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renOVAr
D. DINIS

R
Coordenação
Teresa Heitor
eestruturar o Parque Escolar pode
parecer, à partida, uma tarefa
Índice
árdua e difícil, complexa e financei-
Editorial Enquadramento Institucional | 04
ramente significativa. É tudo isso e
Patrícia Reis Texto da Srª Ministra da Educação
mais: um desafio gratificante, uma
Texto do presidente da Parque Escolar, EPE
Assistência de Coordenação renovação de espaços ocupados
Hélder Cotrim sistematicamente por professo-
Catarina Frazão
Perspectivas do Presidente
res, funcionários e novos alunos, do Conselho Executivo | 06
uma aproximação à comunidade. José António de Sousa
Design
Albuquerque Designers
Na passagem de um projecto Notas para um projecto
Fotografia à concretização confrontámo-nos com muitos obstáculos, de modernização do Liceu D.Dinis | 10
Fernando Guerra e Sérgio Guerra é certo, mas na fase final é extraordinário perceber a adesão Ricardo Bak Gordon, Arquitecto
Fotografia de Arquitectura
da comunidade escolar a quem se destina, registar as suas
www.ultimasreportagens.com,
série 269, E.S. D. Dinis, Chelas memórias e entender que estamos a construir espaços O Historial | 14
Lisboa, 2008 de futuro e com futuro.
O estudo normalizado
© De esta edição: ME A escola não é um local de passagem. É um refúgio, uma cáp- dos liceus tipo | 16
© Da obra: ME Alexandra Nave Alegre, Arquitecta
sula protectora onde se projectam sonhos e ideias, onde cres-
© Dos textos: ME
cemos e aprendemos a conviver. É aqui que podemos adquirir
ISBN conhecimento e ferramentas para construir o futuro. A escola A escola é uma cidade | 20
978-989-96106-1-3 é um lugar fundador de princípios e valores. Deverá ser enten- Ricardo de Carvalho, Arquitecto
dido nessa dimensão humana para que possamos valorizar
Depósito Legal de forma real e eficaz as escolas que temos. Testemunhos | 32

Tiragem Importa agora preservar o trabalho feito. A renovação do Par-


1.000 que Escolar obedeceu a critérios de qualidade e de inovação,
espelhando preocupações ambientais e de gestão de relações
humanas. A renovação dos equipamentos escolares, este pro-
jecto que se concretizou e no qual se apostou o máximo
de esforços, não se limitou a ser uma operação à superfície.

A renovação foi profunda, indo ao encontro das necessidades


reais de cada população escolar, aceitando diferenças, com-
preendendo tradições e a história de cada estabelecimento
de ensino. Ao mesmo tempo, imprimiu-se um espírito de mo-
dernidade, abrindo os espaços, seleccionando materiais
e criando soluções potencialmente eficazes para cada projecto
curricular. Um dos motes desta modernização do Parque Esco-
lar implicou a aceitação de que as escolas não são todas iguais,
os generalismos, ideias feitas e preconceitos,
foram recusados.

Cada escola foi entendida como uma velha casa que precisava
de carinho, de uma nova face, melhor e funcional, aberta
à comunidade e às pessoas. Cada escola vale por si. Ontem,
hoje e amanhã.

Teresa Heitor,
Vogal do Conselho de Administração da Parque escolar, EPE
4 | renOVAr

Programa de
modernização

A
escola é, por definição, espaço
de aprendizagem, de crescimento
e de preparação para um futuro
que se quer potenciado por parâmetros
de qualidade.
Maria de Lurdes Rodrigues
Ministra da Educação

A escola secundária moderna nasce, em vez que nos últimos 30 anos o crescimento não-docente, ajudando a criar laços entre
Portugal, em 1906, há mais de 100 anos, com rápido só foi possível com o recurso à pré- estes e o espaço envolvente e favorecendo a
a criação dos liceus nacionais centrais, o Ale- fabricação e à construção económica. participação de todos no projecto educativo.
xandre Herculano e o Rodrigues de Freitas (no Temos hoje escolas, algumas com cerca de Em segundo lugar, o programa de moderniza-
Porto), o Pedro Nunes, o Camões e o Passos 100 anos, envelhecidas, outras com cerca de ção das escolas enquadra-se numa estratégia
Manuel (em Lisboa). 50 anos, degradadas, e muitas outras, bem mais ampla que visa atrair alunos para o ensi-
As escolas secundárias apresentam desde mais recentes, que não estão preparadas para no secundário, em particular, para os cursos
então duas características distintivas. o futuro. profissionais.
Em primeiro lugar, no plano curricular, uma A maioria dos edifícios que constituem o Para cumprir este objectivo, precisamos de
organização baseada em conjuntos e sequên- parque escolar apresenta sinais vários de escolas modernizadas, dotadas de equipa-
cias de disciplinas e numa coordenação do degradação física e ambiental e de obsoles- mentos de qualidade e capazes de responder
trabalho pedagógico dos professores. Antes, cência funcional resultantes do desgaste aos desafios do uso intensivo de tecnologias
não existia organização curricular como hoje material a que os edifícios têm sido sujeitos, de informação e comunicação, do trabalho ofi-
a conhecemos, mas apenas uma justaposição da alteração das condições de uso iniciais cinal e experimental e de outras actividades
de disciplinas avulsas. decorrentes, por exemplo, da evolução dos complementares à sala de aula.
Em segundo lugar, no plano das infra-estru- currículos, bem como, em alguns casos, da sua Por fim, este trabalho de modernização do
turas, a concepção e construção de raiz de sobre-ocupação. Estes problemas são ainda o parque escolar deve valorizar a integração das
edifícios destinados ao ensino, dispondo das resultado da ausência de um modelo eficaz de escolas na paisagem e na vida das cidades.
características adequadas a “uma educação financiamento e de programas continuados Alguns dos edifícios escolares, em particular
activa, a um ensino de características práti- de conservação e de manutenção dos espaços os construídos ao longo da primeira metade
cas e experimentais, que se dirige ao corpo e à escolares. do século XX fazem parte de um património
mente dos alunos”. O cuidado posto na edifica- O programa de modernização das escolas urbano fortemente valorizado pelas popula-
ção e no apetrechamento de instalações labo- secundárias visa, justamente, preparar as ções.
ratoriais, de salas para disciplinas de desenho nossas escolas para o futuro, para que seja A  modernização destes edifícios, sobretudo
e trabalhos manuais, ou de espaços para a prá- possível formar em melhores condições as quando articulada com processos mais vastos
tica da educação física é bem revelador de um actuais e futuras gerações de jovens. de requalificação do tecido urbano envolven-
projecto pedagógico que permite interpretar São três os objectivos fundamentais deste te, deve pois procurar reforçar os laços que
o programa de construções escolares nessa programa. ligam as escolas não apenas à história das ci-
altura definido (Nóvoa, História dos Liceus). Em primeiro lugar, o programa visa a melhoria dades e dos seus habitantes, mas também ao
Antes, o ensino secundário realizava-se em da qualidade dos  espaços físicos e do equi- seu futuro projectado.
edifícios que não tinham sido construídos com pamento, como condição para a melhoria da Esperamos hoje, como há cem anos, dar
essa função. qualidade das práticas de ensino e de apren- passos decisivos na modernização do ensino
Desde então, o país fez um enorme e continua- dizagem. secundário do nosso país. E esperamos que
do esforço de expansão da rede de escolas, de Uma escola moderna, a tempo inteiro, ade- essa modernização contribua para alcançar
escolarização e de actualização de currículos quada às exigências curriculares e de inova- o objectivo que o Governo se propôs: o
e programas de ensino secundário. ção, deve oferecer espaços de trabalho e de secundário como o nível de qualificação para
O maior esforço concentrou-se no pós-25 de estudo, multi-funcionais, espaços de sociali- todos os jovens .
Abril, com a construção de 77% das escolas zação e de abertura à comunidade, bem como
hoje existentes, cerca de metade das quais infra-estruturas de comunicação e condições
na década de 80. Há uma enorme diferença, de habitabilidade.
no que  respeita a robustez, entre as escolas Uma escola modernizada contribuirá para o
construídas antes e depois do 25 de Abril, uma bem-estar de alunos, professores e pessoal
Escola Secundária D.DINIS | 5

e
m Março de 2007 arrancámos para este
ambicioso desafio de requalificar e modernizar
330 escolas até ao ano de 2015, cumprindo
o Programa de Modernização do Parque Escolar
destinado ao Ensino Secundário, aprovado pela
Resolução de Conselho de Ministros nº 1/2007.
João Sintra Nunes
Presidente da Parque Escolar

