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A Rainha de Sabá

Escavação no deserto do Iêmen procura sinais da mulher que encantou


a corte do rei Salomão

Fonte: Revista Veja - Edição 1 739 Natasha Madov

A rainha de Sabá é uma das mulheres mais marcantes da


Antiguidade. O fascínio que exerce sobre o homem moderno talvez só
encontre paralelo em Cleópatra, que conquistou o coração dos romanos
Júlio César e Marco Antônio há 2.000 anos. A diferença é que a sensual
rainha egípcia teve sua vida razoavelmente documentada. Quase tudo o
que se sabe da rainha de Sabá está contido em treze versículos do
Velho Testamento e em alguns trechos do Corão, o livro sagrado do
Islã. Os islâmicos a chamam de Bilqis, os etíopes de Makeda. A Bíblia,
que não revela seu nome próprio, afirma que, em busca de sabedoria,
ela visitou a corte do rei Salomão em Jerusalém. Os israelitas ficaram
tão impressionados com sua caravana de camelos, carregados de ouro,
pedras preciosas e especiarias, que registraram o acontecimento no
livro santo. Do ponto de vista arqueológico, a questão sempre foi saber
se a rainha de Sabá existiu ou não. Se existiu, onde era seu reino? A
resposta pode estar surgindo neste momento no deserto do Iêmen.

Uma equipe internacional de arqueólogos está escavando as


ruínas de um colossal templo a 120 quilômetros de Sanaa, a capital do
Iêmen. O santuário, chamado Mahram Bilqis, localiza-se nos arredores
de Marib, capital do antigo reino de Sabá. "Se a rainha de fato existiu,
seus sinais estão aqui", afirma o arqueólogo canadense William
Glanzman, coordenador das escavações. Não é a primeira vez que se
tenta encontrar por lá a pista da rainha bíblica. Há cinqüenta anos, os
trabalhos foram abandonados às pressas quando estourou uma guerra
entre tribos iemenitas. A busca concentra-se no templo porque ali se
registravam os acontecimentos relevantes. Há por toda parte inscrições
num alfabeto já decifrado. Só falta encontrar referências à rainha ou à
viagem a Jerusalém. "Se acharmos, estará provado que aqui era seu
reino e que provavelmente ela rezou nesse templo", diz Glanzman.

As escavações começaram há quase quatro anos e estima-se


serem necessários outros três para alcançar a base das muralhas. Com
um pórtico formado por oito colunas de pedra com 7 metros de altura,
Mahram Bilqis é uma construção enorme, com 60 000 metros
quadrados. Se a rainha é um mistério, o reino de Sabá é bem
conhecido. Existiu por 1 800 anos e só desapareceu por volta do ano
600 da era cristã, pouco antes do advento do islamismo. O encontro em
Jerusalém teria ocorrido em 950 a.C. Há relatos de que outros reinos da
região tiveram rainhas – mas, curiosamente, de Sabá só se conhecem
reis. Durante séculos, o reino controlou as rotas das caravanas que
transportavam o incenso e a mirra, produtos obrigatórios nos templos
da Antiguidade. A visita da rainha a Jerusalém bem poderia incluir um
acordo comercial com Israel. De acordo com a Bíblia, o rei e a visitante
conversaram sobre temas espirituais. Versões mais apimentadas
surgiram depois. A dinastia que reinou na Etiópia até 1974 proclamava-
se descendente de um filho da rainha de Sabá e Salomão, chamado
Menelik. Talvez as inscrições no Iêmen escondam uma história de
amor.

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