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LADURIE, Emmanuel Le Roy.

O Carnaval de Romans: da Candelária à quarta-feira de


cinzas, 1579-1580. São Paulo: Companhia das Letras, 2002.

Capítulo 1: “Cenário urbano e rural”.


P.09  Vontade de falar sobre Romans, cita a documentação vasta da vida em Romans
(sua sociedade, cultural, economia) e a escolha de abordar um evento de duas
semanas conturbadas.

 Evento este que é o Carnaval de Romans em 1580 junto do massacre presente


nele. Quer falar dos motivos dessa semana “caótica”, seus antecedentes,
desdobramentos, as coisas relacionadas com a semana, seus traços e significados,
fora de Romans.

 Apresenta o tema do primeiro capitulo, que seria descrever a cidade ente 1579-80,
a ruralidade do Delfinado (província) em torno de Romans, e a realidade politica
e social em que o carnaval de desdobra.
P.10  Fala de Romans enquanto um exemplo de uma população urbana ou citadina e faz
um balanço de sua demografia entre os séculos XIV e XVI (6017 pessoas em
1357, 2223 em 1366, 2735 em 1450).

 Em 1498, durante o Renascimento, eram 4208 pessoas, 4214 em 1509, 8334 em


1557 (uma grande cidade pequena), cujos números decaem nas décadas de 1560 e
1570 em virtude da peste e das guerras religiosas.
P.11  Mais da demografia de 1578 até 1588 (quantidade populacional oscila), o fato da
celebração do Carnaval estar em meio às guerras de religião francesas e à uma
estagnação demográfica, cuja quantidade naquele momento particular era de 7500
ou 8000 pessoas, e a classificação de Romans na quinta categoria da classificação
urbana.

 A contribuição da lista de mortos pela peste de 1586 para revelar a organização


familiar de Romans, cujo responsável foi o juiz local chamado Guérin (o manda-
chuva da cidade), em que as mortes chegam a um total de 4096 pessoas ou 51%
da população, grupo de mortos no qual os sobreviventes do carnaval estão.
P.12  Repovoamento de Romans depois da peste de 1586, seu impacto para com as
familias romanesas, neste caso são aqueles 51% ceifados, e as 703 familias
nucleares, 84 familias de viúvas e 161 familias ampliadas que estão presentes em
Romans.

 O fato das familias nucleares ainda serem a maioria se fossem omitidas as


familias de viúvas, sendo que estas (nucleares) foram alargadas com o tempo (um
filho que se casa e ainda mora na casa de seus progenitores), assim a organização
familiar de Romans estaria mais perto do modelo de família típico do espaço
mediterrâneo, no qual as familias se estabelecem de maneira voluntária (na
Inglaterra da Era Moderna os casais nucleares quase que são dominantes).

 Essas familias grandes se encontram entre os ricos ou mais abastados, onde 52


familias, dentre um total de 161 familias, possuem domésticos de ambos os sexos.
P.13  Aborda o recuo da quantidade de familias que possuem empregados domésticos
(uma queda de 13,6%) enquanto que os núcleos viúvos ficam com uma queda de
9,5%, o uso dos domésticos em estruturas diferentes, e o fato de um núcleo
durante a peste, com 7 pessoas, poderia ter um ou vários criados, estes sendo mais
domiciliares e menos “companheiros de trabalho”, onde, de 212 criados mortos,
61 eram homens e 151 mulheres.

 Existe a aproximação das familias de 7 pessoas com aquelas familias ricas que
serão contestadas na revolta de 1580 e que tinham criados, contestadores estes
que fazem parte dos 86% que não tinham empregados, além do fato das familias
terem muitos filhos, em que 2 morrem em média em virtude da peste e 3 ficam
vivos em contraposição aos mesmos.
P.14  Apresenta os critérios para estudar a sociedade de Romans: I) a divisão social
baseada em ordens ou qualidades; II) o estrato socioeconômico ou os 10% mais
ricos contra os 90% mais pobres; III) as classes sociais, que seriam uma mistura
dos dois itens anteriores.

 O livro das talhas de Romans (1578) enumera quatro ordens, sendo que aqui
vemos a primeira ordem, a dos mais ricos (proprietarios ricos de terras, burgueses
que vivem de suas terras, alguns nobres que não ficaram isentos de impostos e
alguns magistrados e burocratas), representados em 52 chefes de família (Os
Guérins, Velheus, Loyrons, De Manissieus, e os Garagnols) ou 4% do efetivo
urbano e donos de 16% da riqueza, assim como os membros da segunda ordem,
que são comerciantes ou vendedores, lojistas ou ligados a indústria, sendo eles os
donos da produção artesanal da cidade.
P.15  Ainda sobre o segundo estado de Romans: são associados aos seus companheiros
de Grenoble e Valence por meio de uma tradição (os romaneses são donos das
barcas e dos navegantes no rio Isère), controlam a subida do sal, do trigo, do
vinho e da lã entre o Rhône e o Isère, e na sua descida controlam o tráfego das
madeiras que vêm desde os Alpes, assim como o ferro, aço, queijo, telas e os
aviamentos vindos da Alemanha e do lado setentrional.

