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Apresenta o tema do primeiro capitulo, que seria descrever a cidade ente 1579-80,
a ruralidade do Delfinado (província) em torno de Romans, e a realidade politica
e social em que o carnaval de desdobra.
P.10 Fala de Romans enquanto um exemplo de uma população urbana ou citadina e faz
um balanço de sua demografia entre os séculos XIV e XVI (6017 pessoas em
1357, 2223 em 1366, 2735 em 1450).
Existe a aproximação das familias de 7 pessoas com aquelas familias ricas que
serão contestadas na revolta de 1580 e que tinham criados, contestadores estes
que fazem parte dos 86% que não tinham empregados, além do fato das familias
terem muitos filhos, em que 2 morrem em média em virtude da peste e 3 ficam
vivos em contraposição aos mesmos.
P.14 Apresenta os critérios para estudar a sociedade de Romans: I) a divisão social
baseada em ordens ou qualidades; II) o estrato socioeconômico ou os 10% mais
ricos contra os 90% mais pobres; III) as classes sociais, que seriam uma mistura
dos dois itens anteriores.
O livro das talhas de Romans (1578) enumera quatro ordens, sendo que aqui
vemos a primeira ordem, a dos mais ricos (proprietarios ricos de terras, burgueses
que vivem de suas terras, alguns nobres que não ficaram isentos de impostos e
alguns magistrados e burocratas), representados em 52 chefes de família (Os
Guérins, Velheus, Loyrons, De Manissieus, e os Garagnols) ou 4% do efetivo
urbano e donos de 16% da riqueza, assim como os membros da segunda ordem,
que são comerciantes ou vendedores, lojistas ou ligados a indústria, sendo eles os
donos da produção artesanal da cidade.
P.15 Ainda sobre o segundo estado de Romans: são associados aos seus companheiros
de Grenoble e Valence por meio de uma tradição (os romaneses são donos das
barcas e dos navegantes no rio Isère), controlam a subida do sal, do trigo, do
vinho e da lã entre o Rhône e o Isère, e na sua descida controlam o tráfego das
madeiras que vêm desde os Alpes, assim como o ferro, aço, queijo, telas e os
aviamentos vindos da Alemanha e do lado setentrional.
Noutro lado, os ricos de Romans, com seus apoios presentes em diversos setores
da sociedade, têm 70 chefes de familias entre fazendeiros e comerciantes, dentro
daqueles 125 membros, aos quais vai ser servido um banquete de carnaval, mas
também contra-revolucionário, e eles seriam em torno de 350 pessoas ou 4,5% da
população.
P.22 Sobre os artesãos, vemos que as listas fiscais indicam, entre 1582 e 1583, que há
664 membros no artesanato, em que 275 deles possuem dados sobre seu trabalho
em 1582 e em 1583 apenas 241.
Esses dados duplos lidam com 40% de trabalhadores artesanais, enquanto que os
60%, segundo o autor, são os trabalhadores companheiros, que podem trabalhar
em duplas ou sozinhos, numa loja ou oficina. O principal ramo artesanal em
Romans é a indústria de tecidos, e entre 162 chefes da família, 66 são cardadores,
e 39 são fabricantes de tecidos.
Ambos estão insatisfeitos com a crise em virtude das guerras civis e as demais
atividades são distribuídas em escala menor.
P.23 Ressalta a parte agricola da cidade, que une a terra burguesa e os trabalhadores,
cujo oficio se dá nessas terras, assim como o cadastro de 1596, que fornece
algumas pistas a respeito das casas urbanas (intra muros) e das propriedades
agrícolas (extra muros).
Começamos com a burguesia, dona dos bens de raiz, tradicionais e nem sempre
togada, de caráter comercial ou notarial, com posses importantes dentro e fora da
cidade, e chega a pagar 350 escudos de imposto. Vai mostrado alguns exemplos,
dentro do cadastro, como a viúva do doutro J. Velheu, dona de tres grandes terras
de cereais tributadas em 357 escudos, e um cônego da família Loyron cujas
posses, entre as quais aparecem duas granjas, três vinhedos e 18 pedaços de terra,
recebem 327 escudos.
