”), Afonso Gayo (“Quinto Mandamento”), Amadeu de Freitas e Luís Barreto da Cruz (“A Lei
Mais Forte”).

Quanto ao “Theatro Moderno”, pode-se ler na revista “Construção Moderna”, nº 21 de 10 de Fevereiro


de 1908, a propósito do motivo do seu aparecimento e projecto da autoria de Ernesto H. Vieira Dias :

«No largo do Rato, á direita, ao entrar na rua da mesma denominação ha um corredor que vae dar a
uns terrenos, onde ha proximamente dois annos existia um elegante theatrinho de madeira, que um fogo
destruiu em poucos momentos, reduzindo á miseria um modesto, bem conhecido e estimado artista, o actor
Santos Junior, que ali tinha o resultado de todas as suas economias, pois que, nem edificios, nem scenario,
mem as outras diversas alfaias de theatro tinha no seguro.
Achou-se de repente, pois, o desditoso artista, collocado n'uma precaria situação, a que procurou valer-
lhe alguns amigos, o que ainda assim não era senão paliativo que não remedeiavo por completo, tão grande
infortunio, quando sua madrinha, a Sra. D. Antonia Barbosa da Cunha, com grande abnegação e desinteresse
procurou valer ao infortunio de seu afilhado, mandando construir-lhe á sua custa, um outro theatro em muito
melhores condições technicas e de esthetica, sendo convidado para elaborar o projecto e dirigir todos os
trabalhos da construção, o já nosso citado amigo, sr. Ernesto H. Vieira Dias, cuja competencia por todos é
reconhecida.
Entretanto na apreciação do projecto, diremos que este será executado no bairro da Avenida D. Amélia,
no terreno com frentes sobre a rua da Senhora do Resgate e Regueirão dos Anjos, medindo a area 655 m2.»

A revista “Construção Moderna”, rematava a descrição pormenorizada desta casa de espectáculos …


«Possuirá, enfim, o edifício projectado, todas as modernas condições de hygiene e conforto exigidas em casa
de espectaculo d'esta ordem, dando assim razão ao seu titulo de Theatro Moderno.»

116
Teatro Moderno

A construção do "Theatro Moderno" teve início em 13 de Março de 1908, toda feita em alvenaria e
vigamento de ferro. Mas em 13 de Janeiro de 1909, e já em fase adiantada das obras o edifício, o grande
paredão que servia de empena sofre uma derrocada. «Os prejuizos estão avaliados, ao todo, n'uns 3 contos.»

A propósito do incidente o jornal “Diario Illustrado” relatava:


«Os caboucos teem, na maior profundidade, 10 metros, e na menor 6; a sala para espectaculos é
essencialmente firmada por 10 columnas em toda a altura, columnas que estão ligadas pelo forte vigamente
ferreo, encontrando-se a construcção adiantada, com as tres ordens de camarotes assentes, bancadas de
geral em esqueleto, tudo com estructura, que se mostra bem cuidada e solida. (…)
As obras estão orçadas em 50 ou 60 contos, isto é, comprehendendo todo o theatro, prompto a
funcionar.
O actor Santos Junior esperava fazer a inauguração, nos proximos mezes de verão, com um
espectaculo de caridade, em 'matinée', offerecendo os bilhetes d'esse espectaculo á imprensa da capital.
Assim agora tem que retardar, essa inauguração, porque é aquelle tempo que se calcula levará a
reconstrucção do que se desmoronou.».

Finalmente inaugurado em 15 de Dezembro de 1910, oferecia: Tribuna real, 4 frizas de 5 lugares cada,
20 camarotes de 1ª ordem, 22 de 2ª ordem, 137 fauteuils, 177 cadeiras, 48 lugares de superior, 340 de geral,
54 galerias de primeira e 144 de segunda e terceira.
No livro “O Teatro em Lisboa no tempo da Primeira República” pode ler-se: «Pouco se conhecendo hoje deste
teatro, sabemos, contudo, que a designação de "moderno" lhe causou, mesmo antes de abrir, amargos de
boca. Utilizando, como nome de baptismo, uma palavra com uma conotação tão forte na época, logo se
levantaram vozes questionando a presunção com que a empresa, ou melhor, o seu gerente, o actor Santos
Júnior, o designou.»

117
Teatro Moderno

Alguns espectáculos apresentados no “Teatro Moderno” :


1911 Arre Que é Burro! [teatro de revista]
11/1911 Perdeu a Fala [teatro de revista]
1912 A Lanterna [teatro de revista]
1912 Vinte Milhafres
1913 Ai Pá! [teatro de revista]
1913 Confusão de Narizes [teatro de revista]
1913 Loucuras de Amor
1913 Pobreza, Miséria e Companhia
1913 Os Dragões de Chaves [opereta]
1/1913 Na aldeia [teatro de revista]
3/1913 O diabo no convento
12 /1913 Os Grotescos [teatro de revista]
12/1913 Marquez de Contrabando [opereta]
11/1915 Cura de Aldeia [opereta]
12/1915 Proezas d’um cabula
12/1916 Hora Fatal

118
Teatro Moderno

O “Theatro Moderno”, teve uma história e existência curtas, já que viria a ser demolido em 1918.

Entre 1961 e 1965 o nome de “Teatro Moderno”, seria de novo utilizado por uma Companhia teatral:
“Teatro Moderno de Lisboa, Sociedade de Actores”.

A Companhia do “Teatro Moderno de Lisboa”, que, entre 1961 e 1965, actuou no Cinema “Império”, em
sessões às 18 horas, era composta por actores como: Cármen Dolores, Rogério Paulo, Ruy de Carvalho,
Armando Caldas, Fernando Gusmão, Clara Joana, Fernanda Alves, Rui Mendes, Armando Cortez, Morais e
Castro, entre tantos outros.

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119
Teatro Politeama

Teatro Politeama (1913)

O “Teatro Politeama” foi mandado construir em 1912, pelo empresário Luís António Pereira, na ainda
denominada Rua Eugénio dos Santos, mais tarde Rua das Portas de Santo Antão, em Lisboa. O arquitecto
Miguel Ventura Terra (1866-1919), foi o autor do projecto, e José Passos Mesquita o responsável pela
construção, iniciada a 12 de Maio de 1912. As decorações do interior e exterior do teatro ficaram a cargo do
escultor Jorge Pereira e dos pintores Benvindo Seia e Veloso Salgado.

O “Teatro Politeama” viria a ser inaugurado a 6 de Dezembro de 1913, com a presença do Presidente
da República Manuel de Arriaga e do Presidente do Ministério Afonso Costa. Como espectáculo de estreia a
opereta "Valsa d’ Amor", apresentada pela “Companhia Gomes e Grijó”, com Cremilda d’Oliveira - famosa
mais tarde, também como actriz de cinema em “O Grande Elias” (1943), “Leão da Estrela” (1947) - Sofia
Santos, Irene Gomes, António Gomes, Grijó e Elsy Rubini, nas principais figuras.

No dia da inauguração o colunista do jornal “A Capital” escrevia:


«Noite de inauguração.Toda a Lisboa que frequenta theatros, amontoada, acotovellando-se nos
corredores e discutindo o novo edifício. Uns acham que o theatro é optimo, mas que as trazeiras dos W.C. não
funcionam com regularidade. Outros gostam das torneiras, mas sentem calor de mais; uns são de opinião que
o theatro é largo, outros que é alto, outros ainda de que não é nem gordo nem magro, antes pelo contrário. Eu
acho apenas um defeito: não ser meu.

120
Teatro Politeama

O panno de bocca produz sensação. Á parte o primor da sua factura, todos procuram dar um sentido ás
attitudes das figuras. Pinheiro Chagas não offerece duvidas: ou não está satisfeito com o regimen, ou não
gosto da peça, ou D. João da Camara, seu visinho, lhe disse alguma coisa desagradavel. O gesto do auctor
da Morgadinha é expressivo. O proprio Almeida Garrett, mais adiante, abre os braços, surprezo dizendo:
- Ó Chagas, parece impossível. Isso não se faz.»

A propósito a revista “Brasil-Portugal” , em 20 de Dezembro, escrevia a propósito do evento:


«O grande sucesso theatral da quinzena foi a inauguração d'este theatro, nas Portas de Santo Antão,
cuja exploração está a cargo do intelligente emprezario Luiz Pereira.

121
Teatro Politeama

(...) A peça de estreia é uma operetta alemã de originalissimo enredo e musica encantadora, tendo o
desempenho causado verdadeira sensação, o qual estava a cargo de Cremilda de Oliveira, Elsy Rubini,
António Gomes, Grijó, etc, etc. Os coros afinados e a orchestra dirigida por Luiz Gomes, cuja reputação está
feita. Brevemente a operetta Toreador.»

De salientar, não apenas a pintura do tecto, uma agradável composição alegórica às artes, Música,
Dança e e Teatro, datada de 1913 e a enorme tela que constitui o pano de boca ainda hoje existente neste
Teatro da autoria de Veloso Salgado. Também de referir que este teatro estava ligado pelas traseiras ao Salão
“Olympia” inaugurado em 22 de Abril de 1911.

O edifício que incorpora o “Teatro Politeama” é constituído por 5 pisos. Por se tratar de uma sala de
espectáculos, a sua constituição arquitectónica tem algumas particularidades que importam salientar. O
edifício pode ser dividido em duas áreas: uma destinada à recepção de público e outra para uso dos artistas.
Em termos gerais, a área de acesso ao público abrange a zona da sala de espectáculos - lugares da plateia,
tribuna e balcão - assim como o foyer do Teatro que se estende por 3 pisos (piso 1 ao piso 3), ao passo de
que a zona dos artistas engloba toda uma área dedicada a camarins, gabinetes e demais salas de produção e
ensaios.