No passado recente as construções escolares fundamental garantir a plena utilização das


procuraram responder ao desafio da massi- instalações e, por fim, dar uma resposta eficaz
ficação do ensino, canalizando todo o esforço às necessidades de intervenção pontual de re-
financeiro para a construção de novos edifícios paração ou às intervenções programadas de
e para o alargamento da rede a todo o territó- conservação e manutenção.
rio nacional (78% do parque escolar construído
nos últimos 40 anos). A concretização do Programa
O Programa de Modernização do Parque Es- de Modernização
colar destinado ao Ensino Secundário procura
responder ao desafio da qualificação dos edifí- A prioridade das intervenções é definida em
cios escolares. conjunto com o Ministério da Educação, em es-
treita articulação com as Direcções Regionais
Requalificar e modernizar os edifícios de Educação, atendendo o grau de degradação
dos edifícios; a carência de instalações em fun-
Pretendemos potenciar as condições para a ção do número de alunos previstos; a gestão
concretização de uma cultura de aprendiza- optimizadas dos financiamentos comunitários
gem alargada, facilitando a divulgação do co- disponíveis e ainda a adaptação ao modelo de
nhecimento e aquisição de competências, as- contratação, garantindo escala por região.
sente em seis vectores de intervenção: Sobre a metodologia de abordagem das inter-
Corrigir os problemas construtivos existentes; venções, importa sublinhar que após a selec-
Melhorar as condições de habitabilidade, com ção das escolas a intervencionar, se inicia um
particular ênfase na acústica, higrotérmica, percurso conjunto, envolvendo cada escola, a
qualidade do ar, segurança e acessibilidade; Parque Escolar e os projectistas. Este proces-
Adequar os espaços e modernizar os equipa- so implica a definição do programa da interven-
mentos dos laboratórios e oficinas, bibliotecas ção, pelo acompanhamento das diversas fases
e centros de recursos, redes e salas de tecnolo- de projecto e pela fixação do faseamento cons-
gias de informação e comunicação, secretarias trutivo da obra. A participação de cada escola
e zonas de recepção ao público em geral; é uma marca do Programa, uma nova forma de
Garantir espaços de trabalho e de pausa para o trabalhar na Administração Pública, em que os
corpo docente, bem como adequados espaços utentes são participantes activos na definição,
para convívio e trabalho informal de alunos; desde a definição do programa de intervenção
Garantir flexibilidade e adaptabilidade dos es- até à conclusão da obra.
paços à diversidade curricular e à evolução das Em Junho/Julho de 2007 iniciaram-se quatro
práticas pedagógicas, de modo a maximizar a intervenções piloto, abrangendo seis institui-
utilização e a minimizar investimentos no fu- ções de ensino. O objectivo era o de aprofundar,
turo; consolidar e aferir conceitos programáticos de
Garantir a eficiência e auto-suficiência energé- intervenção, práticas construtivas e orçamen-
tica dos edifícios escolares, face ao aumento tos de intervenção.
significativo dos consumos previstos resultan- Até 2014 serão requalificadas instalações cor-
tes do reequipamento dos edifícios escolares. respondentes a 330 escolas com ensino secun-
dário, abrangendo uma população estudantil
Abrir a escola à comunidade de cerca de 400.000 alunos. Trata-se de um in-
e um sistema de gestão vestimento sem paralelo nas construções es-
colares, correspondente à intervenção em 4,2
Temos como objectivo também o recentrar a milhões de m2, dos quais cerca de 70% são de
escola nos meios urbanos em que se inserem, requalificação integral.
criando condições espaço funcionais e de se- O Programa de Modernização do Parque Esco-
gurança, para que nos horários pós ou extra lar Destinado ao Ensino Secundário constitui
escolares, os edifícios possam ser utilizados uma das maiores operações de requalificação
pela comunidade no âmbito das actividades as- global e integrada de edifícios escolares na
sociadas à formação pós-laboral, aos eventos Europa. É um desafio para a Administração
culturais e sociais, ao desporto e ao lazer. Pública, para Arquitectos e Engenheiros, para
Para garantir a sustentabilidade do programa o sector de serviços de fiscalização e gestão
ao longo do tempo é fundamental a concepção de segurança e para a indústria da construção
e adaptação de um modelo de gestão que ga- civil e obras públicas. Esperamos que todos os
ranta, após a operação de requalificação, o fo- parceiros desta operação estejam à altura do
mento da correcta utilização das instalações e desafio para que juntos possamos construir
dos equipamentos, formando, acompanhando escolas de futuro .
e responsabilizando os utilizadores; é, ainda,
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DE UM OUTRO CICLO
O PRINCÍPIO
José António de Sousa
Presidente do Conselho Executivo
Escola Secundária D.DINIS | 7

Numa reestruturação desta dimensão,


a maior preocupação
é o resultado final e o reflexo na funcionalidade
e na operacionalidade

a
o longo das mais de três dé- em que traduzia o esforço desenvolvido pela
cadas a Escola Secundária equipa na recuperação da escola, da sua ima-
D. Dinis procurou sempre gem, da sua capacidade de intervenção e da
responder às solicitações mais valia que representa para a sua comuni-
mais diversas. Seguiu-se dade educativa. Negativo na medida em que
sempre este mote de fun- funcionar um ano lectivo inteiro, com quase o
cionamento quando era a mesmo número de turmas, com um pavilhão
única escola secundária da zona oriental de menos, e a perturbação inerente a um estalei-
Lisboa, e uma das primeiras escolas mistas do ro permanente, foi tarefa árdua. Imagine-se  o
país; quando respondeu ao boom populacio- que é trabalhar com alunos dos 12 anos aos 56
nal dos finais dos anos 70; e agora responden- anos (nocturno) “num estaleiro”….Aproveito
do ao desafio de uma forte remodelação física para expressar o meu agradecimento a todos
sem interrupção de aulas. os Professores, Funcionários, Alunos, Pais e
Se os seus recursos humanos foram conse- Encarregados de Educação, Conselho Peda-
guindo saber integrar-se na evolução natural gógico e Assembleia de Escola pela compre-
da sociedade, já os seus recursos físicos não ensão e apoio que me deram e que permitiu
conseguiram resistir à erosão do tempo e do que o ano lectivo fosse quase “normal”.
uso. Os aspectos positivos rapidamente se sobre-
As dificuldades financeiras do Ministério da puseram aos negativos. Desde do início que
Educação não permitiram, ao longo dos anos, contámos com a prestimosa colaboração dos
efectuar as necessárias obras de manuten- professores, funcionários, alunos e a inevitá-
ção e remodelação, sobretudo no que se refe- vel compreensão dos Pais e Encarregados de
re a condições objectivas de trabalho, quer ao Educação.
nível das salas de aula, quer ao nível dos servi- Foi um ano muito duro que ainda dura – as
ços, quer ainda no que se refere à necessida- obras ainda estão por finalizar –, existindo
de objectiva de trabalho dos professores. avanços e recuos em áreas diversas. O facto
O desafio que nos foi lançado de participar- de sermos projecto-piloto tem as suas vanta-
mos num projecto-piloto inovador foi aceite gens e, claro, as desvantagens inerentes.
pela equipa com um sentimento misto, tanto
positivo quanto negativo. Positivo na medida

