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UNIVERSIDADE ESTÁCIO DE SÁ – PÓS-GRADUAÇÃO EM

JORNALISMO DIGITAL. TCC – TRABALHO DE CONCLUSÃO DE


CURSO.

Nome do aluno: Luciano Rodrigo Rodrigues

Título do Trabalho: A influência das Fake News no jornalismo digital

(Jundiaí – SP)
MAIO - 2019
UNIVERSIDADE ESTÁCIO DE SÁ – PÓS-GRADUAÇÃO EM
JORNALISMO DIGITAL. TCC – TRABALHO DE CONCLUSÃO DE
CURSO.

Nome do aluno: Luciano Rodrigo Rodrigues

Título do Trabalho: A influência das Fake News no jornalismo digital

Trabalho de Conclusão de Curso


apresentado à Universidade Estácio de
Sá como requisito parcial para
conclusão do Curso de Pós-
Graduação em JORNALISMO
DIGITAL.

Professor Orientador: Me. Raul


Fonseca Silva

(Jundiaí - SP)
MAIO - 2019
UNIVERSIDADE ESTÁCIO DE SÁ – PÓS-GRADUAÇÃO EM
JORNALISMO DIGITAL. TCC – TRABALHO DE CONCLUSÃO DE
CURSO.

Nome do aluno: Luciano Rodrigo Rodrigues

Título do Trabalho: A influência das Fake News no jornalismo digital

Trabalho de Conclusão de Curso


apresentado à Universidade Estácio de
Sá como requisito parcial para
conclusão do Curso de Pós-
Graduação em JORNALISMO
DIGITAL

Professor Orientador: Me. Raul


Fonseca Silva

Aprovada em: ........... / ...................... / .............. Nota: ........ ( ...............)


Resumo

O Trabalho “A influência das Fake News no jornalismo digital”,


apresentado como conclusão do Curso de MBA em Jornalismo Digital,
tem como objetivo fazer uma análise sobre como as ditas Fake News
(notícias falsas) vêm influenciando cada vez mais os veículos de
comunicação tradicionais, impulsionadas pelo ambiente virtual, em que
um conteúdo apócrifo pode se espalhar rapidamente e ser encarada como
verdade, mesmo que não seja ancorada em fatos ou não possa ser
comprovada.
Com base em referências bibliográficas, matérias e reportagens sobre o
tema, o trabalho busca apresentar um pouco sobre a situação no Brasil,
incluindo referências de outros países, as principais ferramentas usadas
na sua disseminação, as formas de combate-las e como o jornalismo
digital tem sido influenciado.

Palavras-chave: Fake News, Jornalismo Digital, Notícias Falsas.


Abstract

The paper “The influence of Fake News on digital journalism”, presented


as a conclusion of MBA Course in Digital Journalism, aims to analyze how
the Fake News are increasingly influencing traditional communication
vehicles, boosted by the virtual environment, where a apocryphal content
can spread quickly and be viewed as true, even if it is not anchored in facts
or can not be proven.
Based on bibliographical references, articles and news on the subject, the
paper seeks to present a bit about Brazil´s situation, including references
from other countries, the main tools used to spread it, the ways to combat
it and how digital journalism has been influenced.
Keywords: Fake News, Digital Journalism, False News.
SUMÁRIO

1. ESCOLHA DO TEMA: ................................................................................... 7


2. PROBLEMATIZAÇÃO ................................................................................... 7
3. JUSTIFICATIVA............................................................................................. 7
4. OBJETIVO GERAL: ...................................................................................... 8
5. OBJETIVOS ESPECÍFICOS:......................................................................... 8
6. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA ..................................................................... 8
7. METODOLOGIA DE PESQUISA ................................................................... 9
8. INTRODUÇÃO ............................................................................................... 9
9. O JORNALISMO DE MENTIRA .................................................................. 11
10. COMO FUNCIONA O JORNALISMO DE MENTIRA................................. 12
11. A GUERRA VIROU IDEOLÓGICA ............................................................ 15
12. AS FERRAMENTAS DIGITAIS ................................................................. 17
12. ENFRENTANDO AS FAKE NEWS ........................................................... 21
13. OS DESAFIOS DO JORNALISMO DIGITAL ............................................ 22
14. RECUPERANDO A CREDIBILIDADE ....................................................... 24
15. FERRAMENTAS CONTRA AS FAKE NEWS ........................................... 27
16. CONSIDERAÇÕES FINAIS ....................................................................... 31
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ................................................................ 33

6
1. ESCOLHA DO TEMA:

As notícias falsas, que embora não sejam um fenômeno inédito,


expandiram-se e tornaram-se responsáveis por influenciar em diversos
assuntos, como casos policiais e até nas eleições. O jornalismo digital tem pela
frente um grande desafio para combater esse tipo de fenômeno, que ganhou
grande repercussão.

2. PROBLEMATIZAÇÃO

O ambiente virtual e as ferramentas digitais disponibilizadas permitiram


que, praticamente qualquer pessoa se tornasse um comunicador em potencial,
divulgando notícias sem se preocupar com sua veracidade. Como as grandes
empresas de mídia foram influenciadas e estão agindo para que o jornalismo
digital possa concorrer com as notícias falsas e com o desafio do jornalista em
um ambiente em que ele deixa de ser ter o monopólio da notícia e sofre
concorrência potencial de qualquer pessoa?

3. JUSTIFICATIVA

O estudo da influência das Fake News é mundial.


Embora o fenômeno já seja conhecido, foi nos últimos anos que a
discussão ganhou corpo e rendeu análises sobre a sua influência nos rumos de
um país.
Nos Estados Unidos, discute-se como elas foram usadas durante a
campanha eleitoral que elegeu Donald Trump. No Brasil, nas eleições de 2018,
notou-se um aumento nas notícias falsas, espalhadas principalmente por
aplicativos de mensagens instantâneas (WhatsApp), e o vice-presidente do
Superior Tribunal Federal (STF), Luiz Fux, chegou a declarar que uma eleição
que fosse fruto de Fake News poderia até ser anulada, embora a Justiça pouco
tenha interferido nessa questão.
As novas ferramentas de comunicação, que transformam qualquer um
não apenas em receptores, mas propagadores de informações, foram fator
decisivo para que uma notícia falsa “viralizasse”, ou seja, se espalhasse para

7
muitas pessoas, muitas vezes sem possibilidade de que fosse descoberta sua
origem ou identificado o responsável pela sua criação.
Autoridades como parlamentares ou mesmo do Poder Judiciário também
se mostraram, muitas vezes, despreparados para reconhecer uma Fake News
ou mesmo do uso responsável de ferramentas de comunicação, ajudando a
espalhar desinformação por suas redes sociais.
Nesse ambiente, o jornalismo digital é o que mais tem sofrido ataques e
trava uma verdadeira batalha para manter sua credibilidade.

4. OBJETIVO GERAL

• A influência das notícias falsas no jornalismo digital e o papel da imprensa


para recuperar e garantir a credibilidade das notícias.

5. OBJETIVOS ESPECÍFICOS

• O aumento das Fake News no ambiente digital


• Ferramentas usadas para espalhar notícias falsas
• Influência das Notícias Falsas
• Desafios do Jornalismo Digital
• Ferramentas de checagem de notícias e para combater Fake News

6. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

O trabalho se baseia em fontes diversas que publicaram trabalhos


acadêmicos ou literários sobre o fenômeno das Fake News, ao mesmo tempo
em que considera matérias factuais sobre casos ocorridos e também
reportagens de grandes portais de notícias.
Utilizando esses recursos é possível montar um panorama que ilustra o
crescimento das Fake News, principalmente a partir da popularização da internet
e, mais recentemente, as redes sociais, as influências causadas em veículos de
comunicação, no jornalismo digital e nos profissionais da área.