P.24 Com menos de 100 e 50 escudos, encontramos os comerciantes, cujos bens são
majoritariamente urbanos, mas possuem terras também, assim como os
camponeses e artesãos trabalhadores nas herdades dos mais ricos, os quais
possuem uma taxa de 20 escudos para baixo.
Aborda um vinhedo em Romans que explica o motivo pelo qual 478 chefes
urbanos trabalham na zona rural, assim como a relevância desse vinhedo.
P.25 O autor fala aqui dos pobres em Romans, passando pelos trinta internados nos
dois hospitais da cidade, por causa da peste em 1586 que matou 4096 pessoas ou
metade da plebe, ressaltando a promiscuidade que ajudou a mortalidade nos
hospitais e na cidade em si, a quantidade de pobres internados na cidade em
relação à mortalidade que ceifou 50% da população (não deveria haver entre 70
ou 50 no máximo e compara com a Madri do século XVIII), mas em Romans de
1580, os pobres estão na cidade, mas não instalados em algum local. Assim
vemos quem são estes pobres, que são em geral mendigos de rua e das igrejas,
festas e funerais, alguns chefes de família andarilhos, pobres ocasionais também.
O autor então fala que os artesãos e camponeses, as baixas ordens, pagam menos
que 0,8 escudo fiscal, ou 4 florins, e são das pessoas que pagam mais do que isso
que vai sair o grupo plebeu condenado pelo parlamento de Grenoble por incitação
à revolta de 1580, ou seja, são gente situada entre as camadas baixas e médias dos
artesãos e camponeses, e não os mais ricos e nem os mais pobres.
Com isso, ele fala do percentual de 0,8 como iniciativa, para aumentar, e de
pobreza, para diminuir: o autor encontra 143 chefes camponeses e 106 chefes
artesãos que pagam menos do que esse valor, e 16,6% dos artesãos e 29,9% dos
camponeses vivem abaixo do nível de iniciativa e de pobreza, e entre a primeira
qualidade, apenas 8 pessoas são dadas como pobres, num total de 52 pessoas, ou
seja, 15,4%.
P.26 Ficando apenas com as pessoas das classes camponesas e artesãs e que pagam
menos de 0,8 escudo de talha, ele chega ao total de 249 chefes familiares pobres
(143 camponeses e 106 artesãos), cuja maioria é de agricultores urbanos da quarta
classe ou estamento, e estes 249 são os mais pobres, e são 19,5% em relação aos
1304 chefes familiares de Romans em 1578, assim temos um pobre para cinco
pessoas.
E com o acréscimo dos internados nos hospitais, dos pobres fora da listas fiscais
por serem muito pobres, e os mendigos andarilhos das cidades, chegamos a um
total de 1,3 mil ou 1,5 pobres em Romans, num total de 7,0 ou 7,5 mil pessoas.
Estes 1,3 mil pobres, segundo o autor, têm uma participação não muito freqüente
nas manifestações de rua e no carnaval, e não são eles os insurgentes de 1580, e
sim os baixos e médios camponeses e artesãos urbanos.
P.27 Vemos os 593 locatários presentes no registro, assim o autor fala que
aproximadamente 70 podem ser artesãos comerciantes ou lojistas, que alugam
lojas de proprietários para poderem trabalhar, e tais lojas são muitas no meio que
corta a cidade de Romans pelo seu centro, e nesse antro burguês e local dos
conservadores, as casas próximas a prefeitura e a igreja de Saint-Bernard têm seus
arcos de loja enfeitados com a arquitetura renascentista ou gótica. Os 535
restantes são os locatários por excelência: e isso mostra que metade dos chefes
familiares são donos de suas propriedades.