. Salas de estudo para alunos . 1 Pavilhão Gimnodesportivo


. Gabinetes de trabalho completamente remodelado
para os professores . Sistema de videovigilância
. Gabinetes de trabalho para os Clubes em toda a Escola – a instalar
e Projectos dos Alunos . Quadros interactivos
. Sala multiusos – Auditório . Renovação de todas as salas
. Internet em todas as salas . Condições térmicas melhoradas
. 1 Pavilhão de Informática e Multimédia em todos os espaços
. 2 Laboratórios de Biologia . Cacifos para a quase totalidade
. 2 Laboratórios de Físico-Química dos alunos
. 1 Laboratório de Matemática . Requalificação de espaços exteriores
. Esplanadas
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Não restam quaisquer dúvidas que no cam- tamentos curriculares; melhorou a sala de ra nesta fase se verifique uma necessidade
po operacional ficámos muito melhor. Numa directores de turma e deu-se ainda um salto objectiva de formação quanto à utilização
reestruturação desta dimensão a maior significativo com a instalação de recursos dos meios tecnológicos com que a escola
preocupação é o resultado final e o reflexo tecnológicos em todas as salas de aula e re- passou a estar dotada.
na funcionalidade e na operacionalidade. novação do mobiliário, contribuindo para um A escola dispõe agora de um auditório com
Melhoraram as condições de trabalho para conforto acrescido. uma lotação de duzentos lugares, o que veio
professores, sobretudo com a criação de ga- Os funcionários viram também melhoradas suprir uma lacuna evidente para as diferen-
binetes de trabalho para os diversos depar- as condições para  a sua intervenção, embo- tes actividades escolares e que constitui um
Escola Secundária D.DINIS | 9

recurso efectivo para a Comunidade Escolar tões de natureza estética, e são muitas, há o Esperemos que o futuro próximo possa con-
em que estamos inseridos. reconhecimento da melhoria geral das condi- cretizar as expectativas de toda a comuni-
Por se tratar de um projecto-piloto natural- ções de ensino-aprendizagem. dade escolar quanto aos efeitos positivos da
mente que vários aspectos carecem de me- Tínhamos os Recursos Humanos. Agora te- modernização introduzida na escola .
lhoria, nomeadamente situações de acústica mos também os Recursos Físicos. Terminou
deficiente em alguns locais ou ainda áreas de um ciclo. Outro se inicia. Que este outro pos-
operacionalização da tecnologia colocada. sa conciliar os valores do humanismo e ciên-
Pese embora as divergências quanto às ques- cia com os da tecnologia.
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Notas para um projecto


de modernização
do liceu D.Dinis
Ricardo Bak Gordon
Arquitecto

A
Ficha de Projecto e de obra ntes de expor o projecto bloco de educação física, que permitia não só
de modernização da escola a utilização por parte da população escolar
Projecto de Arquitectura
Bak Gordon Arquitectos, Lda. secundária D. Dinis con- mas também por parte da comunidade local
vém recordar o seu estado mais próxima da escola.
Projecto de Estabilidade
BETAR - Estudos e Projectos actual. Trata-se de uma O projecto de modernização da escola se-
de Estabilidade, Lda. unidade escolar configura- cundária D. Dinis assenta em três factores
Projecto de Redes de Águas e Esgotos da por uma série de pavi- fundamentais:
BETAR - Estudos e Projectos lhões, dispersas no terreno e ligadas entre si
de Estabilidade, Lda.
por percursos exteriores cobertos. A origem
Projecto de Instalações de Gás desta solução prendeu-se com a necessidade a) Modernização ao nível do programa
LMSA - Engenharia de Edifícios S.A. de produção em série de unidades escolares, funcional (espaços programáticos).
Projecto de Instalações Eléctricas encontrando um modelo passível de se repe-
e de Telecomunicações tir em diferentes regiões e topografias, num b) Melhorar as condições do edificado
LMSA - Engenharia de Edifícios S.A.
curto espaço de tempo, recorrendo a lógicas existente ao nível das infraestruturas,
Projecto de Sistemas de Segurança de pré-fabricação e soluções tipificadas. conforto térmicoe acústico, segurança,
LMSA - Engenharia de Edifícios S.A.
redes e ambiente arquitectónico.
Projecto de Instalações de AVAC É neste contexto que se pode apreciar o
LMSA - Engenharia de Edifícios S.A. programa funcional existente, também ele c) Modernizar e melhorar os espaços
Verificação do RSECE / Certificação Energética pensado de modo a responder às solicitações exteriores da escola e a relação
LMSA - Engenharia de Edifícios S.A. da época, distribuído de forma clara pelos di- entre os diferentes pavilhões.
Projecto de Condicionamento Acústico versos pavilhões que constituem o conjunto.
LMSA - Engenharia de Edifícios S.A. Um pavilhão central de um só piso (bloco ge-
ral) onde são inseridas as actividades sociais Como complemento indispensável para o
Arquitectura Paisagista
PROAP - Estudos e Projectos de Arquitectura e de conjunto, tais como as áreas de recepção, projecto de modernização desta e das res-
Paisagista, Lda. administração, biblioteca, corpo docente, tantes escolas que a Parque Escolar pretende
Gestão e Fiscalização refeitório, e onde se procura localizar as intervencionar, deve ser tido em conta o novo
FICOPE - Fiscalização, Coordenação actividades que produzem mais ruído, como o conceito de gestão, definido pela PE, o qual
e Projectos de Engenharia, Lda.
recreio de alunos ou a sala de canto coral. é, por definição, indissociável da solução de
Empreiteiro Geral Um bloco de laboratórios (dois pisos) onde projecto proposta.
MOTA ENGIL S.A.
têm lugar as actividades tecnicamente mais De forma a responder eficazmente aos objec-
especializadas e onde se podem concentrar tivos, foi desenvolvido um programa prelimi-
algumas infra-estruturas indispensáveis, nar definitivo que apresenta todos os espa-
destinadas ao ensino da física, da química, da ços funcionais a integrar na escola, nos quais
biologia ou da geografia, alem de salas para se incluem novos programas e ainda a repo-
aulas teóricas das mesmas disciplinas, e ainda sição de espaços existentes, embora numa
um pequeno anfiteatro. outra localização.
Três blocos de salas de aula com dois pisos O novo edifício assume um papel fundamen-
compostos por 10 salas de aula normais tal no conjunto, uma vez que com um só gesto
(cada), geralmente destinados ao ensino garante a ligação entre os diferentes pavi-
do tipo humanístico e desenho, com alguns lhões existentes e alberga os espaços progra-
gabinetes de apoio e respectivas instalações máticos fundamentais numa posição de má-
sanitárias. A escola foi ainda equipada com um xima centralidade, constituindo-se como uma
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verdadeira “learning street”. É aqui que esta- Os módulos A2 e A3 reconquistam a sua tipo-
rá colocada a entrada principal do complexo, logia original, ocupados com salas de aula nor-
bem como as áreas de biblioteca / centro de mais e com instalações sanitárias ao nível dos
recursos, a sala polivalente / auditório (equi- pisos térreos. Nestes pavilhões, e de acordo
pada com uma bancada telescópica de 217 com as necessidades de acesso interior desde
lugares), áreas de trabalho livre para alunos e o edifício novo, houve lugar a ligeiras altera-
professores, assim como o sector destinado a ções face às entradas originais.
docentes, distinguindo áreas departamentais O edifício A5, devido à sua localização especí-
(em gabinetes próprios) da área de convívio e fica no conjunto do lote, será destinado a au-
sala de directores de turmas. las de informática que poderão coexistir com
No edifício A1 distingue-se a área adminis- espaços vocacionados para a comunidade ou
trativa e secretaria com entrada própria pelo mesmo para integração de um núcleo de for-
exterior e o sector de recreio de alunos em mação tecnológica.
conjunto com o refeitório e cozinha, o bar, a O Pavilhão Gimnodesportivo sofre alterações
associação de estudantes e a rádio escolar, significativas uma vez que o seu estado actual
bem como áreas destinadas a instalações se encontra fragilizado e incapaz de respon-
sanitárias. Este módulo caracteriza-se ainda der às solicitações da nova escola. Melhorar
pelo seu espaço central com pé-direito mais as suas qualidades funcionais e arquitectóni-
generoso e por uma sucessão de aberturas cas servirá não só os alunos no seu quotidia-
para o exterior que lhe conferem uma posição no, mas permitirá também oferecer condições
estratégica face aos espaços descobertos da às comunidades externas, e assim valorizar a
escola. oferta da própria escola.
O pavilhão A4 alberga salas de informática, de
artes visuais, laboratórios de biologia, de físi-
ca e de química – todas servidas por espaços
de preparação que os complementam além
de salas de aula normais – e ainda de um sec-
tor destinado ao pessoal auxiliar ao nível do
piso térreo. No piso superior foram colocados
gabinetes departamentais destinados aos
docentes cuja actividade fundamental se de-
senvolve em espaços programáticos incluídos
neste pavilhão. O edifício, que originalmente
continha duas alas separadas, ganhou uma
funcionalidade acrescida mercê das ligações
interiores que se estabelecem em ambos os
pisos.

