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CONTEÚDO

Agradecimento
Prefácio
O que pensam que é
O que realmente é
Conclusão

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AGRADECIMENTO
PRIMEIRO AO CRIADOR, por absolutamente tudo
Em seguida aos meus pais, por me fazerem quem eu sou hoje
Aline, minha esposa, meu norte, minha força, minha inspiração, meu
fôlego e muito mais
Meus filhos Rafael Noah, Aaron David, Asher e Eitan por me empurrarem
cada vez mais para o alto e avante.
E aos amigos do coração que estiveram lá quando precisei

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PREFÁCIO
A IDEIA DO título “Você não sabe o que é o Judaísmo” surgiu do fato de ter
uma opinião muito forte a respeito do mundo que nos cerca e geralmente isso
bate muito de frente com o senso comum e a cultura brasileira de buscar
agradar a custo de tudo. Nunca me preocupei em ter a mesma opinião que as
outras pessoas e sempre abominei pessoas que tivessem uma resposta pronta
pra tudo, até eu começar a questioná-las, para que então elas passassem a se
utilizar de recursos retóricos de baixo nível como argumentos ad hominem,
ironia e sarcasmo, falácias de autoridade, chegando até a instâncias de
violência para fazer valer um ponto de vista. Mas debater temas abertamente
infelizmente é uma tarefa hercúlea no Brasil. Um dos piores sistemas
educacionais do planeta, uma taxa baixíssima de leitura, nível de
interpretação de texto pior ainda, mercado cultural dirigido pelo estado com
uma agenda clara de formação de um discurso restrito, culto à personalidade,
entre tantas outras coisas fazem com que a cultura de qualidade torne-se
rarefeita, elitizada e pouco respeitada, inclusive com presidente da república
se vangloriando por não ter lido um único livro na vida. Qual a expectativa de
ter um debate sério e enriquecedor em um contexto desse?

Assim sendo, para não ter que produzir obras longas, prolixas e
demasiadamente abrangentes a ponto de ninguém se propor a lê-las, minha
ideia é responder de maneira sucinta e clara algumas das questões mais
básicas que mais fazem parte do meu meio, esclarecendo-as da forma mais
completa possível, o que você jamais teria em uma Wikipédia, mas
concentrada a ponto de cada uma dessas obras poder ser lida em uma tarde
livre, durante um almoço ou até no transporte coletivo a caminho do trabalho,
e com a qualidade de alguém que se coloca como não apenas um
“especialista” no tema, mas que o vivencia no dia a dia em primeira mão, que
respira nas profundezas do conteúdo proposto e emerge novamente à
superfície para contar o que viu.

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Como primeiro tema, elegi esclarecer de uma vez por todas o que é o
judaísmo. Eu sei que existem incontáveis obras que abordem esse tema, de
enciclopédias, a manuais, guias e artigos que podem ser encontrados hoje em
dia virtualmente em qualquer lugar, especialmente na palma da sua mão.
Infelizmente nenhum deles acerta.

Sério. Nenhum.

Cada um deles possui um conjunto de erros grotescos, sejam eles de


entendimento do tema porque não são judeus praticantes, ou fazem
generalizações absurdas ou mesmo contém erros históricos lamentáveis. Pior
ainda quando é direcionado pela ideologia do autor ou da editora, querendo
se passar por neutros e isentos. Curiosamente, mesmo rabinos costumam ter
dificuldade com a construção de conceitos, semântica, embasamento
filosófico ou histórico, didática ou mesmo o poder de síntese, o que ainda que
tenha a ideia muito clara, pecam na hora de explicá-la.

Espero sinceramente você possa aproveitar essa pequena obra com o meu
humilde ponto de vista sobre a minha identidade, que não pretendo que seja
uma verdade absoluta ou sequer uma opinião definitiva acerca do assunto,
tanto quanto eu curti em escrevê-la.

Rogo, acima de tudo, ao Nosso Pai e Nosso Rei, que está nos Céus, que me
ajude a não cometer injustiças, levar outros ao engano, ser conduzido na
escrita pelo meu instinto maligno ou falhar no meu objetivo de responder a
questões tão importantes de maneira satisfatória.

São Paulo, 28 de junho de 2017


Daniel Indech
indech@gmail.com

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O QUE PENSAM QUE É
PARA ENTENDERMOS O que o judaísmo de fato é, preciso esclarecer que
é fundamentalmente importante que antes devemos desfazer concepções
equivocadas sobre o que o senso comum costuma mostrar a respeito dessa
questão. Em um primeiro impulso, temos a ideia de que o judaísmo nada
mais é que uma religião como tantas outras. Mais especificamente falando,
uma religião criada no meio do deserto em algum lugar do Oriente Médio e
mais adiante associada à terra de Israel, cuja fama reside no fato de ter
introduzido o monoteísmo no mundo, além de produzir em seu meio uma
quantidade desproporcionalmente grande de personalidades que
influenciaram de maneira definitiva praticamente todos os campos do
conhecimento humano.

Essa definição não poderia estar mais errada. A bem da verdade, o judaísmo
nem sequer religião é. Aliás, se formos buscar a palavra em hebraico para
"religião" na Torá, o texto-base sagrado do judaísmo, terminaremos de mãos
vazias.

