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Obs: Art.

43, § 5º da Lei de Licitações:

Art. 43.  A licitação será processada e julgada com observância dos seguintes


procedimentos:

I - abertura dos envelopes contendo a documentação relativa à habilitação dos


concorrentes, e sua apreciação;

II - devolução dos envelopes fechados aos concorrentes inabilitados,


contendo as respectivas propostas, desde que não tenha havido recurso ou após
sua denegação;

III - abertura dos envelopes contendo as propostas dos concorrentes


habilitados, desde que transcorrido o prazo sem interposição de recurso, ou tenha
havido desistência expressa, ou após o julgamento dos recursos interpostos;

IV - verificação da conformidade de cada proposta com os requisitos do


edital e, conforme o caso, com os preços correntes no mercado ou fixados por
órgão oficial competente, ou ainda com os constantes do sistema de registro de
preços, os quais deverão ser devidamente registrados na ata de julgamento,
promovendo-se a desclassificação das propostas desconformes ou incompatíveis;

V - julgamento e classificação das propostas de acordo com os critérios de


avaliação constantes do edital;

VI - deliberação da autoridade competente quanto à homologação e


adjudicação do objeto da licitação.

§ 5o  Ultrapassada a fase de habilitação dos concorrentes (incisos I e II) e


abertas as propostas (inciso III), não cabe desclassificá-los por motivo relacionado
com a habilitação, salvo em razão de fatos supervenientes ou só conhecidos após
o julgamento.

STF

Agravo regimental em recurso ordinário em mandado de segurança. 2. Direito


Administrativo. 3. Licitações. 4. Anulação da habilitação após o julgamento das
propostas diante da verificação de certidão negativa de débitos fiscais vencida.
Possibilidade. Dever de autotutela da Administração Pública. 5. Preclusão do poder-
dever de a Administração rever seus atos. Inocorrência. 6. Argumentos incapazes de
infirmar a decisão agravada. 7. Agravo regimental desprovido. (RMS 32055 AgR-
terceiro, Relator(a):  Min. GILMAR MENDES, Segunda Turma, julgado em 06/08/2019,
PROCESSO ELETRÔNICO DJe-179 DIVULG 15-08-2019 PUBLIC 16-08-2019)

Contratação direta

Viram-se os procedimentos a serem adotados nos casos de realização da licitação. Agora, vejam-se
os casos em que serão dispensados os procedimentos. A contratação direta é aquela feita sem
licitação.

Em relação à justificativa de preço, é fundamental que a Administração Pública instrua o processo


administrativo com os respectivos documentos.

Registre-se, ainda, que na contratação direta, sem licitação, não deve ser dispensada a apresentação
dos documentos de habilitação que, normalmente, seriam exigidos na fase externa da licitação.

Em regra, a indisponibilidade do interesse público exige que as compras, obras e serviços


contratados pelo Poder Público sigam o rito da licitação. Porém, a própria CF admite
exceções:

CF Art. 37 XXI - ressalvados os casos especificados na legislação, as obras,


serviços, compras e alienações serão contratados mediante processo de licitação
pública que assegure igualdade de condições a todos os concorrentes, com
cláusulas que estabeleçam obrigações de pagamento, mantidas as condições
efetivas da proposta, nos termos da lei, o qual somente permitirá as exigências de
qualificação técnica e econômica indispensáveis à garantia do cumprimento das
obrigações.

O estudo da contratação direta revela a existência de quatro institutos diferentes:

1) Inexigibilidade de licitação
2) Dispensa da licitação
3) Licitação vedada ou proibida
4) Licitação dispensada

Inexigibilidade de licitação

É preciso distinguir a dispensa de licitação e a inexigibilidade licitação.

A inexigibilidade de licitação possui duas características principais:

a) rol legal exemplificativo; e

b) vinculação do administrador, pois, constatada no caso concreto a impossibilidade de


competição, a licitação deve ser afastada.

A inexigibilidade corresponde àquelas situações em que a realização do procedimento


licitatório é impossível, porque existe uma inviabilidade de competição.

A inviabilidade de competição ocorre quando:

1) o fornecedor é exclusivo, só existe uma pessoa no mercando oferecendo o bem/serviço desejado,


vedada a preferência por marca;

2) o objeto é singular, ou seja, só há um objeto específico que atende ou uma única pessoa capaz de
prestar o serviço.

Como a inexigibilidade corresponde a situações em que inexiste possibilidade de competição, em


que o procedimento licitatório é logicamente impossível, as hipóteses de inexigibilidade são
prevista exemplificativamente na lei, pois a lei nunca consegue prever todas as hipóteses de
inviabilidade. O art. 25 da Lei n. 8.666/93 nos dá algumas hipóteses: fornecedor exclusivo,
artista consagrado e serviços técnicos especializados.

Atentar que o art. 25 não exige licitação para contratação de serviços técnicos e especializados, mas
ressalva a contratação de serviços de publicidade e divulgação, para estes será necessária a licitação
(art. 25, II, “vedada a inexigibilidade para serviços de publicidade e divulgação”).

Art. 25. É inexigível a licitação quando houver inviabilidade de competição, em


especial:

I - para aquisição de materiais, equipamentos, ou gêneros que só possam ser


fornecidos por produtor, empresa ou representante comercial exclusivo,
vedada a preferência de marca, devendo a comprovação de exclusividade ser
feita através de atestado fornecido pelo órgão de registro do comércio do local
em que se realizaria a licitação ou a obra ou o serviço, pelo Sindicato,
Federação ou Confederação Patronal, ou, ainda, pelas entidades equivalentes;

O primeiro exemplo de inexigibilidade de licitação, previsto no art. 25, I, da Lei 8.666/1993,189


refere-se à contratação para aquisição de materiais, equipamentos ou gêneros que só possam ser
fornecidos por produtor, empresa ou representante comercial exclusivo, vedada a preferência de
marca. Inicialmente, a interpretação açodada do dispositivo poderia levar à conclusão de que
só haveria inexigibilidade para compras, tendo em vista a expressão “aquisição de materiais,
equipamentos ou gêneros”.

Todavia, a própria norma, em seguida, faz menção ao “atestado fornecido pelo órgão de
registro do comércio do local em que se realizaria a licitação ou a obra ou o serviço”, o que
sugere a viabilidade da inexigibilidade em relação aos contratos de obras e de serviços.

Obs: Orientação Normativa/AGU 15: “A contratação direta com fundamento na


inexigibilidade prevista no art. 25, inc. I, da Lei n.º 8.666, de 1993, é restrita aos casos de
compras, não podendo abranger serviços”.

