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Autores
Aldo Dantas
aula
15
Governo Federal
Presidente da República
Luiz Inácio Lula da Silva
Ministro da Educação
Fernando Haddad
Secretário de Educação a Distância – SEED
Carlos Eduardo Bielschowsky
Dantas, Aldo.
Introdução à ciência geográfica: geografia / Aldo Dantas, Tásia Hortêncio de Lima Medeiros. –
Natal, RN : EDUFRN, 2008.
176 p.
CDD 910
RN/UF/BCZM 2008/35 CDU 918.1
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UFRN - Universidade Federal do Rio Grande do Norte e da UEPB - Universidade Estadual da Paraíba.
É por demais sabido que a principal forma de relação entre o homem
e a natureza, ou melhor, entre o homem e o meio, é dada pela técnica.
As técnicas são um conjunto de meios instrumentais e sociais, com
os quais o homem realiza sua vida, produz e, ao mesmo tempo, cria
espaço. (SANTOS, 2006).
Apresentação
A
Geografia é ainda, frequentemente, considerada por muitos políticos, administradores,
especialistas de outras áreas e, infelizmente, por um grande número de geógrafos,
como uma disciplina que se preocupa apenas com localizações. Entretanto, essa
concepção da Geografia, aceita durante muito tempo, mostra-se limitante do rol de relações
que se dão entre o homem e o meio e, por essa razão, revela-se insuficiente. É, sem duvida,
Milton Santos o geógrafo brasileiro que mais vai se preocupar com essa questão e trazer
efetivamente contribuições fecundas para que isso se revertesse. Para ele, isso deveria
passar por uma questão fundamental: o objeto da Geografia – o espaço geográfico, sinônimo
de território usado. Veremos nesta aula a trajetória intelectual desse grande mestre, assim
como o seu esforço em dotar a Geografia de conceitos e categorias de análise para tirá-la da
situação de uma disciplina meramente descritiva e levá-la à condição de teoria geográfica da
sociedade. Ele o faz através da técnica, ou melhor, de uma filosofia da técnica.
Objetivos
Perceber o entrecruzamento entre a vida pessoal e a
1 formação intelectual de um pensador: Milton Santos.
M
ilton Almeida dos Santos nasceu no dia três de maio de 1926 na cidade de Brotas
de Macaúbas, localizada na Chapada Diamantina, no estado da Bahia. Esta foi a
primeira paragem de seus país como professores primário da rede estadual de
ensino. Em seguida, a família Santos foi para a cidade de Ubaitaba, onde ficou por alguns
anos e depois para Alcobaça, no litoral Sul da Bahia. O pequeno Milton recebeu seus primeiros
ensinamentos com os próprios pais. Mesmo indo à escola regular, continuava estudando
em casa e tendo aulas de álgebra, francês e boas maneiras.
Em 1936, aos 10 anos, foi para Salvador como aluno interno do Instituto Baiano
de Ensino. Sua família, mesmo tendo morado sempre em cidades pequenas do interior da
Bahia, preparou-o sempre para ser um cidadão soteropolitano.
A cidade civilizada por excelência, com suas escolas universitárias de alto padrão,
onde se podia alcançar os patamares que haviam alcançado André Rebouças (1838-1898)
e Teodoro Sampaio (1855-1937), que se destacaram nacionalmente como modelos de
ascensão intelectual, valorizados pelos baianos de origem africana. Aliás, seus próprios pais
e avós haviam dado os primeiros passos nessa direção, para a qual foi destinado Milton,
ainda mais que eles.
Milton iniciou seu “primeiro exílio” em Salvador, já que sua família permaneceu em
Alcobaça, como aluno interno do Instituto Baiano de Ensino, aos 10 nos de idade (1936),
tendo ali residido até 1946, quando já era aluno da Faculdade de Direito. Realizou seu curso
ginasial de 1937 a 1941, o pré-jurídico de 1942 a 1943 e o curso de Direito de 1944 a 1948.
Pagava o internato onde moraria por uma década com o dinheiro que recebia
lecionando Geografia na própria escola. Milton atuou no jornalismo estudantil e foi um
dos criadores da Associação de Estudantes Secundaristas Brasileiros. Seus colegas se
opuseram à candidatura de um negro para presidente – alegaram a dificuldade para discutir
com autoridades. Milton era ótimo aluno em Matemática e queria seguir engenharia, mas
acreditava-se que a Escola Politécnica não aceitaria negros com facilidade. Como um tio seu
era advogado, foi aconselhado a estudar Direito. Formou-se na Universidade da Bahia, em
1948, mas nunca exerceu a profissão. Dedicou-se à Geografia, que ensinava desde os quinze
anos. Nessa época, também foi fundamental o contato com o livro Geografia Humana, de
Em 1948, Milton Santos publicou seu primeiro livro: O povoamento da Bahia. Prestou
concurso público para professor secundário e foi lecionar em Ilhéus. Nesse período, conheceu
livros e revistas de Geografia, alguns da Associação Brasileira de Geógrafos (AGB), então
concentrada no eixo Rio-São Paulo. Milton resolveu participar de uma reunião da AGB, que
acontecia em Uberlândia (MG), para perplexidade dos não mais de 30 profissionais reunidos.
