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Observações sobre Taylorismo, Fordismo e Toyotismo: Dos

Estados Unidos Para o Mundo

Resumo

Esse artigo consistiu em uma revisão histórico-bibliográfica a respeito do


fordismo-taylorismo e as duas linhas de interpretação desse método de gestão. O
método histórico-bibliográfico foi o método utilizado. Ao rever a bibliografia, após
conceituar o fordismo e o sistema Taylor, a principal questão foi a teoria de que esse
método de gestão é produz uma hegemonia social capitalista fora da fábrica. Foi
comentado o texto Americanismo e Fordismo de Gramsci e as considerações a
respeito do fordismo que ele faz: o fordismo seria um estilo de vida, uma forma de
viver espec.Ao mesmo tempo, ele seria a forma de organização mais avançada do
período histórico do capitalismo em que ele está inserido, argumento principal da outra
vertente, a que aceitou o fordismo como conquista científica, aplicação da razão á
produção através do estudo dos movimentos. A outra vertente, tendo como expoente
principal o líder russo Lênin, investigaria o fordismo como ligado ao sistema Taylor e a
pensaria como método científico.São também analisadas hipóteses a respeito do
sistema Taylor e do toyotismo como desdobramentos do fordismo. No caso do sistema
Taylor, sua ligação ao fordismo é mais consensual, enquanto que o toyotismo provoca
também o debate sobre se ele é ligado à cultura japonesa, se seria um japonismo ou
se seria aplicável a todas a sociedades, tempos e realidades. Não se aventou a
hipótese de superação do fordismo pelo toyotismo e nem a teoria de que o fordismo
minou a sociedade soviética por introduzir a exploração. Igualmente, foi analisada a
versão do fordismo na URSS. O fato é que há elementos do toyotismo que hoje são
universais, um exemplo é a terceirização, hoje bastante disseminada mesmo no
Ocidente. Para Gramsci, o fordismo seria uma forma quase diabólica de explorar o
corpo do operário. Em si, seria ligado ao capitalismo.
Palavras-chave: Taylorismo, fordismo, toyotismo, gestão, americanismo

Mariana Santos

1.Introdução

A indústria é uma criação relativamente recente na história da humanidade.


A organização pensada por Taylor gerou um fato histórico que ainda não
existia na História, pois a partir daí, o homem que trabalha passou a ser uma
massa de trabalhadores. Depois de Taylor, tivemos as ideias a respeito de
gestão materializadas nas ideias de Henry Ford, conforme exemplificadas no
filme Tempos Modernos, de Charles Chaplin. A gestão taylorista e,
posteriormente, fordista implica em uma divisão do trabalho (cada trabalhador
1
faz apenas uma parte do trabalho, não conhece o todo), uma jornada de
trabalho exaustiva e, finalmente, uma separação entre o produto final e a
identidade do trabalhador. Os artesãos da Idade Média dominavam todas as
fases da produção de seus produtos (obtenção de matéria-prima, elaboração
do produto, venda para os consumidores).

A partir do Renascimento e, principalmente, a partir das revoluções


industriais, tanto a do século XVIII quanto a do final do século XIX, os produtos
industriais deixam mais e mais de serem produzidos por mãos humanas,
deixam de ter as mãos humanas e passam ser produzidas em série. Essa
produção em série obscurece o aspecto propriamente artesanal desses
produtos. Passa a existir a produção em massa graças à indústria. A alienação
cresce, pois os operários passam a desconhecer totalmente ou quase que
totalmente o processo dos produtos que eles produzem. Isso tem grande
impacto social. No século XX, outros processos passam a ser pensados novos
temas e novas problemáticas em face desse contexto, tais como a gestão
ambiental, bem como a responsabilidade social das empresas. O Brasil passa
a ser fortemente desafiado, enquanto nação, a pensar esses problemas atuais,
bem como questões de ordem estrutural e também conjuntural. A mudança
empresarial implica em mudanças de tecnologias, processos e
comportamentos.