olhos no futuro
O projecto de modernização da escola secun- bates, aqueles que antecederam o projecto
dária D. Dinis teve a particularidade de ser de modernização, onde a designação “lear-
pioneiro no âmbito das reformas em curso le- ning street” foi considerada como essencial.
vadas a cabo pela Parque Escolar. A reforma O sistema construtivo deste novo edifício
de modernização assentou em primeiro lugar não foi indiferente ao facto de toda a cons-
numa melhoria programática acrescentando trução ter sido realizada em apenas seis
e recolocando espaços funcionais (como é o meses. Optou-se por uma tipologia de obra
caso da biblioteca, sala polivalente, áreas de limpa, estrutura metálica e paredes exterio-
estudo livre para alunos e professores, espa- res em sistema de “sanduíche” com acaba-
ços departamentais, etc.). Privilegiou-se uma mentos em chapa ondulada, quer no exterior,
localização epicentral face às construções quer no interior. A cobertura também é em
existentes, de forma a que toda a actividade chapa metálica e sobre a mesma apoiam-
escolar gravite em seu redor. Um dos objec- se os respectivos isolamentos térmicos e
tivos do programa era o de melhorar as con- acústicos. Contrastando com a cor branca
dições arquitectónicas e construtivas e res- da parede periférica, o pavimento contínuo é
pectivas infra-estruturas nas edificações vermelho, elemento que se estende às cons-
existentes. Por fim, pretendia-se oferecer à truções existentes e que, de certa forma,
escola condições para uma melhor gestão e unifica o conjunto.
exploração dos seus próprios recursos. Espera-se que o resultado deste trabalho
O edifício novo é uma espécie de espaço cen- seja catalizador de um melhor desempenho
tral, sem princípio nem fim, onde se instalam em toda a população escolar, desempenho
as funções vitais da nova escola, e a partir do possível de ser resgatado numa qualquer
qual se coligam todos os pavilhões existen- memória futura.
tes. Trata-se de um reflexo dos primeiros de-
Escola Secundária D.DINIS | 13
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O historial
da Escola D. Dinis

O Liceu D. Dinis nasceu a 1 de Outubro de soal Administrativo e o de Acção Educativa, no conceito de escola “virada” para o aluno,
1972 como Escola do Ensino Liceal, corres- caracterizava-se pela sua juventude e por onde é manifesto o empenho na formação de
pondendo ao que presentemente se designa ter uma percentagem de professores profis- jovens.
como o 3º Ciclo e o Ensino Secundário. sionalizados superior à da média dos outros Esta unidade escolar está integrada na Di-
Sendo uma escola única numa zona geo- liceus. recção Regional de Educação de Lisboa e
gráfica alargada, chegou a albergar mais de À medida que se inauguravam novas escolas Vale do Tejo (DRELVT), na Rede Nacional de
cinco mil anos, apesar de ter sido projecta- (só na Freguesia de Marvila abriram cinco Bibliotecas Escolares e, ainda, na rede de es-
da para 900. Aqui se juntava uma população Escolas do 2º e 3º ciclo, uma de ensino par- colas ENIS (European Network of Innovative
estudantil com múltiplas vertentes sócio- ticular e ainda três escolas secundárias) a Schools). Foi premiada com o Quality Label
economicas, proveniente de Chelas, Olivais, população foi diminuindo até concentrar alu- da Comunidade Europeia em 2007 e agracia-
Portela de Sacavém, Moscavide, Sacavém, nos da área geográfica exclusiva da escola. da pelo seu modelo de Gestão em dois anos
Prior Velho, Santa Iria da Azóia e Bobadela e Manteve-se, contudo, o traço caracterizador consecutivos pelo Conselho Ibero Americano
Alverca. O Corpo Docente, bem como o Pes- do início: um profundo humanismo, patente (2007 e 2008).
Escola Secundária D.DINIS | 15

Um panorama do quadro dos alunos

O conjunto dos alunos do Liceu D. Dinis é inscrições, na medida em que os programas


constituído, na sua quase totalidade, por jo- de Novas Oportunidades têm conduzido mui-
vens de nacionalidade portuguesa. Há cerca tos trabalhadores estudantes para os Cen-
de 3% destes jovens cujos pais provêm de tros RVCC, deixando estes de frequentar os
países estrangeiros, nomeadamente de Cabo cursos de ensino recorrente nocturno.
Verde, Guiné e São Tomé e Príncipe. Neste momento, o corpo de docentes é com-
O número de alunos inscritos nos últimos posto por 172 professores. A escola tem cur-
anos tem variado entre os 1200 e os 1500. Há so diurno e nocturno .
uma clara tendência para uma diminuição de
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O ESTUDO
NORMALIZADO
DOS LICEUS TIPO
Alexandra Nave Alegre
Arquitecta, Investigadora do ICIST

A actual Escola D. Dinis, inicialmente designada por Liceu dos Olivais,


foi criado no âmbito do III Plano de Fomento (1968-73) 1. A sua construção
obedeceu ao Estudo Normalizado dos Liceus Tipo desenvolvido em 1968
e constitui uma viragem na arquitectura escolar portuguesa.
A solução adoptada assentou na tipologia pavilhonar, associando
a cada pavilhão diferentes sectores funcionais.

Esta solução – que viria a ser reproduzida em várias zonas do país


com adaptações pontuais em função da dimensão da escola e do lote
onde esta se insere – caracteriza-se pelo pragmatismo das opções
de projecto visando rapidez e economia de execução.

Antecedentes
Projecto Regional do Mediterrâneo
e o planeamento educativo

Em 1959, o governo português assinou com a qualquer nação ser considerada culta se a
Organização Europeia de Cooperação Econó- sua massa produtiva tiver apenas quatro
mica (OECE), posteriormente designada por anos de escolaridade obrigatória.” Os tra-
Organização de Cooperação e Desenvolvi- balhos do PRM iniciar-se-iam em 1962 sob a
mento Económico (OCDE), um contrato para coordenação do professor Alves Martins do
o estudo e desenvolvimento económicos no Centro de Estudos de Estatística Económica,
campo da educação. No âmbito deste apoio do Instituto de Alta Cultura.
internacional Portugal sugeriu a realização No âmbito do PRM, e no sentido de se viabili-
de um trabalho de investigação centrado no zarem os objectivos planeados, são constitu-
estabelecimento do planeamento de objecti- ídos nos diferentes países grupos de trabalho
vos educacionais para um período de 15 anos, para o estudo das construções escolares.
designado por Projecto Regional do Mediter- Em Portugal, o Ministério das Obras Públicas A referência Inglesa
râneo (PRM). Este programa, da iniciativa do (MOP) e o Ministério da Educação Nacional
então Ministro da Educação Nacional Eng. (MEN) assinaram em 1963 um contrato com a Os modelos adoptados ao nível do planeamen-
Francisco Leite Pinto para o período de 1960 OCDE para o estudo e investigação no campo to, programação, concepção e construção de
a 1975, envolvia a ajuda técnica e financeira da construção escolar, visando a optimização escolas primárias e liceus reflectem a expe-
da OECE, tendo sido estendido a outros pa- de soluções em função dos meios financeiros riência desenvolvida em Inglaterra no pós-
íses mediterrâneos, designadamente, Espa- disponíveis. Para o efeito foi formado o GTS- guerra, numa época em que era necessário
nha, Grécia, Itália, Turquia e Jugoslávia. CE, integrado na Junta das Construções para o construir um número considerável de edifícios
Nos despachos relativos ao projecto o minis- Ensino Técnico e Secundário do MOP. escolares num curto espaço de tempo2.
tro Leite Pinto considera serem indissociá- A investigação e os projectos-piloto desenvol- Em Inglaterra, a concretização do programa
veis fomento cultural e fomento económico, vidos por este grupo de trabalho revelou-se de expansão da rede escolar foi apoiada por
vincando a necessidade de “aumentar a pro- fundamental para a evolução da arquitectura uma metodologia que envolvia a constituição
dutividade do trabalho”. Influenciado pelos escolar em Portugal, reflectindo-se na adop- de grupos de trabalho responsáveis pelo de-
trabalhos de Gary Becker sobre o “capital hu- ção de novos conceitos, metodologias de tra- senvolvimento do projecto interpretando no-
mano”, Leite Pinto defende que “uma nação balho, regulamentação e tipologia arquitectó- vas condicionantes pedagógicas e sua ligação
vale mais pelos seus homens do que pelas nica pavilhonar em substituição dos modelos à fase de produção. O mesmo programa esta-
suas riquezas naturais. Ora, não é possível anteriormente utilizados. va assente no desenvolvimento tecnológico
Escola Secundária D.DINIS | 17

