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MIGRAÇÕES INTERNACIONAIS INTRA - REGIONAIS

NA AMÉRICA LATINA E NO CARIBE

ROBERTO MARINUCCI*

Introdução
Nos últimos anos, é cada vez mais comum tratar do fenômeno migratório da América
Latina e Caribe em termos de emigração extra-regional. De fato, cresceu de forma significativa,
desde a década de 80 do século passado, o número de latino-americanos e caribenhos que
migram para a América do Norte ou outros continentes. Os desafios da migração extra-regional,
no entanto, parecem estar ocultando a migração intra-latino-americana e caribenha, ou seja, a
migração internacional intra-regional, realizada entre os países da região (América Latina e
Caribe).
Essa migração, apesar de não ter a relevância numérica da emigração extra-regional,
continua sendo extremamente significativa, abarcando desafios e potencialidades, sobretudo em
vista da promoção dos direitos humanos e da integração regional. Neste trabalho, vamos
apresentar dados e análises introdutórias sobre as migrações internacionais intra-regionais na
América Latina e no Caribe, destacando as mudanças que ocorreram nas últimas décadas, os
principais fluxos e os desafios mais urgentes.

1. As fontes de pesquisa
Antes de entrar especificamente no estudo do tema deste ensaio, são necessárias algumas
observações sobre as fontes de dados sobre as migrações latino-americanas e caribenhas. Em
geral, ao trabalhar esse assunto, os pesquisadores privilegiam os dados dos censos nacionais
assim como elaborados pelo projeto IMILA (Investigación de la Migración Internacional en
Latinoamérica) do CELADE1 (Centro Latinoamericano y Caribeño de Demografía), bem como
pelo programa REDATAM2.
Mesmo sendo um instrumento fundamental e precioso para a avaliação dos fluxos
migratórios, os dados dos censos nacionais apresentam várias deficiências. Em primeiro lugar,
oferecem uma visão estática da realidade migratória, não conseguindo captar determinados tipos
de mobilidade humana, como os movimentos sazonais, cíclicos e transitórios que não implicam
uma mudança estável de residência. Além disso, os dados censitários encontram sérias
dificuldades em medir a imigração ou emigração de tipo irregular, característica marcante da
época contemporânea. Finalmente, a ausência de integração e articulação entre os vários
organismos de pesquisa nacionais faz com que as datas e a periodicidade dos censos variem de
país a país, bem como os tipos de questionários. Tudo isso prejudica a confiabilidade e a reta
utilização desses dados.
A própria CEPAL reconhece que a migração intracontinental está assumindo novas
características, às vezes, de difícil medição e avaliação. “Al respecto - sempre de acordo com a
CEPAL - algunos indicios permiten aseverar que la migración adquirió formas alternativas al
traslado de residencia, operando bajo modalidades temporales o circulares que implican
reversibilidad en los flujos”3. Nesta perspectiva, as estatísticas oficiais não dão conta de oferecer
um quadro exaustivo e completo das dinâmicas migratórias continentais.

*
Missiólogo, pesquisador do CSEM – Centro Scalabriniano de Estudos Migratórios – www.csem.org.br.
1
Sobre CELADE, ver: http://www.eclac.cl/celade/default.asp
2
Sobre REDATAM, ver: http://www.eclac.cl/redatam/
3
CEPAL. Migración internacional, derechos humanos y desarrollo. Santiago de Chile: Naciones Unidas, 2006, p. 89.

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Mesmo assim, como já realçamos, nos dias de hoje, os dados censitários constituem ainda o
instrumental mais preciso que temos a disposição para avaliar os fluxos migratórios, sobretudo
no que se refere à migração intra-regional.4

2. Premissas históricas
Antes de abordar as migrações intra-regionais contemporâneas, é importante um conciso
olhar sobre os deslocamentos populacionais que caracterizaram a história da região, a fim de
avaliar os traços de continuidade e descontinuidade. Historicamente, América Latina e Caribe
foram palcos de grandes fluxos migratórios. Podemos sinalizar 5 grandes etapas.
1. Em primeiro lugar não podemos deixar de lembrar dos povos indígenas da região.
Acredita-se que os primeiros povoamentos da América foram realizados por grupos humanos que
vieram pelo norte da Ásia, através do estreito de Bering. De acordo com recentes teorias, o
território sul-americano teria sido atingido, também, por grupos que navegaram através do
Oceano Pacífico vindos da Austrália, Malásia e Polinésia. Esses povos realizaram, no decorrer da
própria história, intensos movimentos migratórios internos, inclusive na busca da “terra sem
males”, de acordo com um mito guarani. Ainda hoje, os povos indígenas da região continuam se
deslocando de diferentes maneiras. Todavia, a exploração indiscriminada da Amazônia, a
construção de barragens e as próprias restrições na mobilidade humana fronteiriça estão
prejudicando essas populações que, há alguns anos, tentam se organizar a fim de reivindicar os
próprios direitos.
2. Uma segunda etapa migratória é representada pela chegada dos europeus a partir do final
do século XV. Não é objetivo deste estudo aprofundar as causas e as conseqüências da conquista
dos territórios indígenas por parte das potências coloniais européias. Interessa-nos aqui apenas
lembrar que, com a chegada dos europeus, os deslocamentos indígenas transformaram-se em
verdadeiras fugas da escravidão, do genocídio, das doenças, da negação das próprias culturas e
religiões.
Ao mesmo tempo, cabe lembrar da chegada forçada dos escravos africanos que povoaram
várias regiões do continente, tanto na América do Sul (sobretudo Brasil e Colômbia), como no
Caribe e na América Central. Assim como os índios, os africanos escravizados perdiam o direito
de ir, sendo confinados entre a senzala e o trabalho. Os povos afro-americanos, apesar de
escravizados, contribuíram e ainda contribuem, na atualidade, de forma determinante para a
caracterização da identidade sócio-cultural da região.
3. A terceira grande etapa é representada pela maciça imigração européia - de forma menor,
asiática - que ocorreu entre 1870 e 1929, ano da crise da Bolsa de Nova Iorque. Essa imigração
foi incentivada por políticas migratórias criadas para atrair imigrantes – sobretudo europeus – a
fim de povoar regiões desabitadas. Acreditava-se, na época, nas potencialidades dos migrantes
enquanto instrumentos de desenvolvimento da região. Já, na Europa, um importante fator de
expulsão foi o forte crescimento demográfico. Estima-se que cerca de 11 milhões de migrantes
de ultramar chegaram na América Latina entre o final do século XIX e o começo do século XX.
A crise de 1929 impulsionou a implementação de políticas imigratórias mais restritivas,
com o conseqüente estancamento do fluxo oriundo da Europa. Após a segunda guerra mundial,
houve uma nova onda da imigração européia, embora de menor proporção.5

4
Cf. MARTINEZ, Jorge; VONO, Daniela. “Geografía migratoria intrarregional de América Latina y el Caribe al
comienzo del siglo XXI”. Revista Norte Grande, n. 34 (2005), p. 41-42.
5
Cf. MAGUID, Alicia. “La migración internacional en el escenario de MERCOSUR: cambios recientes, asimetrías
socioeconómicas y políticas migratorias”, in: Estudios Migratorios Latinoamericanos, a.19, n. 57 (agosto 2005), p.
252; PELLEGRINO, Adela. La migración internacional en América Latina y el Caribe: tendencias y perfiles de los
migrantes. Santiago Chile: CELADE/BID, 2003, p. 11.