O autor diz que o aluguel é de 2,3 escudos per capita e anualmente, isso no bairro
de Saint-Nicholas, e os locatários podem alugar uma casa inteira ou um quartinho,
e as mais verdadeiras casas de aluguel dos proprietários em Saint-Nicholas, nas
quais geralmente são alugadas por dois locatários, sendo que os mais ricos têm até
seis casas alugadas por dois locatários em cada uma, o que nos mostra a
existência de uma propriedade "multidomiciliar", que é a realidade do opulento
Antoine Coste, o mais rico de Romans, e um dos alvos dos rebeldes.
P.28 Os 535 locatários, mesmo tendo uma renda, são identificados com os
trabalhadores urbanos, que englobam os pobres, não-pobres ou lavradores,
companheiros e artesãos, grupo este que não pode ser incluso na elite, na classe
média e tampouco na baixa classe média, que é a dos artesãos proprietários e da
onde vêm os líderes das revoltas. Dentre os 535, 118 têm sua profissão
identificada, estando entre cardadores-locatários (50), 5 cardadores, 13
lavradores, criadas, 10 fabricantes de tecidos, 6 carregadores, e 5 cordeiros.
O autor diz que os líderes da revolta não vêm dos locatários, e estes vão fornecer
o contingente, especialmente os cardadores, às tropas e às massas nas revoltas,
manifestações e batalhas. Só um dos acusados é locatário, Louis Fayol. Os
demais, exceto Jean Guigou, são proprietários, mas pequenos proprietários.
P.29 O autor fala que os pequenos proprietários não são confundidos com os
locatários, sendo que estes últimos obedecem das ordens dos primeiros e sofrem
com o controle e guia política dos primeiros, e assim, ele coloca o Carnaval de
Romans como uma briga entre a elite dona de terras e burguesa mercantil contra a
classe média artesã de pequenas propriedades, onde essa última consegue guiar
uma camada de plebeus sem propriedade, artesãos ou camponeses, mesmo que
essa camada não ligasse os artesãos médios a condução das revoltas.
Com isso, ele mostra que essa suposta liderança na classe média de pequena
propriedade era paradoxal: dava uma influência aos líderes de oposição, mas os
isolava ou enfraquecia, pois no ataque dos poderosos, pela retaguarda, eles não
vão ter o apoio dos locatários.
Em seguida, ele lança mão de um conceito mais geral, que fala dos grupos
artesãos e camponeses que vão ser os soldados e os participantes das revoltas em
Romans, termo este que é o povo miúdo, que tem como contraparte acima o povo
graúdo, pequena elite, comercial, jurídica e burguesa com aspirações
aristocráticas.
P.30 Chegamos à política de Romans: vemos que existe um governador real, mas seu
poder local não é tão explícito, e há os quatro cônsules ou prefeitos, e mais dois
Conselhos, um geral e outro restrito, e há o juiz real, que é Antoine Guérin, e
então vemos um pouco de sua vida enquanto filho de um rural que virou
joalheiro, membro de uma família em rápida ascensão social, e também foi
sucessor de seu sogro no cargo de juiz e terá apoio de seu cunhado em 1580. Ele
também comandou os atos judiciais, por meio dos quais executa as petições dos
prefeitos, usando funcionários como o esbirro, na população. Ele acumularia
assim poderes judiciais e executivos.
Assim vemos que o mandato dos cônsules se retarda quando o pagamento dos
impostos atrasa, enquanto que o juiz e o esbirro têm seus cargos duradouros e
imóveis.