Como assim?

Entendemos por religião, a grosso modo, como sendo um sistema humano de


crenças, rituais, costumes, leis, elementos culturais e parâmetros éticos e
morais, derivado da necessidade de conexão do ser humano com uma
entidade sobrenatural maior, especificamente o que convencionamos chamar
de “Deus”, tido por esse sistema de crenças como o Criador e Supervisor da
nossa realidade. Uma vez que o sentido original de crença esteja
desvencilhado da necessidade de um conhecimento pleno dos detalhes dessa
realidade e da própria existência desse Deus, então toda a percepção da
relação entre o homem e o divino não carece de um entendimento racional ou
menos ainda controlável pelos atos humanos, conscientes ou não. Por isso,

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esse conjunto de crenças nomeamos de fé. Com ela, cultua-se o Criador do
Universo, voltando a própria vida para um propósito maior que si mesmo,
formando o caráter que permite o desenvolvimento individual, baseado em
valores absolutos e limitações derivadas dessa postura, e, consequentemente,
de uma sociedade mais justa, espiritualmente mais elevada, mais funcional e
com valores mais benéficos para todos. Em suma, melhor.

E, se essa fé, esse sistema muitas vezes com um alto nível de sofisticação,
leva a um mundo obrigatoriamente melhor, então não apenas é salutar
espalhá-la aos quatro ventos, mas em muitos casos é considerado até um
dever, uma missão, que pessoas que estejam fora dele devam ser trazidos ao
grupo e aceitem esse sistema de maneira voluntária ou coercitiva, ainda que
essa pessoa possua um outro conjunto de crenças concorrente. Dessa
dinâmica se tira que a tão almejada conexão com o infinito que o torne um
indivíduo completo esteja inteiramente apoiado em um credo, ou melhor
dizendo, uma opção momentânea de roupagem de credo baseado na
conveniência ou identificação.

O judaísmo foge totalmente de cada uma dessas asserções e parâmetros.


Permita-me, então, demonstrar porque.

Emuná

O ponto mais essencial dessa diferença, na minha humilde opinião - é o fato


de que os judeus não possuem o conceito de fé. A ideia de fé se baseia no
entendimento de que Deus é tão acima da nossa realidade, tão diferente de
qualquer coisa que consigamos imaginar ou elaborar, que não podemos
sequer começar a compreender, e, portanto, muito do fundamento da religião
e da nossa relação com Deus não deveria ser questionado, estudado, e por
conseguinte absorvido pelo intelecto. Logo, dentro dessa visão, religião e
razão não são apenas diametralmente opostas, mas inclusive mutuamente
excludentes em pontos-chave das fundações teológicas que compõe as
religiões do mundo.

Maimônides (1135-1204, conhecido pelos judeus como “Rambam”, um

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acrônimo em hebraico de Rav [rabino] Moshe ben Maimon), um dos maiores
rabinos da história, foi um dos primeiros a codificar os 613 mandamentos que
estão na Torá e uma das principais referências dentro do corpo legal judaico.
Para ele, o primeiro mandamento é “Saiba que existe um Deus.” — Note
bem que ele disse “saiba”. Rabinos quando produzem alguma obra de cunho
legal, não se utilizam de floreios, metáforas ou demais recursos linguísticos
que levem ao erro na interpretação e execução falha da vontade divina. São
objetivos e precisos e cada palavra tem seu propósito. Portanto, se
Maimônides escreveu “saiba”, e não “acredite”, “tenha fé”, “aceite” ou
qualquer outro termo que entre na categoria de crença, existe um bom motivo
para isso. A mensagem que ele deixou bastante explícita é de que nossa
relação com Deus não envolve fé. Sabedoria se adquire por meio de um
processo iniciado com o questionamento da realidade que nos cerca,
passando por uma completa investigação de evidências, reunidos por uma
aquisição de conhecimento e uso da inteligência para uma visão clara do
cenário. Judeus não acreditam em Deus. Não têm fé: Sabem da existência
Dele.

Daí que existe uma certa confusão quanto à tradução da palavra hebraica
“emuná”. Mesmo a maioria dos judeus ortodoxos a explicam como sendo
“fé”. Porém, como dito anteriormente, uma vez que o conceito de fé
(especialmente dentro do âmbito de “fé cega”) não faz parte dos fundamentos
do judaísmo, a tradução mais correta aqui seria “confiança”. Ou seja, naquilo
em que a nossa compreensão não alcança, como profecias que ainda não
foram cumpridas por não haver chegado o momento, os judeus confiam. Para
todo o resto, os judeus estão obrigados a usar de sua autonomia e capacidade
intelectual para buscar o Criador como o agente por trás de toda a realidade.

Daí surge a base de definição do judaísmo: Os Treze Princípios de Confiança


(Fé), conforme elaborado pelo próprio Maimônides, e presentes no ‘sidur’
(principal obra da liturgia judaica), costumeiramente lidos todos os dias após
o serviço matutino. Neles constam os parâmetros que compõem a espinha
dorsal do judaísmo:

1. Tenho confiança plena que Deus é o Criador de todas as criaturas e as


dirige. Só Ele fez, faz e fará tudo.