Além de operetas, zarzuelas, comédias musicadas e teatro de Revista, foram inúmeras as Companhias
de Teatro que representaram no “Teatro Politeama”, como:

Companhia Aura Abranches - Grijó


Companhia Alves da Cunha
Companhia Ilda Stichini - Alexandre Azevedo
Companhia Aura Abranches - Chaby Pinheiro
Companhia Adelina Abranches
Companhia Luiza Satanela - Estevão Amarante
Companhia de Lucília Simões - Erico Braga
Companhia Rey Colaço - Robles Monteiro
Companhia Nascimento Fernandes

A partir de 1914, ano em que o “Teatro Politeama” começou com a exibição de filmes, a programação
cinematográfica do “Olympia”, a partir de então, ficou quase sempre ligada ao mesmo. Começando a exibir
filmes, o “Teatro Politeama” passou, deste modo, de Teatro a Cine-Teatro. Tinha 817 lugares. Estreou filmes
históricos como “Casablanca”, em plena II Grande Guerra Mundial.

122
Teatro Politeama

Muitas festas de homenagem a várias personalidades do espectáculo que aqui tiveram lugar, desde
Ângela Pinto a Dário Nicodemi, de Guilhermina Suggia a Nascimento Fernandes e, recentemente, a Armando
Cortez, Luzia Maria Martins, a encenadora que aqui se estreou como actriz em 1932 na companhia de revista
de Linda Demoel, a Igrejas Caeiro e Maria Helena Matos, que neste palco representou durante mais de um
ano, com sua mãe, Maria Matos, a célebre comédia "O Domador de Sogras", da autoria de Félix Bermudes,
João Bastos, Hermano Neves, com as geniais actrizes Maria Matos e Adelina Abranches.

Foi no palco do “Teatro Politeama” que nos Domingos dos anos 50 do século XX, Igrejas Caeiro
realizou em directo, o célebre “Comboio das Seis e Meia”, em que ficaram célebres as figuras de “Zéquinha e
Lélé”, interpretadas por Vasco Santana e Irene Velez. Estes episódios de “Zéquinha e Lélé” eram
reapresentados na “Emissora Nacional” no programa de Olavo d’Eça Leal “Domingo Sonoro” inseridos no
famoso programa radiofónico “Companheiros da Alegria”.

Também esta sala de espectáculos foi palco de espectáculo de bailado de Francis Graça (coreógrafo)
com “Verde Gaio” , promovido pelo “SPN - Secretariado de Propaganda Nacional” - depois de estreado no
“Teatro da Trindade” em 8 de Novembro de 1940 e ter passado no ano seguinte pelos “Teatro Nacional de
São Carlos” e pelo “Teatro Nacional D. Maria II” - e do “Ballet Gulbenkian” que realizou várias temporadas. A
célebre companhia de bailados no gelo, "Holiday on Ice" estreou-se em Portugal no palco do “Teatro
Politeama”.

123
Teatro Politeama

Após a remodelação do interior, da autoria do arquitecto Raul Tojal, o edifício sofreu um incêndio, que
suscitou o surgimento de um novo projecto de alterações, em 1968, dessa feita, a cargo do arquitecto
Frederico George, que ficaria completo cinco anos mais tarde, em 1973.

Após grandes obras de remodelação, em 1991, em que a capacidade foi reduzida para 715
espectadores, o empresário e encenador Filipe La Féria, estreou em 1992 neste palco o grande musical
"Maldita Cocaína" da sua autoria.

Em 2013 o “Teatro Politeama” festejou o seu centenário (1913-2013), e para assinalar a efeméride o
empresário Filipe La Féria produziu o espectáculo “Grande Revista à Portuguesa”.

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Para consulta do respectivo artigo no blog “Restos de Colecção”, acedendo a mais fotos e documentos,
com referência às fontes de onde foram retirados os mesmos e, igualmente, alguns reproduzidos aqui, clicar
no seguinte link:

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124
Eden Teatro

Eden Teatro (1914)

Em 1902, o comerciante de automóveis Albert Beauvalet alugou as antigas cocheiras do Palácio. A


enorme e belíssima garagem instalada num enorme hangar de ferro e vidro, e com o nome de "Garage
Beauvalet", era uma obra Europeia de monta, naquela que seria a primeira representação da Peugeot em
Portugal. No dia da inauguração, em 1906, além do rei D. Carlos, esteve presente o próprio Armand Peugeot,
fundador da marca, num evento em que o rei "dignou-se a comprar três automóveis Peugeot".

Em 1909 o stand do senhor Beauvalet muda-se para os baixos do "Avenida Palace Hotel", também na
Praça dos Restauradores. No mesmo ano António dos Santos, o mesmo que apresentou pela primeira vez o
animatógrafo em Portugal, adquire o edifício e é transformado temporáriamente (1909/1912) em casa de

125
Eden Teatro

espectáculos e divertimentos de seu nome “Music-Hall”. Era composta por três “hangares”, sendo o principal o
segundo, com palco, plateia e carrossel.

Aproveitando o esqueleto da Garage, o proprietário, o 2º Conde de Sucena Dr. José Rodrigues de


Sucena, pede ao empresário de teatro Luiz Galhardo encomende ao cenógrafo Augusto Pina planos para a
construção de um Teatro mais amplo do que o improvisado “Variedades”.

Sala do “Variedades”

126
Eden Teatro

Esse Teatro, inaugurado no dia 25 de Setembro de 1914, com a opereta “O Burro do Sr. Alcaide” de
Gervásio Lobato, é o primeiro Eden, com o nome "Eden Teatro".

O nome Eden não era inédito na época, conforme salienta o jornal "A Capital" de 15 de Fevereiro de
1918. De facto, um pouco mais abaixo, nos Restauradores, onde hoje encontramos o “Avenida Palace Hotel”,
existia o "Eden Concerto" (fundado em 1899). Outra sala de espectáculos, com um nome similar foi o "Eden
Cinema" inaugurado em 1921 que, situado em Alcântara, na Rua do Alvito, sobreviveu até 1975.

O novo “Eden Teatro” foi inaugurado no dia 1 de Abril de 1937, com a peça “Bocage”, interpretada por
Estevão Amarante, numa cerimónia memorável presidida pelo Chefe de Estado General Óscar Fragosos de
Carmona.

Esta última versão, aprovada pela Câmara Municipal de Lisboa em 1933, foi assinado pelo arquitecto
Carlos Dias, apesar de o projecto inicial ter sido do arquitecto Cassiano Branco, que devido a
desentendimentos com o proprietário, 2º Conde de Sucena, o impediram de ser aprovado. Apesar de sempre
ter sido atribuída a autoria do projecto a Cassiano Branco, este nunca a reivindicou como sendo sua. A sua
sala de espectáculos tinha capacidade para 1.440 espectadores.

Como é referido na 26ª publicação da revista Arquivo Nacional: "Quis o conde de Sucena que o Éden
se inaugurasse com peça Portuguesa,(...),e fez muito bem, porque, mais uma vez, demonstrou o seu amor à
arte Nacional, como ao instalar bem o povo, no seu teatro (...)".

Após a inauguração, o novo Eden apresentaria apenas mais duas revistas. Depois converteu-se
definitivamente em sala de cinema sem o prestígio burguês do S. Luís ou do Tivoli (e depois do S. Jorge e do
Monumental) mas com o mérito, ao longo de 50 anos de existência, de ser, no coração nobre de Lisboa, uma
sala de grande cariz popular. Durante a Segunda Guerra Mundial, o Eden foi o cinema mais concorrido de
Lisboa.

127
Eden Teatro

Nos anos 80 o esplendor e o brilho do Eden apagaram-se com o passar das tardes, em que as
bebedeiras e as cenas de pancadaria se tornaram uma constante. Nos últimos anos passava sobretudo filmes
de “western” e de artes marciais. Este cinema projectou o derradeiro filme em 31 de Janeiro de 1989. "Os
Deuses Devem Estar Loucos II" fecharam as portas do Eden.

128
Eden Teatro

Após ter sido adquirido pelo Grupo Amorim, este edifício foi transformado no "Hotel Eden", albergando
também a megastore de discos britânica “Virgin” . Após o encerramento desta megastore, o espaço
foi, ocupado pela “Loja do Cidadão”.

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Parque Mayer

Parque Mayer (1922) – Apontamento Histórico

O “Parque Mayer”, situado junto à Avenida da Liberdade, do lado ocidental, entre a Rua do Salitre e a
Praça da Alegria, foi inaugurado a 15 de Junho de 1922, resultado de uma partilha familiar do “Palácio Lima
Mayer”, - pertença de Adolfo de Lima Mayer, e primeiro “Prémio Valmor de Arquitectura” em 1902 - e dos seus
jardins.

No ano de 1918 instala-se no “Palácio Lima Mayer” o “Club Mayer” que aqui funcionará até 1920. Este
Club era considerado levemente “perigoso”, pelo que muitas senhoras da sociedade entravam sob anonimato
e mascarilha, mesmo sob contrato para a sala de espectáculos, anexo ao salão de jogo. Nos apelidados
“loucos anos 20”, e em 1920, passa a designar-se “Avenida Palace Club” tendo encerrado em 1927.

130
Parque Mayer

O espaço exterior do “Palácio Lima Mayer” foi adquirido em 1920, por Artur Brandão, primeiro promotor
do “Parque Mayer”, tendo sido comprado no ano seguinte por Luís Galhardo (1874-1929), jornalista, escritor e
empresário e considerado um dos criadores da “Revista à Portuguesa” que, com outros dez sócios, constituiu
a “Sociedade Avenida Parque, Lda.” Aqui se construíram casas de espectáculo que acabaram por se
especializar no teatro de revista, sucedendo - ou associando-se - a outras atracções de carácter lúdico, como
carrosséis e carrinhos de choque, que juntavam muito público.

A inauguração do “Parque Mayer”, em 1922, tendo também como função lúdica, veio substituir a
tradicional “Feira de Agosto”, criada na Rotunda em 1908, uma das últimas feiras típicas da capital, com
comércio, petiscos e diversões. Inicialmente, o “Parque Mayer” apresentou-se em instalações precárias de
madeira, simples barracas, mas por outro lado situava-se numa zona mais central e frequentada.

De entre as diversões que passaram no “Parque Mayer”, destacam-se as barracas de tiro, os fantoches,
os carrosséis, bailes de fim-de-semana ou do Carnaval, os “Circo Royal”, “Circo El Dorado”, e “Circo Luftman”,
as famosas barracas do Porto, em Lisboa, que representava a Ribeira animada em miniatura, o estúdio de
fotografia “Fotografia Lusitana”, animatógrafo no famoso espaço “Alhambra” e “Pavilhão Português”, as
barracas dos fenómenos como o da mulher transparente e a mulher sereia, barracas de jogo clandestino para
os mais aventureiros, jogo do quino, patinagem, carrinhos de choque, isto já nos anos 40 do século XX, entre
outras atrações lúdicas.