 Aparecem nessa ordem tabeliães ou escrivães e um professor colegial, assim


como estão presentes também algumas familias burguesas importantes de
Romans, como os Guigous, Odoards, Jomaros, Monluels, e especialmente o mega
abastado Antoine Coste, um dos alvos dos insurgentes carnavalescos. Essa ordem
conta com 137 “pagadores de impostos” (a talha é o imposto a ser pago naquele
contexto) ou 10,5% dos efetivos urbanos, que são os seus respectivos chefes de
família, enquanto possuem 18,5% do patrimônio imobiliário urbano.
P.16  A terceira ordem: são os artesãos, de tecidos e de mantimentos, estão em grande
quantidade, “explicam” o caráter de Romans ser uma cidade marcada pela
indústria artesã têxtil, e possuem suas fronteiras sociais em relação a segunda
classe, assim, mudar de classe era complicado.

 Esta classe era dependente dos comerciantes, economicamente e não


politicamente, eram trabalhadores qualificados, tinham uma vida boa, conseguiam
ser incorporados de maneira positiva em suas guildas, sua origem era
majoritariamente rural, e alguns tinham algum contato com a cultura letrada
(apenas os açougueiros e os produtores de lã, enquanto que pedreiros, ferreiros e
carpinteiros eram analfabetos).

 A liderança dos insurgentes carnavalescos de 1580 pertencem à essa ordem, os


artesãos mais especificamente, cuja quantidade é de 637 pessoas ou 48,8% em
relação ao número total de chefes de família de todas as quatro ordens juntas. Eles
são o sustentáculo da cidade, donos também de 39,5% do patrimônio urbano, seja
por casas, lojas, campos ou vinhas, e também pagam 764 escudos fiscais num
total de 1932,4.
P.17  Mais sobre a terceira ordem: possuem uma vida boa, apesar de sua posição na
hierarquia urbana, possuem 2/5 da cidade, e pagam, per capita, 1,2 escudo de
talha contra os 2,6 pagos pela segunda ordem e os seis da primeira.

 A quarta ordem é dos agricultores, organizados em 478 chefes de familias ou


36,7% do efetivo urbano, os quais mostram a mistura entre as vidas urbana e rural
presentes em Romans, ou “rurbano”, desempenhando o trabalho nas terras
próximas a cidade em todas as manhãs, e existindo entre eles 19 membros
abastados, que são arrendatários ou meeiros nas terras da elite de Romans.
P.18  A quarta ordem: os 459 membros restantes são operários agrícolas (no sul da
França, eles são chamados de trabalhadores), são o centro dos trabalhadores
daquele contexto, estão em muita quantidade e são baratos (durante o século XVI
francês os salários ficavam cada vez mais pobres ou menores).

 Eles são em geral pobres, podem começar alguma especie de revolta ou


manifestação, vivem no limite da pobreza, suas filhas não possuem muitos
atributos, sendo que elas trabalham como criadas ou camareiras para as familias
ricas, mas são esses indivíduos que vão ser os manifestantes da revolta
carnavalesca em 1580, além de terem seu pequeno pedaço de terra e uma casa, e
detêm 25,7% dos bens de raiz de Romans.
 O escudo fiscal dessa ordem é de 1%, e então vemos as clivagens durante o
Carnaval: as duas classes mais abastadas são donas de 14,5% dos efetivos
urbanos e 34,7% dos bens de raiz (partido da ordem) contra a as duas classes
inferiores, com 85,5% dos efetivos citadinos e 65,2% dos bens, fazendo parte da
Liga dos rebeldes.
P.19  Explicação do uso dos estratos no texto, uma vez que as “ordens” são
simplificadoras e nem tão rígidas, e assim, partindo de 1304 contribuintes, vê que
125 deles estão no topo da pirâmide social, pagando 13 florins, individualmente,
ou 2,6 escudos de talha, e estes são os 10% mais rico da cidade, contra os 90%
que pagam menos que 2,6 escudos fiscais, e são donos de 40% dos bens de raiz da
cidade.
P.20  Os 10% mais rico controla os 40% dos bens enquanto 90% mais pobre controla
60,3% dos bens totais (uma sociedade que seria tão desigual em 1578).
 Nas classes socais, vemos que dentre os 125 mais ricos 31 são membros da
primeira ordem, 31 entre 52 fazendeiros chefes da primeira ordem, 37
comerciantes dentre aqueles 137 da segunda ordem, 36 artesãos abastados da
terceira ordem e 19 camponeses abastados da quarta ordem.
P.21  Os 19 camponeses abastados não farão parte da revolta carnavalesca, enquanto
que os 459 restantes vão estar presentes na rebelião, estes que compõem os 90%
mais pobre da cidade, enquanto que a revolta em 1580 vai ter entre seus
membros, lideres e seguidores, 1060 chefes familiares camponeses e artesãos,
dando entre 4800 ou 5000 cabeças num total de 7 ou 7,5 mil pessoas.

 Noutro lado, os ricos de Romans, com seus apoios presentes em diversos setores
da sociedade, têm 70 chefes de familias entre fazendeiros e comerciantes, dentro
daqueles 125 membros, aos quais vai ser servido um banquete de carnaval, mas
também contra-revolucionário, e eles seriam em torno de 350 pessoas ou 4,5% da
população.
P.22  Sobre os artesãos, vemos que as listas fiscais indicam, entre 1582 e 1583, que há
664 membros no artesanato, em que 275 deles possuem dados sobre seu trabalho
em 1582 e em 1583 apenas 241.

 Esses dados duplos lidam com 40% de trabalhadores artesanais, enquanto que os
60%, segundo o autor, são os trabalhadores companheiros, que podem trabalhar
em duplas ou sozinhos, numa loja ou oficina. O principal ramo artesanal em
Romans é a indústria de tecidos, e entre 162 chefes da família, 66 são cardadores,
e 39 são fabricantes de tecidos.
 Ambos estão insatisfeitos com a crise em virtude das guerras civis e as demais
atividades são distribuídas em escala menor.
P.23  Ressalta a parte agricola da cidade, que une a terra burguesa e os trabalhadores,
cujo oficio se dá nessas terras, assim como o cadastro de 1596, que fornece
algumas pistas a respeito das casas urbanas (intra muros) e das propriedades
agrícolas (extra muros).