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2. Tenho confiança plena que o Criador é Único. Não há unicidade igual à
Dele. Só ele é nosso Deus; Ele sempre existiu, existe e existirá.
3. Tenho confiança plena que o Criador não é corpo. Conceitos físicos não
se aplicam a Ele. Não há nada que se assemelhe a Ele.
4. Tenho confiança plena que o Criador é o primeiro e o último.
5. Tenho confiança plena que é adequado orar somente ao Criador. Não se
dever rezar para ninguém ou nada mais.
6. Tenho confiança plena que todas as palavras dos profetas são autênticas.
7. Tenho confiança plena que a profecia de Moshê Rebênu é verdadeira.
Ele foi o mais importante de todos os profetas, antes e depois dele.
8. Tenho confiança plena que toda a Torá que se encontra em nosso poder
foi dada a Moshê Rebênu.
9. Tenho confiança plena que esta Torá não será alterada e que nunca
haverá outra dada pelo Criador.
10. Tenho confiança plena que o Criador conhece todos os atos e
pensamentos do ser humano.
11. Tenho confiança plena que o Criador recompensa aqueles que cumprem
Seus preceitos e pune quem os transgride.
12. Tenho confiança plena na vinda de Mashiach. Mesmo que demore,
esperarei por sua vinda a cada dia.
13. Tenho confiança plena na Ressurreição dos Mortos que ocorrerá quando
for do agrado do Criador.

Em outras palavras, se alguém abre uma sinagoga e prega algo que seja
diferente desses treze princípios, então esse alguém pode chamar essa ‘seita’
de qualquer coisa, menos de judaísmo.

Culto

Outro ponto é que judeus não cultuam o Criador. Ele é perfeito, completo, e,
portanto, não possui necessidades, que dirá uma necessidade narcisista de ser
cultuado. Toda a nossa relação com Deus tem foco em nós mesmos. Da
mesma forma que pais ensinam seus filhos com exemplo, responsabilidades e
transmissão de informação como ser uma pessoa independente e bem

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sucedida, ou seja, os pais fazem pelo filho e não por si mesmos, ainda que
tenham alguma recompensa emocional, também Deus pede essa relação para
nosso próprio benefício. Por isso o foco não é nem deve ser Deus e sim nosso
próprio potencial. Para os judeus, cultuar Deus foge a esse propósito. Como
exemplo, temos o verbo lehitpalel (rezar, em hebraico), que utiliza uma
estrutura gramatical de verbo reflexivo, indicando assim que quando
rezamos, não rezamos porque Deus precisa desse ato humano, senão que
rezar cumpre uma função de reflexão e autocorreção de postura pessoal frente
ao Todo Poderoso.

Valores

O Povo de Israel entende e sabe que existem benefícios práticos para a


formação de uma sociedade com valores determinados pelo Criador do
Universo. Não por acaso, em um estudo recente sobre qual seria o país “mais
feliz do mundo”, Israel ficou no topo do ranking. Nesse estudo, por felicidade
(um termo subjetivo), os pesquisadores estabeleceram como critério o amor à
vida, tomando como base taxas de natalidade e suicídio.

Igualmente, ao se usar como base os dados de IDH, entre outros critérios de


qualidade de vida de Israel, curiosamente a população mais religiosa, mesmo
os mais miseráveis, em comparação com a população laica e abastada do
país, demonstra números bem melhores, o que vai contra a realidade em
qualquer outro país, onde pobres têm piores condições de vida em relação aos
mais bem sucedidos financeiramente. Religiosos em Israel vivem mais, se
casam mais e por mais tempo, se divorciam menos, têm mais filhos, cometem
menos suicídios, têm menos doenças e ataques cardíacos, vivem mais, têm
menos problema de alcoolismo (mesmo bebendo mais), e assim por diante.

De qualquer forma, esses valores são colaterais e consequência de uma


entrega pessoal a Deus, não o objetivo final. Como essa relação com Ele tem
por base um esforço individual, denotando a intensidade, sinceridade e
caráter voluntário, para os judeus é estranho que isso seja imposto de fora pra
dentro, ainda mais de maneira forçosa ou mesmo fruto de pressão social. Por
isso o proselitismo é mal visto no judaísmo. Os judeus querem um mundo

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melhor? Sem dúvida alguma. Faz parte da essência dos ensinamentos
judaicos. Mesmo os judeus mais afastados da prática religiosa carregam isso
consigo e têm como um valor primordial. Mas não a ponto de trazerem
pessoas sem que essas sejam sinceras em relação a seu temor aos Céus.
Judeus entendem que seu papel não é o de pregarem ou converterem, mas o
de estabelecerem uma referência, serem um modelo para a humanidade, por
meio de uma conduta, uma postura, e então uma organização social, que
inspire as demais nações do mundo.

