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Atendimento Pré-Hospitalar

Treinamento da Brigada de Emergência do


Suporte Básico ao Avançado

Editora ~rica - Atendimento Pré-Hospitalar. Treinamento da Brigada de Emergência do Suporte Básico ao Avançado - Márcia Vllma G. de Moraes - 1• Edição
2 Atendimento Pré-Hospitalar - Treinamoito da Brigada de Emergência do Suporte Básico ao Avançado

Editora ~rica - Atendimento Pré-Hospitalar. Treinamento da Brigada de Emergência do Suporte Básico ao Avançado - Márcia Vllma G. de Moraes - 1• Edição
Márcia Vilma Gonçalves de Moraes

Atendimento Pré-Hospitalar
Treinamento da Brigada de Emergência do
Suporte Básico ao Avançado

11 Edição


látria 1 Saraiva

Editora ~rica - Atendimento Pré-Hospitalar. Treinamento da Brigada de Emergência do Suporte Básico ao Avançado - Márcia Vllma G. de Moraes - 1• Edição
ISBN 978-85-7614-084-9

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CÃMAllA BRASILEIRA DO LIVRO, SP, BRASIL

Saraiva Educação Ltda. Moraes. Mareia Vima Gonçalves de


Ateodimento pré-hospitalar: treinamento da br1gada de
Rua Henn~ Schaumam, 270 emergência do suporte básico ao avançado / Márcia Vilma
Gonçalves de Moraes - 1. ed. - São Paulo: látria. 2010.
Pinheiros - São Paulo - SP - CEP: 05413-01 O
PABX (11) 3613-3000 Bibliografia
ISBN 978-85-7614-084-9

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1. Atendimento pré-hospitalar: Treinamento: Medicina
616.025
Gerente edílorial Rosana Arruda da Silva
Editora Beatriz M. Carneiro
Copyrightº Márcia Vllma Gonçalves de Moraes
Assistentes editoriais Paula Hercy Cardoso Craveiro 201 OSaraiva Educação
Raciuel F. Abranches Todos os direitos reservados.
Produtores editoriais L.audemir Marinho dos Santos
Rosana Aparecida A. Santos
11 edição
Assistentes de produção Graziele Ubomi 2' tngern: 2016
Erlka Amaro Rocha
Uv1a Vilela de Uma Boral
Supor1e edi1orial Ariane Gonçalo Barboza
A Autora e a Editora acreá1am que todas as Informações aqui
Produção gr~llca Uliane Côstina Gomes
apresentadas estao corretas e podem ser utilizadas para qualquer rrn
legal. Entretanto, não existe qualquer garantia. explicita ou impllcíta,
de que o uso de tais informações conduzira sempre ao resultado
desejado. Os nomes de sites e empresas, porventura mencionados,
foram utilizados apenas para ilustrar os exemplos, nao tendo vinculo
Preparação Carta de Olveira Morais
nenhum com o livro, nao garantindo a sua existência nem divulgação.
Revisão Mar1ene Teresa S. Alves Eventuais erratas estatao dlsponlvels para download no site da
Diagramação Adriana Aguiar Santoro E<itora Saraiva.
Capa Mauricio S. de França A Ilustração de capa e algumas Imagens de miolo foram retiradas
de <www.shutterstock.com>, empresa com a qual se mantém
Desenhos Flávio Roberto Pereira contrato ativo na data de publicação do Nvro. Outras foram obtidas da
Impressão e acabamento Nonono Coleçao MasterClips/MasterPhotos• da IMSI, 1oo Rowland Way, 3,.
floor Novato, CA 94945, USA, edo CorelDRAW X5 eX6, Corei Gallery
e Corei Corporation Samples. Corei Corporation e seus llcencladores.
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violação dos direitos autorais é crime estabelecido ria lei n'l 9.610/98
e punido pelo artigo 184 do Código Penal.

280.516.001.002

4 Atendimento Pré-Hospitalar - Treinamoito da Brigada de Emergência do Suporte Básico ao Avançado

Editora ~rica - Atendimento Pré-Hospitalar. Trelnamen10 da Brigada de Emergência do Suporte Básico ao Avançado· Márcia Vllma G. de Moraes • 1• Edição
Dedicatória

A Deus em primeiro plano;


Aos meus pais Odilon e Marly a quem agradeço a vida, o carinho e o amor;
À minha família, ao meu esposo Eduardo e à minha filha Duda, pois me apoiaram em
mais esta obra.

"0 tenior do Senhor é o princípio da ciência,


os loucos desprezani a sabedoria e a instrução.
Filho niett, ouve a instntção de teu pai
e não deixes a doutrina de tua 1nãe. •
Provérbios 1, 7-8

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Editora ~rica - Atendimento Pré-Hospitalar. Treinamento da Brigada de Emergência do Suporte Básico ao Avançado - Márcia Vllrna G. de Moraes - 1• Edição
Agradecimentos

Em especial às pessoas que participaram das fotos expostas nesta obra;


Ao meu irmão Odilon por colaborar na realização das fotos.

6 Atendimento Pré-HospiJalar - Treinamento da Brigada de Emergência do Suporte Básico ao Avançado


Editora ~rica - Atendimento Pré-Hospitalar. Treinamento da Brigada de Emergência do Suporte Básico ao Avançado - Márcia Vllrna G. de Moraes - 1• Edição
Sumário

C::'1.J>Ítlll<> :t. - l.tlt..<><lll~~() ············································· ············································ ········ 1..~


1.1 Atendimento pré-hospitalar (APH) ..................................................................................... 20
1.2 O que é brigada ................................................................................................................... 20
1.3 Seleção dos candidatos para brigada ................................................................................. 21
1.4 Exames a serem realizados para seleção de candidatos a brigadista ............................... 21
1.5 Como treinar os brigadistas para resgate ........................................................................... 22
1.6 Materiais para maleta da equipe de suporte básico - Socorrista ...................................... 23
1.7 Materiais para maleta da equipe de suporte avançado - Equipes médica
e de enfermagem ................................................................................................................ 23
1.8 Uso dos equipamentos de proteção individual (EPI) para atendimento a vítimas ......... 24
1.9 Cuidados com EPis - Colocação, retirada e guarda .......................................................... 25
1.10 Zona de trabalho para atendimento a vítimas ................................................................. 26
1.11 Classificação das ambulâncias .......................................................................................... 27
1.12 Acidente de trabalho com evidência de óbito ................................................................. 28
Exercícios ................................................................................................................................... 30

Capítulo 2 - Avaliação do Cenário e Abordagem da Vítima ........................................ 31


2.1 O que é e como realizar a avaliação do cenário .............................................................. 31
2.2 Acionamento da ajuda ao telefone .................................................................................... 31
2.3 Passos para abordagem da vítima ...................................................................................... 32
2.4 Abord.agem primária rápida ................................................................................................32
2.5 Abordagem primária completa - ABCDE ........................................................................... 33
2.6 Abordagem secundária - Exame físico da vítima .............................................................. 37
Exercícios ................................................................................................................................... 38

Capítulo 3 - Assistência a Vítimas em Emergência Clínica ......................................... 39


3.1 Introdução ........................................................................................................................... 39
3.2 Acidente vascular cerebral (AVC) ....................................................................................... 39
3.2.1 Anatomia do cé1·eb1·0 ............................................................................................... 39
3.2.2 Estrutura e os múltiplos papéis do cérebro ............................................................ 40
3.2.3 Definição e classificação do acidente vascular cerebral (AVC) ............................. 40
3.2.4 Tipos de acidente vascular cerebral. ....................................................................... 41
3.2.S Sinais e sintomas ...................................................................................................... 41
3.2.6 Avaliação inicial da vítitna ....................................................................................... 42
3.2.7 Atendimento a vítimas pela equipe de emergência de suporte básico ................ 42
3.2.8 Atendimento a vítimas pela equipe de emergência de suporte avançado ........... 42

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3.3 Infarte agudo do miocárdio (IAM) ..................................................................................... 43
3.3.l Anatomia do coração - Artérias coronarianas ......................................................... 43
3.3.2 Definição e sintomas do infarte agudo do miocárdio (IAM) ................................. 44
3.3.3 Atendimento a vítimas com IAM pela equipe de emergência de
Sl1po11e básico .......................................................................................................... 45
3.3.4 Atendimento a vítimas com IAM pela equipe de emergência de
suporte avançado .....................................................................................................45
3.4 Sincope ou desmaio ............................................................................................................ 46
3.4.l Atendimento a vítimas com desmaio pela equipe de emergência de
suporte básico ................................... ....................................................................... 46
3.4.2 Atendimento a vítimas com desmaio pela equipe de emergência de
suporte avançado ..................................................................................................... 47
3.5 Diabetes tnellitus................................................................................................................. 47
3.5.l Quadro de emergência com diabetes mellitus ....................................................... 48
3.5.2 Atendimento a vítimas cotn quadro de hipoglicemia pela equipe de
emergência de suporte básico ................................................................................ 48
3.5.3 Atendimento a vítimas com quadro de hipoglicemia pela equipe de
emergência de suporte avançado ........................................................................... 48
3.6 Parada cardiorrespiratória (PCR) ................................................ ........................................49
3.6.1 Atividade elétrica do coração .................................................................................. 50
3.6.2 Novo protocolo para reanimação cardiopulmonar no suporte
básico de vida (SBV) ............................................................................................... 50
3.6.3 Atendimento em parada cardiorrespiratória pela equipe do suporte
b·ásico de vida .......................................................................................................... 51
3.6.4 Atendimento em parada cardiorrespiratória pela equipe do suporte
avançado de vida ..................................................................................................... 52
3.6.5 Drogas para uso em PCR ......................................................................................... 54
3.6.6 Rittno cardíaco norm._al ............................................................................................. 54
3.6.7 Ritmos cardíacos chocáveis ..................................................................................... 55
3.6.8 Ritmos cardíacos não chocáveis .............................................................................. 55
3.6.9 Uso do desfibrilador ex'temo automático (DEA) .................................................... 56
3.6.10 Protocolo a seguir para uso do DEA no suporte básico de vida ........................ 57
3.7 Obstrução das vias aéreas por corpo estranho (OVACE) ................................................. 57
3.7.l Anatomia da laringe - Sistema epiglote .................................................................. 57
3.7.2 Definição e causas da obstrução das vias aéreas ................................................... 59
3. 7.3 Manobras de desobstrução das vias aéreas ............................................................ 60
3.7.4 Compressão abdominal - Manobra de Heimlich .................................................... 60
3.7.5 Compressão torácica ................................................................................................ 61
3.7 .6 Desobstrução das vias aéreas em vítimas inconscientes........................................ 62
3.8 Epistaxe - Sangramento nasal ............................................. ................................................ 63
3.8.l Atendimento a vítimas com epistaxe pela equipe
de su j)Orte básico ..................................................................................................... 63

8 Atendimento Pré-Hospitalar - Treinamento da Brigada de Emergência do Suporle Básico ao Avançado


Editora ~rica - Atendimento Pré-Hospitalar. Treinamento da Brigada de Emergência do Suporte Básico ao Avançado - Márcia Vllma G. de Moraes - 1• Edição
3.8.2 Atendimento a vítimas com epistaxe pela equipe
de suporte avançado ..... ............................................................ .............................. 64
3.9 Crise convulsiva ...................... ... .... .. ............................................... ..................................... 64
3.9.1 Sinais e sintomas na crise convulsiva ..................................................................... 66
3.9.2 Atendimento a vítimas com crise convulsiva pela equipe de suporte básico ......... 66
3.9.3 Atendimento a vítimas com crise convulsiva pela equipe de suporte avançado .... 67
Exercícios ................................................................................................................................... 67

Capímlo 4 - Assistência a Vítim.as de Trauma .............................................................. 69


4.1 O que é trauma ................................................................................................................... 69
4.2 Tipos de trauma .................................................................................................................. 69
4.2.1 Trau1na torácico (TI) .................................... ..... ...................................................... 69
4.2.2 Tipos de trau1na torácico ......................................................................................... 70
4.2.2.1 Trauma direto .............................................................................. ...... ......... .. 70
4.2.2.2 Trauma por compressão .............................................................................. 70
4.2.2.3 Trau1na por desaceleração (ou contusão) .................................................. 70
4.2.2.4 Pneumotórax simples fechado .................................................................... 70
4.2.2.5 Pneumotórax simples aberto ....................................................................... 71
4.2.2.6 Pneumotórax hipertensivo........................................................................... 71
4.2.2.7 Hemotórax .................................................................................................... 73
4.2.2.8 Tamponamento cardíaco ............................................................................. 74
4.3 Trauma abdominal .............................................................................................................. 74
4.3.1 Trauma abdominal fechado ..................................................................................... 75
4.3.2 Trauma abclominal aberto ....................................................................................... 75
4.4 Trauma raquimedular (TRM) .............................................................................................. 75
4.4.1 A coluna vertebral e a medula espinhal ................................................................. 76
4.4 .2 Lesão da medula espinhal ....................................................................................... 76
4.4.3 Riscos do traumatismo raquimedular ...................................................................... 78
4.4.4 Diagnóstico e trata1nento no TRM........................................................................... 78
4.5 Trauma cranioencefálico (TCE) .......................................................................................... 78
4.5. 1 Tipos de TCE ............................................................................................................ 78
4.5.2 Classificação do TCE ................................................................................................ 79
4.5.3 Atendimento inicial do TCE pela equipe de suporte avançado ............................ 79
4.5.4 Verificação do nível de consciência - Escala de Glasgow ..................................... 80
4.5 .S Esc:a.la do trat1ma ...................................................................................................... 81
4.5.6 Atendimento a vítimas de trauma pela equipe de suporte básico ........................... 81
4.5.7 Atendimento a vítimas de tr'.tuma pela equipe de suporte avançado ................... 82
4.6 Trauma musculoesquelético e de extremidade ................................................................. 82
4.6.l Sistema esquelético .................................................................................................. 82
4.6.2 Tipos de trauma musculoesquelético...................................................................... 84
4.6.2.1 Fraturas ......................................................................................................... 84.

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Editora ~rica - Atendimento Pré-Hospitalar. Treinamento da Brigada de Emergência do Suporte Básico ao Avançado - Márcia Vllma G. de Moraes - 1• Edição
4.6.2.2 Entorse - Lesões tendíneas .......................................................................... 86
4.6.2.3 Luxação - Lesões articulares ........................................................................ 87
4.6.3 Técnica de imobilização de fraturas ........................................................................ 87
4.6.3.1 Tipos de talas .................................... ........................................................... 87
4.7 Hemorragias - Lesões vasculares ........................................................................................ 89
4. 7.1 Artérias e veias .........................................................................................................90
4.7.2 Técnicas de hemostasia ........................................................................................... 91
4.7.3 Sinais de choque hipovolêmico em consequência da hemorragia ....................... 92
4.8 Punçã.o intraóssea ................................................................................................................. 93
4.8.1 Técnica para executar a punçã.o intraóssea ............................................................ 93
4.9 .Esmagamento - Lesões nef'\1osas ........................................................................................ 94
4.10 Atnputação traumãtica ....................................................................................................... 95
4.11 Imobilização e transporte de vítimas ............................................................................... 95
4.11.1 Retirada rápida de vítima - Chave de Rauteck ..................................................... 95
4.11.2 Rolamento em 900 - Vítimas em decúbito dorsal ................................................. 96
4.11.3 Rolamento em 180º ................................................................................................ 96
4.11.4 Elevação a cavaleiro ............................................................................................... 97
4.11.5 Colete imobilizador dorsal - KED .......................................................................... 98
4.11.6 Imobilizador da região cervical - Colar cervical ................................................... 99
4.11.6.1 Escolha do tamanho do colar cervical ...................................................... 99
4.11.7 ImobiJizador lateral de cabeça ............................................................................ 101
4.11.8 Imobilização na prancha ...................................................................................... 101
4.11.9 Transporte de vítimas........................................................................................... 102
Exerácios ................................................................................................................................. 104

Capítulo 5 .. Assistência a Vítimas de Queimadura .................................................... 105


5.1 Formaçã.o da pele .............................................................................................................. 105
5.2 Classificação das queimaduras ......................................................................................... 106
5.3 Profundidade ou grau da queimadura ............................................................................. 107
5.4 Extensão ou severidade da queimadura .......................................................................... 108
5.4.1 l~egra para avaliação da extensão da queimadura ............................................... 108
5.4.2 Regra da palma da mão ......................................................................................... 109
5.4.2.l Assistência a vítimas de queimaduras pela equipe de suporte básico ... 109
5.4.2.2 Assistência a vítimas de queimadura pela equipe de suporte avançado.... 110
5.5 Tratamento do grande queimado na área hospitalar ...................................................... 110
5.6 Sobrevida das vítimas de queimaduras graves ................................................................ 111
5.7 Queirn_aduras especiais ..................................................................................................... 111
5.7.1 Queimadura química ocular .................................................................................. 111
5.7.1.1 Assistência a vítimas de queimaduras químicas oculares pela
equipe de suporte básico.......................................................................... 112
5.7.2 Queimaduras químicas no corpo .......................................................................... 113

10 Atendimento Pré-Hospitalar - Treinamento da Brigada de Emergência do Suporle Básico ao Avançado


Editora ~rica - Atendimento Pré-Hospitalar. Treinamento da Brigada de Emergência do Suporte Básico ao Avançado - Márcia Vllma G. de Moraes - 1• Edição
5.7.3 Lesões por inalação de fumaça (LIF) .................................................................... 114
5.7.3.1 Intoxicação por monóxido de carbono .................................................... 114
5.7.3.2 Intoxicação por amônia ............................................................................. 115
5.7.4 Exposição de vítimas a produtos perigosos ......................................................... 116
5.7.5 Resgate de vítimas expostas a produtos químicos ............................................... 117
Exercícios .................................................................................................................................. 118

Capítulo 6 - Assistência a Vítimas de Choque Elétrico.............................................. 119


6.1 O que é choque elétrico ................................................................................................... 119
6.2 Tipos de choque elétrico .................................................................................................. 120
6.2.1 Choque estático ...................................................................................................... 120
6.2.2 Choque dinâmico ................................................................................................... 120
6.2.3 Descargas atmosféricas ou eletricidade cósmica .................................................. 121
6.3 Arco eléLrico ...................................................................................................................... 121
6.4 Ação da eletricidade sobre o corpo humano .................................................................. 122
6.4.1 Fato1·es intrínsecos .................................................................................................. 122
6.4.2 Fatores extrínsecos ................................................................................................. 122
6.5 Efeitos do choque elétrico no corpo humano ................................................................. 122
6.6 Resistência da pele humana ao choque elétrico ............................................................. 123
6.7 Percursos do choque elétrico no corpo humano ............................................................ 124
6.8 Fatores de gravidade do choque elétrico ........................................................................ 124
6.8.1 Atendimento a vítimas de choque elétrico pela equipe de supone básico........ 125
6.9 Complicações das vítimas pós-choque elétrico ............................................................... 125
Exercícios ................................................................................................................................. 126

Capítulo 7 - Resgate em Espaço Confinado ............................................................... 127


7.1 O que é espaço confinado ............................................................................................... 127
7.2 Condições ambientais nos espaços confinados ............................................................... 128
7.3 Resgate em espaço confinado .......................................................................................... 129
7.3.l Equipamentos para resgate externo em espaço confinado ................................. 130
7.3.2 Equipamentos para autorresgate em espaço confinado ...................................... 131
Exercícios ................................................................................................................................. 132

Capítulo 8 - Resgate de Vítimas em Altura - Trabalho Vertical................................. 133


8.1 Doença ou condições que contraindicam o trabalho em altura .................................... 133
8.2 Tipos de resgate vertical ................................................................................................... 134
8.3 Síndrome de suspensão inerte.......................................................................................... 134
8.4 Técnicas utilizadas em resgate vertical ............................................................................ 135
8.4.1 Descida de maca com acompanhante .................................................................. 135
8.4.2 Tirolesa para resgate .............................................................................................. 135
8.4.3 Sistema de resgate com contrapeso ...................................................................... 135
Exercícios ................................................................................................................................. 136

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Editora ~rica - Atendimento Pré-Hospitalar. Treinamento da Brigada de Emergência do Suporte Básico ao Avançado - Márcia Vllma G. de Moraes - 1• Edição
Capítulo 9 - Triagem em Acidentes com Múltiplas Vítimas ...................................... 137
9.1 Método START na avaliação de múltiplas vítimas ........................................................... 138
9.1.1 Cartão vermelho ..................................................................................................... 138
9.1.2 Cartão amarelo ....................................................................................................... 139
9.1.3 Cartão verde ............................................................................................................ 139
9.1.4 Cartão preto ............................................................................................................ 139
9.2 Passos para avaliação da vítima e determinação do código de cores ........................... 139
Exerácios ................................................................................................................................. 140

Capítulo 10 - Sim11Jados com Vítimas............................................. ............................ 141


10.1 Como preparar as vítirnas para simulado ...................................................................... 142
10.2 Como elaborar história para simulado com vítimas ...................................................... 143
10.3 Plano de Auxílio Mútuo (PAM) ...................................................................................... 144
Exercícios ....................................... ................................................ .......................................... 144

Capítulo 11 - Assistência a Vítimas de Acidente com Animais Peçonhentos .......... 145


11.1 Acidente ofídico ......... ................ .... .................... .. ........................................................... 145
11.l.l Mecanismo de ação dos venenos ofídicos ......................................................... 146
11.1.2 Sinais e sintomas após picada de cobra peçonhenta ......................................... 146
11.1.3 Assistência a vítimas de acidente ofídico pela equipe de suporte básico ........ 146
11.2 Acidente com aranhas - Araneísmo................................................................................ 147
11.2. l Aranha-armadeira ................................................................................................. 148
11.2.2 Aranha marrom..................................................................................................... 148
11.2.3 Aranha viúva-negra .............................................................................................. 148
11.3 Acidente com escorpião - Escorpionismo ...................................................................... 149
11.4 Tratamento das vítimas com soro................................................................................... 149
Exerácios ................................................................................................................................. 150

1Jil>li~'1fiêl ................................................................................................................... J.:;1.

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12 Atendimento Pré-Hospitalar - Treinamento da Brigada de Emergência do Suporle Básico ao Avançado


Editora ~rica - Atendimento Pré-Hospitalar. Treinamento da Brigada de Emergência do Suporte Básico ao Avançado - Márcia Vllma G. de Moraes - 1• Edição
Apresentação

Em março de 2009, um incêndio numa fábrica de Goiás só não terminou em tragédia


graças a uma brigada de emergência atuante, a qual retirou com segurança cerca de três mil
trabalhadores em atividade no momento do incêndio.
O incêndio foi controlado pelas equipes dos bombeiros e de brigada da empresa, as quais
conseguiram conter o fogo após cinco horas. OORNAL CIDADE, 2009)
Esse evento demonstra a importância de a empresa manter equipes treinadas para con-
trole de incêndio ou outros sinistros e atendimento a vítimas. As equipes necessitam ser
selecionadas, treinadas e realizar vários simulados para que saibam agir e1n um evento real,
evitando danos ao patrimônio da empresa, ao meio ambiente e, principalmente, à vida dos
profissionais.
Atuo em treinamentos de brigadas de emergência há dez anos, preparando trabalhadores
brigadistas para atendimento e resgate de vítimas. Em simulados realizados pude observar
o quanto a empresa ganha com trabalhadores treinados e preparados caso ocorra algum
sinistro. Certamente essas equipes estão aptas a preseivar a segurança e salvar vidas.
Este livro é um apoio ao treinamento e à preparação da brigada de emergência para o
atendimento pré-hospitalar como equipe de suporte básico e avançado de vida, assim como é
útil a equipes de acendimento pré-hospitalar acionadas para atender chamados em empresas,
para que juntas atuem com segurança e conhecimento em emergências clínicas que possam
ocorrer com trabalhadores durante a jornada laboral. Assim, é possível proporcionar às víti-
mas um atendimento seguro e que não cause mais danos ou sequelas irreversíveis devido ao
atendimento despreparado.
São descritos também alguns tratamentos hospitalares para conscientizar as equipes de
emergência quanto aos procedimentos posteriores ao encaminhamento das vítimas à área
hospitalar.

A Autora

13
Editora trica -Atendimento Pré-Hospitalar: Treinamento da Brigada de Emergência do Suporte Básico ao Avançado- Márcia Vílma G. de Moraes - i• Edição
14 Atendimento Pré-Hospitalar - Treinamoito da Brigada de Emergência do Suporte Básico ao Avançado

Editora ~rica - Atendimento Pré-Hospitalar. Treinamento da Brigada de Emergência do Suporte Básico ao Avançado - Márcia Vllma G. de Moraes - 1• Edição
Sobre a autora

Márcia Vilma Gonçalves de Moraes é especialista em enfermagem do trabalho. Exerceu


o cargo de enfermeira do trabalho em usina de açúcar e álcool de Sertãozinho por 12 anos. É
autora dos livros Enfermagem do Trabalho: Programas, Procedimentos e Técnicas, publicado
em 2007, Sistematização da Assistência de Enfermagem em Saúde do Trabalhador, publicado
em 2008, e Doenças Ocupacionais -Agentes: Físico, Químico, Biológico, Ergonôrnico, publica-
do ern 2010, todos pela Editora Iátria.
Atualmente é docente em cursos de Técnico de Segurança do Trabalho, em cursos de
pós-graduação em Engenharia de Segurança do Trabalho e pós-graduação em Enfermagem
do Trabalho.

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Editora ~rica - Atendimento Pré-Hospitalar. Treinamento da Brigada de Emergência do Suporte Básico ao Avançado - Márcia Vllma G. de Moraes - 1• Edição
Lista de termos médicos

Amhllopia: visão de apenas um olho.


Anoxia: diminuição acentuada da concentração de oxigênio a nível celular.
Apneia: ausência da respiração.
Asfixia: condição patológica causada pela falta de oxigênio, rnanifestada na ces-
sação real ou impedimento da vida.
Bradicardia: frequência cardíaca baixa, normalmente abaixo de 60 batimentos por
minuto.
Cefaleia: dor de cabeça.
Cervicalgia: dor na região cervical.
Cianose: descoloração azulada ou púrpura da pele e membranas mucosas devido
a um aumento na quantidade de hemoglobina desoxigenada no sangue
ou um defeito estrutural na molécula de hemoglobina.
Diplopia: visão dupla.
Dispneia: dificuldade de respirar.
Edema: quantidade excessiva de líquido aquoso acumulado nos espaços interce-
lulares, mais comumente presente em tecido subcutâneo.
Emergência: situação clínica em que existe a necessidade imediata de assistência mé-
dica em virtude de existência de risco de morte.
Equimose: extravasamento de sangue para a pele, resultando em uma mancha azul
ou púrpura, redonda não elevada ou irregular, maior que uma petéquia.
Hematoma: coleção sanguínea devido ao rompimento de vasos sanguíneos, forman-
do uma tumefação bem definida.
Hepatopatia: doença do fígado.
Hiperglicemia: aumento anormal do nível de glicemia, além do intervalo normal (apro-
ximadamente 70 a 150 mg/100 mi de plasma).
Hipertensão: pressão arterial alta. Os níveis limiares normalmente aceitáveis são
140 mmHg de pressão sistólica e 90 mmHg de pressão diastólica.
Hiperventilação: ritmo de ventilação pulmonar mais rápido do que é metabolicamente
necessário para a troca de gases.
Hipogllcemia: nível anormalmente baixo da glicemia. I-Iipoglicemia clínica cem diversas
etiologias. Hipoglicemia grave eventualmente leva à privação do sistema
nervoso central resultando em fome, sudorese, parestesia, deficiência da
função mental, ataques, coma e até morte.
Hipotensão: pressão arterial baixa.
Hipotennia: queda da temperatura corporal.

16 Atendimento Pré-Hospitalar - Treinamento da Brigada de Emergência do Suporle Básico ao Avançado


Editora ~rica - Atendimento Pré·Hospltalar. Treinamento da Brigada de Emergência do Suporte Básico ao Avançado - Márcia Vllrna G. de Moraes - 1• Edição
mpoventilação: redução na quantidade de ar entrando nos alvéolos pulmonares.
Hipovolemla: diminuição do volume sanguíneo.
Hipoxia: baixos níveis de oxigênio nas células.
leucopenia: diminuição do número de glóbulos brancos no sangue.
Necrose: processo de degeneração que leva à destruição de uma célula ou de um
determinado tecido, geralmente pela falta de nutrientes carregados pelo
sangue.
Otorragia: hemorragia pelo conduto auditivo externo.
Palidez: estado de pálido; falta de coloração da pele.
Paraplegia: perda severa ou completa da função motora nas extremidades inferiores
e porções superiores do tronco.
Parestesia: sensações cutâneas subjetivas (exemplo: frio, calor, formigamento,
pressão etc.) que são vivenciadas espontaneamente na ausência de
estimulação.
Polidipsia: sede constante, exagerada, levando à ingestão sucessiva de líquidos.
Poliúria: eliminação de uma grande quantidade de urina com um aumento na
frequência urinária.
Priapismo: ereção peniana prolongada, não associada com estimulação sexual.
Ptose palpebral: queda da pálpebra.
Pupila anisocórica: pupilas com tamanhos diferentes.
Pupila isocórica: pupilas do mesmo tamanho.
Pupila midriática: dilatação da pupila que indica morte cerebral.
Pupila reagente: pupila que reage ao estímulo da luz.
Rinorragia: hemorragia nasal.
Septsemia: infecção produzida por um germe capaz de provocar uma resposta infla-
matória em todo o organismo.
Sequelas: lesão orgânica ou distúrbio funcional que persiste após o fim de uma
doença ou traumatismo.
Sialorreia: produção excessiva de saliva; hipersialose.
Sibilo: ruído respiratório que é observado em casos de estenose de bronquío-
los e brônquios, agudo, como um chiado, audível principalmente na
expiração, em casos de asma brônquica, bronquites e bronquiolites.
Sinais: evidência objetiva de doença.
Sintomas: evidência subjetiva de doença.
Socorro avançado: são os procedimentos invasivos.
Socorro básico: são os procedimentos não invasivos.
Sudorese: suor abundante com perda de água e eletrólitos.

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Editora ~rica - Atendimento Pré-Hospitalar. Treinamento da Brigada de Emergência do Suporte Básico ao Avançado - Márcia Vllrna G. de Moraes - 1• Edição
Taquicardia: aumento da frequência cardíaca, nonnalmente acima de 100 batimentos
por minuto.
Taquipneia: aceleração do ritmo respiratório.
Tetraplegia: paralisia dos quatros membros.
Urgência: situação clínica em que há necessidade de assistência médica em curro
prazo, porém sem implicar em risco de morre imediato para o paciente.
Vasoconstrição: diminuição do calibre de um vaso sanguíneo.
Vasodilatação: aumento do calibre de um vaso sanguíneo.
Visceras: sinônimo de órgãos.

Fonte: Dicionário Digital de Termos Médicos 2007. Disponível em:


http://www.pdamed.com.br/ diciomed/ pdamed_0001_15590.php

18 Atendimento Pré-Hospitalar - Treinamento da Brigada de Emergência do Suporle Básico ao Avançado


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Introdução

Segundo dados do anuário estatístico dos acidentes de


trabalho de 2008 no Brasil, o nú1nero de acid.entes de trabalho
liquidados atingiu 764,9 mil acidentes, o que correspondeu a
um acréscimo de 12,2% em relação a 2007. São considerados
acidentes de trabalho os acidentes típicos de trajeto e doenças
ocupacionais, e 8QO;ó dos acidentes de trabalho são acidentes tí-
picos que geralmente ocorrem dentro de uma empresa, podendo
ser leves ou graves.
Os trabalhos de grande risco devem ser controlados confonne
exigência de normas regulamentadoras ou outras legislações. Nesses
trabalhos, se não controlados com rigor, podem ocorrer acidentes gra-
ves com risco de morte do trabalhador como trabalho em altura, espaço
confinado, eletricidade. As vítimas desses acidentes são geralmente gra-
ves e devem ter equipes preparadas na empresa para resgatar e atendê-las
imediatamente.
Grande parte das indústrias lida com produtos inflamáveis, explosivos,
tóxicos e perigosos, que devem ser controlados rigorosamente, mas quando
ocorre algum incidente com esses produtos, é acionada uma brigada geral
contando com trabalhadores treinados para controle ilnediato do sinistro
até que um suporte externo chegue ao local, como o corpo de bo1nbeiros.
A destruição por um sinistro pode ser de pequena ou grande monta, o que
depende de equipes preparadas para atender a esses sinistros imediata1nente,
minimizando danos ao patrimônio da empresa, resguardando o atendimento
imediato aos trabalhadores vítimas do sinistro e também minimizando algum
tipo de dano ambiental e à comunidade na qual a empresa está situada.
Mesmo nas empresas situadas em áreas urbanas, o acionamento para
atendilnento de emergências pelo corpo de bombeiros pode levar em méclia
dez minutos. Nesse tempo muita coisa pode ocorrer e se a empresa possuir
uma brigada preparada e treinada para o atendimento, muitas vidas podem
ser salvas e muitos incêndios controlados antes que tomem proporções de
difícil controle.

Editora ~rica -Atendimento Pré-Hospitalar. Treinamento da Brigada de Emergência do Suporte Básico ao Avançado - Márcia Vllrna G. de Moraes - 1• Edição
1.1 Atendimento pré-hospitalar (APH)
O sistema de emergência pré-hospitalar no Brasil surgiu em 1986 com a criação do Grupo
de Socorros de Emergência do Corpo de Bombeiros do Rio de janeiro. O Ministério da Saúde
através da Portaria nº 814 GM de 01 de junho de 2001 considerou como atendimento pré-
-hospitalar os procedimentos prestados à vítima nos primeiros minutos após ter ocorrido o
agravo a sua saúde de natureza traumática ou não traumática ou ainda psiquiátrica, que possa
levar a sofrimento, sequelas ou mesmo à morte. (BRASIL, 2001)
Portanto, APH são procedimentos de emergência para atender, ainda no local do acidente,
as vítunas de trauma, ou emergências clínicas, garantindo a segurança do local, avaliando o
estado da vítima, estabilizando os sinais vitais, imobilizando e transportando para a unidade
hospitalar mais adequada.
O APH é realizado por meio de duas modalidades:
a Suporte básico de vida (SBV): que se caracteriza por não realizar manobras invasivas,
realizado por socorristas treinados. O SBV dentro da empresa pode ser prestado por
trabalhadores treinados para essa finalidade como os brigadistas de emergência, ou
outros trabalhadores treinados para prestar atendimento em pri1neiros socorros como
os previstos na NR7.
a Suporte avançado de vida (SAV): que possibilita procedimentos invasivos de suporte
ventilatório e circulatório, realizados por equipes de médicos e enfermagem. Muitas
empresas, principalmente as de grande porte ou grau de risco 3 e 4 (conforme NR4) ou
aquelas que se localizam longe de perunetros urbanos, mantêm ambu latórios médicos
com equipe de médicos e enfermagem em sistema de plantão algumas até de 24 horas.
Essa equipe bem treinada pode, sem dúvida, atender as emergências ocorridas com
trabalhadores, como emergências clínicas, acidente de trabalho ou sinistros com víti-
mas. Para isso, esses profissionais devem estar atentos aos treinamentos e reciclagem
sobre protocolos para atendimento em suporte avançado de vida.
Existem alguns modelos de APH, como o francês, cuja figura central é o médico, sendo a
filosofia de atendimento o deslocamento do médico até a vítima, realizando grande parte do
atendimento no próprio local, e o modelo americano cuja figura central é o paramédico, em
que a filosofia de atendimento a vítima em menor tempo possível é que a primeira interven-
ção seja feita pelo paramédico, enquanto o médico aguarda o paciente no hospital.

1.2 O que é brigada


O Ministério do Trabalho e Emprego, por meio da Norma Regulamentadora NR23 -
Proteção contra incêndios, determina a criação de uma brigada de incêndio. Essa brigada
é basicamente um grupo organizado de trabalhadores especialmente capacitados para atuar
numa área previamente estabelecida, na prevenção, abandono e combate a 11m prin-
cípio de incêndio, e aptos a prestar os primeiros socorros a possíveis vítimas.
A Associação Brasileira de ormas Técnicas, pela ABNT NBR 14.276:2006, estabelece
os requisitos mínimos para composição, formação, implantação e reciclagem das brigadas,
preparando para atuar na prevenção e controle do principio de incêndio, abandono de área

20 Atendimento Pré-Hospitalar - Treinamento da Brigada de Emergência do Suporle Básico ao Avançado


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e primeiros socorros, visando em caso de sinistro proteger a vida e o patrimônio, reduzir as
consequências sociais do sinistro e os danos ao meio ambiente.
No estado de São Paulo, o Decreto Estadual 46.076, de 31 de agosto de 2001, regulamento
de segurança contra incêndios das edificações e áreas de risco, descreve como brigadista
aquele que, pertencente à população fixa do local objeto da proteção, recebe treinamento e
está capacitado a exercer, sem exclusividade, as atividades básicas de prevenção e com.bate
a incêndios, assim como no atendimento a emergências setoriais. (SECRETARIA DO ESTADO
DE SÃO PAULO)
Os brigadistas após treinamento e avaliação estão aptos a prestar primeiros socorros às
possíveis vítimas, mantendo ou restabelecendo suas funções vitais com o Suporte Básico de
Vida até que se obtenha o socorro especializado.

1.3 Seleção dos candidatos para brigada


Conforme a Instrução Técnica n° 17/2004, os trabalhadores candidatos a brigadista devem
atender alguns critérios básicos para seleção, entre eles:
a Permanecer na edificação: não deve ser selecionado para brigadista trabalhador que
executa suas funções externamente, pois numa ocorrência de sinistro ele estará fora da
empresa, dificultando o atendimento imediato ao sinistro.
a Experiência anterior como brigadista: trabalhadores que já foram brigadiscas em
outras empresas devem ter preferência na seleção a brigadista.
a Ter bom condicionamento tisico e boa saúde: cada empresa deve possuir por
escrito critérios para seleção quanto ao condicionamento físico e exames médicos dos
candidatos a brigadistas.
a Conhecimento das instalações: o candidato a brigadista deve ter um bom conheci-
mento de todas as instalações da empresa, pois isso facilita no deslocamento da equipe
para atendimento ao sinistro.
a Ter responsabilidade legal: o candidato a brigadista deve ser responsável por seus
atos. Deve ser cobrada sua presença nos treinamentos e simulados realizados e sua
avaliação deve ser constante através de provas escritas e práticas.
a Ser alfabetizado: o candidato a brigadista deve pelo menos possu ir o 1° grau comple-
to do ensino fundamental, pois ele deve passar por provas escritas.