A inexistência de competição não afasta a exigência de justificativa do preço apresentado pela


futura contratada, na forma do art. 26, parágrafo único, III, da Lei 8.666/1993. Nesse caso,
ainda que seja inviável a cotação de preços com outras sociedades empresárias, em razão da
exclusividade, é possível justificar o preço contratado com a apresentação dos preços praticados
pelo fornecedor com outros entes públicos ou privados.

II - para a contratação de serviços técnicos enumerados no art. 13 desta Lei, de


natureza singular, com profissionais ou empresas de notória especialização,
vedada a inexigibilidade para serviços de publicidade e divulgação;

Art. 13.  Para os fins desta Lei, consideram-se serviços técnicos


profissionais especializados os trabalhos relativos a:

I - estudos técnicos, planejamentos e projetos básicos ou executivos;

II - pareceres, perícias e avaliações em geral;

III - assessorias ou consultorias técnicas e auditorias financeiras ou


tributárias;
IV - fiscalização, supervisão ou gerenciamento de obras ou serviços;

V - patrocínio ou defesa de causas judiciais ou administrativas;

Prevalece o entendimento de que o rol de serviços técnicos profissionais especializados é


meramente exemplificativo.

Exemplo: contratação do serviço de arquitetura efetuada com arquiteto renomado, de escritório de


advocacia de notória especialização para serviços singulares etc.

São três os requisitos cumulativos para declaração de inexigibilidade: a) serviço técnico; b)


serviço singular; e c) notória especialização do contratado.

Súmula 252 do TCU dispõe: “A inviabilidade de competição para a contratação de serviços


técnicos, a que alude o inciso II do art. 25 da Lei nº 8.666/1993, decorre da presença
simultânea de três requisitos: serviço técnico especializado, entre os mencionados no art. 13
da referida lei, natureza singular do serviço e notória especialização do contratado”

Frise-se que a singularidade (art. 25, II) não se confunde com exclusividade (25, I). A singularidade
decorre, na hipótese, da impossibilidade de fixação de critérios objetivos de julgamento.

IMPUTAÇÃO DE CRIME DE INEXIGÊNCIA INDEVIDA DE


LICITAÇÃO. SERVIÇOS ADVOCATÍCIOS. REJEIÇÃO DA
DENÚNCIA POR FALTA DE JUSTA CAUSA. A contratação direta
de escritório de advocacia, sem licitação, deve observar os
seguintes parâmetros:
a) existência de procedimento administrativo formal;
b) notória especialização profissional;
c) natureza singular do serviço;
d) demonstração da inadequação da prestação do serviço pelos
integrantes do Poder Público;
e) cobrança de preço compatível com o praticado pelo mercado.
Incontroversa a especialidade do escritório de advocacia, deve ser
considerado singular o serviço de retomada de concessão de
saneamento básico do Município de Joinville, diante das
circunstâncias do caso concreto. Atendimento dos demais
pressupostos para a contratação direta. Denúncia rejeitada por falta de
justa causa. (Inq 3074, Relator(a):  Min. ROBERTO BARROSO,
Primeira Turma, julgado em 26/08/2014, ACÓRDÃO ELETRÔNICO
DJe-193 DIVULG 02-10-2014 PUBLIC 03-10-2014)

O STF reconheceu a repercussão geral dessa matéria:

Voto do Relator:

RECURSO EXTRAORDINÁRIO 656.558 SÃO PAULO RELATOR : MIN.


DIAS TOFFOLI
a) É constitucional a regra inserta no inciso II do art. 25 da Lei nº 8.666/93,
que estabelece ser inexigível a licitação para a contratação dos serviços
técnicos enumerados no art. 13 dessa lei, desde que
i) preenchidos os requisitos nela estabelecidos,
ii) não haja norma impeditiva à contratação nesses termos e
iii) eles tenham natureza singular e sejam prestados por profissionais ou
empresas de notória especialização, inclusive no que tange à execução de
serviços de consultoria, patrocínio ou defesa de causas judiciais ou
administrativas.

b) Para a configuração da improbidade administrativa, prevista no art. 37, § 4º, da


Constituição Federal, faz-se necessária a presença de dolo ou culpa,
caracterizados por ação ou omissão do agente, razão pela qual, não havendo prova
do elemento subjetivo, não se configura o ato de improbidade administrativa, em
qualquer uma das modalidades previstas na Lei nº 8.429/92 – Lei de Improbidade
Administrativa.

VI - treinamento e aperfeiçoamento de pessoal;

VII - restauração de obras de arte e bens de valor histórico.

Atentar para o art. 13, § 1º da Lei de Licitações.

Art. 13. § 1º Ressalvados os casos de inexigibilidade de licitação, os


contratos para a prestação de serviços técnicos profissionais
especializados deverão, preferencialmente, ser celebrados mediante
a realização de concurso, com estipulação prévia de prêmio ou
remuneração.

III - para contratação de profissional de qualquer setor artístico, diretamente ou


através de empresário exclusivo, desde que consagrado pela crítica
especializada ou pela opinião pública.

Dispensa de licitação – licitação dispensável

É sinônimo de licitação dispensável. Situação em que é possível fazer licitação, mas opta-se por
não fazer.

Nos casos de dispensa de licitação a competição é possível, o procedimento licitatório, em tese,


poderia ser realizado. Porém, a realização do procedimento pode não ser conveniente ou
oportuno em razão do interesse público. É por esta razão que a lei libera o administrador do
dever de licitar.

Art. 24 – Rol Taxativo

Maria Sylvia Zanella de Pietro divide as hipóteses de dispensa de licitação em 4 categorias:

Em razão do valor
Em razão de situações excepcionais
Em razão do objeto
Em razão da pessoa

1. Dispensa da licitação em razão do valor


Atenção porque os valores são diferentes para obras e serviços de engenharia e para outros serviços
e compras, e é preciso decorar estes dois limites.