Prática e Lei

Pergunte a algum fiel de outra religião para quantificar sua fé e você


encontrará uma cara com um belo ponto de interrogação no meio dela. Fé é
algo interno e etéreo, abstrato e impossível de ser mensurado. E é comum
ouvir de cristãos que o judaísmo se perde na letra da lei, que se resume a um
conjunto de práticas mecânicas, vazias de emoção ou da essência da relação
com Deus. A verdade é o oposto disso. Utilizando-se de uma metáfora, se
compramos um presente a alguém muito querido, o normal é que nos
esmeremos nos detalhes: o lindo papel de embrulho, um laço elaborado, um
cartão bonito com uma mensagem especial, pessoal e dedicada entre outros
mimos. Ou seja, não basta demonstrar o apreço por meio do presente. Sempre
existe espaço para que a experiência seja mais marcante, tornando a relação
ainda mais forte. Ainda dentro desse conceito, é válida também uma alusão à
tecnologia: a ausência de um único ponto no endereço colocado no navegador
da internet faz com que não seja possível acessar corretamente a página
buscada. Igualmente é a nossa relação com Deus: focada nos detalhes e no
esforço.

Mas por que esses detalhes são tão importantes? Ora, se Deus entregou
mandamentos através da Torá, Ele estabeleceu que a relação com homem se
daria por tais ações. Nosso mundo é um mundo material, físico. Logo, ações
concretas são um parâmetro de avaliação que pode ser mensurado. Então
Deus disse “respeita o teu pai e a tua mãe”? Se eu, como judeu, serei julgado
por essa ação comandada, respeitar meus pais, logo quero saber todos os
detalhes minuciosos de como fazer isso da melhor maneira possível. Todos

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os limites, variáveis, cenários, níveis e leis que componham esse exemplo de
vontade divina. Às vezes é curioso ver a reação das pessoas quando eu
comento isso. Parece algo de outro mundo, mas não é. É só olhar de um
ponto de vista prático do nosso cotidiano: Se meu pai e minha mãe pedem um
copo d’água ao mesmo tempo, quem eu sirvo primeiro para fazer a vontade
de Deus? Esse copo d’água faz parte do mandamento? O que acontece se
meu pai ou minha mãe me pedem para fazer algo que contradiga outro
mandamento? Qual a prioridade? Tenho que aceitar absolutamente tudo o que
falam e obedecer a qualquer ordem? Qual o critério? Um estudo mais
aprofundado torna-se premente.

Daí a importância do estudo de Torá. E é por isso que os judeus têm a


educação como vital para suas vidas. Enquanto as outras nações implantaram
a educação universal obrigatória há pouco mais de um século, a Torá já dizia
ao menos 3.300 anos atrás que uma cidade com judeus que não tivesse uma
escola [de Torá] poderia ser destruída. Como resultado, levantamentos
demonstram que, proporcionalmente, os judeus possuem mais respeito,
admiração e desejo por uma carreira de estudos formais que os outros povos
do mundo, o que acarreta também em movimentos ideológicos, culturais ou
econômicos ao longo história liderados ou profundamente influenciados por
judeus ou sistemas de mensuração de resultados que explicitem tal
argumento, como o de que um em cada quatro prêmios Nobel foram dados a
judeus, ainda que os ‘membros da tribo’ representem apenas algo em torno de
0,2% da população mundial.

Credo

A lei judaica é bastante clara sobre quem é judeu: todo aquele nascido do
ventre de uma judia ou então convertido por um tribunal rabínico ortodoxo.
Não há outra opção. Se uma pessoa acorda um dia “se sentindo” judia ou se
cresceu em uma família judia ou ainda tem ancestrais judeus longínquos e
pratica vários dos preceitos da Torá, isso não o torna judeu. Isso porque
independente da afinidade da pessoa ou mesmo o nível de prática ou
seriedade em relação aos mandamentos, o judaísmo não é um credo. Um
judeu afastado, que não tem qualquer conhecimento ou não pratica qualquer

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aspecto do judaísmo ainda é chamado de judeu para todos os efeitos, tanto
quanto o rabino mais prestigiado de Israel. Ambos têm acesso aos mesmos
rituais e honrarias. O mesmo vale para judeus que dizem ter se convertido
para o cristianismo, islamismo, budismo ou qualquer outra religião, ou então
que se auto declare “ateu”, e os sábios ensinam que um membro do Povo de
Israel pode se arrepender até o último momento de sua vida e a comunidade
judaica aguarda ansiosamente por esse momento que todos os filhos de
Yaakov (Jacó) possam reunir-se novamente na Terra Prometida sob as leis da
Torá e o reinado de Mashiach (Messias, Ungido ou Salvador da
Humanidade).

Sionismo

Nas últimas décadas também cabe salientar que é normal ver as pessoas
confundindo judaísmo com o nacionalismo israelense. Porém judaísmo não
é sionismo. Eu particularmente me deparo com a pergunta “mas você vem de
Israel?”. Judeus não “vêm de Israel.” Não necessariamente. O primeiro judeu
(a grosso modo) foi Abraão. Ele não veio de Israel, veio da Caldeia e
somente com uma idade avançada, levantou acampamento e foi para a Terra
Prometida por Deus. Mas ao longo do tempo, por questões que são estudadas
geração após geração pelos judeus, o Povo de Israel esteve mais tempo fora
da Terra Santa do que vivendo nela, espalhados mundo afora. O que não
impede que judeus se identifiquem com o Estado de Israel, seja por se situar
na Terra Santa, seja porque abriga a maior comunidade judaica do mundo,
além dos esforços do governo em Jerusalém de criar uma relação próxima
com judeus de todos os lados. Ainda que a maioria dos judeus admire o
Estado de Israel, judaísmo e sionismo são coisas distintas.