 Começamos com a burguesia, dona dos bens de raiz, tradicionais e nem sempre
togada, de caráter comercial ou notarial, com posses importantes dentro e fora da
cidade, e chega a pagar 350 escudos de imposto. Vai mostrado alguns exemplos,
dentro do cadastro, como a viúva do doutro J. Velheu, dona de tres grandes terras
de cereais tributadas em 357 escudos, e um cônego da família Loyron cujas
posses, entre as quais aparecem duas granjas, três vinhedos e 18 pedaços de terra,
recebem 327 escudos.
P.24  Com menos de 100 e 50 escudos, encontramos os comerciantes, cujos bens são
majoritariamente urbanos, mas possuem terras também, assim como os
camponeses e artesãos trabalhadores nas herdades dos mais ricos, os quais
possuem uma taxa de 20 escudos para baixo.

 Aborda um vinhedo em Romans que explica o motivo pelo qual 478 chefes
urbanos trabalham na zona rural, assim como a relevância desse vinhedo.
P.25  O autor fala aqui dos pobres em Romans, passando pelos trinta internados nos
dois hospitais da cidade, por causa da peste em 1586 que matou 4096 pessoas ou
metade da plebe, ressaltando a promiscuidade que ajudou a mortalidade nos
hospitais e na cidade em si, a quantidade de pobres internados na cidade em
relação à mortalidade que ceifou 50% da população (não deveria haver entre 70
ou 50 no máximo e compara com a Madri do século XVIII), mas em Romans de
1580, os pobres estão na cidade, mas não instalados em algum local. Assim
vemos quem são estes pobres, que são em geral mendigos de rua e das igrejas,
festas e funerais, alguns chefes de família andarilhos, pobres ocasionais também.

 O autor então fala que os artesãos e camponeses, as baixas ordens, pagam menos
que 0,8 escudo fiscal, ou 4 florins, e são das pessoas que pagam mais do que isso
que vai sair o grupo plebeu condenado pelo parlamento de Grenoble por incitação
à revolta de 1580, ou seja, são gente situada entre as camadas baixas e médias dos
artesãos e camponeses, e não os mais ricos e nem os mais pobres.

 Com isso, ele fala do percentual de 0,8 como iniciativa, para aumentar, e de
pobreza, para diminuir: o autor encontra 143 chefes camponeses e 106 chefes
artesãos que pagam menos do que esse valor, e 16,6% dos artesãos e 29,9% dos
camponeses vivem abaixo do nível de iniciativa e de pobreza, e entre a primeira
qualidade, apenas 8 pessoas são dadas como pobres, num total de 52 pessoas, ou
seja, 15,4%.
P.26  Ficando apenas com as pessoas das classes camponesas e artesãs e que pagam
menos de 0,8 escudo de talha, ele chega ao total de 249 chefes familiares pobres
(143 camponeses e 106 artesãos), cuja maioria é de agricultores urbanos da quarta
classe ou estamento, e estes 249 são os mais pobres, e são 19,5% em relação aos
1304 chefes familiares de Romans em 1578, assim temos um pobre para cinco
pessoas.

 E com o acréscimo dos internados nos hospitais, dos pobres fora da listas fiscais
por serem muito pobres, e os mendigos andarilhos das cidades, chegamos a um
total de 1,3 mil ou 1,5 pobres em Romans, num total de 7,0 ou 7,5 mil pessoas.

 Estes 1,3 mil pobres, segundo o autor, têm uma participação não muito freqüente
nas manifestações de rua e no carnaval, e não são eles os insurgentes de 1580, e
sim os baixos e médios camponeses e artesãos urbanos.

 Em seguida, ele esboça mais um critério de análise da sociedade romanesa, a


separação entre os proprietários e os locatários, onde, por meio de um registro de
1583, estão 1547 chefes familiares que são contribuintes ou pagam imposto: nessa
listagem aparecem todos os tipos de proprietários, em que vemos uma grande
massa de artesãos ou lavradores, que só têm uma casa e uma horta, e também
temos os locatários, que são taxados em sua mobília, quando não têm terra ou
propriedade a ser taxada, e seu nome de avaliação é cappage.

P.27  Vemos os 593 locatários presentes no registro, assim o autor fala que
aproximadamente 70 podem ser artesãos comerciantes ou lojistas, que alugam
lojas de proprietários para poderem trabalhar, e tais lojas são muitas no meio que
corta a cidade de Romans pelo seu centro, e nesse antro burguês e local dos
conservadores, as casas próximas a prefeitura e a igreja de Saint-Bernard têm seus
arcos de loja enfeitados com a arquitetura renascentista ou gótica. Os 535
restantes são os locatários por excelência: e isso mostra que metade dos chefes
familiares são donos de suas propriedades.