8
7. METODOLOGIA DE PESQUISA

Para realizar esse trabalho, foram considerados autores com trabalhos


publicados sobre o assunto estudado e também fontes diversas em matérias de
jornais, revistas e portais de comunicação.
Seguindo essa metodologia foi possível traçar um paralelo, sempre
amparado nas referências bibliográfica, sobre o surgimento das Fake News na
era moderna, ainda em início do século XX, sua influência antes do surgimento
da internet, até o crescimento e a situação atual, em que governos, empresas
multinacionais e, claro, profissionais da área, reconhecem a importância de
combatê-las.
Para chegar às Considerações Finais do trabalho, foram citadas fontes e
exemplificadas análises sobre Fake News, além de casos de influências em todo
tipo de situação, principalmente no ambiente eleitoral, mais especificamente, nas
últimas eleições brasileiras, em 2018.
Com base nessas dezenas de fontes teóricas e factuais, foi possível
chegar às considerações finais sobre a influência das Fake News no jornalismo
digital e quais os seus desafios para o futuro.

8. INTRODUÇÃO

Embora o termo “Fake News” pareça novo e algo surgido recentemente,


na Era Digital, e se popularizado graças ao alcance das redes sociais como
Facebook e Twitter e por mensageiros instantâneos, como o WhatsApp,
manipular a narrativa com a criação de notícias que não se sustentam quando
são verificadas, é algo que vem de muito tempo antes da popularização da
internet.
A Joseph Goebbels, ministro da Propaganda nazista, é atribuída a frase
“uma mentira repetida mil vezes torna-se verdade”, que teria sido dita,
supostamente, durante o período em que Adolf Hitler foi o Führer (líder) da
Alemanha, entre 1934 e 1945, ou seja, muito antes que a ideia da internet como
conhecemos hoje fosse sequer concebida.
Antes disso, em 1921, o francês Marc Bloch, considerado um dos maiores
historiadores do século XX, no ensaio “Réflexions d’Un Historien Sur les Fausses
Nouvelles de la Guerre” (Reflexões de um Historiador Sobre as Notícias Falsas
9
da Guerra), já fazia uma análise sobre as notícias falsas, como se espalham e a
influência na Primeira Guerra Mundial, disponível em
<https://fr.wikisource.org/wiki/R%C3%A9flexions_d%E2%80%99un_historien_s
ur_les_fausses_nouvelles_de_la_guerre> (acessado em 02/04/2019):
“De todas as questões da psicologia social que os
acontecimentos dos últimos tempos podem ajudar a elucidar,
aqueles relacionados às falsas notícias estão em primeiro
plano. As falsas notícias! Por quatro anos e mais, em todos os
lugares, em todos os países, frente e verso, eles nasceram e
enxamearam; elas perturbaram os espíritos, às vezes
excessivamente excitantes e às vezes caídos. Coragem: sua
variedade, sua estranheza, sua força ainda surpreendem
qualquer um que saiba lembrar e se lembre de ter acreditado.”
Numa infeliz ironia, Bloch viria a ser assassinado pelo regime nazista anos
depois, em 1944.
No Brasil, principalmente em períodos eleitorais, casos de notícias falsas
influenciando nas campanhas ficaram famosos, antes mesmo que elas
pudessem se proliferar por meios digitais.
De acordo com a matéria “Fake News já influenciavam eleições brasileiras
em 1945”, publicada pelo The Intercept Brasil, durante as eleições para a
presidência, no ano de 1945, uma falsa notícia acusou o então candidato
brigadeiro Eduardo Gomes, da União Democrática Nacional, de ter dito em
discurso que “não precisava do voto dos marmiteiros”. A repercussão foi grande
e jornais que eram contrários à sua eleição ajudaram a espalhar a notícia de que
o candidato havia dito não precisar do apoio da classe trabalhadora para chegar
a presidente. Ainda em 1945, Hugo Borghi, um empresário que apoiava o outro
candidato, general Eurico Gaspar Dutra, do Partido Social Democrático, assumiu
em uma entrevista ter inventado a frase sobre marmiteiros. (MAGALHÃES, 2018)
disponível em <https://theintercept.com/2018/02/07/fake-news-ja-influenciava-
eleicoes-brasileiras-desde-1945/> (acessado em 02/04/2019).
Durante os anos, seja em períodos eleitorais ou não, vários outros casos
foram percebidos, documentados e estudados. As Fake News não nasceram na
era digital e nem são novidade, mas foi só quando a internet possibilitou que o
receptor da mensagem tivesse outro papel e que o monopólio da notícia não

10
estivesse mais centrado em grandes veículos de imprensa e tradicionais
empresas de comunicação, é que elas começaram realmente a atrapalhar em
grande escala o jornalismo como conhecemos.

9. O JORNALISMO DE MENTIRA

Embora o jornalismo não seja infalível e livre de cometer erros, como o da


Escola de Educação Infantil Base, apontado como referência na questão em
cursos de jornalismo Brasil afora1, de certo que o as empresas de notícias, em
sua grande maioria, trabalham buscando não cometer deslizes que possam
prejudicar a imagem do veículo, afinal, a credibilidade é um dos principais valores
no ofício do jornalista, assim como a ética e o comprometimento com a verdade.
Até não muitos anos atrás, costumava-se dizer informalmente nas
conversas que “se saiu no Jornal Nacional, então é verdade”, assim como
grandes jornais, como Folha de São Paulo e Estado de São Paulo, gozavam de
imensa credibilidade, conquistadas pelos longos anos de trabalho na área.
Com a popularização da Internet, as grandes empresas começaram a
deixar de ser detentoras da informação e o que se viu foi a multiplicação de
veículos dedicados a esse trabalho, a maioria surgido como pequenos sites de
notícias, muitas vezes, sem o apoio de um jornalista e que apenas replicavam
notícias de grandes portais ou, quando muito, investiam em retratar
acontecimentos da região a que pertenciam. Apesar de estarem disponíveis
online, seu alcance ainda era pequeno e as formas de compartilhar remotas,
muitas vezes por mala direta enviada por e-mail, que muitas pessoas nem
mesmo chegavam a ler.
Com o surgimento das redes sociais, a comunicação foi elevada a um
novo patamar e, se antes era preciso um conhecimento mínimo para programar
um site ou contratar um técnico para isso, qualquer pessoa passou a ter o poder
de criar sua própria “página de notícias”, muitas vezes sem nenhum
comprometimento com a verdade ou sequer aplicando o básico do processo

1
Em 1994, os proprietários da escola e mais quatro funcionários foram acusados de abusar
sexualmente de quatro alunos. O delegado responsável pelo caso determinou a prisão dos
acusados antes do término das investigações e a imprensa, com raras exceções, fez ampla
cobertura parcial do suposto crime. No entanto, com a troca de delegado pouco mais de um
mês após as denúncias, o caso foi arquivado por falta de provas. O casal de proprietários – já
falecidos – moveram processos por danos morais e o caso ficou conhecido como Escola Base.

11
jornalístico e da checagem das informações antes da divulgação.
Esse tipo de “veículo de informação” ajudou a criar casos bizarros, como
o ocorrido em 3 de maio de 2014, quando uma página no Facebook divulgou a
foto de uma pessoa que supostamente estaria sequestrando crianças e usando
em rituais de magia negra, na cidade de Guarujá (SP). Confundida com a mulher
da imagem, Fabiane Maria de Jesus, mulher de 33 anos, foi linchada por
moradores do bairro onde residia e faleceu dois dias depois de ser agredida. A
história do sequestro de crianças nem sequer chegou a ser investigada pela
polícia e tratava-se apenas de boato, disponível em
<http://g1.globo.com/sp/santos-regiao/noticia/2014/05/mulher-espancada-apos-
boatos-em-rede-social-morre-em-guaruja-sp.html> (acessado em 02/04/2019).