1.4 Exames a serem realizados para seleção de


candidatos a brigadista
As legislações vigentes não determinam os exames específicos para avaliação inicial e pe-
riódica dos brigadistas, ficando a critério dos médicos de cada empresa. Em algumas empresas
os brigadistas de emergência passam por exames específicos, podendo ser anual ou bianual.
(ALVES, 2009)

Introdução 21
Editora ~rica - Atendimento Pré-Hospitalar. Treinamento da Brigada de Emergência do Suporte Básico ao Avançado - Márcia Vllrna G. de Moraes - 1• Edição
Dentre os exames temos:
a Avaliação pulmonar: teste de função pulmonar, como espirometria e raios X de
tórax.
a Avaliação cardiológica: teste ergométrico, eletrocardiograma (ECG).
a Avaliação ortopédica: exame ortopédico como teste para avaliar flexão e extensão
do punho, cotovelo, joelho, mobilidade da mão, teste para avaliar movimentação,
flexão e extensão da coluna, rotação do pescoço, prova de contrarresistência para
avaliar força do músculo deltoide e trapézio. (MORAES, 2008)
a Avaliação psicológica: testes específicos para avaliação do estado emocional.
a Avaliação do condicionamento tisico: teste de resistência.
a Avaliação clinica: peso, altura, INlC (índice de massa corporal), teste rápido de equi-
líbrio, co1no teste estático - Romberg, teste de marcha - Babinski-Weill, teste rápido de
coordenação como prova de índex-nariz e prova índex-joelho. (MORAES, 2008)
a Exames laboratoriais: metabólicos: exame de glicemia, hematológico: exame de
hemograma, lipídico: colesterol total e triglicérides, entre outros de acordo com o risco
avaliado dentro da planta da empresa.
Os exames médicos para selecionar e determinar o bom estado de saúde do brigadista
tomam-se parte importante durante a seleção e a avaliação periódica dos brigadistas.
Após afastamento por doença ou acidente de trabalho o brigadista deve passar por ava-
liação médica para determinar se está apto para retomo às atividades de brigadista. Caso
esteja inapto para a função de brigadista, ele se desliga da brigada temporariamente ou
definitivamente exercendo suas funções laborais de contrato.
O Nlinistério do Trabalho e Emprego, pela norma regulamentadora NR33 - Segurança e
Saúde nos Trabalhos em Espaço Confmado, determina que o socorrista que prestar salvamen-
to em espaço confinado deve possuir aptidão física e mental compatível com a atividade a
desempenhar, portanto exames psicológicos e condicionamento físico tomam-se necessários.

1.5 Como treinar os brigadistas para resgate


Os brigadistas devem receber treinamentos e reciclagem anual. Os que integram a equipe
de emergência devem receber treinamentos de profissionais especializados da área de APH.
Os treinamentos devem ser mesclados entre internos com a equipe do próprio SESMET da
empresa, enfermeiros do trabalho, médico do trabalho, técnico de enfennagem do trabalho e
também passar por treinamentos externos com instituições públicas ou privadas que mantêm
cursos de formação de brigadista.

22 Atendimento Pré-HospiJalar - Treinamento da Brigada de Emergência do Suporte Básico ao Avançado


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1.6 Materiais para maleta da equipe de
suporte básico - Socorrista
É bom lembrar que as maletas de primeiros socorros da empresa para uso da equipe de
emergência da brigada, quando acionada para prestar atendimento em suporte básico de
vida, não devem portar medicamentos ou outros equipamentos de uso invasivo e exclusivo
do suporte avançado.
Alguns inateriais devem ser básicos na composição da maleta. A quantidade desses mate-
riais deve ser avaliada pela equipe de emergência. Muitos materiais possuem prazo de vali-
dade, principalmente os estéreis, por isso deve ser indicado u1n responsável para reposição e
verificação das validades dos materiais.
A lista dos materiais que devem compor a maleta de emergência para atendimento do
suporte básico de vida é apresentada em seguida:
a Faixas crepes vários tamanhos
a Esparadrapo
a Gazes esterilizadas e compressas esterilizadas
a Manta alu1ninizada
• Plástico protetor estéril para uso em eviscerações e queimaduras
a Soro fisiológico 0,9%
a Colar cervical P, M, G
a Imobilizador de cabeça
a Talas moldáveis de diversos tamanhos
a Tesoura ponta romba
a Lanterna pequena
a Kit de tirantes para imobilização
a Pranchas
a Equipa1nentos de Proteção Individual: luvas de procedimento, óculos, máscara, avental
descartável em número suficiente para equipe de atendimento

1.7 Materiais para maleta da equipe de suporte


avançado - Equipes médica e de enfermagem
Além dos materiais citados na maleta do suporte básico, a maleta do suporte avançado
deve conter materiais para procedimentos invasivos, pois o médico está presente. Portanto,
deve conter:
a Nlateriais para punção venosa (intracath, scalp)
a Soro fisiológico, soro glicosado e ringer com lacto

Introdução 23
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a Medicações de emergência como adrenalina, lidocaína, atropina, ampolas de água
destilada
a Materiais para entubação (cânula endotraqueal de vários tamanhos, laringoscópio com
conjunto de cânulas, fio guia, adaptador para cânula, cadarço para fixação da cânula)
a Unidade bolsa valva máscara - Ambu
a Material para cricotiroidostomia
a Cilindro de oxigênio e vácuo para aspiração
a Sondas de aspiração traqueal
a Conjunto de cânula Guedel
a Máscara com reservatório
a Oximetro de pulso
a Glicosímetro
a Seringas e agulhas
a Conjunto para drenagem torácica
a Material para punção intraóssea
a Garrotes
a Equipo macro e microgotas
a Lâmina de bisturi
a Esfigmomanômetro e estetoscópio
Esses materiais devem ficar sob a responsabilidade da enfermagem tanto a guarda como
a reposição e verificação da validade dos materiais e medica1nentos. Alguns materiais devem
ser verificados semanalmente para não haver falhas quando forem utilizados na emergência,
como as pilhas do laringoscópio, curf das cânulas endotraqueais.

1.8 Uso dos equipamentos de proteção individual (EPI)


para atendimento a vítimas
Em todo atendimento realizado pela equipe de brigadista da empresa, assi1n como qual-
quer outro socorrista, os equipamentos de proteção individual não podem faltar, pois somen-
te com o uso dos EPis é possível evitar contato direto com sangue, saliva, fluidos corporais.
Deve-se utilizar como EPls luvas descartáveis, óculos de segurança, 1náscaras descartáveis e
avental longo descartável.
O uso dos EPTs reduz o risco de transmissão de doenças através do contato com sangue
da vítimas como a hepatite B, hepatite C e vírus do HIV (vírus transmissor da Aids). Os
brigadistas devem receber vacinação contra hepatite B que consta de três doses (O, 30 e 180
dias) e contra tétano com três doses e reforço a cada dez anos, mantendo o calendário de
vacinação em dia.

24 Atendimento Pré-HospiJalar - Treinamento da Brigada de Emergência do Suporte Básico ao Avançado


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A Figura 1.1 ilustra os EPis necessários ao brigadista de emergência.

Figura 1. 7: Brigadista de emergência com os EP/s necessários para sua proteção.

1.9 Cuidados com EPls - Colocação, retirada e guarda


Os brigadistas devem ser treinados quanto à colocação correta dos EPis como luvas de
procedimento, óculos, máscara descartável e avental descartável.
Após o atendimento das vítimas o brigadista deve prevenir qualquer contaminação com
a retirada dos EPis utilizados que agora estão contaminados com sangue ou outros fluidos
da vítima. É preciso observar urna sequência para retirada desses EPis, iniciando com a
retirada das luvas, depois os óculos, a máscara e por último o avental. Esses EPis devem ser
descartados em sacos brancos com identificação "resíduos contaminados", exceto os óculos
que devem passar por processo de desinfecção e guardados para próximo uso.
A Figura 1.2 descreve a sequência correta para retirada das luvas após uso.

Figura 1.2: Sequência para retirada das lwas de procedimento após o uso.

Introdução 25
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1.1 OZona de trabalho para atendimento a vítimas
As áreas envolvidas numa operação de situação crítica são classificadas de três fonnas,
sendo zona quente, zona morna e zona fria. Esta classificação detennina quem entra nessa
área, quais os equipamentos de proteção individual necessários e quais atividades serão
permitidas. (BRASIL, Secretaria do Estado de São Paulo, 2010)
A Figura 1.3 representa as zonas de trabalho.

Zona Fria

Zona
Quente

Zona
Morna Ponto
de Área de
acesso concentração
de vitimas

Figura 1.3: Representação das zonas de trabalho.

a Zona quente: é detenninada pelo local que sofreu mais ação do sinistro. Nessa área
está envolvida a maior parte das operações de risco e complexidade.
u Zona morna: intennediária entre a área quente e a fria. Nessa área os brigadistas
se equipam, repassam as orientações e as últimas verificações de segurança antes de
adentrarem a zona quente. Em sinistro de vazamento de produto químico, essa ãrea é
o local do corredor de descontaminação.
a Zona fria: é a área que abriga os recursos de apoio às atividades das demais áreas,
co1no posto de co1nando ou Siste1na de Comando Operacional (SCO), área de reunião,
área de concentração de vítimas, base de apoio, que darão suporte às atividades. As
exigências de segurança são menores nessa área, pois representa risco menor em
relação às demais áreas.
Dentro da zona de trabalho, a zona fria é a ãrea em que será realizado o atendimento a
vítimas na Área de Concentração de Vítimas (ACV) onde estarão concentradas as vítimas no
aguardo do momento para o transporte hospitalar. A equipe de resgate inicia a condução
das vítimas para essa área de maneira ordenada de acordo com a gravidade. As vítimas serão
constantemente monitoradas e reclassificadas pela equipe de suporte avançado.

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1.11 Classificação das ambulâncias
A Portaria n° 2048/GM, de 05 de novembro de 2002, define os veículos de atendimento
pré-hospitalar móvel, as ambulâncias, como veículos (terrestre, aéreo ou aquaviário) que se
destinam exclusivamente ao transporte de enfermos. (BRASIL, 2002).
As ambulâncias são classificadas em:
a Tipo A - A.mb11lãncia de Transporte: veículo destinado ao transporte em decúbito
horizontal de pacientes que não apresentam risco de 1norte para remoções simples e
de caráter eletivo.
a Tipo B - Ambulância de Suporte Básico: veículo destinado ao transporte inter-
-hospitalar de pacientes co1n risco de vida conl1ecido e ao atendimento pré-hospitalar
de pacientes com risco de morte desconhecido, não classificado com potencial de neces-
sitar de intervenção médica no local e/ou durante transporte até o serviço de destino.
a Tipo C - Ambulância de Resgate: veículo de atendimento de urgências pré-hospita-
lares de pacientes vítimas de acidentes ou pacientes em locais de difícil acesso, com
equipamentos de salvamento (terrestre, aquático e em alturas).
a Tipo D - Ambulância de Suporte Avançado: veículo destinado ao atendimento e
transporte de pacientes de alto risco em emergências pré-hospitalares e/ou de trans-
porte inter-hospitalar que necessitam de cuidados médicos intensivos. Deve contar
com os equipamentos médicos necessários para essa função.
a Tipo E - Aeronave de Transporte Médico: aeronave de asa fixa ou rotativa utilizada
para transporte inter-hospitalar de pacientes e aeronave de asa rotativa para ações
de resgate, dotada de equipamentos médicos homologados pelo Departamento de
Aviação Civil (DAC).
a Tipo F - Embarcação de Transporte Médico: veículo motorizado aquaviário, desti-
nado ao transporte por via marítima ou fluvial. Deve possuir os equipamentos médicos
necessários ao atendimento de pacientes conforme sua gravidade.
As empresas, ao adquirirem ambulâncias, devem seguir as di1nensões e outras
especificações às nonnas da ABNT - NBR 14561/ 2000, de julho de 2000. Geralmente as
empresas adquirem ambulâncias do tipo A ou B, as quais devem dispor no mínimo de:
a Tipo A: sinalizador óptico e acústico; equipamento de radiocomunicação em contato
per1nanente co1n a central reguladora; maca co1n rodas; suporte para soro e oxigênio
medicinal.
a Tipo B: sinalizador óptico e acústico; equipamento de radiocomunicação fixo e móvel;
maca articulada e com rodas; suporte para soro; instalação de rede de oxigênio com
cilindro, válvula, manômetro em local de fácil visualização e régua com dupla saída;
oxigênio com régua tripla (a: alimentação do respirador, b: fluxômetro e umidificador
de oxigênio e c: aspirador tipo Venturi); manômetro e fluxômetro com máscara e
chicote para oxigenação; cilindro de oxigênio portátil com válvula; maleta de urgência
contendo estetoscópio adulto e infantil, ressuscitador manual adulto/infantil, cânulas
orofaríngeas de tamanhos variados, luvas descartáveis, tesoura reta com ponta rom-
ba, esparadrapo, esfigmomanômetro adulto/ infantil, ataduras de 15 cm, compressas

Introdução 27
Editora ~rica - Atendimento Pré-Hospitalar. Treinamento da Brigada de Emergência do Suporte Básico ao Avançado - Márcia Vllrna G. de Moraes - 1• Edição
cir(1rgicas estéreis, pacotes de gaze estéril, protetores para queimados ou eviscerados,
cateteres para oxigenação e aspiração de vários tamanhos; maleta de parto contendo
luvas cirúrgicas, clamps umbilicais, estilete estéril para corte do cordão, saco plástico
para placenta, cobertor, compressas cirúrgicas e gazes estéreis, braceletes de identifica-
ção; suporte para soro; prancha curta e longa para imobilização de coluna; talas para
imobilização de membros e conjunto de colares cervicais; colete imobilizador dorsal;
frascos de soro fisiológico e ringer lactaco; bandagens triangulares; cobertores; coletes
refletivas para a tripulação; lanterna de mão; óculos, máscaras e aventais de proteção
e maletas com medicações a serem deftnidas em protocolos, pelos serviços.
A tripulação das ambulâncias deve ser treinada e composta por:
a Tipo A: dois profissionais, sendo um o motorista e o outro um técnico ou auxiliar de
enfennagem.
a Tipo B: dois profissionais, sendo um motorista e um técnico ou auxiliar de enfermagem.
ão existe1n legislações que determinem a obrigatoriedade de empresas possuírem am-
bulância própria, poré1n, dependendo do número de trabalhadores, localização da empresa e
grau de risco (NR4), torna-se essencial a existência de uma ambulância própria para agilizar o
atendimento dos trabalhadores e encaminhamento precoce para a área hospitalar.
Algumas empresas mantêm contrato com serviço de atendimento pré-hospitalar básico
e avançado com ambulâncias privadas, não dependendo somente de ambulâncias públicas
como SAMU (Serviço de Atendimento Móvel de Urgência) ou corpo de bombeiros, porém em
algumas situações somente a equipe do corpo de bombeiros estará preparada para o resgate,
principalmente quanto a resgate em espaço confmado, altura e produtos perigosos.

1.12 Acidente de trabalho com evidência de óbito


A 1norte e a cessação dos fenômenos vitais, por parada das funções cerebral, respiratória
e circulatória, com surgimento dos fenômenos abióticos, lentos e progressivos, causam lesões
irreversíveis nos órgãos e tecidos.
Para a medicina legal a modalidade da morte é dividida em:
a Morte aparente: estados patológicos do organismo simulam a morte, podendo durar
horas, sendo possível a recuperação pelo emprego imediato e adequado de socorro
médico. São casos de vítimas inconscientes.
a Morte relativa: estado em que ocorre parada efetiva e duradora das funções cir-
culatórias, respiratórias e nervosas, associada à cianose e palidez marmórea, porém
acontecendo a reanimação com manobras terapêuticas. São casos de vítimas de parada
cardiorrespiratória.
a Morte absoluta ou morte real: estado que se caracteriza pelo desaparecimento de-
finitivo de toda atividade biológica do organismo, podendo-se dizer que parece uma
decomposição.

28 Atendimento Pré-HospiLalar - Treinamento da Brigada de Emergência do Suporle Básico ao Avançado


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1:1 Morte violenta: aquela que resulta de ação exógena e lesiva, mesmo tardiamente no
organismo; ocorre em razão de práticas criminosas ou acidentais e na infortunística
(acidentes de trabalho), podendo ser morte acidental, morte criminosa, morte voluntá-
ria ou suicídio. São casos de vítimas decapitadas, esmagadas, esfaqueadas, enforcadas,
baleadas.
Nos países em que existe o APH são reconhecidos três tipos de morte:
a Morte clínica: são casos de vítimas em parada cardiorrespiratória, midríase paralítica
após 30 segundos da parada cardíaca. Manobras adequadas de reanimação regridem
a midríase, podendo ser reversível. Para profissionais não médicos, após o início de
manobras de reanimação cardíaca no pré-hospitalar, recomenda-se que não haja in-
terrupção durante o transporte até o hospital, onde o médico to1nará a decisão de
interromper ou não as manobras de reanimação. Portanto, somente o médico pode
tomar essa decisão de parar as manobras de reani1nação.
1:1 Morte biológica: equivale à morte encefálica com características de morte das células
encefálicas, manobras adequadas de reanimação que não regridem a midríase.
1:1 Morte óbvia: diversos estados que indiretamente definem uma situação de morte
encefálica como evidente estado de decomposição, decapitação ou segmentada no
tronco, esmagadura, carbonização, esmagamento de crânio. O rigor mortis inicia-se
entre 1 a 6 horas pelos músculos da mastigação e avança da cabeça aos pés atingindo o
máximo entre 6 a 24 horas. O livor mortis compreende a estase sanguínea; dependen-
do da posição do cadáver, manifesta-se entre 1 hora e 30 minutos a 2 horas, atingindo
o seu máximo entre 8 e 12 horas.
A Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNf), NBR 14280:2001, que se aplica a
qualquer atividade laboral, fixa critérios para o registro, comunicação, estatística, investigação
e análise dos acidentes de trabalho, devendo ser analisadas suas causas e consequências.
O anuário estatístico da Previdência Social de 2008 registrou 2.757 óbitos entre os traba-
lhadores. Comparado com o ano de 2007 houve uma redução de 3,1%, porém os casos de
incapacidade pennanente em 2008 registrados totalizam 12.071, que comparado com 2007
mostra um aumento de 28,6%. (BRASIL, 2008)
Entre os acidentes de trabalho ocorridos com óbito do trabalhador, em alguns casos o
óbito ocorreu dentro da empresa por morte violenta. Nesses casos a empresa, de acordo com
a Lei 8.213/91, art. 22, deve comunicar de imediato a autoridade competente, sob pena de
multa. Consideram-se autoridades públicas reconhecidas para tal finalidade os magistrados
em geral, os 1nembros do Ministério Público e dos Serviços Jurídicos da União e dos Estados,
os comandantes de unidades militares do Exército, da Marinha, da Aeronáutica e das Forças
Auxiliares (corpo de bombeiros e Polícia Militar), prefeitos, delegados de polícia, diretores de
hospitais e de asilos oficiais e servidores da administração direta e indireta fedef',11, estadual,
do Distrito Federal ou municipal, quando investidos de função.
A brigada de emergência nos casos de morte evidente (vítima decapitada, esmagada)
não deve mexer na vítima e sim aguardar a polícia para o preenchimento do Boletim de
Ocorrência (BO) e da perícia técnica.

Introdução 29
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O Ministério do Trabalho e Emprego, por meio da Norma Regulamentadora 29 - Segurança
e Saúde no Trabalho Portuário, determina que os acidentes fatais, assim como acidentes de
grande monta, ocorridos a bordo das embarcações devem ser comunicados imediatamente
à Capitania dos Portos, a suas delegacias e agências e ao órgão regional do Ministério do
Trabalho e Emprego pelo responsável pela embarcação.

Exercícios
1. Defina suporte básico e suporte avançado de vida.
2. Qual a fmalidade dos EPis no atendimento a vítimas?
3. Como são classificadas as zonas de trabalho? Qual a finalidade dessa classificação?

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Avaliação do Cenário e
Abordagem da Vítima

2.1 O que é e como realizar a


avaliação do cenário
O socorrista é o primeiro elo da cadeia de sobrevivência,
pois quando acontece um acidente de trabalho ou mal súbito
dentro da empresa, é ele que chega primeiro para atender a vítima
e chamar ajuda. Antes de abordar a vítima o socorrista deve avaliar
o cenário do local onde a vítima se encontra. Em nenhtun momento
a equipe de emergência deve se expor a risco e ser mais uma vítima.
A avaliação do cenário é o estudo rápido dos diferentes fatores
relacionados à ocorrência e indispensáveis para a tomada de decisão.
Essa avaliação deve seguir três passos:
1. Qual a situação? O que se vê; número de vítimas.
2. Para onde vai? Análise da potencialidade ou evolução da situação.
Exemplo: combustível derramado pode explodir? Presença de fio
energizado? Fogo que pode alastrar? Vazamento de produto químico?
3. O que fazer para controlar? Os recursos a serem empregados, que
tipo de ajuda deve solicitar.

2.2 Acionamento da ajuda ao telefone


Ao chamar ajuda, o socorrista deve informar a quem vai pedir socorro pelo
telefone, a situação do acidente, ou seja, tipo de acidente se é um incêndio,
vazamento de produto químico, soterramento. Também é importante informar
o número de vítimas e a situação das vítimas para que a equipe de socorro
especializada chegue em menor tempo possível e com os equipamentos ne-
cessários, como no caso de resgate em altura.

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2.3 Passos para abordagem da vítima
A capacidade de avaliar rapidamente a urgência e a aplicação imediata dos procedimentos
de primeiros socorros são determinantes para a estabilizar a vítima.
Mesmo que o seu papel seja limitado e temporário, o socorrista nunca deve deixar a
vítima sozinha antes da chegada do socorro, pois ele deve se responsabilizar pela vítima
até a chegada de equipe especializada, como bombeiros, médicos, enfermeiros. As ações da
equipe de emergência são:
a Priorizar a sua segurança pessoal.
a Sinalizar o local do acidente.
a Fornecer à vítima conforto e segurança.
a Abordar a vítima com tranquilidade e calma.
a Utilizar to1n de voz moderada, sobretudo inspirar confiança.

2.4 Abordagem primária rápida


É a avaliação primária rápida que deve ser completada no máximo em 30 segundos, tendo
por objetivo avaliar as condições de risco de morte e o início precoce cio suporte básico de
vida, assim como passar as informações sobre as vítimas para as ajudas externas a serem
chamadas. Deve observar os seguintes passos:
a Responsividade: o socorrista, sempre ao abordar a vítima, deve aproximar-se e ajoe-
lhar próximo da cabeça dela. Se a vítima estiver quieta, o primeiro passo é verificar a
responsividade, colocando a mão sobre os ombros da vítima e chamando por ela. Se
ela responder, você escá diante de uma vítima consciente (existe respiração e as vias
aéreas estão pérvias); se ela não responder, você escá diante de uma vítima incons-
ciente, Figura 2.1.

Figura 2.1: Verificação de responsividade na vítima.

a Respiração e pulso: simultaneamente é preciso verificar o pulso carotídeo e a respiração.


a Exame rápido: verificar rapidamente da cabeça aos pés sinal de hemorragias ou
grandes deforrnidades.

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1:1 Passar as informações: para quem for acionar o auxílio do suporte avançado (ambu-
lância SAMU, bombeiro, convênio com ambulâncias de resgate).

2.5 Abordagem primária completa - ABCDE


Existe um método sequencial para avaliar a vítima, o ABCDE, em que são definidas as
medidas específicas de avaliação e as intervenções correspondentes a serem adotadas.
Técnica A, B, C, D, E:
1:1 A - Abrir vias aéreas: com proteção da coluna cervical.
a B - Respiração: ver, ouvir, sentir.
a C - Circulação: verificar pulso carotídeo por dez segundos e controlar hemorragias
externas.
n D - Avaliar estado neurológico: nível de consciência.
n E - Exposição da vítima: retirar vestimentas, sempre que possível cortar na costura;
controlar o ambiente, evitando a hlpotermia e utilizar manta aluminizada.
Durante toda a abordagem da vítima o controle cervical deve ser mantido, pois sempre se
deve suspeitar em toda vítima de trauma de lesão de coluna cervical. Somente deve passar
para o próximo item se completar o passo anterior, ou seja, só passar para o passo 11 8 11 após
terminar o passo "A" e assim por diante.

A - Abertura das vias aéreas


Se a vítima comunica-se verbalmente é porque as vias aéreas estão penneáveis e a respira-
ção presente. Se a vítima não responde, o socorrista deve avaliar sinais de obstrução das vias
aéreas corno corpos estranhos.
Existem duas técnicas para abertura das vias aéreas:
1:1 Jaw trust: consiste na anteriorização da mandíbula. Deve ser empregada em vítimas
de trauma, pois mantém a estabilidade da coluna cervical, Figura 2.2.
1:1 Schint lift: hiperextensão do pescoço e elevação do mento. Deve ser empregada em
vítimas de emergências clínicas em que não há suspeita de lesão cervical, Figura 2.3.

Figura 2.2: Abertura das vias aéreas pela Figura 2.3: Abertura das vias aéreas pela técnica
técnica Jaw trust (vítimas de trauma). Schinl fifi (vítimas em emergêndas clínicas).

Avaliação do Cenário e Abordagem da Vítima 33


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B - Respiração
Após a abertura das vias aéreas, o socor-
rista deve verificar se a respiração da vítima
está presente. Deve soltar cintas e expor o
abdômen da vítima, levantando ou abrindo a
vestimenta, facilitando a visualização da ex-
pansão abdominal; isso é o VER. Para OUVIR
o ruído da saída de ar o socorrista deve
aproximar sua cabeça da face da vítima. Para
SENTIR se há saída de ar pela boca ou nariz,
o socorrista deve colocar seu dedo indicador
próximo à narina da vítima, sentindo a saída
Figura 2.4: VerificaçJo da respiração: ver, ouvir, sentir.
do ar exalado, Figura 2.4.

Caso a vítima apresente respiração, deve-se verificar a frequência respiratória por intermé-
dio do ritmo, profundidade e som, refletindo o estado metabólico do corpo, a condição do
diafrag1na e dos 1núsculos do tórax, fornecendo 0 2 ao trato respiratório e alvéolos. O padrão
de frequência respiratória em adulto é de 16 a 20 mov/1nin. Os tipos de respiração são os
seguintes:
u Apneia: é a ausência da respiração, quadro da parada cardiorrespiratória.
a Dispneia: falta de ar, clificuldade em respirar.
Para verificar a respiração, basta contar o número de vezes que ocorre a expansão do
abdômen em um minuto. Como a respiração, em certo grau, está sujeita ao controle involun-
tário, ela deve ser contada sem que o paciente perceba. Coloque os dedos no pulso como se
estivesse verificando o pulso e observe a respiração.
O socorrista deve certificar-se de que os passos 11A11 e 11B11 não seja1n interrompidos e passar
para o passo 11C11 •

C - Circulação
Após verificar a respiração, o socorrista deve verificar a presença de circulação através da
pulsação e perfusão distal. A presença de grandes hemorragias deve ser controlada nesta fase,
realizando compressão direta do ferimento. Devem também ser avaliados sinais de choque
hipovolêmico (ver capítulo 3).
~ Verificação do pulso: pulso é o nome que se dá à dilatação pequena e sensível das
artérias, produzida pela corrente circulatória. Toda vez que o sangue é lançado do
ventrículo esquerdo do coração para a artéria aorta, a pressão e o volume provocam
osci lações ritmadas em toda a extensão da parede arterial, evidenciadas quando se
comprime moderadamente a artéria contra uma estrutura dura (os dedos).
Pode-se verificar o pulso sobre a artéria radial (pulso do braço). Num quadro de emergên-
cia o pulso radial apresenta-se muito fino, tomando-se mais fácil a verificação em artérias mais
calibrosas como a carótida (pescoço) e femoral (virilha). Outras artérias, como a braquial,
poplítea e a do dorso do pé (artéria pediosa), podem também ser utilizadas para a verificação.
As Figuras 2.5, 2.6 e 2.7 demonstram os locais de verificação do pulso.

34 Atendimento Pré-Hospitalar - Treinamento da Brigada de Emergência do Suporle Básico ao Avançado


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A frequência do pulso em homens é de 6o a 70, em mulher de 65 a 80, em crianças de
120 a 125 e em recém-nascidos de 125 a 130. A regularidade do pulso pode ser rítmica, bate
com regularidade, e arrítmica, bate sem regularidade.
Para verificar o pulso basta pressionar de leve os dedos indicador e médio sobre o pulso
e contar por um minuto. Não deve ser utilizado o dedo polegar na verificação, pois pode
confundir a sua pulsação com a do paciente. Não fazer pressão forte sobre a artéria, pois isso
pode impedir de sentir o batimento do pulso.
Em vítimas conscientes verifica-se o pulso radial; em vítimas inconscientes deve ser sem-
pre verificado o pulso carotídeo (no pescoço) por dez segundos. Caso o pulso esteja ausente,
deve-se iniciar as manobras de reanimação cardiopulmonar (RCP). Veja o capítulo 2.

Figura 2.5: Verificação do pulso radial. Figura 2.6: Verificação do pulso carotídeo.

Figura 2.7: Verificação do pulso femural.

i:i Verificação da perfusão distal ou pre-


enchimento capilar: a perfusão distal é
avaliada pela técnica do preeenchi1nento
~

capilar. E realizada fazendo uma pressão na


base da unha de modo que a coloração passe
de rosada para pálida. Retirando-se a pres-
são a coloração rosada deve retomar num
tempo inferior a dois segundos. Se o tempo
ultrapassar dois segundos, é sinal de que a
perfusão distal está comprometida, portanto
é necessário oxigenar a vítima através do ci- Figura 2.8: Verificação da perfusão distal.
lindro de oxigênio medicinal, Figura 2.8.

Avaliação do Cenário e Abordagem da Vítima 35


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D - Nível de consciência
Após a verificação dos passos ABC, o socorrista deve verificar o nível de consciência da
vítima. As vítimas que não apresentem alterações do nível de consciência inicial, mas depois
passam a apresentar, indicam uma situação grave comparada a outras vítimas que apresenta-
vam alterações do nível de consciência, porém permanecem estáveis. O nível de consciência
deve ser medido junto com a avaliação neurológica rápida e o exame das pupilas.

Avaliação neurológica rápida (AVPI)


111 A: vítima está alerta, olhos abertos.
a V: vítima está adormecida e responde somente ao estímulo verbal.
a P: vítima permanece com olhos fechados e só abre quando recebe estímulo doloroso.
a 1: vítima não te1n nenhuma resposta a nenhum estímulo.
O estímulo doloroso pode ser feito com pressão dos dedos nas maçãs do rosto da vítima
ou friccionando o osso esterno ou apertando o músculo trapézio, Figura 2.9.
Caso a vítima tenha trauma, deve ser aplicada a avaliação do nível de consciência pela
escala de Glasgow (ver capítulo 4).

Resposta ao estimulo Resposta ao estímulo Resposta ao estimulo


doloroso na maçã do rosto doloroso no osso esterno doloroso no músculo trapézio

Figura 2.9: Verificação da resposta ao estímulo doloroso.

Exame das pupilas


Devem ser verificadas as pupilas com auxílio de uma lanterna pequena, Figura 2.10. As
pupilas desiguais são geralmente encontradas nas vítimas com lesões de crânio ou acidente
vascular cerebral. a morte, as pupilas estão totalmente dilatadas e não respondem à luz.
Deve-se observar a reatividade, igualdade e tamanho das pupilas como:
a Reação das pupilas à luz pode ser: reagente, ou seja, quando a luz é colocada sobre
a pupila, ela diminui de tamanho, ou não reagente, a qual não tem reação de contração
ao estímulo da luz.
a Simetria entre as pupilas pode ser: isocórica, quando as duas pupilas são iguais
(normal), ou anisocórica, quando uma pupila está com tamanho diferente da outra
(uma grande, outra pequena) indicando lesão cerebral.

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1:1 Tamanho das pupilas pode ser: midriática (midríase), quando ambas as pupilas
estão dilatadas ocupando toda a íris dos olhos, sinal que indica danos cerebrais e é
comum em vítimas de parada cardiorrespiratória, ou miótica (miose), quando ambas
as pupilas estão muito pequenas, do tamanho de uma cabeça de alfinete, indicando
principalmente o uso de substâncias como drogas, intoxicação.
As pupilas normais devem se apresentar isocóricas e reagentes.

Figura 2.10: Verificação das reações das pupilas.

E - Exposição da vítima
Após verificado o nível de consciên-
cia, deve-se expor a vítima para realizar a
abordagem secundária. Deve-se cortar as
vestimentas com tesoura ponta romba. Não
utilize tesoura de ponta fina, pois pode ferir
a vítima. Lembre-se de não expor desneces-
sariamente a vítima, Figura 2.11.

Figura 2.11: Exposição da vítima.

2.6 Abordagem secundária - Exame físico da vítima


Deve-se iniciar o exame secundário após o término da abordagem primária completa. Na
abordagem secundária a fina lidade e a estabilização das funções vitais.
O primeiro passo é colher a história clínica da vítima. Para isso emprega-se o método
A.t\1PLA:
1:1 A: perguntar à vítima sobre possíveis alergias.
1:1 M: perguntar sobre medicações que utiliza.
1:1 P: perguntar sobre doenças preexistentes como diabetes, hipertensão.

Avaliação do Cenário e Abordagem da Vítima 37


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a L: perguntar sobre alimentos e bebidas que ingeriu.
a A: perguntar sobre o acidente, como ocorreu, observando o ambiente.
Após colher a história clínica deve-se iniciar o exame físico detalhado da cabeça aos
pés. O socorrista não pode esquecer-se de reavaliar o ABCD durante o exame secundário,
principalmente em vítimas inconscientes.
A avaliação da vítima deve obedecer sempre a uma ordem:
1. Cabeça: palpar o crânio com os polegares fixos na região frontal (testa) sem movi-
mentar a cabeça. Observar perda de liquor ou sangue pelas narinas (rinorragia) e pela
orelha (otorragia). Observar equimose periorbitária (olhos de guaxinim) que indica
lesão cerebral de base do crânio. Retirar próteses móveis.
2. Pescoço: observar o alinhamento da traqueia se desviada e sinal de trauma torácico.
Palpar a coluna cervical, verificando alinhamento ou rigidez 1nuscular.
Após o exame do pescoço colocar o colar cervical.
3. Tórax: observar presença de ferimentos e simetria anatômica, pois em tr'&umas toráci-
cos um lado do peito fica mais alto em relação ao outro. Palpar as costelas e os ossos
da clavícula, observando crepitação que indica fratura das costelas.
4. Abdômen: inspecionar sinais de distensão e rigidez (abdômen em tábua) que indica
hemorragia interna (rompimento de baço).
5. Quadril: abrir e fechar as pernas devagar, avaliando mobilidade e queixa de dor. A
movimentação anormal indica fratura de quadril.
6. Membros inferiores: palpar com ambas as mãos da raiz das coxas até os pés, obser-
vando ferimento, deformidade que indiquem fraturas. Retirar botinas e meias cortando-
-as. Testar sensibilidade passando a ponta da caneta na sola dos pés e verificar a
perfusão distal ou preenchimento capilar (ver item "C" da abordagem primária).
7. Membros superiores: palpar com as mãos do ombro até as mãos, observando feri-
mentos, defonnidades que indiquem fraturas, verificar preenchimento capilar.
8. Dorso ou costas: realizar a manobra de rolamento a 90º (ver capítulo 4) para exami-
nar as costas. Observar alinhamento da coluna vertebral e ferimentos. Após o exame
rolar a vítima sobre a prancha e iniciar os curativos dos ferimentos encontrados e
imobilização das fraturas encontradas

Exercícios
1. O que é e como se realiza a avaliação do cenário?
2. O que é e qual o objetivo da abordagem primária rápida da vítima?
3. O que compreende a técnica ABCDE?
4. Como é feita a avaliação neurológica rápida (AVPI)?

38 Atendimento Pré-HospiLalar - Treinamento da Brigada de Emergência do Suporle Básico ao Avançado


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Assistência a Vítimas
em Emergência Clínica

3.1 Introdução
Os trabalhadores podem ser vítimas de doenças clinicas
dentro da c1npresa. Muitas vezes são portadores de doenças
preexistentes como diabetes, hipertensão, epilepsia, entre ou-
tras que num determinado momento podem desencadear uma
emergência clínica que a equipe de brigada de emergência deve
reconhecer através dos sinais e sintomas da vítima, para prestar
atendimento básico até que ela seja encamínhada ao hospital.

3.2 Acidente vascular cerebral (AVC)

3.2.1 Anatomia do cérebro


O cérebro humano encontra-se anatomicamente partido ao meio. Suas
duas metades, chamadas de hemisférios, são ligadas por um feixe de fibras
nervosas denominado corpo caloso. As vias nervosas se cruzam ao passar
do encéfaJo para a 1nedula, os centros do hemisfério direito comandam os
movilnentos do corpo do lado esquerdo e vice-versa.
O hemisfério direito do cérebro e o lado emocional e intuitivo é respon-
sável pela percepção espaciaJ, atividades artísticas, musicais e criatividade. O
hemisfério esquerdo é o lado racional e analítico e responsável pelo domínio
da linguagem, 1natemática e pensamento lógico. (TUNES, 2002)
As células cerebrais são chamadas de neurônios. Ao nascer, o cérebro já
contém o mesmo número de neurônios que terá quando adulto. No entanto,
esses neurônios ainda são muito pequenos e as fibras nervosas não estão
totalmente desenvolvidas para o estabelecimento de conexões nervosas. Por
isso, o cérebro de um recém-nascido pesa apenas 400 gramas, enquanto o
de um adulto chega a 1,4 kg no homem e 1,25 kg na muJher. (TUNES, 2002)

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O desenvolvimento das fibras nervosas só se completa à mecüda que a criança recebe
estímulos para tal. Portanto, quanto mais estímulos a criança receber mais sinapses terá no
cérebro.

3.2.2 Estrutura e os múltiplos papéis do cérebro


a Lobo frontal: atividades intelectuais, fala, coordenação muscular.
a Lobo parietal: recebe e analisa impulsos sensoriais vindos de várias partes do corpo.
a Lobo temporal: cencro da audição.
a Lobo occipital: centro da visão.
a Corpo caloso: feixe de fibras que une os hemisférios direito e esquerdo.
a TáJamo: transmite as percepções sensoriais ao córtex, à exceção das olfativas.
a Hipotálamo: controla as funções autônornas do corpo, endócrinas e órgãos internos.
a Sistema límbico: controla as percepções olfativas, as emoções e o movimento instin-
tivo (com as estruturas amígdala e hipocampo).
a Tronco encefálico: controla as atividades vitais basais, como a respiração e a
circulação.
a Cerebelo: controla o senso de equilibrio e os movimentos musculares.
A Figur-à 3.1 representa a estrutura do cérebro humano.

Sulco
lateral
lobo
temporal

Figura 3. 7: Estrutura cerebral (Cérebro Humano, 2007).