Também espectáculos de boxe, luta livre e greco-romana marcaram presença neste recinto nessa
década dos anos 40 do século XX, no “Estádio Mayer”, como veremos mais adiante. Este espaço conseguiu
não só impor-se como espaço de diversão mas também de convívio, isto devido à profusão de
estabelecimentos para todos os géneros e gostos, desde cafés, tasquinhas, restaurantes - bar como o
“Dominó”, retiros, casas de fados, cabarets, bares, etc.

Aliás, seria no “Parque Mayer”, no “Valente das Farturas” que, em 1926 Hermínia Silva começaria a
cantar, enquanto Alfredo Marceneiro cantava ao lado, no “Júlio das Farturas”.

Logo em 1922 o primeiro restaurante a instalar-se neste espaço foi o “João Borges”, mais tarde o
restaurante “Colete Encarnado”, de curta existência, pois subia um degrau na sofisticação e não era acessível
a todos. Uma vida mais longa teria a famosa “Mina”, do “Júlio das Farturas”. Um dos célebres retiros do
“Parque Mayer” foi o “Retiro da Amadora”, frequentado por Jorge Amado e Ferreira de Castro entre outros
famosos, fez época neste recinto com os celebres petiscos da cozinheira de mão cheia, que ficou conhecida
simplesmente por “Amadora”. Este local tornou-se num espaço de boémia por excelência, sendo frequentado
tanto pelo povo folião como pela elite política e intelectual de Lisboa. Também no “Parque Mayer”, foram
inventadas as marchas populares, segundo uma ideia de Leitão de Barros para animar o recinto, tendo tido
êxito até aos dias de hoje.

131
Parque Mayer

Por fim, e acima de tudo por lá passou, e continua a passar, o teatro de revista, a grande razão de
existência do “Parque Mayer”. Pelo que, a 1 de Julho de 1922, abre ao público, o “Teatro Maria Vitoria”, que
seria a sua primeira sala de Teatro. Outras se seguiriam. Aqui fica a lista das salas de teatro e de cinema que
existiram no “Parque Mayer”, sendo que duas delas ainda existem:

Teatro “Maria Vitoria” - 1922


Teatro “Variedades” - 1926
Teatro-Cinema “Capitolio” - 1931
Teatro “ABC” - 1956

Estas salas de Teatro terão as suas histórias publicadas em artigos seguintes, respeitando a ordem
cronológica das datas da sua inauguração ou abertura.

Na primeira foto deste artigo: publicidade nas bilheteiras dos Teatros às seguintes Revistas:

132
Parque Mayer

Teatro “Maria Vitória”: “Sem Rei Nem Rock!” de Henrique Santana, César de Oliveira, Rogério
Bracinha e Augusto Fraga, estreada em 23 de Setembro de 1982.
Teatro “ABC”: “É Sempre a Votar! “ de Francisco Nicholson, Gonçalves Preto, Mário Alberto, Eugénio
Salvador, João Nobre, Norberto de Sousa e Armando Cortez, estreada em 29 de Outubro de 1982.
Teatro “Variedades”: “Há Mas São Verdes! ” de João Nobre, César de Oliveira, Rogério Bracinha e
Manuel Correia, estreada em 7 de Janeiro de 1983.

Mas nem só de teatro de revista viveu o “Parque Mayer” : espetáculos de jazz, de fado, operetas,
comédias e circo atraíram um vasto público: burguês e popular, lisboeta e de fora. Acima de tudo, porém, o
“Parque Mayer” foi a “capital da revista”, a “Broadway lisboeta”, com uma trepidante vida noturna,
consagrando artistas como Vasco Santana, António Silva, Francisco Ribeiro (Ribeirinho), Barroso Lopes, Raul
Solnado, José Viana, Beatriz Costa, Ivone Silva, Henriqueta Maia, Salvador, Camilo de Oliveira, entre tantos
outros. Também Francis Graça abrilhantou os espetáculos do Parque com coreografias inovadoras e técnicas
importadas de ballets mundiais, devendo-se a compositores como Frederico Valério e Raul Ferrão êxitos
musicais como os fados protagonizados por Amália Rodrigues.

Entre os empresários que marcaram alguns dos êxitos do teatro de revista estão Giuseppe Bastos,
Vasco Morgado, César de Oliveira, Rogério Bracinha, Henrique Santana, Eugénio Salvador, etc, e, mais
recentemente, Hélder Freire Costa. Nos anos áureos do “Parque Mayer”, os espetáculos tinham duas sessões
durante a semana (incluindo ao sábado) e três aos domingos e feriados, empregando centenas de pessoas
entre artistas, costureiras, carpinteiros, técnicos de iluminação, e vários outros profissionais envolvidos na
produção de espetáculos de revista. Mesmo com os quatro teatros a apresentarem espetáculos em
simultâneo, as lotações esgotavam muitas vezes.

Alguns autores do Teatro de Revista

133
Parque Mayer

Actualmente o “Parque Mayer”, a atravessar uma nova fase de revitalização do seu espaço, tem apenas
a funcionar o “Teatro Maria Vitória”, pelas mãos do empresário Hélder Freire, e o novo “Teatro Raúl Solnado, -
inaugurado em 1 de Junho de 2017 - antigo “Teatro-Cinema Capitólio”, depois de profundas obras de restauro.

“Teatro Raúl Solnado”

Bibliografia: blog “Presente e Passado”


site “Centro Virtual Camões”

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Teatro Maria Vitória

Teatro Maria Vitória (1922)

O “Teatro Maria Vitória”, localizado dentro do “Parque Mayer”, em Lisboa, foi inaugurado a 1 de Julho de
1922, em instalações de madeira, provisórias, com a revista "Lua Nova", da autoria de Ernesto Rodrigues,
Félix Bermudes e João Bastos, com números músicais assinados pelo maestro Raul Portela e direção musical
do maestro Alves Coelho. O nome dado a este teatro, “Maria Victoria”, foi em memória da famosa actriz e
fadista Maria Victoria (1888-1915), cuja morte prematura, poucos anos atrás, criara alguma consternação.

135
Teatro Maria Vitória

O investimento inicial para a construção deste teatro, foi conseguido, segundo fonte da época, à custa
da venda de farturas, pirolitos e pouco mais. O seu capital social de início foi de 100 contos, coisa então
impensável para o teatro ligeiro, o que lhe garantiu, com tal capital social, poder ali manter-se durante várias
décadas. Até à inauguração desta sala, e pontualmente, tinham servido de palco teatral o “Pavilhão
Variedades”, com a revista "Amor Perfeito" em 1924, assim como a “Esplanada Egípcia” com a revista "Off-
Side" em 1929, com Hermínia Silva, onde cantou “Ouro Sobre Azul”, “De Trás da Orelha” e “Off-Side”.

Ao princípio o “Teatro Maria Victoria” só fazia as temporadas de Verão, mas passou a estar aberto todo
o ano quase sempre com revista ou opereta populares. O Teatro encerraria para obras em Maio de 1929.
Durante a sua já longa existência, dedicou-se maioritáriamente ao Teatro de Revista.

136
Teatro Maria Vitória

Consumido por um aparatoso incêndio a 10 de Maio de 1986, a mais antiga sala de espectáculos do
“Parque Mayer” foi reconstruída por Hélder Freire Costa e Vasco Morgado Júnior, com projeto do arquiteto
Barros Gomes. Conforme se pode ler na placa comemorativa afixada no teatro, reabriu em Janeiro de 1991
com uma nova revista “Vitória, Vitória!”, de Henrique Santana e Francisco Nicholson. Mantém-se, na primeira
década do século XXI, como a única sala que apresenta espetáculos com alguma regularidade por iniciativa
do empresário Hélder Freire Costa
.

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Teatro Joaquim de Almeida

Teatro Joaquim de Almeida (1925)

O "Teatro Joaquim de Almeida", localizado na esquina da Rua de São Bento com a Rua do Sol ao Rato,
à Praça do Brazil (actual Largo do Rato), em Lisboa, foi inaugurado em 6 de Maio de 1925, resultado de uma
ideia dos actores de teatro, e amigos,Casimiro Tristão e Francisco Judicibus, que foram os seus promotores.

«Não seria um teatro de grande lotação, e o palco nunca poderia ser vasto, dada a exiguidade do
terreno. Era preciso apenas escolher o nome para o novo teatro. Propuseram-se recordar o velho Teatro do
Rato, que fora inaugurado, com pouca sorte, em 1880. Então, alguém alvitrou que o novo teatro se chamasse
Joaquim de Almeida, em homenagem à memória do ilustre actor português que representara em quase todos
os teatros de Lisboa e em todos os géneros.». Para a sua inauguração foi escolhida a peça de Júlio Dantas "A
Severa", protagonizada pela grande actriz Palmira Bastos, que morava bem perto, a meio da Rua
Braamcamp.

138
Teatro Joaquim de Almeida

Actor Joaquim d’Almeida (1838-1921)

Quanto às suas instalações, a crítica do jornal “A Capital” era favorável …


«As instalações são construídas em madeira e tijolo, sendo desmontáveis em grande parte; todavia, essa
operação não seria para tentar, em virtude da despeza a fazer com fundamentos novos. A plateia deve
comportar uns 300 logares e junto ao palco há 4 frizas. Em volta, a sala é circundada por uma 1ª ordem de
camarotes, ficando para a parte posterior uma galeria extensa.
Apesar de se tratar de um teatro de sala acanhada, as cadeiras estão suficientemente afastadas umas
das outras, para não deixarem os espectadores incomodados, como sucede em alguns teatros, que não
merecem ao serviço de incêndios o devido cuidado de observação. A sala bem iluminada apresenta uma
decoração alegre e fina. Os camarotes são separados dos corredores, por meio de reposteiros azues, que
estão suspensos nas arcadas. Pena é que as grades dos camarotes sejam tão largas e por isso a empreza
terá de proceder a uma obra inadiavel de cobrir interiormente as grades de forma a que as senhoras se
possam sentar despreocupadamente, sem terem de fazer uma exposição de pernas.
O pano de boca é alegre, mas o auctor não foi feliz na sua concepção. Não se percebe mesmo qual foi
a sua ideia. Parece que um redemoinho ensarilhou tudo quanto estava no palco e foi arrumar as diversas
partes ao acaso, projectando-as confusamente. Para futuristas é possível que aquilo seja uma obra prima. Um
medalhão do homenageado figura na sala.
A empreza aproveitou o melhor que poude o espaço que dispoz e soube manifestar bom gosto e criar
conforto. Posteriormente à plateia encontra-se o bufete.
O teatro encontrava-se profusamente iluminado por fóra, chamando a atenção das pessoas que
passavam na Praça do Brazil. Uma multidão compacta acumulava-se em frente da entrada uns esperando
ainda conseguir obter bilhete e outros por simples curiosidade. Mas a lotação estava completa e apenas se
entregavam os bilhetes de imprensa, procedendo a empreza, como a do teatro Apolo, que nos dias de 1ª
representações tem a gentileza de não receber dos criticos teatrais a importancia do selo.»