Nessa ocasião, conheceu Aziz Ab’Sáber, de quem se tornaria amigo. Ab’Sáber recorda-se
que Milton insistia em discussões teóricas entre determinismo e possibilismo enquanto
problemas analíticos estavam em pauta.
Milton Santos combinava a seu rigor acadêmico outras virtudes, como a habilidade
política, que o levou a ocupar cargos políticos de destaque, e a produção de textos para a
imprensa, tornando-se colaborador de jornais na década de 1950 (A Tarde, de Salvador) e
na década de 1990 (Folha de São Paulo). Suas idéias contundentes despertaram os críticos.
Seu estilo causou-lhe problemas, como a prisão por três meses em 1964, durante o regime
militar. Ao sair da prisão, ganhou o mundo.
Primeiro, para a França, depois para outros países da África, da América do Norte
e da América Latina, para fazer pesquisas e ensinar. Deu aulas nas Universidades de
Toulouse, Bordeaux e Paris. Na América do Norte, lecionou nas Universidades de Toronto e
de Massachusetts e na Universidade Columbia, em Nova York. Na América Latina, passou
algum tempo no Peru, Universidade Politécnica de Lima; na Venezuela, Universidade Central
de Caracas; e na África, lecionou na Tanzânia, Universidade de Dar-es-Salaam.
É também nesta época que publica na França (1975) um de seus mais importantes
livros, L’espace partagé, publicado no Brasil, em 1978, com o título de O espaço Dividido –
recentemente reeditado pela Editora da Universidade de São Paulo, EDUSP. Essa publicação
foi fruto de 8 anos de preparação, pois entre 1972 e 1973 já havia publicado artigos sobre o
tema desenvolvido no livro. O livro foi publicado depois em português e em inglês.
Esse livro é o exemplo maior e mais significativo sobre as suas formulações dos aspectos
e faces da desigualdade no Terceiro Mundo e os impactos e repercussão sobre o território. É
nele que desenvolve uma teoria sobre o espaço geográfico urbano e o subdesenvolvimento,
tendo a interdisciplinaridade como leme. A obra se divide em quatro partes. A primeira
introduz a questão dos dois circuitos da economia urbana dos países subdesenvolvidos.
O circuito inferior: constituído de negócios de baixa intensidade de capital, pelos serviços
não-modernos e fornecidos a varejo e pelo comércio não-moderno de pequena dimensão. A
segunda parte é sobre o circuito superior: constituídos pelas atividades de grande intensidade
de capital e pela produção moderna. A terceira trata especificamente do circuito inferior. E a
quarta parte é sobre o espaço dividido, discutindo os dois tipos de industrialização e os dois
subsistemas urbanos. Sua tese é contrária ao conceito de setor informal.
Em 1977, edita dois números da famosa Revista americana Antipode, nesse momento
incorpora às suas análises a categoria marxista de formação social, que se desdobrará
posteriormente em formação sócio-espacial.
Naquele ano de 1978, foi publicado um de seus mais importantes livros, Por uma
geografia nova, composto de 18 capítulos, divididos em três partes – também com recente
reedição da EDUSP –, que se tornou um marco na Geografia brasileira. Na primeira parte,
“Critica da geografia”, faz uma revisão crítica da Geografia clássica, da New Geography e
da Geografia da percepção, concluindo com um texto sobre a Geografia como “viúva do
espaço”, metáfora que usa para indicar o abandono do espaço pelos geógrafos dessas
correntes. Na segunda parte, Geografia, sociedade, espaço, afirma que o objeto da Geografia
é o espaço social e o define. Na terceira parte, Por uma geografia crítica, menciona as noções
de universalização perversa; de totalidade; de formação social; de espaço visto como uma
acumulação desigual de tempo; e de tempo.
Em 1994, é publicado o livro Técnica, espaço, tempo, com cinco partes e quinze
capítulos, o livro discute, principalmente, os pares “globalização – fragmentação” e “sistemas
de objetos – sistema de ações”, além de trazer uma noção bastante interessante, aquela
de “tempo lento”, que seria o tempo dos socialmente mais fracos. O livro traz ainda duas
entrevistas com o autor.
Em 1996, publica a obra que vai coroar o seu pensamento teórico, A Natureza do
Espaço: técnica, razão e emoção. Reforça nessa obra sua epistemologia do espaço e contribui
definitivamente para a teoria social. Em 1997, o texto recebe o Prêmio Jabuti, como melhor
livro do ano em ciências humanas.