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4. Entre 1930 e 1960 predominou, na região, a migração interna, devido sobretudo a
importantes mudanças no modelo econômico, agora baseado na substituição das importações e
na forte urbanização. Nessa época se torna cada vez mais intenso o êxodo rural, sobretudo na
América do Sul, com a decorrente formação de grandes centros urbanos. Cresce, nessa época, a
migração intra-regional.
5. Finalmente, a partir da década de 1970/80, começa a aparecer um novo modelo cujo foco
estava nas migrações para fora da região, sobretudo rumo aos EUA e, de forma menor, Canadá,
Japão e Europa. O começo da transição demográfica provocou um sensível crescimento da
população que passou de 156 milhões, em 1950, para 441 milhões, em 1990. Mudanças
importantes ocorreram, como a diminuição da fecundidade, o aumento da expectativa de vida, a
forte mobilidade interna e a urbanização.
O acelerado processo de industrialização gerou, na região, importantes avanços até meados
dos anos 70. No entanto, desde então, a região entrou numa progressiva crise econômica que
gerou a conhecida “década perdida” de 1980 e os profundos câmbios de cunho neoliberal, nos
anos 90. As crises do México (1994), Brasil e Argentina (2001), marcaram profundamente a
região que permanece numa situação de instabilidade, por questões econômicas e políticas,
incentivando, assim, a expulsão populacional.

3. Fluxos imigratórios e migrações extra-regionais


De acordo com os dados do CELADE, houve na América Latina e no Caribe, nos primeiro
cinco anos do terceiro milênio, um significativo aumento do número de migrantes internacionais,
passando de 21 milhões, em 2000, para 26 milhões, em 2005. Essa cifra representa 13% dos
cerca de 200 milhões de migrantes internacionais em nível mundial.6
Para a avaliação desses dados é importante ter presente que com a expressão “migrantes
internacionais” entende-se todas as pessoas latino-americanas e caribenhas que vivem fora do
país em que nasceram. Nesse sentido, os migrantes internacionais latino-americanos podem ser
divididos em duas categorias: os migrantes internacionais intra-regionais, ou seja, que migraram
para outro país da região, e os migrantes internacionais extra-regionais, ou seja, que se
deslocaram para a América do Norte ou outro continente.
Neste capítulo vamos tratar sucintamente das migrações extra-regionais e da imigração de
ultramar de modo a compor um quadro suficientemente completo dos fluxos migratórios
contemporâneos nos quais se inserem os deslocamentos intra-regionais.

3.1. A imigração de ultramar


No que se refere à imigração, um primeiro fator de descontinuidade em relação ao passado
é a progressiva e substancial diminuição do número de estrangeiros oriundos de outros
continentes. Após a chegada de milhões de imigrantes extra-regionais no final do século XIX e
primeira metade do século XX, a região deixou de ser um pólo de atração em nível internacional.
Desta forma, o stock de migrantes de ultramar está passando por um processo de rápido
envelhecimento, não sendo substituído por um número significativo de novos migrantes. Na
atualidade, apenas no Brasil o número de migrantes de ultramar é superior ao número daqueles
regionais.
No Gráfico 1 pode-se conferir a diminuição de imigrantes extra-regionais na América
Latina.

6
CEPAL. Migración internacional, derechos humanos y desarrollo. Santiago de Chile: Naciones Unidas, 2006,
p. 72.

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GRÁFICO 1
AMÉRICA LATINA
POPULAÇÃO IMIGRANTE NASCIDA FORA DO CONTINENTE, 1970-2000

Uma das conseqüência mais evidentes dessa queda do número de imigrantes de ultramar
está no fato de que, na atualidade, os principais fluxos imigratórios da região são endôgenos.
Além disso, cabe frisar que, pelo fato de América Latina e Caribe não serem mais pólos de
atração, vários estrangeiros de ultramar regressaram para os países de origem. Da mesma forma,
muitos latino-americanos e caribenhos, como veremos a seguir, resolveram sair da própria terra
em busca de melhores condições de vida.

3.2. A emigração para fora do continente


A emigração extra-regional latino-americana e caribenha não é um fenômeno recente. Os
países da América Central e do Caribe têm uma antiga tradição emigratória, sobretudo para os
Estados Unidos. No entanto, a região como tal começou a se tornar uma área de forte e constante
expulsão populacional, sobretudo a partir dos anos 70.
O primeiro pólo de atração é representado pelos EUA onde, em 2005, viviam 19,3 milhões
de latino-americanos e caribenhos. Levando em conta também os filhos que nasceram no país
norte-americano, forma-se um grupo que representa a primeira minoria étnica do país, chamada
de comunidade “latina”. Os EUA são o primeiro pólo de atração de latino-americanos e
caribenhos, mas não o único. De acordo com a CEPAL, nos últimos anos, verificou-se uma
crescente diversificação dos destinos dos latino-americanos:

Los factores de expulsión, la demanda de trabajadores especializados y la aparición


de redes sociales — unidos, en muchos casos, a vínculos históricos —, explican en
cierto modo esta creciente ampliación de los destinos migratorios, tendencia que se
ha acentuado desde comienzos de 1990 hasta el presente (2006), ya que más de 3,7
millones de latinoamericanos y caribeños que se encuentran fuera de la región
residen en países distintos a los Estados Unidos. Dentro de estos nuevos destinos se
destacan Europa — en especial España para los latinoamericanos, Holanda e
Inglaterra para los caribeños, e Italia, Francia y Portugal para los sudamericanos —
, Canadá, Japón, Australia e Israel. 7

7
Ibidem, p. 74.

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No Gráfico 2 podemos conferir o número de latino-americanos e caribenhos que, em
2000, viviam fora do continente, com exceção dos EUA. Cabe destacar o papel cada vez mais
central ocupado pela Espanha que, na atualidade, se tornou o segundo país de atração, após os
EUA. Fatores culturais, lingüísticos e econômicos podem facilmente justificar a opção por esse
país.
Além disso, há uma tendência ao retorno de migrantes ou descendentes de migrantes para
seus países de origem, como comprovado pela presença significativa de latino-americanos e
caribenhos no Japão (sobretudo brasileiros e peruanos), na Itália, na Alemanha, em Portugal,
além, claramente, da Espanha. Nestes casos, além de fatores culturais e lingüísticos, se torna
relevante o papel desenvolvido pelas redes familiares enquanto espaços de apoio diante dos
desafios da emigração.