10. COMO FUNCIONA O JORNALISMO DE MENTIRA

Em fevereiro de 2017, a Folha de São Paulo divulgou uma extensa


reportagem que tinha o objetivo de mostrar o funcionamento de sites com
conteúdos apelativos, referidos no texto como “fábrica de títulos sensacionalistas
e inverdades”, disseminados pelas redes sociais com o objetivo de faturar com
visitas ao site.
A reportagem, disponível em
<https://www1.folha.uol.com.br/ilustrissima/2017/02/1859808-como-funciona-a-
engrenagem-das-noticias-falsas-no-brasil.shtml> (acessado em 02/04/2019),
detalha o funcionamento de jornais e páginas que formam uma rede que se
retroalimentam, compartilhando os próprios conteúdos e espalhando as notícias.
Com viés ideológico que podem ser de direita, esquerda ou mesmo atacar tudo
e todos, as matérias buscam o sensacionalismo, muitas vezes se baseando em
algum fragmento de fato para distorcer o conteúdo ou o sentido da verdade. O
objetivo, a princípio, era financeiro. “O que une esses sites é a busca por cliques.
No mundo digital, clique é dinheiro”. VICTOR, 2017, citando Beto Silva,
disponível em <https://www1.folha.uol.com.br/ilustrissima/2017/02/1859808-
como-funciona-a-engrenagem-das-noticias-falsas-no-brasil.shtml> (acessado
em 02/04/2019).
A investigação estimou que o Pensa Brasil, maior site da rede investigada
à época da reportagem, teria um faturamento com anúncios entre R$ 100 mil e

12
R$ 150 mil e citou matérias divulgadas com ausência de fontes, como a que diz
que a ex-primeira-dama e esposa do ex-presidente Lula estaria viva e escondida
na Itália; que a Interpol estaria investigando Aécio Neves por tráfico de drogas;
entre outras.
Também é citada a dificuldade de contato com os veículos, o que reforça
a prática de divulgação de textos apócrifos e a demora para que sejam retirados
do ar, em caso de um processo judicial, por exemplo, disponível em
<https://www1.folha.uol.com.br/ilustrissima/2017/02/1859808-como-funciona-a-
engrenagem-das-noticias-falsas-no-brasil.shtml> (acessado em 02/04/2019):
“A maioria dos sites sensacionalistas é registrada fora do país,
não identifica os autores dos textos e não publica expediente,
endereço ou telefone para contato. O Pensa Brasil segue a
cartilha quase à risca. Na seção Quem Somos, diz estar
registrado no Arizona (EUA), avisa que ‘qualquer pessoa que se
sinta ofendida’ deve entrar em contato por e-mail e reproduz
trechos da Constituição sobre acesso à informação, resguardo
do sigilo da fonte e liberdade de expressão.”
Também, de acordo do (SAKAMOTO, 2016, p2. 42):
“Sites anônimos e páginas sem assinaturas, instalados em
servidores fora do Brasil e que, portanto, dificilmente são
processados, já rivalizam com os veículos tradicionais e os
independentes na formação da população conectada. (...) Se por
um lado isso democratiza a comunicação, por outro, facilita a
divulgação de conteúdo sem arcar com a responsabilidade por
ele.”
Os idealizadores destes tipos de veículos de comunicação sabem que o
sensacionalismo é o que atrai visitas para seus sites e páginas. Na maioria dos
casos, não são formados em comunicação e, muito menos jornalistas, sem
experiência na área ou mesmo passagem pelo mercado de trabalho.
Alberto Júnio da Silva, “Beto Silva”, responsável por várias das páginas
citadas na reportagem da Folha de São Paulo, é um dos entrevistados. Sua
alegada formação em Comunicação Social/Publicidade é desmentida pela

2
Os livros usados para o trabalho foram as versões virtuais, encontradas no Kindle. No serviço, não há
paginação e sim “posição” onde a referida citação é encontrada. Todos os livros deste trabalho seguem
esse padrão.

13
Faculdade Anhanguera de Campinas, já que seu cadastro não consta na
instituição, e suas afirmações demonstram como o objetivo de seu trabalho nada
tem a ver com o do jornalista. “Quem tem de saber o que é verdade ou mentira
é quem lê a matéria”, afirma à reportagem, disponível em
<https://www1.folha.uol.com.br/ilustrissima/2017/02/1859808-como-funciona-a-
engrenagem-das-noticias-falsas-no-brasil.shtml> (acessado em 02/04/2019),
usando como justificativa um modelo de mídia sensacionalista dos EUA e
Europa:
“É, a gente corre esse risco (de publicar notícia falsa). Todo
mundo corre. Somos passíveis de erros (...) O problema vai ser
de quem está me tachando de 'Fake News'. Minha preocupação
é com meus milhares de leitores – eles é que me dão o feedback
correto.”
Como argumento, Beto Silva busca justificar-se com um suposto
subjetivismo da verdade, alegando que é uma questão de pontos de vista.
"Acredito que a verdade não existe. Isso é o meu ponto de vista.
Existe o ponto de vista da Folha, cada um tem o seu. Quantas
vezes os veículos de comunicação no Brasil tiveram que se
retratar? Porque não existe uma verdade absoluta”.
Por fim, Beto aponta algo que, se no início de 2017 já se apresentava
como preocupante para o jornalismo profissional, se intensificaria nos meses
vindouros:
“O problema é que, no Brasil, os pequenos sites se aventuraram
a navegar pelo marketing digital para ganhar uma grana e
começaram a sobressair em relação às grandes mídias,
simplesmente por copiar o modelo de fazer notícia de uma forma
sensacionalista.”
HEZROM & MOREIRA (2018, p. 540) ratificam:
“Cada vez mais o jornalismo também é construído por mídias
alternativas e outras formas recentes de fazer um conteúdo
circular. Questões minoritárias ganharam mais espaço e, mais
que isso, as redes sociais foram pontos chave do impacto, por
exemplo, das Manifestações de Junho em 2013, período
marcado por uma onda de protestos de insatisfação política e
reinvindicação de direitos, que se espalhou por várias cidades

14
brasileiras e mobilizou milhares de pessoas.”
A grande questão, no entanto, não é a disputa diária de grandes veículos
com páginas apócrifas sensacionalistas e, sim, o ataque à credibilidade desses
veículos e o crescimento de notícias falsas.

11. A GUERRA VIROU IDEOLÓGICA

Como se pode observar pelo capítulo anterior, os sites que divulgavam


notícias falsas surgiram com o objetivo de ganhar dinheiro e, de forma ainda
caótica, apelavam para títulos sensacionalistas como forma de atrair público. Aos
poucos, as estratégias foram ficando mais elaboradas e os sites mais
direcionados a determinados assuntos, em sua grande maioria, posicionamentos
políticos. A ideologia passou a ser um fator importante para o sucesso dos
veículos de notícias falsas.
Isso, a princípio, por conta da força que uma notícia dessa natureza tem
para gerar compartilhamentos. Mas recentemente, tanto nos EUA como na
última eleição brasileira, as notícias falsas foram usadas com grande intensidade
durante o período eleitoral e ainda se estuda qual a influência que tiveram na
eleição de Donald Trump e Jair Bolsonadora, respectivamente. (SAKAMOTO,
2016, p. 57)
“Uma parte desse conteúdo serve como munição para uma
guerra suja virtual por corações e mentes – você pode não ver,
mas ela está aí. Monstro que foi estupidamente alimentado pelos
dois mais importantes partidos políticos brasileiros durante as
eleições presidenciais de 2014, mas que está presente em todo
o mundo.”
Mas por que as notícias falsas se espalham com tanta facilidade e, muitas
vezes, com mais eficiência do que uma notícia verdadeira?
Um estudo de 2016 do site BuzzFeed, apontou que as dez notícias falsas
sobre a Operação Lava Jato geraram engajamento de 3,9 milhões no Facebook,
enquanto que as dez verdadeiras alcançaram apenas 2,7 milhões. Disponível
em <https://www.buzzfeed.com/br/alexandrearagao/noticias-falsas-lava-jato-
facebook> (acessado 02/04/2019).
Em entrevista à BBC News Brasil, o psiquiatra e diretor da Associação