Em 2000, foi publicado o livro Por uma outra Globalização, em que disserta sobre
os pilares da globalização, suas conseqüências territoriais e sociais. É um livro manifesto
composto de seis partes, que começa tratando a globalização como uma fábula (fantasia),
como perversidade e indica a possibilidade de uma outra globalização. Concebe a globalização
a partir das condições da unicidade técnica atual; a perversidade da globalização é analisada a
partir da maneira como se oferta a informação e do despotismo do consumo. Milton propõe
a noção de “globalitarismo”, analisa ainda o território do dinheiro e sua fragmentação e o que
chama de esquizofrenia do espaço; os limites da globalização e a possibilidade de reversão
da globalização perversa.
Em 2001, com a publicação de seu último trabalho, em conjunto com Maria Laura da
Silveira, deixa explícito o seu esforço para compreensão do território brasileiro, além de nos
brindar com um excelente guia de trabalho. Nessa publicação, busca aplicar as categorias
teóricas elaboradas em outros livros.
Sobre o método
Uma das propostas metodológicas de Milton Santos é aquela em que se privilegia
os fixos e os fluxos. Os fixos (casa, porto, armazém, plantação, fábrica) emitem fluxos ou
recebem fluxos que são os movimentos entre os fixos. As relações sociais comandam os
fluxos que precisam dos fixos para se realizar. Os fixos são modificados pelos fluxos, mas
os fluxos também se modificam ao encontro dos fixos. Então, ao considerarmos que o
espaço é formado de fixos e de fluxos, esse seria um princípio fundamental do método
para analisar o espaço e podemos acoplar a essa idéia a idéia de tempo. Os fluxos não têm
a mesma rapidez, a mesma velocidade. As coisas que fluem e que são materiais (produtos,
mercadorias, mensagens materializadas) e não materiais (idéias, ordens, mensagens não
materiais) não têm a mesma velocidade. A velocidade de uma carta não é a de um telegrama,
de um sedex, de um e-mail. Os homens não percorrem as distâncias no mesmo tempo, há
alguns que percorrem uma distância x ou y em tempo muitas vezes maior devido à falta de
meios para fazê-lo diferentemente. Perceba que isso também constrói diferenças entre eles.
Sobre globalização
A globalização, segundo concepção de Milton, poderia ser entendida como o período
histórico no qual a ciência, a técnica e a informação comandam a produção e o uso dos objetos,
ao mesmo tempo em que impregna as ações e determinam as normas. Como evidências
dessas transformações atuais, temos o progresso das telecomunicações e dos transportes,
a agricultura moderna desenvolvida em áreas antes periféricas, as novas áreas industriais, o
papel das finanças, a informação que se irradia no território, os novos consumos (incluindo a
educação, a saúde, as viagens, a política), as regulações públicas e privadas e tantos outros
trações definidores da época atual. E uma das principais manifestações, dessa nossa época
é, sem dúvida, a descoberta de novas velocidades, de uma aceleração antes nunca vista, o
que concede às coisas e às pessoas grande fluidez.
Geografia
Desse modo, pode-se considerar que cidades globais são aquelas que dispõem dos
instrumentos de comando da economia e da sociedade em escala mundial, seja na condição
de pólo, seja na condição de relé da influência das grandes metrópoles globais. Mas o exercício
da ação hegemônica sobre a face da Terra não é um dado exclusivo das metrópoles de primeira
ordem; sem as outras cidades, a economia global não se realiza (SANTOS, 2002, p.81-83).
SOUZA, Maira Adélia A. de. Território Brasileiro: usos e abusos. Campinas: Edições
Territoriais, 2003.
Resumo
A aula aborda a trajetória pessoal e intelectual do mais reconhecido geógrafo
brasileiro: Milton Santos. Faz-se primeiramente uma abordagem biográfica do
autor e em seguida discute-se a sua produção intelectual e as suas formulações
teórico-metodológicas.
Referências
BRANDÃO, Maria A. Milton Santos e o Brasil. São Paulo: Editora da Fundação Perseu
Abramo, 2004.
SANTOS, Milton. Território e Sociedade: entrevista com Milton Santos. São Paulo: Editora
Fundação Perseu Abramo, 2000a.
SANTOS, Milton. Por uma outra globalização: do pensamento único à consciência universal.
Rio de Janeiro: RECORD, 2000b.
Ementa
A construção do conhecimento geográfico. A institucionalização da geografia como ciência. As escolas do
pensamento geográfico. A relação sociedade/natureza na ciência geográfica. O pensamento geográfico e seu
reflexo no ensino. A geografia brasileira. Atividades práticas voltadas para a aplicação no ensino.
Autores
n Aldo Dantas
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