2.Fordismo, taylorismo, toyotismo

O fordismo seria um modelo de produção que pode ser analisado também


como um método de gestão. Ele nasce na América do Norte e é adotado no
mundo todo, inclusive na então União Soviética (HARVEY, 1992, p. 124). Em
primeiro lugar, como iremos utilizar o conceito, devemos definir o que estamos
chamando de conceito:

Taylorismo caracteriza-se como uma forma avançada de


controle do capital (com o objetivo de elevar a produtividade do
trabalho) sobre processos de trabalho nos quais o capital
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dependia da habilidade do trabalhador... De que forma?
Através do controle de todos os tempos e movimentos do
trabalhador; ou seja, do controle de todos os passos do
trabalho vivo. Estamos bastante distantes da forma descrita por
Marx do ajustamento da base técnica às determinações do
capital: num momento mais avançado do desenvolvimento do
capitalismo, à questão historicamente recolocada de sua
dependência frente ao trabalho vivo, o capital reage de uma
forma diferente: ao invés de subordinar o trabalho vivo através
do trabalho morto, pelo lado dos elementos objetivos do
processo de trabalho, o capital lança-se para dominar o
elemento subjetivo em si mesmo. Esta 'façanha' do capital
significa, em uma palavra, a busca da transformação do
homem em máquina(MORAES NETO, 1989, p. 34).

Se para o autor acima, o taylorismo seria uma forma de gestão do capital, o


fordismo seria um passado adiante: um americanismo, uma transferência do
modelo de gestão para o âmbito social. A esteira é o diferencial entre um e
outro. A produção deveria aumentar, para Taylor, no âmbito individual, já o
fordismo incide sobre o aspecto coletivo. Na linha de montagem, a máquina
passou a ser o próprio trabalhador. A linha de montagem fordista aumenta
muito as possibilidades de produtividade da manufatura.

Pode-se aventar a hipótese, inclusive, de que não se trata somente de um


novo modelo de gestão inventando por Henry Ford, mas também de um
modelo que exige do trabalhador a sua reinvenção (HARVEY, 1992, p. 124).

O fordismo consiste na organização do trabalho sob a forma de esteiras de


produção de massa. O taylorismo seria a definição dos tempos e funções no
movimento de trabalho. Para Gramsci, essa divisão aboliria o que existia de
integração entre trabalho manual e intelectual até essa época da indústria. Sem
compreender a totalidade do processo, pode-se supor que o trabalhador não
compreenderia, então, o todo dos processos sociais e o objetivo desse método
seria justamente esse. A educação da empresa seria a educação do corpo do
trabalhador para realizar apenas processos mecânicos e repetitivos.

O aspecto propriamente científico do método fordista, bem como sua


possível adaptação a uma sociedade socialista como a soviética, diretamente
expresso por Lênin, não parece ser plausível diante das considerações de
Gramsci.
3
O toyotismo ou ohnoísmo é visto como uma superação do fordismo pela
microeletrônica, ora como uma radicalização desses processos. Como explica
Moraes Neto:

A nova automação, de base microeletrônica, 'explode' a


forma taylorista-fordista de produção, não genérica, mas
localizada principalmente na grande indústria metal-mecânica
(...). Essa nova automação significa uma abrupta, concentrada
no tempo, recuperação do capital de seu brilhantismo quanto
ao desenvolvimento das forças produtivas. (...) a 'explosão' da
grande indústria taylor-fordista(...) significa o renascimento da
análise marxista. Isto porque chegaremos, de forma genérica,
homogênea a toda atividade industrial, a um elevadíssimo grau
de cientificização dos processos produtivos. A produção será,
então, em todas as esferas da indústria, uma 'aplicação
tecnológica da ciência', exatamente como afirmara Marx. Isto
implica na volta triunfal da questão crucial para Marx da
contradição entre forças produtivas e relações de produção,
posta pelo desenvolvimento do modo de produção capitalista.
(MORAES NETO, 2000, p. 11)8

O fordismo beneficiou-se da existência de uma ética protestante voltada


para o trabalho, tal como demonstrou Max Weber em sua obra clássica, a Ética
Protestante e o Espírito do Capitalismo.Essa dificuldade também se aplica ao
Brasil, país onde o estado, até 1830, esteve ligado à Igreja Católica. Na
Europa, pode-se dizer que o fordismo somente adaptou-se nos anos 50. No
Brasil, a hipótese se aplica aos anos 60 e 70. Uma economia rural como a
brasileira antes disso era um obstáculo, como também o foi na Europa. Como
explicou Gramsci:

A inexistência destas sedimentações, viscosamente


parasitárias, deixadas pelas fases históricas passadas, permitiu
uma base sã à indústria, e especialmente ao comércio, e
permite cada vez mais a redução da função econômica,
representada pelos transportes e pelo comércio, a uma real
atividade subalterna da produção. E tornou mesmo possível a
tentativa de absorver estas atividades na própria atividade
produtiva. Recordar as experiências de Ford e as poupanças
feitas pela sua empresa com a gestão direta do transporte e do
comércio das mercadorias produzidas, poupanças que
influíram sobre os custos de produção, permitiram melhores
salários, e menores preços de venda. Uma vez que existiam
estas condições preliminares, já racionalizadas pelo
4
desenvolvimento histórico, foi relativamente fácil racionalizar a
produção e o trabalho, combinando habilmente a força
(destruição do sindicalismo operário com base territorial) com a
persuasão (altos salários, benefícios sociais diversos,
propaganda ideológica e política habilidosíssima), e
conseguindo deslocar, sobre o eixo da produção, toda a vida
do país. A hegemonia nasce da fábrica e não tem necessidade,
para se exercer, senão de uma quantidade mínima de
intermediários profissionais da política e da ideologia
(GRAMSCI, 1976, p. 295)

Sendo assim, seria a influência da América do Norte no Brasil e na


Europa o que facilitaria esse modelo de gestão. Pode-se dizer que a hipótese é
que o fordismo é mais do que um modelo de gestão, ele depende de uma
mentalidade social. A partir de uma determinada mentalidade na fábrica, será
possível ou não aplicar esse modelo de gestão. Esse modelo dependeria de
uma forma de vida.

O curioso é que Gramsci não parece debater mais diretamente a


posição de Lênin a respeito do assunto que ele aborda, o fordismo. Ford
chegou a viajar á URSS para supervisionar uma empresa em Novrogod. Lênin
disse o seguinte:

O grande capital criou sistemas de organização do


trabalho que, nas condições de exploração maciça da
população, eram a pior forma através da qual uma minoria de
classes proprietárias submetiam os trabalhadores e tiravam
deles vantagens do seu trabalho, da sua força, sangue e
nervos; mas, ao mesmo tempo, esses sistemas são a última
palavra da organização científica da produção e que devem ser
adotados e transformados pela República socialista soviética
de modo a realizar, de um lado, nosso controle da produção e,
de outro, a elevar a produtividade do trabalho (LÊNIN, 1976b:
278-279).

Lênin, ao contrário de Gramsci, parece identificar um núcleo científico no


fordismo, a forma científica de gestão e de organização da empresa. A
participação dos trabalhadores, organizados em sindicatos, possivelmente
seria um fator a mais a amenizar a exploração. Esse núcleo científico
possibilita sua aplicação para além da cultura norte-americana onde
5
originalmente apareceu, indo, aliás, para além da ideologia da empresa ser
socialista e não capitalista. Lênin prosseguiu, a respeito disso:

Por exemplo, o famoso sistema Taylor, difundido na América e


famoso precisamente porque é a última palavra de uma
exploração capitalista inescrupulosa [...]. Mas, ao mesmo
tempo, não devemos esquecer por um só minuto que o sistema
Taylor representa um imenso progresso da ciência, que analisa
sistematicamente o processo de produção e abre a via para um
enorme crescimento da produtividade do trabalho humano
(LÊNIN, 1976b: 278)

Para Lênin, o sistema taylorista poderia ser despido de seus aspectos


negativos e aprimorado com os positivos: as técnicas tayloristas possibilitariam
a diminuição da jornada para seis horas, bem como seriam contrabalançados
com o controle operário das empresas.