Quanto à exibição da peça de Júlio Dantas "A Severa" o mesmo jornal escrevia:
«Como todos sabem os papeis da peça "A Severa" são sempre ingratos, para quem os tenta fazer de
novo, porque teem de atingir metas e dificeis de transpor. Todavia a companhia do Teatro Joaquim d'Almeida
portou-se com brio e revela uma honestidade apreciavel na maneira como trabalhou para obter um exito
compensadôr.
(...) O quarteto tocou nos intervalos com afinação, mas com pouco gosto na escolha do reportorio. Falta de
animação. Os scenarios cuidados.»

139
Teatro Joaquim de Almeida

A vocação teatral, em exclusivo, para que tinha sido criado esta sala de teatro não durou muito tempo, e
a partir de 11 de Janeiro de 1926 o “Teatro Joaquim de Almeida” acumula com a função de animatógrafo,
passando a designar-se “Teatro-Cinema Joaquim de Almeida”. A última referência publicitária seria na sua
função inicial de teatro, em 20 de Fevereiro de 1928, com a exibição de 2 peças em 2 sessões diferentes,
como cartaz publicado a seguir. Após o que seria demolido, para dar lugar ao início da, nova, Avenida Álvares
Cabral, ligando o Largo do Rato ao Largo da Estrela.

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A ser publicado brevemente no blog

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Teatro Variedades

Teatro Variedades (1926)

O “Teatro Variedades”, foi inaugurado em 8 de Julho de 1926, no “Parque Mayer”, em Lisboa, tendo
sido idealizado por Luís Galhardo em 1922, e começado a construir-se em 1924, sob o lago dos jardins do
“Palácio Mayer”, com projecto do arquitecto Urbano de Castro.

Abriu estreando a revista "Pó d’Arroz" , de autoria do grupo "Gregos e Troianos", com música de Tomás
Del Negro e Raul Portela, com Anita Salambô e onde se estreia também, o então jovem actor e argumentista
Vasco Santana.

141
Teatro Variedades

Acerca da estreia desta revista o “Diario de Lisbôa” escrevia:


«O "compére" da nova revista "Pó de Arroz", original dos "Toianos" com que inaugura amanhã a nova e
elegante "boite" do Parque Mayer, será desempenhado por Augusto Costa, artista dum comico irresistivel, que
conta com um admirador em cada lisboeta.
A inauguração do Teatro Variedades, onde é estrela a gentil "divette" Anita Salambô, será, decerto o
"clou" da temporada teatral.
Ensaiou "Póde Arroz", o meteur-en-scene Rosa Mateus que é já um nome consagrado, com
excepcional destaque, entre os ensaidores do nosso tempo.»

No dia seguinte o mesmo jornal relatava:


«No espectáculo de revista que ontem se inaugurou, no Teatro Variedades, destaca-se a alegre e gentil
"estrela" Anita Salambó, que marcou com muito brilho os seus numeros, principalmente os de caracter
espanhol. Devemos tambem lembrar os nome de Augusto Costa (Costinha), actor de solidos recursos, e de
vasco Sant'Ana, que esteve muito feliz numa rabula de caracter popular. O "costumier" Castelo Branco
montou com riqueza a revista, vestindo com muita elegancia alguns grupos.»

A propósito da estreia da Revista “E Siga a Dança …”, mencionada na foto anterior, o jornal “Diario de
Lisbôa” escrevia:
«Com grande interesse do público, manifestado desde ha muito, realiza-se hoje, no teatro Variedades,
no Avenida Parque, a estreia da nova revista e m 2 actos e 17 quadros, «E siga a dança ...», que vai ser
interpretada pelos artistas Carlos Leal, no «compère», Maria das Neves, Elisa Giselle, Margarida Almeida,
Emilia Candeias, Beatriz Belmar, Sofia de Sousa, Joaquim Prata, Alfredo de Sousa, Artur Rodrigues, Artur
Machado, os bailarinos Georges Botgen, Sonia Botgen e Lucy Snow, e 16 «girls» portuguesas.»

Neste teatro, no ano de 1931, celebrizaram-se êxitos da canção popular como o “Burrié”, da revista “O
Mexilhão”, de Silva Tavares, Almeida Amaral, Xavier de Magalhães e interpretado por Beatriz Costa e
Ribeirinho, “O Cochicho”, da revista “Pim! Pam! Pum!”, de Lino Ferreira, Lourenço Rodrigues, Fernando
Santos, também do ano de 1931, e protagonizada inicialmente por Maria das Neves, mas popularizado por
Beatriz Costa.

Além das revistas mencionadas anteriormente, de referir ainda outras que vieram a ter êxito como: "O
Bom Sucesso" em 1927, com Teresa Gomes e João Gaspar, "Saricoté" em 1927, com Hortense Luz e

142
Teatro Variedades

Eduardo Reis, "Fado Liró" em 1928, com Carlos Leal e Luísa Durão, "A Paródia" em 1930, com Mary Laura e
Santos Carvalho, "Arre Burro" em 1936, com Beatriz Costa e Hermínia Silva, "O João Ninguém" em 1936, com
Mirita Casimiro, "Boa Nova" em 1942 com Hermínia Silva e Amália Rodrigues, "Alto lá Com o Charuto" em
1945, com Vasco Santana e Mirita Casimiro, "Se Aquilo Que a Gente Sente" em 1947, com Vasco Santana e
Amália Rodrigues, "Ora Agora Viras Tu" em 1949, com Hermínia Silva e Luís Piçarra, "Mulheres Há Muitas"
em 1954, com Laura Alves e Henrique Santos, "Abril em Portugal" em 1956, com Elvira Velez e Costinha,
"Com Jeito Vai" em 1958, com Badaró e Mara Abrantes, "A Ponte a Pé" em 1965, com Humberto Madeira e
Mariema, "Pois, Pois" em 1967, com Raul Solnado e Ivone Silva, "O Zé Faz Tudo" em 1970, com Florbela
Queiroz e Victor Mendes, "Ó Pá Pega na Vassoura" em 1974, com José Viana e Carlos Miguel, "A Prova dos
Novos" em 1988, com Marina mota e Carlos Cunha.

Seria no “Teatro Variedades” e na Revista, “Peço a Palavra! ”, da autoria de Paulo da Fonseca, César
de Oliveira, e Rogério Bracinha, estreada em 4 de Dezembro de 1969, que a actriz Anita Guerreiro cantou pela
primeira vez uma das canções mais famosas de sempre acerca de Lisboa, intitulada “Cheira a Lisboa”.
Nos anos sessenta Giuseppe Bastos e Vasco Morgado asseguraram em conjunto a exploração do “Teatro
Variedades”, tendo então promovido uma série de renovações no seu interior.

Aqui se apresentaram artistas cómicos como Vasco Santana e Raul Solnado e actores e atrizes do
teatro declamado como foi o caso de Eunice Muñoz, no espectáculo “Lições de Matrimónio” estreado em 14
de Maio de 1965 de Leslie Stevens. Na mesma década e na revista “Zero, Zero,Zero, Ordem Para Matar”, de
Paulo da Fonseca, César de Oliveira, Rogério Bracinha e estreada em 1966, José Viana interpretou o “Zé
Cacilheiro”, tema que se tornou conhecido do grande público. Nesse mesmo ano de 1966, o “Teatro
Variedades” sofreu um incêndio quando estava em cena o espectáculo “Descalços no Parque”, original de Neil
Simon com Irene Isidro no elenco.

143
Teatro Variedades

Na década de 90 do século XX, foram empresários deste Teatro, Hélder Freire Costa e Vasco Morgado
(filho), tendo sido o seu espaço renovado na mesma altura. Foi no “Teatro Variedades” onde foi gravado o
programa “Grande Noite”, de Filipe La Féria, para a “RTP - Radiotelevisão Portuguesa”, em 1992, com um
leque de artistas convidados que se tinham distinguido nalguns dos espectáculos do “Parque Mayer”, para
além de um elenco fixo que contava com a presença de actores mais jovens.

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Teatro Variedades

Estado actual da sala de espectáculos

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com referência às fontes de onde foram retirados os mesmos e, igualmente, alguns reproduzidos aqui, clicar
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145
Capitólio

Capitólio (1931)

O Cine-Teatro “Capitólio" inaugurado em 10 de Julho de 1931, é um edifício classificado, de importância


arquitectónica internacional, e está localizado no “Parque Mayer”, um antigo recinto de diversões de Lisboa
inaugurado em 1922. O arquitecto Luis Cristino da Silva (1896-1976) projectou o Capitólio entre 1925-1929, e
o jovem engenheiro José Belard da Fonseca foi o autor da inovadora estrutura de betão armado.

Foi traçado por Luís Cristino da Silva, um dos arquitectos mais proeminentes do Séc. XX português e é
considerado por especialistas como o introdutor do modernismo em Portugal. Inaugurado oficialmente em 10
de Julho de 1931, com uma série de inovações que o distinguiram das demais construções, como a
introdução de uma escada rolante e de uma esplanada no terraço a 11 metros de altura. Foi equipado com um
dos melhores sistemas de som do mundo da marca alemã Bauer.Tinha-se iniciado uma nova era na
arquitectura.