 O autor diz que o aluguel é de 2,3 escudos per capita e anualmente, isso no bairro
de Saint-Nicholas, e os locatários podem alugar uma casa inteira ou um quartinho,
e as mais verdadeiras casas de aluguel dos proprietários em Saint-Nicholas, nas
quais geralmente são alugadas por dois locatários, sendo que os mais ricos têm até
seis casas alugadas por dois locatários em cada uma, o que nos mostra a
existência de uma propriedade "multidomiciliar", que é a realidade do opulento
Antoine Coste, o mais rico de Romans, e um dos alvos dos rebeldes.
P.28  Os 535 locatários, mesmo tendo uma renda, são identificados com os
trabalhadores urbanos, que englobam os pobres, não-pobres ou lavradores,
companheiros e artesãos, grupo este que não pode ser incluso na elite, na classe
média e tampouco na baixa classe média, que é a dos artesãos proprietários e da
onde vêm os líderes das revoltas. Dentre os 535, 118 têm sua profissão
identificada, estando entre cardadores-locatários (50), 5 cardadores, 13
lavradores, criadas, 10 fabricantes de tecidos, 6 carregadores, e 5 cordeiros.

 O autor diz que os líderes da revolta não vêm dos locatários, e estes vão fornecer
o contingente, especialmente os cardadores, às tropas e às massas nas revoltas,
manifestações e batalhas. Só um dos acusados é locatário, Louis Fayol. Os
demais, exceto Jean Guigou, são proprietários, mas pequenos proprietários.
P.29  O autor fala que os pequenos proprietários não são confundidos com os
locatários, sendo que estes últimos obedecem das ordens dos primeiros e sofrem
com o controle e guia política dos primeiros, e assim, ele coloca o Carnaval de
Romans como uma briga entre a elite dona de terras e burguesa mercantil contra a
classe média artesã de pequenas propriedades, onde essa última consegue guiar
uma camada de plebeus sem propriedade, artesãos ou camponeses, mesmo que
essa camada não ligasse os artesãos médios a condução das revoltas.

 Com isso, ele mostra que essa suposta liderança na classe média de pequena
propriedade era paradoxal: dava uma influência aos líderes de oposição, mas os
isolava ou enfraquecia, pois no ataque dos poderosos, pela retaguarda, eles não
vão ter o apoio dos locatários.

 Em seguida, ele lança mão de um conceito mais geral, que fala dos grupos
artesãos e camponeses que vão ser os soldados e os participantes das revoltas em
Romans, termo este que é o povo miúdo, que tem como contraparte acima o povo
graúdo, pequena elite, comercial, jurídica e burguesa com aspirações
aristocráticas.
P.30  Chegamos à política de Romans: vemos que existe um governador real, mas seu
poder local não é tão explícito, e há os quatro cônsules ou prefeitos, e mais dois
Conselhos, um geral e outro restrito, e há o juiz real, que é Antoine Guérin, e
então vemos um pouco de sua vida enquanto filho de um rural que virou
joalheiro, membro de uma família em rápida ascensão social, e também foi
sucessor de seu sogro no cargo de juiz e terá apoio de seu cunhado em 1580. Ele
também comandou os atos judiciais, por meio dos quais executa as petições dos
prefeitos, usando funcionários como o esbirro, na população. Ele acumularia
assim poderes judiciais e executivos.

 Em seguida, para explicação a divisão de poderes em Romans, o autor cita um


texto de 1577, no qual vemos um cônsul, por meio de um esbirro, ordenar que um
Jean Mailbot lhe pague quarenta florins e dez escudos como pagamento de 30
talhas. Esse cônsul, Jerome Velheu, encarregado de receber as talhas reais,
deveria ficar um ano no cargo (começou em 1571), mas já estava há seis anos,
ainda sendo responsável por recolher impostos atrasados do pessoal que não
pagou em seu mandato, e para pagar, esse prefeito pede um ato judicial de Guérin
e este executa a ordem por meio do esbirro real que trabalha pra ele.

 Assim vemos que o mandato dos cônsules se retarda quando o pagamento dos
impostos atrasa, enquanto que o juiz e o esbirro têm seus cargos duradouros e
imóveis.
P.32  O autor vai abordar o papel de Guérin como autoridade principal, a convivência
dos cônsules ao redor dele, as funções desses cônsules na cidade (atribuições
fiscais, militares e políticas), o reflexo social dos quatro prefeitos (cada um, numa
ordem hierárquica, fazia parte das quatro ordens ou qualidades da cidade), a
existência dos dois Conselhos urbanos, um com 24 membros e o outro com 40
(escolhidos em quatro grupos que representam as quatro ordens da cidade), o fato
das instituições de Romans terem a nomeação de seus membros de forma
semelhante e circular (o autor, por meio de Brecht, fala de um governo as avessas,
em que as autoridades que escolhem o povo e depois esse povo escolhe o
governo), o fato dos artesãos e dos lavradores dos dois Conselhos serem
escolhidos entre os artesãos e camponeses plebeus, e até mesmo entre a camada
mais superior de Romans, mas não são eleitos por esta camada, o fato de se
desenvolver na província do Delfinado, na qual Romans se encontra, um regime
antidemocrático ou antilegalista, em virtude do urbanização francesa na fase do
Renascimento e a centralização politica real “ajudarem” as oligarquias locais da
época, e o fato dos artesãos ficarem mais perigosos, logo deveriam ser
subjugados, e os mesmos estavam em grande quantidade demográfica.

