Você está na página 1de 13

Copyright © 2020, Metanoia Editora

Editora
Léa Carvalho
Capa
Design: MaLu Santos | Foto: Bigstockphoto

Projeto gráfico
MaLu Santos
Revisora
Aline Salucci Nunes

CIP-BRASIL. CATALOGAÇÃO NA PUBLICAÇÃO


SINDICATO NACIONAL DOS EDITORES DE LIVROS, RJ
R737e
Rosostolato, Breno Silva
Estupro marital : um estudo sócio-histórico de uma violência doméstica,
sexual e de gênero. / Breno Silva Rosostolato, Carlos José Fernandes Telles. - 1.
ed. - Rio de Janeiro : Metanoia, 2020.
132 p. : 21 cm.
Inclui Bibliografia
ISBN: 9786586137132

1. Violência contra as mulheres. 2. Violência familiar. 3. Sexo - Aspectos


sociais.4. Educação sexual. 5. Qualidade no relacionamento conjugal. I. Telles,
Carlos José Fernandes. II. Título
20-66937 CDD: 362.8292
CDU: 316.62:323.285-055.2
Camila Donis Hartmann - Bibliotecária - CRB-7/6472

Todos os direitos reservados. Nenhuma parte deste livro, sem autorização prévia por escrito
da Editora poderá ser utilizada ou reproduzida - em qualquer meio ou forma, seja mecânico
ou eletrônico, fotocópia, gravação etc. - nem apropriada ou estocada em sistema de bancos
de dados.

www.metanoiaeditora.com
Rua Santiago, 319/102 - Penha
Rio de Janeiro - RJ - Cep: 21020-400
faleconosco@metanoiaeditora.com
21 2018-3656 | 21 96478-5384

Associada:
Liga Brasileira de Editoras - www.libre.org.br
Sindicato Nacional dos Editores de Livros (SNEL) - www.snel.org.br

Impresso no Brasil
Agradecimentos

Aos nossos pais, que foram os primeiros


a acreditarem em nós.

Aos nossos cônjuges, pela paciência,


companheirismo e força que nos deram
ao longo desse caminho.
" Que nada nos limite.
Que nada nos defina.
Que nada nos sujeite.
Que a liberdade seja
a nossa própria substância"