Etnia

Apesar daquilo que uma quantidade bastante grande de pessoas imagina, o


judaísmo não é uma etnia. Ainda que historicamente os judeus possuam

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uma origem étnica em comum, sendo um ramo da descendência de Sem (daí
o termo ‘semita’, erroneamente atribuído apenas aos israelitas), com o passar
do tempo, as dispersões pelos quatro cantos do globo, conversões e
assimilações, os judeus acabaram por adquirir as características da população
local nos países em que se assentavam. Quem conhece Israel, por exemplo,
sabe que existem judeus germânicos, eslavos, africanos, latino-americanos ou
asiáticos. Ainda assim, muitos antissemitas ao longo da história tentaram
estereotipificar os judeus de maneira étnica, chegando a criar uma farta
iconografia composta de ataques ao judeus por meio de libelos, mentiras e
caracterizações extremamente grosseiras, onde via de regra, o judeu é
representado por uma figura masculina obesa, caucasiana, de trato agressivo,
com roupas finas e nariz grande, sempre demonstrando ter poder político ou
financeiro. Durante a II Guerra Mundial, por sinal, os nazistas chegaram ao
ponto de alocar recursos para estudos que pudessem estabelecer traços
biológicos que determinassem quem é judeu e quem não pela aparência.
Obviamente, falharam em chegar a conclusões que tivessem qualquer
respaldo científico.

Cultura

Temos aqui uma das confusões mais comuns associadas à definição de


judaísmo. Entre judeus laicos ou mesmo ateus é de certa forma comum
escutar que existe uma suposta diferença entre um “judaísmo religioso” e um
“judaísmo cultural.” Acredito que seja importante que se diga: o judaísmo
não é uma cultura. Esse tipo de visão não somente contém muitos erros,
como costuma levar muitos membros do Povo de Israel ao engano. Cultura,
ainda que grosseiramente, pode ser explicada como sendo o conjunto de
expressões de um determinado grupo de pessoas. E ao longo de quatro
milênios os judeus amealharam uma quantia significativa de elementos, nos
mais variados aspectos da vida cotidiana, particular ou pública, individual ou
coletiva. Muitos deles circunspectos a regionalismos ou temporalidades,
outros mais universais. O fato é que, por mais que permeiem e até
enriqueçam a identidade judaica, esses elementos continuam sendo apenas
subprodutos da expressão dos judeus como povo, não sua definição. A
cultura muda, se adapta, se transforma, é dinâmica na essência. E se a

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definição de judaísmo é etérea, superficial, passageira e está sujeita a revisão
constante, não tem limites estabelecidos. E tudo aquilo que não tem limites
estabelecidos, por definição, perde o próprio significado e assim seu sentido.
Em suma, comer guefilte fish, não tem por função determinar o que é ser
judeu ou quem o é.

Filosofia

Já ouvi de alguns rabinos que o judaísmo seria uma filosofia. Será mesmo? A
definição de filosofia na Wikipédia é "o estudo de problemas fundamentais
relacionados à existência, ao conhecimento, à verdade, aos valores morais e
estéticos, à mente e à linguagem.” Ainda que todo o conhecimento passado
ao longo das gerações pelos rabinos para entender a realidade esteja baseado
em argumentos racionais, não dá para entender o judaísmo como um mero
estudo, uma investigação intelectual ou ainda um recurso mental que abra
mão de demonstrações da informação dada por Deus como sendo verdadeira,
absoluta, e, portanto, imutável. Portanto, tranquilamente pode-se afirmar que
o judaísmo não é uma filosofia.

Ok, então usemos uma definição mais popular de filosofia, como sendo
um “estilo de vida”, uma “orientação” em direção a espiritualidade. Seria
mais compatível? Na verdade, essa linha de pensamento também seria
problemática, já que o judaísmo não é um mero conjunto de recomendações
para uma vida melhor, mesmo que indiretamente, a vida de seus praticantes
tenha benefícios. Igualmente, isso apenas ressaltaria um caráter eletivo em
relação a esse código, retirando a importância do fato de ele ser, na essência,
mandatório. Criado e ordenado pelo próprio Criador, esse código

Conspiração

Eu não achei que essa seção do livro fosse necessária. Infelizmente, pelo que
tenho observado em redes sociais e think tanks pela internet me obriga a

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clarificar esse ponto. Tornou-se cada vez mais presente aquela ideia insana de
que os judeus controlam o mundo e são responsáveis por todos os males e
vícios da humanidade, por meio do domínio da grande mídia internacional, o
sistema financeiro global, manipulação das elites políticas e sei lá mais quê
(acredite, já vi muita gente defendendo que o Mossad, o serviço secreto de
Israel, tem tecnologia para, entre outras coisas, ler e controlar a mente das
pessoas).