3.2.3 Definição e classificação do acidente vascular cerebral (AVC)


Também conhecido como derrame, o AVC é uma lesão cerebral causada por deficiência
do fluxo sanguíneo devido à obstrução ou ruptura de arteriais que nutrem o cérebro com
oxigênio. Indivíduos com problemas caraiacos, hipertensão, diabetes e fumantes são as prin-
cipais vítimas do AVC.
O AVC lesa apenas um lado do cérebro. Como os nervos no cérebro cruzam em direção
ao outro lado do corpo, os sintomas ocorrem no lado do corpo oposto ao lado lesado do
cérebro. A Figura 3.2 demonstra essa ocorrência.

40 Atendimento Pré-Hospitalar - Treinamento da Brigada de Emergência do Suporle Básico ao Avançado


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As sequelas da lesão poclem ir de paralisia facial e de membros, a dificuldades de fala,
distúrbios auditivos e visuais, perda de memória e até a morte.

Cruzamento ---\-1-1
dos nervos

Lado com
sintomas

Figura 3. 2: Local do AVC e lado do corpo lesado (Portal São Francisco).

3.2.4 Tipos de acidente vascular cerebral


O AVC pode ser de dois cipos:
a Acidente vascular cerebral isquêmico (AVCI): é quando um vaso sanguíneo é
bloqueado por um acúmulo de gordura dentro da artéria cerebral (ateroma) ou por
coágulo que obstrui o vaso sanguíneo ou ainda proveniente de outra fonte, em geral
do coração, que n'ligrou para o cérebro (embolia cerebral). É o mais comum e ocorre
em 85% dos casos.
a Acidente vascular cerebral hemorrágico (AVCH): é resultado da ruptura de um
vaso sanguíneo no cérebro, impedindo o fluxo de sangue normal e permitindo que
ele extravase para áreas do cérebro. Pode ser adjacente ao cérebro (hemorragia suba-
racnóidea) ou dentro da massa encefálica. Nestes casos a pressão intracraniana torna o
quadro mais grave. Este tipo de AVC ocorre em 15% dos casos.

3.2.5 Sinais e sintomas


O indivíduo com quadro de AVC vai apresentar sinais e sintomas como:
a Alterações do nível de consciência;
a Alterações da fala;
a Alterações do equilíbrio;
a Alterações da sensibilidade, força e tônus muscular;
a Alterações da visão e pupilas;

Assistência a Vítimas em Emergência Clinica 41


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a Dor de cabeça intensa com deficit neurológico;
a Náuseas e vômitos.

3.2.6 Avaliação inicial da vítima


Para uma avaliação pré-hospitalar o socorrista pode utilizar a Escala Pré-Hospitalar de
Cincinnati, Tabela 3.1, que consiste em avaliar face, braços e fala. Se o paciente apresentar
um achado alterado, tem 72% de probabilidade de ser AVC; se houver as três alterações, a
chance de ser AVC é de 85%.

Tabela 3. 1: Escala Pré-Hospitalar de Cincinnati.

Sinais e sintomas Como testar 1 Normal Alterado


Um dos lados da face não
Pede-se para o paciente Ambos os lados da face
Queda facial se inove tão bem quanto o
mostrar os dentes e sorrir movem-se norn1ahnente
outro lado (desvio de rima)
Pedir para o paciente
Ambos os braços Um braço não se move
Debilidade fechar os olhos e manter
mantêm-se esticados ou ou cai mais compar<1do
dos braços os braços estendidos na
com movimentos iguais ao outro (paresia)
frente do corpo
Pede-se para o paciente l Usa as palavras corretas Usa palavras inelegíveis,
Fala anormal dizer "o rato roeu a roupa , . cl incorretas ou não
d d com pronunaas aras
o rei e Roma" consegue falar

3.2.7 Atendimento a vítimas pela equipe de emergência


de suporte básico
O socorrista deve:
ti Chamar pela vítima, pois pode haver desmaio inicial ao AVC.
t1 Verificar A, B, C.
ti Avaliar o nível de consciência e escala de Cincinnati, marcar o horário que iniciou os
primeiros sinais e sintomas.
n Observar os sinais vitais, o pulso e a respiração com frequência.
ti Providenciar transporte para o hospital.

3.2.8 Atendimento a vítimas pela equipe de emergência


de suporte avançado
a Avaliar escala de Cincinnati.
a Avaliar nível de consciência (escala de Glasgow: se menor que 8, providenciar material
para encubação).

42 Atendimento Pré-Hospitalar - Treinamento da Brigada de Emergência do Suporle Básico ao Avançado


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a Verificar pulso e pressão arterial.
a Instalar cateter de 0 2•
a Instalar oxímetro de pulso.
a ~Ianter acesso venoso.
a Seguir orientações médicas quanto a medicamentos.
a Acompanhar o paciente ao hospital na ambulância.

3.3 lnfarte agudo do miocárdio (IAM)

3.3.1 Anatomia do coração - Artérias coronarianas


O coração é u1n órgão muscular localizado abaixo do osso anterior do tórax (cha1nado de
esterno). Tem aproximadamente o tamanho de um punho de um adulto fechado. O coração
pesa em média 350 g e bombeia cinco litros de sangue por minuto e1n repouso e oito litros
de sangue por minuto e1n esforço físico. Compõe-se de dois sistemas de bombeamento
independentes, um do lado direito e outro do lado esquerdo, compostos por quatro câmaras,
dois átrios e dois ventrículos.
Assim como todo órgão o coração necessita de oxigênio e nutrientes. Ele recebe o oxi-
gênio através das arteriais coronarianas. As duas arteriais coronarianas se constituem nos
primeiros ramos da artéria aorta, sendo a artéria coronariana direita e a artéria coronariana
esquerda. A coronária direita se encarrega da irrigação do átrio e ventrículo direitos e dos nós
sinusal e acrioventricular, enquanto a coronária esquerda é responsável pela irrigação de uma
parede lateral do ventrículo esquerdo, átrio esquerdo.
A Figura 3.3 representa as artérias coronarianas.

.__ Artéria coronária


Artéria do esquerda
nós1nusa1U
_,.,.,,-- Artéria
~ círcunflexa
Artéria~
coronária direita - Ramo marginal
........._ obtuso
Artéria _ ___.- "--- Artéria descendente
do nóAV ~anterior

Ramo ---.J Ramo diagonal


marginal
agudo Artéria descendente
posterior

Figura 3.3: Artérias coronarianas responsáveis pela nutrição do coração.


(Fonte: http://boasaude.uol.com.br/libsupport/figures/corac.ao3.htm)

Assistência a Vítimas em Emergência Clinica 43


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3.3.2 Definição e sintomas do infarte agudo do miocárdio (IAM)
O infarto agudo do miocárdio (IAM), também conhecido como ataque cardíaco, é um
dano ao músculo do coração, causado por uma redução ou falta no suprimento de sangue
em uma determinada área do coração.
A obstrução da artéria coronariana é causada mais frequentemente pela formação de
um coágulo sanguíneo sobre uma placa aterosclerótica (ateroma) no interior das artérias
coronárias, Figura 3.4.
Existem alguns fatores de risco para o IAM, entre eles temos tabagismo, obesidade, altos
níveis de colesterol, sedentarismo. Os sintomas mais comuns que a vítima de infarto apresenta
são:
a Dor precordial intensa com duração maior que 20 minutos, que tende a aumentar de
intensidade até se tornar insuportável, irradiando-se para pescoço, mancHbula, mem-
bros superiores, principalmente o esquerdo e dorso.
a Suor frio e abundante.
a Náuseas e vô1nitos.
a Hipotensão ou hipertensão.
a Palidez.
a Dispneia acompanhada de sensação de opressão e incômodo ou aceleração cio ritmo
respiratório.
a Ansiedade, inquietação e aceleração ou diminuição do ritmo do batimento cardíaco.
Os sintomas dependeram da extensão do infarto, porém indivíduos que apresentam área
necrosada que supera os 40% da massa ventricular esquerda têm alto risco de evoluírem com
disfunção ventricular, levando à parada cardiorrespiratória.

Arte na
coronária

Depósito de
colesterol
Infarto do
miocárdio

Capa fibrosa
delgada

Ruptura da placa Trombo ou coágulo


aterosclerótica que obstrui a luz
da artéria coronária

Figura 3.4: Formação de placa de gordura (ateroma) e obstrução da artéria coronariana.


(Fonte: http://www.afh.bio.br/cardio/cardio4.asp)

44 Atendimento Pré-Hospitalar - Treinamento da Brigada de Emergência do Suporle Básico ao Avançado


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3.3.3 Atendimento a vítimas com IAM pela equipe de emergência
de suporte básico
O socorrista deve:
a Tranquilizar a vítima.
a Verificar A, B, C.
a Observar os sinais vitais, o pulso e a respiração; se ausentes, iniciar manobra de
reaniinação cardiopulmonar (RCP).
a Providenciar transporte para hospital, de preferência sem uso de sirene para não cau-
sar ansiedade.

3.3.4 Atendimento a vítimas com IAM pela equipe de emergência


de suporte avançado
J:i Avaliar nível de consciência (escala de Glasgow; se menor que 8, providenciar material
paFa entubação).
~ Verificar pulso e pressão a1terial.
J:i Instalar cateter de 0 2•
a Instalar oxímetro de pulso.
~ Seguir orientações médicas quanto a medicamentos trombolíticos tenecteplase ou es-
treptoquinase, entre outras drogas como nitrato 5 a 15 mg subHngual, AAS 100 a 300 mg
sublingual, morfina 2 mg EV.
a Acompanhar o paciente ao hospital na ambulãncia, de preferência sem uso de sirene
para não causar ansiedade.
Estudo realizado demonstrou que o tempo decorrido entre o início dos sintomas e a
terapia trombolítica ainda é um dos fatores detenninantes de mortalidade do IAM. Apesar
dos avanços nos recursos tecnológicos, a média entre os primeiros sinto1nas e uso da terapia
trombolítica é de 2,5 a 3 horas. No atendimento pré-hospitalar o trombolítico tenecteplase é o
mais utilizado por ser o único trombolítico em bolo disponível no Brasil, sendo uma condição
que viabiliza a administração fora do ambiente hospitalar. A estreptoquinase é o trombolítico
utilizado no ambiente hospitalar por ser de menor preço. (ARAUJO et ai., 2008)
O tratamento definitivo para IAM é a angioplastia com ou sem implantação do stent.
Em 49 a 76o/o de pacientes com IAM os eletrocardiogramas (ECG) não ajudam no diagnós-
tico, e lOOA> apresentam ECG normal. Por isso a confirmação do IAM depende da detecção de
marcadores bioquímicos ele necrose miocárdica e são utilizadas também as chamadas enzimas
cardíacas. São elas: (GAMARSKI)
a CPK - creatina fosfoquinase: os níveis aumentados indicam infarto do miocárdio,
lesão da musculatura cardíaca ou esquelética, doença muscular cardíaca congênita,
acidente vascular cerebral, injeções intramusculares, hipotireoidismo, doenças infec-
ciosas, embolia pulmonar, hipertermia maligna, convulsões generalizadas, neoplasias
de próstata, vesícula e trato gastrintestinal.

Assistência a Vítimas em Emergência Clinica 45


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a CK-MB: é uma isoenzima da creatina fosfoquinase (CPK) que corresponde à enzima
liberada pelo músculo cardíaco. Essa enzima eleva-se quando ocorre isquemia em uma
determinada região do músculo cardíaco. No IAM os valores dessa enzina podem estar
superiores a 16 U/L e entre 4% a 25% do valor de CPK total. Os danos no miocãrdio
originam a liberação transitória de CKMB para a circulação. Esse aumento de CKMB
atinge o auge entre 12 e 24 horas, depois regressa ao normal dentro de 48 a 72 horas.
a TGO - transaminase glutâmico oxaloacética: no IAM o aumento do TGO está liga-
do à necrose de células miocárdicas. A elevação é geralmente moderada, raramente
chegando a atingir dez vezes o limite superior normal. A elevação da TGO aparece
entre a sexta e a décima segunda horas após o episódio de dor, atinge seu nível
máximo em 24 a 48 horas, e o seu retomo ao normal se processa entre o quarto e o
sétitno dia após o episódio de dor.
a Troponina T: representa um complexo proteico envolvido no processo de contração
muscular. Essa enzima é liberada no sangue a partir de 2 a 8 horas após a lesão do
miocárdio. Os valores se elevam por um período de 2 horas a 14 dias após o infarto.

3.4 Síncope ou desmaio


Caracteriza-se por qualquer tipo de perda de consciência de curta duração que não neces-
site manobras de reanimação. A causa fundamental de um desmaio é a diminuição da ativida-
de cerebral. Para manter a oxigenação cerebral o corpo se desliga, mantendo um metabolismo
basal (mínima atividade com mínimo gasto de energia) O desmaio tem várias causas como:
a Queda súbita da pressão arterial - hipotensão: por motivos de dor, emoção, esfor-
ço físico, ambiente fechado, cena com sangue, calor excessivo.
a Queda dos níveis de glicose no sangue - hipoglicemia: geralmente ocorrem com
indivíduos que não se alimentaram, ou pessoas que estão fazendo regiJnes sem orien-
tação, ou em indivíduos diabéticos.

3.4.1 Atendimento a vítimas com desmaio pela equipe de


emergência de suporte básico
O desmaio surge geralmente quando a vítima está em pé. O paciente pode apresentar-se
pálido, frio, com respiração suspirosa; após alguns minutos ocon·e tontura, visão embaraçada
e súbita perda de consciência.
Ao perceber esses sintomas, o socorrista deve:
a Sentar a vítirna e colocar sua cabeça entre as pernas, fazendo uma pressão com as
mãos na nuca.
a Se a vítima já estiver ao chão, elevar os membros inferiores mais ou menos 20 cm.
a Verificar pulso radial e respiração.
a Desapertar cintas e roupas.
a 1 ão dar nada para a vítima comer ou beber.
a Encaminhar para avaliação médica mesmo que a vítima tenha melhorado.

46 Atendimento Pré-HospiLalar - Treinamento da Brigada de Emergência do Suporle Básico ao Avançado


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3.4.2 Atendimento a vítimas com desmaio pela equipe de
emergência de suporte avançado
r:i Realizar todas as manobras descritas no suporte básico.
r:i Instalar oxímetro de pulso.
r:i Realizar teste de glicemia com glicosúnetro.
r:i Verificar pressão arterial.
r:i Manter acesso venoso.
r:i Aplicar medicações conforme prescrição médica, como glicose hipertônica em caso
de 11ipoglicemia.

3.5 Diabetes mellitus


A diabetes é um grupo de doenças metabólicas de evolução crônica em que o organismo
é incapaz de produzir energia através da glicose devido à diminuição ou ausência da insulina.
A insulina é um hormônio produzido pelo pâncreas com a função de permitir a entrada de
glicose nas células. Se a insulina estiver ausente, a glicose se acumula na circulação (hiper-
glicemia) e a célula não recebe glicose, sofrendo danos. As células do sistema nervoso, os
neurônios, são muito sensíveis à ausência de glicose e são as primeiras células a sofrer.
A palavra mellitus é de origem latina que quer dizer mel ou adocicado, devido à urina do
diabético ser doce.
Estima-se que no mundo 285 milhões de pessoas sofram de diabetes e que nos próximos
20 anos deve aumentar para 438 milhões. O Brasil está entre os dez países com maior inci-
dência do mundo. Alguns fatores aumentam o risco do desenvolvimento da diabetes, sendo
a obesidade e o sedentarismo os principais fatores. (PIRES)
Existem dois tipos de diabetes, sendo o diabetes tipo 1 que compreende cerca de lOOA> do
total de casos, e o diabetes tipo 2 que compreende cerca de 90% do total de casos.
O diabetes tipo 1 ocorre de forma rápida, principalmente em crianças e adolescentes. Esse
tipo caracteriza-se pela ausência ou muito pouca produção de insulina. O tratamento desses
portadores é a insulina injetável diária, por isso são chamados de insulinodependentes.
O diabetes tipo 2 é cerca de oito a dez vezes mais comum que o tipo 1. Há uma grande
relação co1n a obesidade e o sedentarismo (600A> a 900A> dos portadores são obesos). A incidência
é maior após os 40 anos. Nesse tipo de diabetes o pâncreas não deixa de produzir a insulina, o
problema está na incapacidade das células musculares e adiposas em abso1ver e metabolizar a
glicose suficiente da corrente sanguínea, ficando o indivíduo com hiperglicemia e a perda dessa
glicose pela urina. O tratamento da diabete tipo 2 geralmente é com dieta e exercícios físicos, e
algumas vezes são necessários medicamentos hipoglicemiantes orais. Somente indivíduos com
diabetes tipo 2 não controlada vão necessitar de insulina. (BRASIL, 2006)
Os sinais e sintomas iniciais da diabetes são sede intensa, aumento do volume urinário,
perda de peso, fraqueza, fadiga, nervosismo, mudança de humor, prurido (coceira cutânea).
(BRASIL, 2006)

Assistência a Vítimas em Emergência Clinica 47


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O exame que determina se o indivíduo tem diabetes é o de sangue, a glicemia de jejum
(10 a 12 horas). Os valores normais da glicemia são índices menores que 110 mg/dL; índices
maiores de 126 mg/dL são considerados alterados e indicativos de diabetes. (BRASIL, 2006)

3.5.1 Quadro de emergência com diabetes mellitus


O portador de diabetes que não faz uso correto da medicação ou não se alimentar cor-
retamente pode apresentar quadro de emergência clínica, como a cetoacidose e a hipoglice-
mia, podendo levar ao coma diabético.
A cetoacidose ocorre particularmente em indivíduos com diabetes tipo 1, sendo algumas
vezes a primeira 1nanifestação da doença. O diabetes tipo 2, que mantém uma reserva pan-
creática de insulina, rara1nente desenvolve essa complicação. Os sintomas são polidipsia
(sede intensa), poliúria (aumento do volume urinário), hálito cetónico (odor alho), fadiga,
visão turva, náuseas e vômitos, dor abdo1ninal, hiperventilação (respiração rápida) e altera-
ções do estado 1nental.
A hipoglicemia é a diminuição dos níveis glicêmicos com valores abaixo de 60 a 70 mg/dL.
Geralmente a hipoglicemia leva a sintomas iniciais como sudorese, cefaleia, tremores, sen-
sação desagradável de apreensão. Esses sintomas podem se agravar, surgindo outros corno
fraqueza, taquicardia (pulso rápido), convulsão e coma.

3.5.2 Atendimento a vítimas com quadro de hipoglicemia pela


equipe de emergência de suporte básico
a Verificar o ABC.
n Obter informações da história clínica da vítima, se é portador de diabete, se usa insu-
lina e se o faz corretamente; se alimentou-se.
n Em caso de vítima consciente, oferecer água com açúcar.
a Se a vítilna estiver inconsciente, verificar constantemente pulso radial e respiração, não
oferecendo nada via oral.
a Transportar a víti1na para hospital, em caso de vô1nitos transportá-la em decúbito
lateral esquerdo.

3.5.3 Atendimento a vítimas com quadro de hipoglicemia pela


equipe de emergência de suporte avançado
a Instalar oxímetro de pulso.
a Realizar teste de glicemia com glicosírnetro.
n Vítima consciente com glicemia > 60 mg/dL, fornecer água com açúcar.
a Vítima que não consegue engolir, colocar açúcar ou mel embaixo da língua ou entre a
gengiva e a bochecha e levá-la.

48 Atendimento Pré-HospiLalar - Treinamento da Brigada de Emergência do Suporle Básico ao Avançado


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a Verificar pressão arterial.
a Manter acesso venoso.
a Aplicar medicações conforme prescrição medica glicose hipertônica.

3.6 Parada cardiorrespiratória (PCR)


As manobras para reanimação cardiopulmonar nem sempre foram como as que atual-
mente se pratica. Para chegar a essas manobras de massagem cardíaca e ventilação da vítima,
muitas foram as técnicas estudadas e aplicadas para reanimar vítimas.
Paracelsus, em 1530, foi o primeiro a utilizar foles de lareira para introduzir ar nos pul-
mões de indivíduos aparentemente mortos. Durante 300 anos foram usadas adaptações desse
método por toda a Europa. (AUGUSTO, 2009)
O método do barril foi utilizado em 1773. Colocava-se a vítima sobre um barril e movi-
mentava-se o barril para frente e para trás. Quando a vítima vinha para frente, a pressão sobre
o tórax permitia a inspiração; quando ela ia para trás, o peso do corpo comprimia o tórax
induzindo à expiração. (AUGUSTO, 2009)
Em 1812, utilizou-se na Europa o método do cavalo em trote para reanimar vítimas de
afogamento. O contato do corpo da vítima co1n o dorso do cavalo fazia com que o tórax
fosse comprimido, expelindo ar, o balanço do dorso do cavalo expandia o tórax, permitindo
a entrada de ar nos pulmões. (AUGUSTO, 2009)
O atendimento da PCR somente foi estabelecido em 1960 por Peter Safar, médico aneste-
sista e intensivista que desenvolveu a técnica de reanimação, combinando a respiração boca
a boca com a compressão torácica, técnica utilizada por todo o mundo nos atendimentos de
primeiros socorros. Peter Safar também criou a UTI Unidade de Terapia Intensiva, e contribuiu
com a criação de procedimentos sistematizados do atendimento, desenvolvendo o Advanced
Cardiologic Cardiac Support (ACLS), ou Suporte Avançado de Vida em Cardiologia (SAVC).
Peter Safer morreu aos 79 anos, em agosto de 2003. (REGATIERI)
A PCR é a interrupção súbita da atividade mecânica ventricular, útil e suficiente, e da
respiração; morte clínica: falta de movimentos respiratórios e batimentos cardíacos eficientes
na ausência de consciência, com viabilidade cerebral e biológica; morte biológica irreversível:
deterioração irreversível dos órgãos, que se segue à morte clínica, quando não se instituem
as manobras de RCR; morte encefálica (frequentemente referida como morte cerebral): ocorre
quando há lesão irreversível do tronco e do córtex cerebral, por injúria direta ou falta de
oxigenação, por um tempo, em geral, superior a 5 minutos em adulto com normotermia.
A cada minuto de parada cardiorrespiratória a vítima perde l()O;ó de chance de sobreviver
e muito poucas vítimas sobrevivem além dos dez minutos de parada cardiorrespiratória sem
atendimento, lembrando que o cérebro sobrevive até seis minutos sem oxigênio.
Em adultos as doenças coronarianas como o IAM são as principais causas de PCR. Os
acidentes com choque elétrico também podem levar a uma PCR. Em nosso país, a doença de
Chagas, por levar a importantes distúrbios elétricos no coração, também tem papel deflagra-
dor de levar a PCR.

Assistência a Vítimas em Emergência Clinica 49


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3.6.1 Atividade elétrica do coração
O coração é o órgão encarregado de gerar a energia necessária para fazer o sangue circu-
lar para os pulmões e para todos os órgãos do corpo, graças a uma sequência de contrações
organizadas em suas câmaras controladas pelos impulsos elétricos.
Existem três grupos de células que podem comandar naturalmente o ritmo do coração. O
nó sinuatrial ou sinusal também chamado de marcapasso natural do coração define o ritmo no
qual o coração bate. É responsável pela maior frequência de 60 a 100 batimentos por minuto.
Em forma de vírgula de cerca de 1 a 2 cm de extensão e 2 a 3 mm de espessura localiza-se
na junção entre a veia cava superior e o átrio direito.
O nó atrioventricular, localizado na junção dos átrios direito e esquerdo, é capaz de formar
impulsos co1n frequência em torno de 50 bpm. A partir do nó atrioventricular o impulso
elétrico viaja ao longo do feixe de His e se ramifica nos feixes direito e esquerdo, onde se
espalha rapidamente usando as fibras de Purkinje para os músculos dos ventrículos direito
e esquerdo, que se contraem ao mes1no tempo pressionando o sangue a sair de dentro dos
ventrículos. Na ausência do impulso, o coração relaxa e volta a se expandir, permitindo que
o sangue penetre no seu interior.
As fibras do músculo cardíaco têm capacidade de responder a detennínados estímulos,
tendo a ação de contrair em resposta a esses estímulos, portanto o coração pode ser excitaclo
por estímulos elétricos (descarga elétrica do desfibrilador), mecânicos (massagem cardíaca),
químicos (medicações como adrenalina, atropina).
A Figura 3.5 demonstra o esquema de condução elétrica cio coração e a localização do nó
sinusa1 no atrioventricular e feixe de His.

Feixe de H1s

Nódulo atrioventricular

Figura 3.5: Condução elétrica do coração. (Fonte: AVANCINI e FAVAREITO, 1997)

3.6.2 Novo protocolo para reanimação cardiopulmonar no suporte


básico de vida (SBV)
Os protocolos de atendimento em emergência cardíaca e procedimentos ele reanima-
ção cardiopulmonar são atualizados a cada cinco anos durante o Simpósio de Emergências
Cardiovasculares e Ressuscitação. A última grande mudança dos algoritmos do suporte básico
de vida (SBV) ocorreu no final de 2005, destacando o papel da massagem cardíaca externa no

50 Atendimento Pré-Hospitalar - Treinamento da Brigada de Emergência do Suporle Básico ao Avançado


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atendimento inicial das paraclas cardiorrespiratórias, aumentanclo de 15 para 30 compressões
, .
torac1cas.
Estudo realizado no Arizona (Estados Unidos) concluiu que o índice de sobrevivência
com alta hospitalar quando utilizado o método de reanimação com auxílio da respiração boca
a boca foi de 90A> e aumentou para 25% quando apenas a massagem cardíaca foi adotada.
Outro escudo realizado no Kansas, Missouri, concluiu que o percentual de sobrevivência
saltou de 15o/o para 520/o, quando a ventilação artificial não foi empregada na reanimação. Com
isso a taxa de sobrevivência em média é crês vezes maior nos pacientes submetidos apenas a
compressão torácica. (GALARÇA, 2010)
Apoiados em vários trabalhos que mostraram a ineficiência da ventilação artificial (boca
a boca) prestada por socorristas não médicos, os comitês de reanimação ao redor do mundo
estão preconizando a simples retirada deste item dos protocolos do suporte básico de vida.
A maior parte das PCRs fora do ambiente hospitalar acontece por fibrilação ventricular
secundária a eventos cardiovasculares. Geralmente, param com o sangue oxigenado. Então,
é mais lógico fazer esse sangue oxigenado circular com a massagem cardíaca externa (MCE)
do que intercalar a ventilação artificial.
A ênfase agora é na massagem cardíaca externa (MCE) executada na suspeita de parada
cárdica, ou seja, verifica a respiração; quando ausente, inicia imediatamente a massagem
cardíaca externa, não perdendo tempo em procurar pulso ou confirmando sua ausência. Em
adultos deve ser realizada numa frequência não inferior a 100 vezes por minuto e, idealmente,
causando uma depressão torácica de 3 a 5 cm a cada compressão.
ES5a mudança de conduta faz parte das novas diretrizes da Aliança Internacional dos
Comitês de Res.5uscitação (ILCOR), que passam a valer em 2010, no mundo todo, as quais
sugerem que a compressão torácica deve ser realizada sem interrupções, principalmente nos
dez primeiros minutos no processo de reanimação. (GALARÇA, 2010).
O suporte básico de vida (SBV) realizado por socorristas passa, a partir de 2010, a não rea-
lizar mais a ventilação artificial (boca a boca) no resgate dispensado por equipes não médicas.

3.6.3 Atendimento em parada cardiorrespiratória pela equipe do


suporte básico de vida
n Avaliar a rcsponsividade.
n Chamar por ajuda ou suporte avançado de vida com desfibrilador.
n Iniciar o A, B, C.
n Realizar técnica A: abrir vias aéreas.
n Realizar técnica B: ver, ouvir sentir respiração por dez segundos, na ausência da res-
piração (apneia).
a Colocar a vítima em decúbito dorsal sobre uma superfície dura e plana.
11 Realizar compressões cardíacas traçando entre as linhas dos mamilos, colocar uma
mão sobre a outra entrelaçando os dedos que devem ser mantidos esticados, colocar
a região hipotenar da mão no centro do tórax entre as linhas dos mamilos, Figura 3.6.

Assistência a Vítimas em Emergência Clinica 51


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Posição das mãos Local da massagem cardíaca externa

Figura 3.6: Posição das mãos para executar a massagem cardíaca.

a Realizar a compressão torácica com os


braços esticados e com o peso do cor-
po voltado contra a vítima , Figura 3.7.
a Os cotovelos do socorrista devem ficar
estendidos durante a realização da ma-
nobra de reanimação. Fazer a compres-
são com certo vigor numa frequência
de 100 movimentos por minuto e uma
depressão torácica entre 3 a 5 cm a fim
de abaixar o osso esterno. Figura 3.7: Técnica para execução da massagem cardíaca.

a Realizar a massagem cardíaca sem interrupção até a chegada da equipe de suporte


avançado.
Se no local existir o DEA, instalar na vítima assim que verificar ausência de respiração
e iniciar a massagem cardíaca. Seguir os passos descritos no item Protocolo para uso do
desfibrilador externo automático (DEA).

3.6.4 Atendimento em parada cardiorrespiratória pela equipe do


suporte avançado de vida
Existem protocolos preconizados pela American Heart Association (AI IA) co1no Basic Life
Suport (BSL) e o Advanced Cardiology Llfe Suport (ACLS) e também um protocolo de atendi-
mento universal para Reanimação Carcliorrespiratória (RCP), sendo protocolos universalizados
no atendimento de emergência ao paciente cardiovascular grave. O protocolo para RCP é:
(COSTA, 2006 e PROTOCOLO EM PARADA CARDÍACA, 2007)
ll Verificar A, B, C.
ll Preparar material para entubaçâo, técnica realizada pelo médico.

52 Atendimento Pré-Hospitalar - Treinamento da Brigada de Emergência do Suporle Básico ao Avançado


Editora ~rica - Atendimento Pré-Hospitalar. Treinamento da Brigada de Emergência do Suporte Básico ao Avançado - Márcia Vllma G. de Moraes - 1• Edição
a Após a inserção da cânula orotraqueal, deve-se inflar o cuff com pressão adequada e
verificar o posicionamento correto com ausculta dos quatro campos pulmonares (bases
direita e esquerda, ápices direito e esquerdo) e o foco gástrico para descartar-se entu-
bação esofágica. Certificar-se de que a cânula está correta e fixá-la com uso de cadarço.
a Realiz.ar compressões torácicas inintenuptamente a uma frequência de 100 compres-
sões por minuto e as ventilações pela bolsa valva-máscara (Ambu) a uma frequência de
8 a 10 por minuto ininterruptamente conectado ao oxigênio. Manter fluxo de oxigênio
a 15 litros, Figura 3.7.
a Obter acesso venoso, de preferência a veia anticubital, e conectar solução salina.
til Instalar desfibrilador externo automático (OEA). Muitos DEA são monitor/ desfibrilador
identificando os ritmos cardíacos, facilitando ao medico a conduta das drogas.
a Em ritmo de fibrilação ventricular (FV) e taquicardia ventricular (TV) sem pulso pre-
sente no monitor, aplicar um choque de 360 joules em desfibriladores monofásicos.
Imediatamente após reassumir as compressões torácicas; sequência do ritmo FV/TV:
choque~ compressão torácica e ventilação~ adrenalina 1 mg em bolus ~ choque
~ compressão torácica e ventilação ~ antiarrítmicos (amiodarona/lidocaína).

a Em ritmo de atividade elétrica sem pulso (AESP) ou em assistolia, não deve aplicar
choque. Sequência de atendimento ritmo não chocável: adrenalina 1 mg em bolus
~ compressão torácica e ventilação por 2 minutos ~ atropina 1 mg em bolus ~
compressão torácica e ventilação. Ficar atento à mudança do ritmo cardíaco. As drogas
adrenalina e/ ou atropina devem ser administradas entre 3-5 minutos.
a Preparar drogas para administração de acordo com ritmo cardíaco.
a As drogas EV devem ser administradas em boltts(uso de 20 a 30 m1 de solução salina).
Elevar o membro imediatamente após a aplicação para apressar a chegada da droga à
ciculaçào central, o que pode levar de 1 a 2 minutos.
a Se o acesso venoso não for obtido, podem ser administradas as drogas por via do tubo
traqu€al, porém a dose deve ser de 2 a 2,5 vezes a dose de uso endovenoso. Deve-se
injetar 10 mi de solução salina após medicação e realiz.ar de três a quatro ventilações
com a bolsa valva-máscara (Ambu).

1. E1n casos de vítimas de tr'.:1uma que impossibilite a entubaçào com uso do tubo orotra-
queal, deve ser preparado o material para a cricotiroidostomia par'à ventilação mecânica.
Essa técnica somente pode ser realizada pelo n1édico.
2. Não há estudos que avaliem o uso do soco precordial.
3. Em vítimas com implantes de marca-passos, deve-se evitar colocar as pás dos desfibrila-
dores sobre a unidade geradora do dispositivo implantado. A desfibrilação direta sobre
o aparelho implantado pode bloquear uma parte da corrente de desfibrilação e, pos-
sivelmente, comprometer o programa, desativar ou danificar o dispositivo implantado.
(PROTOCOLO EM PARADA CARDÍACA, 2007)

Assistência a Vítimas em Emergência Clinica 53


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3.6.5 Drogas para uso em PCR
~ Adrenalina: droga vasopressora; administrar 1 mg em bolus em intervalos de 3 a 5
minutos, podendo ser administrada no tubo traqueal dose em dobro com 10 mi de
solução salina. Não tem dose máxima de uso (apresentação em ampolas con1 1 mg).
a Atropina: indicada em ritmos não chocáveis; dose 1 mg (verificar apresentação das
ampolas, dose 0,25 ou 0,50 mg) em intervalos de 3 a 5 minutos em bolus. Se não con-
seguir acesso venoso, a droga pode ser administrada no tubo traqueal, porém a dose
será o dobro; administrar 10 mi de solução salina para facilitar a chegada da droga à
traqueia. A dose máxima a ser administrada é de 3 mg (se ampolas de 0,25 mg, máximo
12 ampolas; se ampolas de 0,50 mg, no máximo seis ampolas).
a Amiodarona: antiarrítmico de primeira escolha indicado em ritmos chocáveis. Dose
de ataque 300 mg ern bolus, dose de manutenção 150 mg, pode ser repetida após 3 a
5 minutos com doses de 150 mg (apresentação em ampolas de 150 rng).
a Udocaína: antiarrítmico indicado ern ritmos chocáveis (usado quando não se tem
amiodarona); dose de ataque 1,0 a 1,5 mg/kg em bolus, dose de manutenção 1 a 4 mg/kg,
podendo ser repetida após 5 a 10 minutos. Pode ser usada no tubo traqueal com o do-
bro da dose e 10 mi de solução salina. A dose máxima a ser administrada é de 3 mg/kg
(apresentação em frasco de 20 mi a 2%). Estar atento a convulsões, comprometimento
respiratório e outros sinais de toxicidade nos pacientes que recuperam a circulação
espontânea, após o uso de altas doses de lidocaína.
a Bicarbonato de sódio: indicado em PCR de longa duração (maior de 30 minutos);
dose 1 mVlO kg (apresentação em ampolas de 10 mi a 8,4%).

3.6.6 Ritmo cardíaco normal


O eletrocardiograma (ECG) é o registro dos fenômenos elétricos que se originam durante
a atividade cardíaca por um equipamento, o eletrocardiógrafo.

-
~ ~

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tempo (s)
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Eletrocardiograma normal Detalhe do eletrocardiograma

Figura 3.8: Eletrocardiograma normal.

O ECG normal é composto por três elementos principais:


a Onda P: representa a ativação elétrica dos átrios, câmaras menores e superiores do
coração.

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1:1 Complexo QRS: representa a despolarização dos ventrículos, câmaras maiores e in-
feriores do coração.
1:1 Onda T: representa a repolarização dos ventrículos.

3.6.7 Ritmos cardíacos chocáveis


1:1 Taquicardia ventrlcuJar (1V) sem pulso: é a suces.são de três ou mais batimentos ori-
ginados nos ventrículos que não produzem contração ventricular. Ao eletrocardiograma
observa-se taquicardia com QRS largo com dissociação atrioventricular. (COSTA, 2006)

, ,,.. ,
' V
"' " " ,
\...
' ...

-11
...
••

Figura 3.9: Taquicardia ventricular. (COSTA, 2006)

1:1 Fibrilação ventricular (FV): trata-se de uma atividade elétrica ventricular caótica que
não produz contração ventricular. É responsável por 80-90% das paradas cardíacas
não traumáticas em adultos. Ao eletrocardiograma observa-se linha irregular em que
não se define onda P ou QRS. Observa-se taquicardia com QllS largo com dissociação
atrioventricular.

Figura 3.1 O: Fibrilação ventricular. (COSTA, 2006)

3.6.8 Ritmos cardíacos não chocáveis


1:1 Atividade elétrica sem pulso (AESP): é a ausência de pulso detectável na vigência de
atividade elétrica ventricular ao eletrocardiograina. Pode evidenciar ritmo idioventricu-
lar, escapes ventriculares ou ritmos bradiassistólicos. O principal ponto crítico nessas
arritmias é que elas estão frequentemente as.saciadas a um estado clínico específico,
que pode ser revertido quando identificado precocemente e tratado apropriadamente.

-
-
' ___________
,._,_ -'\ --~~
-

Figura 3. 11: Ritmo bradíassístólíco. (COSTA, 2006)

Assistência a Vítimas em Emergência Clinica 55


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a Assistolia: é a ausência de qualquer atividade elétrica ou mecânica dos ventrículos. Ao
eletrocardiograma não há nenhuma atividade elétrica. A assistolia presente representa
extensa isquemia miocárdica, decorrente de prolongados períodos de inadequada per-
fusâo coronária. A sobrevivência de parada cardíaca em assistolía é pouco provável.

.
.

Figura 3.12: Eletrocardiograma em assisto/ia. (COSTA, 2006)

3.6.9 Uso do desfibrilador externo automático (DEA)


O uso de corrente elétrica aplicada externamente para tratar a fibrilação ventricular foi des-
crito em 1956. Desde ent.ão, a capacidade dos desfibriladores para reve1ter ritmos cardíacos
fatais apresentou um considerável progresso.
Algumas legislações estaduais preconizam o uso do DEA em locais de concentração gran-
de de público. No estado de São Paulo a Lei nº 13.945, de 7 de janeiro de 2005, regulamenta
que os aeroportos, shopping centers, centros empresariais, estádios de futebol, hotéis, hi-
permercados e supermercados, casas de espetáculos e locais de trabalho com concentração
acima de mil pessoas ou circulação média diária de três mil ou mais pessoas, os clubes e
academias com mais de mil sócios e as instituições fmanceiras e de ensino com concentração
ou circulação média diária de mil e quinhentas ou mais pessoas devem manter aparelho
desfibrilador externo automático em suas dependências, determinando um fluxo que permita
a disponibilidade ao paciente em até 5 minutos após constatado o evento.
Atualmente a corrente de sobrevivência determina a massagem cardíaca externa precoce
e a desfibrilação precoce.
As empresas podem adquirir e treinar sua equipe de emergência quanto ao uso do DEA.
Não só em emergências clínicas como IAM ou AVC a vítima pode apresentar uma parada
cardiorrespiratória. Em algumas situações de trabalho o trabalhador pode vir a desencadear
u1na PCR como choque elétrico, atmosfera pobre em oxigênio dentro de espaço confinado.
Estudo realizado nas estações do Metrô de São Paulo durante os anos de 2006 a 2008
apontam uma sobrevida de 36% de vítimas que sofreram parada cardiorrespiratória e foram
atendidas com uso do DEA. (COLLUCCI, 2009)
O DEA deve ficar em local de fácil acesso e pronto para uso pela equipe de emergência
treinada para este fim. A bateria do DEA não deve ficar desconectada do aparelho, ou seja, o
DEA deve estar sempre montado.