 Vemos uma eleição democrática que ocorreu em Romans em 1536, rito político
este em que eram escolhidos os quatro cônsules e os membros do Conselho
maior: havia uma espécie de assembléia com os chefes de família, que ficava na
prefeitura de Romans, e esta escolhia os membros do Conselho maior e destes
saiam os quatro cônsules ou prefeitos. Porém, o autor diz que tal assembléia era
atormentada pelo absentismo, uma vez que apenas 7% dos membros ou 71
pessoas esteve presente naquela ocasião politica, e essa “abstenção” ajudaria no
“término” dos órgãos democráticos de Romans.
P.33-  Nessas páginas, o autor lida com as mudanças levadas a cabo pelo magistrado de
34 Grenoble, um Raymond Mulet, na cidade de Romans, em que vemos o fim das
assembléias populares eleitoras dos cônsules, a criação de um Conselho geral de
40 membros que passaria a nomear aqueles quatro prefeitos e ser também a
assembléia municipal, o fato desse Conselho ser renovado de três em três anos
por meio das nomeações mútuas como determinado pelo ato de 1542 (uma
novidade assustadora), o fato desse mesmo Conselho ser escolhido por uma
assembléia popular em maio de 1542 (a última de caráter popular), que fora
manipulada ou controlada pelo próprio Mulet em pessoa, como vai se formar o
Conselho escolhido pela aquela assembléia popular (eram 10 membros de cada
uma das ordens ou qualidades da cidade, ou 20 mais ricos e 20 mais pobres), o
fato de estarem, entre os 20 mais poderosos presentes no Conselho, membros das
familias locais de Romans como os Velheu, os Bourgeois e os Guigou, o fato
deles serem os oligarcas de Romans, e com isso, a idéia de um sucesso de por
parte do parlamento de Grenoble, com a ajuda das “máfias” locais, em seu golpe
de Estado em Romans, golpe este que conteve as rivalidades criadas em virtude
da formação de artesãos rebeldes, cuja demografia aumentara durante o século
XVI, na suposta “democracia” de Romans.
 Continuando, ele fala das rixas entre as duas primeiras classes mais ricas, ou os
20 membros da primeira metade, uma vez que os 10 da segunda qualidade viam
os 10 da primeira como “parasitários”, da conservação do Conselho formado em
1542, com os 10 membros representando as quatro qualidades, órgão este que
passa a ter controle total de Romans e se renova por convocações sucessivas, do
pressuposto da revolução carnavalesca como tentativa de acabar com as
conseqüências do golpe de 1542, do acréscimo de membros extraordinários em
1579 através de Paumier, o líder dos artesãos rebeldes, ao Conselho de 1542, uma
vez que esses novos membros eram agradáveis ao povo de Romans e os mesmos
vêm por meio de uma invasão ao Conselho liderada pelos artesãos, e esses “novos
conselheiros” eram, em suma, chefes provenientes das familias artesãs mais
rebeldes de Romans, como Guillaume Robert-Brunat, Jean Serve-Paumier,
François Robin, e Jean Jacques.

 Passamos para a presença dos huguenotes burgueses, na presença de Jean Guigou,


uma espécie de “vira-casaca”, já que vai se aliar ao juiz Guérin posteriormente,
calvinistas esses que foram partidários rapidamente da revolta, esperando que
tivessem apoio na sua luta religiosa, chegamos ao fim daqueles conselheiros
extra-ordinários e dos capitães de bairro, estes últimos que foram nomeados por
causa da pressão popular para que o antigo capitão, Antoine Coste, fosse
substituído, este sendo um grande desafeto por parte dos artesãos, ao fato também
de Romans, pós 1580, continuar a ser comandada pela oliguarquia-mafiosa
estabelecida em 1542, assim como o fato daqueles conselheiros novos, segundo o
autor, representarem uma “renascença” da soberania popular abolida em 1542,
esses que ou foram mortos por enforcamento ou foram aprisionados em 1580.
P.35-  Nestas páginas, o autor fala dos aspectos da vida cultural e religiosa de Romans:
38 cita o teatro que fala de um mistério católico, “Os Três Mártires”, em meio às
comemorações de Pentescotes, do mês de maio de 1509 e numa oração voltada ao
fim da peste e da seca, o que mobilizava muitas partes da cidade (humanas,
religiosas e financeiras), fala da construção de um calvário em 1516, em Romans,
acarretando na criação de um lugar “sagrado” (um lugar fértil a milagres ou
renascimentos de crianças), fala que esses entusiasmos renascentistas são uma
espécie de “anúncio inverso” das iras da Reforma Protestante anteriores mesmo
as guerras de religião na França, passando assim a presença huguenote em
Romans, entre 1562-63 e 1567-8, fortalecida pelas guerras de religião bem como
detentora de um poder político tanto em Romans como no Conselho da Cidade (O
mesmo Jean Guigou era seu representante), porém, os calvinistas estavam em
minoria (eram 12,4% ou 181 chefes de familias, num total de 1454 chefes, no ano
de 1569). As profissões deles transitavam entre burgueses e artesãos (tecidos,
cardadores, trabalhadores, e amoladores), dos quais sai Jean Jacques, o líder da
revolta entre 1579-1580, e posteriormente o vira-casaca Jean Guigou.

 Os calvinistas vêm perdendo seu poder desde 1569, quando os capitães de bairro
passam a ser controlados cada vez mais por Guérin e os cônsules católicos, ao
passo que em 1573 a sua quantidade decresce para 10% ou 128 chefes de família,
enquanto que a fuga para Genebra em virtude do Massacre da Noite de São
Bartolomeu, em 1572, e a renuncia, por causa do medo, ao protestantismo vão ter
seu respectivo impacto na comunidade huguenote, a qual, distante da vida politica
de Romans na década de 1570, vai se aliar, sutilmente, aos artesãos rebeldes em
1579 e 1580, mas abandonando-os posteriormente.