Pareceria piada e um argumento totalmente desnecessário, não fosse tão


disseminado, mesmo entre pessoas supostamente preparadas para lidar com a
informação e interessada pela veracidade dos fatos. Para ilustrar o problema,
trago como referência um caso acontecido alguns anos atrás, onde um
conhecido meu resolveu “brincar” com isso. Apesar de se dizer contra o
antissemitismo, criou um blog para disseminar uma ideia criada por ele, onde
os judeus teriam sido o motivo pela qual o Titanic afundou. Segundo palavras
dele, provas inexistentes foram forjadas por ele, bem como lógicas
distorcidas que embasassem o motivo pela qual os judeus fariam isso.
Segundo essa pessoa, o blog alcançou relativa popularidade e muitos
compraram tal teoria.

Da mesma forma, muitas outras teorias dentro dessa linha surgiram ao longo
do tempo e surgem a cada momento, desta vez não como uma brincadeira,
mas sim com o objetivo explícito de causar mal aos judeus, sendo que a que
leva o troféu, em minha opinião, é de que os judeus (ou sionistas, como
alguns preferem disfarçar), por meio do Mossad (sempre ele) foram os
culpados pelos atentados de 11 de setembro de 2001, nos EUA, onde 4
aeronaves civis foram derrubadas por passageiros, resultando na implosão
das torres gêmeas do World Trade Center e a destruição completa de uma das
alas do Pentágono. Se você está rindo nesse momento, é porque não tem ideia
do tamanho da imaginação dessa gente. Os judeus “criaram o comunismo”,
“financiaram o nazismo”, “provocaram a II Guerra Mundial”, “praticaram
genocídios”, “inventaram o Holocausto” (possivelmente para conseguir o
Estado de Israel, segundo eles), ou “praticam atentados com tubarões
treinados nas praias do Egito”, entre outras pérolas, assim como na Idade
Média era comum dizer que judeus raptavam crianças não-judias para extrair
dela o sangue e assim fazer matzot (pão de ázimo). Por incrível que pareça,
governos islâmicos hoje em dia ainda financiam programas de televisão e

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filmes que propagam essa mentira, mesmo com textos da Torá disponíveis na
internet que tragam explicitamente em versículo a proibição do consumo de
sangue.

Entre os próprios judeus existem aqueles que atentam com violência contra o
intelecto alheio, trazendo as teses mais absurdas, como a de que a experiência
divina no deserto na saída do Egito foi fruto de uma alucinação coletiva
provocada por cogumelos, até a inacreditável ideia que o povo judeu foi uma
invenção originada na Idade Média, e na verdade, o que chamamos hoje de
povo judeu nada mais é que um grupo de descendentes dos remanescentes da
Cazária, uma nação na Ásia Central, … Apesar de todas as evidências
científicas e arqueológicas em contrário. Seria engraçado, não fosse
lamentável.

Quando me deparo com tais absurdos, minha única pergunta a esse tipo de
gente é onde que eu encontro, segundo elas, seja nas Escrituras Sagradas, ou
em qualquer parte da literatura rabínica delas derivada, que diga que os
judeus devam ter como objetivo dominar a humanidade, subjugar os não
judeus ou sequer ter posições de destaque na sociedade. Nunca acharão
porque tais fontes não existem. Os judeus não têm, nem nunca tiveram o
objetivo de ‘conquistar o mundo.’ Justamente por isso que foi necessário que
a polícia secreta russa forjasse um livro que ajudasse a construir essa
narrativa. A obra “Os Protocolos dos Sábios de Sião” foi escrito e vendido
em todas as partes para criar essa fábula de que haveria uma espécie de
“comitê central de judeus” que definiria os rumos do mundo, aos moldes do
Grupo de Bilderberg. Enfim, o judaísmo não é uma conspiração
internacional de domínio da humanidade.

Dito isso, entendo que não valha a pena entrar em discussão com cada
ignorante que aparece na internet. Nosso tempo vale muito mais que isso,
além de ser escasso. A tendência é que o a vida dê conta dele de um jeito ou
de outro.

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O QUE REALMENTE É
JÁ VIMOS TUDO o que o judaísmo não é. Não é uma religião, uma etnia,
uma cultura, uma lenda, ou um sistema de conduta. Se não é nada disso,
então o que seria?

Ter Status de Judeu x Viver Como Judeu

Pensa assim: para Deus, não existe o conceito de identidade como um


artifício superficial de projeção de quem achamos que somos naquele
momento. Não somos definidos por isso, ou com quem nos identificamos,
nossas preferências, quem ou o quê nos cerca ou a que grupo pertencemos,
ainda que esses sejam elementos de influência. Enfim, não somos nossas
máscaras sociais e a perfumaria que as acompanha. Esses elementos são
passageiros, vazios e apenas refletem valores arbitrários, instantâneos, e que
em nada contribuem para dizer quem realmente somos.

Dentro desse conceito, algumas pessoas diriam que pintar quadros, ser
vegetariano ou ter grande carinho com animais são traços de uma pessoa
admirável, com caráter. Por isso, talvez, muitos se surpreenderiam em saber
que Adolf Hitler tinha essas mesmas características. Esses elementos,
portanto, nada atestam sobre “ser”, senão apenas de posse de um status. A
identidade deveria servir apenas como um guia pessoal interno, uma conexão
com a nossa alma.