GRÁFICO 2
POBLACIÓN NACIDA EN AMÉRICA LATINA Y EL CARIBE Y PRESENTE EN EUROPA
Y OTROS PAÍSES CON INFORMACIÓN DISPONIBLE, CIRCA 2000

4. A migração internacional intra-regional na América Latina e no Caribe


A migração internacional intra-regional latino-americana e caribenha, no começo do século
XXI, apresenta traços de continuidade e descontinuidade em relação ao passado. A região
continua sendo marcada por uma expressiva mobilidade interna, sobretudo fronteiriça. A
mobilidade forçada, embora reduzida após o fim dos governos militares, continua presente em
algumas áreas, assim como o êxodo rural que estancou em algumas regiões, enquanto continua
intenso em outras.
Cabe lembrar também que as migrações latino-americanas e caribenhas se inserem no
cenário maior da globalização neoliberal, que acaba influenciando, de diferentes maneiras, os
padrões comportamentais e axiológicos das populações locais. Novas dinâmicas impulsionam
para uma mobilidade um pouco diferente em relação ao passado, trazendo novidades e desafios
insólitos.

4.1. Dados estatísticos gerais


De acordo com a CEPAL, os padrões migratórios intra-regionais da América Latina não
mudaram substancialmente nas últimas décadas. Mesmo assim, ocorreram algumas modificações

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que devem ser adequadamente avaliadas.8 Em nível geral, América Latina e Caribe registraram
uma diminuição do número de migrantes internacionais no decorrer das últimas décadas.
Consoante os dados da IOM (Gráfico 3), o número de migrantes residentes na região, em 2000,
era quase idêntico ao de 1970. No entanto, esses dados numéricos devem ser bem interpretados a
fim de evitar conclusões precipitadas e enganosas.

GRÁFICO 3
Migrantes internacionais na América
Latina e Caribe
(Fonte: IOM, em milhões)

8 7
5,8 6,1 5,9
6
4
2
0
1970 1980 1990 2000

Em primeiro lugar, como já frisamos, desde 1970, diminuiu gradativamente a porcentagem


de estrangeiros de ultramar. O estancamento dessa imigração e o retorno de grupos de migrantes
para as terras de origem, justificam o baixo crescimento do número de migrantes internacionais
na região.
Além disso, segundo a IOM, a diminuição na década de 90 do número de migrantes na
região decorre basicamente do fim dos regimes militares, que permitiu a repatriação de milhares
de refugiados, sobretudo na América Central. Essa asserção é confirmada numericamente pela
própria IOM, de acordo com a qual, o número de refugiados na região passou de 1,2 milhões, em
1990, para algumas dezenas de milhares em 2000. Assim, omitindo o número de refugiados,
percebe-se que a quantidade de migrantes internacionais na região permaneceu substancialmente
estável nas últimas três décadas.
Esta afirmação, todavia, pode induzir a conclusões errôneas. Com efeito, não é muito
adequado falar em “estabilidade” migratória no que se refere a América Latina e Caribe. Desde
1970, o estancamento do fluxo imigratório de ultramar é acompanhado por um constante
aumento da migração intra-regional. O número de migrantes intra-latino-americanos era de cerca
de 1,2 milhões de pessoas, em 1970 e passou a 2 milhões em 1980. Nesta década, devido a
diferentes fatores, houve uma repentina desaceleração, sendo que em 1990 o número tinha
aumentado apenas de 200 mil unidades. Finalmente, na década de 90 registra-se um novo
crescimento, chegando, em 2000, a cerca de 2,9 milhões.
O Gráfico 4, além de mostrar a evolução da migração intra-regional, revela, também, o
crescimento da porcentagem de migrantes intra-regionais em relação ao total.

8
CEPAL. Migración internacional, derechos humanos y desarrollo. Santiago de Chile: Naciones Unidas, 2006, p.
90.

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GRÁFICO 4
AMÉRICA LATINA:
POPULAÇÃO MIGRANTE ENTRE PAÍSES DA REGIÃO, 1970-2000

4.2. Tipologias e principais fluxos migratórios


Em princípio, é importante frisar que a mobilidade intra-latino-amerticana é um fenômeno
muito antigo, que antecede a recente difusão do liberalismo comercial e os tratados de
integração regional. Segundo Martinez e Vono:

los intercambios tienen un carácter secular y se remontan a épocas inmemoriales, y


han subsistidos a conflictos limítrofes que han enfrentado los países, por lo que
también han contribuido a la formación de las identidades nacionales. Es singular
destacar este hecho, pues los movimientos llegaron a ocurrir en ausencia y en
presencia de restricciones y fronteras.9

Estamos, pois, diante de um fenômeno amplo e complexo, com raízes históricas e culturais,
que não foi interrompido pelo surgimento das fronteiras, no século XIX.
Em geral, as migrações intra-latino-americanas têm um cunho limítrofe: os migrantes
costumam escolher países de fronteira para seus deslocamentos. EsSe fenômeno, bastante antigo,
persiste nos dias de hoje: de acordo com Lelio Mármora10, tradicionais correntes migratórias
limítrofes latino-americanas continuaram existindo, como o caso da migração dA Nicarágua para
Costa Rica, do Haiti para a República Dominicana, da Guatemala para o México, do Paraguai e
Bolívia para Argentina.
Da mesma forma, ao lado das migrações limítrofes, são muito comuns as assim chamadas
migrações fronteiriças, protagonizadas por pessoas ou grupos que ultrapassam as fronteiras
diária, cíclica ou sazonalmente por razões de trabalho. Mesmo após a criação, no século XIX, dos
Estados nacionais com suas fronteiras, as migrações fronteiriças continuaram muito intensas.
Tirando as áreas em que elementos naturais (florestas, desertos, montanhas) as tornavam
complexas, as migrações fronteiriças permaneceram fortes na região, sobretudo quando as
fronteiras dividiam povos da mesma etnia ou com fortes vínculos históricos e comerciais.

9
MARTÍNEZ, Jorge; VONO, Daniela. “Geografía migratoria intrarregional de América Latina y el Caribe al
comienzo del siglo XXI”. Revista de Geografia Norte Grande, Santiago, Chile, n. 34, diciembre, 2005, p. 45.
10
MÁRMORA, Lélio. Políticas de migraciones en América Latina: las respuestas gubernamentales y de la sociedad
civil en la década de los ’90. In: CNPD (org.). Migrações Internacionais. Contribuições para políticas. Brasilia:
CNPD, 2001, p. 34.

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Alguns exemplos vão elucidar a importância das migrações limítrofes e fronteiriças. De
acordo com Pellegrino 11, na fronteira entre EUA e México, no decorrer da primeira parte do
século XX, o deslocamento de mexicanos para o território estadunidense foi sempre muito
expressivo e, inclusive, incentivado, a fim de suprir a carência de mão-de-obra durante a Primeira
e a Segunda Guerra Mundial. Essa migração continuou nas décadas posteriores até o momento
em que começou a ser criminalizada pelas autoridades dos EUA.
Na América Central, a migração de nicaragüenses para Costa Rica é muito antiga e
intensificou-se nos anos oitenta, quando milhares de refugiados buscaram abrigo no país vizinho.
Na área andina, a migração fronteiriça é protagonizada, de forma específica, por colombianos
que se encontram no Panamá12, no Equador e, sobretudo na República Bolivariana de Venezuela,
que, devido às riquezas obtidas pela comercialização do petróleo, tornou-se o principal país de
imigração da área andina, atraindo migrantes de vários países da região.
Já no Cone Sul, a principal área de atração é constituída pela Argentina, devido tanto ao
processo de industrialização do país, quanto ao baixo crescimento demográfico. A importância
da migração fronteiriça na história da América Latina é bem reforçada por Pellegrino.