15
Brasileira de Psiquiatria, Claudio Martins, explicou que compartilhar uma notícia,
ainda que falsa, mas que reforce a crença em que a pessoa acredita, tem um
efeito semelhante à sensação causada por alguns tipos de drogas ao cérebro.
Disponível em <https://www.bbc.com/portuguese/brasil-45767478> (acessado em
02/04/2019):
"Quando a pessoa recebe uma notícia que a agrada, são
estimulados os mecanismos de recompensa imediata do
cérebro e dão uma sensação de prazer instantâneo, assim como
as drogas. Ocorre uma descarga emocional e gera uma
satisfação imediata.”
Sobre a questão política/ideológica, ele também afirmou:
"O ser humano tem essa tendência a buscar essas crenças,
mágicas. Quando ele recebe correntes de pensamento político,
incorpora aquilo como uma verdade absoluta, amplia e divulga
para reforçar sua satisfação. Ele usa o mecanismo para
compartilhar sem pensar.”
Também comenta sobre isso SAKAMOTO (2016, p. 42):
“Para muitos leitores, não há mesmo diferença entre um meme
de origem duvidosa, uma denúncia anônima no WhatsApp e
uma reportagem extremamente bem apurada. Quando um
conteúdo vai ao encontro do que eles acreditam, não se
importam com a veracidade do fato. Abraçam o argumento e
compartilham-no, alimentando a tal rede.”
Dessa forma, o que se observa é que o fato de encontrar uma notícia com
que concorde ou que reforce o seu posicionamento político ou ideológico é um
dos principais motores para que as Fake News se espalhem com grande
velocidade, repetindo também um “comportamento de manada” que, aplicado
aos seres humanos, significa um grande número de pessoas seguindo um
influenciador para continuar pertencendo ao grupo, conforme explica o professor
da Universidade Federal de Minas Gerais, Fabrício Benevenuto, citado por
GRAGNANI, disponível em <https://www.bbc.com/portuguese/brasil-42243930>
(acessado em 04/04/2019):
"Se muitas pessoas compartilham uma ideia, outras tendem a
segui-la. É semelhante à escolha de um restaurante quando
você não tem informação. Você vê que um está vazio e que outro

16
tem três casais. Escolhe qual? O que tem gente. Você escolhe
porque acredita que, se outros já escolheram, deve ter algum
fundamento nisso."
Se antes eram utilizadas para obter visitas e gerar renda para sites
apócrifos, a estratégia foi adotada por políticos das mais diversas esferas em
épocas de campanha.

12. AS FERRAMENTAS DIGITAIS

Se as fake News foram uma estratégia adotada por sites para garantir
visitas e aumentar a receita, foi com a popularização das redes sociais que elas
ganharam verdadeira capacidade “viral”, ou seja, de se espalharem
rapidamente, cometendo estragos, denegrindo pessoas e direcionando as
opiniões nos debates públicos.
O Facebook e o Twitter são dois dos canais mais utilizados para esses
fins, segundo análise da Diretoria de Análise de Políticas Públicas da Fundação
Getúlio Vargas – FGV/DAPP, “Robôs, redes sociais e política no Brasil”,
publicado em agosto de 2017 sob coordenação de Marco Aurélio Ruediger.
(RUEDIGER, 2017).
Na publicação, a FGV/DAPP estuda o funcionamento e a influência dos
“robôs” ou “bots” que se espalharam na internet utilizados principalmente para
favorecer ou atacar algum candidato.
Um bot é um perfil em uma rede social controlado por um programa de
inteligência artificial, programado para reagir a palavras chaves ou compartilhar
informações sobre determinado assunto ou pessoa, interagindo em perfis de
pessoas reais e se passando como tal. (RUEDIGER, 2017, p3. 6):
“Nas discussões políticas, os robôs têm sido usados por todo o
espectro partidário não apenas para conquistar seguidores, mas
também para conduzir ataques a opositores e forjar discussões
artificiais. Eles manipulam debates, criam e disseminam notícias
falsas e influenciam a opinião pública postando e replicando
mensagens em larga escala. Comumente, por exemplo, eles

3
Neste caso o número de paginação segue o tradicional, já que a obra está disponível online, mas não
pelo serviço do Kindle.

17
promovem hashtags que ganham destaque com a massificação
de postagens automatizadas de forma a sufocar algum debate
espontâneo sobre algum tema”.
Empresas também investiram na criação de perfis falsos manipulados por
pessoas reais, mas apenas para fins políticos. De acordo com reportagem da
BBC Brasil, uma pessoa poderia ser responsável por dezenas de perfis nas
redes sociais e passava o dia postando em cada um deles. A princípio, postagens
cotidianas como comentários sobre o dia a dia, para, só então, no período
eleitoral, intensificarem as postagens políticas apoiando ou atacando
determinado candidato. Disponível em <https://www.bbc.com/portuguese/brasil-
42172146> (acessado em 04/04/2019).
Nem os bots e nem os perfis falsos, necessariamente, utilizam notícias
falsas como principal conteúdo, embora no caso dos bots, o sistema
automatizado impede que seja feita uma análise sobre a veracidade da
informação, o que ajuda na proliferação de qualquer tipo de notícia que se
enquadre em suas diretrizes pré-estabelecidas. Já no segundo caso, o tipo de
notícia compartilhada deveria ser pautada pela ética, mas como o trabalho é
baseado em criar perfis de pessoas que não existem, apenas para beneficiar ou
prejudicar algum candidato, não há nada que impeça o uso de Fake News, como
foi observado nas últimas eleições brasileiras.
No país, no entanto, uma terceira ferramenta foi utilizada para influenciar
o debate e, muito provavelmente, tenha sido a mais influente: o WhatsApp,
aplicativo de mensagens instantâneas.
Bastante popular, ele é ferramenta digital de troca de mensagens mais
utilizada no Brasil, com cerca de 120 milhões de usuários em 2018 (a população
brasileira é estimada em 209 milhões). Disponível em
<https://www1.folha.uol.com.br/tec/2018/07/facebook-chega-a-127-milhoes-de-
usuarios-mensais-no-brasil.shtml> (acessado em 04/04/2019).
Na última eleição, o WhatsApp se mostrou fundamental no processo de
divulgação de Fake News, principalmente por conta da sua política de
privacidade de usuário, que impossibilita quebrar o sigilo de algum grupo ou da
troca de mensagens e já gerou diversos debates na esfera jurídica,
principalmente nos Estados Unidos, de onde o aplicativo é originário. No Brasil,
a ferramenta já chegou a ser suspensa por não permitir acesso às conversas