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3.6.1 O Protocolo a seguir para uso do DEA no suporte
básico de vida
1. Ligar o DEA.
2. Instalar as duas placas que já possuem gel sobre o tórax da vítima.
3. Afastar todos da vítima e pennitir que o DEA analise o ritmo cardíaco.
4. Se o ritmo cardíaco for chocável, o DEA avisa para apertar o botão para choque. Então,
antes de apertar o botão, certificar se todos os envolvidos no atendimento estão afas-
tados da vítima: "Canção do choque: no 1 todos afastem, no 2 eu afasto, no 3 aplicd' e
aplicar o choque.
5. Após o choque, iniciar imediatamente as compressões torácicas por dois minutos.
6. Se o ritmo cardíaco não for chocável, o DEA avisa para iniciar a massagem cardíaca
externa.
7. Afastar-se e permitir que o OEA analise novamente o ritmo cardíaco. Se o choque fo r
indicado, aplicá-lo novamente seguido de compressões torácicas. Se não indicado,
verificar o pulso. Se não houver pulso, manter as compressões torácicas e verificar
ritmo a cada dois minutos.

Figura 3.13: Conexão das pás ao tórax. Figura 3.14: Aplicação do choque.

3.7 Obstrução das vias aéreas por corpo estranho (OVACE)

3.7.1 Anatomia da laringe - Sistema epiglote


O sistema respiratório se estende desde a boca e o nariz até os alvéolos pulmonares. A
principal função desse sistema é promover a troca gasosa contínua entre o ar inspirado e o
sangue da circulação pulmonar, fornecendo oxigênio e removendo o dióxido de carbono.
Para que essa função aconteça, ela deve estar livre de qualquer obstrução à passagem do ar.
As vias aéreas se dividem em superiores, sendo boca, nariz e faringe, e inferiores, sendo
laringe, traqueia, brônquios e pulmões. As vias aéreas superiores (VAS) servem para filtrar o
ar inspirado, umidificá-lo e aquecê-lo.

Assistência a Vítimas em Emergência Clinica 57


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A laringe, situada na parte superior do pescoço, é uma continuação da faringe em forma
de tubo sustentado por peças de cartilagem articu.ladas, fazendo parte do sistema respirató-
rio. É formada essencialmente por cartilagens, que são a cartilagem tireoicle e a cartilagem
cricoide, juntamente com duas cartilagens: aritenoide e epiglote. A 1naior delas é a tireoide
que forma na frente uma saliência, perceptível nos indivíduos adultos do sexo masculino,
denominada "pomo de adão". As cartilagens cricoide e tireoide são unidas anteriormente pela
membrana cricotiroidea, através da qual o sistema respiratório pode ser acessado em caso de
emergência, procedimento denominado cricotiroidostomia.
A entrada da laringe chama-se glote. Acima dela existe uma espécie de lâmina de carti-
lagem denominada epiglote que se encontra atrás da língua, que serve para fechar a ligação
da faringe com a glote durante a deglutição. Funciona como uma válvula, quando nos ali-
mentamos. A laringe sobe e sua entrada é fechada pela epiglote. Isso impede que o alimento
ingerido penetre nas vias respiratórias.
Quando deglutimos os alimentos ou líquidos, a laringe se eleva, enquanto a epiglote se
abaixa, fechando a entrada da laringe, permitindo que o alimento ou líquidos caminhem pelo
esôfago em direção ao estômago. Quando respiramos, a epiglote se eleva, mantendo a laringe
aberta e permitindo que o ar entre para os pu.lmões.
Se a epiglote estiver aberta, quando passar aliJnento ou líquido, eles pode1n penetrar
no sistema respiratório e provocar um acesso de tosse, na tentativa de espelir esse corpo
estranho. A Figura 3.15 representa a anatomia da laringe com suas cartilagens, e a Figura 3.16
representa o funcionamento da epiglote se abrindo para passagem do ar.

Epiglote
Osso
Ligamento

Cartilagem
~-- Tecido duro e flexível
Pomo de adão

Cartilagem
tireoide

Cartilagem
cricolde

Anéis de cartilagem
Impedem o fechamento
da traqueia durante
a respiração

Figura 3.15: Anatomia da laringe. (Fonte: VILELA, Sistema Respiratório - http://www.afh.bio.br/resp/resp1.asp)

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Traqueia Esôfago

Figura 3.16: Sistema epiglote abrindo para passagem do ar.


(Fonte: ht1p://www.cefala.org/fonologia/imagens/aparelho_fonador/epiglote.jpg)

3.7.2 Definição e causas da obstrução das vias aéreas


A obstrução das vias aéreas pode ter várias causas, entre elas:
~ Trauma direto sobre as vias aéreas: causando sangrarnento, compressão externa
por edema ou hematomas e fraturas da árvore laringotraqueobrônquica ou broncoas-
piração de dentes fraturados.
a Queimaduras: principalmente as queimaduras por agentes químicos que pcx:lem pro-
duzir inflamação e edema de glote.
a Reações alérgicas: alguns produtos ou picadas de abelhas podem desencadear rea-
ções alérgicas no indivíduo, que podem levar ao edema de glote
~ Corpo estranho: fragmentos de próteses dentárias, alimentos, balas, chicletes e pe-
quenos objetos podem causar obstrução de vias aéreas em diferentes níveis.
A obstrução pode ser parcial ou completa. Uma obstrução discreta pode resultar em
dispneia, enquanto uma obstrução mais grave pode provocar cianose e alteração da cons-
ciência. Se a obstrução completa não for imediatamente corrigida, pode haver a asftxia e
morte imediata.
Em adultos, as causas mais comuns de obstrução das vias aéreas por corpos estranhos
(OVACE) são engasgos com pedaços de carne ou outros alimentos. Nas crianças, são brin-
quedos, balões, objetos pequenos como botões, moedas e alitnentos, sendo cachorro-quente,
bala redonda, amendoLm e uva os alimentos que mais provocam a obstrução das vias aéreas
em crianças.
Na OVACE com obstrução total a vítima apresenta sinais e sintomas como:
~ Tosse fraca e ineficaz;
a A inspiração respiratória produz ruído;
a Presença de cianose em lábios e face;

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a Expressão de angústia: olhos muito abertos, boca aberta, querendo desesperadamente
falar, frequentemente ambas as mãos agarram o pescoço, sendo este o sinal universal
de angústia ou sinal universal cio engasgo, Figura 3.17.

Figura 3.17: Sinal universal do engasgo.

3.7.3 Manobras de desobstrução das vias aéreas


Uma ação urgente deve ser realizada enquanto a vítima ainda está consciente. Em pouco
tempo o oxigênio disponível nos pulmões será utilizado, e como a obstrução de vias aéreas
impede a renovação de ar, ocorre a perda de consciência e rapidamente a morte.
Os métodos de desobstrução de vias aéreas dividem-se em dois tipos, conforme a natu-
reza da obstrução, sendo compressão abdominal e compressão torácica aplicadas em vítimas
conscientes e desobstrução das vias aéreas em vítimas inconscientes com aspiração e remoção
manual do corpo estranho.

3.7.4 Compressão abdominal - Manobra de Heimlich


A presença do sinal universal de engasgo é encarada pelo socorrista como o momento
certo de aplicar a manobra de Heimlich. Consiste em compressões na região abdo1ninal com
a finalidade de criar uma tosse artificial, pois a vítima já não consegue tossir autonomamente,
ajudando na expulsão do corpo estranho das vias aéreas.
Técnica para execução da manobra de Heimlich - vítima consciente, Figura 3.18:
a Posicionar-se atrás da vítima. Estando a vítima em pé, o socorrista deve aplicar sua
base de sustentação, afastando as pernas, e posicionar uma de suas pernas entre as
pernas da vítima, para evitar-lhe a queda caso a vítima fique inconsciente.
a Envolver a cintura da vítima com os braços, colocando uma mão fechada em punho
na região abdominal entre a cicatriz umbilical e o apêndice xifoide.
a Com a outra mão envolver o punho fechado.
a Efetuar cinco compressões abdominais.

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Posição das mãos Posição da perna

Figura 3.18: Técnica para executar manobra de Heimlich, compressão abdominal.

Em crianças maiores de um ano, aplicar a manobra de Heimlich de forma semelhante à


do adulto; nos lactentes, uma combinação de palmada nas costas (face da criança voltada
para baixo) e compressões torácicas (face voltada para cima), sempre apoiando a vítima no
seu antebr-tlço; mantenha-o com a cabeça mais baixa que o tronco, próximo ao seu corpo,
Figura 3.19.

Face para baixo, palmadas nas costas Face para cima, compressões torácicas

Figura 3.19: Técnica para desobstrução das vias aéreas em lactentes.

3.7.5 Compressão torácica


A compressão torácica é utilizada quando a compressão abdominal é contraindicada,
como nos casos de gestação próxima do termo e em obesos. Nas gestantes o músculo dia-
fragma está 11 puxado11 para cima e a compressão abdominal implica risco de lesão ao feto;
nos obesos faz-se a compressão torácica por não se conseguir abraçar a cintura da vítima.
Consiste em uma série de compressões torácicas sobre o terço inferior do osso esterno, logo
acima do apêndice xifoide.

Assistência a Vítimas em Emergência Clinica 61


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Técnica para execução da compressão torácica, Figura 3.20:
a Posicionar-se atrás da vítima. Estando a vítima em pé, o socorrista deve aplicar sua
base de sustentação, afastando as pernas, e posicionar uma de suas pernas entre as
pernas da vítima, para evitar-lhe a queda caso a vítima fique inconsciente.
a Colocar os braços em torno do tórax da vítima e uma mão fechada em punho contra
o osso esterno acima do apêndice xifoide.
a Com a outra mão envolver o punho fechado.
a Efetuar cinco compressões torácicas.

Figura 3.20: TécniGJ para executar manobra de compressão lorádca.

3.7.6 Desobstrução das vias aéreas em vítimas inconscientes


Em vítimas inconscientes com obstrução de vias aéreas evidente deve-se realizar as se-
guintes manobras para desobstrução das vias aéreas, dependendo da causa da obstrução:
a Rolamento 90º: manobra usada para remoção de secreções líquidas como sangue das
vias aéreas da vítima. Esta manobra consiste em lateralizar a vítima em 1nonobloco,
trazendo-a do decúbito dorsal para o lateral. Se a vítima estiver sem imobilização cervical
(colar cervical), deve ser realizada com controle cervical manual, ou seja, segurando a
cabeça da víti.Jna. Se a víti.Jna já estiver imobilizada com colar cervical e na prancha, pro-
ceder à 1nanobra mediante a lateralização da própria prancha. Essa Lécnica é substituída
quando existir no local equipe de suporte avançado para realizar a aspiração.
a Técnica de remoção manual: consiste e1n abrir a boca da vítima utilizando a ma-
nobra de tração da mandíbula Qaw-Thrust) e retirada do corpo estranho com o dedo
indicador em forma de "gancho", deslocar e retirar o corpo estranho. Estando o corpo
estranho mais profundo, existe a alternativa de utilizar-se os dedos indicador e médio
em forma de "pinça".
a Técnica de aspiração de secreções: as secreções presentes nas vias aéreas da vítima,
como sangue, devem ser aspiradas, porém esse proceclimento eleve ser realizado pela
equipe de suporte avançado por ser invasivo. Utilizam-se sondas e aspirador que
podem ser portáteis com vácuo e fluxo adequado para sucção efetiva da faringe. Em
casos de suspeita de trauma de base cerebral (vítima apresenta cianose orbital, olhos
de guaxinim) utilizar para aspiração sonda de ponta rígida.

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1:1 Cricotireoidostomia: procedimento médico que se define como via aérea definitiva
cirúrgica, por meio de inserção de agulha do tipo intracath ou cânula traqueal (corte
com bisturi) através da membrana cricotireoidea. F.sse procedimento está indicado
quando não é possível a entubaçào traqueal, como em casos de edema de glote,
fratura de laringe, ferimentos faciais graves ou grande hemorragia orofaríngea.

3.8 Epistaxe - Sangramento nasal


A epistaxe é un1a manifestação clínica, sendo na maioria das vezes de pequena intensida-
de. Segundo estatísticas, 60% da população já teve pelo menos um episódio de sangramento
nasal, e apenas 6o/o necessitou de assistência médica e de 7 a 15 % foi recorrente. (BALBANI;
FORMTGONJ; BlJfUGAN, 1999)
A epistaxe é classificada em anterior ou posterior, dependendo da origem do sangramento.
Em 900/o dos casos de epistaxe anterior a causa é de sangramento na região anterior, princi-
palmente em crianças e adultos jovens, enquanto a epistaxe posterior é mais frequentemente
encontrada em pacientes hipertensos ou com mais de 40 anos.
Os vasos sanguíneos que nutrem a cavidade nasal rompem por vários fatores que nor-
malmente são identificados facilmente. As causas da epistaxe podem ser desencadeadas por
fatores sistêmicos ou locais. Os fatores sistémicos são:
1:1 Hipertensão arterial: considerada a principal causa de epistaxe severa que motiva
internação hospitalar.
1:1 Coagulopatias: indivíduos hemofílicos ou quadro de hematopatias.
a Doenças hematológicas: que cursam com alteração de plaquetas como aplasia me-
dular, trombocitopenia.
a Uso de medicamentos anticoagulantes e antiagregantes plaquetários também pode
ocasionar o aparecimento da epistaxe.
Os fatores locais que levam à epistaxe anterior co1n maior frequência são:
a Trauma: fraturas nasais ou manipulação digital;
1:1 Wecções de vias aéreas superiores como sinusite;

1:1 Inalação de ar frio e seco; grande parte dos quadros de epistaxe ocorre durante o inverno;
1:1 Introdução de corpos estranhos em fossas nasais;
1:1 Inalação de irritantes quúnicos, como cocaína, vapores de metais pesados como crorno;
1:1 Presença de perfuração septal ou desvio de septo.

3.8.1 Atendimento a vítimas com epistaxe pela equipe


de suporte básico
a Tranquilizar o paciente, mantendo-o em posição confortável.
1:1 Realizar flexão da cabeça para frente, não realizar hiperextensão cervical (cabeça para
trás), pois favorece o acúmulo de sangue e coágulos na orofaringe, predispondo o
surgimento de náuseas e vômitos aumentando o sangramento nasal.

Assistência a Vítimas em Emergência Clinica 63


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a Pressão sobre o nariz, fornecer gazes à vítima para que ela mesma pressione as narinas.
a Colocar compressa com gelo sobre o nariz, fazendo vasoconstricção, diminuindo o
sangramento nasal.
a Encaminhar a vítima para hospital mesmo que o sangrarnento tenha cessado.

3.8.2 Atendimento a vítimas com epistaxe pela equipe


de suporte avançado
a Realizar as manobras descritas no atendimento da equipe de suporte básico.
a Verificar pressão arterial.
a Pedir que a vítima assoe o nariz com a finalidade de re1nover os coágulos da fossa
nasal e comprima a região da asa nasal para exercer pressão sobre o septo.
a Realizar tamponamento nasal com gaze u1nedecida em solução vasoconstrictora com o
cuidado de monitorizar a pressão arterial nos pacientes hipertensos.
a Se a epistaxe persistir, encaminhar a vítima ao hospital para avaliação com especialista
ou realização de cauterização térmica, ou até mesmo tratamento cirúrgico.

3.9 Crise convulsiva


A convulsão é uma resposta a uma descarga elétrica anormal no cérebro que durante bre-
ve período de tempo deixa de funcionar e passa a enviar estímulos desordenados ao corpo.
Dois terços dos indivíduos que apresentam uma crise jamais voltam a apresentá-la, en-
quanto o outro grupo continua a apresentá-la repetidamente, os portadores de epilepsia.
Qualquer fator que irrite o cérebro pode desencadear uma crise convulsiva, como traumatis-
mo cranioencefálico (TCE), infecções como meningite, parasitose como a neurocisticercose,
malformações, tu1nores cerebrais, abuso de drogas e álcool, febre alta principalmente em
crianças, intoxicação por monoxido de carbono, crise hipertensiva principalmente em gestan-
tes (eclâmpsia). (RODRIGUES, 2002)
As crises convulsivas são classificadas em parciais e generalizadas.
Nas crises parciais apenas u1na parte restrita do hemisfério cerebral é ativada no início,
podendo ser simples ou complexa, dependendo da consciência preservada ou alterada.
a Crise parcial simples: as convulsões são limitadas a uma área do corpo, mas podem
estender-se a outras áreas, sem haver perda do conhecimento. Os sintomas presentes são
parestesia, dormência, sintomas motores como interrupção da fala, piscadelas, alucina-
ções (vê ou ouve sons que não existem). Após a crise pocle ocorrer fraqueza muscular,
dormência, cegueira ou ambliopia. Esses sintomas não duram mais que 48 horas.
a Crise parcial complexa: evolui das crises parciais simples, compromete o nível de
consciência e provoca ausência de reação aos estímulos. Podem estar presente o au-
tomatismo como deglutição, sucção, mastigação e posicionamento distônico do braço
ou mão contralaterais. Essa crise dura em média 45 a 90 segundos e são seguidas por
período de confusão mental e desorientação.

64 Atendimento Pré-HospiJalar - Treinamento da Brigada de Emergência do Suporte Básico ao Avançado


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As crises generalizadas caracterizam-se pelo envolvimento difuso de ambos os hemisférios
cerebrais desde o início. Ocorrem em qualquer idade, em qualquer momento. O intervalo
entre as crises varia bastante.
~ Convulsão generalizada ou tônico-clônica (tipo grande mal): perda súbita da
consciência com extensão tônica bilateral do tronco e membros. Apresenta duas fa-
ses completamente distintas. A fase clônica com reviramento ocular, inconsciência
imediata, contração generalizada e simétrica de toda a musculatura, braços fletidos,
pernas, cabeça e pescoço estendidos, dura de 10 a 20 segundos. A fase tônica apre-
senta movimentos violentos, rítmicos e involuntários, podendo espumar pela boca, e
' medida que a crise vai cedendo, os movilnentos tomam-se
incontinência urinária. A
menos intensos e com intervalos maiores. Dá-se um relaxamento corporal e segue-se
uma fase de sonolência. (AMADEI, 2010)
As crises de ausência (típo pequeno mal) são mais comuns em indivíduos com menos
de 20 anos, geralmente em crianças entre 4 e 12 anos de idade. As crises típicas do pequeno
mal duram cerca de 10 sehrundos, com recuperação total e sem confusão mental. Elas se
manifestam por meio de episódios de fixação do olhar (olhar parado), pestanejar ritmado,
ocorre uma interrupção da atividade (se estiver caminhando ou falando, o indivíduo para de
andar e falar) e podem estar presentes abalos clônicos discretos dos braços ou das mãos. A
crise pode ter frequência variada ou ser muito frequente, ocorrendo repetidas vezes numa
mesma hora. (AMADEI, 2010)
o estado epilético (status epilepticus), a mais grave das doenças convulsivas, as convul-
sões não cessam. O estado epilético é uma urgência médica porque a vítima tem convulsões
acompanhadas de contrações musculares intensas, apresentando dificuldade respiratória com
descargas elétricas exten as no cérebro. Se não se proceder ao tratamento imediato com
anticonvulsivante, o coração e o cérebro podem ficar permanentemente danificados e pode
ocorrer a morte.
Em cerca de 25% dos adultos com epilepsia é possível conhecer a causa quando se reali-
zam exames de electroencefalograma (EEG), que revelam uma atividade elétrica anormal, ou
uma ressonância magnética (RM), que pode revelar cicatrizes em pequenas áreas do cérebro.
O exame de electroencefalograma (EEG) é um registro da atividade elétrica do cérebro.
Para realizar o EEG, fixam-se cerca de 20 elétrodos ao couro cabeludo e registra-se a atividade
cerebral e1n condições normais. Então a pessoa é exposta a vários estímulos, como luzes
brilhantes ou cintilantes, com o fim de provocar u1na crise convulsiva. A atividade elétrica
cerebral acelera com os estímulos, produzindo um padrão desordenado em forma de ondas.
Esses registros das ondas cerebrais ajudam a identificar a epilepsia. Diferentes tipos de crises
convulsivas tê1n dLferentes padrões de ondas. (MAl'íUAL MERCK, 2009)
A Figura 3.21 mostra o eletroencefalograma (EEG) com representação das atividades elé-
tricas cerebrais em indivíduo normal, em indivíduo com crise de ausência (pequeno mal) e
em indivíduo em crise generalizada (grande mal).
Onda cerebral de um adulto normal Crise do tipo pequeno mal Crise do tipo grande mal



'
-.· ··~
Figura 3.21: Eletroencefalograma das atividades cerebrais. (MANUAL MERCK)

Assistência a Vítimas em Emergência Clinica 65


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3.9.1 Sinais e sintomas na crise convulsiva
As convulsões frequentemente são precedidas por auras, sensações incomuns de odores,
sabores ou visões, ou uma sensação intensa de que uma crise está prestes a ser desencadeada.
Os sinais e sintomas da crise convulsiva dependem da parte do cérebro que é afetada pela
descarga. Pode envolver uma área mínima, envolvendo percepção de odor ou sabor estranho,
ou se em grandes áreas, acarreta uma convulsão.
Os sinais e sintomas presentes são:
1:1 Agitação psicomotora;
a Olhar ausente: os olhos podem ficar fixos na parte superior ou lateral;
a Perda da consciência;
a Espasmos musculares com movimentos de contração e flexão muscular suaves a muito
fortes, podendo ser generalizados ou localizados (parcial);
a Sialorreia: produção excessiva da saliva;
a Encerramento da boca com muita força, podendo a vítima morder a língua e lábios;
a Relaxamento dos esfíncteres, a vítima pode urinar e evacuar.
A convulsão demora em média três a cinco minutos e é seguida por um período de
inconsciência. A consciência é recuperada aos poucos e o paciente pode apresentar dor de
cabeça, vômitos e confusão mental.
Se a crise convulsiva se prolongar por mais de cinco minutos, ou apre entar crises se-
guidas por 20-30 minutos sem recuperação de consciência da vítima, caracteriza-se por uma
emergência clínica, podendo implicar em risco de lesão no sistema nervoso central (SNC)
como também sistêmico. (ANIADEI, 2010)

3.9.2 Atendimento a vítimas com crise convulsiva pela equipe


de suporte básico
a Proteger a vítima, removendo objetos que possam causar ferimento.
J:t Afrouxar roupas que estejam no pescoço.
a Lateralizar a cabeça da vítima para evitar a aspiração (procedimento não recomendado
e1n suspeita de trauma raquimedular).
a Não se oponha aos movimentos da vítima.
a Não introduzir nenhum objeto na boca ou colocar algum objeto entre os dentes ou
tentar segurar a língua da vítima; ao contrário do que se pensa, a vítima não enrola a
língua.
1:1 Ficar ao lado da vítima durante a crise convulsiva verificando respiração.
a Registrar o tipo de crise (parcial ou generalizada) e a duração da crise.

66 Atendimento Pré-HospiLalar - Treinamento da Brigada de Emergência do Suporle Básico ao Avançado


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a Orientar a vítima assim que ela despercar.
a Não oferecer bebidas após a crise.
a Encaminhar para hospital mesmo que a vítima tenha se recuperado da crise.

3.9.3 Atendimento a vítimas com crise convulsiva pela equipe


de suporte avançado
a Proteger a vítima, removendo objetos que possam causar ferimento.
a Afrouxar roupas que estejam no pescoço.
a Colocar cãnula de Guedel.
a Administrar oxigênio.
a Obter acesso venoso para administração de medicamentos anticonvulsivantes.
a Observar manifestações neurológicas como confusão mental, desorientação.
a Ficar atento à respiração, pois em alguns quadros de crise pode ocorrer parada
cardiorrespiratória.

Exercícios
1. O que é acidente vascular cerebral (AVC)?
2. Quais os sintomas de um infarto agudo do miocárdio (IAM)?
3. Qual a mudança para atendimento de vítimas em parada cardiorrespiratória pelo su-
porte básico de vida?
4. O que é manobra de Heimlich?
5. O que fazer no atendimento a vítimas de crise consulvisa pelo suporte básico de vida?

Assistência a Vítimas em Emergência Clinica 67


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Anotações

68 Atendimento Pré-Hospitalar- Treinamento da Brigada de Emergência do Suporte Básico ao Avançado


Edttora ~rica -Atendimento Pré-Hospitalar. Treinamento da Brigada de Emergência do Suporte Básico ao Avançado - Márcia Vllma G. de Moraes • 1• Edição
Assistência a Vítimas
de Trauma

4.1 O que é trauma


Segundo anuário estatístico de acidentes de trabalho de
2008, foram registrados no INSS cerca de 747,7 mil acidentes do
trabalho. Os trabalhadores acometidos apresentarain ferimentos
principalmente de mãos e punhos, fraturas, luxações, entorses,
amputações, traumas intracranianos e oculares, queimaduras.
É muito importante a empresa manter treinada a equipe de bri-
gada de emergência para atendimento imediato e correto das vítimas
acometidas por acidente de trabalho, evitando manipulação inadequa-
da que possa piorar a situação da vítima, ficando mais tempo afastada
ou com sequelas irreversíveis.
Define-se trauma ou traumatismo toda e qualquer lesão caracterizada
por alteração estrutural ou desequilíbrio fisiológico decorrente de expo-
sição aguda a várias formas de agentes, tais como agentes mecânicos,
elétricos, térmicos, de forma intencional ou acidental.
,
E considerada víti1na politraumatizada quando apresentar lesões em dois
sistemas de órgãos, de quais pelo menos uma ou a combinação das lesões
constitua risco de vida para a vítima.

4.2 Tipos de trauma

4.2.1 Trauma torácico (TT)


Os traumatismos torácicos estão entre as quatro principais causas de mor-
tes, portanto se faz necessário que o exame físico seja realizado i.Jnediatamen-
te para que as medidas terapêuticas sejam realizadas ainda no atendimento
pré-hospitalar.

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Divide-se em trauma fechaclo e aberto. No trauma fechado a integridade da caixa torácica
é preservada. Já no trauma aberto ocorre comunicação entre o meio externo e o interior da
caixa torácica, através de solução de continuidade. O trauma fechado predomina com cerca
de 90% dos casos. O 1T predomina no sexo masculino da ordem de 800Al. As causas principais
são colisão de veículos, atropelamento, lesão por arma de fogo, quedas de altura, acidente de
motocicleta, espancamento, lesão por arma branca, explosão e esmagamento.

4.2.2 Tipos de trauma torácico


4.2.2.1 Trauma direto
esse mecanismo, a caixa torácica é golpeada por um objeto em movimento ou ela vai de
encontro a uma estrutura fixa. Nesse caso, a parede torácica absorve o ilnpacto e o trans1nite à
víscera. Nesse tipo de trauma é frequente que a vítima, ao perceber que o trauma irá ocorrer,
involuntariamente inspire e feche a glote, o que pode causar uin pneumotórax. No trauma
direto, geralmente ocorrem lesões bem delimitadas de costelas e mais raramente do osso
esterno, do coração e dos grandes vasos como a artéria aorta.

4.2.2.2 Trauma por compressão


Trabalhadores da construção civil são os mais afetados, pois esse tipo de trauma é mais
comum em desmoronamentos. Apresenta lesões mais difusas na caixa torácica, mal delilni-
tadas e, se a compressão for prolongada, pode causar asfixia traumática. Em determinadas
situações, a lesão do parênquima pulmonar é facilitada pela própria vítima, que prende a
respiração, fechando a glote e contraindo os músculos torácicos, com o intuito de se proteger,
mas aumenta demasiadamente a pressão pulmonar. No momento do choque, a energia de
compressão faz com que aumente ainda mais essa pressão, provocando o rompimento do
parênquilna pulmonar e até de brônquios, levando ao pneumotórax.

4.2.2.3 Trauma por desaceleração (ou contusão)


Caracterizado por processo inflamatório em pulmão e/ou coração no local do iJnpacto,
causando edema e presença de infiltrado linfomonocitário, o que caracteriza a contusão. Esse
tipo de trauma é muito comum e1n acidentes automobilísticos e quedas de grandes alturas.
O choque frontal contra o volante de um automóvel causa a desaceleração rápida da caixa
torácica com a continuação do movilnento dos órgãos intratorácicos, pela lei da inércia. Isso
leva a uma força de cisalhamento em pontos de fixação do órgão, causando ruptura da artéria
aorta, artéria subclávia esquerda e do ligamento arterioso, que são seus pontos ele fixação.
Na desaceleração brusca, o coração e a artéria aorta descendente basculam para frente,
rompendo a aorta no seu ponto fl}(o. Em quedas de grandes alturas, quando a vítima cai
sentado ou em pé, ocorrem lesões da valva aórtica.

4.2.2.4 Pneumotórax simples fechado


O pneumotórax simples fechado tem sua etiologia baseada, principalmente, na contusão
torácica. Seu diagnóstico é dado pela hipersonoridade à percussão e diminuição ou ausência
de murmúrio vesicular.

70 Atendimento Pré-HospiLalar - Treinamento da Brigada de Emergência do Suporte Básico ao Avançado


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O tratamento definitivo é feito no intra-hospitalar com a realização da drenagem pleural
(no 5º espaço intercosta1) em sistema fechado sob selo d'água.

4.2.2.5 Pneumotórax simples aberto


Caracteriza-se por uma lesão que permite a comunicação entre o meio interno e o am-
biente. A abertura permite rapidamente o equilíbrio entre a pressão intrapleural e atmosférica.
Os sinais e sintomas são:
l'I Dispneia;
l'I Taquicardia;
~ Ausência de munnúrio vesicular;
l'I Hipoventilação;
a Cianose que pode surgir mais tardiamente.
O tratarnento baseia-se no tamponamento imediato da lesão através do curativo do tipo
valvulado (cur-.itivo de três pontas).
O curativo de três pontas é feito com gazes esterilizadas de tamanho suficiente para en-
cobrir todas as bordas do ferimento, devendo ser fixado em três de seus lados. A fncação
do curativo oclusivo em apenas três lados produz um efeito de válvula. Desse modo, na
expiração, tem-se a saída de ar que é impedido de retomar na inspiração, evitando, assim,
formar um pneumotórax hipertensivo.
O tratamento definitivo é feito no intra-hospitalar com a realização da drenagem pleural
(no 52 espaço intercostal) em sistema fechado sob selo d'água.

4.2.2.6 Pneumotórax hipertensivo


O pneumotórax hipertensivo ocorre quando há um vazamento de ar para o espaço pleural
por um sistema de válvula de mão única (pressão positiva). O sistema de válvula faz com
que o ar entre para a cavidade torácica sem a possibilidade de sair, permitindo que a pressão
nessa cavidade tome-se cada vez mais positiva e1n relação à atmosfera, produzindo o colapso
do tecido pulmonar.
O mediastino e a traqueia são deslocados para o lado oposto, dirninuindo o retomo
venoso e comprimindo o pulmão oposto. Pode ocorrer óbito rápido do paciente devido à
compressão do parênquima pulmonar contralateral.
Os sinais e sintomas são:
l'I Dispneia intensa;
~ Taquicardia;
a Hipotensão;
a Desvio da traqueia: para o lado contralateral ao pneumotórax;
a Ausência de murmúrio vesicular;
a Estase julgular (distensão das veias do pescoço);

Assistência a Vítimas de Trauma 71


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a Agitação;
a Sudorese;
a Enfisema subcutâneo, resultado do extravasamento de ar do pulmão lesado; à palpa-
- parece uma espon1a;
çao .
a Cianose que pode surgir mais tardiamente.
O tratamento do pneumotórax hipertensivo deve ser realizado ainda no atendimento
pré-hospitalar por equipe de suporte avançado, visando a descompressão parcial da cavidade
pleural, evitando o desvio de mediastino e a compressão dos vasos. Para isso realiza-se a
toracocentese de alívio, procedimenro médico em que se faz a punção do 22 espaço intercosral
na linha média clavicular do hemitórax afetado com cateter Teflon (lntracath) n12 16 ou n12 14.
Esse procedimento tem finalidade terapêutica e diagnóstica, Figura 4.1.

Ar

Pneumotórax

Figura 4. 1: Local da realização da toracocentese de alívio.


(Fonte: http://www.cobeem.eom.br/doc0205/rrauma _torax.pdf)

O orifício de abertura da toracocentese de alívio para desco1npressão não deve ser muito
grande, pois a saída de ar muito rãpida provoca deslocamento brusco do mediastino, causan-
do arritmia cardíaca.
O tratamento definitivo é a realização da drenagem pleural (no 52 espaço intercostal) em
sistema fechado sob selo d'água, Figura 4.2.
Atualmente foi desenvolvida uma válvula para drenagem torácica, o dispositivo de válvula
unidirecional (DVU). Estudo realizado para testar a eficiência e a segurança do dispositivo
de válvula unidirecional, para a substituição do selo de água na drenagem pleural tubular
fechada em ambiente pré-hospitalar, concluiu que o DVU é útil, seguro e bem aceito pelas
equipes de atendimento hospitalar e pré-hospitalar, além de ser uma alternativa nacional, me-
nos dispendiosa e mais acessível do que os similares importados como válvula de Heimlich.
(LIMA, 2006)

72 Atendimento Pré-HospiJalar - Treinamento da Brigada de Emergência do Suporte Básico ao Avançado


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Primeira costela
fraturada

Pneumotórax
40% do volume Dreno colocado
do pulmão direito dentro do tórax
permrte a expansão
normal do pulmão
'
Figura 4.2: Colocação de dreno de tórax para expansão do pulmão. (SECRETARIA ESTADUAL DO PARANAJ

4.2.2.7 Hemotórax
É o rápido acúmulo de sangue no espaço pleural produzido por laceração das veias inter-
costais ou artéria mamária interna. As causas mais comuns de hemotórax são os traumatismos
contusos e feri1nentos penetrantes próximo ao tórax anterior e linha média mamilar ou lesões
em tórax posterior na altura da linha média escapular.
Os sinais e sintomas são:
a Ausência de murmúrio vesicular;
a Dispneia progressiva;
a Vasoconstrição periférica;
r;t Sinais de hipovolemia: pele descorada, hipotensão arterial e taquicardia;
a Convergência da pressão arterial (pressão distal e sistólica muito próximas);
a Alteração do nível de consciência.
O he1notórax se classifica em:
r;t Pequeno: com perda sanguínea 1nenor que 400 ml. Nesse volu1ne o sangue será
reabsorvido espontaneamente entre 10 a 14 dias.
J:I Moderado: com perda sanguínea entre 400 e 1.500 mi. Nesse volume a vítima deve
apresenta r sinais de comprometimento ventilatório. O tratamento visa a descompres-
são pleural através da inserção do tubo no 5º espaço intercostal na linha axilar média.
J:I Maciço: com perda sanguínea de aproximadamente 1.500 a 2.000 mi, causando choque
hipovolêmico. O tratamento imediato é a descompressão torácica. No intra-hospitalar,
na perda de sangue acima de 1.500 mi está indicada a autotransfusão.
O tratamento pré-hospitalar pela equipe de suporte avançado consiste na descompressão
torácica com a toracocentese de alivio, porém antes de realizá-la, a reposição volêmica intra-
venosa deve ser feita para evitar o choque hipovolêmico.

Assistência a Vítimas de Trauma 73


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4.2.2.8 Tamponamento cardíaco
O tamponamento cardíaco se caracteriza pela restrição da atividade cardíaca devido ao
acúmulo de líquido no saco pericárdico que é uma estrutura fibrosa e não suporta grande
quantidade de sangue em seu interior. Um pequeno acúmulo de líquido nesse espaço pode
ser suficiente para restringir a atividade cardíaca. As causas mais comuns do tamponamento
cardíaco são as lesões penetrantes.
Os sinais e sintomas são:
a Taquicardia progressiva devido à dificuldade de o coração manter movimentos cardíacos;
a Dispneia;
a Estase julgular.
Ao exame físico deve-se caracterizar a tríade de Beck que compreende a estase jugular a
hipotensão e a taquicardia.
O tratamento pré-hospitalar pela equipe de suporte avançado consiste na descompressão
do saco pericárdico através da pericardiocentese. É um procedimento médico em que se rea-
liza a punção do saco pericárdio a 2 cm abaixo e à direita do apêndice xifoide, não devendo
se esquecer da reposição volêmica. A pericardiocentese promove um alívio temporário dos
sinais e sintomas, porém o tratamento definitivo será no intra-hospitalar com cirurgia para
correção da lesão.

4.3 Trauma abdominal


O abdômen é uma cavidade que contém órgãos sólidos, tais como fígado, baço, pâncreas,
rins, e órgãos ocos como esôfago, estômago, intestino delgado, intestino grosso, reto e bexi-
ga. Existe ainda o músculo diafragma que auxilia na respiração, pelve, coluna e alguns vasos
calibrosos como a11éria aona, artérias ilíacas, vasos mesentéricos, veia cava.
As lesões abdominais compreendem ruptura ou laceração dos órgãos ocos, fazendo ex-
travasar conteúdo das vísceras como fezes, alimentos, bile, suco gástrico e pancreático e
urina dentro da cavidade abdominal, o que provoca infecção grave conhecida por peritonite.
Quando ocorre ruptura ou laceração das estruturas sólidas como fígado, baço, pâncreas e
rins, leva a quadro de hemorragias internas, muitas vezes despercebidas no atendimento
inicial a vítima.
A cavidade intraperitoneal, juntamente com a cavidade torácica, o espaço retroperitoneal
principalmente na presença de fraturas de bacia e as fraturas de ossos longos são os locais do
organismo que comportam sangramentos capazes de levar à morte imediata por hemorragias
e choque hipovolêmico e tardiamente por infecções (peritonite).
O trauma abdominal pode ser fechado ou aberto.