P.32 O autor vai abordar o papel de Guérin como autoridade principal, a convivência
dos cônsules ao redor dele, as funções desses cônsules na cidade (atribuições
fiscais, militares e políticas), o reflexo social dos quatro prefeitos (cada um, numa
ordem hierárquica, fazia parte das quatro ordens ou qualidades da cidade), a
existência dos dois Conselhos urbanos, um com 24 membros e o outro com 40
(escolhidos em quatro grupos que representam as quatro ordens da cidade), o fato
das instituições de Romans terem a nomeação de seus membros de forma
semelhante e circular (o autor, por meio de Brecht, fala de um governo as avessas,
em que as autoridades que escolhem o povo e depois esse povo escolhe o
governo), o fato dos artesãos e dos lavradores dos dois Conselhos serem
escolhidos entre os artesãos e camponeses plebeus, e até mesmo entre a camada
mais superior de Romans, mas não são eleitos por esta camada, o fato de se
desenvolver na província do Delfinado, na qual Romans se encontra, um regime
antidemocrático ou antilegalista, em virtude do urbanização francesa na fase do
Renascimento e a centralização politica real “ajudarem” as oligarquias locais da
época, e o fato dos artesãos ficarem mais perigosos, logo deveriam ser
subjugados, e os mesmos estavam em grande quantidade demográfica.
Vemos uma eleição democrática que ocorreu em Romans em 1536, rito político
este em que eram escolhidos os quatro cônsules e os membros do Conselho
maior: havia uma espécie de assembléia com os chefes de família, que ficava na
prefeitura de Romans, e esta escolhia os membros do Conselho maior e destes
saiam os quatro cônsules ou prefeitos. Porém, o autor diz que tal assembléia era
atormentada pelo absentismo, uma vez que apenas 7% dos membros ou 71
pessoas esteve presente naquela ocasião politica, e essa “abstenção” ajudaria no
“término” dos órgãos democráticos de Romans.
P.33- Nessas páginas, o autor lida com as mudanças levadas a cabo pelo magistrado de
34 Grenoble, um Raymond Mulet, na cidade de Romans, em que vemos o fim das
assembléias populares eleitoras dos cônsules, a criação de um Conselho geral de
40 membros que passaria a nomear aqueles quatro prefeitos e ser também a
assembléia municipal, o fato desse Conselho ser renovado de três em três anos
por meio das nomeações mútuas como determinado pelo ato de 1542 (uma
novidade assustadora), o fato desse mesmo Conselho ser escolhido por uma
assembléia popular em maio de 1542 (a última de caráter popular), que fora
manipulada ou controlada pelo próprio Mulet em pessoa, como vai se formar o
Conselho escolhido pela aquela assembléia popular (eram 10 membros de cada
uma das ordens ou qualidades da cidade, ou 20 mais ricos e 20 mais pobres), o
fato de estarem, entre os 20 mais poderosos presentes no Conselho, membros das
familias locais de Romans como os Velheu, os Bourgeois e os Guigou, o fato
deles serem os oligarcas de Romans, e com isso, a idéia de um sucesso de por
parte do parlamento de Grenoble, com a ajuda das “máfias” locais, em seu golpe
de Estado em Romans, golpe este que conteve as rivalidades criadas em virtude
da formação de artesãos rebeldes, cuja demografia aumentara durante o século
XVI, na suposta “democracia” de Romans.
Continuando, ele fala das rixas entre as duas primeiras classes mais ricas, ou os
20 membros da primeira metade, uma vez que os 10 da segunda qualidade viam
os 10 da primeira como “parasitários”, da conservação do Conselho formado em
1542, com os 10 membros representando as quatro qualidades, órgão este que
passa a ter controle total de Romans e se renova por convocações sucessivas, do
pressuposto da revolução carnavalesca como tentativa de acabar com as
conseqüências do golpe de 1542, do acréscimo de membros extraordinários em
1579 através de Paumier, o líder dos artesãos rebeldes, ao Conselho de 1542, uma
vez que esses novos membros eram agradáveis ao povo de Romans e os mesmos
vêm por meio de uma invasão ao Conselho liderada pelos artesãos, e esses “novos
conselheiros” eram, em suma, chefes provenientes das familias artesãs mais
rebeldes de Romans, como Guillaume Robert-Brunat, Jean Serve-Paumier,
François Robin, e Jean Jacques.