Art. 24. É dispensável a licitação:

I - para obras e serviços de engenharia de valor até 10% (dez por cento) do
limite previsto na alínea "a", do inciso I do artigo anterior (até R$ 33.000,00),
desde que não se refiram a parcelas de uma mesma obra ou serviço ou ainda
para obras e serviços da mesma natureza e no mesmo local que possam ser
realizadas conjunta e concomitantemente;

II - para outros serviços e compras de valor até 10% (dez por cento) do limite
previsto na alínea "a", do inciso II do artigo anterior (até R$ 17.600,00) e para
alienações, nos casos previstos nesta Lei, desde que não se refiram a parcelas
de um mesmo serviço, compra ou alienação de maior vulto que possa ser
realizada de uma só vez;

Obras e serviços de engenharia: dispensa de licitação até R$ 33.000,00


Outros serviços e compras: dispensa de licitação até R$ 17.600,00

§ 1º Os percentuais referidos nos incisos I e II do caput deste artigo serão 20%


(vinte por cento) para compras, obras e serviços contratados por consórcios
públicos, sociedade de economia mista, empresa pública e por autarquia ou
fundação qualificadas, na forma da lei, como Agências Executivas. 

Agência Executiva é qualificação ou rótulo dado às autarquias ou às fundações públicas que


adquirem maior autonomia gerencial e financeira para desempenhar atividades de
competência exclusiva do Estado. A Agência Executiva celebrará contrato de gestão com o
ministério responsável, que supervisionará a sua atuação. O controle das Agências passa a ser
pelo desempenho de resultados, bem como pelo cumprimento de objetivos e metas acordados.

Obs: A AGU, seguindo o entendimento do TCU, editou o seguinte enunciado:

ORIENTAÇÃO NORMATIVA AGU Nº 10/2009: NA CONTRAÇÃO DE


SERVIÇO CONTÍNUO, COM FUNDAMENTO NO ART. 24, INC. II, DA
LEI Nº 8.666, DE 1993, O LIMITE MÁXIMO DE R$ 8.000,00 (OITO MIL
REAIS) DEVERÁ CONSIDERAR A POSSIBILIDADE DA DURAÇÃO DO
CONTRATO PELO PRAZO DE 60 (SESSENTA) MESES.

Obs: não precisa haver justificação detalhada nos casos do art. 24, I e II, do Estatuto, que preveem a
dispensa pelo critério de valor. A verificação de legalidade, nessa hipótese, é mais simples e
objetiva, dependendo apenas do enquadramento do valor do contrato na faixa autorizada para a
dispensa do certame.

Não é possível fracionar para se enquadrar no valor limite para a dispensa de licitação.

Ex: compra de material de consumo.

Assim, a administração pública deve prever os gastos para todo o exercício financeiro, e realizar
uma só licitação, já que o planejamento do exercício financeiro deve observar a vigência o
orçamento.
No REsp 1.356.260, o STJ analisou a dispensa de licitação para contratação de bancas para
concursos públicos, levou em conta o valor da contratação. Quando a entidade da administração
resolve fazer um concurso público, almeja uma banca confiável para realizar o certame e evitar
impugnações/anulações posteriores. Assim, é temerário realizar licitação para escolher uma banca e
se submeter ao resultado desta licitação.

Em qualquer desses casos, deve haver compatibilidade com o preço de mercado

2) Dispensa de licitação em razão de situações excepcionais

Art. 24
III - nos casos de guerra ou grave perturbação da ordem;

O TCU concluiu ser possível a contratação direta, por dispensa de licitação, fundamentada no inciso
III do art. 24 da Lei 8.666/93 durante intervenção federal. O relator observou que, diante do estado
de grave perturbação da ordem pública, “o Estado deve ser municiado de instrumentos para agilizar
a contratação de obras e serviços necessários à interrupção do problema identificado e o instituto da
dispensa de licitação é um deles. A urgência, nesses casos, muitas vezes é incompatível com a
morosidade característica de uma licitação”. Concluiu, então, ser possível a realização da dispensa
de licitação desde que tenha correlação com o fato extraordinário que motivou a intervenção e
apenas para o atendimento de despesas imprevisíveis e urgentes relacionadas às ações adotadas em
razão da intervenção. (TCU, Acórdão nº 1.358/2018, Plenário, Rel. Min. Vital do Rêgo, DOU de
28.06.2018.)

Art. 24 IV - nos casos de emergência ou de calamidade pública, quando


caracterizada urgência de atendimento de situação que possa ocasionar prejuízo
ou comprometer a segurança de pessoas, obras, serviços, equipamentos e outros
bens, públicos ou particulares, e somente para os bens necessários ao
atendimento da situação emergencial ou calamitosa e para as parcelas de
obras e serviços que possam ser concluídas no prazo máximo de 180 (cento e
oitenta) dias consecutivos e ininterruptos, contados da ocorrência da
emergência ou calamidade, vedada a prorrogação dos respectivos contratos;

No tocante à emergência e à calamidade pública, as situações deverão ser analisadas concretamente.

A hipótese prevista no inc. IV do art. 24 da Lei nº 8.666/93 foi idealizada para ser aplicada em
situações que impedem a seleção do terceiro por licitação, quais sejam:
a) a existência de uma situação anormal que exige uma ação imediata por parte do Poder Público;
b) tal situação precisa ser impedida, atenuada ou eliminada como condição para evitar ou minimizar
dano, efetivo ou potencial;
c) a solução da situação depende da contratação de terceiro, o qual viabilizará os bens, serviços ou
obras necessários para o controle da situação; e
d) o meio normal (ordinário) de seleção do terceiro se revela inadequado para viabilizar o fim,
principalmente pela impossibilidade de observar prazos e exigências definidas para a realização da
licitação.

Esse é o cenário a partir do qual será cabível a contratação direta com fundamento no inc. IV do
citado preceito.

Exemplos: inundação causada por fortes chuvas pode acarretar a necessidade de contratações
emergenciais (compra de medicamentos, contratação de serviços médicos, locação de imóveis
para funcionarem como abrigos etc.).
A contratação direta, quando houver emergência ou calamidade pública, limita-se aos bens e
serviços necessários ao atendimento da situação emergencial ou calamitosa. Desta forma a Lei
não autoriza a contratação de qualquer bem ou serviço. Ademais, as contratações, em casos de
emergência e de calamidade pública, serão efetuadas por, no máximo, 180 dias consecutivos e
ininterruptos (ou seja: seis meses). O referido prazo será contado da ocorrência da emergência ou
calamidade, vedada a sua prorrogação (art. 24, IV, da Lei 8.666/1993).

Quanto à impossibilidade de prorrogação do prazo de 180 dias, a regra deve ser interpretada
de forma ponderada, pois, em determinadas hipóteses excepcionais, a situação emergencial
exigirá a prorrogação do prazo, sob pena de prejuízo ao interesse público.

José dos Santos Carvalho Filho: O prazo, em princípio, deve ser considerado peremptório,
impedindo-se o cometimento de desvios de finalidade, mas, atendendo ao espírito da norma, tem-se
admitido a sua flexibilização quando inviável a sua observância sem culpa da Administração.