74 Atendimento Pré-HospiJalar - Treinamento da Brigada de Emergência do Suporte Básico ao Avançado


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4.3.1 Trauma abdominal fechado
Ocorre por compressão cios órgãos abdominais, causando danos às vísceras. Ao exame
da vítima é importante a inspeção do abdômen quanto à presença de hematomas, distensão
abdominal que, se presente, sugere lesão visceral.
Muitas vezes os sinais e sintomas do choque, como palidez, sudorese fria, pulso rápido e
fino ou ausente, cianose de extremidades, hipotensão arterial, são os únicos sinais do trauma
abdominal, principalmente em vítimas inconscientes, apresentando um sangramento invisível.
O exame físico na vítima deve pesquisar sinais de hematomas, distensão abdominal a
palpação do abdômen, derenninando a presença de dor, na ausculta a ausência dos ruídos
peristálticos que são indícios da presença de sangue ou conteúdo intestinal na cavidade peri-
toneal. Os exames de toque retal, toque vaginal e do pênis em vítimas de trauma abdominal
só devem ser realizados no intra-hospitalar.
O tratamento definitivo do trauma abdominal fechado será por 1neio cirúrgico com lapa-
rotomia exploradora ou por meio conservador com lavado peritoneal.

4.3.2 Trauma abdominal aberto


São traumas abdominais com exteriorização de vísceras (evisceração). Ao atendimento
da vítima não deve ser tentada a reintrodução dos órgãos eviscerados. Realiza-se curativo
oclusivo, cobrindo as vísceras com plástico estéril ou compressa cirúrgica umedecida em
solução salina para proteger as vísceras.
Ao ser transportada, a vítima deve permanecer com o ventre para cima, mantendo os
joelhos fletidos quando for possível.
A equipe de suporte básico, ao se deparar com vítimas com material empalado, ou seja,
materiais que penetraram no abdômen, como pedaços de ferro, madeira ou outros, não deve
retirar esse material do corpo da vítima.
O material deve ser estabilizado no local encontrado com curativo que o proteja para que
não se mova durante o transporte da vítima.
Esses 1nateriais empalados só podem ser retirados em centro cirúrgico, onde haja condi-
ções de controlar o sangramento.

4.4 Trauma raquimedular (TRM)


O trauma raquimedular é aquele que acomete a coluna vertebral e seu conteúdo, sendo
a medula espinhal e as raízes nervosas. O quadro pode variar desde uma simples cervicalgia
(dor no pescoço) até um tetraplegia (paralisia dos quatro membros) e morte.
As principais causas do TRM são os acidentes automobilísticos correspondendo a 50% dos
TRM. Outras causas são queda de altura, acidente por mergulho em água rasa, ferimentos por
arma de fogo, lesões esportivas. (CASTRO e DEFINO, 1999)

Assistência a Vítimas de Trauma 75


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4.4.1 A coluna vertebral e a medula espinhal
A coluna vertebral é formada por 33 vértebras, sendo 7 cervicais, 12 torácicas, 5 lombares,
5 sacrais e 4 ou 5 coccígeas. O forame ou conduto vertebral é formado pela parede posterior
do corpo vertebral e parede anterior do arco vertebral, e a superposição dos vários forames
vertebrais forma o canal raquídeo, que aloja e protege a medula espinhal.
A medula espinhal no adulto mede 45 cm e está dividida em segmentos e raízes nervosas
de onde saem os nervos da medula. Ao todo são 31 pares de nervos espinhais que se origi-
nam da medula espinhal (8 cervicais, 12 torácicos, 5 lombares, 5 sacrais e 1 coccígeo).
A medula espinhal é um grande condutor de impulsos nervosos sensitivos e motores
entre o cérebro e as demais regiões do corpo. A medula espinhal possui tratos orientados
longitudinalmente (substância branca) circundando áreas centrais (substância cinzenta) em
que a maioria dos corpos celulares dos neurônios espinhais está localizada, FigurJ 4.3.

Glândulas
sudorlparas - - - - Vias respiratórias

---Coração

- - - Estômago
Medula
:..___ _ Fígado, pâncreas e b11e

---Rins

- - Intestinos delgado e grosso

~ --Bexiga

-- O - - -- Bolsa escrotal e pênis


Cadeia de gânglios

Figura 4.3: Sistema de comandos dos nervos.


(Fonte: http://w-ww.psiCAnaliseesaude.eom.br/raizes%20nervosas.jpg)

4.4.2 Lesão da medula espinhal


A lesão das células nervosas e a rotura dos vasos sanguíneos causam a lesão primária
da medula espinhal. as primeiras oito horas do trauma, que é o estágio agudo da lesão,
ocorrem hemorragia e necrose da substância cinzenta, seguida de edema e hemorragia. Como
consequência ocorre redução geral do fluxo sanguíneo no local da lesão, a qual pode pro-
vocar a morte das células e axônios (parte do neurônio) que não foram inicialmente lesados.

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No período de uma a quatro semanas as células inflamatórias migram para o local da lesão,
ocorrendo a formação de tecido cicatricial e cistos no interior da medula espinhal. O tecido
neurológico não possui a capacidade de regeneração. Se uma célula nervosa morre, não será
substituída por outra. (DEFINO, 1999)
As fraturas na região cervical são mais comuns entre as vértebl"dS CS e C6. Lesões na
vértebra cervical Cl-C2 ou C2-C3 com acometimento medular, geralmente são fatais, pois
levam à parada respiratória imediata. As lesões cervicais C3~C4 e C4-C5 com acometimento da
medula acarretam instabilidade respiratória. As fraturas na região toracolombar correspondem
a 9()0A> dos traumas raquimedulares, sendo mais afetadas a vértebra torácica T12 e as vértebras
lombares Ll e L2.
Alguns sinais apresentados pela vítima podem ser sugestivos de lesão raquimedular, como
respiração diafragmática, perda de sensibilidade abaixo da clavícula, hipotensão associada à
bradicardia, facilidade de flexionar e dificuldade de estender o braço, priapismo espontâneo.
O socorrista deve inspecionar na vítima de trauma raquimedular a presença de ede1nas,
deformidades, desvio de estrutura na região do pescoço (desvio de traqueia pode indicar
lesão da coluna), presença de dor, perda de sensibilidade e creptação óssea.
As sequelas estão diretamente relacionadas com o nível do traumatismo. Uma vítima com
lesão cervical grave pode ter como sequela a tetraplegia. Lesões torácicas e lombares acar-
retam como sequelas paraplegia e distúrbio no controle esfincteriano dos aparelhos urinário
e digestivo. (CASTRO)
Em vítimas inconscientes após acidente por colisão de automóveis ou quedas, a possibi-
lidade da coluna cervical estar lesada é de 5 a lOOA>. Estudo realizado com trezentas vítimas
portadoras de fratura da coluna cervical mosrrou que cerca de um terço das fraturas não foi
diagnosticado no momento do atendimento inicial. (DEFINO, 1999)
A Figura 4.4 demonstra um trauma raquimedular na região da coluna cervical.

Fratura na coluna vertebral----

Figura 4.4: Trauma raquimedular em região cervical.


(Fonte: http:/Avww.c/inicadacoluna.net/intemas/apoio/lesao-coluna.jpg)

Assistência a Vítimas de Trauma 77


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4.4.3 Riscos do traumatismo raquimedular
Os riscos estão diretamente relacionados com o grau de extensão, intensidade e gravidade
da lesão.
A imobilização da região cervical com o uso do colar cervical, o transporte da vítima sobre
pranchas rígidas em bloco e o uso do imobilizador lateral de cabeça devem ser sempre reali-
zados para evitar o agravamento do trauma. Uma vítima mal conduzida no local do acidente
pode apresentar um "segundo trauma" decorrente de imperícia no transporte da vítima.

4.4.4 Diagnóstico e tratamento no TRM


A radiografia simples da coluna constitui um dos exames mais fundamentais para pacien-
tes com TRM. Outras alternativas são a tomografia computadorizada (TC) e a ressonância
nuclear magnética (RNM). (CASTllO)
a fase aguda do trauma, para diminuir a piora do quadro neurológico, os corticoides são
utilizados. Por ter ação anti-inflamatória, essa medicação agiria contendo a cascata de eventos
que ocorre1n após o trauma sobre a medula espinhal. (CASTRO)
O tratamento cirúrgico se limita à tentativa de restauração da anatomia óssea da coluna
vertebral, evitando a compressão do tecido nervoso. A medula espinhal deve estar livre ele
qualquer compressão que possa existir sobre ela. Materiais como placas, hastes, parafusos,
feitos a partir de ligas metálicas como titânio são usados com o objetivo de promover estabi-
lização do eixo ele sustentação do corpo. (CASTRO)

4.5 Trauma cranioencefálico (TCE)


O traumatismo cranioencefálico (TCE) é uma agres.sâo ao cérebro, causada por uma força
física externa, que pode produzir um estado diminuído ou alterado do nível de consciência,
que resulta em comprometimento das habilidades cognitivas ou do funcionamento físico.
Pode também resultar no distúrbio do funcionamento comportamental ou emocional. Ele
pode ser temporário ou permanente e provocar comprometimento funcional parcial ou total,
ou mau ajusta1nento psicológico.
As lesões encefálicas são divididas em lesões pri1nárias e secundárias. As lesões primárias
ocorrem no momento do trauma e correspondem à contusão cerebral e à lesão anoxial difusa.
As lesões secundárias ocorrem segundo alterações estruturais encefálicas decorrentes da lesão
primária, bem como de alterações sistêmicas decorrentes do traumatismo. São lesões secun-
dárias a hipe1tensão intracranjana, hematomas intracranianos.

4.5.1 Tipos de TCE


~ Tra\1matismo craniano fechado: quando não há ferimentos no crânio ou existe
apenas uma fratura linear. Pode apresentar concussão que é uma breve perda de
consciência depois do traumatismo, sendo atribuída por uma desconexão funcional
entre o tronco cerebral e os hemisférios; geralmente se recobra a consciência antes de
seis horas.

78 Atendimento Pré-HospiLalar - Treinamento da Brigada de Emergência do Suporle Básico ao Avançado


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1:1 Fratura com afundamento do crânio: o pericrânio está integro, porém um fragmen-
to do osso fraturado está afundado e comprime ou lesiona o cérebro.
1:1 Fratura exposta do crânio: indica que os tecidos pericranianos foram lacerados e
que existe uma comunicação direta entre o couro cabeludo lesionado e o parênquima
cerebral através dos fragmentos ósseos afundados ou estilhaçados e da dura-máter
lacerada.
Sinais e sintomas do TCE de base do crânio:
1:1 Pupilas desiguais (anisocoria);
1:1 Perda de liquor ou sangue pelas narinas ou orelhas (rinorragia e otorragia);
1:1 Hemato1na periorbitário - sinal de Panda ou 0U1os de guaxinim;
1:1 Sinal de Battle - hematoma na região mastoide (atrás da orelha).

4.5.2 Classificação do TCE


1:1 Leve: assintomático, cefaleia, tonteira, hematoma ou laceração do couro cabeludo,
ausência de critérios de risco moderado ou alto (pontuação de 13 a 15 na escala de
Glasgow).
n Moderado: alteração da consciência no momento do traumatismo ou depois; cefa-
leia progressiva; intoxicação com álcool ou drogas; história inconfiável ou ausente do
acidente; convulsão pós-traumática, vômito, amnésia; poHtraumatismo, traumatismo
facial grave, sinais de fratura basilar; possível penetração no crânio ou fratura com
afundamento (pontuação de 9 a 12 na escala de Glasgow).
1:1 Grave: depressão da consciência (não claramente devido a álcool, drogas, encefalopa-
tia metabólica, pós-crise); sinais neurológicos focais, nível decrescente da consciência;
ferida penetrante do crânio ou fratura com afundamento palpável (pontuação de 3 a
8 na escala de Glasgow).

4.5.3 Atendimento inicial do TCE pela equipe de suporte avançado


1:1 Manter vias aéreas pérvias com dispositivos invasivos (encubação) ou não invasivos
(máscara com reservatório).
a Manter saturação acima de 95% e capnografia entre 25-30. A vítima não deve ser
hiperventilada.
1:1 Hiper-hidratação por infusão, mantendo pressão arterial sistólica maior que 90 mmHg.
1:1 Uso de drogas com ação de diurético osmótico (Manitol) 0,25-1 gr/kg e drogas anti-
convulsivantes 0,1 mg/kg.
1:1 Ficar atento a sinais de alerta como perda de pontos na escala de Glasgow, alteração das
pupilas (principalmente a anisocoria), fenômeno de Cusbing (vítima apresenta bradicar-
dia com pulso entre 40 e 50 bat/min e hipertensão pressão arterial < 160x100 mmHg).

Assistência a Vítimas de Trauma 79


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4.5.4 Verificação do nível de consciência - Escala de Glasgow
A escala de Glasgow foi criada por um neurocirurgião da Universidade de Glasgow na
Escócia. É uma escala universal que tem por finalidade medir o nível de consciência após
lesão cerebral.
São avaliados três parâmetros, sendo abertura ocular, resposta verbal e resposta motora e a
cada parâmetro há uma pontuação para cada ruvel de resposta. o final somam-se os pontos
obtidos. O resultado final varia de 3 (a soma da nota mínima nos três quesitos) a 15 (a soma
da nota máxima nos crês quesitos).
Se a soma dos resulcados ficar entre 3 e 8, o trauma é considerado grave, entre 9 e 12
trauma moderado, entre 13 e 15 trauma leve.
O ruvel 3, que é o mínimo, significa que a pessoa não abre os olhos, não fala, não se mexe
nem reage a estímulos. O ruvel 15, que é o máximo, significa que a pessoa abre os olhos
espontanea1nente, fala coerente1nente e obedece a comandos para se movimentar.
Os níveis inte1mediários dependem da soma de pontos em cada uma das três categorias
avaliadas (abertura ocular, resposta verbal e resposta 1notora). Por exemplo, o nível 9 pode
ser atribuído a uma pessoa que só abre os olhos com estímulos dolorosos, conversa de forma
desorientada e tem flexão hipertônica (2 + 4 + 3 = 9).
Pontuação total de 3 a 15:
u 3 = coma profundo (85% de probabilidade de morte; estado vegetativo)
a 4 = coma profundo
a 7 = coma intermediário
a 11 =coma superficial
a 15 = normalidade
Classificação do trauma cranioencefálico:
a 3-8 = grave (necessidade de entubação imediata)
a 9-12 = moderado
u 13-15 = leve
Tabela 4. 7: Escala de Glasgow.
Indicadores Resposta observada Escore
Espontânea 4
Estímulos verbais 3
Abertura ocular Estímulos dolorosos 2
Ausente l
ão testãvel T
Orientado ~

Confuso 4
Palavras inapropriadas 3
Melhor resposta verbal
Sons ininteligíveis 2
Ausente 1
!\ao testável NT
-

80 Atendimento Pré-Hospitalar - Treinamento da Brigada de Emergência do Suporle Básico ao Avançado


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Indicadores Resposta observada . Escore
Obedece comandos verbais 6
Localiza estímulos 5
Retirada inespecífica 4
Melhor respo.5ta motora Padrão flexor 3
Padrão extensor 2
Ausente l
Não testável NT

4.5.5 Escala do trauma


A escala de trauma leva em consideração três fatores, sendo a frequência respiratória (FR),
a pressão sistólica (PS) e escala de coma (escala de Glasgow).
A cada item é atribuída uma pontuação que varia de O a 4, cuja soma é o resultado da
escala do trau1na.

Tabela 4.2: Escala do trauma.

Frequência Pressão Escala de Coma


Pontuação
Respiratória (FR) Sistólica (PS) (Escala de Glasgow)
04 10 a 29 >89 13 a 15
- 03 > 29 76 a 89 09 a 12
-
- 02 06 a ()C) 50 a 75 06 a 08
- 01
o
01 a OS
o
01a49
o
04 a 05
03

Interpretação do resultado da escala de trauma:


a Pontuação de Oa 06 = trauma grave
a Pontuação de 07 a 10 = trauma moderado
a Pontuação de 11 a 11 = trauma mínimo
Em pontuação menor que 9, recomenda-se acionar o apoio da equipe de suporte avança-
do (com médico na tripulação) para manter ventilação adequada com entubação da vítima e
demais condutas médicas.

4.5.6 Atendimento a vítimas de trauma pela equipe de suporte básico


a Verificar A, B, C.
a Imobilizar cabeça com colar cervical.
a Não manipular sozinho, sempre em bloco (quatro pessoas).
a Verificar nível de consciência e seguir a escala de Glasgow.
a Transportar a vítima para a prancha em bloco utilizando técnica correta.
a Utilizar imobilizados de cabeça na prancha.

Assistência a Vítimas de Trauma 81


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4.5.7 Atendimento a vítimas de trauma pela equipe
de suporte avançado
a Verificar A, B, C.
u Verificar nível de consciência e seguir escala de Glasgow. Se a escala obtiver pontua-
ção menor que 8, preparar material para entubação orotraqueal.
a Obter acesso venoso.
a Instalar oxímetro de pulso.
a Manipular a vítima se1npre em bloco.
Estudo realizado em vítimas de trauma fechado constatou que dentre os procedimentos
do suporte básico de vida (SBV) as imobilizações das vítimas ocorreram em 98,S)OA>, o uso de
oxigenioterapia foi necessário em 96,0% das vítimas e as manobras de compressão torácica
fora1n executadas em 16 vítimas (9,2%). Dentre os procedimentos realizados pelo suporte
avançado de vida (SAV), a punção venosa periférica para reposição volêmica ou medicações
foi o procedimento mais frequente, sendo realizado em 92,0% das vítimas. Os procedimentos
avançados em vias aéreas foram realizados em 38,2% das vítimas, sendo a entubação orotra-
queal a intervenção 1nais frequente. (MALVESTIO, 2010)

4.6 Trauma musculoesquelético e de extremidade


As lesões do sistema musculoesquelético correspondem a 85% dos traumas, entretanto
não causam risco imediato de vida. São as fraturas, luxações, entorses, fraturas e amputação.

4.6.1 Sistema esquelético


O esqueleto é formado por ossos num total de 208 num indivíduo adulto. Ele é responsá-
vel pela sustentaç-Jo do corpo, proteção dos órgãos internos e fornece pontos de apoio para a
fixação dos 1núsculos. Também tem função da hematopoiese que é formar células sanguíneas
dentro da medula vermelha existente em alguns ossos e o armazenamento de sais minerais,
principalmente cálcio, fósforo, sódio e magnésio, podendo chegar a 600.«i do peso ósseo, com
o cálcio correspondendo a 97o/o. (SILVA, 2009)
Além dos ossos, eJdstem as articulações para unir dois ou mais ossos, formando um sistema
de alavancas movimentadas pelos músculos.
O esqueleto axial compõe-se de:
a Ossos da caixa craniana: frontal, parietais, temporais, occipital, esfenoide, nasal,
lacrimais, malares ou zigomático, maxilar superior e mandíbula.
u Ossos da coluna vertebral: coluna cervical, coluna torácica, coluna lombar, coluna
sacral, coluna cocciciana (cóccix).
a Ossos da caixa torácica: osso esterno e costelas, que são em número de 12 de cada
lado, sendo as 7 primeiras verdadeiras (se inserem diretamente no esterno), 3 falsas
(se reúnem e depois se unem ao esterno) e 2 flutuantes (com extremidades anteriores
livres, não se fixando ao esterno).

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O esqueleto apendicular compõe-se de:
a Ossos dos membros superiores: cada membro superior é composto de braço, ante-
braço, pulso e mão. Os ossos do braço são úmero, rádio e ulna. O pulso constitui-se
de ossos pequenos e maciços, os carpos. A palma da mão é formada pelos metacarpos
e os dedos, pelas falanges.
a Ossos dos membros inferiores: cada membro inferior é composto de coxa, perna,
tornozelo e pé. O osso da coxa é o fêmu r, o mais longo do corpo. No joelho, ele se
articula com os dois ossos da perna, a tibia e a fíbula. A região frontal do joelho está
protegida por um pequeno osso circular, a rótula. O tornozelo constitui-se de ossos
pequenos e maciços, os tarsos. A planta do pé é constituída pelos metatarsos e os
dedos dos pés (artelhos), pelas falanges.
Os membros estão unidos pela cintura superior formada pelos ossos da clavícula e escá-
pula e pela cintura inferior formada pelos ossos ilíacos.
Os ossos são classificação de acordo com a sua forma em:
a Longos: como o fêmur e o úmero.
a Curtos: ossos das mãos e dos pés têm as três extremidades praticamente equivalentes.
a Planos ou chatos: ossos do crânio, esterno, bacia e escápula, que são formados por
duas camadas de tecido ósseo compacto, tendo entre elas uma camada de tecido ósseo
esponjoso e de medula óssea.
A Figura 4.5 mostra o sistema esquelético.
....___ __ Crânio

-_.,,,..__ _ _ Maxilar
- - - - Mandibula


_ _ umero
..,...,.,_-\.,..--- Esterno

'<"--+.:--- Coluna vertebral


j::'. --Ulna
"S1 ~- Rádio
1 ~ J--t-- lho
\ ..~~.;;:;.Ç Carpo
i--- Metacarpo
.___ Falanges
Sacro-.Jl
Fémur ----'--+ 1
Patela (rótula) _ _....-;-,. fsqu10
Púbis

- - - Tarso
- - Metatarso
~-Falanges

Figura 4.5: Sistema esquelético. (Fonte: www.guiamedicodeminas.eom.br/esquefeto humano)

Assistência a Vítimas de Trauma 83


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Articulação
Articulação ou juntura é a conexão entre duas ou mais ossos. Essas uniões não só colocam
os ossos do esqueleto em contato, como também permitem que o crescimento ósseo ocorra
e que certas partes do esqueleto mudem de forma durante o parto. Além disto, capacitam
que partes do corpo se movimentem em resposta a contração muscular. Embora apresentem
consideráveis variações entre elas, as articulações possuem certos aspectos estruturais e fun-
cionais em comum que permitem classificá-las em três grandes grupos: fibrosas, cartilaginosas
.
e smov1a1s.

Tendões
Os tendões são cordões fibrosos que saem dos músculos e se fixa1n nos ossos. Através
deles podemos transferir a força gerada nos músculos par movimentar os ossos, formando o
princípio de alavanca que movimenta nossas articulações. Estes tendões são muito resistentes
e são envolvidos por u1na membrana a bainha sinovial.

Ligamentos
Os ossos de uma articulação mantêm-se no lugar por meio dos ligamentos, cordões fibro-
sos diferente dos tendões, saem de um osso e vão se ligar em outro osso, tendo como função
limitar o movimento das articulações impedindo as luxações. Os ligamentos estão firmemente
unidos às membranas que revestem os ossos.
As lesões dos ligamentos são convencionalmente descritas como entorses e são causadas
por superestiramento na amplitude extrema das articulações.

4.6.2 Tipos de trauma musculoesquelético


4.6.2.1 Fraturas
,
E o rompimento ou quebra de um segmento ósseo. São causadas por violências externas
como traumas, movimentos anormais ou enfermidades dos ossos como a osteoporose.
A fratura pode ser de gravidade simples quando as lesões em geral não oferecem risco
imediato à vida da vítima. Exemplo: fratura de ossos curtos como rádio, ulna, tíbia, fíbula. Ou
a fratura pode ser grave quando as lesões oferecem risco imediato de vicia à vítima, principal-
mente pela instabilidade hemoclinãmica provocada. Exemplo: fratura de fêmur e pelve com
perda sanguínea de até 2.000 mi ou de coluna que é altamente incapacitante.

Complicações das fraturas de membros - Síndrome de compartimento


A complicação mais grave do traumatismo dos membros é a síndrome de compartimento,
sendo as principais causas de um aumento da pressão no compartimento, o edema muscular
e a hemorragia decorrentes da fratura.
Um compartimento é delimitado pelo osso e a fáscia que nele se insere. A perna e o
antebraço são os mais afetados. A perna possui quatro compartimentos bem defin idos, sendo
o anterior, lateral, posterior profundo e posterior superficial. O ancebraço possui os compar-
timentos anterior e posterior.

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No interior de um compartimento existem músculos, tendões, artérias e nervos. Senclo
inelástico, o aumento da pressão no interior do compartimento leva a um sofrimento vascular
da extremidade, da musculatura local e dos nervos da região.
Os sinais e sintomas são dor, diminuição ela perfusão, parestesia, diminuição do pulso e
anestesia do membro, sendo a dor o principal sintoma, contudo esses sinais são mais tardios,
quando a síndrome jã está definitivamente instalada.
O tratamento da síndrome é sempre cirúrgico com a abertura ela fáscia, a chamada fascio-
tomia. Sempre que desconfiarmos clinicamente ela presença de uma síndrome compartimentai
(principalmente pela dor intensa), o procedimento deve ser realizado (fratura exposta).

Tipos de fratura
Fratura fechada
Na fratura fechada ou simples o osso não 1nantém comunicação com o rneio externo,
podendo ser completa quando há rompimento total do osso ou incompleta quando o rompi-
mento ela estrutura óssea não é total, ocorrendo somente fissuras, trincas e fraturas em galho
vereie.
Os sinais e sintomas são os seguintes:
Q Dor intensa;
Q Deformidade no local;
Q Hematoma;
a Edema;
a Incapacidade funcional do membro (total ou parcial);
a Crepitação óssea.
O tratamento cirúrgico empregado na fratura fechada é a osteossíntese que utiliza implan-
tes para fixar o osso na posição correta requerida, de forma a promover a sua consolidação
satisfatória. Os implantes mais empregados são as placas, parafusos, fios metálicos, cravos e
fixação externa (traumatologia).
Fratura aberta - exposta
O termo fratura exposta é obsoleto na América do Norte, sendo empregado fratura aberta.
Define-se fratura aberta quando o osso fraturado ou seu hematoma (sítio) mantém comuni-
cação com o meio externo.
A maior preocupação nos casos de fraturas abertas é a osteomielite (infecção óssea) e
a chave par-a o controle dessa infecção é a fixação estável precoce dessa fratura com uma
imobilização correta.
O osso possui pouca vascularização, o que toma difícil o combate a infecções, pois os
antibióticos não podem agir adequadamente no osso infectado.
Os sinais e sintomas presentes na fratura aberta são:
a Fácil identificação (às vezes);
a Dor intensa;

Assistência a Vítimas de Trauma 85


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a Deformidade local;
a Incapacidade funcional;
a Hemorragia visível;
a Crepitação óssea.
O tratamento intra-hospitalar da fratura exposta é a prevenção de infecção com a irrigação
manual ou irrigação pulsátil com solução salina, ou solução antisséptica com o desbridamento
dos tecidos que estão necrosados ou que estão desvitalizados e irão necrosar. Os métodos de
fixação mais empregados são fixadores externos, haste intramedular bloqueada não fresada
e imobilização gessada em fraturas expostas da tibia. A antibioticoterapia é um tratamento
adjuvante e é feito com bactericidas de largo espectro de ação. (BALBACIIEVSKY, 2005)
A Figura 4.6 demonstra os tipos de fraturas.

,JJ......

Oblíqua Cominutiva Espiral Aberta

Figura 4.6: Tipos de fratura: fechadas oblíqua, cominutiva e espiral e fratura aberta.
(Fonte: http://www.sistemanervoso.com/images/primeirossocorros/285.jpg)

4.6.2.2 Entorse - Lesões tendíneas


,
E uma lesão de tendão, músculo ou ligamento próximo a uma articulação. Ocorre quando
urna articulação entre dois ossos é forçada além de seus limites fisiológicos. A lesão provo-
cada pela defonnação brusca geralmente produz o estiramento dos ligamentos na articulação
ou perto dela. Os músculos e os tendões podem ser estirados em excesso e rompidos por
movimentos repentinos e violentos.
Os sinais e sintomas da entorse são dor de grande intensidade, acompanl1ada de edema e
hematoma no local da articulação.
Pode ser difícil diferenciar entorse de uma fratura, dependendo do grau do edema, por-
tanto o socorrista deve evitar a movimentação da área lesionada e imobilização do membro
afetado até que um médjco examine e dê o diagnóstico final.
A imobilização diminui a dor e pode ajudar a prevenir futura lesão de músculos, nervos,
vasos sanguíneos, ou ainda da pele em decorrência da movimentação dos fragmentos ósseos.
a entorse de imediato o socorrista pode aplicar bolsa de gelo ou compressa fria, pois isso
reduz o edema, o hematoma e a dor.
Após 48 horas da ocorrência da entorse a dor e o edema diminuem, no entanto a dor ge-
ralmente persiste de 7 a 10 dias em entorses leves e de 3 a 5 semanas ern entorses mais graves.

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4.6.2.3 Luxação - Lesões articulares
A luxação é uma lesão em que as extremidades ósseas que formam uma articulação ficam
deslocadas, permanecendo desalinhadas e sem contato entre si. O desencaixe de um osso ela
articulação pode ser causado por urna pressão intensa, que deixa o osso numa posição anormal,
ou também por urna violenta contração muscular, podendo surgir urna ruptura dos ligamentos.
Na luxação completa, os segmentos ósseos que constituem a articulação ficam completa-
mente desunidos, enquanto na luxação incompleta a união dos segmentos ósseos é muito redu-
zida. Embora, por vezes, a extremidade do osso deslocado fique no interior da cápsula articular
Ouxação intracapsular), existem casos em que fica no exterior dela Ouxação extracapsular).
Os sinais e sintomas mais comuns de urna luxação são, dor intensa, deformidade grosseira
no local da lesão e a impossibilidade de movimentação. E considerada e1nergência devido à
dor intensa que persiste 1nesmo após imobilização.
O socorrista deve proceder como se fosse um caso de fratura, imobilizando a região lesada
sem o uso de tração. As luxações na altura do ombro devem ser imobilizadas com bandagem
triangular ou tipoia.
O trata1nento intra-hospitalar para as luxações é a redução que consiste na reposição, o
mais aproximada possível, da anatomia normal por manipulação. Pode ser executada por
manipulação externa (redução incruenta ou fechada) ou expondo cirurgicamente a lesão
(redução cruenta ou aberta) (traumatologia).
A Figura 4.7 apresenta uma luxação do ombro.

Acrômio Clavicula Coracoide Úmero Glenotde

Anatomia normal Ombro deslocado

Figura 4. 7: Luxação de ombro. (f-onte: http://adam.sertaoggi.eom.br/encyclopedia/imagepage/15073.htm)

4.6.3 Técnica de imobilização de fraturas


4.6.3.1 Tipos de talas
Existe1n no mercado vários tipos de talas. Dê preferência não improvisar talas com jor-
nais, madeira, metal, entre outros, pois além de ferir a vítima, pode não proporcionar urna
imobilização correta. O ideal é adquirir talas aramadas moldáveis, sendo de fácil aplicação.
São confeccionadas em arame galvanizado ou alumínio e recobertas externamente em ambas
as faces por espuma flexível antialérgica. Existem vários tamanhos para uso em membros
superiores e inferiores.

Assistência a Vítimas de Trauma 87


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As talas infláveis confeccionadas em PVC com bomba de enchimento acompanhada po-
dem ser outra opção. Sua aplicação é simples, porém não podem ser utilizadas em fraturas
desalinhadas, fraturas abertas e lesões em articulações. Devem ser usadas somente para trans-
portar a vítima do local do acidente ao hospital. Não devem permanecer por mais de três ho-
ras no membro afetado devido a riscos de complicações como queimaduras, garroteamento.
Assistência a vítimas de fratura pela equipe de suporte básico:
a Tranquilizar a vítima.
a Retirar vestimentas, sempre com auxílio de tesoura ponta romba.
a lão tentar alinhar a área lesada.
a Checar pulso distal e perfusão periférica.
a Nunca moldar a tala sobre o me1nbro fraturado da vítima.
a Imobilizar a articulação acima e abaixo da fratura (duas articulações).
a Imobilizar com talas, dependendo do alinhamento do osso, Figura 4.8.
a Enfaixar iniciando sempre do distal para o proximal, ou seja, no sentido do retorno
venoso.
a Não comprimir ossos expostos ou tentar recolocá-los no lugar.
a Verificar perfusão capilar antes e depois da estabilização.
a Prevenir choque, aquecendo a vítima com manta aluminizada.
a Nas fraturas abertas estancar hemorragias, prevenir contaminação, não recolocar o
osso para dentro (não alinhar) e usar solução salina para umidificar o osso.
a As luxações e fraturas na altura do ombro, clavícula e escápula devem ser imobiliza-
das com bandagem triangular ou tipoia, Figura 4.9.
a Trabalhar se1npre em equipe no 1nínimo com dois socorristas.
a Transportar para hospital.

Figura 4. 8: Imobilização de fraturas com talas. Figura 4.9: lmobilililção com bandagem triangular.

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4. 7 Hemorragias - Lesões vasculares
A hemorragia é definida como a ruptura ou laceração de um vaso sanguíneo com o
extravasamento de seu conteúdo. Normalmente o volume de sangue corresponde a 7o/o do
peso corporal no adulto. Por exemplo, um homem de 70 Kg tem aproximadamente cinco
litros de sangue.
O sangue é composto por uma parte líquida chamada plasma ou soro, e outra sólida,
formada pelos glóbulos vermelhos, brancos e as plaquetas. Os glóbulos vermelhos dão cor
ao sangue e têm por função o transporte do oxigênio. Os brancos respondem pela defesa do
organismo e as plaquetas são parte fu ndamental no processo de coagulação sanguínea.
Do ponto de vista anatômico as hemorragias podem ser classificadas em:
a Hemorragia arterial: ocasionada pelo rompimento de uma artéria, apresenta-se em
jatos e com sangue de cor vermelho-vivo, podendo conter bolhas, indicando que esse
sangue é rico em oxigênio.
a Hemorragia venosa: ocasionada pelo rompimento de uma veia, apresenta-se em
filete e com a presença de sangue vermelho-escuro.
a Hemorragia capilar: causada pelo rompimento de capilares sanguíneos. O exemplo
mais comum desse tipo de hemorragia é a escoriação.
As hemorragias também podem ser divididas do ponto de vista clínico em:
a Hemorragias externas: ocorre extravasamento de sangue para fora do corpo.
a Hemorragias internas: são mais difíceis de serem diagnosticadas, porque se apre-
sentam de forma mais subjetiva, não exteriorizando o sangue. São ocasionadas por
rupturas internas, decorrentes de traumas nos órgãos em seus respeaivos sistemas. São
comuns em acidentes automobilísticos e em acidentes de quedas de grandes alturas.
De acordo com a perda sanguínea, as hemorragias dividem-se em quatro classes:
a Hemorragia Classe 1: perda de até 15% do volume sanguíneo. Neste caso os sintomas
e sinais são mínimos. Podem ocorrer discreta taquicardia e pequena diferença entre a
pressão arterial sistólica e a diastólica.
a Hemorragia Classe II: perda de 15% a 300/o do volume sanguíneo. Corresponde à
perda de 750 a 1500 ml de sangue. Ocorre taquicardia (FC > 100 bat/min em adulto),
aumento da frequência respiratória e redução da pressão de pulso pela elevação da
diastólica, alterações do Sistema Nervoso Central como ansiedade.
a Hemorragia Classe m: perda de 300/o a 40% do volume sanguíneo. Corresponde à
perda de aproximadamente 2.000 ml de sangue em adultos. Nesses casos, existem
sinais e sintomas de uma insuficiente perfusâo tecidual. Assim, verifica-se um acen-
tuado aumento ela frequência cardíaca e respiratória, hipotensão e intensificação das
alterações mentais.
a Hemorragia Classe IV: perda de mais de 40% do volume sanguíneo. Requer imediata
reposição de volume e pode causar a morte. Há acentuado aumento da frequência
cardíaca (taquicardia) e respiratória, hipotensão grave. A vítima entra em estado de
choque hipovolêmico.

Assistência a Vítimas de Trauma 89


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4.7.1 Artérias e veias
As artérias são vasos de parede espessa que saem do coração levando angue oxigenado
para os órgãos e tecidos do corpo. Compõem-se de três camadas, sendo a mais interna, chama-
da endotélio, fonnada por uma única camada de células achatadas; a mediana, constituída por
tecido muscular liso; a mais externa, formada por tecido conjuntivo, rico em fibras elásticas.
Quando o sangue é bombeado pelos ventrículos e penetra nas artérias, elas relaxam e
dilatam, o que diminui a pressão sanguínea. A cada sístole ventricular é gerada uma onda de
relaxamento que se propaga pelas artérias desde o coração até as extremidades das arteríolas.
Os capilares sanguíneos são vasos de pequeno calibre que ligam as extremidades das
arteríolas, última parte de uma artéria, às extremidades das vênulas, início das veia. Quando
o sangue passa pelos capilares, parte do líquido que o constitui atravessa a parede capilar e
espalha-se entre as células próximas, nutrindo-as e oxigenando-as.
As veias são vasos que chega1n ao coração, trazendo o sangue com gás carbônico dos ór-
gãos e tecidos. A parede das veias, como a das artérias, também é formada por três cainadas. A
diferença, porém, é que a camada muscular e a conjuntiva são menos espessas que as artérias.
Alé1n disso, diferentemente das artérias, as veias de maior calibre apresentam válvulas em seu
interior, que impedem o refluxo de sangue e garantem sua circulação em um único sentido.
Depois de passar pelas arteríolas e capilares, a pressão sanguínea di1ninui, atingindo va-
lores muito baixos no interior das veias. O retomo do sangue ao coração eleve-se, em gf".tnde
parte, às contf".tções dos músculos esqueléticos, que comprimem as veias, fazendo com que
o sangue desloque-se em seu interior.
A Figura 4.10 demonstra a diferença entre os vasos sanguíneos.

Veia Artéria Capilar

•• ••

As veias levam ao coração As artérias levam sangue Os capilares levam sangue


sangue vindo do corpo. do coração a todo o aos tecidos, para fornecer
Suas paredes são mais corpo. Suas paredes são oxigênio ás células. Eles
finas que as das artérias espessas e dilatáveis. ligam artérias a veias.

Figura 4.10: Diferença entre os vasos sanguíneos. (Fonte: CD O Corpo Humano 2.0. Globo Multimídia)

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4.7.2 Técnicas de hemostasia
A técnica de hemostasia deve ser empregada em hemorragias externas, devendo ter uma
sequência. Lembre-se da segurança do socorrista que deve utilizar os EPis, luvas, óculos e
máscara para realizar a técnica:
a Compressão direta sobre o ferimento com gazes: compressas cirúrgicas estéreis.
Não deve ser removida a primeira gaze do ferimento. Em caso de surgir sangue por
cima ela primeira gaze, sempre coloque outra em cima e aplique mais compressão.
a Elevar o membro: a elevação do membro diminui o fluxo sanguíneo, diminuindo o
sangramento.
a Compressão da artéria proximal: a compressão dos pontos arteriais determina a
interrupção do fluxo sanguíneo para a área irrigada por aquela artéria. Os pontos arte-
riais comumente utilizados para interromper uma he1norragia são os correspondentes
aos pulsos braquial, femor'.tl, carotídeo, temporal e radial, mas qualquer pulso palpável
pode ser utilizado para reduzir a hemorragia.
n Torniquete: deve ser considerado como último recurso, quando as técnicas anteriores
não funcionarem, ou nos casos de amputação de extremidades com sangramento
severo. Consiste numa bandagem constritora colocada em torno de uma extremidade
até que o fluxo sanguíneo pare por completo.
Técnica para aplicação do torniquete, apresentada na Figura 4.11:
a Use uma bandagem larga dobrada até que fique com aproximadamente 10 cm de
largura. Amarre essa atadura larga duas vezes ao redor da extremidade lesada. A
localização mais segura e efetiva para a colocação do torniquete é cerca de 5 cm acima
do local da lesão.
a Dê um nó fmne na atadura. Coloque um bastão de madeira ou outro material similar
sobre o nó e amarre novamente com um segundo nó fmne.
a Utilize o bastão como uma caneta ou pedaço de madeira como uma manivela para
rodar e apertar a atadura.
a Ape1te o torniquete até o sangramento cessar. Uma vez controlada a hemorragia, não
rode mais o bastão e mantenha-o firme no lugar. O torniquete deve ficar no máximo
120 1ninutos, não sendo necessário desapertar (afrouxar) antes de chegar ao hospital.
a Identifique o torniquete na vítima e a hora em que ele fo i realizado.