Os calvinistas vêm perdendo seu poder desde 1569, quando os capitães de bairro
passam a ser controlados cada vez mais por Guérin e os cônsules católicos, ao
passo que em 1573 a sua quantidade decresce para 10% ou 128 chefes de família,
enquanto que a fuga para Genebra em virtude do Massacre da Noite de São
Bartolomeu, em 1572, e a renuncia, por causa do medo, ao protestantismo vão ter
seu respectivo impacto na comunidade huguenote, a qual, distante da vida politica
de Romans na década de 1570, vai se aliar, sutilmente, aos artesãos rebeldes em
1579 e 1580, mas abandonando-os posteriormente.
Ainda na Igreja Católica em Romans, o autor diz que a mesma passa por um
momento traumático, em virtude das Reformas Protestantes e das Guerras de
Religião, cuja renovação apenas ocorre posteriormente a 1580, quando passa a
seguir os preceitos do Concilio de Trento, o que não impede, entretanto, que sua
“sensibilidade” não se encontre viva, ainda que esteja em crise, o que explica o
fato da sensibilidade do Carnaval ainda não ser contestada, passando a sê-lo pelas
idéias vindas dos ensinamentos do Concilio de Trento, muito depois. Por outro
lado, o clero de Romans se encontra numa decadencia social, o que não acarreta
em seu desaparecimento total, durante os anos de 1579-80, ao passo que nem
mesmo alguns clérigos, como os cônegos, os curas das paróquias locais e os
monges franciscanos da cidade, vão ter algum papel relevante na revolta entre
1579 e 1580 em Romans, assim, a Igreja não vai ser decisiva no Carnaval
revoltoso, mas vai estar presente nos dois lados em conflito (nas fraternidades que
a usam, nas festas folclóricas com a presença do sagrado e do grotesco, e o
reconhecimento, pelos membros do partido da ordem, da sua hierarquia católica).
O autor nos diz que existe, além dos conhecimentos religiosos e astrológicos, o
saber erudito na cidade de Romans, presente na pequena elite local, difundido
pelos colégios instalados na cidade desde a Idade Média, instituições estas que
são administradas pela municipalidade urbana e pelos cônegos de Saint-Barnard,
e com isso, entramos na dificultosa análise da alfabetização em Romans entre
1579 e 1580: alguns importantes, durante a Revolta, sabiam assinar, ou seja,
escrever, e alguns chefes do movimento tinham uma assinatura “bonita”. Já a
massa revoltosa era iletrada: o autor compara o Carnaval de cada “estamento”,
onde o dos ricos é letrado e francês, enquanto que o dos pobres é iletrado, pelo
menos aos membros da tropa que desfilam e se manifestam; sendo que essa
clivagem é relevante, no que diz aos temas simbólicos presentes no Carnaval. O
autor mostra que os registros paroquiais de 1641-4 mostram 71% de iletrados em
Romans (a maioria deveria ser composta por mulheres), e em 1580, ele constata
que o indice total de analfabetismo de Romans ficaria em 80%, uma vez que a
educação ou instrução dessa época era pior do que aquela de 1643. Mas tal indice
de analfabetismo urbano, em 1580, ainda era superior as realidades rurais
próximas, nas quais, entre dez adultos, nove eram analfabetos.
P.38- Em relação aos campos ou à zona rural, que são cercados por colinas e
40 montanhas, assim como as cidades contestadoras do Delfinado (Vienne,
Grenoble, Romans Valence e Montélimar), o autor salienta a sua presença ou
participação durante todo o livro, ao passo que diz que o Carnaval revoltoso não
passa de uma “vitrine”, ou seja, uma exposição urbana de uma grande querela
rural, e, com isso, compara as lutas urbanas daquelas rurais: nas primeiras, os
artesãos enfrentam os burgueses, enquanto que nas demais são os camponeses
contra os nobres.