 Quanto a Igreja Católica Romana, o autor cita a existencia de um “sentimento”


católico-pagão em Romans, enquanto que o Carnaval local, que é a “sala de
espera” da Quaresma e esta que é prenunciadora da Páscoa, materializa esse
“sentimento” duplo religioso urbano, além de ser também uma festa na qual o
sagrado e o grotesco estão juntos; Com isso, ele cita que a “habilidade” da
Quaresma era ser uma especie de preparadora dos iniciados ao cristianismo (antes
os proprios pagãos) a Páscoa e ao batismo, pratica na qual os antigos cristãos
estariam presentes: havia a purificação, nos 40 dias de Quaresma, por meio da
penitência. E então no Carnaval (anterior a Quaresma), os iniciados ao
catolicismo poderiam sepultar a sua vida pagã, explicando, assim, o fato normal
do Carnaval ser marcado de festas gastronômicas e pagãs (vindas das festas como
Saturnais e Lupercais, comuns na Idade Antiga), assim como ser marcado pela
sua incorporação ao calendário cristão anterior a Quaresma e a Páscoa.

 Ainda na Igreja Católica em Romans, o autor diz que a mesma passa por um
momento traumático, em virtude das Reformas Protestantes e das Guerras de
Religião, cuja renovação apenas ocorre posteriormente a 1580, quando passa a
seguir os preceitos do Concilio de Trento, o que não impede, entretanto, que sua
“sensibilidade” não se encontre viva, ainda que esteja em crise, o que explica o
fato da sensibilidade do Carnaval ainda não ser contestada, passando a sê-lo pelas
idéias vindas dos ensinamentos do Concilio de Trento, muito depois. Por outro
lado, o clero de Romans se encontra numa decadencia social, o que não acarreta
em seu desaparecimento total, durante os anos de 1579-80, ao passo que nem
mesmo alguns clérigos, como os cônegos, os curas das paróquias locais e os
monges franciscanos da cidade, vão ter algum papel relevante na revolta entre
1579 e 1580 em Romans, assim, a Igreja não vai ser decisiva no Carnaval
revoltoso, mas vai estar presente nos dois lados em conflito (nas fraternidades que
a usam, nas festas folclóricas com a presença do sagrado e do grotesco, e o
reconhecimento, pelos membros do partido da ordem, da sua hierarquia católica).

 O autor nos diz que existe, além dos conhecimentos religiosos e astrológicos, o
saber erudito na cidade de Romans, presente na pequena elite local, difundido
pelos colégios instalados na cidade desde a Idade Média, instituições estas que
são administradas pela municipalidade urbana e pelos cônegos de Saint-Barnard,
e com isso, entramos na dificultosa análise da alfabetização em Romans entre
1579 e 1580: alguns importantes, durante a Revolta, sabiam assinar, ou seja,
escrever, e alguns chefes do movimento tinham uma assinatura “bonita”. Já a
massa revoltosa era iletrada: o autor compara o Carnaval de cada “estamento”,
onde o dos ricos é letrado e francês, enquanto que o dos pobres é iletrado, pelo
menos aos membros da tropa que desfilam e se manifestam; sendo que essa
clivagem é relevante, no que diz aos temas simbólicos presentes no Carnaval. O
autor mostra que os registros paroquiais de 1641-4 mostram 71% de iletrados em
Romans (a maioria deveria ser composta por mulheres), e em 1580, ele constata
que o indice total de analfabetismo de Romans ficaria em 80%, uma vez que a
educação ou instrução dessa época era pior do que aquela de 1643. Mas tal indice
de analfabetismo urbano, em 1580, ainda era superior as realidades rurais
próximas, nas quais, entre dez adultos, nove eram analfabetos.
P.38-  Em relação aos campos ou à zona rural, que são cercados por colinas e
40 montanhas, assim como as cidades contestadoras do Delfinado (Vienne,
Grenoble, Romans Valence e Montélimar), o autor salienta a sua presença ou
participação durante todo o livro, ao passo que diz que o Carnaval revoltoso não
passa de uma “vitrine”, ou seja, uma exposição urbana de uma grande querela
rural, e, com isso, compara as lutas urbanas daquelas rurais: nas primeiras, os
artesãos enfrentam os burgueses, enquanto que nas demais são os camponeses
contra os nobres.

 Os embates urbanos são, segundo o autor, uma conseqüência lógica da


reurbanização renascentista, assim como são uma premonição ou advertência dos
conflitos urbanos atuais, marcadamente antiburguesas, enquanto que as lutas
rurais mais antigas ou “velhas”, mesmo sendo “atualizadas” com a contestação da
burocracia ou estatal.

 Com isso, depois de vermos um trecho de F. de Coulanges acerca do papel


poderoso do latifúndio na Idade Média, passamos para as posses fundiárias nobres
em Romans e Vienne (essas duas localidades englobam 271 aldeias juntas), onde
as infelicidades camponesas estão a todo vapor, em que nobres e clérigos
possuem 38,45% da terra, em fins do século XVI, enquanto que os burgueses
plebeus e camponeses ficam com 61,55% das terras.

 Assim vemos a diferença entre Romans e Vienne, em que a primeira conta com
34,12% no que se refere às terras nobres sem impostos, enquanto que em Vienne
as terras livres de taxas chegam a 40,85%, o que explica o desafeto, por parte dos
camponeses e burgueses, em relação às isenções fiscais. Assim, a quantidade de
terras de nobres e clérigos é elevada, mas nem tanto absurda, sendo que nas
vésperas da Revolução Francesa (1789-1799) os nobres e membros do clero
tinham entre 30% e 35% das herdades, contra 30% dos burgueses e 40% ou 45%
do campesinato, enquanto que na Inglaterra da mesma época (século XVIII) tem
80% das terras nas mãos da nobreza e da gentry.