En América Latina, hasta el decenio de 1960 todos los movimientos de migración


internacional que tuvieran un volumen superior a las 50 000 personas eran de
carácter fronterizo, incluyendo la migración mexicana hacia los Estados Unidos,
que ya entonces contaba con más de medio millón de personas. También es el caso
de la emigración cubana a ese país, que puede asimilarse a una migración
fronteriza.13

No entanto, consoante Lelio Mármora, verifica-se também um “incremento del


movimiento migratorio no limítrofe”, que, embora não possua o tamanho do limítrofe, pode
ser verificado, pelo menos, em dois casos: a recente migração peruana para a Argentina – onde o
número total de migrantes do país andino já ultrapassa o dos chilenos – e o fluxo migratório do
Caribe para a República Bolivariana de Venezuela e para a Argentina, fluxo que é
freqüentemente acompanhado pelo tráfico de mulheres desde a República Dominicana.
Finalmente, cabe lembrar que

existen evidencias parciales de que la migración adquirió formas alternativas al


traslado de residencia bajo modalidades temporales o circulares que resultan en una
reversibilidad de los flujos, especialmente entre las grandes ciudades
sudamericanas, movimientos que no son captados por lo censos y que hacen parte
de la complejidad de la movilidad internacional.14

No Mapa 1 pode-se observar os principias fluxos migratórios intra-regionais.

11
Cf. PELLEGRINO, Adela. La migración internacional en América Latina y el Caribe: tendencias y perfiles de los
migrantes. Santiago Chile: CELADE/BID, 2003.
12
Cabe lembrar que Panamá e Colômbia eram um único país antes da ocupação dos EUA da área do canal.
13
PELLEGRINO, op. cit., p. 16.
14
MARTÍNEZ; VONO, op. cit., p. 46.

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MAPA 1
AMÉRICA LATINA:
PRINCIPALES CORRIENTES MIGRATORIAS INTRARREGIONALES, 2000

Entrando de forma mais específica nos fluxos migratórios, no que tange aos países de
recepção, América Latina e Caribe apresentam um dado singular: 3 países (Argentina,
Venezuela e Costa Rica) abrigavam, em 2000, 77% dos migrantes intra-regionais. Nesses países,
a porcentagem de imigrantes em relação à população nacional é bastante alta, alcançando 7,5%
no país meso-americano.
Por outro lado, há países em que a presença de imigrantes é extremamente reduzida, como
no caso do Peru (0,1% da população) e da Colômbia (0,2%), mas também do Brasil, onde os
estrangeiros, apesar de totalizar cerca de 700 mil unidades (PNAD 2005), representam apenas
0,3% da população.
Na América do Sul, a República Bolivariana da Venezuela atraiu, historicamente,
populações colombianas. Desde o século XIX registram-se intensos intercâmbios nas regiões
fronteiriças dos dois países. Na segunda metade do século XX, a emigração rumo à Venezuela
tornou-se cada vez mais massiva, sobretudo nos anos 70, devido ao aumento do preço do
petróleo e à conseqüente política de importação de recursos humanos. Tanto Venezuela quanto
Argentina – da qual falaremos mais adiante – tiveram uma relativa diminuição da migração nos
anos oitenta, durante a assim chamada década perdida, mas, já na década de noventa, passaram
por um intenso retorno migratório.
Nos últimos anos, de acordo com Jorge Martinez15, emergiu um novo importante pólo de
atração: o Chile, que registrou um significativo aumento do número de imigrantes na região,
sobretudo do Peru. No entanto, não há unanimidade quanto à avaliação da situação chilena:

15
MARTINEZ, Jorge. “Tendencias recientes de la migración internacional en América Latina y el Caribe”, in:
Estudios Migratorios Latinoamericanos, a.18, n. 54 (agosto 2004) p. 211-240.

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enquanto alguns autores sustentam a hipótese da inversão de fluxo (o Chile teria se transformado
de país de emigração para país de imigração), na opinião de outros, ainda é cedo para essas
conclusões, pois o país abriga apenas 1% do total de migrantes intra-latino-americanos.16
Nos últimos anos, o principal pólo de expulsão da região é representado pela Colômbia.
Como vimos, na segunda metade do século XX, intensificou-se o fluxo rumo à República
Bolivariana da Venezuela, motivado tanto pela atração do boom do petróleo, quanto pela fuga da
violência interna. Nesse sentido, trata-se de uma migração que, dependendo dos casos, pode ser
tachada de “econômica” ou “forçada” (em busca de refúgio). Nos anos 90, havia cerca de 700 mil
colombianos vivendo em outros países da América Latina, sendo que 90% deles encontravam-se
na República Bolivariana de Venezuela e o restante, sobretudo em Equador e Panamá. De acordo
com Martínez, trata-se de “poblaciones flotantes em zonas fronterizas”17 que intensificaram a
saída do país devido ao crescimento da violência interna.
Em termos percentuais, um único país da região (El Salvador) tem um número de
emigrantes – intra e extra-regionais – que alcança os dois dígitos (14,5% da população vive fora
do país), mas há vários países que ficam entre 8 e 9%, como Cuba, México, Nicarágua,
República Dominicana e Uruguai. Em termos absolutos, o México, sozinho, participa com mais
de 9 milhões do total de emigrantes da região18.
A América Central, nas décadas de 70 e 80, foi palco de intensos conflitos armados. Neste
contexto, os países mais envolvidos com conflitos internos acabaram expulsando população
(Guatemala, Nicarágua e El Salvador), ao passo que outros (Costa Rica e Belize) se tornaram
países de acolhida de refugiados.
O Belize é meta sobretudo de salvadorenhos e guatemaltecos. Nesse país o número de
estrangeiros alcança cerca de 15% do total da população, sem contar com os trabalhadores
sazonais e as migrações de trânsito. A Costa Rica também é um tradicional pólo de atração e
recebe majoritariamente migrantes nicaragüenses (83%). Inicialmente tratava-se de uma
migração de trabalhadores agrícolas que, com o tempo, adquiriu também uma conotação urbana,
basicamente na cidade de São José.
Outro importante fluxo na América Central é a migração ao sul do México de populações
mesoamericanas, sobretudo guatemaltecos e salvadorenhos. Trata-se, com freqüência, de uma
migração sazonal, ligada aos ciclos de colheita agrícola na região de Chiapas. Além disso, o
México caracteriza-se como espaço de trânsito rumo aos EUA. Não é por acaso que, nos
últimos anos, o governo mexicano está sendo pressionado a vigiar mais a fronteira sul, por ser
considerada um ponto estratégico a fim de diminuir a emigração irregular para os EUA na
fronteira Norte. Enfim, o México é, simultaneamente, um país de acolhida (na fronteira sul), de
expulsão (na fronteira norte) e de trânsito.
O Caribe é caracterizado por fortes migrações internas, nem sempre acompanhadas por
mudanças de residência. O desenvolvimento do turismo na região tem aumentado a procura por
mão-de-obra, sobretudo não países mais desenvolvidos da região. Em nível geral, cerca da
metade dos imigrantes residentes são oriundos da área. O Caribe apresenta também uma
emigração muito significativa para os EUA, geralmente de forma irregular, e o aumento de
quadrilhas de tráfico de pessoas.
Um destaque específico merece a situação de Haiti e a República Dominicana. Essa
migração remonta a meados do século XX e foi-se intensificando gradativamente, impulsionada,

