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Racismo estrutural

A propriedade privada com fim de lucro é uma das grandes sacralidades da vida social capitalista
brasileira e mundial. Aqui a exclusão social tem história na colonização e na Independência, com o
trabalho escravo. A história da segregação social nos critérios de raça e gênero tem apoio na
imagem do coronel branco e proprietário de fazenda café cheio de pessoas escravas, muitos na lida
da lavoura e algumas na Casa Grande atendendo a família e ao senhor.
Nas casas mais abastadas a ama de leite foi substituída pela babá. A escravaria dentro da casa pelas
diversas modalidades de serviço doméstico. A Casa Grande rural substituída pela mansão, pela casa
de luxo ou apartamento caríssimo e todo provido de “serviços”.
O Brasil é o único país do mundo com 4 especialidades em serviço doméstico, quais sejam:
arrumadeira, passadeira, faxineira e lavadeira. Em números absolutos o serviço doméstico no Brasil
só perde para a Índia, que tem mais 1 bilhão de pessoas. Ou seja, em termos proporcionais temos
uma elite que faz muito pouco ou quase nada. Mal limpa seu próprio banheiro ou faz sua comida.
E a lavoura moderna? A nossa lavoura moderna é o trabalho informal, sem direitos, extenuante, e
sem perspectivas. Serviços de tele-entregador, motoristas de aplicativo ou ainda o trabalho mediado
por aplicativo.
Nessa conjectura negros na moto e negras nas casas em serviços de cuidado. O racismo e o
preconceito de gênero vai além da inclusão das pessoas negras na estrutura das empresas ou
simplesmente do respeito aos corpos humanos de pessoas de tez preta. A subjetividade do negro é
negada na religião. Na ascenção social.
Na religião os centros de matriz africana são atacados diuturnamente. Ter a fé de origem africana e
brasileira como a Umbanda é difícil no cotidiano, o enfrentamento é muito grande. O preconceito é
enorme e muita gente morre ou sofre violência só por frequentar ou assumir que frequenta religião
de matriz africana. Candomblé o mesmo, recentemente em São Paulo uma criança foi tirada da mãe
pois iniciou a menina na religião. Só depois algum tempo é que a menina retornou à mãe.
Na asceção social temos a negativa para que empreendedores e empreendedoras consigam sucesso
através da resistência ao crédito nos bancos ou até dificuldades no boicote de outras empresas
brancas às empresas negras. Para não dizer de empresas brancas que não contratam negros.
Concursos públicos que requerem conhecimentos os quais o negro não teve acesso na sua vida
estudantil, pois estava a trabalhar enquanto estudava ou estudava numa escola com deficiências.
O coronel branco hoje é filho, neto ou descedente branco de famílias ricas que se diz empreendedor
de sucesso, como os criadores do iFood. Hoje os tele-entregadores, em maioria homens, e as
mulheres em maioria nos serviços de cuidado são as pessoas que não encontram oportunidades de
ter uma vida com segurança social mínima enquanto homens e mulheres brancas tem as melhores
oportunidades. O racismo é estrutural, uma vez que a estrutura da sociedade é para segregar e
dividir as pessoas negras e brancas do sucesso profissional, da ascenção social e segurança de
direitos, direitos como o da própria vida. Racismo é estrutural porque reproduz essa estrutura
racializada de oportunidades, que privilegia brancos em dentrimento do povo negro.

Por Heitor Claro


26/11/2020

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