Desse período fazem parte também os edifícios do "Diário de Notícias" e do antigo "Victoria Hotel",
ambos na Av. da Liberdade, o edifício da "Standard Eléctrica" na Av. da Índia, a "Estação de Sul e Sueste", o
edifício do cinema "Cinearte" em Santos, etc. De todos, o “Capitólio” é dos mais representativos do
modernismo e de linguagem mais coerente.

146
Capitólio

A sala era imensamente grande, podendo acomodar 1.391 espectadores, número que esmagava
qualquer lotação de outro cinema existente naquela altura.

No palco na esplanada do terraço podia-se assistir a espectáculos de variedades, com actores


estrangeiros, estreando todas as semanas, novos espectáculos, e tambem ouvir música por uma orquestra
privativa. “Capitólio Jazz”. Tudo complementado por um “esmerado serviço de bar”…

No dia da inauguração ao público, 11 de Julho de 1931, a cantora e bailarina espanhola Rosarillo de


Triana actuou neste palco, alem do ilusionista Espinosa e o corpo de bailarinas “Hermanas Burgos”. Na sala
de cinema neste dia estreou-se o filme “Corações no Exílio” com Dolores Costelo. Nos dias de mau tempo o
terraço era encerrado e na sala de cinema passava a decorrer espectáculos mistos incluindo a 1ª sessão de
cinema e a 2ª sessão de variedades e concerto.

Foram feitas em duas ocasiões obras de remodelação e conservação. Acedia-se ao exterior por amplas
portas envidraçadas, que foram entaipadas na primeira remodelação em 1933. Ainda nesse ano foi montado
no terraço-esplanada, uma cabine de projecção para sessões ao ar livre.

147
Capitólio

1932

Em 1935/36 a sua planta foi novamente alterada sob a supervisão de Cristino da Silva. Foi
acrescentado à sua estrutura primitiva mais um pavimento no balcão, além de frisas e camarotes, todo o palco
foi reestruturado tal como a cabine cinematográfica. Ficou então habilitado a receber 1.400 espectadores.

Depois da renovação de 1935/1936

Em 1966 o empresário Vasco Morgado promove uma nova remodelação na sala de espectáculos do
"Capitólio", com uma nova plateia e um balcão mais extenso, depois de suprimidos os camarotes, tornando

148
Capitólio

numa sala mais ampla, com melhor acústica e em condições de o público poder assistir a espectáculos de
qualquer natureza. Toda a direcção do "Capitólio" foi entregue a o conhecido homem de Teatro, Hermes da
Cunha Portela. A reabertura desta «nova» sala teve lugar em 25 de Agosto de 1966, com a estreia da
comédia inglesa "A Mulher de Roupão", com a actriz Laura Alves como cabeça de cartaz.

Com a entrada em decadência do Parque Mayer, também o “Capitólio” acabaria por perder público e
encerrar no dia 23 de Agosto de 1990 com a última exibição do filme porno, hard-core, 1º escalão “Doce Era o
Sexo”. Em 1983, já tinha sido declarado imóvel de interesse público, mas nada foi feito desde essa altura para
evitar que o abandono e a ruína tomasse conta do edifício. No novo milénio surgiu um projecto de grande
envergadura destinado a reconverter o “Parque Mayer” e devolver ao espaço as luzes e público de outrora,
mas no projecto estava prevista a demolição do capitólio com vista à construção de novas infra-estruturas.

149
Capitólio

Um grupo de cidadãos lutou para que tal não acontecesse e conseguiu que o “Capitólio” fosse inserido
no "World Monuments Fund", na lista dos 100 edifícios de interesse histórico mais ameaçados. Esta acção
levou a que a Câmara Municipal de Lisboa tomasse a decisão de manter o “Capitólio”, como espaço teatral, e
abrisse um concurso internacional para a restauração do mesmo segundo o projecto original do arquitecto Luis
Cristino da Silva. Com aprovação da CML em 2 de Setembro de 2009, ao Cine-Teatro “Capitólio" foi dado o
nome de “Teatro Raúl Solnado”. Raúl Solnado em 1960 chegou a ser, por pouco tempo, empresário desta
casa de espectáculos.

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com referência às fontes de onde foram retirados os mesmos e, igualmente, alguns reproduzidos aqui, clicar
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Monumental

Monumental (1951)

O “Cinema-Teatro Monumental”, localizado na Praça Duque de Saldanha em Lisboa, e propriedade do


major Horácio Pimentel, foi inaugurado no dia 8 de Novembro de 1951, «único no seu género em todo o
mundo» segundo alguns jornais da época, que acrescentavam: «um luxuoso edifício que, desde as linhas
arquitectónicas do exterior à luxuosa comodidade dos seus interiores, oferece o tom moderno e de bom gosto
da casa de espectáculos digna de figurar entres as melhores da Europa».

A elaboração do projecto para o maior conjunto de cinema-teatro existente em Lisboa, partiu de um


Despacho do Ministro da Educação Nacional de 24 de Março de 1943, onde se podia ler: "(...) podia
considerar-se o eventual funcionamento de uma Casa de Espactáculos como ainda não há em Lisboa, com
um conjunto de instalações adequadas á realização ou exibição simultânea de várias formas de actividade
artística ou cultural (...) uma casa com salas independentes para teatro de declamação ou música ligeira,
concertos e cinema, dotada das dependências correspondentes.”

Com base nesta sugestão do Ministro Mário de Figueiredo, o arquitecto Raúl Rodrigues Lima - que já
tinha assinado o projecto do “Cinema Cinearte”, inaugurado em Fevereiro de 1940 - elabora o projecto do
Monumental, cinema e teatro, onde, num único edifício existe um teatro para 1182 espectadores, um cinema
para 2170, um café-restaurante e uma sala para exposições artísticas.

A entrada principal do edifício, comum à salas de Cinema e de Teatro, fazia-se pelo grande vestíbulo
principal semi-exterior que, comunicando directamente com a Praça Duque de Saldanha por meio de uma
arcaria de volta perfeita, funcionava quase como um prolongamento desta. A sala de Teatro, com eixo central
paralelo à Av. Praia da Vitória, possuía dimensões mais reduzidas de modo a aproximar os espectadores do

151
Monumental

palco. Deste modo, e por forma a rentabilizar melhor o espaço interno, o arquitecto Rodrigues Lima introduziu
três balcões que se prolongam lateralmente até ao palco e ainda dois camarotes “avant-scène” ricamente
decorados.

A sala de cinema, com eixo central paralelo à Av. Fontes Pereira de Melo, possuía grandes dimensões
permitidas pelo grande ecrã existente e pelos altifalantes que permitiam regular o som de acordo com as
dimensões da sala. Comportando dois balcões, esta sala constituía a «referência mais imensa do espaço-
cinema em Portugal : a sala cheia parecia uma cidade!» .

152
Monumental

Passando o vestíbulo da entrada, existia um grande foyer que se desenvolvia por dois pisos. No piso
térreo os acessos à sala eram feitos por quatro portas que davam acesso directo às plateias tanto do Cinema
como do Teatro.

A partir do foyer do 1º andar, além do acesso ao 1º balcão a partir de duas portas, dava acesso a um
vestiário, um toucador para senhoras, ao bar, às instalações sanitárias e á escada que dava acesso ao último
piso onde se encontravam a cabine de projecção e o escritório da gerência. Neste 1º piso, fazendo parte
integrante do foyer, existiam, um salão de estar e outro de exposições. Estes equipamentos eram comuns ao
Cinema e Teatro.

A revista “Imagem” em 1950 escrevia: «Um dos mais arrojados empreendimentos dos nossos dias».
Podia-se também ler num jornal da época: «Único no seu género em todo o mundo, um luxuoso edifício que,
desde as linhas arquitectónicas do exterior á luxuosa comodidade dos seus interiores, oferece o tom moderno
e de bom gosto da casa de espectáculos digna de figurara entre as melhores da Europa».

Na lateral da Avenida Fontes Pereira de Melo, este edifício albergou o café, casa de chá e restaurante
“Monumental”, igualmente propriedade do major Horácio Pimentel e explorado por Amadeu Dias, que já
detinha a exploração dos 3 bares do conjunto cinema/teatro "Monumental", Abriu as suas portas em 17 de
Setembro de 1955, tendo a propósito, o “Diário de Lisboa” , neste dia, escrito:
«O projecto inicial da obra era da autoria de sr. arquitecto Rodrigues Lima, pois fazia parte do bloco das casas
de espectáculo. O seu proprietário confiou, porém, o seu desenvolvimento, dentro das novas exigências

153
Monumental

funcionais da exploração, ao notável decorador José Espinho e a Fred Kradolfer, outro artista de
extraordinários méritos, que resolveram, com inteligência e gosto, os problemas de decoração, construção e
mobiliário.»

Um dos grandes acontecimentos que ocorreram nos anos 60 do século XX, no “Cinema-Teatro
Monumental”, foi o “Concurso IÉ-IÉ” de 1966, que pode ser pormenorizadamente recordado num artigo no
“Restos de Colecção”, e no seguinte link: “Concurso «IÉ-IÉ» em 1966”.

O arquitecto Rául Rodrigues Lima, ainda antes de morrer em 1980, projectou uma profunda
remodelação deste espaço a fim de o integrar nos novos tempos. A sala de espectáculos seria dividida em
pequenas salas, à semelhança do que se viria a passar com o “Cinema São Jorge”, e a entrada aproveitada
para instalação de pequenas lojas. Mas … como escreveu Luís de Camões: «Que outro valor mais alto se
alevanta »…

154
Monumental

O “Teatro Monumental” encerrou primeiro, em 3 de Março de 1983, e o “Cinema Monumental” só viria a


encerrar a 27 de Novembro do mesmo ano. O último filme a ser exibido foi “O Vale Perdido” …

A ordem da demolição surgiu em 1984. No mesmo local viria a ser construído um moderno edifício,
também chamado “Monumental”, com escritórios, centro comercial e quatro salas de cinema, de seu nome
actual ”Medeia Monumental”, sendo a maior das quais uma sala cine-teatro com 378 lugares.

Do antigo conjunto “Cinema-Teatro Monumental”, restaram a esfera a esfera armilar, que se encontra
actualmente, ao lado do “Padrão dos Descobrimentos”, e as estátuas que decoravam a fachada do edifício, e
que se encontram nos jardins contíguos à “Igreja de São João de Deus”, na Praça de Londres.