 Com isso, 38,45% das terras livres de taxas, em Vienne e Romans, seria relevante
no ódio e rancor durante as revoltas de 1579 e 1580, e, dessa maneira, o autor
mostra uma concentração de 40% de latifúndios nas mãos de nobres e
eclesiásticos, que eram 2% da população entre 1579 e 1580, o que explicaria os
ataques contra essa minoria que ficou mais opulenta de maneira “capitalista” do
século XVI. Assim, os 38,49% de terras isentas e, por isso, contestadas, em
Romans e Vienne, são mais importantes do que os 27,35% de terras na província
do Delfinado.
P.40-  Aqui o autor aborda os direitos ou obrigações dos senhores feudais, sendo que
42 estes são também motivos de ódio, já que 93% deles está presente na casta
privilegiada: em Romans, os cônegos, representantes dos direitos feudais, não
têm tanta importância, assim a contestação sobra para os burgueses. Mas nas
demais localidades, o direito senhorial aparece com mais visibilidade, em virtude
dos dossiês nas guerras de religião e dos autos “revisão de fogo”, esse últimos
datados de 1700, e mostram uma realidade muito semelhante àquela do século
XVI. Pegam 106 aldeias no norte de Romans.

 O autor lista, assim, a quantidade de locais encontrados em que prevalece algum


direito feudal: 57 aldeias pagam censos e rendas ao lorde feudal (os censos são
uma pensão em dinheiro ou em bruto, que aparecem nos campos, mas são
mínimos; a renda pode ser um juro de uma divida antiga que passou a durar [a
renda] para sempre e está em acordo com o tamanho da terra do devedor),
existem 27 moinhos de senhores, e neles os donos conseguem 5% da farinha que
é feita, assim como há 14 casos com fornos do senhor cujas taxas mudam (1/16
para o pão e 1/25 para a farinha), há o direito de vintena ou pagar 1/20 avos da
produção em 17 aldeias, 36 aldeias com o laudêmio e vendas de terras, 74 locais
com a corvéia, em que podem variar de acordo com as posses do agricultor.

 Existe a divisão dos aldeões em dois grupos: os que possuem bois e ovelhas e são
arrendatários de grandes ou pequenos proprietarios, e aqueles que não donos de
nenhum animal, no caso falamos dos jornaleiros. Com isso, vemos que a posse de
um gado é um critério de diferenciação social na zona rural, além do fato da
formação de consenso rústico e rural contra o senhor feudal em momentos
turbulentos, já que ele impõe, ainda que de maneira hierárquica, sua pressão as
camadas altas e baixas da aldeia.

 Em seguida, o autor fala que o senhor feudal dá muito labor ao camponês, algo
visto pelos censos atrasados acumulados e nos laudêmios (16,7%), então, ele
conta que, por conta da mudança de donos das terras do Delfinado, os nobres
conseguem tomar para si tais terras que passam a ficar disponíveis, no geral
campinas ou semi-campinas, especialmente no Baixo Delfinado, em Romans e
Valence assim como em Grésivaudan, onde, nessa ultima, os descendestes
enobrecidos do juiz Guérin morarão.

 Aborda os enobrecidos isentos do fisco (um imposto) e sua dinâmica, a sua


reputação infame entre os camponeses aos quais impõem os impostos que
pagavam quando ainda eram plebeus, a dificuldade de indicar uma porcentagem
de seus rendimentos em relação aos nobres provinciais (50,6% de familias novas
num estudo sobre a convocação geral de nobres de Valence e Die em 1594, em
que apenas 4,4% são os enobrecidos). Essa “nova nobreza” é mal vista, e sua
arrogância se materializa na recusa de pagar os impostos, urinar nos cemitérios e
maltratar plebeus.

 Ao lado dessa nobreza sem sangue nobre, aparecem alguns camponeses que se
aproveitam das guerras de religião, ao conseguir terras entre 1560 e 1600, usando
suas rendas, que são empréstimos com os juros aceitos pela lei e pela Igreja, e
estes exploram muita gente sem escrúpulos, especialmente os devedores.
P.43-  Nestas partes finais, o autor fala do dizimo, o conceitua (10% na colheita dos
44 produtos agrícolas mais relevantes), faz uma análise de seu recolhimento em 271
aldeias/335 dimeries entre Vienne e Romans por volta de 1700, vendo que o que
ocorreu era na verdade um “vigésimo”, em relação aos cereais numa taxa de
4,98% ou 1/20.1, onde ela é menor em Romans (106 aldeias ou 126 dimeries,
com 4,55%) e maior em Vienne (165 aldeias ou 209 dimeries, além de 5,49%), e
disso constata que essa taxa não era algo surreal ou absurdo aos olhos do
camponês e é menos pesada que os direitos feudais de Languedoc e nos Pirineus
de Comminges (nessas, a taxa fica entre 8%, 9% ou 10%) o que explica a falta de
um ataque rural à Igreja por parte de Romans, sendo que esta sofreu mais com os
calvinistas franceses depois de 1560, então a ira dos rurais emerge entre o
cristianismo e sua luta tem como alvo a terra feudal leiga.

 Com isso, a luta contra as obrigações feudais foram uma alvo “marginal” entre os
camponeses, pois eles concentravam sua fúria contra a isenção fiscal dos nobres,
uma vez que estes últimos eram “livres” dos impostos, mas de forma injusta (os
camponeses vão queimar alguns castelos nobres assim como seus os registros dos
foros nobres, os chamados terriers).