16
MARTÍNEZ; VONO, op. cit., p. 46.
17
MARTÍNEZ, op. cit., p. 218.
18
Dados mais recentes, falam de 11 milhões de mexicanos nos EUA (cf. “México, campeón de la migración; 11
millones de expulsados a EU”, disponível em:
http://www.jornada.unam.mx/2007/02/13/index.php?section=economia&article=024n1eco ).

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sem dúvida, pelas crises econômicas e políticas do país francófono, bem como pelo crescimento
da emigração dominicana para os EUA. O fluxo daquele para este país é o mais intenso da
região. Consoante dados do Censo, é uma emigração principalmente masculina, embora há
estudos que mostram o aumento da participação de mulheres, sobretudo para o trabalho
doméstico. A violação dos direitos humanos dos haitianos no país fronteiriço é alvo de diferentes
denúncias. Cabe lembrar, também, que a República Dominicana é origem de um grande fluxo de
mulheres traficadas com fins de exploração sexual.

5. A migração internacional intra-regional no Cone Sul


A imigração no Cone Sul é basicamente intra-regional (neste capítulo, “intra-regional” é
sinônimo de “intra-Cone Sul”), pois o número de migrantes oriundos do restante da América
Latina continua baixo, embora tenha aumentado muito (119%) na década de 90. Com exceção do
Chile, nos demais países do Cone Sul o número de imigrantes intra-regionais é superior àquele
dos migrantes oriundos do restante da América Latina e Caribe. Há, todavia, profundas
diferenças entre os vários países, sendo que no Brasil os migrantes do Cone Sul são 17% do
total, enquanto no Paraguai 87%. Em quase todos os países, a maioria dos migrantes latino-
americanos é constituída por peruanos, sendo menos significativa a presença de equatorianos,
colombianos e mesoamericanos.
Como pode ser comprovado pelo Gráfico 5, a diminuição do número de migrantes
internacionais no Cone Sul é provocada, basicamente, pela redução do número de pessoas
nascidas fora da América Latina. Por outro lado, no decorrer das últimas duas décadas, ocorreu
um aumento tanto da imigração intra-latino-americana quanto da imigração intra-regional. No
caso do Cone Sul, o aumento se estabeleceu ao redor de 10%, enquanto, no que se refere à
América Latina, o aumento chega a 119% entre 1990 e 2000.

GRÁFICO 5
Imigração Internacional no Cone Sul por lugar de
nascimento (em milhares)

4.000
Restante do
3.000 mundo
Restante da
2.000 América Latina
Cone Sul
1.000

0
1980 1990 2000

Entre os países receptores, o Chile, como vimos, é o que apresenta o incremento maior,
passando de 84 mil estrangeiros, em 1982, para 195 mil em 2002, Apesar disso, participa apenas
com o 4% do total de estrangeiros do Cone Sul. Da mesma forma, o número de imigrantes
internacionais no país continua relativamente pequeno em relação ao restante da populaçõ (1%
do total). De qualquer forma, pelo aumento do número de estrangeiros, o Chile conseguiu reduzir
bastante o saldo migratório intra-regional. Outra característica da imigração chilena é a
feminização: o Chile recebeu um ingente número de mulheres do Equador e, sobretudo, do Peru,

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que respondem à alta demanda de empregadas domésticas no país. Para muitos analistas, o Chile
representa um forte pólo atrativo da migração intra-regional dos próximos anos.
A Argentina é o pólo de atração predominante da imigração no interior do Cone Sul
(68%). Já no que se refere aos oriundos do restante da América, é significativa também a
contribuição de Chile (21%), Brasil (15%) e Bolívia (11%). A expressiva presença de migrantes
na Argentina não representa uma novidade dos últimos anos. Desde o começo do século XX, o
país atraiu migrantes dos países limítrofes. Com o tempo, reduziu-se a presença de brasileiros e
uruguaios, aumentando muito a migração do Paraguai e, mais recentemente, do Peru. A baixa
natalidade da Argentina e o processo de urbanização exigiram a importação de mão-de-obra.
Apesar disso, nos últimos anos, o país registrou também um forte aumento da emigração, devido,
entre outras coisas, à crise econômica do final da década.
Paraguai e Brasil são, respectivamente, o segundo e o terceiro país receptor, mas com uma
quantidade de estrangeiros intra-regionais decididamente inferior em relação à Argentina
(respectivamente 151 e 118 mil migrantes de outros países do Cone Sul). Entre os dois países há
uma significativa migração fronteiriça, de tal forma que brasileiros e paraguaios constituem,
reciprocamente, o principal estoque de migrantes regionais dos dois países. Segundo a CEPAL, o
Paraguai, apesar de continuar sendo um país de expulsão populacional, nos últimos anos,
registrou também a entrada de imigrantes, devido ao aumento da fronteira agrícola e a construção
de grandes hidroelétricas, o que provocou, também, o retorno de paraguaios da Argentina.
Outro dado significativo que vale a pena ser destacado é que tanto o Brasil quanto a
Argentina abrigam uma significativa porcentagem de migrantes de todos os países do Cone Sul,
enquanto nos demais países predomina a presença de argentinos. Apesar disso, a Argentina é o
único país do Cone Sul com saldo migratório intra-regional positivo. No Gráfico 6, pode-se
conferir o saldo migratório intra-regional de cada país.

GRÁFICO 6
Saldo migratório intra-regional - Cone Sul (em milhares)
Fonte: CELADE

800

600

400

200 1990
2000
0

-200

-400
Argentina Bolívia Brasil Chile Paraguai Uruguai

Enfim, pode-se inferir que a migração intra-Cone Sul continua bastante intensa e registra,
nos últimos anos, um pequeno aumento, principalmente levando em conta que os números
analisados não incluem os migrantes irregulares.