apoiado no processo de pré-fabricação, na 1. A adopção da metodologia de trabalho ba- ço para diferentes actividades e possibilidade
renovação da escola tradicional centrada no seada na criação de um grupo de trabalho res- do seu atravessamento, funcionamento dos
ensino expositivo, para uma escola focaliza- ponsável pela investigação e desenvolvimen- espaços em 100% do tempo diário de escola-
da na criança e, por fim, no controle de custos to das construções escolares, procurando-se ridade; e normalização e estandardização de
envolvendo a investigação de novas soluções reflectir os novos objectivos pedagógicos pro- componentes;
arquitectónicas e construtivas apoiadas na postos - Grupo de Trabalho Sobre Construções
pré-fabricação e racionalização dos compo- Escolares (GTSCE). Este grupo de trabalho 3. O redesenho do espaço da sala de aula,
nentes da construção. Este processo de pro- contou com o apoio e colaboração da OCDE; condicionado a um rigoroso controle de custos
dução baseado num conjunto de procedimen- mas, simultaneamente, respondendo a novas
tos, metodologias e conceitos influenciaram a 2. A adopção de metodologias de controle e necessidades educativas e novas técnicas de
produção de edifícios escolares em Portugal, planeamento de custos, determinando opções ensino, dando lugar a uma nova espacialidade
nomeadamente: arquitectónicas e construtivas mais econó- através da substituição dos seus limites fi-
micas: supressão dos espaços de circulação, xos – paredes – por divisórias ou estantes, e
optimização na utilização de espaços de uso de uma nova organização do espaço interior
comum através da utilização do mesmo espa- permitindo uma maior flexibilidade no seu uso
18 | r e n O V A r

(diferentes zonas de trabalho para grupos, ex- Em Portugal, a opção pelo desenvolvimento Em resumo, o desenvolvimento deste pro-
posição, etc.). de um projecto-tipo justificou-se pelas se- jecto contemplava a redução e a variedade
O caso inglês distingue-se pelo desenvolvi- guintes razões: curto prazo para execução de elementos construtivos, facilitando a en-
mento tecnológico construtivo que propôs, do projecto; procura de uma maior economia comenda, armazenagem e execução da obra,
apoiado na pré-fabricação dos componentes compatível com as exigências pedagógicas a através de uma modelação das várias compo-
dos elementos da construção. Este processo que o edifício deve responder, através da nor- nentes de construção.
permitiu o desenvolvimento de um sistema malização de parte dos elementos construti- A adopção deste modelo deu frutos ao longo
construtivo, tipo ‘Lego’, baseado num conjunto vos permitindo a repetição em série desses do tempo e reflecte-se no parque escolar exis-
de componentes, possibilitando a montagem elementos; da possibilidade de agregação de tente no país .
de diferentes edifícios destinados ao ensino. espaços técnicos especializados, correspon-
Paralelamente, desenvolveu-se um conjunto dendo a uma substancial economia nas redes 1: Este programa previa a construção de onze edifícios
destinados a liceu em diferentes áreas do país, desina-
de regras destinado aos edifícios construídos de serviço que os servem; procura de uma damente no Porto (Liceu António Nobre), Matosinhos,
tradicionalmente, fomentando a racionali- solução de execução fácil devido ao custo de Almada, Queluz, Junqueira, Algés, Espinho, Barreiro, To-
zação do processo de construção (disciplina mão-de-obra. mar e Portalegre.

dimensional dos materiais aplicados, norma- A elaboração do projecto tipo obedeceu aos 2: A cooperação estabelecida no âmbito da OCDE,
lização dos seus componentes, componentes seguintes critérios orientadores: adapta- permitiu a colaboração do arquitecto inglês Guy Oddie,
limitados e estandardizados). ção da escala do edifício à população escolar; consultor da OCDE da Secção de Desenvolvimento
do MEN, no desenvolvimento da investigação,
Em Portugal, onde o processo de construção atenuação do carácter rígido e formal do edi- bem como o contacto com entidades responsáveis
assentou na construção tradicional, os estu- fícios, criando no edifício um ambiente aco- pela construção escolar em outros países da Europa,
dos basearam-se nas experiências inglesas lhedor e atraente; organização do edifício em permitindo-se assim a partilha de experiências.

relativas à racionalização, adoptando os mes- núcleos separados admitindo a eliminação de 3: O projecto do Liceu D. Dinis incorpora na solução
mos princípios de estandardização e norma- grandes aglomerações e a especialização de a análise da variável n.º de lugares / n.º de alunos.
lização dos componentes da construção. O cada núcleo, quer por nível de ensino, quer por É alterado o modo como o edifício é utilizado,
optando-se por um esquema de ‘rotação’
caso português opõe-se à experiência inglesa, especialidade (bloco de ciências, bloco social), das turmas, conduzindo a um melhor aproveitamento
por propor um projecto-tipo a ser implantado como a criação de zonas de maior informalida- das instalações, deixando cada turma de estar ligada
em diferentes regiões do território nacional. de a estudo individual; utilização intensiva de a uma sala de aula-base, que estaria desocupada
quando a turma ocupasse uma instalação
todo o espaço construído3. especializada (laboratório, ginásio, anfiteatro,etc.).
As diferentes zonas e actividades que com-
punham o programa de liceu então adoptado
O projecto Tipo de Liceu agrupavam-se em blocos de quatro tipos:

A solução adoptada no “projecto tipo de liceu”


elegeu a tipologia pavilhonar como estraté-
gia conceptual. A partir de um conjunto de
blocos com autonomia física e funcional pro- 1) Bloco geral (Bloco A) destinado às activida-
curava-se responder a diferentes contextos des sociais e de conjunto e onde se localiza-
e programas. A solução pavilhionar facilitava vam as actividades escolares ruidosas (zonas
a adaptação dos blocos edificados a terrenos de recepção, administrativas, biblioteca, cor-
de características topográficas, de exposição, po docente, serviços gerais, canto coral);
de acessos e geológicas muito diversas e des-
conhecidas à priori. Os diferentes blocos po- 2) Bloco de laboratórios (Bloco B) destinado
diam ser ligados por uma rede de circulações às actividades de ensino condicionadas por
externas - galerias cobertas - cujo traçado material específico;
dependeria das características do terreno de
implantação e que venceriam as diferenças de 3) Bloco de aulas (Bloco C) destinado às aulas
nível da implantação dos diferentes corpos. que não requeressem material didáctico es-
Esta flexibilidade de adaptação ao terreno pecífico;
permitia ainda ser trabalhada em altura, den-
tro de cada corpo, propondo o desnivelamento 4) Bloco de educação física que, além da sua
das várias zonas que constituíam cada corpo, utilização escolar, permitia a utilização alar-
possibilitando uma adaptação mais adequada gada à comunidade local.
à morfologia do terreno.
Escola Secundária D.DINIS | 19
A escola
é uma Cidade Ricardo Carvalho
Arquitecto

A escola do ponto de vista dos arquitectos é sempre um momento privilegiado


de investigação. Implica a fixação de um ambiente humanizado, optimista,
com uma dimensão lírica e poética, capaz de legar uma memória, apesar de nem
todos os programas possuírem essa capacidade de gerar matrizes culturais
de inscrição na memória. A escola está associada à possibilidade real de construção
de um bem colectivo e é aí que a Arquitectura encontra o seu significado primeiro e,
por isso, garante um espaço singular no pensamento arquitectónico. Será, para usar
um termo do arquitecto Louis Kahn (1901-1974), uma das Instituições do Homem.
Escola Secundária D.DINIS | 21
22 | r e n O V A r