Obs: O contrato emergencial decorre de um eminente perigo, mas este perigo pode ser uma
situação criada pelo administrador, seja por desídia, seja por descuido ou por má-fé. Nesse caso,
não cabe contratação direta?

Há a contratação direta, mas deve ser determinada a responsabilidade do gestor. Assim decide o
TCU:

A dispensa de licitação prevista no inciso IV do art. 24 da Lei 8.666/1993 não


distingue a emergência real, resultante do imprevisível, daquela resultante da
incúria ou inércia administrativa, cabendo a utilização do dispositivo desde
que devidamente caracterizada a urgência de atendimento a situação que
possa ocasionar prejuízo ou comprometer a segurança de pessoas, obras,
serviços, equipamentos e outros bens, públicos ou particulares. (Acórdão n.º
1599/2011-Plenário, TC-013.519/2005-8, rel. Min. Ubiratan Aguiar,
15.06.2011.)

Se existe desídia, havendo situação emergencial, pode até acontecer uma contratação direta,
mas é preciso responsabilizar o agente público que deixou a situação chegar ao ponto de
emergência.

A contratação emergencial é possível mesmo na hipótese em que a situação de emergência seja


atribuída ao agente público (emergência “fabricada” ou “provocada”), sob pena de não se
atender o interesse da coletividade. Nesse caso, todavia, a Administração, após a contratação,
deverá apurar a responsabilidade do agente.

Lucas Furtado entende de maneira diversa: “Com a devida vênia, admitir que a inércia do
administrador possa criar situação emergencial que venha a legitimar a contratação direta significa,
na prática, abrir as portas para todo tipo de desmando em matéria de licitação. Esse tipo de
raciocínio transformaria todas as regras e princípios constitucionais e legais acerca do tema
em letra morta. Admitir que o contrato decorrente da contratação direta justificada por
situações emergenciais criadas pela desídia do administrador seja válido, e buscar apenas a
punição desse administrador negligente, é entendimento que legitima o conluio entre
administrador e empresa ou profissional contratado. Essa empresa ou profissional contratado
poderia vir a ser escolhido arbitrariamente — e no mais das vezes o é — e em relação a ele muito
pouco ou nada poderia ser feito, haja vista o contrato, de acordo com esse ponto de vista, ser
considerado legítimo.”
V - quando não acudirem interessados à licitação anterior e esta, justificadamente,
não puder ser repetida sem prejuízo para a Administração, mantidas, neste caso,
todas as condições preestabelecidas;

O inciso V traz o que se chama de “licitação deserta”, é aquela licitação em que nenhum
interessado comparece à licitação.

O art. 24, V, da Lei 8.666/1993135 dispensa a licitação quando não acudir interessado à licitação
anterior e esta, justificadamente, não puder ser repetida sem prejuízo para a Administração,
mantidas, neste caso, todas as condições preestabelecidas. Nesse caso, em razão da ausência de
interessados, a licitação é denominada de “deserta”. Ressalte-se que a licitação deserta não se
confunde com a “licitação frustrada ou fracassada”, pois, nesse último caso, existem licitantes
presentes no certame, mas todos são inabilitados ou desclassificados. A característica comum dessas
duas hipóteses é que a licitação não chegará ao seu termo final.

A expressão "condições preestabelecidas", contida nesse inc. V do art. 24 da Lei nº 8.666/93,


alcança todas as exigências do edital da licitação que resultou deserta, tanto as relativas à
habilitação como as concernentes à execução do objeto.

Ela permite que seja feita uma contratação direta, desde que sejam observados os seguintes
requisitos (3):

1) Realização de licitação onde não aparecem interessados

2) o procedimento licitatório não puder ser repetido sem prejuízo para a administração;

3) exige-se também que se mantenham todas as condições previstas no edital.

Obs: Não existe limite de valor do contrato para que se decida pela contratação direta em
razão de licitação deserta.

Hipótese de dispensa na modalidade convite:


Ex: Administração convida 3 empresas, que não se interessam pela participação na licitação. Cabe
dispensa?

NÃO SE DISPENSA LICITAÇÃO, COM FUNDAMENTO NOS INCS. V E


VII DO ART. 24 DA LEI NO 8.666, de 1993, CASO A LICITAÇÃO
FRACASSADA OU DESERTA TENHA SIDO REALIZADA NA
MODALIDADE CONVITE.

Obs: hipótese de contratação direta em licitação fracassada.

Art. 24 VII - quando as propostas apresentadas consignarem preços


manifestamente superiores aos praticados no mercado nacional, ou forem
incompatíveis com os fixados pelos órgãos oficiais competentes, casos em que,
observado o parágrafo único do art. 48 desta Lei e, persistindo a situação, será
admitida a adjudicação direta dos bens ou serviços, por valor não superior ao
constante do registro de preços, ou dos serviços; 

Nesse caso, se os licitantes reapresentarem propostas novamente incompatíveis com o


Contratação de remanescente de obra

XI - na contratação de remanescente de obra, serviço ou fornecimento, em


consequência de rescisão contratual, desde que atendida a ordem de
classificação da licitação anterior e aceitas as mesmas condições oferecidas
pelo licitante vencedor, inclusive quanto ao preço, devidamente corrigido;

Não é obrigatória a realização de licitação na contratação de remanescente de obra, serviço ou


fornecimento, em razão de rescisão contratual, “desde que atendida a ordem de classificação da
licitação anterior e aceitas as mesmas condições oferecidas pelo licitante vencedor, inclusive quanto
ao preço, devidamente corrigido” (art. 24, XI, da Lei 8.666/1993).

As exigências para a dispensa no caso de complementação do objeto contratual podem ser


assim enumeradas:

a) rescisão do contrato;

b) existência de remanescente do objeto contratual (obra inacabada, serviço incompleto ou


fornecimento parcial);

c) o contratado deve ter participado da licitação que deu origem ao contrato rescindido,
respeitada a ordem de classificação; e

d) o contratado deve aceitar as mesmas condições oferecidas pelo licitante vencedor, sendo o
preço devidamente corrigido.

Obs: a Administração pode obrigar que as empresas aceitem essa nova contratação?

Não. A adjudicação libera os vencidos, que não podem ser obrigados a cumprir proposta que
não foi apresentada por eles.