Simone de Beauvoir.
PREFÁCIO

N ada parece ser mais gratificante para uma Professora do


que ser convidada, por seus ex-alunos, para prefaciar um
livro por eles escrito, principalmente quando se trata de
autores psicólogos, sexólogos e educadores sexuais do porte
cultural de Breno Rosostolato e Carlos José Telles.
Profundamente engajados na desconstrução de mitos e
preconceitos que enredam a sexualidade em nossa sociedade,
têm especial apreço pelos temas da diversidade sexual e do
combate à violência de gênero. Além disso, são homens
afetivos, criativos e curiosos, com refinado espírito crítico,
bem-humorados e com coração grande. Tenho grande prazer
de tê-los por perto e dividir com eles trabalhos profissionais
e momentos de deliciosa convivência.
A obra ESTUPRO MARITAL é muito significativa, não
só pelo seu excelente conteúdo, como também por ter sido
escrita por homens. Embora a maior parte das vítimas seja
maciçamente formada por mulheres – e essa dor deva ser
contada por elas –, um dos méritos deste livro é exatamente
o fato de os autores refletirem e questionarem a própria
masculinidade hegemônica – da qual fazem parte –
atravessando o androcentrismo e enfrentando o tema de
modo destemido, claro e lúcido quanto às perspectivas
jurídico e psicossocial.
O livro preenche uma lacuna na bibliografia especializada,
já que sobre um tema não tão palatável quanto este, há poucas
publicações específicas. Pensar que a violência se dá justamente
no cerne de uma das mais sagradas tradições de nossa cultura
– o casamento –, implica colocar o matrimônio e o amor
romântico em cheque ou, mais precisamente, a maneira como
o casamento tradicional perfilou as condições de homens e
mulheres, seus direitos e deveres, e como o comportamento
sexual, nesse modelo, corresponde aos papéis de dominado e
dominador. O casamento como lugar da vivência da “felicidade”,
para muitas pessoas e, em especial para as mulheres, torna-se o
lugar da coerção, do constrangimento, do sofrimento e do
sacrifício, na medida em que a autonomia feminina é
condicionada ao desejo do macho.
A obra conta com três capítulos fundamentais: o primeiro
desvela as relações de poder no casamento; o segundo aborda
especificamente o estupro conjugal e o terceiro lança luz sobre
a urgente necessidade de uma educação em sexualidade que
possa caminhar para uma equidade marital, favorecendo
relações respeitosas e afetivas. O que se propõe é que o ser
humano adote, de pronto, uma postura ética e igualitária,
abdicando da falsa supremacia falocêntrica, geradora de tanta
violência de gênero e até mesmo de uma concepção tóxica de
masculinidade.
Os autores buscaram compreender o tema a partir de uma
perspectiva interdisciplinar e, por isso, a obra é imprescindível
para os estudiosos e profissionais das mais variadas áreas,
como sexologia, psicologia, psiquiatria, ciências sociais,
direito, educação etc. O que aqui eles abordam nos interpela
a todos sobre o grau de humanização que as relações deveriam
proporcionar ou favorecer. Eis aqui o critério por excelência
– critério ético – que pode ajudar a todos os interessados a
discernir o que humaniza ou desumaniza até mesmo numa
relação que, em princípio, deveria ser o lugar da experiência
do amor na sua plenitude, como é o matrimônio.
A realidade do ESTUPRO MARITAL evidencia que há
um longo caminho a percorrer na busca por maior qualidade
nas relações, partindo do pressuposto de que o respeito à
dignidade do outro, à unidade na diferença, à equidade no
trato deveria caracterizar qualquer forma de compromisso entre
pessoas que decidem partilhar o que são num estilo de vida que tem
o amor como seu significado mais profundo.
Parabéns aos autores e boa leitura a todos aqueles que acreditam
na transformação da realidade.

Ana Cristina Canosa


Educadora e Terapeuta Sexual
Sumário
INTRODUÇÃO, 10

1. CASAMENTO E RELAÇÕES DE PODER, 13


O sexo como ato dominador e falocêntrico
Mulheres patriarcalizadas, misoginia e sexismo
Uma relação conjugal doutrinada
Violência generificada

2. ESTUPRO CONJUGAL E VIOLÊNCIA, 28


Historicizando a cultura do estupro
Crimes sexuais e legislação
Tipos de violência
A Lei Maria da Penha

3. EDUCAÇÃO EM SEXUALIDADE PARA UMA EQUIDADE MARITAL, 55


Feminismos, sororidade e empoderamento
Direitos das mulheres e privilégios
Mais educação em sexualidade, menos ideologias

CONSIDERAÇÕES FINAIS, 81

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁfiCAS, 84

NOTAS, 100
INTRODUÇÃO

A s relações de poder e a violência contra a mulher – sua


“objetificação”1, ou seja, a atitude de tomá-la como um
objeto, e sua “coisificação”2, que a coloca numa condição de
vulnerabilidade e opressão constantes – foram as bases de
muitos casamentos. Exemplos disso são as relações abusivas
nas quais o sexo é forçado, quando o homem entorpece,
embebeda, faz chantagem ou tenta fazer sexo com a esposa
enquanto dorme.
As questões relacionadas ao estupro marital devem ser
compreendidas por aspectos importantes que precisam ser
analisados minuciosamente para se entender as raízes dessa
violência. Na busca por explicações, este livro parte da
seguinte reflexão: se uma relação sexual não consentida em
qualquer relacionamento pode ser considerada abuso,
violência e até mesmo estupro, nas relações conjugais, o sexo
sem consentimento pode se caracterizar como um crime de
estupro?
A resposta parece óbvia, tendo em vista que o não
consentimento já seria motivo suficiente para a relação sexual
não acontecer, mas a naturalização da submissão e a obediência
da esposa ao marido, muitas vezes, ocultam o crime, que
passa despercebido ou é ignorado.
O estupro seria uma maneira de forçar a mulher ao ato
sexual através da violência e, ao mesmo tempo, desumanizá-la
– o que, para Tiburi (2015), seria uma inessencialidade3 ou
uma subalternidade4, ou seja, a construção de uma visão da
mulher como aquela que deve servir aos essenciais ou
desaparecer.
Breno Silva Rosostolato & Carlos José Fernandes Telles - 11