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Cinema e a mais fotos e documentos, com referência às fontes de onde foram retirados os mesmos e,
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Teatro ABC

Teatro ABC (1956)

O Teatro “ABC” , com capacidade para 550 espectadores, foi o último recinto a ser inaugurado, no
“Parque Mayer” em 13 de Janeiro de 1956. Segundo um ideia do empresário José Miguel, abriu com a revista
"Haja Saúde" de Frederico de Brito e Carlos Lopes, com Curado Ribeiro e Maria Domingas. Construído num
local quase escondido ao fundo da rua que ladeia o “Teatro Maria Vitória”, espaço este que tinha sido outrora
ocupado por uma série de restaurantes-bar e casas de espetáculos como o “Salão Alhambra”, parte do
“Pavilhão Português”, “Galo de Ouro”, “Baía” e “Casa Blanca”.

A propósito da sua inauguração o jornal “Diario de Lisbôa” escrevia:


«Agora que o Apolo se despede da vida, um novo teatrinho nasceu, ali no Parque Mayer. Pelas suas
proporções, não poderá vir a ocupar o lugar do rei morto. Mas, de qualquer modo, um novo rei foi posto, e
posto com aquele indispensável conforto e graça que as modernas plateias de cinema apontam ao teatro. O
«beije», o rosa velho e o verde-seco combinam-se (que pena as batas das arrumadeiras não entrarem na
combinação!) dando um conjunto alegre, nitidamente agradável, a que não falta uma certa comodidade,
principalmente, quando se está sentado ... fora das proximidades da porta, onde será preciso instalar um
guarda-vento que nos livre das correntes de ar frio.».
Ao longo da sua existência, estrearam-se cerca de 50 revistas, tendo como empresários José Miguel,
Humberto Cunha (seu genro, que após o falecimento de José Miguel assumiu a direção do Teatro), Sérgio de
Azevedo (em 1971) e Carlos Santos (de 1980 a 1999).

156
Teatro ABC

A seguir a 25 de Abril de 1974, parte da companhia do Teatro “ABC” abandonou o teatro e fundou, em
1974, o “Teatro Adoque” para o qual se transferiram alguns dos artistas com ideias mais progressistas. No
“Parque Mayer” permaneceram Sérgio de Azevedo e Nicolau Breyner, mas outros artistas importantes vieram
reforçar a equipa como Ary dos Santos, Aida Baptista, Ivone Silva, Octávio Matos e Herman José, o que
permitiu ao “ABC” manter o nível de qualidade a que o público já se havia habituado. A “Empresa Sérgio de
Azevedo” manteve-se como responsável das produções desta casa até 1978, sucedendo-lhe Carlos Santos

157
Teatro ABC

com quem Marina Mota, como fadista, e Carlos Paião, como compositor, se estrearam no teatro. Neste
mesmo ano, na revista “Põe-te na Bicha”, António Calvário interpretou a canção “Mocidade, Mocidade”, tema
que perdura ainda na memória do grande público.

1976

Em 1990 o Teatro “ABC” foi destruído por um incêndio quando estava em cena a revista “Ai!
Cavaquinho”, de Eduardo Damas, Camilo de Oliveira, Miguel Simões e Paulo César e estreada em 1989, pelo
que teve de ser transferida para o “Cine-Teatro Capitólio”. Carlos Santos foi o empresário que recuperou este
recinto com o apoio da Secretaria de Estado da Cultura. Três anos depois voltaria a abrir em Fevereiro de
1994, com o espectáculo “Lisboa Meu Amor” promvido pela “Empresa Carlos Santos”. O ano de 1997 ditou o
seu encerramento definitivo.

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Aula Magna da Reitoria da Universidade de Lisboa

Aula Magna da Reitoria da Universidade de Lisba (1961)

Os novos edifícios da “Faculdade de Letras” e da “Faculdade de Direito” foram concluídos em 1957.


Estes edifícios monumentais foram projectados pelos arquitectos Porfírio Pardal Monteiro e António Pardal
Monteiro e as suas fachadas estão decoradas com desenhos de Almada Negreiros.

Três anos depois, em 1960 é estabelecida legalmente a “Cidade Universitária”, e no dia 2 de Dezembro
de 1961 é inaugurado o edifício da “Reitoria da Universidade de Lisboa” e com ele a “Aula Magna”. Lembro
que neste ano o Reitor da “Universidade de Lisboa” era o Professor Dr. Marcello Caetano, que viria a ser
nomeado Presidente do Conselho em 27 de Setembro de 1968.

159
Aula Magna da Reitoria da Universidade de Lisboa

Com desenho dos arquitectos Porfírio Pardal Monteiro e António Pardal Monteiro, este edifício é
decorado, no exterior, por desenhos de Almada Negreiros. No interior, a decoração do átrio da entrada
principal consiste nos painéis em mosaico do pintor António Lino Pedras e em vitrais de Lino António. A
guarda da grande escadaria do átrio dos Passos Perdidos é da autoria do escultor José Farinha. É ainda neste
edifício que está localizada a célebre “Aula Magna”.

A “Aula Magna” é, de forma incontestável, uma das melhores e mais emblemáticas salas portuguesas,
sobretudo, graças à sua notável arquitectura, qualidade acústica e perfil intimista. Detentora de uma
incontornável presença histórica, pelo seu palco têm passado ao longo de décadas as mais importantes
figuras do meio artístico nacional e internacional. Primordialmente concebida pelo arquitecto Daciano Costa
como palco privilegiado para o uso da palavra, nomeadamente em actos e cerimónias académicas, a sala tem
acolhido, ao longo de décadas, eventos de quase todas as naturezas, evidenciando a versatilidade do espaço.

A colossal porta de correr que permite o acesso interior à “Aula Magna”, através da grande escadaria
decorada, foi pintada pelos alunos da “Escola de Artes Decorativas António Arroio” sob supervisão do então
director, Lino António, e executada nas oficinas da escola (como o atesta a inscrição no canto inferior direito).

160
Aula Magna da Reitoria da Universidade de Lisboa

Ambas as faces foram decoradas como motivos similares, destacando-se a face exterior devido ao
emprego de tinta dourada para o fundo. Neste lado, sobre o fundo dourado de diversas tonalidades e
trabalhado consoante formas geométricas, está representada ao centro a insígnia da “Universidade de
Lisboa”. Criada pelo arquitecto Raul Lino, a versão fixada na porta é idêntica à composição do vitral do átrio,
também de Lino António (Vitrais de Lino António): o galeão estilizado navega sobre as ondas do mar, estando
em cada uma das pontas pousado um corvo negro; sobre a embarcação, um céu incorporando várias estrelas
de diversos tamanhos e feitios. Do lado esquerdo, o escudo nacional, e do lado oposto um cavaleiro medieval.

Com 1460 lugares no seu anfiteatro, a sala dispõe de um palco amplo com 185 m2, em forma de
trapézio, e de uma singular grande porta de palco corrediça que comunica com o Átrio dos Passos Perdidos.
Como espaço vasto e estruturalmente dinâmico, é ideal para concertos amplificados ou acústicos, de todos os
quadrantes musicais: recitais de música clássica, ópera, espectáculos de dança, espectáculos teatrais. A sua
acústica é, também, perfeita para a realização de colóquios, conferências, congressos, convenções,
cerimónias e de outros eventos de natureza sociocultural, científica e académica.

Lotação Total (lugares sentados): 1664


Lotação para espectáculos e actividades congéneres: 1460 (excluindo doutorais laterais e tribunas)
Área de palco: 180 m2
Boca de Cena: 20 mts x 11,60 mts x 9,30 mts
Avant-scène: 10 mts
Grande porta de palco: - x - x - 8,5 mts
Lugares Doutorais: 186 + 40 lugares laterais
Lugares em Anfiteatro: 1274
Tribunas: 164 (reservados para a Reitoria da Universidade de Lisboa).

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Aula Magna da Reitoria da Universidade de Lisboa

Bibliografia: Para a elaboração deste artigo foi, também, consultada “Porta da Aula Magna” de Ana
Mehnert Pascoal.

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Teatro Villaret

Teatro Villaret (1965)

O “Teatro Villaret”, foi inaugurado na Avenida Fontes Pereira de Melo, em Lisboa, em 10 de Janeiro de
1965, com a exibição da peça adaptada do "Inspector Geral", de Nicolau Gogol. Tratava-se de um musical, daí
ter passado a chamar-se "Impostor Geral", peça que foi interpretada pela recém-criada “Companhia
Portuguesa de Comediantes”.

O “Teatro Villaret”, assim chamado em homenagem ao grande actor João Villaret (1913-1961), era
propriedade da empresa “Tebo - Teatros de Bolso, Lda.” do actor Raúl Solnado (1929-2009), - que
desempenhava, também, as funções de director deste espaço - e com 440 lugares, foi projectado e decorado
pelo arquitecto e designer Daciano Costa (1930-2005). Em 1967, a direcção deste espaço já era partilhada
entre Raúl Solnado e o empresário Vasco Morgado. A seguir: João Villaret, Raúl Solnado e Daciano Costa

163
Teatro Villaret

Em 24 de Maio de 1969 é gravado no “Teatro Villaret”, o primeiro programa “Zip-Zip”. Da autoria de Raúl
Solnado, Fialho Gouveia e Carlos Cruz, o programa torna-se um dos marcos da história da televisão
portuguesa. O último programa seria emitido em 29 de Dezembro do mesmo ano.

Depois de, em 1974, Raúl Solnado ter vendido a sua parte ao empresário teatral Vasco Morgado, o
concurso “A Visita da Cornélia” , transmitido a partir do “Teatro Villaret”, entre 6 de Junho 1977 e 28 de
Novembro de 1977, marcaria o regresso de Raúl Solnado aos ecrãs da televisão.

Durante vários anos permaneceu como uma sala de espectáculos concorrida de Lisboa onde se
apresentaram com regularidade as encenações de António Feio e as produções da UAU (durante 8 anos). O
grupo “Xutos & Pontapés” gravou um disco nesta sala.