Dispensa de licitação em razão do objeto

X - para a compra ou locação de imóvel destinado ao atendimento das finalidades


precípuas da administração, cujas necessidades de instalação e localização
condicionem a sua escolha, desde que o preço seja compatível com o valor de
mercado, segundo avaliação prévia;

A dispensa, nesse caso, justifica-se pelas peculiaridades do imóvel que será adquirido ou locado
pela Administração. Apenas determinado imóvel apresenta as características necessárias para
satisfação do interesse público, sendo razoável a dispensa de licitação. Em verdade, a hipótese
se aproxima mais de inexigibilidade de licitação, em virtude da inviabilidade de competição, do que
propriamente de dispensa.

Para a caracterização da hipótese de dispensa prevista no art. 24, inc. X, da Lei nº 8.666/93, exige-
se:
a) compra ou locação de imóvel pela Administração;
b) imóvel destinado a atender às finalidades precípuas da Administração;
c) imóvel deve apresentar características que sejam determinantes para sua escolha, de modo a ser o
único capaz de satisfazer a necessidade da Administração; e
d) preço compatível com aqueles praticados no mercado. Desses requisitos, tem-se como
fundamental que as características do bem (localização, dimensão, edificação, destinação, etc.)
sejam essenciais para o atendimento da necessidade da Administração.

Obs: se a compra for superfaturada (ou seja, se o preço pago não for compatível com o mercado),
aplica-se o art. 25, § 2º (§ 2o  Na hipótese deste artigo e em qualquer dos casos de dispensa, se
comprovado superfaturamento, respondem solidariamente pelo dano causado à Fazenda
Pública o fornecedor ou o prestador de serviços e o agente público responsável, sem prejuízo de
outras sanções legais cabíveis.)

Dispensa de licitação em razão da pessoa.

VIII - para a aquisição, por pessoa jurídica de direito público interno, de bens


produzidos ou serviços prestados por órgão ou entidade que integre a
Administração Pública e que tenha sido criado para esse fim específico em
data anterior à vigência desta Lei, desde que o preço contratado seja
compatível com o praticado no mercado; ~

A dispensa abrange as contratações realizadas por “pessoa jurídica de direito público interno”, ou
seja, União, Estados, DF, Municípios, bem como as suas respectivas autarquias e fundações estatais
de direito público. A norma não engloba as contratações realizadas por entidades administrativas de
direito privado (empresas públicas, sociedades de economia mista, suas subsidiárias e as fundações
estatais de direito privado).

A norma em comento exige que a entidade administrativa contratada tenha sido criada antes da Lei
8.666/1993.

Obs: Consulta formulada pelo então Presidente da Câmara dos Deputados questionando a
juridicidade da contratação de instituição financeira oficial para a prestação, em caráter exclusivo,
de serviços de gestão financeira da folha de pagamento de servidores públicos ativos, inativos e
pensionistas da Administração Pública Federal e de outros pagamentos correlatos.

TCU - A Administração Pública Federal não está obrigada a promover


prévio procedimento licitatório destinado a contratação de instituição
financeira oficial para, em caráter exclusivo, prestar serviços de pagamento
de remuneração de servidores ativos, inativos e pensionistas e outros serviços
similares, podendo optar por efetuar a contratação direta com fundamento
no art. 37, inciso XXI (primeira parte), da Constituição Federal, c/c o art. 24,
inciso VIII, da Lei 8.666/93, hipótese em que deverá cumprir as exigências
estabelecidas no art. 26 da Lei 8.666/93, apresentando os motivos da escolha
do prestador de serviços e a justificativa do preço. (...) Especificamente, o
consulente perguntara se o gestor público estaria obrigado a realizar licitação para
a “concessão de exclusividade” às instituições financeiras oficiais para a prestação
dos serviços de pagamento de remuneração e similares; e, ainda, se seria viável a
contratação direta de banco oficial com amparo no art. 24, inciso VIII, da Lei
8.666/93. Em juízo de mérito, o relator inicialmente apresentou uma análise da
natureza jurídica da atividade em questão, destacando que a folha de pagamento
dos servidores públicos “constitui-se em subproduto da atividade de gestão da
Administração Pública, cujo valor pode ser aferível monetariamente e
transformado em receita para a Administração”, situação similar às 2 folhas de
pagamento de empresas privadas, “cujo montante é uma derivada da sua atividade
econômica, sendo livremente negociada pela empresa, normalmente em prol da
rentabilidade de seus negócios, ou em benefício dos titulares das contas
creditadas”. Acrescentou o relator que a elaboração da folha de pagamento
constitui “mera ação administrativa, com caracteres nitidamente operacionais,
secundários, não-finalísticos, com o conteúdo de atividade meio do Estado, por
não estar vinculada à prestação de serviço público ou ao interesse primário da
sociedade”. Nesse contexto, tal atividade, “que movimenta recursos vultosos,
decorrentes da prestação da atividade estatal por agentes públicos”, seria capaz de
“agregar valor ao serviço e atrair o interesse de instituições financeiras, com
possibilidade de competição”, de forma similar às atividades tipicamente
terceirizáveis pela Administração (copeiragem, segurança e manutenção predial).
Para o relator, seria possível enquadrar o serviço em questão como atividade
bancária ordinária, “com potencial de aproveitamento econômico indireto, tanto
para a Administração, quanto para a entidade bancária, ante a possibilidade da
ampliação da carteira de clientes da instituição contratada”. Nesse sentido,
destacou o “amplo leque de possíveis prestadores de serviço no segmento
mercadológico”, concluindo que o contrato administrativo seria instrumento
jurídico adequado para regular as relações entre o Estado e o terceiro para
execução do objeto em análise, devendo a sua celebração ser obrigatoriamente
precedida de procedimento licitatório, nos termos do art. 37, inciso XXI, da
Constituição Federal, excepcionado apenas por hipóteses específicas prevista em
lei. Sobre a possibilidade jurídica de a Administração Federal realizar a
contratação direta de instituição financeira oficial para a prestação, em
caráter exclusivo, de serviços de pagamento de servidor público, observou o
relator que está fundamentada no art. 24, inciso VIII, da Lei 8.666/93, uma
vez que essas entidades bancárias são anteriores à edição da Lei, além do que
elas atuam, imemorialmente, na prestação de serviços de suporte à
Administração Pública, mesmo quando o potencial econômico das folhas de
pagamento era desprezado pelo setor bancário privado. Dessa forma, aduziu o
relator, a prestação dos serviços em questão caracteriza-se “tanto como
atividade econômica, como atividade de nítido suporte à Administração”,
podendo ser licitada a juízo de conveniência e oportunidade da
Administração, “que deverá optar entre a realização do amplo procedimento
ou a dispensa autorizada pelo art. 24, VIII, da Lei 8.666/1993”. Endossando o
parecer do Ministério Público, registrou o relator não trazer, “no contexto da
realidade vigente”, prejuízo ao regime concorrencial previsto no art. 173, §
1º, da Constituição Federal a contratação direta, com fundamento no art. 24,
inciso VIII, da Lei 8.666/93, uma vez que, embora o procedimento licitatório
seja constitucionalmente exigível, “as instituições privadas por vezes não têm
manifestado interesse na prestação de serviços de gerenciamento financeiro
da folha do funcionalismo público, como comprova notícia de licitações
desertas, promovidas pela Administração, trazidas pela autoridade
consulente”. Assim, propôs o relator responder ao consulente que: a)“A
Administração Pública Federal não está obrigada a promover prévio
procedimento licitatório destinado a realizar a contratação de instituição
financeira oficial para, em caráter exclusivo, prestar serviços de pagamento
de remuneração de servidores ativos, inativos e pensionistas e serviços
similares, podendo optar por efetuar a contratação direta com fundamento
no artigo 37, inciso XXI (primeira parte), da Constituição Federal, c/c o
artigo 24, inciso VIII, da Lei 8.666/1993, desde que demonstrados os
benefícios para a Administração, em relação à adoção do procedimento
licitatório; b)Havendo interesse, a Administração Pública Federal pode promover
o prévio procedimento licitatório, para contratação da prestação de serviços, em
caráter exclusivo, de pagamento de remuneração de servidores ativos, inativos e
pensionistas e outros serviços similares, devendo franquear a participação no
certame de instituições financeiras públicas e privadas, em cumprimento aos
princípios da legalidade, da isonomia, da moralidade da impessoalidade, da
publicidade e da eficiência, previstos no caput do artigo 37 da Constituição, bem
assim da seleção da proposta mais vantajosa para a Administração e dos outros
princípios estampados no artigo 3º da Lei 8.666/1993”. Sobre a viabilidade da
contratação direta de banco oficial, o relator propôs informar ao consulente que “é
viável a contratação direta de instituição financeira oficial, com fundamento no
artigo 24, inciso VIII, da Lei 8.666/1993, para a prestação de serviço, em caráter
exclusivo, de pagamento de remuneração de servidores ativos, inativos e
pensionistas e outros serviços similares, devendo, ainda, serem observadas as
condições de validade do ato administrativo estabelecidas no artigo 26, caput, e
parágrafo único, do referido diploma legal, bem como demonstrada a vantagem da
contratação direta em relação à adoção do procedimento licitatório”. Acolhendo a
proposta do relator, o Plenário conheceu da Consulta, respondendo ao consulente
nos termos propostos no voto.
Acórdão 1940/2015-Plenário, TC 033.466/2013-0, relator Ministro Walton
Alencar Rodrigues, 5.8.2015.