6. Urbanização
Nos últimos anos, América Latina e Caribe registraram uma sensível diminuição do assim
chamado “êxodo rural” que caracterizou as migrações internas do continente nos anos 60, 70 e
80. Em 2000, três latino-americanos entre quatro viviam em áreas urbanas, sendo que um entre

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três numa cidade com mais de um milhão de habitantes. Nas últimas três décadas do século XX,
a população urbana da região passou de 176 para 390 milhões de pessoas. Em termos
percentuais, a passagem foi de 57% para 75% do total.
Cabe lembrar, todavia, que a situação do continente não é homogênea. Na América do Sul,
por exemplo, a urbanização é próxima de 80% da população, enquanto na América Central
(67%) e Caribe (63%) a porcentagem é bem inferior. Quanto aos países, constituem exceções
Belize (36% da população urbanizada), República Dominicana (51%), Paraguai (58%) e Costa
Rica (59%).19 Nesse sentido, em alguns países o êxodo rural ainda tem um papel significativo nas
dinâmicas migratórias internas, como, por exemplo, em Honduras, Guatemala e Bolívia.
Em geral, os migrantes tendem a manter os mesmos padrões de localização geográfica dos
nativos. Em alguns casos (Belize, República Dominicana, Costa Rica) continua extremamente
alta a presença de estrangeiros nas áreas rurais, sobretudo homens. Nesses países continua
significativa a tradicional migração para os trabalhos agrícolas. Já entre as mulheres imigradas, é
mais comum a presença em áreas urbanas, talvez devido à forte demanda por trabalhos
domésticos.
Com exceção do Brasil, os países da América Latina contam com um único grande centro
urbano. De acordo com a CEPAL,

los sistemas de ciudades de la región tienen dos características sobresalientes:


estructuración em torno a ciudades de gran tamaño y, en asociación con esto,
tendencia a ser altamente primados. La región tiene 7 ciudades con más de 5
millones de habitantes, donde reside el 15% de la población y 50 ciudades de 1
millón o más habitantes, en las cuales reside 1 de cada 3 latinoamericanos y
caribeños.20

Em geral, o processo de urbanização ocorreu de forma bastante desordenada, o que


provocou o fenômeno da “favelização” das periferias urbanas. Entre os problemas sociais mais
evidentes que se registram nestas áreas cabe lembrar a concentração de resíduos sólidos
domésticos e industriais – gerada não apenas pela concentração de pessoas, mas também pelas
mudanças dos padrões de estilo de vida e consumo – a falta de saneamento básico e poluição
atmosférica. Esta é provocada tanto pelo aumento do número de veículos, quanto pelo
crescimento do tempo dos percursos urbanos, devido aos congestionamentos.
A presença de migrantes em áreas urbanas traz algumas importantes vantagens, como o
mais fácil acesso a serviços sociais, maiores e mais diversificadas opções de trabalho, crescente
visibilidade. Por outro lado, aumentam também os riscos de discriminação e expulsão (no caso
de migrantes irregulares).
Na maioria dos casos, todas essas situações têm provocado uma progressiva deteriorização
da qualidade de vida urbana, sobretudo nas grandes cidades. Isso tem provocado, nos últimos
anos, uma expressiva saída dos grandes centros urbanos e um concomitante aumento
populacional nas cidades de pequeno ou médio porte. Isso não significa que as grandes
metrópoles da região tenham tido uma perda populacional. Elas continuam possuindo um forte
poder de atração, principalmente pelos serviços básicos que, embora precários, podem oferecer,
sobretudo nas áreas da saúde e educação. No entanto, em geral, diminuiu o saldo migratório
dessas megalópoles. Assim, de acordo com a CEPAL:

19
CEPAL, op. cit., p. 100.
20
CEPAL. Panorama Social de América Latina – 2004. Santiago del Chile: CEPAL, 2005, p. 49. As cidades
com mais de 5 milhões de habitantes são: Cidade do México, São Paulo, Buenos Aires, Rio de Janeiro, Lima,
Bogotá e Santiago del Chile.

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la mayor parte de las metrópolis de 5 millones de habitantes o más experimentan
una sangría migratoria, con variaciones temporales y rasgos específicos según los
países. Los emigrantes de las grandes metrópolis se dirigen a ciudades con más
oportunidades de empleo y/o mejor calidad de vida, algunas de ellas ubicadas en su
entorno.21

Um exemplo disso é o reduzido crescimento das Regiões Metropolitanas no Brasil. De


acordo com dados censitários, entre 1940 e 1970, o crescimento médio das nove maiores regiões
metropolitanas do país foi de 4,54%, enquanto em 2000, foi de 1,75%.22
Enfim, na atualidade, a migração interna nos vários países da América Latina é
predominantemente de tipo inter-urbano. Além disso, cabe sinalizar o crescente fenômeno da
migração intrametropolitana, ou seja, no interior das mesmas áreas metropolitanas: essa
migração pode decorrer da busca de melhores localizações em relação ao lugar de trabalho ou de
estudo, bem como da procura de espaços economicamente mais baratos ou mais condizentes com
as próprias expectativas e desejos. Cabe, finalmente, lembrar da assim chamada
“rururbanización”, ou seja, da situação de pessoas que moram em áreas rurais próximas de
cidades onde, com freqüência, trabalham e/ou estudam.23

7. Feminização das migrações


Outra importante característica das migrações internacionais intra-latino-americanas é
representada pela assim chamada “feminização quantitativa” da migração que caracteriza a
região desde os anos 80. De acordo com dados da ONU, em 2005, 50,3% dos migrantes
residentes na região eram mulheres. Aprofundando mais o assunto, entre o total dos migrantes
internacionais que residem em América Latina e Caribe o índice de masculinidade (IM) é de
103,8 homens por cada 100 mulheres, enquanto entre os migrantes internacionais nascidos em
América Latina e Caribe o IM é de 96,3. Essa é uma tendência que já começou desde os anos 80
e responde a diferentes fatores, relacionados ao mercado de trabalho, à reunião familiar e a
fatores individuais. Trata-se, também, de uma tendência global, como mostra o Gráfico 7.

GRÁFICO 7
Porcentagem migração internacional feminina - 2005
(Fonte: ONU)

52,2 53,4
50,3 50,4 51,3
49,6
47,4
45,5 44,7

Mundo Países Países AL e C Europa América África Ásia Oceania


mais menos do Norte
desenv desen

21
Ibidem, p. 50.
22
As Regiões Metropolitanas pesquisadas são: Belém, Fortaleza, Recife, Salvador, Belo Horizonte, Rio de
Janeiro, São Paulo, Curitiba e Porto Alegre (cf. HAKKERT, Ralph; MARTINE, George. Tendências
Migratórias Recentes no Brasil: As evidências da PNAD de 2004. Taller Nacional sobre “Migración interna y
desarrollo en Brasil: diagnóstico, perspectivas y políticas”. Disponível em:
http://www.eclac.cl/celade/noticias/paginas/4/28454/RHakkert.pdf ).
23
CELADE. Migración interna y distribución espacial. Temas de población y desarrollo, n. 6, 2006, p. 3.

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Na América Latina e no Caribe a feminização quantitativa não é uma característica
uniforme da região, pois há algumas importantes exceções, como o caso do Brasil onde o
índice de masculinidade dos estrangeiros oriundos da região é de 119 homens por cada 100
mulheres. No entanto, em geral, a tendência regional é a predominância feminina na
Argentina (84 homens por cada 100 mulheres), República Bolivariana de Venezuela (93),
México (91), Guatemala (74), Chile (87). No Gráfico 8 pode-se conferir o número de
migrantes por sexo em alguns países da região ao redor do ano 2000.