O projecto da escola foi o veículo para a cons- nham adoptado em simultâneo com tipos in- O novo pavilhão estabelece de imediato um
trução de obras com dimensão, plenas de trospectivos como o pátio e públicos como a princípio provocador. Instala-se literalmente
radicalidade disciplinar e estabelecendo um praça ou o terreiro – a introspecção no espaço ao centro. Afirma-se, recusando a neutrali-
patamar desafiador dos sentidos, do intelec- da sala de aula e a praça, o público, no recreio dade. Não é apenas mais um pavilhão dentro
to e indutor de uma vida mais saudável. Nes- exterior. São arquitecturas que constituíram sistema, é antes o espaço o público coberto
te sentido, a Arquitectura esteve disponível uma dupla memória (quem não se lembra do da escola, de onde tudo parte e a onde todos
para entender a escola como um projecto de seu espaço da escola?) fazer cidade e gerar chegam. É o edifício fundador de uma nova
investigação e ampliar a suas possibilidades. memória de cidade. disposição de espaços dentro de um sistema.
Construir o espaço do ensino foi a oportuni- Hoje o problema coloca-se a partir de outro Contém uma biblioteca, uma sala polivalente,
dade de pensar as escalas (adulto/ criança, ponto de vista e de outras necessidades. Está salas de trabalho dos professores e uma loja
edifício/ cidade), os tipos, a materialidade e estabelecida uma rede de escolas que cobre o de conveniência do aluno. Há ainda várias ruas
os processos construtivos. território, embora as mutações demográficas interiores (umas de nível, outras rampeadas)
que este último conheceu na última década que permitem o acesso aos vários pavilhões e
A escola esteve sempre no centro das inves- tenham alterado muito o equilíbrio da rede. que vão sendo abordadas pelas diversas activi-
tigações da Arquitectura mais comprometida Este conjunto de edifícios coincide também dades de uma escola – da loja até à biblioteca.
com a criação de lugares: das “escolas ao ar li- com o percurso da Arquitectura Moderna Por- A escala é urbana, característica que se deve
vre” do início do anos 30 do século XX até aos tuguesa. O projecto “Renovar as Escolas para em muito aos atravessamentos possíveis en-
edifícios iconográficos da modernidade avan- o Futuro” actua agora sobre esse património, tre espaços e à variação de escala. Caminha-
çada. A escola é a primeira experiência espa- atribuindo um conjunto de valores programá- mos como numa cidade, com um sistema de
cial de oscilação entre o público e o privado. ticos e de conforto que tornam as escolas o base claro e regrado, mas também complexo e
Para os arquitectos, pensar a escola, é reflec- centro da vida dos seus alunos. Diríamos que heterodoxo na diferença entre as partes – ve-
tir sobre um conjunto de obras que constituem é, de novo, a dimensão pública que é conceptu- ja-se o modo desafiador do sistema na coloca-
o nosso legado disciplinar, desde do designado almente mais desafiadora para os arquitectos ção das janelas. Ricardo Bak Gordon optou por
Movimento Moderno. A oportunidade e o signi- e que foi lançada pela Parque Escolar – a Lear- fazer conviver um invólucro de chapa branca –
ficado de construir uma escola foi plenamente ning Street que se traduz de modo diferente delicado e ligeiro – com uma estrutura interior
compreendida por várias gerações de arqui- de projecto para projecto. Chegamos assim ao que contém elementos de betão à vista.
tectos. Marcos neste território de investiga- Projecto de Remodelação e Ampliação da Es- É uma inversão provocadora do ponto de vista
ção foram a escola primária Asilo Sant’ Elia cola D. Diniz, em Lisboa. conceptual, mas com os objectivos de funcio-
(1936-1937) em Como de Giuseppe Terragni O sistema pavilhonar que caracteriza a escola namento, logo consequente. O “espaço públi-
(1904-1943) ou a Creche Municipal de Amster- D. Diniz – e que foi uma solução reproduzida co” está dentro (o público é interior e, por isso,
dão (1955-1960) de Aldo van Eyck (1918-1999). por todo o país ao longo da década de 70 do mais resistente) e o exterior é apenas retinia-
A primeira pela sua suave oscilação de escalas século XX – caracteriza-se por tornar o espa- no. É o que se vê das salas de aula no tenso in-
e valorização do espaço exterior, a segunda ço exterior da escola o sistema agregador do terstício entre o novo pavilhão e os originais.
pelo seu sentido urbano – uma cidade dentro conjunto. Talvez por razões culturais esta re- O ambiente é informal, de fácil apropriação.
da cidade. Também as escolas que Ruy Jervis levância do espaço exterior no projecto tenha, A expressão dos materiais é directa e, em
Athouguia (1917-2006) construiu em Lisboa eventualmente, fragilizado o desempenho do muitas situações, standard: complexidade do
na década de quarenta e cinquenta do século edifício ao longo do tempo, o que coincide com detalhe foi afastada. Há janelas ao alto que
passado foram determinantes para a pensar- a crise do espaço público na cidade genérica. O deixam ver o céu e permitem que a luz invada
mos de modo moderno. Assim surgiram matri- espaço exterior nestas escolas pavilhonares estas ruas interiores. Agrupam-se pessoas, há
zes culturais que podem ser lidas muito além nunca conheceu uma identidade tão forte que actividade, existe comércio. A biblioteca está
do problema imediato do número de alunos e lhe permitisse ser de facto o centro. O projec- aberta para lá de uma montra de vidro, sendo
do lugar. to de ampliação da escola de Ricardo Bak Gor- por isso invadida por cor. O mezanino deixa adi-
Nesse legado convivem em simultâneo a di- don parece partir desta evidência e instala-se vinhar outras actividades. As pessoas encon-
mensão pública e a dimensão privada. Talvez de modo a gerar uma centralidade. tram-se. No dia da nossa visita, votavam.
por isso algumas das escolas modernas te- A escola é uma cidade .
16.0%

16.0%
16

16
Pavilhão A1

66.63

1.45
2.70
3.91
62.48

4.75

0.35

5.75
61.27 61.22
60.96

60.43

2.70
59.38 59.38 59.43

Corte 03

Pavilhão A4
66.63

1.45
1.40
4.75
3.35
60.43

59.38 59.38

Corte 04

Pavilhão A1

66.63
1.45
2.00

64.63
0.34

0.20
2.70
3.25

62.48

3.00
0.35
5.75
4.86

61.27
2.70
2.50

Corte 05
59.38 59.43 59.38
32 | r e n O V A r

Testemunhos

e
apostar na manutenção no tempo, mas deveras importante ano acabei por ficar no Dom João de nis, pela primeira vez, a um jantar de
por ser a última e me ter obrigado a Castro. Saía de casa ao meio dia, já antigos alunos comemorativo, julgo
importantes escolhas, culminava um almoçado, para iniciar aulas às duas que dos seus 30 anos.
trajecto por várias escolas e pela ci- da tarde.
dade de Lisboa também, hoje muito Estava “velhinho”, mas igual. Agora
improvável, na altura, era bem pos- Aqui deparei-me com duas comple- acredito que renascerá “novo”, igual e
sível. tas novidades: o ensino misto, já que diferente. De aí o seu interesse, como
sendo o único liceu da zona ocidental Escola e como Arquitectura.
Havia feito toda a minha iniciação, tinha turmas mistas; e a agitação e
até ao 4.º ano, na “Secção do Areeiro” movimentação estudantil já recor- Carlos Silva Lameiro
do Liceu Camões, um originalmente rente naqueles anos de 71/72. Para Aluno 1972-1974
belo e moderno edifício em linha cur- esta muito contribuía a proximidade
va sito na Padre Manuel da Nóbrega. do Instituto Superior de Agronomia,
Terminando a primária em três anos, à Calçada da Tapada, cuja Associa- Microcosmos do País
fui anos a fio sempre o mais novo ção de Estudantes frequentávamos
das turmas em que estive, sempre o às vezes e onde nos “politizávamos”
número 8 ou o número 13, conforme segundo as diferentes correntes es-
era maior ou menor a quantidade de querdistas, algumas degladiando-se
“Antónios” na turma. As “coisas”, cor- já, mas todas “anticolonialistas” e
riam-me melhor quando me saía o nú- “antifascistas”. E assim se foi fazendo
mero 8, pois que obrigava-me a ocu- a minha aprendizagem pré-universi-
ntrei para a D. Dinis como aluna ainda par a primeira ou a segunda fila das tária, somando às aulas e aos apon-
a escola era recém-nascida. Ao longo mesas da sala. Aqueles eram tempos tamentos de Geometria do Professor
dos anos, as infra-estruturas foram em que a “centésima lição”, que ape- Daniel Luzia, o conhecimento de um
degradando-se, começaram a surgir nas ocorria em português, inglês e mundo definitivamente não rotineiro,
vários problemas, nomeadamente matemática, era um ritual pelo qual mas, sobretudo, complexo e pertur-
com as janelas e com outros equipa- os alunos aguardavam ansiosamen- bador.
mentos. Esta nova mudança tocou- te, momento de igualdade e liberda-
me de maneira particular, pois tenho de. O Professor Baptista Coelho, a Iniciado o ano lectivo seguinte, aluno
muito presente o antigo, o espaço que quem devo o conhecimento da língua do 7.º ano, surge então a possibilida-
era. Ao princípio foi um choque, mas inglesa, figura pequena na estatura de de me transferir para o novo Li-
perante as alterações senti-me muito mas imensamente dada aos seus alu- ceu Dom Dinis, acabado de abrir um
contente. Mantenho as recordações nos, exercia a sua costela teatral com mês após o início das aulas. Hesitei,
do passado bem guardadas, todavia maestria nas aulas através da con- dados os laços estabelecidos antes,
acredito que a escola melhorou imen- versação com que sempre as iniciava mas mudei. Pode-se dizer que era um m 74 tinha eu 14 anos e frequentava
samente, está muito funcional e boni- e, pelas mesmas razões, permitiu ao aluno de 7.º ano, já com farta e bem o antigo 4º ano do liceu. Fui inaugurar
ta. A climatização é boa e, a partir de longo dos anos as mais memoráveis recheada experiência dos liceus de o liceu que se não me engano tinha
agora, vamos passar melhor os inver- “centésimas lições”, cujas cantilenas Lisboa. Entrava então numa escola de exactamente aberto as suas portas
nos, ganhámos imenso em conforto. ainda me recordo por vezes. Ao sá- disposição completamente nova, com no ano anterior em 73.
Será importante ter uma manuten- bados todos tínhamos de ir à “sede”, “pavilhões”, dizia-se que de influência
ção quase diária para os novos equi- ao Camões, à Mocidade Portuguesa, inglesa, primeira escola onde tivera Nesse primeiro ano ainda em regime
pamentos, computadores e quadros que, quando mais interessados por um pavilhão desportivo, com salas de separação de rapazes e raparigas
interactivos, uma manutenção geral outras coisas, chamávamos “bufa”. amplas boa luz natural, refeitório, e logo a seguir em moderníssimo re-
que possa garantir que a nova escola Os tostões que tínhamos para o eléc- sala de alunos, espaços exteriores de gime misto. E a acrescentar a esta
não se degrada rapidamente. trico eram muito mais bem gastos em enquadramento e uma organização primeira e já radical transformação,
tremendas “jogatanas” de matraqui- descentralizada que parecia adivinhar segue-se a revolução e logo o enga-
Adelaide Santos lhos já que o caminho o fazíamos a o que em poucos meses nos aconte- gement político da minha geração. O
Aluna 1974 pé, cortando a direito pelos interiores ceria. Como aluno, todavia, a situação liceu e suponho que os liceus, eram
e professora de matemática de quarteirão das redondezas, o que neste primeiro ano não correu bem, já um microcosmos do país e, imberbes
muito reduzia a distância e o tem- que “preso” aos meus compromissos ensaiávamos os primeiros e solenís-