Obs: Decisão do TCU - TC 030.129/2015-0 - Natureza: Consulta


Consulente: Senador Otto Alencar, Presidente da Comissão de Meio Ambiente, Defesa do
Consumidor e Fiscalização e Controle

Consulta formulada que trata da possibilidade de contratação direta dos Correios para
prestação de serviços de logística por meio de dispensa de licitação, com base no art. 24,VIII,
da Lei 8.666/1993.

Analisando-se a redação do dispositivo supra referido, verifica-se a necessidade de


atendimento simultâneo aos seguintes requisitos para a regularidade da
contratação questionada:

a) o contratante deve ser pessoa jurídica de direito público interno;

b) o contratado deve ser órgão ou entidade que integre a Administração


Pública;

c) o contratado deve ter sido criado anteriormente à vigência da Lei


8.666/1993 para o fim específico do objeto da contratação; e

d) o preço contratado deve ser compatível com o preço praticado no mercado.

Paralelamente a esses requisitos, tem-se que este Tribunal, apreciando casos


concretos similares a este, posicionou-se no sentido de que apenas as
entidades que prestam serviços públicos de suporte à AP, criadas para esse
fim específico, podem ser contratadas por meio de dispensa de licitação.

Consoante esse entendimento, as empresas integrantes da AP que ofertem


produtos ou serviços no mercado, como qualquer empresa, devem se
submeter ao regime jurídico das empresas privadas, conforme previsão do
art. 173, §1º, II, da CF, não podendo se beneficiar daquela contratação direta,
como se depreende da Decisão 496/1999 e dos Acórdãos 314/2001, 2.063/2005,
869/2006, 2.399/2006, 1.705/2007 e 3.219/2010, todos do Plenário, bem como
dos Acórdãos 2.203/2005 e 6.931/2009 da 1ª Câmara.

Em razão disso, constata-se a inviabilidade da contratação direta dos Correios


para a prestação de serviços de logística, com base no art. 24, VIII, da Lei
8.666/1993, tendo em vista a não simultaneidade da presença dos requisitos legais,
conforme entendimento da jurisprudência desta Corte.

Para o TCU, os serviços de logística prestados pelos Correios não integram o serviço postal,
consistindo em atividade acessória, própria de atividade econômica exercida em regime de livre
concorrência.

Porém, em 19 de março de 2019, o STF anulou a decisão do TCU, nos seguintes termos:

Terça-feira, 19 de março de 2019 - 2ª Turma: administração pública pode realizar


contratação direta de serviços de logística dos Correios

Por unanimidade de votos, a Segunda Turma do Supremo Tribunal Federal


(STF) manteve decisão do ministro Gilmar Mendes que anulou acórdão do
Tribunal de Contas da União (TCU) que havia considerado ilegal a
contratação direta da Empresa Brasileira de Correios e Telégrafos (ECT)
para a prestação de serviços de logística à administração pública, com
dispensa de licitação. Nesta terça-feira (19), o colegiado negou provimento a
agravo regimental interposto pelo TCU contra a decisão do relator no Mandado de
Segurança (MS) 34939.

De acordo com o entendimento mantido pela Segunda Turma, embora não seja
atividade exclusiva dos Correios, pois é prestado em regime de concorrência
com particulares, o serviço de logística deve ser entendido como afim ao
serviço postal, o que justifica a aplicação de regime diferenciado. Além disso,
o fato de a ECT ter sido criada em 1969 e, na época, não constarem
expressamente em suas atividades os serviços de logística, documentos nos
autos demonstram que a empresa presta esse serviço há muito tempo, desde
antes da edição da Lei de Licitações (Lei 8.666/1993).