Seguindo esse raciocínio, ainda que uma pessoa seja judia de nascimento (ou
mesmo por conversão), isso por si só não basta, ainda que tenha uma alma
judaica. Se essa pessoa tem a sorte de ter filhos judeus, ainda que eles sejam

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criados dentro das “tradições judaicas”, as chances são que ele se conecte
ainda menos com suas origens e, em algum momento, esse ciclo
inevitavelmente fará com que os descendentes nem judeus sejam por causa de
casamentos com não-judeus ou mesmo por optar por não ter filhos.
Estatisticamente, é natural aceitar que em 3 ou 4 gerações já não hajam mais
judeus na família que ignora o estudo sério e aprofundado do judaísmo e
consequentemente sua prática da maneira correta, segundo orientação de
rabinos ortodoxos. Tristemente, uma pessoa pode, portanto, ser judia e não
pertencer ao Povo de Israel.

Essência

Igualmente, sentimentos e emoções não nos definem perante o Criador. Esses


são elementos controláveis e podem se moldar à nossa intenção, assim como
podem ser influenciados por externalidades e elementos fora do nosso
controle.

Na verdade, nós somos nossas escolhas, nossas atitudes, nossas ações


concretas, aquilo que de fato transforma a realidade em que vivemos e
construímos. Toda vez que tomamos uma decisão importante em nossas
vidas, obrigatoriamente acessamos nosso código de ética pessoal, que será a
base para que essa decisão seja tomada. Daí vem a ideia que é importante
investirmos em um direcionamento objetivo dos nossos pensamentos, que por
sua vez formam nossas motivações, nosso caráter e servem, por fim, de
combustível para as nossas atitudes.

Toda vez que escolhemos seguir nosso lado material ou animal, abrindo mão
desse controle e definindo nosso destino, estamos fazendo a opção por
sermos escravos de nossos instintos, restringindo assim nossa liberdade de
escolha. Por isso é normal escutarmos expressões como “onde a vida me
levar”, “me apaixonei sem querer, aconteceu”, ou o uso indiscriminado de
“sorte” ou “azar”. Sim, podemos direcionar e controlar nossa vida, nossos
sentimentos e emoções e nos responsabilizar pelos resultados.

Isso explica porque toda ideologia que vende a ideia de um mundo sem Deus,

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obrigatoriamente recai na defesa da violência, ausência de culpa ou
preocupação com o próximo, relativismo moral, menor comprometimento
com o que quer que seja, e consequentemente, uma vida sem um sentido mais
profundo e finalmente vê com bons olhos a opção pela morte. Curiosamente,
quando defensores de um padrão moral de conveniência postulam que não é
necessário Deus para haver moralidade, os valores morais das quais eles se
baseiam invariavelmente são compatíveis com a moral religiosa (monoteísta).
Já viu algum ateu defendendo que o assassinato seja algo que beneficie a
sociedade? Ou que a humanidade encontre progresso com a guerra? Pois é...

Por isso existem mandamentos, regras e leis de origem absoluta. Se há um


referencial para o certo e o errado que é imutável, forma-se a consciência da
importância de optarmos pelo caminho correto, independente de ser o mais
fácil ou o mais difícil, de ser o mais compreensível ou não, segundo nossos
referenciais culturais ou intelectuais. Ainda assim, não se espera de um ser
humano que ele aja como um robô, que abra mão da sua individualidade. Se
há um referencial fundamental pela qual seremos julgados pelo Criador é
justamente como impactamos o mundo como indivíduos, dentro dos
parâmetros estabelecidos. Comparando, médicos (como todo profissional)
são divididos em bons médicos e maus médicos. Mas antes de ser um bom
médico, é necessário tornar-se um médico.

Sistema oficial

Seguindo no exemplo do médico, o que você pensaria de alguém que adentra


um hospital qualquer e diz que “leu de tudo, estudou até não poder mais, e
reuniu mais conhecimento que qualquer médico naquele estabelecimento”,
portanto tem o direito de trabalhar como médico, ser respeitado como tal e
que já lhe encaminhem prontuários e pacientes. Deveria ser levado a sério?
Por que não? Se alguém duvida de seu conhecimento, e faça uma pergunta
qualquer, de alta complexidade, se ele responder, isso quer dizer que está
apto? Confiaria sua vida nisso? Claro que não. Todo papel na sociedade que
seja minimamente sério exige um sistema de verificação que seja rigoroso o
suficiente para dar confiança que as pessoas que passam por ele e se
certificam como ‘aptas’ a exercer aquele papel realmente assim o sejam. E se

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o sistema de verificação tem um nível de alto qualidade, é lógico afirmar que
a preparação para tal deva ter um padrão de exigência compatível. Para que
uma pessoa seja médica, deve passar no processo seletivo da faculdade,
cumprir uma série de demandas impostas pela instituição (percentual mínimo
de presença, nota mínima em provas ou médias, disciplina nas aulas, etc.),
passar por um programa de residência, adotar uma especialização e por aí
vai.