Em 2008 o “Teatro Villaret” reabre, gerido pelo “Teatro Nacional Dona Maria II”, com a peça "A Gorda -
Fat Pig", do dramaturgo norte-americano Neil LaBute, com uma homenagem ao actor Raúl Solnado, seu
fundador. A sala passa, então, de 440 para 384 lugares devido a razões de segurança.

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Teatro Villaret

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Teatro Laura Alves

Teatro Laura Alves (1968)

O “Teatro Laura Alves” teve a sua origem no "Cine-Rex", que tinha sido inaugurado em 23 de Novembro
de 1936, na Rua da Palma, em Lisboa, com uma lotação para 541 espectadores. A exploração deste espaço
foi entregue aos empresários Eduardo Rosa, industrial, e Eduardo Ferreira, técnico cinematográfico.

O “Cine-Rex”, por sua vez, veio ocupar o edifício onde, desde 1929, tinha funcionado a “Federação
Espírita Portugueza” fundada em 1925, e que após a Constituição de 1933, tinha sido perseguida e obrigada a
cessar as suas actividades. Ficava ao lado do "Real Coliseu de Lisboa", onde mais tarde seria edificada a
"Garagem Auto-Lys", junto ao “Chafariz do Desterro”. A propriedade continuou a ser da "Federação Espírita
Portugueza" mas a exploração, foi entregue aos dois empresários atrás mencionados.

No piso superior á sala de cinema, existia um grande salão onde se celebravam festas de Carnaval e
Réveillons. Mas para mais pormenores decidi publicar uma página do “Diario de Lisbôa” onde poderá ler em
pormenor a história e características desta cinema.

Em 29 de Dezembro de 1968 reabriria como “Teatro Laura Alves”, estreando a peça “O Jovem
Mentiroso”, de Keith Waterhouse e Willis Hall, tradução de Botelho da Silva, interpretada por grandes nomes
da cena da época: Rui de Carvalho, Brunilde Júdice, Manuela Maria, Guida Maria, Fernanda Figueiredo, Célia
de Sousa, e na estreia em palco, Vasco Morgado Júnior, numa encenação de Jacinto Ramos. O antigo “Cine-
Rex” tinha sido transformado, em sala de Teatro, pelo empresário Vasco Morgado, marido da actriz Laura
Alves, e que em sua homenagem atribuiu o seu nome á nova casa de espectáculos.

A propósito da abertura deste novo Teatro , o empresário Vasco Morgado descrevia assim os seu
sentimento:
«Para mim, actor que acabei por não ser, empresário em que me tornei por dedicação ao Teatro, este é
um momento de alegria ou, se me permitem, de ternura.

166
Teatro Laura Alves

Mais um teatro a funcionar em Lisboa. Isto é maravilhoso para quem pertence ao Teatro e até para quem vive
do Teatro.
O Teatro Laura Alves, homenagem justa a uma grande actriz, não está pronto e não está porque o dinheiro
não chegou. Será acabado, tenho esperança, com a ajuda do público e é de toda a justiça dizer-se que o que
está feito se deve ao espírito de sacrifício e competência dos meus colaboradores e à amizade e
compreensão de alguns credores.»

A propósito da abertura deste novo Teatro , o empresário Vasco Morgado descrevia assim os seu
sentimento:
«Para mim, actor que acabei por não ser, empresário em que me tornei por dedicação ao Teatro, este é
um momento de alegria ou, se me permitem, de ternura.
Mais um teatro a funcionar em Lisboa. Isto é maravilhoso para quem pertence ao Teatro e até para quem vive
do Teatro.
O Teatro Laura Alves, homenagem justa a uma grande actriz, não está pronto e não está porque o dinheiro
não chegou. Será acabado, tenho esperança, com a ajuda do público e é de toda a justiça dizer-se que o que
está feito se deve ao espírito de sacrifício e competência dos meus colaboradores e à amizade e
compreensão de alguns credores.»

167
Teatro Laura Alves

O “Teatro Laura Alves”, viria a encerrar definitivamente em 8 de Dezembro de 1987, com a última
exibição da peça “Socorro … Sou Uma Mulher de Sucesso”, de Carlos Paulo e Io Apolloni.

O que restou do “Teatro Laura Alves” transformou-se em Residencial Local “Noite Cristalina” de
qualidade e utilização duvidosas. Mais tarde, o edifício quase desapareceu no incêndio em 26 de Maio de
2012, restando a fachada.

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Teatro Maria Matos

Teatro Maria Matos (1969)

O "Teatro Maria Matos", foi inaugurado em 22 de Outubro de 1969, com a presença do Chefe do
Estado, Almirante Américo Thomaz, o Ministro da Educação Nacional, Doutor José Hermano Saraiva e o
Ministro das Corporações e Previdência Social, Dr. José João Gonçalves de Proença . A exploração e
direcção artística foi entregue ao actor, e empresário Igrejas Caeiro que criou para o efeito, a nova empresa
teatral “Tablado - Promoção de Artes Cénicas, Limitada”. O Teatro abriu as portas ao público com a estreia da
peça "Tombo no Inferno" da autoria de Aquilino Ribeiro, e encenada por Igrejas Caeiro.

O “Teatro Maria Matos”, á altura da sua inauguração, possuía uma sala com 760 lugares distribuídos
por plateia e balcão, apetrechado com todos os requisitos para realizar qualquer género de espectáculos
teatrais: palco elevatório e rotativo, equipamento de luzes que o colocava na vanguarda de todos os teatros
portugueses, camarins espaçosos para os actores e equipados com ar condicionado e instalações sonoras
representativas da última palavra em tecnologia sonora em Portugal.

Quanto aos espectadores retardatários, este Teatro inovou:


«Uma inovação que nos parece digna de aplauso: dado que será posta em vigor a proibição de entrada
na sala, seja a quem for, uma vez iniciado o espectáculo, um circuito fechado de TV permitirá aos retardatários
assistir ao que entretanto se passa no palco, através de um "écran" instalado no átrio. Nos intervalos de
mudança de cena, a entrada será permitida.» in revista Flama.

Quanto à avaliação das suas instalações:


«O Teatro Maria Matos foi evidentemente prejudicado pelo facto de se incluir no conjunto mais um hotel
e um cinema: os "foyers" são reduzidos ao mínimo, acanhados e não podem, assim, desempenhar as funções
que lhe são inerentes: funções de convívio social (aqui a pequena sala do bar apresenta uma solução
positiva), mas também uma função mais importante, de elo de ligação entre os vários tempos de
representação, e não uma quebra no ritmo do ritual que se desenrola antes e continuará depois do intervalo,
no "santuário".» in revista "Binário".

169
Teatro Maria Matos

Em 1982, o “Teatro Maria Matos” foi adquirido pela Câmara Municipal de Lisboa, deixando de ter
companhia residente e passando para um regime de acolhimento de projectos independentes e de
companhias mais pequenas de Teatro, de Dança e de Música. Em 2003, a gestão deste Teatro transita para a
empresa municipal “EGEAC - Empresa de Gestão de Equipamentos e Animação Cultural”.

170
Teatro Maria Matos

Dado o seu estado de degradação, em Agosto de 2004, deu-se início a uma intervenção de profunda
remodelação deste espaço cultural, conferindo-lhe uma nova identidade e dotando-o de melhores condições
para a apresentação de espectáculos. O projecto incluiu a remodelação da sala e dos bastidores, a melhoria
da acústica, da iluminação, da climatização, o reforço da segurança e a eliminação das barreiras
arquitectónicas. O “Maria Matos Teatro Municipal” reabriria a 27 de Março de 2006, com a sala principal, com
capacidade para 447 lugares, e dotado de um lounge, de um café e de uma sala de ensaios.

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com referência às fontes de onde foram retirados os mesmos e, igualmente, alguns reproduzidos aqui, clicar
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Teatro Vasco Santana

Teatro Vasco Santana (1972)

Tudo começou com o primeiro “Pavilhão de Cinema” da Câmara Municipal de Lisboa, instalado em
1949 na primeira “Feira Popular de Lisboa” - inaugurada a 10 de Junho de 1943 - localizada no “Parque José
Maria Eugénio” na Palhavã, onde, actualmente, se encontra a sede da “Fundação Calouste Gulbenkian”.

Na “Revista Municipal de Lisboa” do 4º trimestre de 1951 pode-se ler:


«(...) Finalmente ligado a este Pavilhão de Exposições, o Pavilhão de Cinema que funcionou durante a
feira com duas sessões nocturnas de cinema gratuito e às quais assistiram para cima de 95.000 espectadores.
O cinema municipal uma das mais interessantes iniciativas culturais da Câmara Municipal de Lisboa é hoje um
êxito incontestável, a despeito da ignorância deste facto nalguns sectores. A sua fácil mobilidade, no formato
de 16 m/m, hoje universalmente adoptado, pela sua rápida deslocação, conservação e economia, permite-nos
realizar semanalmente 22 espectáculos de cinema gratuitos em quase todos os bairros pobres de Lisboa e
ainda 3 sessões para crianças, ao domingo, no Pavilhão dos Desportos.
Estas sessões são constituídas pela apresentação de filmes municipais realizados pelo seu Serviço de
Cinema e com a colaboração das embaixadas e legações acreditadas no nosso país: inglesa, americana,
francesa, canadiana e suíça.
Estas entidades, a quem aqui se deve justa homenagem pelo seu apoio e tantas facilidades concedidas,
têm auxiliado a iniciativa municipal e permitiu que, gratuitamente, no ano de 1951, a Câmara desse
espectáculos de cinema a 160.000 habitantes de Lisboa.»

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Teatro Vasco Santana

Na “Revista Municipal de Lisboa” do 4º trimestre de 1952 pode-se ler:


«(...) no sector do cinema, o êxito desta iniciativa camarária excedeu tudo que seria possível prever-se.
Os serviços de cinematografia já realizaram no salão do cinema da Feira, 970 sessões gratuitas como total de
341.523 espectadores, prevendo-se para o próximo ano uma maior afluência em virtude do aumento da
capacidade que vai receber.»