No mandado de segurança, a ECT alegou que o artigo 24, inciso VIII, da Lei
8.666/1993 prevê a possibilidade de dispensa de licitação “para a aquisição,
por pessoa jurídica de direito público interno, de bens produzidos ou serviços
prestados por órgão ou entidade que integre a administração pública e que
tenha sido criado para esse fim específico em data anterior à vigência desta
lei, desde que o preço contratado seja compatível com o praticado no
mercado”. O TCU, entretanto, baseou-se em duas premissas para afastar a
aplicação desse dispositivo. Alegou que a ECT não foi criada para atender a
demandas de logística da administração pública e que a dispensa de licitação
para a prestação desses serviços viola o princípio da livre concorrência, por
se classificarem como atividade econômica em sentido estrito.

Na sessão de hoje, o ministro Gilmar Mendes votou pelo desprovimento do


agravo do TCU e pela manutenção da sua decisão monocrática. Ele salientou que
a ECT preenche todos os requisitos legais necessários à possibilidade de sua
contratação direta: integrar a administração pública e ter sido criada em
data anterior à edição da Lei 8.666/1993 para a prestação de serviços postais,
entre os quais os de logística integrada. É necessário ainda que o preço do
serviço seja compatível com o praticado pelas demais empresas que operam
no ramo, mas, segundo o relator, essa análise que deve ser feita pela
administração contratante caso a caso.

"Ademais, cumpre registar que a permissão legal para dispensa da licitação


não acarreta um dever para administração em dispensá-la. Cabe a ela
realizar o juízo de valor e decidir acerca da realização ou não da licitação",
ressaltou o relator.
MS 34939

Súmula 250 do TCU dispõe: “A contratação de instituição sem fins


´]lucrativos, com dispensa de licitação, com fulcro no art. 24, inciso XIII, da
Lei n.º 8.666/93, somente é admitida nas hipóteses em que houver nexo
efetivo entre o mencionado dispositivo, a natureza da instituição e o objeto
contratado, além de comprovada a compatibilidade com os preços de
mercado”.

XIII - na contratação de instituição brasileira incumbida regimental ou


estatutariamente da pesquisa, do ensino ou do desenvolvimento institucional, ou
de instituição dedicada à recuperação social do preso, desde que a contratada
detenha inquestionável reputação ético-profissional e não tenha fins lucrativos; 

SÚMULA TCU 27: É lícita a contratação de serviço de promoção de concurso público por meio de
dispensa de licitação, com fulcro no art. 24, inciso XIII, da Lei 8.666/1993, desde que sejam
observados todos os requisitos previstos no referido dispositivo e demonstrado o nexo efetivo desse
objeto com a natureza da instituição a ser contratada, além de comprovada a compatibilidade com
os preços de mercado.

Art. 24 XX - na contratação de associação de portadores de deficiência física, sem


fins lucrativos e de comprovada idoneidade, por órgãos ou entidades da
Administração Pública, para a prestação de serviços ou fornecimento de mão-de-
obra, desde que o preço contratado seja compatível com o praticado no mercado. 

Há crítica ao dispositivo, pois poderia burlar a exigência de concurso público. Pretendeu aqui o
legislador atribuir à contratação aspecto de inegável fim social, permitindo que referidas
associações prestem serviços ou forneçam mão de obra a órgãos administrativos. A despeito do
objetivo filantrópico da contratação, no entanto, é necessário que o preço do ajuste seja
compatível com o praticado no mercado, evitando-se, com isso, indevidos gastos a cargo do
erário.

XXIV - para a celebração de contratos de prestação de serviços com as


organizações sociais, qualificadas no âmbito das respectivas esferas de governo,
para atividades contempladas no contrato de gestão.
Lei n. 13.019/2014 Art. 1o Esta Lei institui normas gerais para as parcerias entre a
administração pública e organizações da sociedade civil, em regime de mútua
cooperação, para a consecução de finalidades de interesse público e recíproco,
mediante a execução de atividades ou de projetos previamente estabelecidos em
planos de trabalho inseridos em termos de colaboração, em termos de fomento ou
em acordos de cooperação.(Redação dada pela Lei nº 13.204, de 2015)

Estabelece-se um procedimento obrigatório para a seleção da OS, denominado Chamamento


Público:

Art. 2o Para os fins desta Lei, considera-se:

XII - chamamento público: procedimento destinado a selecionar organização da


sociedade civil para firmar parceria por meio de termo de colaboração ou de
fomento, no qual se garanta a observância dos princípios da isonomia, da
legalidade, da impessoalidade, da moralidade, da igualdade, da publicidade, da
probidade administrativa, da vinculação ao instrumento convocatório, do
julgamento objetivo e dos que lhes são correlatos;

O chamamento público não é um processo de licitação – e, por isso, não segue o regime legal desta,
que não foi concebido para a formatação de contratos de colaboração – mas se inspira em princípios
de algum modo semelhantes. O processo será realizado em consonância com os princípios legais e
constitucionais da Administração Pública, especialmente publicidade, isonomia e motivação.

Se a licitação fosse naturalmente imposta aos convênios, a ressalva em comento não faria qualquer
sentido. Os contratos administrativos e os convênios não se confundem, especialmente em razão
dos interesses envolvidos nos dois tipos de ajustes. De um lado, os contratos administrativos são
caracterizados pela existência de interesses contrapostos das partes: o Poder Público pretende
satisfazer o interesse público e o particular persegue o lucro. Por outro lado, os convênios
administrativos são caracterizados pela comunhão de interesses dos conveniados: os partícipes
possuem interesses comuns.

Não obstante a desnecessidade de licitação para formalização de convênios, o interessado deve


comprovar a regularidade em relação à seguridade social, na forma do art. 195, § 3.º, da CF e
do art. 56 da Lei 8.212/1991.

Verifica-se, portanto, que a licitação não é exigível, como regra geral, para os convênios. Essa
conclusão, no entanto, merece duas reflexões importantes. Em primeiro lugar, é preciso ter em
mente que a nomenclatura conferida ao instrumento jurídico celebrado pelo Poder Público
(“convênio”, “termo de parceria”, “termo de cooperação” etc.) não é suficiente para afastar a
exigência de prévia licitação. É fundamental a análise do conteúdo do ajuste para se constatar
se, realmente, existe mútua cooperação (interesses comuns) e, portanto, afastar a licitação.