Assim vemos a diferença entre Romans e Vienne, em que a primeira conta com
34,12% no que se refere às terras nobres sem impostos, enquanto que em Vienne
as terras livres de taxas chegam a 40,85%, o que explica o desafeto, por parte dos
camponeses e burgueses, em relação às isenções fiscais. Assim, a quantidade de
terras de nobres e clérigos é elevada, mas nem tanto absurda, sendo que nas
vésperas da Revolução Francesa (1789-1799) os nobres e membros do clero
tinham entre 30% e 35% das herdades, contra 30% dos burgueses e 40% ou 45%
do campesinato, enquanto que na Inglaterra da mesma época (século XVIII) tem
80% das terras nas mãos da nobreza e da gentry.
Com isso, 38,45% das terras livres de taxas, em Vienne e Romans, seria relevante
no ódio e rancor durante as revoltas de 1579 e 1580, e, dessa maneira, o autor
mostra uma concentração de 40% de latifúndios nas mãos de nobres e
eclesiásticos, que eram 2% da população entre 1579 e 1580, o que explicaria os
ataques contra essa minoria que ficou mais opulenta de maneira “capitalista” do
século XVI. Assim, os 38,49% de terras isentas e, por isso, contestadas, em
Romans e Vienne, são mais importantes do que os 27,35% de terras na província
do Delfinado.
P.40- Aqui o autor aborda os direitos ou obrigações dos senhores feudais, sendo que
42 estes são também motivos de ódio, já que 93% deles está presente na casta
privilegiada: em Romans, os cônegos, representantes dos direitos feudais, não
têm tanta importância, assim a contestação sobra para os burgueses. Mas nas
demais localidades, o direito senhorial aparece com mais visibilidade, em virtude
dos dossiês nas guerras de religião e dos autos “revisão de fogo”, esse últimos
datados de 1700, e mostram uma realidade muito semelhante àquela do século
XVI. Pegam 106 aldeias no norte de Romans.
Existe a divisão dos aldeões em dois grupos: os que possuem bois e ovelhas e são
arrendatários de grandes ou pequenos proprietarios, e aqueles que não donos de
nenhum animal, no caso falamos dos jornaleiros. Com isso, vemos que a posse de
um gado é um critério de diferenciação social na zona rural, além do fato da
formação de consenso rústico e rural contra o senhor feudal em momentos
turbulentos, já que ele impõe, ainda que de maneira hierárquica, sua pressão as
camadas altas e baixas da aldeia.
Em seguida, o autor fala que o senhor feudal dá muito labor ao camponês, algo
visto pelos censos atrasados acumulados e nos laudêmios (16,7%), então, ele
conta que, por conta da mudança de donos das terras do Delfinado, os nobres
conseguem tomar para si tais terras que passam a ficar disponíveis, no geral
campinas ou semi-campinas, especialmente no Baixo Delfinado, em Romans e
Valence assim como em Grésivaudan, onde, nessa ultima, os descendestes
enobrecidos do juiz Guérin morarão.
Ao lado dessa nobreza sem sangue nobre, aparecem alguns camponeses que se
aproveitam das guerras de religião, ao conseguir terras entre 1560 e 1600, usando
suas rendas, que são empréstimos com os juros aceitos pela lei e pela Igreja, e
estes exploram muita gente sem escrúpulos, especialmente os devedores.
P.43- Nestas partes finais, o autor fala do dizimo, o conceitua (10% na colheita dos
44 produtos agrícolas mais relevantes), faz uma análise de seu recolhimento em 271
aldeias/335 dimeries entre Vienne e Romans por volta de 1700, vendo que o que
ocorreu era na verdade um “vigésimo”, em relação aos cereais numa taxa de
4,98% ou 1/20.1, onde ela é menor em Romans (106 aldeias ou 126 dimeries,
com 4,55%) e maior em Vienne (165 aldeias ou 209 dimeries, além de 5,49%), e
disso constata que essa taxa não era algo surreal ou absurdo aos olhos do
camponês e é menos pesada que os direitos feudais de Languedoc e nos Pirineus
de Comminges (nessas, a taxa fica entre 8%, 9% ou 10%) o que explica a falta de
um ataque rural à Igreja por parte de Romans, sendo que esta sofreu mais com os
calvinistas franceses depois de 1560, então a ira dos rurais emerge entre o
cristianismo e sua luta tem como alvo a terra feudal leiga.