GRÁFICO 8
População estrangeira nascida na AL e no Caribe por gênero (2000)
Total: 1.436 (H) 1.535 (M) - IM 93,5

Rep. Dominicana
Costa Rica
Guatemala
Venezuela
Paraguay
México
Equador
Chile
Brasil
Argentina

0 100 200 300 400 500 600

Homens Mulheres

A feminização não tem apenas uma conotação quantitativa. De acordo com Maria Nieves
Rico, da CEPAL,

Hasta no hace mucho tiempo una alta proporción de mujeres migraban en


calidad de acompañantes de los varones o acogidas a la figura de la
reunificación familiar, y un número significativo de mujeres latinoamericanas
directamente no migraba (ni sola ni acompañada), mientras sí lo hacían los
hombres. En cambio, en la actualidad son numerosas las mujeres que migran
solas, muchas veces después de difíciles negociaciones y decisiones dentro de
su grupo doméstico o familiar.24

Enfim, cresceu muito, nos últimos anos, o número de mulheres que se deslocam sozinhas,
embora com um projeto migratório de cunho familiar. Em geral, o objetivo continua sendo o
envio de remessas para as famílias e, com freqüência, para os filhos. 25 Esta realidade é muito
comum entre as mulheres que emigram fora da região, sobretudo para os EUA e para a União

24
RICO, Nieves María. Las mujeres latinoamericanas en la migración internacional. CEPAL, 2006, p. 2.
25
Em geral, estima-se que as mulheres enviam mais remessas que os homens. Conforme Villa, “su memoria es más
persistente que la de los hombres, ya que aportan responsablemente con recursos al hogar” (VILLA, Miguel. El
cambiante mapa migratorio de América Latina y Caribe (notas para una exposición). CEPAL, 2004., p. 11).

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Européia, mas é válida também em situações de migração intra-regional, como nos casos das
peruanas no Chile e das nicaragüenses na Costa Rica.
Consoante Maria Nieves Rico, são vários os móveis da migração dessas mulheres latino-
americanas, desde a busca por melhores condições de vida e oportunidades de trabalho, até as
migrações induzidas por conflitos armados, catástrofes naturais e deterioração do solo. Há
também um grande número de mulheres cujo deslocamento geográfico é provocado pelo
aliciamento de grupos organizados de cunho mafioso em vista da exploração sexual ou o trabalho
escravo.
Além disso, “hay que destacar que lo que fomenta la emigración es un imaginario presente
en los lugares de origen compuesto de sueños, de triunfos y de riesgos, así como mitos sobre
oportunidades que contrastan con su realidad cotidiana”26. Não há dúvida de que a migração
brote também do profundo gap entre realidade e o sonho, ou, melhor, entre a realidade vivida e a
realidade sonhada. A migração, para muitas mulheres, representa um possível caminho de
aproximação a essa realidade sonhada, a possibilidade de acesso a oportunidades que lhe são
totalmente negadas no lugar de residência. Não há dúvida de que a insatisfação com a própria
situação represente um importante fator de expulsão do continente.
Mas precisa destacar também que nem sempre a migração se torna uma oportunidade. O
risco do fracasso é sempre presente. Nesta perspectiva, cabe avaliar até que ponto o crescimento
das migrações de mulheres latino-americanas e caribenhas representa um instrumento de
emancipação e empoderamento das mesmas ou, então, uma ulterior forma de exploração e
submissão.
Neste âmbito, é fundamental fazer uma rápida referência às assim chamadas “remessas
sociais”. Nas últimas décadas, ao tratar o tema das migrações, tornou-se comum a questão das
“remessas econômicas”. Recentes dados do Banco Interamericano de Desenvolvimento
sustentam que, em 2006, os emigrantes latino-americanos e caribenhos enviaram para o próprio
país 62,3 bilhões de dólares, sendo que o México é o primeiro país do ranking, com 23 bilhões,
seguido pelo Brasil, com 7 bilhões, e a Colômbia com 4 bilhões.27
No entanto, além das remessas econômicas, devem ser levadas em conta também as assim
chamadas “remessas sociais”.

Las remesas sociales son las ideas, los comportamientos, las identidades, y el
capital social que fluye desde las comunidades de destino hacia las
comunidades de origen, y viceversa. Las ideologías de género sobre las normas,
los roles, y las relaciones de hombres y de mujeres, son remesas sociales
intangibles que acompañan flujos transnacionales de personas, dinero, y otros
objetos materiales. Estos flujos transforman las realidades en ambos lados,
creando nuevas versiones de lo que significa ser hombre o mujer, cómo se
negocian pautas en el hogar, quiénes pueden trabajar fuera de la casa, quiénes
deberían realizar las tareas domésticas, etc. 28

As remessas sociais são formas de intercâmbio axiológico e ideológico que, possivelmente,


contribuem nas modificações identitárias tanto das pessoas que emigram quanto daquelas que
ficam. Nos dias de hoje, o tema da remessas sociais é abordado a fim de avaliar seu potencial de

26
RICO, op. cit., p. 2-3.
27
Cf. “Imigrantes brasileiros enviam ao país US$ 7 bilhões”. Em: Folha On-line, 16.03.2007. Disponível em:
http://www1.folha.uol.com.br/folha/dinheiro/ult91u115260.shtml - Acesso: 15.04.2007.
28
RICO, op. cit., p. 8.

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transformação de determinados estereótipos de gênero, assim como aposta a ONU em relação à
realização dos Objetivos de Desenvolvimento do Milênio.29

8. Tráfico de pessoas
Uma rápida referência deve ser feita também à questão do tráfico de pessoas para fins de
exploração sexual e trabalho escravo. Recentes dados da IOM revelam que em América Latina e
Caribe, em 2006, o tráfico de pessoas para fins de exploração sexual fez cerca de 100 mil
vítimas. O tráfico de pessoas na região não se limita à exploração de mulheres, mas também de
crianças. Em alguns países é muito forte o assim chamado turismo sexual, organizado por
verdadeiras redes transnacionais que podem envolver - além dos aliciadores - agências de
viagem, donos de boates, albergues e motéis, taxistas, motoristas, guias turísticos, garçons,
funcionários de cartórios, entre outros. É uma verdadeira “rede criminosa” que lucra, direta ou
indiretamente, na exploração de mulheres e crianças.
Existem redes de tráficos em nível nacional, latino-americano e internacional. Para o nosso
trabalho, é importante sublinhar a existência de redes de tráfico de pessoas intra-latino-
americanas. No Brasil, por exemplo, sabe-se da existência de cerca de 240 rotas de tráfico que
utilizam o território brasileiro como espaço de origem, trânsito e destino. Segundo Cortés
Castellano,

de acuerdo con la OEA, existirían en América Latina y el Caribe más de dos


millones de niños y niñas explotados sexualmente. Además se ha observado un
número creciente de turistas del sexo que se dirigen a Centroamérica, como
consecuencia de las restricciones existentes contra el turismo sexual en Tailandia y
otros países asiáticos. Existirían también actividades de trata de adolescentes
(mujeres y hombres) desde Colombia, República Dominicana y Filipinas a Costa
Rica para la prostitución en lugares conocidos como destinos del turismo del sexo.
Argentina parece ser también uno de los destinos favoritos de pederastas turistas
del sexo provenientes de Europa y los Estados Unidos. En México, adolescentes de
16 y 17 años procedentes de América Central son traficados a Chiapas para la
prostitución. Niños y adolescentes indígenas serían traficados a Venezuela y
Uruguay, donde trabajarían prácticamente en condiciones de esclavitud como
vendedores callejeros, trabajadores domésticos y en la prostitución.30