Essa é a ressalva contida no art. 2.º, parágrafo único, da Lei 8.666/1993 que estabelece: “Para os
fins desta Lei, considera-se contrato todo e qualquer ajuste entre órgãos ou entidades da
Administração Pública e particulares, em que haja um acordo de vontades para a formação de
vínculo e a estipulação de obrigações recíprocas, seja qual for a denominação utilizada”.

A segunda ressalva envolve a necessidade de respeito aos princípios constitucionais em toda e


qualquer atuação administrativa. O fato de não ser aplicável a regra da licitação aos convênios não
significa dizer que a sua celebração não precise observar o princípio da impessoalidade. Nas
hipóteses em que houver dois ou mais possíveis interessados na celebração do convênio, a
Administração Pública deverá instaurar procedimento administrativo, com critérios objetivos para
seleção da entidade privada, sem fins lucrativos, que será signatária do ajuste, salvo situações
excepcionais devidamente justificadas. Com isso, evita-se a escolha arbitrária, motivada por
situações subjetivas, que favoreça determinada entidade em detrimento de outras possíveis
interessadas.

O STF julgou ADI sobre tal dispositivo, considerando a possibilidade de contratação de OS para a
prestação de serviços de saúde – regime de parceria.

AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE. CONSTITUCIONAL.


ADMINISTRATIVO. TERCEIRO SETOR. MARCO LEGAL DAS
ORGANIZAÇÕES SOCIAIS. LEI Nº 9.637/98 E NOVA REDAÇÃO,
CONFERIDA PELA LEI Nº 9.648/98, AO ART. 24, XXIV, DA LEI Nº 8.666/93.
(...) CELEBRAÇÃO NECESSARIAMENTE SUBMETIDA A
PROCEDIMENTO OBJETIVO E IMPESSOAL. CONSTITUCIONALIDADE
DA DISPENSA DE LICITAÇÃO INSTITUÍDA PELA NOVA REDAÇÃO DO
ART. 24, XXIV, DA LEI DE LICITAÇÕES E PELO ART. 12, §3º, DA LEI Nº
9.637/98. FUNÇÃO REGULATÓRIA DA LICITAÇÃO. OBSERVÂNCIA DOS
PRINCÍPIOS DA IMPESSOALIDADE, DA PUBLICIDADE, DA EFICIÊNCIA
E DA MOTIVAÇÃO. IMPOSSIBILIDADE DE EXIGÊNCIA DE LICITAÇÃO
PARA OS CONTRATOS CELEBRADOS PELAS ORGANIZAÇÕES SOCIAIS
COM TERCEIROS. OBSERVÂNCIA DO NÚCLEO ESSENCIAL DOS
PRINCÍPIOS DA ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA (CF, ART. 37, CAPUT).
REGULAMENTO PRÓPRIO PARA CONTRATAÇÕES. (…) 5. O marco legal
das Organizações Sociais inclina-se para a atividade de fomento público no
domínio dos serviços sociais, entendida tal atividade como a disciplina não
coercitiva da conduta dos particulares, cujo desempenho em atividades de
interesse público é estimulado por sanções premiais, em observância aos
princípios da consensualidade e da participação na Administração Pública. (...) 14.
As dispensas de licitação instituídas no art. 24, XXIV, da Lei nº 8.666/93 e no art.
12, §3º, da Lei nº 9.637/98 têm a finalidade que a doutrina contemporânea
denomina de função regulatória da licitação, através da qual a licitação passa a ser
também vista como mecanismo de indução de determinadas práticas sociais
benéficas, fomentando a atuação de organizações sociais que já ostentem, à época
da contratação, o título de qualificação, e que por isso sejam reconhecidamente
colaboradoras do Poder Público no desempenho dos deveres constitucionais no
campo dos serviços sociais. O afastamento do certame licitatório não exime,
porém, o administrador público da observância dos princípios
constitucionais, de modo que a contratação direta deve observar critérios
objetivos e impessoais, com publicidade de forma a permitir o acesso a todos
os interessados. 15. As organizações sociais, por integrarem o Terceiro Setor, não
fazem parte do conceito constitucional de Administração Pública, razão pela qual
não se submetem, em suas contratações com terceiros, ao dever de licitar, o que
consistiria em quebra da lógica de flexibilidade do setor privado, finalidade por
detrás de todo o marco regulatório instituído pela Lei. Por receberem recursos
públicos, bens públicos e servidores públicos, porém, seu regime jurídico tem de
ser minimamente informado pela incidência do núcleo essencial dos princípios da
Administração Pública (CF, art. 37, caput), dentre os quais se destaca o princípio
da impessoalidade, de modo que suas contratações devem observar o disposto em
regulamento próprio (Lei nº 9.637/98, art. 4º, VIII), fixando regras objetivas e
impessoais para o dispêndio de recursos públicos. (…) 20. Ação direta de
inconstitucionalidade cujo pedido é julgado parcialmente procedente, para
conferir interpretação conforme à Constituição à Lei nº 9.637/98 e ao art. 24,
XXIV, da Lei nº 8666/93, incluído pela Lei nº 9.648/98, para que: (…) (iv) os
contratos a serem celebrados pela Organização Social com terceiros, com
recursos públicos, sejam conduzidos de forma pública, objetiva e impessoal,
com observância dos princípios do caput do art. 37 da CF, e nos termos do
regulamento próprio a ser editado por cada entidade; (…) e (vi) para afastar
qualquer interpretação que restrinja o controle, pelo Ministério Público e pelo
TCU, da aplicação de verbas públicas. (ADI 1923, Relator(a): Min. AYRES
BRITTO, Relator(a) p/ Acórdão: Min. LUIZ FUX, Tribunal Pleno, julgado em
16/04/2015, ACÓRDÃO ELETRÔNICO DJe-254 DIVULG 16-12-2015
PUBLIC 17-12-2015)

Licitação vedada ou proibida

Muitos autores não reconhecem esta categoria.

Licitação vedada ou proibida são situações especiais, indicadas por parte da doutrina, mas
sem ter previsão expressa em lei. Nestas situações, entende-se que o procedimento licitatório
violaria o interesse público, em razão de uma urgência excessiva em obter certos bens ou
contratar determinado serviço.

Nestes casos de urgência extrema, não pode ser feita a licitação, pois a realização afrontaria valores
também muito importantes.

Exemplo: Uma epidemia muito grave está assolando o Brasil, de modo que não dá para fazer
licitação para comprar vacina. Se existe a vacina, que se faça a contratação direta. Aqui a
contratação direta corresponde a uma decisão vinculada da administração pública.

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