 Por fim, ele diz que o Carnaval se insere num momento da vida delfinesa tida por
“revolucionária”, e assim, vemos as querelas entre camponeses e senhores
(principalmente em virtude da isenção fiscal), a querela nas cidades entre os
artesãos e o povo contra os mais abastados, cita a ruptura da nobreza por causa da
religião por causa da religião, já que alguns nobres vão se converter ao
protestantismo, o que, segundo Lawrence Stone, apresentaria uma “situação
revolucionária” em virtude da existência desses elementos listados, como a
batalha entre dominantes e dominados, e a batalha entre a elite divida.

 Como acréscimo a tal situação, há o conflito entre o centro, Paris ou Blois, e a


periferia, o Delfinado cuidadoso de sua isenção fiscal, e a participação do exercito
real, que vai derrotar os camponeses revoltosos e vai ser o responsável por evitar
que muitas mudanças ocorressem no Delfinado, província esta que era próxima a
Suíça, na qual as lutas contra senhores e nobres já tinham ganhado importância.
Capitulo Dois: “O Fisco: plebe contra nobreza”.
P.45  Vemos o pensamento de Guérin acerca de uma suposta querela calvinista na
origem do Carnaval de Romans (ele acredita nisso ou tenta levar a crer que é
verdadeira), assim como sua denúncia da presença huguenote em Vienne, vista
por meio de um excerto.
P.46  Vemos a permanência ou manutenção da presença cristã nos Alpes e em Rhone
contra uma suposta “hegemonia” dos calvinistas franceses, a desaprovação das
revoltas populares, através de Ligas Populares, por algumas partes huguenotes
conservadoras (as achavam perigosas, num nível “anárquico”), especialmente o
líder dessa parte, François Lesdiguières (este falou da falta de ação por parte das
ligas em 13 de junho de 1579), o fato de essas ligas populares serem de
Montélimar sob a liderança do ultra-católico Jacques Colas, a falta de uma
igualdade calvinista em relação à revolta popular, a existencia de uma infelicidade
popular anterior aos calvinistas sem a qual seus cúmplices não teriam “promovido
o caos” em Vienne e Romans, insatisfação essa ligada aos roubos promovidos
pelos soldados, estes que vinham causando estragos na região há uns vintes anos,
desde 1560, quando começaram as guerras de religião na França.

 As guerras tinham causado impacto na província do Delfinado, e Guérin acusava


as querelas calvinistas de incitarem a população camponesa a se rebelar contra as
tropas em virtude das ações extorsivas e dos excessos cometidos pelos soldados
que passaram pelo Delfinado: o autor pega um caso de 1577, no qual as tropas
vindas de Grillon, Larche e Martinière roubaram o gado local e ainda o
revenderam. Tal episódio foi tão marcante, que a travessia dessas tropas por
Romans, para poderem chegar a Languedoc, deveria ser feita em regimentos
separados, por ordem das autoridades de Romans, e durante seu trajeto, a
população de Romans fechou suas lojas e se armou nos postos e nas entradas da
cidade, como ordenaram os cônsules locais. Mas o autor diz que isso não quer
dizer que o povo local da cidade não tratou as tropas com educação.

P.47  O autor dizia que os roubos aos gados, negativos aos rebanhos e colheitas dos
agricultores e da população urbana semi-rural, nem sempre eram resultado das
pilhagens soldadescas, assim como diz que o povo era obrigado a dar a sua
comida às tropas, que comiam abundantemente, citando o caso de julho de 1577
em que Romans, por ordens do comissário-geral dos alimentos, o Sr. de
Moidieux, fora obrigada a dar alimentos como bois, carneiros, vinhos e pães aos
soldados de um Sr. de Gordes acampados em Pont-en-Royans, cujo cerco a tal
cidade havia sido cancelado, bem como o pagamento, ainda em julho de 1577, de
600 escudos, por parte de Romans, para poder pagar o resgate de dois bois,
seqüestrados por militares, dos cônsules locais, e mais um caso, em 1575,
envolvendo o barão de Gordes (oficial de justiça do Delfinado), que, em Romans,
exige que seja feito um incentivo, para poder manter seus soldados vivos,
incentivo este que ficou acima das 20 libras. Além disso, ele aborda o impacto das
foules ou as arrecadações das taxas, em relação aos contribuintes, e a ordem
recolhimento de quatro escudos, em agosto de 1578, prevista para toda a
província do Delfinado, “escudos” estes cuja função era pagar os impostos
atrasados e as dividas atrasadas dos calvinistas e do católicos.

 Tais quatro escudos, ainda que contestados pelos ambos os lados em conflito, vão
ser pagos sem nenhum obstáculo (isso estaria presente no relato de um tabelião de
Saint-Antoine, Eustache Piémond), e ainda outros impostos surgem em seguida
(uma talha de dois escudos e 40 soldos em outubro de 1578, e depois 15 escudos,
sete soldos e três denários), cuja finalidade era pagar as dividas e despesas locais
e da província como um todo. Além disso, o autor alerta para a situação do
Delfinado, marcado pela guerra entre católicos e calvinistas, mesmo com reino da
França em paz em virtude do édito de pacificação de 1577, o que explica, por
parte das comunidades rurais e urbanas do Delfinado, a procura aos Cahiers
(cadernos) do Terceiro Estado local (estes que, oficialmente, foram apresentados
em Blois em 16 de março de 1577): o autor explica que nesse local, os indivíduos,
que cobraram a talha a algum dos beligerantes, deveriam se justificar e devolver a
quantia, esse ato devendo ser feito de forma presencial e com a presença de
alguma autoridade de conselheiros de fora da Provincia, para que estes não
fossem vistos como “conchavos” dos culpados.

P.49 
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