O fato é que Ford vai além dos Estados Unidos: tanto que inaugurou
uma fábrica de automóveis em 1929, na União Soviética de Stálin, país com o
qual os Estados Unidos ainda não tinham relações diplomáticas. Como explica
o site sobre História:

A União Soviética, que em 1928 tinha apenas 20.000


carros e uma única fábrica de caminhões, estava ansiosa para
se juntar às fileiras da produção automotiva, e a Ford, com seu
foco nos métodos de engenharia e fabricação, era uma escolha
natural para ajudar. O sempre independente Henry Ford era
fortemente a favor de sua empresa de livre mercado negociar
com países comunistas. Um artigo publicado em maio de 1929
no The New York Times citou a Ford dizendo que "não importa
onde os profissionais prosperem, seja na Índia, na China ou na
Rússia, todo o mundo provavelmente obterá algum benefício"
(EDITORS, 2020, P. 1).

Assinado em Dearborn, Michigan, em 31 de maio de 1929, o contrato


estipulava que a Ford supervisionaria a construção de uma planta de produção
em Nizhny Novgorod, localizada às margens do rio Volga, para fabricar carros
Modelo A. Uma fábrica de montagem também começaria a operar
imediatamente dentro dos limites da cidade de Moscou. Em troca, a URSS
6
concordou em comprar 72.000 carros e caminhões Ford desmontados e todas
as peças de reposição a serem necessárias nos nove anos seguintes,
totalizando cerca de US $ 30 milhões em produtos Ford. Valery Meshlauk, vice-
presidente do Conselho Supremo de Economia Nacional, assinou o acordo de
Dearborn em nome dos soviéticos. Para cumprir seu lado do acordo, a Ford
enviou engenheiros e executivos à União Soviética.

Como Douglas Brinkley escreve em “Wheels for the World”, seu livro
sobre Henry Ford e Ford Motor, a montadora estava firme em sua crença de
que a introdução do capitalismo era a melhor maneira de minar o comunismo.
De qualquer forma, a assistência da Ford no estabelecimento de instalações de
produção de veículos a motor na URSS impactaria bastante o curso dos
eventos mundiais, pois a capacidade de produzir esses veículos ajudou os
soviéticos a derrotar a Alemanha na Frente Oriental durante a Segunda Guerra
Mundial. Em 1944, de acordo com Brinkley, Stalin escreveu para a Câmara de
Comércio dos EUA, chamando Henry Ford de "um dos maiores industriais do
mundo" e expressando a esperança de que "que Deus o preserve".

3.Modelo fordista: científico ou cultural?

O modelo de gestão fordista está interligado a uma forma de


organização social, não depende só da aplicação do modelo no local de
trabalho. Não pode ser aplicado através da coerção, portanto, e sim do
consenso.

Um elemento importante na gestão fordista é em que medida o


trabalhador entende sua identidade a partir do trabalho. Além disso, ele
enquanto indivíduo deveria ser bastante ciente daquilo que ele é capaz tanto
física quanto mentalmente. O Brasil, em contraponto, tem uma cultura da
malandragem que facilita a ideia de que o trabalhador é quem ele é, realmente,
quando está fora do trabalho. E também tem uma cultura do ócio, da preguiça,
do dinheiro sem trabalho. Como explicou David Harvey:

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A socialização do trabalhador nas condições de produção capitalista
envolve o controle social bem amplo das capacidades físicas e
mentais. A educação, o treinamento, a persuasão, a mobilização de
certos sentimentos sociais (a ética do trabalho, a lealdade aos
companheiros, o orgulho local ou nacional) e propensões
psicológicas (a busca da identidade através do trabalho, a iniciativa
individual ou a solidariedade social) desempenham um papel e estão
claramente presentes na formação de ideologias dominantes
cultivadas pelos meios de comunicação de massa, pelas instituições
religiosas e educacionais, pelos vários setores do aparelho do
Estado, e afirmadas pela simples articulação de sua experiência por
parte dos que fazem o trabalho (HARVEY, 1992, p.119)

Uma articulação interessante e que deve ser analisada é aquela que


existe entre as práticas reformistas ligadas ao economista John Maynard
Keynes e ao modelo de gestão fordista. O modelo de gestão fordista articulou-
se e não apresentou contradições em relação às práticas keynesianas, práticas
essas hegemônicas entre 1945 e 1973 no mundo ocidental. O modelo norte-
americano universalizou-se para todo o mundo sob a influência norte-
americana durante a Guerra Fria e, podemos dizer, foi levado até a URSS
ainda no tempo de Lênin. Explicou a respeito disso, explicou Glauco Arbix:

Embora as concepções técnicas e organizacionais das


montadoras tivessem sido marcadaspelo fordismo clássico —
voltadas, dessa forma, para a produção em massa e para a
otimização dos resultados produtivos —, as características do
sistema político e social, que determinavam o ambiente e as relações
de trabalho, não comportavam modalidades materiais de estímulo
aosganhos de produtividade e, muito menos, de sua repartição entre
os trabalhadores. Ou seja, à primeira vista não haveria sintonia entre
o sistema de remuneração, de inspiração socialista,e as relações
industriais e de trabalho de corte fordista, que marcaram o
capitalismo no século XX. O casamento, no entanto, ocorreu,
aumentando os índices de produtividade econômica, para então,
após os anos 50, apresentar um declínio constante e irreversível
(ARBIX, 1997, p. 20).

O que explica, então, a adaptação dessas técnicas ao sistema socialista


é que o estado as implantou de forma diferenciada e limitada em relação ao
Ocidente. O capitalismo de hoje tem uma outra face:

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Não é mais um Henry Ford ou um Carnegie, e sim o
administrador praticamente anônimo de um fundo de pensão com
ativos financeiros de várias dezenas de bilhões de dólares, que
personifica o “novo capitalismo” de fins do século XX (CHESNAIS,
1996, p. 15)

Dentro do novo contexto de unificação comercial do mundo a partir das


potências ocidentais vitoriosas na Guerra Fria, é importante que as empresas
industriais se integrem ao mercado mundial. A batalha das grandes empresas
para sobreviver implica em redução de custos, inclusive ao reduzir gastos com
direitos trabalhistas e com pessoal (GOUNET, 1999, p. 15)

4.Considerações Finais

Em primeiro lugar, conceituou-se o fordismo, taylorismo e toyotismo e os


métodos de gestão ligados a eles. Por fim, observou-se as diferenças entre
eles, conforme várias vertentes. As duas vertentes principais a analisarem o
fordismo aqui elencadas foram duas: uma pensa o fordismo como um
complexo cultural indissociável da sociedade capitalista em que está inserido, a
vertente cujo nome mais exponencial foi Antonio Gramsci, mas que também
era a dos comunistas de esquerda. Gramsci pensava o taylorismo como a
ruptura definitiva com a ligação entre trabalho manual e intelectual, devido aos
movimentos mecânicos e repetitivos da linha de montagem. Embora ambas
convergissem ao considerar aquela forma de gestão como própria de um
determinado momento histórico, a primeira vertente praticamente só
reconhecesse isso como positivo, vendo no taylorismo, mais do que uma forma
de gestão, uma ideologia para dominar o corpo do trabalhador. A ideologia
transbordaria para sociedade, fazendo com que a hegemonia da burguesia
nascesse das fábricas fordistas.

Curiosamente, o próprio Ford, pode-se supor, concordava com a teoria


dessa vertente, ainda que com sinal trocado: a adoção do fordismo era a
adoção de uma determinada cultura capitalista, datada historicamente e atada
firmemente à América do Norte. Instalada numa sociedade socialista, ela a
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minaria interiormente. Já uma outra vertente, cujo expoente era Lênin, entende
que esse método de gestão é uma aplicação científica da tecnologia à
produção, independente de ideologias e da cultura onde originou-se. Sob
Stálin, tomou o nome adaptado de Stakhanovismo, sendo uma forma de gestão
que exaltava o trabalho duro e o apoio ao estado soviético. O taylorismo-
fordismo, segundo essa vertente, exige atenção e motivação mental do
operário, não só seu esforço corporal. E, bem aplicado, reduziria a carga de
trabalho, bem como no futuro a jornada de trabalho, passando parte do
trabalho para ser feito pelas máquinas.

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5.REFERÊNCIAS:

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<<https://revistas.ufpr.br/rsp/article/view/39316>>

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