Figura 4. 11: Aplic:ação do torniquete.

Assistência a Vítimas de Trauma 91


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4.7.3 Sinais de choque hipovolêmico em consequência
da hemorragia
A redução no volume de sangue circulante causa diminuição no débito cardíaco e reduz
toda a circulaçlo. O reconhecimento precoce e o cuidado efetivo no atendimento do choque
hipovolêmico podem salvar a vida da vítima.
Os sinais e sintomas do choque hipovolêmico são:
a Taquicardia (pulso apresenta-se fraco e rápido);
a Pele fria e úmida (pegajosa);
a Pupilas midriáticas (dilatadas) com reação lenta à luz;
a Hipotensão;
a Taquipneia (respiração rápida e profunda);
a Ansiedade, inquietação;
a Sede intensa; a víti1na pede água, porém não deve ser oferecido líquido; molhar gaze
em água e umidecer a boca;
a Náusea e vômito;
a Com o agravamento do quadro a vítima perde a consciência, podendo evoluir para
parada cardiorrespiratória.
O tratamento do choque hipovolêmico é a reposiçj,o volêmica com cristaloides ou coloi-
des. Quanto aos cristaloides, somente um quarto do volume infundido pennanece no tecido
intravascular após uma hora, enquanto os coloides apresentam maior pennanência no tecido
intravascular.
O risco de edema pulmonar na reposição volêmica com cristaloides isotônicos é justificada
pela iná distribuição desse líquido no organismo. A inclusão das soluções salinas hipertônicas
e dos líquidos que se utilizam da hipertonicidade e o aumento da pressão coloidosmótica em
soluções hipertônicas hiperoncóticas oferecem novas perspectivas na terapêutica do paciente
em choque hipovolêmico. (ALONSO GOMES)
As respostas à terapia de reposição volêmica são:
a Imediatas: vítimas que apresentam sinais de perda volêmica em 200/Ú, 1nas que após
reposição deixam de apresentar sinais e sintomas do choque.
a MedJatas: vítimas que apresentam perdas volêmicas entre 20 a 40% e têm resposta
demorada após reposição e frequentemente necessitam de intervenção cirúrgica.
a Tardias: não apresentam resposta satisfatória à reposição e necessitam de intervenção
., .
ClfUrg1ca.

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4.8 Punção intraóssea
A punção intraóssea foi introduzida em 1922. Essa técnica foi extensamente utilizada
até os anos de 1940 e somente foi revisada nos anos de 1980. O acesso intraósseo voltou a
ganhar evidência com as atuais diretrizes mundiais de reanimação cardiopulmonar. (LANE,
J.C. GUIMARÃES, 2008)
O princípio da punção intraóssea é que nos ossos longos, os sinusoides da medula óssea
drenam para canais venosos que levam o sangue ao sistema venoso. A vantagem anatômica
da medula óssea é seu funcionamento como urna veia rígida que não colaba em estado de
hipovolêmica e no choque circulatório periférico.
A via intraóssea tem sido usada com eficácia como via de emergência na parada cardior-
respiratória, nos choques hipovolêmico e séptico, queimaduras graves, estados epiléticos pro-
longados e desidratação intensa, principalmente em crianças. (LANE, J.C. GUIMARÃES, 2008)
A punção intraóssea consiste na introdução de uma agulha especial na cavidade da
medula óssea, possibilitando acesso à circulação sistêmica venosa por meio da infusão de
medicamentos ou soluções na cavidade medular. Deve ser realizada somente cm situações
de emergência. Pode ser indicada para adultos e crianças menores de seis anos ele idade com
unpossibilidade de qualquer outro acesso venoso.

4.8.1 Técnica para executar a punção intraóssea


a Colocar o paciente em posição supina com coxim sob a articulação cio joelho.
a Realizar antissepsia com povidine iodado.
a Identificar por palpação o local a ser puncionado, palpar a porção anteromedial da
tJbia cerca de 2 a 3 cm abaixo do platô da tJbia ou a porção anteromedial, cerca de
2 a 3 cm acima do maléolo.
a Puncionar com ângulo da agulha intraóssea em 900, utilizar cateter de grosso calibre
conectado a urna seringa de 20 mi contendo 0,5 mi de solução salina.
a Para penetração da agulha intraóssea deve ser realizada uma pressão firme.
a Retirar o guia da agulha intraóssea.
a Aspirar conteúdo medular, certificando-se de que está localizado no interior do osso.
a Administrar soluções.
a Fixar equipo com espa radrapo.
a Colocar tala no membro para imobilização.
a A punção deve permanecer até que outro acesso seja possível, ainda na situação de
. ~

emergencra.

Assistência a Vítimas de Trauma 93


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Um coxim debaixo do joelho com leve rotação externa
coxofemoral facilita a estabilidade da extremidade.

Figura 4.12: Punção intraóssea em criança. (Fonte: www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext. ..)

As complicações da punção intraóssea são abscesso subcutâneo, osteomielite, septsemia,


hematomas, necrose do local, extravasamento de solução no tecido subcutâneo, sendo a
osteomielite a principal complicação.
Já existe no mercado o DIG (Bone lnjection Gun), sendo um dispositivo automático de
punção intraóssea. Existem dois dispositivos, um para uso adulto e outro par<l uso pediátrico.
O dispositivo ativa uma mola que injeta uma agulha no local correto da punção. Retira-se a
agulha do trocar, deixando a cânula dentro da medula óssea. Através dessa administram-se as
soluções ou medicamentos.

Figura 4.13: Dispositivo para punção int.raóssea. (Fonte: http://www.medicalview.eom.br/waismed.asp)

4. 9 Esmagamento - Lesões nervosas


O esmagamento é um tipo de acidente em que o corpo da vítima é total ou parcialmente
sujeito a uma forte pressão, em que ocorre a quebra dos ossos e o esmagamento dos órgãos.
Acidentes automobilísticos, desabamentos e acidentes industriais podem resultar em feri-
mentos abertos ou fechados. O dano tecidual da lesão com esmagamento é extenso, atingindo
músculos, tendões, ligamentos, ossos, vasos sanguíneos. Os esmagamentos de tórax e abdô-
men causam graves distúrbios circulatórios e respiratórios.

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No caso de extremidade presa a maquinaria industrial, deve-se desligar a energia da
máquina, em seguida fazer a lenta reversão manual das engrenagens e retirada do membro.
Caso não seja possível liberar a extremidade, a máquina deve ser desmontada e transportada
juntamente com a vítima ao hospital. Em alguns casos o esmagamento dos mernbros resulta
em amputação.

4.10 Amputação traumática


A amputaçlo traumática acidental é a ruptura parcial ou total de um corpo. Na amputação
total todo o membro é desligado do corpo, já na amputação parcial, algumas partes penna-
necem ligadas ao corpo. Amputações traumáticas mais frequentes atingem os membros e
apêndices como os braços, orelhas, dedos, mãos, pernas e nariz.
A perda sanguínea pode ser maciça ou mínima, dependendo da natureza da lesão e do
local da amputação. Vítimas que perdem pouco sangue e têrn acidentes menos graves, por
vezes sentem mais dores do que as que sangram muito e cujas lesões são de risco de vida.
Estabilizar a vítima, controlar a hemorragia e se for o caso usar o torniquete, transportar a
vítima coberta com uma manta aluminizada para prevenção da hipotermia. Quanto ao mem-
bro amputado, deve ser colocado em recipiente com solução salina (não coloque em água)
e resfriá-lo. Não colocar o rnembro em contato direto com gelo, pois ocorre vasoconstriçâo,
não sendo mais possível o reimplante. O reimplante de membro tem sucesso até seis horas
após o acidente.

4.11 Imobilização e transporte de vítimas


A proteção da coluna vertebral constitui medida universal no atendimento de vítimas de
trauma, portanto as manobras para imobilização da vítima visam preservar a coluna vertebral
e transportar de maneira segura a vítima até o hospital.

4.11.1 Retirada rápida de vítima - Chave de Rauteck


A chave de Rauteck é uma manobra utilizada em vítimas que estejam em locais de risco
iminente como incêndio corn risco de explosão, ambientes com fumaça, veículo em ribancei-
ra. O socorrista deve considerar sua segurança pessoal, portanto a vestimenta de EPis toma-se
necessária, como uso de roupas de aproximação de fogo, roupas nível A ou B para casos de
acidentes com produtos químicos.
essa manobra o socorrista sozinho sem a realização do ABC ou colocação de colar
cervical puxa a vítima para fora do local de risco, deslizando-a no sentido craniocaudal. Retira
a vítima da zona quente para a zona morna (ver capítulo 1).
Em acidente automobilístico onde a vítima não esteja encarceirada (presa em ferragens)
e apresente parada cardiorrespiratória ou estado de choque, a chave de Rauteck deve ser
empregada, porém deve-se colocar o colar cervical na vítima antes de realizar a manobra.

Assistência a Vítimas de Trauma 95


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Posição das mãos Arrastamento da vitima

Figura 4.14: Chave de Rauteck.

4.11.2 Rolamento em 90º - Vítimas em decúbito dorsal


Essa técnica deve ser empregada em caso de vítimas encontradas em decúbito dorsal, a
qual deve ser realizada com o auxilio de três socorristas.
A técnica do rolamento em 90º consiste em rolar a vítima em monobloco para uma posição
lateral. A maca rígida é posicionada ao seu lado e a vítima é rolada novamente para cima dela.
O socorrista líder deve posicionar-se no nível da cabeça da vítima segurando-a com ambas
as mãos na região temporal e os demais socorristas ao lado da vítima. Durante a manobra a
vítima deve pennanecer em todo o procedimento com a cabeça e a coluna alinhadas.

Figura 4.15: Rolamento de 90".

4.11.3 Rolamento em 180°


Para a realização da técnica de rolamento em 1800 são necessários três socorristas.
Acompanhe os passos para a técnica de rolamento em 1800, confonne a Figura 4.16:

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a O socorrista líder mantém a cabeça da vítima imobilizada.
a Outros dois socorristas ficam posicionados lateralmente à vítima, em cima da prancha.
a o comando do socorrista líder, os dois socorristas lateralizam a vítima.
a Os dois socorristas saem de cima da pra.ncha.
a Em um novo comando do socorrista líder a vítima é colocada em cima da prancha.

Figura 4.16: Rolamento em 18Cf'.

4.11.4 Elevação a cavaleiro


Para a realização da técnica de elevação a cavaleiro são necessários cinco socorristas. Veja
os passos para a técnica de elevação a cavaleiro, como na Figura 4.17:

Figura 4. 17: Elevação a cavaleiro.

Assistência a Vítimas de Trauma 97


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a O socorrista líder mantém a cabeça da vítima imobilizada.
a Outros três socorristas se posicionam em cima da vítima a cavaleiro. Um socorrista na
altura dos ombros, o outro na altura dos quadris e o terceiro socorrista nas pernas.
a O quinto socorrista fica próximo, segurando a maca para conduzi-la ao comando do
socorrista líder.
a Ao comando do socorrista líder, os três socorristas que estão a cavaleiro levantam a
vítima cerca de 20 cm do solo, e o quinto socorrista introduz a prancha debaixo da
, .
v1uma.
a Em um novo comando do socorrista líder, a vítima é colocada sobre a prancha.
També1n pode ser empregada essa técnica quando se realiza o pranchamento em pé da
vítiJna e então se eleva a vítima a cavaleiro na maca.

4.11.5 Colete imobilizador dorsal - KED


O KED (Dispositivo de Kendrick Extrication) é u1n dispositivo imobilizador da coluna. A
rigidez vertical e a flexibilidade horizontal tomam o colete imobilizador dorsal o método mais
indicado para extração de vítimas presas nas ferragens e itnobilização de coluna em situações
de emergência. Pode ser utilizado para imobilizar fraturas da pélvis.
O KED é utilizado para imobilizar vítimas que estejam sentadas e que não corram risco de
morte imediato, não sendo utilizado em vítimas inconscientes.
O colete possui três tirantes para o tórax e dois para a virilha; para a cabeça é utilizado um
coxim com duas tiras para fixação.
Para execução da técnica de colocação do KED são necessários dois socorristas. Passos
para colocação do KED:
a Um socorrista mantém a imobilização manual e o alinhamento da vítima, segundo o
eixo nariz, umbigo e pés.
a Aplicar o colar cervical, mantendo sempre a estabilização cervical.
a O segundo socorrista introduz lateralmente o colete, fazendo-o deslizar pelas costas da
vítima de forma que as abas e presilhas passem para o outro lado, alinhando-o pos-
terionnente à coluna da víti1na. A presilha superior deve ser a última a ser conectada,
devendo ficar mais frouxa para não dificultar a respiração da vítima.
a Após os cintos estarem presos na cintura, passam-se os cintos pelas pernas da vítima,
prendendo os cintos no local correto.
a Após o KED preso a vítima pode ser retirada do local do acidente, sendo carregada por
dois ou mais socorristas, dependendo do peso da vítima.

98 Atendimento Pré-HospiLalar - Treinamento da Brigada de Emergência do Suporle Básico ao Avançado


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,

1. Fixação dos tirantes da 2. Fixação dos tirantes 3. Retirando


cabeça com uso do coxim no tórax e na coxa a vitima

Figura 4.18: Colocação do KED em vílima.

4.11.6 lmobilizador da região cervical - Colar cervical


O colar cervical imobiliza o movimento anteroposterior da vítima, devendo ser colocado
em todas as vítimas de trau1na para imobilizar a região cervical e evitar o agravamento de
eventuais lesões.
O colar cervical deve ter desenho assimétrico, ser dobrável e possuir aberturas para acesso
à região cervical para possível realização de procedimentos, como cricotiroidostomia, assim
como facilitar a verificação do pulso carotídeo.
O colar cervical tem diversos tamanhos. Para facilitar a identíficação, os velcros possuem
cores diferentes, indicando os tamanhos, como:
1:l Tamanho BB (neonatal): velcro cor rosa
a Tamanho pediátrico: velcro cor azul-claro
lil Tamanho PP: velcro cor lilás
a Tamanho P: velcro cor azul-Royal
a Tamanho M: velcro cor laranja
a Tamanho G: velcro cor verde
lil Tamanho GG: velcro cor branco

4.11.6.1 Escolha do tamanho do colar cervical


Para a escolha do colar cervical, que deve fornecer uma boa adaptação à cabeça e ao om-
bro da vítima, é importante medir o colar cervical antes da colocação, evitando a colocação de
colar cervical não adaptado à estrutura da vítima, não surtindo o efeito desejado e podendo
piorar a situação da vítima.
Técnica para escolha do tamanho do colar cervical:
lil O socorrista deve veríficar com os dedos a distância da mandíbula à base do pescoço
da vítima.
a Com essa medida o socorrista verífica o tamanho apropriado do colar cervical para a
vítima. Não incluir na medida do colar a borda macia (esponja) do colar cervical.

Assistência a Vítimas de Trauma 99


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Colocação do colar cervical em vítima em pé, Figura 4.19:
a O socorrista se posiciona na frente da vítima.
a Realiza a instabilizaçâo da coluna cervical, segurando com as mãos a cabeça da vítima.
a O segundo socorrista posiciona pela frente o colar cervical, apoiando a extremidade
inferior do colar ao osso esterno da vítima.
a Passar o colar cervicaJ pelo pescoço e fixar o velcro.
a Devem ser retirados adornos do pescoço da vítima antes da colocação do colar cervical.

Figura 4.19: Colocação do colar cervical em vítima em pé.

Colocação do colar cervical em vítima deitada, Figura 4.20:


a O socorrista deve se posicionar atrás da vítima, segurando a cabeça da vítima para
instabilizar a coluna cervical.
a O segundo socorrista coloca a parte posterior do colar cervical atrás do pescoço da
, .
v1uma.
a Trazer a parte anterior do colar cervical para a frente do pescoço, posicionando o colar
na linha média e fixar o velcro.

Figura 4.20: Colocação do colar cervical em vítima deitada.

100 Atendimento Pré-HospiLalar - Treinamento da Brigada de Emergência do Suporle Básico ao Avançado


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4.11.7 lmobilizador lateral de cabeça
O imobilizados lateral de cabeça deve ser colocado em todas as vítimas de trauma. Ele
imobiliza os movimentos laterais da cabeça que não são imobilizados com o colar cervical,
por isso a importância do imobilizador lateral de cabeça para transporte da vítima de trauma.
O imobilizador lateral de cabeça é confeccionado em material impermeável como o nái-
lon, portanto pode ser desinfetado com hipoclorito de sódio a 1% após o uso. É composto
por dois coxins com orifício para verificação de sinais de otorragia, uma base com velcro para
fixar os coxins, duas fitas para fixar o equipamento na parte superior da maca e mais duas fitas
que devem ser colocadas na altura da testa da vítima e outra na altura do queixo.
Colocação do imobilizador lateral de cabeça, Figura 4.21:
a Posicionar os coxins um de cada lado da cabeça da vítima, empurrando-os contra a
base do pescoço e posteriormente ajustando-os nas laterais da cabeça da vítima.
a Passar a primeira faixa de fixação do imobilizador lateral de cabeça na testa da vítima,
pressionando a faixa contra os cox:ins, de forma a conseguir manter o controle da
cabeça co1n os dedos.
a Passar a segunda faixa do imobilizador lateral de cabeça no mento (queixo) da vítima
sobre o colar cervical, pressionando a faixa contra os coxins .

Figura 4.21: Colocação do protetor lateral de cabeça.

4.11.8 Imobilização na prancha


As macas rígidas ou pranchas são muito úteis no transporte de vítimas e serviços de
salvamento e resgate. A prancha cu1ta mede 45 cm de largura e 70 cm de comprimento.
A prancha longa mede 45 cm de largura e 180 cm de comprimento, com dois trilhos finos
na superfície inferior que são essenciais para suspendê-la com facilidade. Cada prancha deve
possuir tirantes próprios que amarram a vítima através de fivelas autoaderentes ou do tipo
engate rápido.

Assistência a Vítimas de Trauma 101


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Figura 4.22: Pranchamento em pé para imobilização da vítima.

O colchão a vácuo é u1na opção para imobilização e transporte de vítimas principaltnente


de trauma raquimedular (TRM). O propósito do colchão de vácuo é permitir a imobilização
total do corpo, evitando os efeitos do transporte.
O cinto aranha ou octopus é utilizado para imobilização de vítimas em pranchas longas
em locais de difícil acesso, como corredor estreito, escadas. A vítima fica mais estabilizada
para o transporte, pois o cinto aranha evita o deslizamento, podendo transportar a vítima,
dependendo do local, em pé.

,,o

l. /\
Figura 4.23: Imobilização de vítima com colchão Figura 4.24: Cinto aranha, para imobilização de vftimas
a vácuo. (Fonte: http://www.s2sistemas.com.brf adultas em prancha. (Fonte: http://wwvv.s2sistemas.eom.br/
ortopratika/index.php ?p= produtos&cat =transporte) ortopratikafindex.php?p=produtos&cat= transporte)

4.11.9 Transporte de vítimas


A escolha do método de transporte depende da gravidade da lesão, do número de pessoas
disponíveis, do acesso ao local do evento. Antes de iniciar o transporte o socorrista deve
verificar peso, posição e lesões da vítima, o percurso que será feito até a ambulância e a ajuda
disponível. As vítimas de trauma devem ser transportadas em pranchas rígidas.
O socorrista deve estar atento sempre que possível à ergonomia para preservar complica-
ções principalmente em sua coluna. O correto agachamento, mantendo a coluna ereta para o
transporte da vítima na prancha, deve ser feito em bloco com pelo menos quatro socorristas,
mantendo a distribuição do peso da vítima para todos os socorristas, não sobrecarregando a
coluna de quem está salvando vidas.

102 Atendimento Pré-Hospitalar - Treinamento da Brigada de Emergência do Suporle Básico ao Avançado


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1. Todos pegam a prancha 2. Todos apoiam a prancha no joelho

3. Todos se levantam
Figura 4.25: Transporte de vítima, sequência para elevação da prancha.

Socorrista transportando vítima nas costas Socorristas transportando vítima com auxílio de uma cadeira

Socorristas transportando vítima fazendo cadeirinha


Figura 4.26: Tipos de transporte de vítimas.

Assistência a Vítimas de Trauma 103


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Exercícios
1. O que é evisceraçâo e con10 se deve proceder no atendimento a vítima?
2. Qual é o procedimento para curativo de um pneumotórax aberto?
3. Em que se baseia a verificação do nível de consciência pela escala de Glasgow?
4. Em que se baseia a escala do trauma?
5. Qual a assistência que deve ser prestada pela equipe de emergência no suporte básico
de vida a uma vítima de fratura?
6. O que é e como se realiza a técnica de hemostasia?
7. O que se deve fazer com o 1nembro amputado em vítimas de amputação traumática?
8. O que é chave de Rauteck?
9. Para qual finalidade deve ser colocado o colar cervical e quais movimentos ele imobiliza?
10. Para qual final idade deve ser colocado o imobilizador lateral de cabeça e quais movi-
mentos ele imobiliza?

104 Atendimento Pré-Hospitalar - Treinamento da Brigada de Emergência do Suporle Básico ao Avançado


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Assistência a Vítimas
de Queimadura

Queimaduras são lesões da pele provocadas pelo calor,


radiação, produtos químicos, certos vegetais e animais e po-
dem levar a infecções.
Estudo realizado na Inglaterra com vítimas ele queimadura
constatou que 20% cios casos corresponderam a acidentes de
trabalho. Nesse grupo a maioria absoluta dos acidentados do
trabalho era homem numa proporção de 11 homens para uma
mulher e a idade média ele 34 anos. Deve-se notar que 35% desses
operários procurou atendimento depois de cinco dias de ter sofri-
do a queimadura. A etiologia das queimaduras ocupacionais foram:
substância química (23%), fogo (14%), líquido quente (14%). Em 700~
dos casos a queimadura foi menor ou igual a 1% da superfície corporal.
(KJ.\IOPUCII, 2000)
No Brasil não há dados sobre a incidência de queimaduras. Um estudo
realizado pelo Hospital das Clínicas de Ribeirão Preto, em 2000, onde
foram atendidos 138 casos de queimaduras mostrou que 71% ocorreram
no domicílio, e 50% das vítimas foram crianças entre 3 e 11 anos. Entre
os adultos homens afetados 170~ foram por acidente de trabalho, entre as
mulheres afetadas 67% foram queimaduras no lar, sendo 33% por tentativa
de suicídio. Os agentes água quente e álcool foram os que mais causaram
queimaduras. Dos acidentes de trabalho as queimaduras por choque elétrico
e as queimaduras oculares ocorrem e1n maior número.

5.1 Formação da pele


A pele é um órgão externo que reveste o organismo e dá proteção às es-
truturas internas com relação ao meio exterior. A pele desempenha inúmeras
funções no organismo humano como:
a eliminação de toxinas através das glândulas sudoríparas;
~ proteção do organismo;

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a termorregulação;
a sensorial;
a imunológica;
a renovação dos cecidos de revestimento.
A pele é constituída por três camadas de fora para dentro que são epiderme, derme e
hipoderme.
a Epiderme: fonnada por tecido epitelial estratificado córneo, tern uma estrutura di-
versificada que é constituída por células capazes de produzir queratina, e células res-
ponsáveis pela pigmentação da pele, os melanócitos. Toda a superfície cutânea está
provida de terminações nervosas capazes de captar estímulos térmicos, mecânicos ou
dolorosos. Essas terminações nervosas ou receptores cutâneos são especializados na
recepção de estímulos específicos. a epiderme não existem vasos sanguíneos.
a Derme: é a camada intermediária entre a epiderme e a hipoderme, sendo constituída
por fibras proteicas, vasos sanguíneos, terminações nervosas, folículos pilossebáceos
(pelos) e glândulas sudoríparas.
a Hipoderme: formada por células adiposas que se agrupam formando lóbulos separa-
dos por filamentos de colágeno e por vasos sanguíneos. A hipoderme tem importantes
funções, como proteger o organismo contra choques e traumatismos, acuando ainda
como reserva energética e isolante térmico.
A Figura 5.1 demonstra a estrutura da pele.

Epiderme

Nervo
Arténa Derme
Veia-~

Folículo -.....::. - Hipoderme


piloso

Figura 5.1: Estrutura da pele. (Fonte: http://www.saudetotal.eom.br/prevencao/pele/anatomia02.asp)

5.2 Classificação das queimaduras


As queimaduras podem ser classificadas quanto ao agente causador, à profundidade ou
grau, à extensão ou severidade, à localização e ao período evolutivo.

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Os agentes causadores das queimaduras podem ser:
n Agentes fisicos: respondem por 37% dos acidentes com queimaduras. São classifica-
dos em térmicos: são os líquidos superaquecidos, correspondendo a 37% dos casos de
queimaduras, ocorrendo mais em crianças menores de 12 anos. Temos ainda o vapor,
o próprio fogo e o gelo.
a Agentes elétricos: a energia elétrica como as correntes de baixa voltagem (eletrodo-
mésticos), alta tensão e raio; radiantes: resultam da exposição à luz solar como os raios
ultravioleta ou fontes nucleares.
n Agentes químicos: substâncias químicas industriais, produtos de uso doméstico,
como solventes, soda cáustica, alvejantes ou qualquer ácido ou álcalis.
a Agentes biológicos: seres vivos, como, por exemplo, taturanas, água-viva, urtiga.

5.3 Profundidade ou grau da queimadura


A profundidade da queimadura depende de dois fatores, sendo a temperatura a qual a
pele foi exposta e o tempo de exposição. Outro fator que influencia na profundidade da lesão
é o calor específico do agente causador, ou seja, quanto mais calor o agente produzir maior
será a lesão.
A pele pode suportar períodos relativamente longos sem ter lesão, até 44 graus. As tempe-
raturas superiores produzem as lesões.
As queimaduras podem ser classificadas quanto ao grau em 1°, 2° e 30, Figura 5.2:
a 1º grau: atinge a epidenne, causa vennelhidão, é extremamente dolorida, não forma
boU1as. A cicatrização ocorre de 2 a 7 dias com a descamação da epidenne.
a ~grau: atinge a epidenne e parte da denne, não atinge os folículos pilosos e glându-
las sebáceas, caracterii.a-se pelo aparecimento de bolhas. A cicatrização ocorre em 10
a 14 dias em condições normaís sem infecção. Aparecem bolhas.
D 311 grau: atinge toda a espessura da pele (denne) incluindo as camadas adiposas, sendo
indolor devido à destruição das terminações nervosas cutâneas. A cicatrização ocorre
pelo crescimento epitelial a partir das bordas da ferida ou através do autoenxerto.

10 grau 22grau 30 grau

Figura 5.2: Graus da queimadura. (Fon1e: h1tp://www.einstein.br/images/queimadura_dass.jpg)

Assistência a Vítimas de Queimadura 107


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5.4 Extensão ou severidade da queimadura
a Pequenas: queimaduras de 2º grau com menos de 15% da superfície corporal em
adultos ou 10% em crianças ou queimaduras de 3º grau com menos de 2% da superfí-
cie corporal em adultos e crianças.
a Moderadas: queimaduras de 2º grau entre 15-25% da superfície corporal em adultos
e 10-20% em crianças e 3ll grau entre 2-lOOA> em adultos e crianças, exceto as áreas da
face, mãos, pés e genitália.
a Grandes queimaduras ou criticas: queimaduras de 2ll grau acima de 25% da super-
fície corporal em adultos e 200A> em crianças e as queimaduras de 3ll grau acima de
100/o. Incluindo as queilnaduras de face, pés, mãos, genitálias, elétricas, queimaduras
associadas à fratura ou perdas teciduais, doenças associadas.

5.4.1 Regra para avaliação da extensão da queimadura


Conhecida como Regra dos 9% em adultos, Figura 5.3:
Frente e costas:
a 9% rosto 90A> costas
a 9o/o tórax 90A> abdômen
a 9% abdômen 90A> perna direita
a 90A> perna direita 90A> perna esquerda
a 90A> perna esquerda 90A> os dois braços
a 90A> os dois braços, subtotal 45%
a 1o/o órgãos genitais, total 55% frente
a Subtotal 55%, 45% costas, 100%
Em crianças:
a Cabeça: 18%
a Pernas: 14% cada
a Braços: 9% cada
a Tronco frente: 18%
a Tronco costas: lSoA>
a Total: 100%
Não se considera a região genital.

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9

••
9 ••
4.l 41. J 9 \.
2 2
--···- .......

••
'
9 9'

9 9 9 9

Figura 5.3: Regra dos noves. (Fonte: www.hospitaldachapada.eom.br/.. ./primeiros.htm/)

5.4.2 Regra da palma da mão


Outra regra que se pode utilizar para avaliar a extensão das queimaduras é a regra da
palma da mão, que consiste em avaliar a área queimada, medindo com a palma da mão.
Ge!"'dlmente a palma da mão de um indivíduo representa 1% de sua superfície corporal.
Assim pode ser estimada a extensão de uma queimadura, calculando-se o "número de palmas".
As queimaduras de mãos, pés, face, períneo, pescoço e olhos, quaisquer que sejam a
profundidade e a extensão, necessitam de tratamento hospitalar. A gravidade da queimadura
será detenninada pela profundidade, extensão e a área afetada.

5.4.2.1 Assistência a vítimas de queimaduras pela equipe de suporte básico


n Vítimas de fogo: afastar a vítima do local o mais rápido possível. Em caso de vítimas
com roupas incendiadas deve-se rolar a vítirna ao chão para abafar as chamas, não
jogar água ou usar um extintor para apagar as chamas. Essa atitude pode provocar
mais lesões à pele.
n Irrigação da área queimada: a área queimada deve ser irrigada para que a tempera-
tura da pele abaixe e resfrie o local queimado, porém isso só deve ser feito com uso de
solução salina ou com água corrente do chuveiro de segurança. Não deve ser colocado
gelo, pois ele queima a pele, ou pomadas porque podem ocorrer reações alérgicas e
piorar a área queimada.
lCf Evitar hipotennia: se a superfície corporal atingida for superior a 20%, deve-se ter o
cuidado para evitar a hipotermia. Nesses casos não dê água e proteja o corpo da vítima
com um cobertor de emergência ou manta aluminizada.
lCf Não romper as bolhas: as queimaduras de 22 grau formam bolas que não devem ser
rompidas, pois elas protegem a pele.

Assistência a Vítimas de Queimadura 109


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a Remover roupas e adornos: a remoção das roupas e dos adornos imediatamente
após a queimadura é fundamental, pois quanto mais o tempo passar mais as roupas
vão aderir à pele da vítima, tomando-se mais difícil a remoção. Deve-se ressaltar que,
ao remover a roupa, não deve ser retirado o tecido que já estiver aderido à pele. Ele
deve ser cortado e deixado na pele para ser removido somente no meio hospitalar.
Quanto aos adornos, principalmente os anéis, alianças, as queimaduras nos membros
superiores fazem com que os dedos se edemaciem, tomando-se mais difícil sua re-
moção, sendo muitas vezes necessária a retirada com auxílio de alicates, que deve
ser realizado somente no meio hospitalar. Sempre que possível eleve os membros
atingidos para evitar os ede1nas.
a Proteção da área queimada: a área queimada depois de resfriada e removida a roupa
deve ser protegida com plástico estéril ou compressa cirúrgica u1nidecida com solução
salina para proteção de infecções. Os dedos da mão e pés, quando queimados, devem
ser protegidos separadamente para evitar aderência da pele.
a Não fornecer medicamentos para alívio da dor da vítima sem ordem médica, pois pode
agravar a situação.

5.4.2.2 Assistência a vítimas de queimadura pela equipe de suporte avançado


Além do citado na assistência pela equipe de suporte básico, a equipe de suporte avança-
do no atendimento pré-hospitalar deve:
a Obter acesso venoso.
a Avaliar nível de consciência.
a Manter vias aéreas pérvias. Se for queimadura de tórax, obseivar respiração. Caso haja
comprometimento respiratório, a escarotomia, procedimento médico, pode ser necessária.
a Prevenção do choque, observando sinais do choque.

5.5 Tratamento do grande queimado na área hospitalar


No atendimento pré-hospitalar a equipe de brigada somente presta cu idados para o alívio
da dor através do resfriamento da pele e cobertura da área lesada para prevenção das infec-
ções, que é a principal causa de morte entre os grandes queimados. O tratamento definitivo
será realizado somente em hospitais especializados em grandes queimados.
Dentro da área hospitalar o controle da dor passa a ser através de medicamentos, a
hidratação passa a ser através de volumes de soro infundidos na veia. Passa a ter importância
fundamental o controle hídrico, ou seja, deve ser controlado o volume que entra e sai da
vítima, sendo necessária a passagem da sonda vesicaJ.
Outros procedimentos invasivos podem ser realiz:ados, dependendo do estado da vítima,
como no caso de vítimas de queimaduras de 32 grau em região torácica com compressão dos
músculos respiratórios e restrição dos movimentos respiratórios com quadro de insuficiência
respiratória. Nesses casos o médico realiza a escarotomia torácica que é um procedimento de
emergência, que faz cortes na região torácica para descompressão dos músculos torácicos e
melhora da respiração.

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Outro procedimento de emergência em queimaduras de 31:2 grau e a fasciotomia que
consiste em realizar cortes nas áreas em que a queimadura é circular, como braços e pernas, e
ocorre a síndrome de compartimento, ou seja, o músculo comprime as veias e artérias, fican-
do o sangue retido nessas regiões, podendo levar a tromboses e em consequência a embolias.
Os procedimentos tardios das queimaduras consistem no debrldamento de áreas necrosa-
das, que geralmente ocorre em queimaduras de 31:2 grau. Esse procedimento é realizado pelo
médico dentro de um centro cirúrgico com anestesia. A balneoterapia é um procedimento
realizado para a lavagem dos ferimentos causados pela queimadura. Consiste em banhos de
aspersão (chuveiro) em temperatura não inferior a 37,S"C por no máximo 30 minutos.
Os enxertos são comu1nente realizados nos casos de queimaduras de 31:2 grau quando a
pele não conseguirá por si só fazer sua reconstituição. A pele é um órgão de difícil aceitação
ao enxerto, tornando-se necessário o autoenxerto, ou seja, retira-se um pedaço de pele sau-
dável da própria vítima para ser implanta na área lesada.
Existem outros tipos de enxertos, porém são te1nporários, como aloenxertos, pele de
pessoa doadora viva ou morta, e os xenoenxertos provenientes de animais como intestino
do porco e a pele da rã da espécie Rana Catesbtana Shaw, que são preparadas, desidratadas
e esterilizadas, sendo mantidas congeladas. Os aloenxe1tos ou xenoenxertos têm função de
proteger a área lesada, enquanto o organismo se recupera, sendo rejeitados pelo organismo
do receptor dentro de aproximadamente 10 a 14 dias após o enxerto.

5.6 Sobrevida das vítimas de queimaduras graves


Atualmente 50% dos queimados com 80% da superfície corporal atingida sobrevivem,
principalmente se forem adolescentes e jovens adultos. Existem três fatores de riscos de
mortalidade na queimadura, sendo idade acima de 60 anos, queimaduras com mais de 40%
da área corporal atingida e inalação de gases tóxicos. De cada 100 queimados três morrem
em decorrência das complicações das queimaduras.
As vítimas que sobreviverem às queimaduras graves atravessam um longo processo de
reabilitação física com dor, pruridos, cicatrizes, repetidas cirurgias, sequelas pennanentes,
assim como podem desencadear transtornos psiquiátricos, sendo a depressão e o transtorno
de estresse mais comuns. (MADEIROS, 2007)

5.7 Queimaduras especiais

5.7.1 Queimadura química ocular


As queimaduras químicas oculares são consideradas emergências oftalmológicas. São
frequentemente bilaterais e acometem 7 a 100/o dos casos relatados de traumas oculares. A
maioria das vítimas é do sexo masculino, jovem e observa-se alta incidência de acidentes de
trabalho.
A gravidade da lesão ocular depende da concentração do agente agressor, da duração da
exposição do globo ocular ao agente, do pH da solução e da velocidade de penetração da
droga. Dentre os agentes químicos causadores de queimaduras oculares graves, as substâncias

Assistência a Vítimas de Queimadura 111


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alcalinas são as mais frequentes, como amônia, hidróxido de amônia (soda cáustica), cal e
hidróxido de cálcio (cimento).
Os ácidos mais comumente associados às queimaduras são o ácido sulfúrico, ácido sul-
furoso e o ácido hidroclorídrico. Esses agressores causam danos intraoculares menores, pois
a precipitação das proteínas (coagulação) arua como barreira mecânica para a penetração ela
substância agressora (queimaduras oculares).
Os álcalis (bases) são comumente mais destrutivos quando comparados aos ácidos,
caracterizando-se pela rapidez com que penetram no olho, induzindo a alterações teciduais.
Quando há contato de compostos alcalinos em quantidade suficiente na superfície ocular,
em três a cinco minutos encontra-se a substância alcalina no humor aquoso, ocorrendo,
portanto, comprometimento não somente da superfície ocular, mas também do estrema,
endotélio corneano e estruturas intraoculares como íris, cristalino, trabeculado e corpo ciliar,
podendo levar a complicações graves nas córneas como ulceração e perfuração da córnea.
(CASTELLANO; MOREIRA; ZAGO; MILICOVSKY, 2002)
Estudo realizado em 1997 com pacientes vítimas de queimaduras oculares no Pronto
Socorro de Oftalmologia do Hospital São Paulo, Escola Paulista de Medicina/Universidade
Federal de São Paulo, constatou que 46,8% dos acidentes ocorrerarn em local de trabalho e
que a construção civil foi onde mais oco1Teram os acidentes (queimaduras oculares).
Em 2000, outro esrudo realizado no Serviço de Oftalmologia do f-Iospita1 Universitário
Evangélico de Curitiba avaliou vítimas de queimaduras oculares pelo agente químico cal e
constatou que 82,90Ai dos acidentes ocorreram em local de trabalho. (CASTELLANO; MOREIRA;
ZAGO; MILICOVSKY, 2002)
Outro esrudo realizado em 2005 no ambulatório do Serviço de Oftalmologia do Hospital
Universitário da Universidade Federal de Santa Catarina com vítimas de queimaduras ocula-
res constatou que as queimaduras químicas representaram 58% dos casos e que os agentes
causadores foram aqueles relacionados ao ambiente de trabalho, como energia radiante e cal
associada a cimento, e a construção civil representou 33,3% dos acidentes. (AGUIAR, 2005)
Por meio desses esrudos em diferentes partes do Brasil observa-se que, ao longo do
tempo, os trabalhadores ainda são vítimas de acidentes de trabalho com queiJnaduras quí-
micas oculares, faltando a prevenção ocular para esses trabalhadores, principalmente os da
construção civil.