N
po necessário. Ao fim das tardes de ao movimento estudantil, trazidos do simos passos na política e na   ideo-
O “DOM DINIS” sábado, todos “formados” num dos Alto de Santo Amaro, passava parte logia.
pátios arborizados do liceu, aguardá- do tempo disperso em idas e vindas,
vamos que o Reitor, Sérvulo Correia, acabando chumbar no exame de Físi- Passos que eram muitas vezes de
do alto das galerias do andar de cima, ca e Química do 7.º Ano, o mais difícil confrontação violenta. Relembro
ordenasse o destroçar. de todos. a propósito, que a maior parte dos
episódios de confrontação física ti-
Era assim, rotineira, a vida escolar Em 73/74 voltava pois ao Dom Dinis nham lugar ao longo dos cobertos
de um jovem estudante lisboeta de que, agora com o início do ano acer- que o projecto do Ricardo Bak Gordon
então. tado com o calendário, se via bem agora transformou num novo corpo.
preenchido de alunos e alunas, quase Quaisquer que fossem as forças em
A mudança de casa, para os Olivais, todos dos Olivais Sul, Norte e da En- confronto e quaisquer que fossem
foi, mais do que tudo, o desabar de carnação. Relembro então, à hora de as razões – havia sempre inúmeras
essa rotina tranquilizadora. Coloca- saída, as caminhadas, as conversas, e fortíssimas – ninguém se atrevia a
do no “Padre”, o Liceu Padre António os “compromissos” de dezenas e de- pôr um pé fora dos cobertos, todos
Vieira, ao Pote de Água, dei de ca- zenas de alunos, através da avenida em fila quase indiana e suponho que
ras com uma escola nova, enorme, central de Chelas abaixo - esta meio porque assim a violência era afinal
um edifício todo feito de espaços de concluída, meio por concluir - e que menor.
passagem, onde as suas rampas, cor- curiosamente havia sido pensada
redores e os materiais, “à vista” de para automóveis. Os alunos seguiam Ou afinal um resquício, do universo
tão inesperados, impressionavam os até entrarem pelos Olivais onde se de ordem e disciplina em que até aí
seus alunos. Habituado que estava, começavam a dispersar, numa disten- tínhamos vivido.
o princípio de Novembro de 1972, en- no Areeiro, a ouvir a campainha e ain- são e acalmia do tempo que nada fa-
trei no Liceu Dom Dinis, em Chelas, da correr a tempo de não me atrasar zia adivinhar o frenesim que, no mês Para todos os efeitos, uma bizarria
acabado de inaugurar nessa altura, já à aula, tinha agora que percorrer a de Abril, a todos tocaria. que alimenta a minha memória de
que todos os seus alunos tinham fei- pé ou de autocarro a longa distância um tempo tão excessivo e tão radical-
to o primeiro mês de aulas no liceu de entre a casa e a escola: uma vida de Preso por apenas uma disciplina, es- mente activo mas   em que fui, mais
onde vieram a ser “transferidos” para “bairro” tornava-se, agora, na vida de tabelecera como primeira obrigação do que nunca, um cidadão. Ainda que
o Dom Dinis. “cidade”. Inadaptado à escola, onde “passar” a Física pois não queria adiar com catorze anos.
não conhecia ninguém, não me bas- mais a minha entrada na Escola de
Aluno do então 7.º ano - ano final dos taram alguns novos “vizinhos”, dos Belas Artes. Assim, ao mesmo tempo Nuno Távora
estudos secundários - exercia de es- Olivais, que lá estudavam. que me treinava no “Desenho de Es- Aluno 1973-1977
tudante “pré-universitário” no mais tátua” e me concentrava na Física e
recente liceu de Lisboa, construído Querendo estudar arquitectura tinha na Química, agastava-me por opção
para servir sobretudo a população re- duas possibilidades: ou o Camões, pessoal da política activa numa época
sidente nos Olivais Sul, onde viviam a entrando finalmente na “sede”, ou o em que, curiosamente, a “Revolução”
maioria dos seus alunos. Dom João de Castro, no outro lado da se aproximava.
cidade, ao Alto de Santo Amaro, úni-
Local de despedida da ”meninice” cos liceus onde havia a “alínea H”. Por Terminei o 7.º ano em Julho de 1974.
estudantil, sítio de passagem curta notas menos elevadas obtidas no 5.º Apenas voltei ao meu Liceu Dom Di-
Escola Secundária D.DINIS | 33