Neste livro, pretendemos revelar o que Foucault (2014) explica


como poder-saber do patriarcado, que enrijece o casamento e
reforça as violências de gênero. Um poder que não se desassocia de
saberes e que age como uma “tecnologia política do corpo”5. O
referido autor entende que “poder e saber estão diretamente
implicados; que não há relação de poder sem constituição correlata
de um campo de saber, nem saber que não supunha e não constitua
ao mesmo tempo relações de poder” (FOUCAULT, 2014, p. 31).
O patriarcalismo seria um dispositivo (GODINHO, 1995) que
não só produz saberes como opera no sentido de doutrinar as
pessoas, principalmente, as mulheres. Esse sistema era considerado
o “governo dos patriarcas”, como explica Garcia (2015), mas, a
partir do século XIX, surgem teorias que enfatizam a hegemonia
masculina e, com isso, um sentido crítico do termo.
Eis uma boa definição sobre o patriarcado:
Forma de organização política, econômica, religiosa,
social baseada na ideia de autoridade e liderança do ho-
mem, na qual se dá o predomínio dos homens sobre as
mulheres; do marido sobre as esposas, do pai sobre a mãe,
dos velhos sobre os jovens, e da linhagem paterna sobre
a materna. O patriarcado surgiu da tomada de poder
histórico por parte dos homens que se apropriaram da
sexualidade e reprodução das mulheres e seus produtos:
os filhos, criando ao mesmo tempo uma ordem simbólica
por meio dos mitos e da religião que o perpetuam como
única estrutura possível (REGUANT, apud GARCIA,
2015, p. 17).

São essas questões de poder e a violência de gênero (GARCIA,


2015) que conduzirão as reflexões sobre estupro marital. Para tal,
faremos o percurso que delineamos a seguir.
O primeiro capítulo busca reconstruir as relações estabelecidas
através do matrimônio, desde o sentido e o propósito social, até os
conceitos religiosos que perpetuam a hierarquização na relação
conjugal.
O capítulo seguinte convida a área do Direito para participar da
contextualização sobre estupro marital, realizando uma releitura
Estupro Marital - 12

sobre as leis elaboradas para tipificar o que seria um crime de


estupro e, consequentemente, sua punição.
Para compreender a legislação penal sobre delitos sexuais,
retomaremos alguns marcos históricos, como as Ordenações
Filipinas6 e a proteção aos costumes, perpassando o Código Penal
da República e pontuando o que existe de mais atual, como a Lei
Maria da Penha.
Por fim, o terceiro e último capítulo procura responder à
pergunta central do livro e elucidar como o crime de estupro
estrutura-se nas relações maritais. Compreender o estupro marital é
de suma importância para revelar uma violência que muitas vezes é
desconsiderada e ignorada pelos poderes normativos7 que atuam
para silenciar mulheres e privilegiar homens.
Desta maneira, a educação em sexualidade sugere como
intervenção necessária um profundo diálogo sobre equidade social
e igualdade de gêneros. Resguardar a integridade de milhares de
mulheres, no que tange, principalmente, a seus direitos, vontades e
escolhas, no que diz respeito à prática sexual e ao não consentimento.
__________________________________

Este livro foi composto nas famílias tipográficas:


Adobe Garamond, champagne e Broken Glass
Impresso em papel alta alvura 75g, primavera de 2020

Você também pode gostar