Com isso, a luta contra as obrigações feudais foram uma alvo “marginal” entre os
camponeses, pois eles concentravam sua fúria contra a isenção fiscal dos nobres,
uma vez que estes últimos eram “livres” dos impostos, mas de forma injusta (os
camponeses vão queimar alguns castelos nobres assim como seus os registros dos
foros nobres, os chamados terriers).
Por fim, ele diz que o Carnaval se insere num momento da vida delfinesa tida por
“revolucionária”, e assim, vemos as querelas entre camponeses e senhores
(principalmente em virtude da isenção fiscal), a querela nas cidades entre os
artesãos e o povo contra os mais abastados, cita a ruptura da nobreza por causa da
religião por causa da religião, já que alguns nobres vão se converter ao
protestantismo, o que, segundo Lawrence Stone, apresentaria uma “situação
revolucionária” em virtude da existência desses elementos listados, como a
batalha entre dominantes e dominados, e a batalha entre a elite divida.
P.47 O autor dizia que os roubos aos gados, negativos aos rebanhos e colheitas dos
agricultores e da população urbana semi-rural, nem sempre eram resultado das
pilhagens soldadescas, assim como diz que o povo era obrigado a dar a sua
comida às tropas, que comiam abundantemente, citando o caso de julho de 1577
em que Romans, por ordens do comissário-geral dos alimentos, o Sr. de
Moidieux, fora obrigada a dar alimentos como bois, carneiros, vinhos e pães aos
soldados de um Sr. de Gordes acampados em Pont-en-Royans, cujo cerco a tal
cidade havia sido cancelado, bem como o pagamento, ainda em julho de 1577, de
600 escudos, por parte de Romans, para poder pagar o resgate de dois bois,
seqüestrados por militares, dos cônsules locais, e mais um caso, em 1575,
envolvendo o barão de Gordes (oficial de justiça do Delfinado), que, em Romans,
exige que seja feito um incentivo, para poder manter seus soldados vivos,
incentivo este que ficou acima das 20 libras. Além disso, ele aborda o impacto das
foules ou as arrecadações das taxas, em relação aos contribuintes, e a ordem
recolhimento de quatro escudos, em agosto de 1578, prevista para toda a
província do Delfinado, “escudos” estes cuja função era pagar os impostos
atrasados e as dividas atrasadas dos calvinistas e do católicos.
Tais quatro escudos, ainda que contestados pelos ambos os lados em conflito, vão
ser pagos sem nenhum obstáculo (isso estaria presente no relato de um tabelião de
Saint-Antoine, Eustache Piémond), e ainda outros impostos surgem em seguida
(uma talha de dois escudos e 40 soldos em outubro de 1578, e depois 15 escudos,
sete soldos e três denários), cuja finalidade era pagar as dividas e despesas locais
e da província como um todo. Além disso, o autor alerta para a situação do
Delfinado, marcado pela guerra entre católicos e calvinistas, mesmo com reino da
França em paz em virtude do édito de pacificação de 1577, o que explica, por
parte das comunidades rurais e urbanas do Delfinado, a procura aos Cahiers
(cadernos) do Terceiro Estado local (estes que, oficialmente, foram apresentados
em Blois em 16 de março de 1577): o autor explica que nesse local, os indivíduos,
que cobraram a talha a algum dos beligerantes, deveriam se justificar e devolver a
quantia, esse ato devendo ser feito de forma presencial e com a presença de
alguma autoridade de conselheiros de fora da Provincia, para que estes não
fossem vistos como “conchavos” dos culpados.
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