V F PQ
Amigos para a Vida ESTREAR O LICEU Memórias soltas Um sonho concretizado

ivi uma etapa de três anos nesta es- ui estrear o liceu D.Dinis no ano lec- osso dizer que tenho orgulho em ter
cola. Nem sempre foi fácil. Implicou tivo de 1972-73. Andava então no sé- andado no liceu D.Dinis...Andar neste
esforço, trabalho e dedicação. Alcan- timo ano. liceu significou para mim “a abertu-
cei os meus objectivos e percebi que o Para quem vinha de um liceu como o ra de horizontes”...Tinha andado no uando vim para a D. Dinis em 1980,
meu empenho foi reconhecido pelos Filipa, com o seu pátio interior, esta Filipa de Lencastre, liceu em que já a escola ainda não estava muito de-
professores, os mesmos que contri- foi uma mudança radical com um a minha mãe tinha andado e agora o gradada, mas rapidamente comecei a
buíram com incentivos vários para que atractivo extra: frequentar um liceu D.Dinis aparecia-nos como a possi- sonhar com uma escola diferente. Em
eu queira estudar mais. Além de estar misto, uma raridade naquela altura. bilidade de afirmação, a liberdade, a 1985, fui convidada para presidente
grata à família e aos amigos mais pró- Quando penso nesse ano, parece-me igualdade de oportunidades e até de do conselho executivo e passei a so-
ximos, não posso deixar de sublinhar que o 25 de Abril já tinha acontecido. contestação...afinal o 25 de Abril veio nhar ainda mais. Durante todos estes
que tive professores que sempre me Sentíamos uma liberdade imensa, logo a seguir..com a explosão de parti- anos, com os ínfimos recursos que
ajudaram e me aconselharam a fazer o liceu era completamente novo e dos políticos, de diferentes maneiras tínhamos e com a pouca ajuda que a
o melhor.  Uma das coisas que aprendi apresentava uma estrutura diferen- de estar na vida...Era o Che Guevara DREL podia dar, acabavam por ser os
nesta escola foi que devemos agarrar te, com pavilhões organizados por misturado com a Simone de Beauvoir funcionários que, nas férias, pintavam
sempre as oportunidades, oportuni- anos. O nosso pavilhão era o do sexto e o Jean Paul Sartre...As expectativas os pavilhões por dentro e retocavam o
dades que nos surgem ao longo do e do sétimo anos. Parecia que tínha- eram muitas...tínhamos de tudo um necessário. Nunca sonhei que a esco-
nosso caminho – seja ele escolar ou mos lições particulares. Como era da pouco: os freaks, os betinhos, os ana- la pudesse ficar como está agora: com
profissional - sem medo de perder. A área de letras, tinha apenas quatro ou rkas, os meninos das motos, os mais todo conforto, uma decoração feita
aprendizagem e experiência ficam e cinco colegas de turma, excepto nas carismáticos e os menos, os pobres, profissionais, com imensas condições
isso é muito mais importante do que disciplinas de filosofia e de organiza- os ricos, os bons alunos e os maus de habitabilidade. Não há compara-
ganhar algo... Nestes últimos três ção política em que nos juntávamos a alunos, os revolucionários e os fas- ção possível com o anterior. Espero
anos cresci como aluna, como pessoa, todos os outros alunos do sétimo ano, cistas... que os alunos saibam preservar este
como mulher. Foi aqui que fiz amigos éramos talvez uns vinte. novo património e percebam a sorte
para toda vida. Por isto tudo: obriga- Este “caldo” de grupos sociais e cul- que têm em estar numa escola assim.
da D. Dinis pela minha aprendizagem. O ginásio ainda não estava a funcio- turais davam uma efervescência ao Sobre a requalificação destaco, em
Sei que o que sou hoje, em muitos as- nar, mas não me fazia falta o exercí- liceu que nos marcou para sempre..E primeiro lugar, o conforto; em segun-
pectos, aprendi-o aqui, nesta escola, cio: eu ia a pé e demorava cerca de depois fundar um liceu é sempre ali- do, a estética, pois há uma renovação
com estas pessoas... 50 minutos até chegar a casa. Mais ciante, as instalações novas, a sala de eficaz do aspecto da escola e, por
tarde, a CARRIS pôs um autocarro ao convívio enorme com cortinados de último, a parte tecnológica que é um
Joana Ribeiro serviço do liceu, que funcionava de escocês azul e verde que rapidamente avanço imenso. A mudança é sempre
Aluna 2005-2008 manhã e ao fim das aulas. Era um au- foram vandalizados e transformados boa. Uma renovação é o princípio de
tocarro cheio só com alunos do liceu. em cascois, os laboratórios de fisico- qualquer coisa. Lembro-me de ter en-
quimicas super modernos , bem ape- trado nesta escola grávida do meu fi-
Quando tínhamos furos ficávamos trechados, tudo pronto para fazer- lho mais velho, coincidindo com essa
na sala de convívio com cortinas  aos mos experiências que se calhar nunca nova etapa de vida que é a materni-
quadrados nas janelas, lembro-me fizemos...enfim tambem é verdade é dade. No ano seguinte, fui delegada à
bem, ou então íamos a procura de um que esses anos não foram calmos, a profissionalização, depois vim parar
café nas redondezas. Existiam pou- maior parte do tempo era passada no ao conselho executivo, onde conclui
cos, Chelas ainda tinha pouca cons- exterior, porque os corredores eram que pouco sabia para assumir tais
trução. no fundo galerias cobertas entre os funções. Pedi para ser vogal. Presen-
blocos de aulas... temente, sou vice-presidente. Tenho
Não me lembro de problemas discipli- já um conhecimento aprofundado da
nares, éramos um número reduzido No Inverno, fartavamo-nos de apa- escola e, sobretudo, das pessoas que
de alunos. Os professores conheciam- nhar vento e chuva porque por aí aqui trabalham. Conheço a maior par-
nos bem e havia um ambiente de boa ficavamos aos grupinhos e fazendo te dos meus colegas há vinte anos. Há
relação e de respeito mútuo. algumas incursões à sala de convívio certas alturas do ano em que passo
para ver o ambiente e comer qualquer mais horas aqui na escola do que na
Lembro-me das idas ao teatro segui- coisa no bar...Atrás do ginásio esta- minha própria casa. O meu filho mais
das de debate e das visitas de estudo. vam os “casalinhos” de namorados, novo diz que não tem recordações
Uma vez fomos a Coimbra e saímos a buscar privacidade...sempre a dar minhas durante o Verão, altura em
de Lisboa pelas seis da manhã. O me- aqueles interminaveis beijos e isola- que os professores passam na escola
lhor de tudo, claro, foi a viagem de dos de tudo...a mim isso ainda me era grande parte do seu tempo.
finalistas. Fomos para Albufeira du- estranho!
rante as férias da Páscoa. Fazia imen- Maria Judite Gonçalves
so sol. Ficámos numa pensão mesmo Um dia, ainda antes do 25 de Abril, Vice-presidente
no centro e divertimo-nos à grande, apareceu a polícia e levou “alguns” do conselho executivo
aproveitando a praia e umas saídas à dos mais velhos que estavam a fazer
noite, controlados apenas à distância uma reunião...na altura soube que
e sem pressões. pertenciam ao MAEESL. Fiquei sur-
preendida e chocada...Foi o meu pri-
Ainda hoje guardo fotografias desse meiro confronto com a “falta de liber-
tempo. Quando encontro alguém do dade de expressão” que tanto atraso
liceu é com grande saudade que fala- nos trouxe...
mos do óptimo ano que lá passamos.
Manuela Carneiro
Maria Júlia Vidal Aluna 1972-73 a 1975-76
Aluna 1972-73
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AG
Sinto-me bem aqui Um sonho concretizado

escola está maior e muito gira. Ficou osto da nova escola. Ainda há pouco
com um grande espaço, por isso, po- espaço para os alunos se sentarem
diam fazer no futuro uma piscina no nos intervalos, já que uma parte da
pavilhão de educação física. Sinto-me escola que ainda está em construção,
bem nesta nova escola e farei o possí- mas conseguimos ver resolvidos al-
vel para a manter como está. O verde guns problemas que a escola tinha e
da relva e das árvores traz muita ale- isso é positivo. O auditório surpreen-
gria, deixámos de ter uma escola es- deu-me muito. As salas têm boa qua-
cura. Gostei de saber que os nossos lidade, temos quadros didácticos e
quadros já não são em giz, são mais quadros interactivos. Ainda não vi ne-
modernos, com canetas. Já não te- nhuma mesa riscada, o material está
mos aqueles computadores antigos impecável. Noto um pouco menos de
mas sim tecnologia nova. vigilância, vê-se menos pessoal nas
infra-estruturas, mas penso que será
Débora Esteves nesta fase de início do ano.
Aluna actual
Nuno Gigi
Aluno actual
Vida nova

C
Escola modelo

oi bom a escola ter sido alvo de uma


remodelação mas, por outro lado, não
gostei que a D. Dinis passasse a rece- om a nova remodelação das escolas, a
ber alunos mais novos, do sétimo ano, D. Dinis passou a ser uma escola nova,
pois dá um ambiente mais infantil à uma escola modelo. Existem aqui to-
escola. As condições nas aulas me- das as condições para que os alunos,
lhoraram muito: quando está muito professores e auxiliares se sintam
frio podemos ligar o ar condicionado. bem. As salas estão muito diferentes,
As janelas já estavam a cair. Agora te- os laboratórios não tinham as condi-
mos janelas novas. Os computadores ções e o material que têm agora. Era
são muito melhores, são todos novos, tudo antigo. Os alunos já precisam de
e mais fáceis de usar nas pesquisas material novo. Os professores e fun-
que temos de fazer. cionários sempre ajudaram a manter
a escola mas, mesmo assim, era ne-
Mafalda Nogueira cessária uma remodelação maior, que
Aluna actual sozinhos não conseguíamos fazer.
Esta renovação é muito bem vinda.

Maria da Conceição Vieira


Auxiliar desde 1994

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