5.7.1.1 Assistência a vítimas de queimaduras químicas oculares pela equipe


de suporte básico
n Irrigação abundante do olho 15 a 20 minutos com água potável ele preferência em
lava-olhos. Quanto maior o intervalo de tempo entre o acidente e a irrigação com água
pior o prognóstico.
a A vítima deve ser orientada a afastar as pálpebras irrigando bem o globo ocular conti-
nuamente com a água.
a Não aplicar nenhum tipo de colírio, pois pode complicar a siruação.
a Irrigar os olhos com solução salina durante o transporte da vítima.
a Encaminhar para avaliação oftalmológica.

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No tratamento intra-hospitalar a lavagem ocular será mantida com, pelo menos, 2.000 ml
de solução salina durante um período mínimo de uma hora, podendo ser necessário o uso de
retratores de pálpebra, com anestésicos tópicos para alívio da dor. Após completar a lavagem
usam-se pomadas com antibióticos para prevenção da infecção (queimaduras oculares).
A vítima de queimadura ocular deve passar não apenas pelo oftalmologista, mas também
por um otorrinolaringologista e por um clínico geral, pois muitas substâncias químicas tóxicas
são aspiradas ou engolidas no momento do acidente, podendo existir queimaduras químicas
concomitantes no trato respiratório, na boca ou no esôfago.

5.7.2 Queimaduras químicas no corpo


As queimaduras químicas ocorrem por contato da pele com substâncias cáusticas.
Normalmente as queimaduras por álcalis são ma.is graves que as causadas por ácidos, porque
aqueles penetram mais profundamente nos tecidos.
As lesões produzidas por produtos químicos cáusticos, ácidos e álcalis, mais comumente
encontradas, são as causadas pelos ácidos fluorídrico e fónnico, amônia anidra, cimento e
fenol. Outros agentes químicos específicos que podem causar queimaduras são fósforos,
nitratos, hidrocarbonetos e piche. (CRUZ e FONSECA, 2009)
O socorrista deve atender a vítima de queimadura química irrigando com água (chuveiro
de segurança) ou solução salina em abundância e não utilizar substâncias neutralizadoras,
pois podem irritar ainda mais a pele, agravando a queimadura. A finalidade da irrigação é
a retidada da substância química da pele que continua a reagir enquanto permanecer em
contato com os tecidos. Enquanto se irriga a vítima, deve-se retirar as roupas e sapatos,
lembrando-se de não puxar áreas da roupa que aderiram à pele. O líquido da irrigação da
área queimada por substância química não deve ter contato com áreas não afetadas. Por
exemplo, se a vítima queimou os braços, deve ser somente essa área irrigada e proteger os
membros inferiores e o tronco do líquido que escorrer da irrigação.
Não se deve colocar compressas úmidas porque a água em pequena quantidade reage
com certas substâncias e produz calor, o que aumenta a gravidade da lesão.
As substâncias cáusticas na forma de pó, como soda cáustica, por exemplo, devem ser retira-
das por escovação. Só irrigar as queimaduras produzidas por pó se as lesões já estiverem úmidas.
As queimaduras que envolvam vias aéreas são graves, podendo levar à obstrução das vias
aéreas superiores. Queimaduras por vapores aquecidos pode1n atingir vias aéreas inferiores,
enquanto as produzidas por calor seco normalmente atinge1n as vias aéreas superiores, por-
que o ar não é bom condutor de calor.
A extensão e gravidade da queimadura das vias aéreas poden1 não ser verificadas na
avaliação inicial devido o surgimento tardio dos sintomas como o edema dos tecidos lesados.
As vítimas podem necessitar de encubação endotraqueal antes que uma obstrução severa a
impeça. Por isso, é importante identificar os sinais de alerta de possíveis queimaduras das vias
aéreas antes que se desenvolva a obstrução. Estes sinais são: queimaduras faciais, queimadura
das sobrancelhas e pelos nasais, depósito de fuligem na orofaringe, faringe avennelhada e
edemaciada, presença de escarro com resíduos carbonáceos, história de confinamento em
ambiente incendiário ou explosivo.

Assistência a Vítimas de Queimadura 113


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5.7.3 Lesões por inalação de fumaça (LIF)
Partículas inaladas com a fumaça e certos subprodutos resultantes da co1nbustão incom-
pleta de combustíveis, as lesões por inalação da fumaça promovem danos tanto nas vias
aéreas superiores como no trato respiratório inferior podendo causar lesão química dos
brônquios e alvéolos pulmonares. Produtos químicos da combustão como amônia, dióxido
de nitrogênio e dióxido de enxofre com água no trato respiratório, produz ácidos e bases
fortes, que induzem broncoespasmo, edema, ulceração da membrana mucosa, penetrando
nas camadas mais profundas, com lesão alveolar a impedimento das trocas gasosas.
Os sintomas dessas lesões muitas vezes só aparecem algumas horas após a inalação, ao se
desenvolver a inflamação dos brônquios ou do pulmão, portanto devem-se sempre suspeitar
de LIF em vítimas que apresentam sintomas compatíveis com lesões de vias aéreas superiores.
Os sinais e sintomas de dispneia, hipoxemia, cianose, sons respiratórios anormais podem não
estar presentes no primeiro momento do atendimento as vítimas de LIF.
o atendimento as vítimas de lesões por inalação de fumaça deve iniciar no local do
acidente pela equipe de suporte básico, a primeira conduta é a administração de oxigênio a
lOOo/o.
No atendimento pela equipe de suporte avançado se necessário o procedimento de intu-
bação orotraqueal deve ser realizaclo quando houver cianose ou depressão respiratória, secre-
ção com obstrução laríngea, espessamento importante da região nasolabial por queimadura
ou queimadura de toda a circunferência do pescoço. Deve-se instalar o oxirnetro assim como
obter acesso venoso o uso de broncodilatadores deve ser iniciado sempre que houver sibilos
ou sinais de secreção endobrônquica.
Na área intra hospitalar as vítimas com suspeita de LIF deve passar por exames como a
broncoscopia, a radiografia de tórax, a gasometria arterial, a cintilografia com xenônio 133 e
os testes de função pulmonar (espirometria) são exames realizados para fins de diagnóstico
da LIF. (RABELLO, 2009)
A broncoscopia muitas vezes é realizada no tratamento da LIF, proporcionando a lavagem
da árvore brônquica para retirada de fuligem, de outros materiais carbonáceos e até mesmo
das membranas formadas por fibrina que aderem à parede brônquica, causando obstrução da
luz. (RABELLO, 2009)

5.7.3.1 Intoxicação por monóxido de carbono


O monóxido de carbono (CO) é um gás incolor inodoro sem sabor e não é irritante, não
causando lesão direta às vias aéreas ou aos pulmões. O 1nonóxido de carbono te1n predileção
por atingir o sistema nervoso central e o coração. A exposição a esse agente pode levar a
sintomas de cefaleia, alterações visuais e confusão mental, podendo evoluir para taquicardia,
angina e arritimias ou ainda convulsão ou coma.
A toxicidade do monóxido ele carbono está na sua competição com o oxigênio pela hemo-
globina. A afinidade da hemoglobina com o monóxido de carbono é 240 vezes maior do que
com o oxigênio. Essa combinação resulta em carboxiemoglobina que é extremamente estável,
ou seja, uma vez que o monóxido de carbono ligou-se a uma hemoglobina, essa ligação não
será desfeita. (MORAES, 2010)

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Os sintomas variam de acordo com o grau da intoxicação, indo desde náuseas e cefaleia
intensa até confusão, inconsciência e finalmente óbito. A pele se apresenta em tom vermelho-
-cereja, sinal nem sempre presente.
Para a equipe de suporte avançado é importante saber que a oximetria de pulso nessa
situação pode levar a conclusões falsas. O oxímetro de pulso mede a porcentagem de he-
moglobina saturada, mas não diferencia a hemoglobina saturada com oxigênio da saturada
com monóxido de carbono; consequentemente, o resultado obtido deve ser encarado com
reservas. Assim, o indivíduo pode estar com uma intoxicação severa por monóxido de car-
bono, inconsciente, e a leitura da saturação marcar 100% por causa da grande quantidade de
carboxiemoglobina.
O trata1nento pré-hospitalar consiste na administração de oxigênio na maior concentração
possível, de preferência a 1000/o, em vítimas inconscientes, o que só se obté1n com a entuba-
ção endotraqueal.
O tratamento intra-hospitalar consiste na análise da carboxiemoglobina. Resultados maiores
de 400Ai indicam tratamento hiperbárico, pois somente o tratamento com oxigênio hiperbárico
consegue reverter a ligação do monóxido de carbono com a hemoglobina. (MORAES, 2010)

5.7.3.2 Intoxicação por amônia


Os sistemas de refrigeração industrial atualmente utilizam em larga escala a amônia como
agente refrigerante.
A ocorrência de um vazamento de amônia em uma empresa de beneficiamento de cama-
rão, com 170 empregados, em 11 de julho de 2003, no Rio Grande do Norte, teve como con-
sequência da exposição prolongada à amônia dois óbitos e 127 vítimas. Ficaram evidenciados,
ainda, a fragilidade e o despreparo técnico dos serviços de saúde para lidar com esse tipo de
acidente, apesar de haver e:xtremo esforço dos profissionais para o atendimento às vítimas. A
empresa não possuía equipamentos necessários e os trabalhadores não foram treinados para
casos de emergência. (BRASIL, 2004)
Esse acidente demonstra a importância de treinar os trabalhadores para uma eventual
emergência, assim como equipes de atendimento público como ambulâncias públicas.
A amônia (NH3) apresenta-se como
,
gás a temperatura e pressão a1nbientes. Liquefaz-se
sob pressão atmosférica a -33,35ºC. E altamente higroscópica e a reação com a água forma
hidróxido de atnônia. Acima de 450°C pode se decompor, liberando nitrogênio e hidrogênio.
É facilmente detectada a partir de pequeníssimas concentrações (5 pp1n) no ar pelo seu cheiro
sui generts. (BRASIL, 2004)
O gás de amônia é um irritante poderoso das vias respiratórias, olhos e pele. Dependendo
do tempo e do nível de exposição, podem ocorrer efeitos que vão de irritações leves a severas
lesões corporais.
A inalação produz intensa irritação respiratória, com tosse, dispneia e aumento das se-
creções brônquicas, queimadura da mucosa nasal, faringe e laringe, dor no peito e edema
pulmonar, podendo levar a fibrose pulmonar como uma reação tardia. (BRASIL, 2004 e CRUZ;
FONSECA, 2009)

Assistência a Vítimas de Queimadura 115


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A amônia em contato com a pele provoca dor, edema com formação de vesículas e
em altas concentrações, pode haver necrose dos tecidos e queimaduras de 3ll grau. Baixas
concentrações (10 ppm) de amônia em contato com os olhos provocam irritação ocular e
lacrimejamento. Em concentrações mais altas, pode haver conjuntivite, erosão na córnea e
cegueira temporária ou permanente e as reações tardias podem ser a catarata, atrofia da retina
e ulcerações de córnea. (BRASIL, 2004 e CRUZ; FO 1SECA, 2009)
Exposição à amônia em concentrações acima de 2.500 ppm por aproximadamente
30 minutos pode ser fatal. (BRASIL, 2004)
Os trabalhadores envolvidos diretamente na planta da empresa devem possuir equipa-
mentos básicos de segurança pessoal dispostos em locais de fácil acesso e fora da sala de
máquina. Esses equipamentos envolvem:
a Máscara panorâmica com filtro de amônia;
a Equipamento de respiração autônomo;
a óculos de proteção ou protetor facial;
a Um par de luvas protetoras de borracha (PVC);
a Um par de botas protetoras de borracha (PVC);
a Uma capa impermeável de borracha e/ ou calças e jaqueta de borracha.
Devem ser estabelecidos por escrito planos de emergência para ações em caso de vaza-
mento, realizando-se simulados práticos. Em caso de vazamento com grande concentração de
gases de amônia o resgate de vítimas só se faz com o socorrista utilizando equipamentos de
segurança como máscaras autônomas e proteção total do corpo (Nível A de proteção).

5.7.4 Exposição de vítimas a produtos perigosos


Produtos perigosos são substâncias que podem vir a causar dano à saúde humana, a um
bem material ou ao meio ambiente. Podem ser do tipo radioativo, químico ou biológico. Os
produtos perigosos são largamente utilizados tanto na área médica quanto nas indústrias,
construções de armas nucleares, entre outros.
Os produtos perigosos podem causar lesões ao corpo humano das seguintes formas: ab-
sorção da pele ou olhos, por inalação do produto, pela ingestão e por injeção ou inoculação.
Esse contato pode ocasionar os seguintes tipos de lesão:
a Lesão ténnica pelo calor ou frio;
a Lesão mecânica por ondas de choque, força ele impacto ou explosão;
a Asfixia, causando complicações respiratórias;
a Lesão química, alterando estrutura e função celular, tecidos ou órgãos;
a Lesão etiológica ou contaminação por micro-organismos;
a Lesão radiológica.

116 Atendimento Pré-HospiLalar - Treinamento da Brigada de Emergência do Suporle Básico ao Avançado


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5.7.5 Resgate de vítimas expostas a produtos químicos
O primeiro passo após a identificação do produto é realizar o isolamento do local, defi-
nindo as zonas de trabalho quente, morna e fria (ver capítulo 1).
Para a equipe de emergência é importante conhecer os riscos que envolvem o produto pe-
rigoso, procedendo de maneira segura ao correto resgate das vítimas de exposição a produtos
perigosos, garantindo que resíduos desses produtos não estejam dentro da ambulância que
irá transportar a vítima e nem mesmo cheguem ao hospital, aumentando o número potencial
de vítimas. (BRASIL, Defesa Civil)
Todo contato com produtos perigosos exige uma certa proteção, portanto a equipe de
emergência, antes de entrar na zona quente para realizar o resgate da vítima, deve utilizar
os EPls adequados. É preciso se lembrar de passar pelo corredor de descontaminação com
a vítima para que seja descontarninada antes de receber atendimento pelas equipes que a
aguardam na zona fria.
Não sendo possível identificar o produto, deve-se sempre utilizar o equiparnento de pro-
teção máxima. Os EPis para proteção contra produtos perigosos é dividida da seguinte fonna:
a Nível A: proteção máxima para vias aéreas, olhos e peles, ou seja nenhum contato com
a substância, e o que se chama de vestimenta encapsulada.
a Nível B: proteção máxima para vias aéreas e olhos, mas menor proteção para a pele.
a Nível C: proteção para pele e olhos com menor exigência para proteção de vias aéreas.
a Nível D: praticamente o unifonne de trabalho da equipe com proteção superficial dos
olhos e vias aéreas.
Alguns equipamentos de proteção coletiva também podem ser usados, desde que compa-
tíveis, como ventiladores, exaustores, jato neblinado de água etc.
Em operações que envolvem produtos perigosos é normal a presença de vários órgãos,
como corpo de bombeiros, polícia, órgãos ambientais e serviços médicos de emergências.
Para coordenar todos envolvidos na operação se faz necessária a formação de um comando
integrado da operação.

Figura 5.4: Equipamento de proteção individual Nfvel A


(Fonte: http://ww-.v.cepis.ops-oms.org/tutoria/1/p/equiprot/index.htm/)

Assistência a Vítimas de Queimadura 117


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Figura 5.5: Equipe de emergência resgatando viômas em exposição a produtos perigosos, passando pelo
corredor de descontaminação (piscina). (Fonte: simulado no Rodoanel Mário Covas em São Paulo em 2003.
Disponrvel em: http://www.marimar. com.br/resgate/resgate _produtos_quimicos_e_peri.htm)

Exercícios
1. Quanto à profundidade, como se classificam as queimaduras?
2. Pela regra dos noves, quaJ a porcentagem de queimadura de uma vítima que tiver os
membros superiores e inferiores atingidos completamente?
3. QuaJ assistência deve ser prestada à vitima de queimadura ocular?
4. Quais os sinais e sintomas de uma vítima que inaJou amônia?

118 Atendimento Pré-Hospitalar - Treinamento da Brigada de Emergência do Suporle Básico ao Avançado


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Assistência a Vítimas
de Choque Elétrico

Os acidentes com eletricidade ocorrem em 30% no am-


biente de trabalho ou acidente de trabalho e 400Ai no ambien-
te domiciliar ou acidente doméstico. As principais causas de
ocorrências no ambiente de trabalho são a falta de informação,
uso inadequado de equiparnentos elétricos, instalação incorreta
e profissionais sem qualificação.
De acordo com levantamento realizado pela Associação Brasileira
de Conscientização para os Perigos da Eletricidade (Abracopel), o
número de acidentes com energia elétrica no ano de 2008 foi 17,So/o
maior comparado com o ano de 2007. Enquanto com outros tipos de
acidente ocorre uma morte para cada 200 acidentes, para o choque
elétrico a cada três acidentes um será fatal. (BALEOm, 2008)
O Ministério do Trabalho e Emprego promoveu, em 2004, a segun-
da revisão da 1\'RlO, criada em 1978, a qual obriga a regularização dos
sistemas elétricos das unidades industriais sujeitas à explosão por gases,
vapores, poeiras ou fibras. Estão incluídas neste contexto empresas do
segmento químico, petroquímico, petróleo, gases, açúcar e álcool. A NRIO
fixa condições mínimas para garantir a segurança dos empregados que tra-
balham em instalações elétricas, em suas diversas etapas, incluindo projeto,
execução, operação, manutenção, reforma e ampliação e ainda a segurança
de usuários e terceiros. (BALEOm, 2008)

6.1 O que é choque elétrico


O choque elétrico é uma perturbação de natureza e efeitos diversos que se
manifesta no corpo humano quando por ele circula uma corrente elétrica. O
choque elétrico acontece porque o corpo humano é um condutor elétrico, ou
seja, possibilita passagem da corrente elétrica e oferece resistência.
As lesões ocasionadas pelo choque elétrico são resultantes da conversão
da energia elétrica em energia térmica durante sua passagem pelo corpo hu-
mano. A extensão da lesão tecidual e o calor gerado pelas correntes elétricas

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acontecem em função da resistência de cada tecido e sua sensibilidade à destruição térmica,
sendo explicados pela fórmula de Joule, em que a quantidade de calor (OQ) é diretamente
proporcional ao quadrado da intensidade da corrente (12), à resistência dos tecidos (DR) e à
duração do contato (01').
DQ = 12 X DR X DT
A voltagem e a duração do contato são os principais fatores que determinam a extensão
e a profundidade das lesões.

6.2 Tipos de choque elétrico


O choque elétrico pode ser de três tipos. São eles:

6.2.1 Choque estático


É a descarga de um equipamento ou instalação com características de um capacitar. O
atrito entre componentes 1nóveis pode eletrizá-los, assim como o contato com equipamentos
ou peças metálicas nestas condições pode resultar em choque estático.

6.2.2 Choque dinâmico


É o mais comum dos choql1es elétricos, responsável por 900Ai dos acidentes desse tipo.
Ocorre quando se faz o contato com um ponto energizado de uma instalação e pode ser
causado por tensão de passo e tensão de toque. A tensão de passo é a diferença de potencial
entre os dois membros inferiores do indivíduo no momento da passagem da corrente elétrica
pelo solo. A tensão de toque é decorrente da diferença de potencial a que o indivíduo fica
submetido ao tocar em um elemento energizado no mesmo instante que esteja circulando
u1na corrente elétrica.
Os acidentes por esse tipo de eletricidade artificial são denominados eletroplessão.
Verifica-se que a vítima sofreu eletroplessâo pela inarca elétrica de jellineck, que resulta
da faísca elétrica que salta do condutor para a pele antes de estabelecer o perfeito contato
entre eles. A marca elétrica de jellineck é uma lesão de aspecto circular de bordas elevadas,
coloração amarelo-esbranquiçada e indolor. (DEL CAMPO)

.. •
...
<:
-
• •
A Figura 6.1 mostra uma vítima de •
• •
acidente com choque elétrico com marca • •

elétrica de jellineck.

Figura 6.1: Marca elétrica de Jellineck. (DEL CAMPO,)

120 Atendimento Pré-Hospitalar - Treinamento da Brigada de Emergência do Suporle Básico ao Avançado


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6.2.3 Descargas atmosféricas ou eletricidade cósmica
O acidente provocado pelos raios denomina-se fulguração que é a perturbação causada
no organismo vivo por raio, sem ocorrência de óbito. Se agir de fonna letal, denomina-se
fulminação.
As lesões produzidas pela fulguração ou fulminação tomam aspecto arborifonne e
denominam-se sinal de Lichtemberg, decorrentes de fenômenos vasomotores, que podem
desaparecer com o tempo em caso de sobrevivência. (DEL CAMPO, 2010).
A Figura 6.1 apre enta uma vítima de acidente com choque elétrico mostrando o sinal de
Licbtemberg.
Em 2008 foram 75 mortes no Brasil por raios e em 2007 foram 47 óbitos.

Figura 6.2: Sinal de Lichtemberg. (DEL CAMPO, 2010)

6.3 Arco elétrico


O arco elétrico está ligado aos valores de corrente de curto-circuito. É um fenômeno de
curta duração em que a energia incidente é transfonnada em calor sendo uma das maiores
fontes de calor conhecida. A temperatura do núcleo do arco pode chegar a 20.000>C, a qual
funde barramentos, condutores, terminais e até componentes isolantes. A vítima vai apresen-
tar queimaduras graves, podendo ser de 32 grau. (BARROS et ai., 2010)
O arco elétrico também produz energia acústica devido à forte explosão. O ruído decor-
rente da ocorrência do arco elétrico pode chegar a 160 dB, ocasionando perfuração timpânica
na vítima. Em determinadas situações uma onda de pressão pode se formar, atingindo quem
estiver próximo ao local de ocon·ência. (BARROS et al., 2010).
A emissão de radiação ultravioleta pode cegar momentaneamente a vítima e provocar
danos na retina. Se a vítima estiver trabalhando em altura, a evasão do local fica dificultada
devido à perda do sentido da visão momentânea, podendo ser vítima de queda, agravando
seu quadro e tomando-se uma vítima politraumatizada.

Assistência a Vítimas de Choque Elétrico 121


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6.4 Ação da eletricidade sobre o corpo humano
Existem dois fatores que estão relacionados com a ação da eletricidade no corpo. São eles:

6.4.1 Fatores intrínsecos


São fatores que dependem das condições pessoais de cada indivíduo, como:
a Resistência: alguns indivíduos possuem maior tolerância à eletricidade.
a Condição orgânica: pessoas com doenças cardíacas, respiratórias e renais são mais
sensíveis que as sadias.
a Hábito: indivíduos habituados ao contato com corrente elétrica desenvolvem uma
certa resistência orgânica aos efeitos da eletricidade.

6.4.2 Fatores extrínsecos


São fatores que dependem do meio em que o acidente ocorre e do tipo de corrente
elétrica, como:
a Umidade: por ser boa condutora de corrente elétrica, a umidade favorece o acidente.
a Vestuário: a seda e a borracha são maus condutores de eletricidade. Por essa carac-
terística são empregados na fabricação de sapatos e luvas de proteção para os que
trabalham com corrente elétrica.
a Profissão: por trabalharem diretamente com a eletricidade, os trabalhadores desse
ramo estão sujeitos a esse tipo de acidente, apesar dos meios de proteção que utilizam.

6.5 Efeitos do choque elétrico no corpo humano


choque elétrico a corrente fisiológica do corpo soma-se à corrente externa desconheci-
10

da com intensidade muito maior, levando o corpo hu1nano aos efeitos danosos da exposição
a essa corrente. Os principais efeitos fisiológicos que a corrente elétrica externa produz no
corpo humano são: (LOURENÇO; SILVA; SILVA FILHO, 2007)
a Tetanização: é o resultado da contração muscular em sua capacidade máxima pro-
vocada pela circulação de corrente através dos nervos que controlam os músculos.
A corrente supera os impulsos elétricos que são enviados pelo sistema nervoso e os
anula, levando à tetanização das mãos, membros ou do corpo, que será interrompida
somente com o desligamento da fonte geradora.
a Fibrilação ventricular: os fatores que apresentam maior probabilidade de causar a
fibrilação ventricular são os choques elétricos súbitos no coração. A fibrilação ventricu-
lar é uma sequência de impulsos cardíacos desordenados, iniciando-se pelo músculo
ventricular que se repete continuamente no mesmo músculo (o impulso elétrico não
inicia no nó sinoatrial que é o comando dos impulsos elétricos). A fibrilação no choque
elétrico é um efeito proveniente da descarga de corrente alternada, no entanto essa
corrente de fonna controlada em alta tensão (300 joules) pode ser aplicada simultanea-
mente nos ventrículos. Este é o princípio da desfibrilação.

122 Atendimento Pré-HospiLalar - Treinamento da Brigada de Emergência do Suporte Básico ao Avançado


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1:1 Parada cardiorrespiratória: a corrente elétrica que passa pelo corpo da vítima co1n
elevada intensidade em curto período pode levar à parada cardíaca, ou seja, cessam-
-se todos os sinais elétricos do coração, desenvolvendo hipoxia intensa. A parada
cardíaca difere da fibrilação ventricular pela ausência total dos impulsos elétricos. O
coração está em assistolia. Os efeitos da parada cardiorrespiratória são revertidos com
a aplicação da massagem cardíaca externa e uso de drogas. São necessários de cinco
a oito minutos para que a reversão da parada circulatória não cause danos cerebrais.
1:1 Queimadura: a circulação da corrente elétrica no corpo da vítima é acompanhada do
efeito Joule, fenômeno de produção de calor, levando a queimaduras graves geral-
mente de 3º grau.
A Tabela 6.1 mostra os efeitos estimados da corrente elétrica no corpo humano que varia
conforme o tipo de corrente que o corpo recebe.

Tabela 6. 1: Efeitos estimados da corrente elétrica no corpo humano.

Tipo de corrente Consequências para o corpo humano


1mAa5mA causa formigamento
16 mA mãxima tolerãvel
20 mA a 30 mA tetanização
30 mA a 50 mA respiração afetada
50 mA a 100 mA fibrilação ventricular, parada cardiaca
100 mA a 200 mA morte

6.6 Resistência da pele humana ao choque elétrico


Vários são os tecidos do corpo humano que possuem resistências específicas ao fluxo
da corrente elétrica, sendo, em ordem decrescente, osso, gordura, tendão, pele, músculo,
vaso sanguíneo e nervo. O osso, por sua maior resistência, gera mais calor local, mas sua
estrutura torna-o mais resistente à lesão térmica, ao passo que vasos e nervos possuem menos
resistência, tornando-se mais susceptíveis à lesão térmica.
A pele humana é um bom isolante. Quando seca, tem resistência à passagem da corrente
elétrica de 100.000 ohms. Quando molhada, te1n resistência à passagem da corrente elétrica
de apenas 1.000 ohms. A energia de alta voltagem rapidamente rompe a pele, reduzindo a
resistência do corpo para apenas 500 ohms.
Por exe1nplo, com o corpo seco o indivíduo que levar uma descarga de 120 volts tem
100.000 ohms de resistência de sua pele, portanto esse indivíduo sofrerá um choque leve .
120 volts/ 100.000 ohms = 0,0012 A = 1,2 mA
Se esse mesmo indivíduo estiver com o corpo molhado, a resistência de sua pele cairá
para 1.000 ohms e a consequência pode ser mais grave, como uma parada cardíaca.
120 volts/ 1000 ohms = O, 12 A = 120 mA
A resistência da pele varia com a limpeza, umidade e espessura (estrato cutâneo), poden-
do ir de 10.000 ohms/ cm a menos de 1.000 ohms/cm, com uma média de 5.000 ohms/ cm de
pele seca normal. (BORGES ec al., 2008)

Assistência a Vítimas de Choque Elétrico 123


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Quanto maior a resistência da pele tanto mais grave a queimadura local, quanto menor
a resistência maior os efeitos sistêmicos. Devido à grande resistência da pele, a eletricidade
ao atravessá-la produz intensas alterações estruturais conhecidas como "marcas de corrente",
como o sinal de Licbtemberg e a marca elétrica de jellíneck. Essas lesões têm características
diferentes daquelas que habitualmente se observam nas lesões térmicas comuns. Após a
penetração da corrente elétrica na pele, ela passa rapidamente através do corpo ao longo
das linhas de menor resistência, isto é, através dos fluidos tissulares e ao longo dos vasos
sanguíneos, e pode causar degeneração das paredes e formação de trombos.

6.7 Percursos do choque elétrico no corpo humano


ão é possível predizer o percurso exato que a corrente elétrica irá seguir no organis-
mo, porém se ela atravessar órgãos vitais, como coração e cérebro, os danos são maiores.
Observa-se, contudo, que qualquer órgão pode ser acometido seja por lesão direta ou por
falência de outros órgãos afetados.
Os percursos do choque elétrico no corpo humano podem variar muito, porém os mais
comuns sao:
~

u Percurso 1: a corrente elétrica passa entre dois dedos da mesma mão, causando
queimaduras nos dedos.
u Percurso 2: a corrente entra por uma das mãos e sai pela outra, percorrendo o tórax.
É um dos percursos mais perigosos. Dependendo da intensidade de con·ente, pode
ocasionar parada cardíaca.
u Percurso 3: a corrente entra por uma das mãos e sai por um dos pés. Percorre parte
do tórax, centros nervosos e o músculo diafragma. Dependendo da intensidade da
corrente, produz asfixia, fibrilação ventricular e parada cardiorrespiratória.

6.8 Fatores de gravidade do choque elétrico


As variáveis fisiológicas nas zonas do corpo humano influenciarn na gravidade do choque
elétrico. Essas reações mudam confonne o indivíduo, pois além das diferenças antropomé-
tricas, existem as condições biológicas. As principais variáveis fisiológicas da gravidade do
choque elétrico são: (LOURENÇO; SILVA; SILVA FILHO, 2007)
a Estado da pele: em indivíduos que apresentam pele molhada pela sudorese ou feridas
abertas, a resistência dessa pele estará diminuída.
u Local de contato: dependendo do percurso que a corrente elétrica fizer pelo corpo,
será um fator de gravidade.
u Área de contato: o aumento da área desenvolve também a resistência que, dependen-
do da intensidade da corrente, pode aumentar a área lesada.
u Pressão de contato: quanto maior a tensão de contato maior a resistência.
a Duração de contato: quanto maior o tempo de contato da corrente menor a resis-
tência, no entanto com o efeito Joule haverá queimadura da pele, levando à reação
imediata reversa, ou seja, a resistência atinge valores mais baixos.

124 Atendimento Pré-HospiLalar - Treinamento da Brigada de Emergência do Suporte Básico ao Avançado


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1:1 Natureza da corrente: ocorrem alterações em razão da frequência aplicada.
1:1 Taxa de álcool: em caso de indivíduos com taxas altas de álcool no corpo, a resistên-
cia elétrica do corpo diminui.
1:f Tensão elétrica do choque: a resistência do corpo climinui com o aumento do
choque.

6.8.1 Atendimento a vítimas de choque elétrico pela equipe de


suporte básico
1:1 Ao chegar ao local do acidente, o socorrista precisa ser cauteloso e estar acento às con-
dições de segurança para não tomar-se uma segunda vítima e evitar outros acidentes.
1:1 Nesse momento, deve verificar as condições de segurança do cenário.
1:f Desligar o sistema elétrico.
1:1 Não tocar no acidentado enquanto estiver submetido à corrente elétrica.
1:1 Realizar técnica A, B, C de avaliação à vítima.
1:1 Realizar massagem cardíaca externa se a vítima estiver em parada C'.trdiorrespiratória
(ver capítulo 3).
1:1 Realizar procedimentos nas áreas de queimaduras (ver capítulo 5).
1:f Encaminhar a vítima para o hospital.

6.9 Complicações das vítimas pós-choque elétrico


As complicações pós-choque produzem nas vítimas lesões que podem durar horas ou dias,
como também produzem lesões permanentes, impedindo o paciente de retomar ao trabalho.
As complicações que ocorrem no sistema nervoso pode1n ser confusões mentais, proble-
mas de aprendizagem e memória, diminuição da concentração e mais raro a afasia (ausência
da fala), sendo a mais comum a perda da memória. Os problemas psiquiátricos incluem fobia,
ansiedade, irritabilidade, depressão e psicose.
Podem ser observadas alterações cardíacas em alguns casos no eletrocardiograma (seg-
mento ST) e taquicardia que pode persistir por algumas semanas.
As complicações pu lmonares agudas estão limitadas a danos pleurais, diretamente ad-
jacentes à área do ponto de contato. Essas complicações são frequentemente evidentes ao
fim da primeira semana. Podem surgir infecções pulmonares como resultado de infecções
sistêmicas ou complicações da terapêutica inalatória prolongada.
as lesões vasculares, a trombose venosa observa-se mais frequentemente e1n queimadu-
ras de membros superiores e inferiores. As lesões arteriais se observam em zonas expostas,
como a face palmar das mãos, e podem ocasionar quadros isquêrnicos distais por trombose
aguda. A perfusão distal do membro pode também ser comprometida por edema importan-
te. Podem surgir as complicações tardias vasculares como as dilatações aneurismãticas com
perfurações da parede arterial que provocam hemorragias agudas, quadros de trombose e
infecções. (BORGES et ai., 2008)

Assistência a Vítimas de Choque Elétrico 125


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A lesão renal é uma complicação frequente na vítima do choque elétrico devido ao cho-
que hipovolêrnico, depósito de mioglobina nos túbulos renais, destruição de hemácias e
liberação de hemoglobina.
As complicações hematológicas caracterizam-se por uma leucocitose na fase aguda as-
sociada à hemoconcentração e maior liberação de granulócitos a nível medular. Uma leu-
copenia pode ser indício de uma sepse (infecção generalizada) por Gram-negativo, sendo
umas das maiores consequências de morte da vítima pós-choque elétrico. Em uma fase tardia
surgem as trombocitopenias e como complicação rara a aplasia medular aguda com depleção
total da mielopoiese. (BORGES et al., 2008)
Em alguns casos pode haver fraturas ósseas geradas pela violenta contratura muscular
induzida pelas lesões de corrente alternada. A queimadura elétrica na cabeça ou no pescoço
pode resultar tardiamente e1n catarata de um ou ambos os olhos, sendo a unilateral mais
frequente. (BORGES et ai., 2008)

Exercícios
1. Defina eletroplessão, fu lguração e fulminação.
2. A vítima atingida por arco elétrico pode sofrer que consequências?
3. Quais são os fatores de gravidade do choque elétrico?
4. Qual a assistência prestada à vítima de choque elétrico pela equipe de suporte básico?

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Resgate em
Espaço Confinado

Muitos são os acidentes fatais envolvendo trabalhado-


res em espaço confinado. Por estes motivos, no Brasil, em
2006, a Portaria nsi 202 estabeleceu a Norma Regulamentadora
NR33 - Segurança e Saúde nos Trabalhos em Espaço Confinado,
que regLilariza as entradas em espaço confinado, as quais ficam
limitadas a trabalhadores treinados e com conhecimento dos
riscos. As avaliações atmosféricas se tomam obrigatórias para a en-
trada do trabalhador e os resgastes nesses espaços tomam-se mais
adequados e eficazes, evitando que trabalhadores despreparados
para o resgate se transformem em vítimas.

7.1 O que é espaço confinado


A NlOSI 1 (National lnstitute for Occupational Safety and Health), ór-
gão de Segurança e Saúde Ocupacional dos Estados Unidos, define espaço
confinado como:
"U1n espaço que por projeto tem: aberturas liniitadas para entrada e saída,
ventilação natural desjaoorável que poderia conter ou produzir contaniinantes
perigosos no ar, e que não está previsto para ocupação humana continua."

Para NlOSH existe1n três classes de espaços confinados:


~ Espaços Classe A: aqueles que apresentam situações imediatamente
perigosas à vida ou à saúde (IPVS). Estão inclusos espaços deficientes
de oxigênio e/ou que contenham atmosferas tóxicas ou explosivas.
~ Espaços Classe B: não representam riscos imediatos à vida ou à saú-
de, no entanto têm potencial para causar lesão ou doenças se medidas
de proteção não forem tomadas.
lil Espaços Classe C: são aqueles em que qualquer risco é tão in-
significante que nenhuma prática ou procedimento de trabalho é
, .
necessano.

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O OSHA (Occupational Safery and Health Administration), órgão de Segurança e Saúde
Ocupacional também dos Estados Unidos, define espaço confinado como:
"U1n espaço confinado é aquele onde se verifica1n todas as s~uintes condições: a) é grande o sufi-
ciente e configurado de tal fonna que um trabalhador nele pode entrar e dese1npenbar unia tarefa
que lhe foi atribuída;b) te1n 1neios limitados ou restritos para entrada e saída (Ianques, vasos, silos,
depósitos, covas); e, c) não foi previsto para ocupação humana contínua."

No Brasil, o Ministério do Trabalho e Emprego, pela Portaria nº 202, de 22 de dezembro de


2006, sobre a Norma Regulamentadora NR33 - Segurança e Saúde nos Trabalhos em Espaço
Confinado, definiu espaço confinado como:
"Qualquer área ou a1nbiente não projetado para ocupação hun1ana contfn11a, que possut1 meios
li1nftados de entrada e saída, cuja ventilação existente é insuficiente para re1nover conta1nfnantes
ou onde possa existir a deficiência ou enriqueci1ne1ito de oxigênio."

As atividades típicas que exigem entrada em espaços confinados são: (MUNI-iOZ, 2010)
a Limpeza para remoção de lama ou outros dejetos;
a Inspeção ela integridade física e processo de equipamentos;
a Manutenções tais como jateamento e aplicação de recobrimentos de superfícies em
subterrâneos com ou sem tubulações;
a Instalações, inspeções, reparos e substituições de válvulas, tubos, bombas, motores em
covas ou escavações;
a Ajustes ou alinhamentos de equipamentos mecânicos e seus componentes;
a Verificações e leituras em manômetros, painéis, gráficos ou outros indicadores;
a Instalações, Ligações e reparos de equipamentos elétricos ou de comunicações, insta-
lações de fibras ópticas;
a Resgate de trabalhadores que foram feridos ou que desmaiaram em tais espaços.