18
privadas e sofrer questionamentos na Justiça. Disponível em
<https://www.tecmundo.com.br/whatsapp/117364-whatsapp-diz-inviolavel-
policia-federal-retruca-aplicativo-stf.htm> (acessado em 04/04/2019).
Um detalhe importante, mas que não deve ser ignorado quando se fala do
compartilhamento das notícias falsas por meio do WhatsApp, é sobre os planos
de internet móvel de algumas operadoras de telefonia no país, que oferecem
acesso ilimitado ao aplicativo, mesmo quando a franquia de internet do usuário
já está esgotada, o que gera um efeito colateral não planejado, já que, dessa
forma, muitas pessoas que recebem notícias falsas pelo mensageiro, não tem a
possibilidade de acessar o conteúdo, quando enviada por um link, ou mesmo de
verificar a veracidade da informação, já que estão condicionados a acessar
apenas as mensagens dentro do WhatsApp, conforme pontua Yasodara
Córdova, pesquisadora-sênior sobre desinformação e dados na Digital Harvard
Kennedy School, citada em matéria da BBC, disponível em
<https://www.bbc.com/portuguese/brasil-47547772> (acessado em 06/04/2019).
"No Brasil, 60% dos celulares são pré-pagos e têm acesso grátis
a essas redes sociais, oferecido pelas operadoras [que não
descontam do pacote de dados o acesso a esses serviços].
Então, essas pessoas que usam pré-pago ficam rendidas a
essas fontes de informação e interação."
Dentro dos grupos montados para apoiar candidatos, o tráfego de Fake
News é grande e costuma ser acompanhada de mensagens que prometem
combater a mídia tendenciosa, representada pelos veículos de comunicação
tradicional, muitas vezes caracterizados como esquerdistas ou comunistas, no
campo ideológico mais conservador; e de fascista ou até nazista, no campo mais
progressista. (FILGUEIRAS, 2018, p. 129)
“Inúmeras foram as vezes em que, nessa crise política brasileira,
recebemos comentários de leitores que nos acusavam de
esquerdistas, quando outros nos chamavam de fascistas em
relação a uma mesma matéria. Isso porque quem lê da
perspectiva da direita, achou o texto da direita, achou o tempo
muito à esquerda e vice-versa. Por mais que nós, repórteres,
façamos o esforço de não sermos tendenciosos, sempre
sofreremos com críticas de um lado ou de outro por dar voz ao
‘inimigo’.”

19
Principais interessados em manter a credibilidade e alertar os usuários
sobre Fake News, vários jornais tradicionais dedicaram inúmeras matérias ao
assunto, como o El País, que produziu uma reportagem, em 2018, relatando a
experiência da equipe depois de três semanas em grupos de WhatsApp a favor
do então candidato a presidente, Jair Bolsonaro, para realizar um diagnóstico de
como atuavam as Fake News dentro desses grupos. Disponível em
<https://brasil.elpais.com/brasil/2018/09/26/politica/1537997311_859341.html>
(acessado em 06/04/2019):
“Difusão de mentiras camufladas como notícias, vídeos que
tentam desmentir publicações negativas da imprensa,
desconfiança das pesquisas e falsos apoios de celebridades à
candidatura Jair Bolsonaro. Assim funcionam no aplicativo de
mensagens WhatsAapp uma amostra de grupos públicos de
eleitores do presidenciável do PSL.”
Nesse período, a reportagem identificou o grande número de notícias
falsas circulando entre os militantes, algumas delas divulgadas por pessoas
públicas, como a jornalista e atual líder do governo no Congresso, Joice
Hasselmann, que afirmou que um veículo de comunicação famoso (que muitos
concluíram que se tratava da revista Veja) haveria recebido R$ 600 milhões para
atacar o candidato Bolsonaro.
O WhatsApp, de acordo com reportagem da Folha de São Paulo, ainda
seria alvo de outra polêmica durante a campanha. Na matéria “Empresários
bancam campanha contra o PT pelo WhatsApp”, o jornal afirma que empresários
estariam “comprando pacotes de disparos em massa de mensagens contra o PT
no WhatsApp”, uma prática ilegal e que envolveria grandes empresas, como a
Havan, cujo proprietário, Luciano Hang, fez campanha aberta por Bolsonaro,
chegando a ser multado por isso, em gastos que chegariam a R$ 12 milhões, de
acordo com a apuração. Disponível em
<https://www1.folha.uol.com.br/poder/2018/10/empresarios-bancam-
campanha-contra-o-pt-pelo-whatsapp.shtml> (acessado em 06/04/2019),
A ala de apoio ao candidato reagiu ferozmente e a jornalista responsável
pelo texto, Patrícia Campos Mello, passou a ser atacada pelas redes sociais e
receber ameaças telefônicas, além de se tornar alvo de notícias falsas
envolvendo seu nome.

20
O uso de Fake News na campanha não foi exclusividade de um partido
ou grupo, mas uma estratégia adotada no ambiente político com raras exceções.
Em comum, no entanto, quase sempre o mesmo inimigo, além do candidato
opositor: a imprensa.
A grande maioria de participantes dos grupos que militavam pela
candidatura de um ou outro eram a favor de banir quem questionasse a
“verdade” apresentada pelo grupo, mesmo que a imprensa tradicional e séria a
desmentisse ou, como no caso da reportagem de Patrícia, na Folha,
desagradasse.
Infelizmente, a estratégia não foi usada apenas na campanha e, tal qual
o presidente americano, Jair Bolsonaro, já empossado presidente do Brasil, com
frequência se refere a notícias que o desagradem como Fake News, atacando a
grande mídia e fazendo do Twitter pessoal o canal oficial de comunicação. “(...)
estamos em meio a uma onda de difamação da mídia, útil para os políticos que
veem a imprensa como ameaça” (FILGUEIRAS, 2018, p. 142).
Apontam HEZROM & MOREIRA (2018, p. 738), citando Bruce
Mccomiskey, autor de “Pós-verdade, Retórica e Composição:
“(...) aqueles comunicadores que utilizam a comunicação para
induzir ao erro o fazem pois conhecem a verdade, fatos e
realidade. Nesse sentido, a comunicação não é comprometida
por conta de ‘mercenários’ da comunicação, como afirma
Maccomiskey: ‘Os retórios precisam reconhecer a verdade para
enganar por meio de falácias e eles precisam entender a
realidade e manipulá-la por meio da linguagem ambígua’.”

12. ENFRENTANDO AS FAKE NEWS

Identificadas como um problema e com grande potencial de influenciar


eleições, promover linchamentos virtuais e até reais, além de desacreditar a
imprensa e os profissionais do ofício, algumas ferramentas surgiram na intenção
de ajudar na luta contra as fake News.
Poucos meses antes do início do período eleitoral o presidente do Tribunal
Superior Eleitoral (TSE), ministro do Superior Tribunal Federal (STF), Luiz Fux,
alegou que o uso de perfis falsos usados para promover candidatos seria

21
exemplarmente punido. Disponível em <https://www.bbc.com/portuguese/brasil-
42360574> (consultado em 10/04/2019).
Já no período eleitoral, antes da eleição do segundo turno, um grupo de
sites, cuja especialidade é realizar a checagem de notícias, o fact-checking,
apresentou um documento ao TSE com propostas para aprimorar o trabalho de
apuração.
A maioria dos sites continua em atividade, como a Agência Lupa, que se
diz a primeira empresa especializada em fact-cheching no Brasil; e Aos Fatos,
que firmaram parceria com o Facebook Brasil no período eleitoral para realizar
a checagem de notícias divulgadas na plataforma, algo que foi criticado por
alguns grupos, como o Movimento Brasil Livre (MBL). Disponível em
<https://catracalivre.com.br/cidadania/grupos-atacam-agencias-checagem/>
(acessado em 10/04/2019).
Também se destacam no ambiente de desmentir as notícias falsas, sites
como o Boatos.org e o E-farsas, portal criado em 2002 pelo analista de sistemas
Gilmar Henrique Lopes, que, apesar de não ser jornalista de ofício, realiza um
trabalho reconhecido na internet desde esse período, a pontos dos dois sites
terem se juntado às agências de checagem no grupo que apresentou propostas
ao TSE no ano passado.