Sala na Feira Popular na Palhavã em 1952 e Sala já na Feira de Entre-Campos em 1961

Depois de encerrada definitivamente esta Feira em 1957, foi construída a nova “Feira Popular de Lisboa” em
Entrecampos, no local antes ocupado pelo “Mercado Geral de Gados”, tendo sido inaugurada em 24 de Junho
de 1961. Também aqui foi instalado um cinema municipal, no Pavilhão Municipal que também oferecia uma
sala de exposições. Mais tarde esta sala de exposições acabaria e a sala de cinema seria aumentada e
renovada, passando a ocupar o pavilhão inteiro, mas contando apenas com plateia. Como cinema, só
funcionaria até 1971.

Entretanto, já se iam exibindo peças teatrais nesta espaço, pela companhia “Teatro Estúdio de Lisboa”,
desde 16 de Dezembro de 1964, dia em que Luzia Maria Martins e Helena Félix apresentaram o primeiro
espectáculo da companhia, “Joana de Lorena”, de Maxwell Anderson.

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Teatro Vasco Santana

Vasco Santana (1898-1958)

Em 1972, o cinema converteu-se, definitivamente, no “Teatro Vasco Santana”, em homenagem a um


dos maiores actores de sempre do teatro e cinema portugueses, depois de grandes obras de restauro e
melhoramentos. Ali passou a funcionar com carácter permanente a companhia “Teatro Estúdio de Lisboa”,
depois de concretizadas as negociações com a proprietária do edifício a Câmara Municipal de Lisboa.

Em consequência deste acontecimento, Luzia Maria Martins foi entrevistada duas vezes nos três
primeiros meses de 1972 pela revista “Rádio & Televisão”. A responsável da companhia “Teatro Estúdio de
Lisboa” reforçaria o seu sonho de possuir uma biblioteca, uma galeria, um bar-restaurante, como expressara
na entrevista de 8 de Janeiro de 1972, ela que julgava que o teatro do futuro seria o centro de convívio das
várias artes.

174
Teatro Vasco Santana

O “Teatro Vasco Santana” manter-se-ia activo até á última peça posta em cena pela companhia “Teatro
Estúdio de Lisboa” estreada em 12 de Janeiro de 1989, “Habeas Corpus”.

Tudo mudaria de figura quando em 2003 “Feira Popular de Lisboa” fechou, envolta em grande polémica.
Todas as diversões, como também o “Teatro Vasco Santana”, fecharam com excepção dos restaurantes que
se foram mantendo abertos até 2006, ano em que tudo encerrou definitivamente.

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Teatro Ádóque

Teatro Ádóque (1974)

A companhia teatral “Ádóque - Cooperativa de Trabalhadores de Teatro”, foi fundada em 1974, tendo-se
instalado no “Teatro Desmontável”, - propriedade de “Companhia Rafael d’Oliveira” - situado no Largo Martim
Moniz, em Lisboa. A sua abertura ocorreu a 23 de Setembro de 1974, com a revista “Pides na Grelha”.

Na génese da “Companhia Rafael d’Oliveira” esteve a “Trupe Silva Vale” e a passagem da liderança da
mesma do actor Silva Vale para Rafael de Oliveira, em 1918. A designação “Companhia Rafael d’Oliveira”
surgiu como definitiva apenas em 1933.

Esta sociedade artística, que subsistia através das receitas dos seus espectáculos, assentava numa
dinâmica familiar, em que qualquer um dos societários acumulava diversas funções que poderiam ser tanto de
cariz artístico, como técnico ou administrativo. O elenco inicial contava apenas com dez artistas, entre eles
Rafael de Oliveira e sua mulher Ema de Oliveira.

Em 1936, e em nome de uma maior autonomia, surgiu um “Teatro Desmontável” - uma grande estrutura
independente, movida, inicialmente, por via ferroviária e, mais tarde, em dez camiões - do qual a Companhia
fez uso até Setembro de 1974, quando o arrendou à “Ádóque – Cooperativa de Trabalhadores de Teatro”, em
Lisboa. A Companhia conheceu o seu período de maior sucesso durante as décadas de 1940 e 1950,
chegando a realizar digressões às Ilhas, a Angola e a Paris. Do seu vasto repertório destacam-se peças como
“Amor de Perdição” (1921-1973), de Camilo Castelo Branco, “A Rosa do Adro” (1922-1974), de Manuel Maria
Rodrigues, e “As Duas Causas” (1933-1972), de Mário Duarte e Alberto Morais.

O “Teatro Ádóque” funcionou, desde Setembro de 1974, no largo Martim Moniz, em Lisboa, como já
anteriormente mencionado, estreando em 23 do mesmo mês a revista "Pides na Grelha", até 1982, quando
subiu à cena a sua última revista intitulada "Tá Entregue à Bicharada".

176
Teatro Ádóque

Entre os fundadores desta cooperativa artística contam-se o actor, autor e encenador Francisco
Nicholson, o cenógrafo Mário Alberto e o coreógrafo Fernando Lima.
«O principal objetivo do Ádóque era um trabalho inovador na revista e nos espetáculos para crianças,
funcionando em regime de autogestão, o que, na área do teatro musicado, foi a primeira vez que aconteceu
em Portugal.
(…) «Um punhado de pessoas que estavam dispostas a serem cocriadores de algo que fosse um marco
inovador no conceito de criar e interpretar o teatro de revista, numa perspetiva sociológica sem precedentes".,
escreveu Luciano Reis no seu livro “Teatro Ádóque (1974-1982). História dum sonho teatral”

A este grupo estiveram ligados actores como Francisco Nicholson, Ermelinda Duarte, Henrique Viana,
Bombom, Delfina Cruz, António Feio, Camacho Costa, Maria Tavares, Rui Mendes, Virgílio Castelo, Natália de
Sousa, Maria Vieira, Teresa Madruga, etc., e argumentistas como Francisco Nicholson, Gonçalves Preto,
Henrique Viana, Ary dos Santos, Ferro Rodrigues e César de Oliveira além dos músicos Fernando Tordo, José
Jorge Letria, Ermelinda Duarte e Paulo de Carvalho.

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Teatro Ádóque

Francisco Nicholson (1939-2016), falecido a 12 de Abril de 2016, foi o autor do prefácio do livro, atrás
mencionado, de Luciano Reis, no qual, referindo-se ao que norteou os fundadores, escreveu: «Acreditávamos
em novos caminhos para o teatro de revista, liberto de todas as formas de censura - política, ideológica,
económica, preconceituosa, religiosa, conservadora, eu sei lá tantas, tão ardilosas e subtis se apresentavam».
O actor e encenador afirma ainda, no mesmo prefácio que todos estavam munidos de «uma fé
inquebrantável» e acrescenta: «Éramos irreverentes, descarados, impertinentes, malcriados, mas sempre
fraternos, generosos, despojados. Ah! Sempre com a preocupação de sermos politicamente muito
incorretos...».

O “Teatro Ádóque” produziu 21 espetáculos, aos quais assistiram «mais de 1,2 milhões de
espectadores», em Lisboa e «em mais de 70 localidades do país», tendo a sua produção de palco dado
origem a 15 discos - 12 singles e três álbuns. Terminaria a sua actividade em 1982, tendo estreado a sua
última revista "Tá Entregue à Bicharada", a 12 de Março de 1982.

Quanto ao seu encerramento o jornal "Diario de Lisbôa", em 16 de Setembro de 1985, e a propósito do


início da demolição do "Teatro Ádóque", escrevia:

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Teatro Ádóque

«O fechar do pano naquele espaço, em 1982, teve a sua origem em mais uma das ideias controversas
do presidente da edilidade, ao planear erguer naquela zona um gigantesco centro comercial. No entanto, a
tarefa prioritária de Krus Abecassis foi a de despejar o Ádóque conduzindo assim o grupo à inactividade.
(...) Quanto ao grupo do Teatro Ádóque, (Francisco Nocholson e Magda Cardoso orientam uma escola de
teatro, dança e bailado nas instalações da Junta de Freguesia de Benfica), embora possua um terreno que lhe
foi cedido pela CML, em Outubro de 1983, aguarda a resposta das entidades competentes, aos seus pedidos
de apoio, de forma a poder dar continuidade ao sonho (…)»

Pouco antes do seu encerramento, em 1982 com a sua última Revista em cartaz

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Teatros de Lisboa (1591-1976)

180
Outros Teatros de Lisboa

Outros Teatros de Lisboa

Teatro modesto, mas merece estar aqui presente “Theatro Esperança”, no Largo Vitorino Damásio

“Theatro Julia Mendes”, na “Feira d’Agosto” Theatro/Animatographo “Casino de Santos”

“Theatro Chalet” na “Feira de Belém” “Chantecler Chalet” na “Feira de Alcântara”

181
Outros Teatros de Lisboa

“Theatro d’Alegria” na Praça da Alegria “A Voz do Operário” na Rua Voz do Operário

“Teatro Aberto” na Praça de Espanha “Teatro do Nosso Tempo” na Praça José Fontana

182
Antigas Publicações Periódicas de Teatro

Antigas Publicações Periódicas de Teatro

“O Elenco” (1839) “Jornal do Conservatorio” (1839-1840)

“Revista do Conservatorio Real de Lisboa” (1842) “Galeria Theatral” (1849-1850)

183
Antigas Publicações Periódicas de Teatro

“O Binoculo” (1870) “Ribaltas e Gambiarras” (1881)

“Revista Theatral (1885-1896) A Gazeta dos Theatros (1887-1888)“

184
Antigas Publicações Periódicas de Teatro

“A Gazeta de S. Carlos (1889 “Os Theatros” (1895-1896)

“Revista do Conservatorio Real de Lisboa” (1902) “O Grande Elias” (1903-1905)

185
Antigas Publicações Periódicas de Teatro

“O Palco” (1912) “A Mascara” (1912)

186
Teatros de Lisboa (1591-1976)

Fotos utilizadas neste e-Book, a partir das seguintes fontes:

Arquivo Municipal de Lisboa

Arquivo Nacional da Torre do Tombo

Biblioteca de Arte-Fundação Calouste Gulbenkian (Estúdio Horácio Novais)

Biblioteca Nacional Digital (Biblioteca Nacional de Portugal)

Hemeroteca Municipal de Lisboa

OPSIS – Base Iconográfica de Teatro em Portugal

SIPA – Sistema de Informação para o Património Arquitectónico

Vasco Morgado - Facebook

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[2018], Teatros de Lisboa (1591-1976) © José Augusto Leite

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