O tráfico de pessoas em América Latina e Caribe se insere no interior de um fenômeno


planetário que, de acordo com a OIT, gera lucros por US$ 32 bilhões. É fundamental que o
tráfico de pessoas seja enfrentado atingindo as causas profundas que tornam a pessoa vulnerável
à ação dos aliciadores e que alimentam a procura por corpos de mulheres e crianças. Ao mesmo
tempo, é fundamental uma ampla ação que abranja os diferentes âmbitos envolvidos, como o
educativo, assistencial, jurídico/legislativo (com a ratifica e implementação do Protocolo de
Palermo 31) e policial. De forma específica, diante da formação de “redes criminosas”, é
importante criar, em nível local e nacional, “redes solidárias de proteção” da população
vulnerável – sobretudo mulheres e crianças - e de toda vítimas do tráfico, com a colaboração e
parceria de todas as instituições e organismos governamentais e não-governamentais, nacionais e
internacionais, sensíveis e engajados na erradicação do tráfico.

29
Cf. IOM. The Millennium Development Goals and Migration. Geneva: IOM, 2005, p. 18-20.
30
CORTÉS CASTELLANOS, Patricia. Mujeres migrantes de América Latina y el Caribe: derechos humanos,
mitos y duras realidades. Santiago de Chile: CEPAL, 2005, p. 64.
31
“Protocolo Adicional da Convenção das Nações Unidas contra a criminalidade organizada transnacional para
Prevenir, Suprimir e Punir o Tráfico de Pessoas especialmente mulheres e crianças”, 12-15 de dezembro de
2000.

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9. Políticas migratórias
No que tange às políticas migratórias, nos últimos anos a região registrou uma acentuada
preocupação com a integração econômico-comercial, que confluiu na criação do MERCOSUL, a
Comunidade Andina de Nações (CAN) e o CORICOM. Esta preocupação em integrar os
mercados, no entanto, não foi acompanhada pela busca de uma mais fácil circulação dos
trabalhadores e, mais em geral, das pessoas.
Lelio Mármora, num trabalho sobre políticas migratórias em América Latina, mostra como
mudou a percepção das migrações na região. Segundo o pesquisador argentino, o fenômeno
migratório historicamente não despertou muito interesse entre os países da região, pois era
interpretado, principalmente, como “válvula de escape” ou como “deserción”. No entanto, nas
últimas décadas, ocorreram importantes mudanças provocadas por “un reconociemento y
revalorización” dos migrantes.32 Percebeu-se, sobretudo, a importância dos emigrantes, por
questões políticas – suas influências nos processos eleitorais –, econômicas – sobretudo em
relação às remessas – e culturais – principalmente para a integração da região.
Mudanças ocorreram também no que se refere à percepção dos imigrantes. Neste caso, a
passagem foi diferente. Como diz Mármora, “Así como en otras regiones del mundo, en las
últimas décadas la inmigración ha dejado de ser en el imaginario colectivo un sinónimo de
‘aporte al desarrollo’ para pasar a la categoría de ‘problema social’”33.
As mudanças de percepção acarretaram também mudanças nas políticas migratórias. Em
geral, no que se refere à emigração, cresceu a preocupação dos governos com seus patrícios no
exterior, inclusive quanto à defesa de seus direitos humanos, geralmente com aperfeiçoamento
dos trabalhos das redes consulares.
Já, no que se refere às políticas imigratórias, em geral, diz Mármora, “parecerían cabalgar
entre el mantenimiento de las ya tradicionales políticas restrictivas y la búsqueda de nuevos
espacios y alternativas”.34 Tradicionalmente, as restrições tinham uma fundamentação cultural
(proteção da identidade nacional), ideológica (proteção de ideologias contrárias) e econômico
(proteção dos mercados internos e da ocupação dos nativos). Na época da “segurança nacional”,
freqüentemente, “rebelde” e “estrangeiro” eram quase sinônimos. Durante os anos 80, a assim
chamada década perdida, volta novamente a motivação econômica a fim de justificar as
restrições das políticas imigratórias. Agora, além de proteger a mão-de-obra nacional começa-se
a falar também da proteção do sistema sanitário e educativo, bem como de problemas de
seguridade relacionados ao narcotráfico e ao terrorismo internacional.
Consoante Mármora, no decorrer da última década aconteceram várias tentativas de
regulamentar de forma bi ou multilateral a questão migratória. Não há dúvida que se aprimorou a
busca por diálogos e consensos em relação ao tema migratória, bem como a consciência em
relação à necessidade de tutelar os direitos dos migrantes. Por outro lado, o pesquisador argentino
reconhece que tanto as políticas migratórias unilaterais, quanto aquelas multi e bilaterais

pueden encontrarse con trabas y barreras en el camino que va del acuerdo a la


aplicación de la norma. Con frecuencia el acuerdo es neutralizado por la
reglamentación la cual es, a su vez, limitada por las normas internas nacionales que,
a su vez, pueden estar condicionadas por presiones políticas e económicas. Por otro
lado, la aplicación de la norma pierde muchas veces su sentido, ya sea por la
corrupción administrativa y/o el prejuicio al migrante como sujeto de todos los
derechos humanos.35

32
MÁRMORA, op. cit., p. 35.
33
Ibidem, p. 36.
34
Ibidem, p. 38.
35
Ibidem, p. 42.

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Finalmente, não pode ser esquecida a contribuição da sociedade civil, tanto no que diz
respeito ao apoio quanto à rejeição dos migrantes. Nos últimos anos, incentivados por grupos
políticos ou interesses econômicos, cresceram episódios de xenofobia, sobretudo nos países com
maiores índices imigratórios, como República Bolivariana da Venezuela, Argentina, Costa Rica e
República Dominicana.
Por outro lado, não pode ser esquecida a atuação favorável aos direitos dos migrantes
exercida por igrejas e suas pastorais, organizações não-governamentais, universidades e centros
de estudos migratórios. A sociedade civil contribui tanto de forma emergencial, assistindo os
migrantes em situação de vulnerabilidade, quanto de forma mais estrutural, promovendo o
aprofundamento analítico do fenômeno migratório e incentivando os debates acerca das políticas
públicas necessárias para a promoção plena dos direitos dos migrantes.

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