13. OS DESAFIOS DO JORNALISMO DIGITAL

Como detalhado nos capítulos anteriores, o jornalismo como um todo


sofre uma grave crise de credibilidade, não por conta do trabalho das empresas
e dos profissionais que atuam na área, mas devido às facilidades que as
ferramentas digitais trouxeram para que qualquer pessoa pudesse se tornar uma
“fonte de notícias”, em muitos casos, sem o menor compromisso com a ética e
responsabilidade com a verdade, coisas que são fundamentais para os
jornalistas e comunicadores.
As Fake News, embora não sejam novidade, têm sido uma ferramenta
importante no trabalho de desmoralização da mídia, principalmente por grupos
que sabem a importância e o papel que uma imprensa forte e independente
desempenha na manutenção da democracia.

22
“O compromisso fundamental do jornalista é com a verdade no relato dos
fatos, razão pela qual ele deve pautar seu trabalho pela precisa apuração e pela
sua correta divulgação”, aponta o Código de ética do jornalista brasileiro, Art 4º,
Capítulo III.
Vale destacar que o jornalista não é o dono da verdade e nem está livre
de cometer erros, mas, por conta do ofício, trabalha com ferramentas que o
permitam apurar fatos e chegar a um resultado condizente com a realidade.
Segundo HEZROM & MOREIRA (2018, p. 439), “a verdade jornalística,
nessa perspectiva, precisa ter correspondência com a realidade, ser coerente
com o contexto o qual foi publicada, e, ao mesmo tempo, trazer algum benefício
à sociedade”.
O trabalho de apuração de informações, busca de fontes e checagem de
fatos, práticas inerentes ao jornalismo, muitas vezes é deixado em segundo
plano ou feito superficialmente, pois o imediatismo trazido pela internet faz com
que o jornalista, muitas vezes, viva em uma corrida constante, sabendo que “ficar
para trás” e perder o grande furo do momento pode custar caro à sua carreira.
A concorrência, que antes era de veículos de comunicação ou
profissionais da área, passou a ser de qualquer pessoa com acesso à internet,
e transformou o jornalismo digital em refém de sua própria natureza: ao mesmo
tempo em que busca trazer notícias atualizadas antes de qualquer outro
concorrente, corre o risco de “pular etapas” na apuração e ser, ele próprio, vítima
de uma notícia falsa, abalando perante seu público a credibilidade do veículo.
(HEZROM & MOREIRA, 2018, p. 517)
“O jornalismo está ‘em crise’. Cada vez mais a procura em banco
de dados e o imediatismo ganham espaço no lugar do tempo
que antes era dedicado a conseguir/manter fontes e a verificar
fatos. A mídia tem se baseado no que todo mundo anda falando
em determinado momento, enquanto o público tem se baseado
em conteúdos por indicações de amigos.”
No entanto, a busca pela divulgação rápida de uma notícia não pode
ignorar os princípios básicos do jornalismo, dentre eles, uma apuração precisa,
que diminua ao máximo o risco de chance de veiculação de informações
incorretas, o que custaria caro à credibilidade não só do jornalista, como também
da empresa que ele representa e, principalmente, a um possível alvo de

23
desinformação.
Destaca SAKAMOTO (2016, p. 650):
“Se ele ou ela fizer o trabalho direitinho e checar tudo conforme
manda o figurino, pode ser ultrapassado pelo concorrente que
não chegou e simplesmente replicou. Ou pelos leitores munidos
de suas contas de Facebook, Twitter, Instagram e WhatsApp,
que não têm a mesma preocupação com ética na circulação de
notícias. Ou querem intencionalmente ver o circo pegar fogo.
No limite, pode ser criticado dentro da redação, cobrado pelo
atraso e até dispensado por não se ‘encaixar’ na empresa.”
O desafio do jornalismo digital, em tempos em que a internet traz
facilidades, concorrência e riscos diversos para o trabalho dos profissionais,
passa por encontrar maneiras de se aproximar da sociedade e oferecer
ferramentas para lutar contra as Fake News que, como detalhado, são
ferramentas importantes usadas por grupos que buscam assumir o domínio da
narrativa e impedir que a população seja bem informada.

14. RECUPERANDO A CREDIBILIDADE

Conforme discutido no capítulo anterior, são muitos os desafios do


jornalismo como um todo, mas principalmente, do digital, que cresceu bastante
nos últimos anos e além de enfrentar a momentaneidade da internet, que quase
“obriga” o profissional a estar online o tempo todo e traz mais riscos no trabalho
de apuração, já que é algo que demanda tempo, ele também enfrenta o
fenômeno das Fake News, que conseguem, como nunca antes visto na História
da comunicação, rivalizar com as notícias verdadeiras, como já demonstrado em
capítulos anteriores.
Uma imprensa forte e independente é uma das importantes ferramentas
para garantir a manutenção da democracia e o direito dos cidadãos de serem
bem informados. Mas como recuperar a credibilidade do jornalismo, colocada
em xeque pelas Fake News, mas, também, resultado de anos de desmoralização
causados por erros cometidos por jornalistas, muitas vezes apoiados em
arrogância das empresas e comunicadores? Conforme aponta FILGUEIRAS
(2018, p. 142):

24
“Ao longo do tempo, enquanto nossas credenciais de jornalista
ainda bastavam para que uma parte do público acreditasse no
que escrevíamos, as empresas e os profissionais cometeram
erros que levantaram a desconfiança do consumidor. Cada um
desses erros – como interesses comerciais acima de editorias
(sim, por uma questão de sobrevivência, às vezes), ou
problemas com a apuração, prejudicaram os outros inúmeros
acertos da imprensa. O jornalismo é imperfeito. Sempre
cometerá erros. Faz parte do jogo. Mas precisa aperfeiçoar a
forma como lida com eles e desarmar o discurso que se forma
para desacreditá-lo.”
Em março de 2019, a BBC News Brasil realizou o seminário “Beyond Fake
News – Em Busca de Soluções”, cujo o objetivo era justamente o de discutir o
avanço da desinformação no Brasil e no mundo.
Com a participação de especialistas de diversas áreas, o seminário
discutiu vários pontos da desinformação e maneiras com que o jornalismo pode
lidar para recuperar a credibilidade diante o público, como criar o hábito nos
próprios leitores/espectadores de verificar a veracidade das notícias, como
também evoluir o modelo de comunicação para que seja mais atraente para os
consumidores, conforme destaca matéria da BBC, disponível em
<https://www.bbc.com/portuguese/brasil-47547772> (Acesso em 15/04/2019)
“Para um grupo de cinco jornalistas, pesquisadores e
influenciadores digitais reunidos pela BBC News Brasil no
seminário ‘Beyond Fake News - Em Busca de Soluções’, a
resposta passa por educar melhor os leitores, de um lado, e por
tornar conteúdo da imprensa mais atraente, mantendo a
credibilidade.”
SAKAMOTO (2016, p. 57 e 70) também reforça a importância de munir os
receptores das notícias com ferramentas para que possam descartar notícias
falsas por conta própria, o que se inicia com um projeto educacional:
“Nesse mundo em que todos têm acesso a ferramentas de
comunicação de massa, mas nem todos se importam com a
qualidade do conteúdo que recebem e divulgam, em que se quer
discutir, mas não se conhece os ritos do debate, a educação
para a mídia ganha importância.
Educação para a mídia não é uma ferramenta para a censura.