Dentro dessa realidade, se com determinadas áreas temos o rigor de


estabelecer um sistema oficial, por assim dizer, que determina a maneira com
que a aptidão é ensinada, treinada e verificada, o que dizer em um campo um
pouco mais abstrato, mas não menos importante, como moral e ética? E se eu
te dissesse que justamente existe um sistema que funciona dessa forma, onde
um grupo inteiro de pessoas é ensinada ao longo de sua vida de como ser o
melhor possível dentro dos padrões humanos de “certo” e “errado”, cujo
objetivo é que justamente sirvam de referência para toda a humanidade?
Talvez pareça até presunção, mas entenda que estamos falando do próprio
Deus ter feito essa escolha e criado esse sistema.

Portanto, se te disserem que o judaísmo tem diferentes “linhas” ou


“interpretações”, diga que se cure de suas doenças com diferentes “linhas” e
“interpretações” da medicina também ou que more em prédios construídos
por diferentes “linhas” ou “interpretações” da engenharia. Acho que deu pra
entender, não? O judaísmo não tem “linhas” ou “interpretações”, tem um
sistema oficial, chamado de ‘ortodoxo’. O resto, justamente por não seguir as
regras ‘oficiais’, independente do mal que causa a seus seguidores e
descendentes, tende, como a história nos mostra, a não durar muito tempo.
Como no Brasil costumamos dizer, “mentira tem perna curta”.

Resposta

De tudo o que vimos nessas páginas, como poderíamos resumir isso em uma
ideia sucinta e finalmente respondermos a pergunta inicial: afinal, o que é o
judaísmo? Se os judeus então são uma nação, não baseada em um território,
uma língua, uma etnia ou uma cultura, mas sim um status espiritual, então o

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judaísmo é uma nacionalidade. E se essa nação tem como função o estudo e
a prática dos ensinamentos divinos para o crescimento espiritual, servindo
assim como um norte da moral e dos valores perante a humanidade e difusão
de uma vida com um nobre propósito de fazer o bem (segundo parâmetros
absolutos), então o judaísmo é uma representação oficial dos ensinamentos de
Deus, ou seja, um sacerdócio. Em suma, o Povo de Israel é uma nação
espiritual de sacerdotes.

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CONCLUSÃO
OK, ENTÃO JÁ pudemos chegar à conclusão que o judaísmo é uma
nacionalidade espiritual. Que diferença faz para um judeu ou um não-judeu
saber esse tipo de detalhe?

Bom, para um judeu fica a ideia de que sua identidade está instrinsecamente
ligada à uma função, nesse caso, a de ser servir de referência em termos
morais para o resto da humanidade, com base nos ensinamentos divinos. Isso
por si só já ajuda a responder questões muito fortes que costumamos ter sobre
a vida. Eu constantemente sou perguntado por alunos meus sobre como eles
podem saber qual seria sua missão nesse mundo. A resposta obviamente não
é (nem pode ser) simples, mas o que eu busco passar é que essa missão, esse
papel dentro do grande plano, que gera, em última instância, um propósito
que norteará suas vidas, deve ser buscada com o nível mais profundo de auto-
conhecimento, e essa jornada de descoberta começa no reconhecimento da
sua própria identidade, suas raízes, de onde viemos e o que fez com que nos
tornássemos os indivíduos que somos hoje, sendo a base para as decisões que
tomamos e caminhos que seguimos. Sem essa identidade, não há conexão
com a nossa própria essência, logo, encontrar um caminho que traga
plenitude torna-se virtualmente impossível e a vida perde todo o sentido.

Para quem não é judeu, o objetivo de estabelecer, por meio dessa informação,
a verdadeira função de um judeu no mundo como um farol para as nações do
ponto de vista espiritual e a conexão com o divino não deveria vir muito
como uma novidade. Afinal, os judeus trouxeram ao mundo o monoteísmo e
diversas religiões surgiram a partir daí. Em grande parte, o trabalho do judeu
já tem sido executado e influenciado o mundo todo há aproximadamente
quatro mil anos. No livro de recordes Guiness, a Bíblia consta como sendo o
livro mais vendido da história da humanidade (mais de cinco bilhões de
cópias), além de vender anualmente mais de cem milhões de unidades e ser a

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obra com mais traduções (quase 1500 idiomas atualmente). Disso, tira-se que
apesar dos gregos e romanos formarem o mundo ocidental moderno do ponto
de vista cultural e político, os judeus são a fonte de valores éticos e morais.

Também torna-se compreensível o interesse mundial pelos judeus (tanto para


o bem, quanto para o mal). Não movem uma única pedra sem que isso acabe
virando manchete em todos os principais veículos de comunicação de todo o
planeta, de maneira mais que desproporcional.

Por fim, vale dizer que ter uma tarefa divina não torna ninguém melhor que
os demais, que dirá superior. Se o objetivo desse livro foi demonstrar a
relação da identidade do judeu com a sua tarefa especial, isso jamais poderia
incorrer naquela ideia falada algumas páginas atrás sobre a preocupação com
a identidade como subterfúgio da vaidade, do orgulho ou simplesmente da
busca por um ajuste social. Ser judeu é simplesmente ter a maior
responsabilidade de todas, e isso deve ser levado muito a sério e com muito
respeito.

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Índice
Conteúdo 2
Agradecimento 3
Prefácio 4
O que pensam que é 6
O que realmente é 18
Conclusão 23

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