25
Significa preparar as pessoas para selecionar e interpretar
conteúdo e, ao mesmo tempo, produzir e veicular conteúdos
com responsabilidade. (...) Acredito que um dos grandes
desafios dos próximos anos seja fomentar o sentimento de
responsabilidade em quem produz, lê e compartilha
informações.”
A tarefa, que não é simples, deve começar com o bom senso dos
profissionais de imprensa, que devem resgatar os valores básicos do jornalismo
e as principais ferramentas para garantir a credibilidade e uma margem
absolutamente baixa de erros de qualquer natureza. Só assim, é possível iniciar
um trabalho e fornecer ferramentas para que as demais pessoas, que não vivem
do ofício da comunicação, sejam capazes de interpretar as notícias por si
mesmas, conforme escreve FILGUEIRAS (2018, p. 155):
“(...)nós, jornalistas, devemos encarar o trabalho com uma
seriedade que pode ser confundida até com caretice. Talvez seja
preciso desacelerar as produções insanamente rápidas que
correm para ser as primeiras na web para priorizar a precisão.
Outro ponto a destacar é que, dentro dos ciclos históricos do
jornalismo, que ora valoriza opinião, ora prefere informação
imparcial, teremos que distinguir mais que nunca uma da outra.
A confusão entre ambas pode se tornar mais uma arma contra
nosso trabalho.”
Ou seja, conforte aponta, também é preciso educar os consumidores para
que eles possam ser capazes de identificar o que é uma notícia factual, o que é
uma reportagem investigativa, o que é um artigo opinativo, entre outros.
A autora ainda cita uma situação enfrentada pelo tradicional jornal norte-
americano Washington Post, em novembro de 2017. Na ocasião, o Project
Veritas4 tentou aplicar um golpe no jornal, para em seguida acusá-lo de divulgar
Fake News, mas o periódico foi salvo pelo bom senso dos jornalistas envolvidos
no caso, que desconfiaram da suposta vítima de assédio de um senador
republicano e foram capazes de desmascará-la, o que resultou em uma
reportagem que expôs as más intenções do Veritas. “O senso crítico dos
repórteres resultou em perguntas incisivas que confundiram a falsa fonte. Tanto

4
Liderado pelo ativista político conservador americano James O’Keefe, o grupo surgiu com a promessa
de lutar contra a corrupção, e realiza um trabalho focado em desacreditar a mídia progressista ou liberal.

26
a paciência e o rigor para averiguar os fatos, como a ética na lida com a situação,
salvaram o Post de um vexame” (FILGUEIRAS, 2018, p. 159).

15. FERRAMENTAS CONTRA AS FAKE NEWS

Embora o capítulo anterior discuta a responsabilidade dos jornalistas na


recuperação da credibilidade da mídia e também na educação para que as
pessoas sejam cada vez mais capazes de identificarem por conta as falsas
notícias, não se deve ignorar o fato de que, com poucas exceções, o jornalista
não passa de um representante de um veículo de comunicação, que também
não pode deixar de assumir seu papel nesse trabalho.
Também é importante definir que, atualmente, principalmente para o
jornalismo digital, quando falamos em veículos de comunicação, é preciso
considerar os gigantes das redes sociais, como Facebook, Twitter, YouTube,
entre outros; que embora não sejam necessariamente produtores de conteúdo,
são as ferramentas por onde trafegam as notícias e não se pode ignorar a
responsabilidade dos mesmos com o material divulgado nesse ambiente virtual.
(FILGUEIRAS, 2018, p. 208):
“Empresas como Facebook e o Google têm investido na
programação de algoritmos que filtram notícias falsas. No
entanto, a estratégia tem se mostrado falha. As tentativas das
gigantes tecnológicas de remediar um fenômeno que elas
potencializam não têm funcionado bem até o momento.”
Ainda em 2018, depois de suspeitas de que o grande volume de Fake
News divulgado teria influenciado a eleição americana, além de outros países,
algumas dessas gigantes começaram a buscar formas para tentar contar a
proliferação das notícias falsas e boatos.
Em 2018, o Facebook tomou uma série de medidas e lançou diversas
ferramentas para combater as Fake News no Brasil.
Passou a financiar as Agências de Checagem de Fatos Lupa e Aos Fatos,
que são vinculadas à International Fact-Checking Network (Rede Internacional
de Checagem de Fatos) e verificam a veracidade de posts compartilhados na
plataforma, sendo que as identificadas como falsas não podem ser
impulsionadas e deixam de ser distribuídas de forma orgânica.

27
Dentre outras ferramentas, também desenvolveu uma tecnologia de
inteligência artificial para ajudar na checagem de vídeos e imagens e auxiliar o
trabalho das Agências de Checagem de Fatos; passou a oferecer um tipo de
denúncia específica para Fake News, que preserva a identidade do denunciante
e que, segundo a empresa, conta com cerca de 15 mil pessoas revisando os
conteúdos denunciados; remoção de páginas e que promovam notícias falsas5
e perfis falsos; lançou um botão de contexto, que dá mais detalhes sobre as
notícias compartilhadas e busca ajudar o usuário, oferecendo links sobre o
mesmo assunto, a avaliar a veracidade da notícia.
Já no início de abril de 2019, o Estadão Verifica também passou a integrar
o programa de verificação de fatos do Facebook no Brasil, para identificar
notícias falsas, segundo explica a matéria, disponível em
<https://politica.estadao.com.br/blogs/estadao-verifica/estadao-verifica-fecha-
parceria-com-facebook-para-checar-conteudo-falso-na-rede-social/> (acesso
em 25/04/2019):
“Ao trabalhar com conteúdo do Facebook, os jornalistas
do Estadão Verifica terão acesso a uma lista de publicações
sinalizadas como potencialmente enganosas por usuários e pelo
próprio sistema de detecção de anomalias da rede social. Após
o processo de checagem, a postagem pode ser enquadrada em
uma entre nove categorias, incluindo ‘falso’, ‘misto’, ‘título falso’
e ‘verdadeiro’.
A partir dessa triagem, conteúdos marcados como falsos têm
exposição reduzida em até 80% no feed de notícias dos usuários
da rede. Além disso, páginas que postam repetidamente
conteúdo enganoso têm seu alcance diminuído de forma
geral. Usuários e administradores de páginas com publicações
marcadas como ‘falso’, ‘mistura’ e ‘título falso’ recebem
notificações do Facebook. Um aviso também é enviado a quem
quiser postar um conteúdo que tiver sido sinalizado como
enganoso anteriormente.”

5
Em julho de 2018, o Facebook removeu 197 páginas e 87 perfis brasileiros, sob a justificativa de que se
tratavam de páginas e perfis que pertenciam a uma rede coordenada para espalhar desinformação, a
maioria ligadas ao MBL (Movimento Brasil Livre), que acusou a empresa de perseguição ideológica.

28
Além do Facebook, o Twitter, que assim como o Facebook tem perdido
adesão, mas ainda conta com cerca de 335 milhões de usuários ativos, anunciou
um recurso para que usuários possam denunciar Fake News em processos
eleitorais. A ferramenta, anunciada no dia 24 de abril de 2019, foi lançada um
dia depois na Índia e em seguida chegou ao Reino Unido, países que terão
disputas eleitorais em breve. A empresa anunciou que durante o ano ela estará
disponível para outros países, seguindo o cronograma de preferência dos que
têm eleições programadas, conforme explica matéria disponível em
<https://canaltech.com.br/redes-sociais/twitter-adicionara-recurso-contra-fake-
news-de-eleicoes-137837/> (Consultado em 27/04/2019): “
“A política do Twitter proíbe que usuários usem a plataforma
para manipular eleitores ou interferir nas eleições. A empresa
detalhou alguns casos que violam essas regras: tweets
contendo informações erradas sobre como votar ou como se
registrar para votar e tweets dizendo que os usuários podem
votar via mensagem de texto.”
Antes disso, ainda em 2018, a empresa já tinha informado que removera
contas informatizadas, os “bots”, que espalhavam desinformação pela rede.
Já o YouTube, plataforma de compartilhamento de vídeos de propriedade
da gigante Google, anunciou no ano passado (2018) algumas ações para
combater Fake News, como fornecer mais contexto para pesquisas no site sobre
acontecimentos recentes, oferecendo um link que leve a um site confiável com
uma notícia sobre o caso (exclusivo apenas para os Estados Unidos até o
momento); uma sessão inicial chamada Breaking News, com destaque para
vídeos de notícias produzidos por canais jornalísticos confiáveis; além de
anunciar o investimento de 25 milhões de dólares nas áreas inovação e suporte,
consideradas fundamentais para combater Fake News; e também trabalhar com
youtubers populares para desenvolver palestras e cursos virtuais buscando
capacitar as pessoas para identificar por conta própria notícias falsas, conforme
informações disponíveis em <https://olhardigital.com.br/noticia/youtube-anuncia-
medidas-para-combater-teorias-da-conspiracao-e-fake-news/77305>
(Consultado em 27/04/2019).
Em março deste ano (2019), o YouTube também anunciou que passará a
trabalhar com agências de checagem de notícias e mostrar painéis de

29
informação sobre temas pesquisados na plataforma e que, segundo a própria,
sejam passíveis de desinformação, conforme matéria disponível em
<https://canaltech.com.br/redes-sociais/youtube-testa-ferramenta-para-alertar-
os-usuarios-sobre-fake-news-134275/> (Consultado em 27/04/2019), que traz
informações sobre a ferramenta, ainda em testes apenas na Índia:
“Para que o projeto funcione, a Google fechou contratos de
parceria com quase uma dezena de agências de fact checking
da Índia, que irão fornecer as informações que serão
apresentadas nesses painéis. Além disso, muitas dessas
agências já trabalham com o Facebook para coibir a proliferação
de notícias falsas na rede social de Zuckerberg, então são
organizações que já estão há algum tempo no combate às
teorias da conspiração e Fake News.”
O WhatsApp, que é de propriedade do Facebook, também adotou
medidas para tentar diminuir a divulgação de Fake News. No início de 2019, a
empresa restringiu ainda mais o encaminhamento de mensagens para
indivíduos ou grupos. O recurso já havia sido limitado para apenas 20 contatos
no ano anterior e passou a ser para apenas cinco desde então.
Já no início de abril deste ano (2019), o WhatsApp lançou na Índia um
recurso para classificar mensagens pelo mensageiro como verdadeiras, falsas
ou enganosas. Além disso, um recurso de busca reversa de imagens, que
poderão ser verificadas pelo Google, também já foi identificado na plataforma,
mas segue sem data de lançamento.
Na Espanha, às vésperas da eleição marcada para o dia 28 de abril, os
canais oficiais de importantes partidos no país tiveram suas contas no WhatsApp
suspensas, segundo comunicado da empresa, por terem desrespeitado os
Termos de Serviços impostos pela empresa.
De acordo com matéria divulgada pelo El País, “O Facebook afirma que
deixou claro em suas reuniões com os partidos antes da campanha que proibiria
as contas que não cumprissem as regras. No final, acabou por aplicar a norma
de maneira rigorosa”. Disponível em
<https://brasil.elpais.com/brasil/2019/04/26/tecnologia/1556299063_495863.ht
ml> (Consultado em 27/04/2019).
Como se pode ver, a luta contra as Fake News realmente chegou aos

30
grandes veículos, que têm buscado criar mecanismos e oferecer ferramentas
para que elas possam ser identificadas e combatidas, não porque as empresas
sejam “boas”, mas porque sabem que a falta de credibilidade acarreta em
prejuízo e que um ambiente de caos instaurado por desinformação, só é benéfico
para alguns agentes que buscam o poder abafando os sistemas democráticos.

16. CONSIDERAÇÕES FINAIS

Conforme explanado nos capítulos anteriores, o jornalismo mudou. A


popularização da internet tirou dos jornalistas e dos veículos de comunicação o
monopólio da notícia, transformando qualquer pessoa em um potencial
comunicador, ainda que sem respeitar os preceitos básicos do jornalismo
responsável e os valores da ética.
O avanço das redes sociais facilitou ainda mais a criação de páginas de
conteúdo, com informações diversas, muitas vezes divulgadas sem o mínimo de
verificação ou constatação de veracidade, fazendo com que o aumento das Fake
News se tornasse algo jamais visto e que influenciou demais o jornalismo digital,
seja por erros cometidos pelas próprias empresas ao longo dos anos, seja por
conta de grupos especializados em desacreditar a mídia para que pudessem ter
o controle das informações e ditar o que deve ser lido – e aceito como verdade
– pelo seu público ou não, fenômeno derivado das Fakes e conhecido como Pós-
verdade.
No Brasil, principalmente no último ano eleitoral, as Fake News tiveram
papel relevante no pleito e influenciaram demais o jornalismo digital, que
precisou trabalhar incansavelmente a fim de recuperar a credibilidade, desmentir
mentiras, informar rapidamente e com qualidade, ao mesmo tempo em que a
própria mídia e os jornalistas passaram a ser alvos de Fake News, acusados de
espalhar desinformação, mesmo com o trabalho apoiado em fatos e provas.
Ainda não é possível afirmar que o fenômeno das Fake News teve seu
auge em 2018 no país, ou mesmo no mundo, mas é certo que o jornalismo digital
e as empresas de comunicação, inclusive as que não são produtoras de
conteúdo, mas gigantes da tecnologia e donas de plataforma por onde trafegam
milhões de dados e informações todos os dias, admitiram que as notícias falsas
têm influenciado questões importantes nos países e ditado, muitas vezes, os

31
rumos da comunicação.
O jornalismo digital, por sua natureza, é o principal prejudicado pelas Fake
News, enquanto ferramenta de comunicação. O fato de grande parte da
população ser incapaz de verificar a veracidade de uma notícia, atribuindo a sites
apócrifos hospedados fora do país e sem o menor comprometimento com a ética
e a verdade, a mesma importância que sites de grandes, médios ou pequenos
jornais, que investem recursos e tempo para garantir a qualidade das notícias
que divulga, demonstra o grande desafio que a imprensa tem pela frente.
Além disso, também é notável que as grandes empresas têm, sim,
trabalhado para disponibilizar recursos para que qualquer pessoa tenha
ferramentas para desmascarar Fake News.
As Agências de Checagem de Notícias, ainda que sejam alvo de
difamação de uma pequena parcela de fanáticos políticos ou intervencionistas
conspiratórios, cresceram, ganharam autenticidade junto a órgãos internacionais
e passaram a agir em conjunto com redes sociais, na tentativa de suprimir as
Fake News.
Assim como as próprias plataformas como Facebook, Twitter, YouTube e
até o WhatsApp, cuja criptografia garante justamente o sigilo das conversas
entre os usuários, respeitando os direitos de privacidade, ao mesmo tempo em
que se torna uma ferramenta que facilita o tráfego de notícias falsas, iniciaram
ações para combater a proliferação das Fake News.
Ainda é muito cedo para saber quais ações trarão resultados positivos,
mas é possível reconhecer os esforços conjuntos das empresas, dos
profissionais da área e, também, por que não, de uma grande parcela da
população, que aos poucos vai entendendo o seu papel nessa nova sociedade
digital, em que um simples compartilhamento em sua rede social pode tirá-lo do
anonimato e transformá-lo em um influente comunicador em questão de
instantes.
Essa responsabilidade é de todos e o grande desafio para que o
jornalismo digital, em um futuro esperamos que não tão distante, seja facilmente
identificado como tal e não precise brigar por espaço com notícias inventadas,
criadas apenas para espalhar a desinformação.

32
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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compartilhadas que verdadeiras. Acesso em 4 de abril de 2019, disponível em
www.buzzfed.com: https://www.buzzfeed.com/br/alexandrearagao/noticias-
falsas-lava-jato-facebook
AUGUSTO, Thaís. (24 de abril de 2019). Twitter adicionará recurso contra fake news
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www.canaltech.com.br: https://canaltech.com.br/redes-sociais/twitter-
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