7.2 Condições ambientais nos espaços confinados


A condição imediatamente perigosa à vida ou à saúde (IPVS) é definida pela l\1BR 14787:2000
como qualquer condição que cause uma ameaça imediata à vida ou que possa causar efeitos
adversos irreversíveis à saúde ou que interfira na habilidade dos indivíduos par-.a escapar de
um espaço confinado sem ajuda. Algumas substâncias podem produzir efeitos transientes
imediatos que, apesar de severos, podem passar despercebidos, mas são seguidos ele repen-
tina possibilidade de colapso fatal após 12 horas a 72 horas de exposição. A vítima pode não
apresentar sintomas de mal-estar durante a recuperação dos efeitos transientes, porém está
sujeita a sofrer um colapso. Essas substâncias em concentrações perigosas são consideradas
como sendo IPVS imediatamente perigosas à vida ou à saúde.
Existem três classes de condições no ambiente de espaços confinados:
1. Concentrações inadequadas de oxigênio
Os níveis de oxigênio na atmosfera normal se situam entre 20 e 21% em volume. O per-
centual de oxigênio no ar é normal nesses locais, mas há menos oxigênio porque há menos

128 Atendimento Pré-HospiLalar - Treinamento da Brigada de Emergência do Suporle Básico ao Avançado


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ar, por isso os trabalhadores em espaço confinado sofrem o problema com suprimento ina-
dequado de oxigênio. O indivíduo sente dificuldade em respirar a níveis próximos dos 14o/o
e confusões mentais a níveis de concentração de oxigênio de 12%. Aos 100/o de concentração
de oxigênio o indivíduo perde a consciência e aos 8% ocorre a morte por asfixia. As normas
da OSHA determinam um mínimo de 19,5% de oxigênio no ar. Na Europa, esse teor é 19%.
No Brasil as nonnas aceitam 18%. A NR33 determina a avaliação das condições atmosféricas
como a concentração de oxigênio antes da entrada do trabalhador nesse ambiente de traba-
lho. Uma atmosfera pobre em oxigênio contém menos de 19,5% de oxigênio em volume e
uma atmosfera rica em oxigênio contém mais de 23% de oxigênio em volume.
2. Presença de gases e/ou vapores tóxicos
Avaliar a atmosfera com métodos seguros de medições quanto à presença de gases e
vapores tóxicos no espaço confinado antes da entrada do trabalhador se torna obrigatório e
seguro.
3. Presença de gases e/ ou vapores inflamáveis
Os gases, vapores ou poeiras infla1náveis constituem uma atmosfer-a de risco que é uma
condição em que a atmosfera, em um espaço confinado, possa oferecer riscos ao local e expor
os trabalhadores ao perigo de morte, incapacitação, restrição da habilidade para autorresgate.
O limite inferior de explosividade pode ser atingido até antes que se proceda a medições
ambientais. Antes do ingresso, tais ambientes podem ser inundados com gás inerte, que
não suporta combustão, tal como o nitrogênio, num processo denominado inertização. Uma
necessidade após a inertização é medir o teor de oxigênio e decidir que não haja risco de
explosão ou fogo, então deixa-se entrar oxigênio de volta ao ambiente durante o ingresso.
essas condições de atmosfera no espaço confinado, a NBR 14787:2000 determina a medi-
ção dessa atmosfera interna dos espaços confinados antes de um trabalhador entrar, devendo
ser avaliada por trabalhador autorizado e treinado, com um instrumento de leitura direta,
calibrado e testado antes do uso, adequado para trabalho em áreas potencialmente explosi-
vas, intrinsecamente seguro, protegido contra emissões eletrornagnéticas ou interferências de
radiofrequências, calibrado e testado antes da utilização.

7.3 Resgate em espaço confinado


Dados da NIOSH afinnam que mais de 600~ das mortes que ocorrem em espaços con-
finados têm como vítima o socorrista. Estima-se que por cada vítima fatal, dois socorristas
despreparados morrern tentando salvá-la. No Brasil não existe lei que regularnenta a formação
do socorrista para atuar em espaço confinado. Inexistindo parâmetros mínimos de carga ho-
rária, conteúdo programático, técnicas de operação, protocolos de atendimento e tampouco
critérios de qualificação mínima exigida dos instrutores que formam os socorristas. Além
disso, os socorristas geralmente não possuem nenhuma aptidão física e mental que qualifique
para salvamento em áreas de espaço confinado. (GEYGER, 2010; ALCOOLBRAS, 2007)
A NR33 prevê que para a capacitação da equipe de salvamento devem ser contemplados
todos os possíveis cenários de acidentes em espaço confinado identificados na análise de
.
risco.

Resgate em Espaço Confinado 129


Editora ~rica - Atendimento Pré-Hospitalar. Treinamento da Brigada de Emergência do Suporte Básico ao Avançado - Márcia Vllrna G. de Moraes - 1• Edição
A Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT), NBR 14787:2000, prevê duas situações
onde não é necessário que o socorrista adentre o espaço confinado, tornando-se o procedi-
mento menos arriscado:
O autorresgate em que o trabalhador é capacitado em treinamentos que o possibilitam
escapar com segurança de ambientes em que entrou em atmosfef"J IPVS.
O resgate externo que consiste na retirada da vítima em situação de emergência por uma
pessoa no exterior. Para facilitar a retirada de pessoas do interior de espaços confinados sem
que a equipe de resgate precise adentrar no local, podem ser utilizados movimentadores
individuais de pessoas, atendendo aos princípios dos primeiros socorros,desde que não pre-
judiquem a vítima.
Quando se torna necessária a entrada do socorrista no espaço confinado, um fator funda-
mental para a sua segurança está na comunicação, que permite monitorar a condição física
e psicológica dos resgatistas, alertar sobre perigos e manter a coesão e o foco do grupo, po-
dendo ser o elemento chave para determinar o sucesso ou não da opef"JÇão. A comunicação
pode ser visual:
a Verbal direta: sendo comunicação inviável quando são utilizados protetores facia is;
a Tangível: por puxões de corda ou batidas sonoras;
a Por sistemas sem fio;
a Via rádio: essa comunicação pode estar sujeita a interferências ou falhas de frequência;
a Por sistemas com cabo.
Dependendo do espaço confmado, pode surgir a necessidade de preparar duas equipes
com equipamento completo para exploração, principalmente de proteção respiratória. Assim,
uma equipe entrará no local em busca da vítima e a outra, comumente chamada de backup,
deve estar preparada para atuar.
A Associação Brasileira de Nonnas Técnicas (ABNT), NBR 146o6:2000, detennína a obriga-
toriedade do uso do cinto de segurança de três pontos, ligado a uma corda, que estará com
o acompanhante do lado externo. Esse sistema deve ser acompanhado de equipamento que
per1nita, de 1nodo rápido e sem ferir, a retirada da pessoa em caso de acidente ou mal súbito
(equipa1nento de resgate).

7.3.1 Equipamentos para resgate externo em espaço confinado


Os equipamentos para resgate em espaço confinado devem ser especiais para não serem
condutores de eletricidade, como lanternas especiais para evitar explosões, os cilindros
de oxigênio devem ser leves e fmos de preferência de alumínio e com boa capacidade de
respiração. Os respiradores devem ter proteção para não embaçarem no seu uso e manter
boa ventilação ao socorrista.
As vestimentas devem ser leves e de preferência confeccionadas em algodão ou especiais,
quando for necessário, como vestimenta de proteção ao fogo, de proteção a produtos quúni-
cos ou à radiação. As vestimentas devem proporcionar uma boa movimentação do socorrista
em ambiente de espaço confinado, lembrando que muitas vezes ele precisa se curvar para se
locomover dentro desses espaços.

130 Atendimento Pré-HospiLalar - Treinamento da Brigada de Emergência do Suporte Básico ao Avançado


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Os equipamentos devem ser preparados antes da entrada no espaço confinado, como as
bombas de extração de gases, a bomba de ventilação, o tripé; o DEA deve estar em backup
próximo à entrada do espaço confinado para ser utilizado pela equipe de resgate externa.
Uma equipe entra no espaço confinado para realizar o resgate da vítima e a outra fica no
aguardo da vítima para realizar os primeiros socorros.
A equipe de resgate que entrar no espaço confinado deve realizar uma abordagem primá-
ria rápida da vítima (ver capítulo 2) e sua retirada também rápida, dependendo da situação
encontrada, aplicando chave de Rauteck. A equipe de resgate externa deve estar preparada
para executar a avaliação primária completa e as intervenções necessárias à vítima. Essa
equipe pode ser composta não só pela equipe de suporte básico, mas também pela equipe
de suporte avançado com equipe de médico e enfennagem.
A corda para uso em espaço confinado deve ser confeccionada em material sintético para
não ser u1na fonte de ignjção com risco de incêndio. Não devem ser utilizados cabos de aço,
pois aumentam ou potencializam o risco de incêndio por conduzirem eletricidade.
Para trabalhos em espaço confinado onde o trabal11ador precisa descer, o uso de cinto
do tipo paraquedista preso ao tripé é o recomendado, pois possibilita a retirada rápida do
trabalhador do local, Figura 7.1.
Outros equipamentos são necessários, como polias axial dupla e simples com placas
móveis em aço inox, cintos mosquetôes com travamento manual em aço inox, fitas ou anéis
costurados confeccionados em fibras resistente a altos esforços, descensor em alumínio for-
jado que pennita descida em cordas simples ou duplas, bloqueadores prussik, fita de resgate
(peia), cinturão e talabarte.

Figura 7.1: Tripé e cinto paraquedista. (Fonte: http://www.sermap.eom.br/ecommerce/produto _completo_new.


asp?pro_Erupo_51=2&pro_subgrupo_51=21 &pro_familia _SI= 186&pro_codigo_IN= 12315&volta_para=produtos)

7.3.2 Equipamentos para autorresgate em espaço confinado


O equipamento de proteção respiratória em áreas IPVS pode ser o equipamento com linha
de ar, dotado de peça facial e cilindro auxiliar de ar comprimido para abandono da área. O ar
respirado pelo trabalhador é o da linha de ar. No abandono desse ambiente, desconectando-
-se a mangueira de ar comprimido, abre-se a válvula do cilindro de abandono. Nessa situação,
o trabalhador terá de 10 a 20 mmutos de autonomia, dependendo do aparelho, para saída do
espaço confinado.

Resgate em Espaço Confinado 131


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Um respirador autônomo de ar comprimido, de pressão positiva, com cilindro de ar,
também é um equipamento seguro para penetração e permanência em espaços confinados. É
preciso atentar para a autonomia que o aparelho pode oferecer. Esse equipamento é dotado
de dispositivos de alarme para que o trabalhador saiba quando deve sair do espaço confinado.

Figura 7.2: Máscara autônoma - sequência de colocação.

Exercícios
1. Segundo a NR33, qual a definição para espaço confinado?
2. O que é autorresgate em espaço confinado?
3. Como devem ser preparadas as equipes para o resgate e1n espaço confinado?

132 Atendimento Pré-HospiLalar - Treinamento da Brigada de Emergência do Suporle Básico ao Avançado


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Resgate de Vítimas em
Altura - Trabalho Vertical

Trabalho em altura é aquele realizado em locais eleva-


dos, com diferença de nível e risco aumentado de queda do
trabalhador. As quedas em trabalhos de altura representam a
maior causa de mortalidade por acidentes em sua maior expres-
são na indüstria da construção cívil.
o setor elétrico a maior parte dos acidentes de trabalho gra-
ves e fatais envolve não somente a eletrocussão, mas também a
queda de altura. A queda de um trabalhador, dependendo da altura
e das condições da queda, é fatal ou causa traumas graves que, se
sobreviver, a vítima pode apresentar sequelas.
as atividades de trabalho em altura ou vertical o resgate de uma
vítima é, sem sombra de dúvidas, a operação mais complexa, o que
exige que os trabalhadores resgatistas estejam devidamente treinados e
preparados.
É preciso preparar equipes de emergência na empresa para resgatar
vítimas que porventura fiquem suspensas por talabartes ou presas em locais
que somente o resgate vertical pode alcançar. As técnicas de resgate vcnical
são diferenciais de vida para a vítima, principalmente em empresas localiza-
das fora de perímetros urbanos em que o corpo de bombeiros levaria horas
para chegar.

8.1 Doença ou condições que contraindicam o


trabalho em altura
A falta de boas condições físicas e psíquicas, como a epilepsia, vertigem,
distúrbio do equilíbrio e de movimentação, problemas cardiovasculares, an-
siedade e acrofobia (medo de altura), insônias e também uso de medicamen-
tos que atuam no sistema nervoso central (tra.nquilizantes e antidepressivos)
são fatores que contribuem para a ocorrência de quedas. (MORAES, 2008)

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As restrições temporárias de trabalhadores que apresentarem limitações transitórias de
saúde e que representem risco para o exercício da atividade só podem ser liberadas para
retorno após reavaliação da saúde e liberação da restrição. As restrições são gripes e resfria-
dos fortes, estresse Oinha de transmissão), dores de cabeça, indisposição gástrica (diarreias,
vômitos), vertigens e indisposição física.
A avaliação de saúde pré-tarefa para execução das atividades de trabalho em altura deve
ser efetuada, porém as decisões só podem ser tomadas por médico habilitado.

8.2 Tipos de resgate vertical


Os resgates em altura ou vertical podem ser divididos ein duas categorias básicas, sendo
resgates simples e complexos:
Os resgatEs simples são aqueles em que a vítima sofreu algum acidente sem que ele tenha
lhe causado alguma gravidade e a vítima acabou suspensa por seu talabarte e está impos-
sibilitada de sair dessa situação pelos seus próprios meios, seja por estar inconsciente ou não.
Na maioria das vezes o resgate pode ser efetuado por apenas uma pessoa que transfere a
vítima para uma corda de descida e a baixa, com auxílio da gravidade, até o solo ou alguma
superfície estável.
Os resgates complexos são aqueles em que a vítima sofreu um acidente e apresenta gravi-
dade de seus ferimentos, como fraturas ou queimaduras graves, ou outras complicações gra-
ves, que exijam algum tipo de atendimento e a vítima tenha de ser resgatada em uma maca, e
posteriormente baixada ou suspensa para uma superfície estável para passar por atendimento
pela equipe de suporte básico ou avançado. No resgate complexo há o envolvimento de
muitas pessoa e equipamentos.

8.3 Síndrome de suspensão inerte


,
E a situação em que u1na vítima, equipada com cinto de segurança, permanece suspensa,
sem movimentos e inconsciente. Nessas condições as fitas do cinto de segurança pressionam
os membros inferiores dificultando a circulação. O sangue fica retido nos músculos das per-
nas, diminuindo o nível de oxigênio no cérebro.
Os sinais e sintomas presentes na vítima são os mesmos de u1na vítima e1n choque hipo-
volêmico, pois o fluxo sanguíneo está diminuído devido à quantidade de sangue retida nos
membros inferiores. A vítima vai apresentar taquicardia, taquipneia e a inconsciência. Após
algum tempo ocorre a queda do pulso e da respiração.
O tempo médio que uma vítima em suspensão inerte pode suportar está em tomo de dez
minutos, portanto é de suma importância que uma vítima na condição de suspensão inerte
seja removida em um tempo máximo de dez minutos (resgate técnico vertical).

134 Atendimento Pré-Hospitalar - Treinamento da Brigada de Emergência do Suporle Básico ao Avançado


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8.4 Técnicas utilizadas em resgate vertical
Existem algumas técnicas que são empregadas para o resgate de vítimas em altura. O
resgatista deve avaliar a situação da vítima e do local para decidir qual técnica deve ser
empregada, levando em consideração a sua segurança e a segurança da vítima.
A retirada de vítimas de locais altos requer a utilização de equipamentos leves, porém de
alta confiabilidade. A intervenção normalmente deve ser realizada no menor tempo possível e
muitas vezes por um só resgatista que num curto espaço de tempo deve decidir qual o equi-
pamento mais adequado, acessar o local, escolher ou providenciar os pontos de ancoragem,
preparar e descer a vítima com toda a segurança.
Para o resgate vertical devem ser utilizadas pranchas dos tipos basket, canoa ou sked.

8.4.1 Descida de maca com acompanhante


Esse tipo de técnica é empregado quando a vítima apresenta alguma gravidade e exige
u1na assistência constante, ou o terreno do resgate for acidentado ou irregular e que não per-
mita uma descida livre da maca, tomando-se necessário o acompanhamento ele um resgatista
juntamente com a maca.
Nessas condições, a descida da maca é efetuada utilizando duas cordas, sendo uma prin-
cipal e uma de segurança, ambas controladas de cima, por integrantes da equipe.

8.4.2 Tirolesa para resgate


A utilização de uma tirolesa em muitos casos é a única opção para uma operação de
resgate. Situações típicas para sua utilização são evacuação de vítimas do alto de uma torre,
caixa-d'água ou qualquer tipo de edificação, cuja área imediatamente abaixo está obstruída,
impedindo uma evacuação na vertical. Neste caso monta-se uma tirolesa inclinada até o chão
ou na horizontal até uma edificação adjacente.
Certos cuidados para a montagem de uma tirolesa são fundamentais, como o correto
dimensionamento dos equipamentos e pontos de ancoragem, o adequado tensionamento das
cordas, o emprego de corda dupla e a utilização de cordas de tração e liberação da vítima.

8.4.3 Sistema de resgate com contrapeso


Em situações com poucos resgatistas, em que se tenha de elevar uma vítima em condições
de acesso restrito, a utilização do próprio resgatista como contrapeso é uma opção bastante
viável. Basta que se monte na ancoragem superior uma polia com blocante, e nesta se passe
uma corda, ela qual uma das extremidades se conecta à vítima, e na corda, após a polia, o
resgatista se posiciona, devidamente equipado para ascensão em corda. Com o peso deste
mais o auxílio de outro componente do grupo, na parte superior, estará montado um sistema
simples, porém eficiente que possibilita a elevação da vítima (resgate técnico vertical).

Resgate de Vítimas em Altura - Trabalho Vertical 135


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Exercícios
1. Quais os tipos de resgate vertical existentes?
2. O que é a síndrome de suspensão inerte e quais os sintomas?
3. Quais são as técnicas empregadas no resgate vertical?

136 Atendimento Pré-HospiLalar - Treinamento da Brigada de Emergência do Suporte Básico ao Avançado


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Triagem em Acidentes
com Múltiplas Vítimas

Em 6 de dezembro de 2004, o rompimento da tampa do


pré-evaporador de uma usina em Morro Agudo, SP, fez com
que um caldo com temperatura de 120° graus atingisse 21 fun-
cionários, dos quais 11 morreram. (ESTADÃO ONLINE, 2004)
Em 7 de novembro de 2009, o desmoronamento na obra de
construção de um túnel, em Andorra, deixou cinco trabalhadores
mortos e seis feridos. (EXPRESSO, 2009)
Esses tipos de acidente se tomam uma catástrofe, ou seja, é
aquela situação em que as necessidades de atendimento excedem
os recursos materiais e humanos imediatamente disponíveis, havendo
necessidade de medidas extraordinárias e coordenadas para manter a
qualidade básica no atendimento.
É um desequilíbrio entre os recursos disponíveis e os prescindíveis
para o atendilnento, de modo que quanto maior for esse desequilíbrio,
mais sérias sef'lo as consequências às vítimas do evento. Normalmente as
catástrofes exigem ajuda externa.
Os acidentes com múltiplas vítimas são exemplos de catástrofes em
que há um desequilíbrio entre os recursos disponíveis e as necessidades
encontradas. Como parâmetro de magnitude, consideram-se acidentes com
múltiplas vítimas aqueles eventos súbitos com mais de cinco vítimas graves.
O conceito do melhor esforço, ou seja, o melhor atendimento para a vítima
mais grave deve dar lugar ao conceito de o melhor atendimento para o maior
nC1mero possível de vítimas, no momento que elas mais precisam e no menor
tempo possível. Para isso empregam-se três princípios básicos no atendimento
dessas situações, como triagem, tratamento e transporte.
A triagem é a classificação das vítimas em categorias, não exclusivamente
relativas à gravidade, mas sim às situações em que mais se beneficiarão do so-
corro prestado. O objetivo no atendimento a múltiplas vítimas é aperfeiçoar a
ação de socorro, salvando o maior número possível de vítimas, empregando
o critério do melhor atendimento para o maior número de vítimas. A partir

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da triagem, as vítimas recebem o socorro no local e são transportadas para um atendimento
hospitalar.
A triagem é dinâmica e repetida, pois as vítimas podem evoluir para melhor ou pior estado
de saúde. A triagem consiste em ações simples e rápidas, gastando no máximo de 60 a 90
segundos por vítima. (GUGLIELMI EID)

9.1 Método START na avaliação de múltiplas vítimas


Quando o número de vítimas ultrapassa a capacidade da equipe no local, é prioritário
também o estabelecirnento de uma área de triagem e estabilização. O método de triagem
mais utilizado é o START (Simple Triage And Rapid Treaunent) ou simples triagem e rápido
tratamento.
No método START a avaliação da vítima se baseia na respiração, circulação e nível de
consciência, dividindo as vítimas em quatro prioridades, identificando-as através de cartões
coloridos para definir cada uma das prioridades. Essa identificação deve ser colocada em local
bem visível.
As vítimas devem ser colocadas sobre lonas coloridas (vermelha, arnarela, verde) na zona
fria (ver capítulo 1) para atendimento e transporte. A lona preta deve estar longe das vítirnas
para não haver choque das demais vítimas, e os corpos colocados na ârea preta devem estar
cobertos.
A prioridade ele atendimento às vítimas obedece à ordem apresentada em seguida.

9.1.1 Cartão vermelho


r a área destinada às vítimas de cartão vennelho ficam as que apresentam risco imediato
de vida e que terão evolução favorável. As vítimas para cartão vermelho apresentam respira-
ção somente após manobras de abertura de vias aéreas ou a frequência respiratória (FR) está
maior que 30 movimentos respiratórios por minuto, o enchimento capilar levando mais de
dois segundos ou ausência de pulso radial, ou vítimas que respiram abaixo de 30 movimentos
por minuto, porém apresentam pulso radial e enchimento capilar em até dois segundos, mas
não respondem a ordens simples, ou vítimas que necessitem de tratamento invasivo (suporte
avançado) antes de um transporte râpido ao hospital ou ainda vítimas que necessitam ser
transportadas rapidarnente ao hospital para cirurgia.
a ârea destinada às vítirnas com cartão vermelho vão todos os pacientes com risco de
vida imediato e que terão uma evolução favorável se os cuidados médicos forem iniciados
imediatamente. Também vão os pacientes que necessitam de um transporte rápido até o
hospital para serem estabilizados no centro cirúrgico.
São exemplos de vítimas de cartão vermelho as que apresentam estado de choque; am-
putações graves de membros, lesões arteriais; hemorragia severa; lesões por inalação; quei-
maduras em face, lesão de face e olhos, lesões intra-abdominais, insuficiência respiratória,
pneumotórax hipertensivo, lesões extensas de partes moles; queimaduras de 22 grau maiores
que 20% a 400Ai,ou de 32 grau maiores que 10 a 300Al.

138 Atendimento Pré-HospiLalar - Treinamento da Brigada de Emergência do Suporle Básico ao Avançado


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9.1.2 Cartão amarelo
Na área destinada às vítimas de cartão amarelo ficam as que não apresentam risco de vida
imediato, porém necessitam de algum tipo de atendimento no local enquanto aguardam trans-
porte ao hospital. São exemplos de vítimas de cartão amarelo as que apresentam fraturas, TCE
leve e moderado, queimaduras menores, traumatismos abdominais e torácicos, ferimentos
com sangramento que necessitam de suturas.

9.1.3 Cartão verde


Na área destinada às vítimas de cartão verde ficam aquelas com capacidade para se lo-
comover. Geralmente estão sentadas ou andando, não necessitam de tratamento médico ou
transporte irnediato, possuem lesões sem risco de vida.
Essas vítimas geralmente causam mais problemas na cena do acidente por estare1n com
dor e e1n estado de choque tendem a ser pouco cooperativas, sendo iJnportante um apoio
psicológico para manter essas vítimas nessas áreas. São exemplos de vítimas de cartão verde
as que apresentam contusões, hematomas, escoriações, pequenos ferimentos.

9.1.4 Cartão preto


É a prioridade zero ou última prioridade. Na área destinada às vítimas de cartão preto
estão as que se encontram em morte óbvia ou que não tenham chance de sobreviver por não
respirarem, mesmo após manobras simples de abertura da via aérea.
Naquelas situações em que há um desequilíbrio entre os recursos de socorro e o número
de vítimas, todos os pacientes com traumatismos severos, com poucas chances de sobrevida,
também vão para essa área de prioridade, assim como as queimaduras extensas de 2f1 e
32 graus.
START é um método contínuo de avaliação de vítimas, pois mesmo após priorizá-las nas
áreas de cores, uma vítima na área amarela pode ter o quadro agravado, ocorrendo mudança
para a área vermelha, por exemplo.

9.2 Passos para avaliação da vítima e determinação do


código de cores
A avaliação da vítima no método START se baseia na respiração, circulação e nível de
consciência, para isso é preciso observar os seguintes passos:
l:f 12 Passo: identifica e conduz as vítimas que podem caminhar para uma área de con-
centração previamente delimitada, classificando-as com a cor verde.
l:f 2° Passo: avaliar a respiração
- Se a respiração estiver ausente, realizar manobra de abertura das vias aéreas.
Se a vítima continua sem respirar, identificar com cor preta.
- Se a vítima respira, identificar com cor vermelha.

Triagl!llf em Acidentes com Múltiplas Vítimas 139


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Se a respiração estiver presente, verificar a frequência respiratória (FR).
- FC acima de 30 movimentos por minutos, identificar com cor vermelha.
FC normal, deve passar para o passo seguinte.
J:t 32 Passo: avaliar perfusão capilar
Se o enchimento capilar é superior a dois segundo.s, controlar hemorragia, identificar
com cor vennelha.
Se o enchimento capilar (ou pulso radial) é inferior a dois segundos, deve passar
para o passo seguinte.
1:1 4º Passo: estado neurológico da vítima
Se a vítima não consegue executar ordens simples como abrir os olhos, colocar a
língua para fora, solicitadas pelo socorrista, identificar com cor vermelha.
- Se a vítima executa corretamente as ordens simples recebidas, identificar como cor
amarela.

Exercícios
1. O que é e em que se baseia o método STAR1?
2. A quais vítimas se destina o cartão vermelho?
3, A quais vítimas se destinam os cartões amarelo e verde? Dê exemplo de vítimas para
esses cartoes.
~

4. O que representa o cartão preto no método STAR1?

140 Atendimento Pré-Hospitalar - Treinamento da Brigada de Emergência do Suporle Básico ao Avançado


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Simulados com Vítimas

No estado de São Paulo, o Decreto Estadual 46.076, de


31 de agosto de 2001, Regulamento de segurança contra
incêndios das edificações e áreas de risco, determina que os
exercícios de simulados para os membros da brigada devem
ser realizados a cada seis meses, no mínimo, no estabelecimen-
to ou local de trabalho com participação de toda a população.
Imediatamente após o simulaclo deve ser realizada uma reunião
extraordinária para avaliação e correção das falhas ocorridas, de-
vendo ser elaborada uma ATA que conste:
ll Horário do evento;
Q Tempo gasto no abandono;
111 Tempo gasto no retomo;
111 Tempo gasto no atendimento de primeiros socorros;
111 Atuação da brigada;
111 Comporta.mento da população;
111 Participação do corpo de bombeiros e tempo gasto para sua chegada;
111 Ajuda externa (PAM - Plano de Auxílio Mútuo);
111 Falhas ele equiprunentos;
a Falhas operacionais;
111 Demais problemas levantados na reunião.
A NR23- Proteção contra Incêndio, a NR29-Saúde e Segurança no Trabalho
Portuário e a NR33 - Saúde e Segurança em Trabalhos em Espaço Confinado
determinam a realização de simulados, lembrando que se trata de tarefas dis-
tintas, portanto os simulados elevem ser organizados para a realidade de cada
empresa e para possíveis situações que foram diagnosticadas pela análise
preliminar de risco. A empresa pode realizar simulados variados como:

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a Resgate em altura;
a Resgate em espaço conflnado;
a Resgate de vítimas de sinistro de incêndio;
a Resgate de vítimas de sinistros de vazamento de gás tóxico ou inflamável como
amônia, ácidos, GLP (gás liquefeito de petróleo), podendo ser simulado com vítimas
trabalhadores ou estender a simulados com vítimas da comunidade próxima à empre-
sa (participação do corpo de bombeiros, defesa civil e recursos da prefeitura como
ambulâncias públicas);
a Resgate de vítimas ern alto-mar (empresas portuárias);
a Simulados corn rnúltiplas vítimas na empresa;
a Simulados em prédios comerciais, hotéis, em que seja necessário resgatar vítimas em
prédios com fogo;
a Simulados corn participação do PAM (Plano de Auxílio Mútuo) do corpo de bombei-
ros, verificando o tempo gasto do acionamento à chegada do corpo de bombeiros e
do auxilio;
a Simulados do transporte da vítima ao hospital da região, avaliando o tempo gasto para
remoção de vítimas até o hospital, entre outros.
Os simulados devem ser preestabelecidos e avisados somente à gerência, não devendo ser
avisados os demais membros quanto à data e horário para a sua realização, pretendendo com
isso surpreender a equipe de brigada, podendo ser analisada a situação mais real possível e
como agmam.
Os simulados devem ser ftlmados para serem mais bem avaliados os pontos positivos e
negativos da equipe após o acontecimento, a fim de que sejam corrigidos os erros compara-
dos a simulados anteriores e elogiados os acertos.
A simulação com vítimas visa testar as habilidades das equipes de emergência em abordar
a vítima, recon11ecer as lesões, suas atitudes e condutas frente ao desafio.

10.1 Como preparar as vítimas para simulado


Para a realização de um simulado com vítimas é necessário que se tenha um objeto para
o atendimento: a vítima.
A vítima deve ter vontade própria de participar e não pode ser obrigada a fazer parte do
simulado. Deve-se orientar o que será feito, a posição em que a vítima deve ficar antes de
ser abordada pela equipe de emergência, deve ser realista e responder às perguntas quando
simular vítima consciente ou ficar muda, sem reação, quando simular vítima inconsciente.
Não pode rir ou brincar durante o simulado. É importante lembrar que é preciso zelar pela
integridade física da vítima que em primeiro lugar é um ser humano e deve ser respeitado.
O uso de manequins vivos é a melhor opção para tomar a simulação mais próxima da
realidade, porém para que isso seja alcançado, exige-se que a vítima (manequim vivo) tenl1a
conhecimento da sintomatologia das lesões simuladas para que possa responder adequada-

142 Atendimento Pré-HospiLalar - Treinamento da Brigada de Emergência do Suporle Básico ao Avançado


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mente aos passos do atendimento. Por exemplo, vítimas simulando fratura aberta em perna
direita devem gritar de dor quando o socorrista colocar a mão sobre a lesão.
Para facilitar as condutas que a equipe de emergência vai realizar, a vítima deve possuir
uma identificação com dados iniciais sobre respiração, frequência cardíaca, nível de consciên-
cia, lesões apresentadas e também dados tardios (após cinco minutos de atendimentos) sobre
respiração, frequência cardíaca, nível de consciência para verificar as condutas que serão
tomadas em casos de piora do quadro da vítima.
Visando um simulado mais real, deve-se utilizar no manequim vivo maquiagens para
demonstrar mais realidade à lesão que ele esteja encenando, como uso de tinta para pele ver-
melha ou anilina para demonstrar lesões com sangue, manchas roxas feitas com sombras para
demonstrar áreas de hematomas. Existem também no mercado kits de simulação de diversos
tipos de ferimentos em manequins vivos. Esses ferimentos artificiais podem ser amarrados,
colados, modelados corn cera, e alguns ferimentos podem até emitir sangue artificial.

10.2 Como elaborar história para simulado com vítimas


A elaboração de uma história detalhada do acidente ocorrido com a vítima, como queda,
incêndios, entre outros, permite à equipe de emergência que está sendo treinada uma perfeita
idealização da situação à qual está sendo exposta e a possibilidade de uma suspeição para
determinadas lesões de acorclo com o mecanismo do trauma.

Exemplo 1 - Vítimas de queimadura


O incêndio teve início no setor de máquinas próximo a um depósito de material de pronto
uso, como estopas, trapos. O fogo alastrou-se para os setores próximos, ocasionando ondas
de calor e pequenas explosões localizadas. No setor encontravam-se dois trabalhadores que
apresentava1n queimaduras de 22 e 32 graus em região do tronco e membros superiores. Uma
das vítimas apresentava-se inconsciente. Se o fogo não for contido a tempo, o avanço do
incêndio pode afetar o almoxarifado onde estão estoques de óleo lubrificante e combustível.
A brigada foi acionada.

Exemplo 2 - Vítimas de intoxicação


No setor de refrigeração houve o rompimento brusco da tampa de um dos compressores,
ocasionando liberação da amônia liquefeita, sob pressão. A amônia foi liberada sob forma
aerossolizada, o gás invadiu o setor de refrigeração onde se encontravam quatro trabalhado-
res. Dois conseguiram evadir-se do local após pegarem respiradores para fuga; outros dois
não conseguiram sair do local, ficando presos. A brigada foi acionada.

Exemplo 3 - Vítimas de quedas após explosão com incêndio


No setor de armazenamento de álcool encontravam-se dois trabalhadores fazendo manu-
tenção da válvula do tanque há uma altura de três metros, quando ocorreu uma explosão e
dois trabalhadores foram arremeçados. O incêndio iniciou-se em grande proporção. No local
há mais dois tanques que devem ser resfriados imediatamente. A brigada foi acionada.

Simulados com Vhimas 143


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10.3 Plano de Auxílio Mútuo (PAM)
A iniciativa ele somar recursos de combate em situação de sinistro virou realidade em 1959,
quando foi criado o primeiro PAM do País, o Plano de Auxílio Mútuo do Polo Petroquímica
de Cubatão, formado pelas indústrias locais. Essa ideia de agir numa espécie de mutirão
ganhou força a partir de 1983, quando ocorreu uma das piores tragédias do País, o incêndio
da Vila Socó que deixou um saldo de 93 mortos.
O PAM entra em cena quando os recursos de combate ou de emergência da empresa não
são suficientes para o controle e passa ser necessário o auxílio de outras empresas. O PAM
valoriza o trabaJho em equipe com objetivos de minimizar os riscos à vida humana, os danos
materiais e os danos ao meio ambiente.
As regiões industriais corn risco de explosões, contaminação de produtos químicos ou ou-
tros riscos com potencial de gerar uma catástrofe envolvendo grande número de trabalhado-
res ou população em geral necessitam da criação de um PAM entre as empresas ali instaladas
para criar mecanismos de cooperação entre elas, proporcionando a todas as empresas filiadas
uma proteção e controle das situações de emergência.

Exercícios
1. Qual a finalidade da realização de simulados com vítimas?
2. Qual a finalidade da elaboração de uma história para simulado com vítimas?
3. O que caracteriza o Plano de Auxílio Mútuo (PAM)?

144 Atendimento Pré-HospiLalar - Treinamento da Brigada de Emergência do Suporle Básico ao Avançado


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Assistência a Vítimas
de Acidente com Animais
Peçonhentos

Animais peçonhentos são aqueles que possuem glân-


dulas de veneno que se comunicam com dentes ocos, ou
ferrões, por onde o veneno passa ativamente. Portanto, pe-
çonhentos são os animais que injetam veneno com facilidade
e de n1aneira ativa. Exemplos: serpente, aranha, escorpião. Os
acidentes com animais peçonhentos são a segunda causa de aten-
dimento, superada somente pela intoxicação medicamentosas. Os
acidentes ofídicos afetam mais trabalhadores rurais e trabalhadores
da construção civil, principalmente com acidentes escorpiônicos.
Segundo dados do Sistema Nacional de Infonnações Toxicofanna-
cológicas (SINITOX), foram registrados no Brasil 14.658 acidentes com
animais peçonhentos ofídicos, aracnídeos e escorpiônicos, sendo 1.058
. .
ocupac1ona1s.

11.1 Acidente ofídico


Existem cerca de 2.500 espécies de serpentes no mundo. No Brasil são
encontradas 250 espécies, e somente 70 são consideradas peçonhentas;
pertencem a duas famJ1ias, as Viperidae com os gêneros Bothrops (jarara-
ca), Crotalus (cascavel) e Lachesis (surucucu), e as Elapidae com o gênero
Micrurus (coral).
A gravidade do acidente ofídico depende da quantidade de veneno ino-
culado e da rapidez do atendimento. No Brasil aproximadamente 90ºA> desses
acidentes são originados pela cobra jararaca, gênero Bothrops, 991> referem-se à
cobra cascavel, gênero Crotallus, e 1% é relativo a outros grupos como: coral,
gênero Micntrus ou surucucu, gênero Lachesis.
Em 2008, foram notificados pelo Sinicox 3.662 casos de acidente ofídico no
Brasil, sendo 629 por acidente de trabalho.

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Os acometimentos dos segmentos pé/ perna em 70%, e mão/antebraço, em 13% dos casos
notificados, decorrentes da não utilização de equipamentos mínimos de proteção.
A prevenção se faz com o uso de botas de cano alto ou pemeira que podem evitar cerca
de 800/o dos acidentes, enquanto os sapatos comuns podem evitar 300Ai. Cerca de 15% das
picadas atingem mãos ou antebraços, portanto o uso de luvas de couro evita os acidentes
ofídicos nessa região do corpo.

11.1.1 Mecanismo de ação dos venenos ofídicos


São os mais complexos de todos os venenos e possuem mais de vinte componentes. Os
mecanismos de ação são:
1:1 Ação inflamatória aguda;
n Ação coagu lante: incoagulabilidade sanguínea;
1:1 Ação hernorrágica;
n Ação miotóxica: leva à necrose muscular;
n Ação neurolóxica.

11.1.2 Sinais e sintomas após picada de cobra peçonhenta


Os sinais e sintomas dos acidentes com cobras diferem, dependendo do gênero à que
pertence a cobra, como:
1:1 Jararaca (gênero Botbrops): dor, edema e manchas arroxeadas na região da picada
podendo haver sangramento no local e em outras partes do corpo, como nas gengivas,
ferimentos recentes e urina. É possível haver complicações como infecção e morte do
tecido (necrose) no local da picada. Nos casos mais graves causam insuficiência renal.
O exame de tempo de coagulação estará alterado.
1:1 Surucucu (gêneroLacbesis): dor e edema no local da picada, semelhante à picada da
jararaca. Pode haver sintomas como bradicardia, hipotensão, diarreia e sangramentos.
1:1 Cascavel {gênero Crotalzts): no local da picada não se observa alteração importante,
porém a vítilna apresenta visão borrada ou diplopia (visão dupla), ptose palpebral,
insuficiência respiratória, urina avermelhada ou marrom. O risco de afetar rins é maior
do que nos acidentes com jararaca.
J!l Coral (gênero Micrurus ): no local da picada não se observam alterações impor-
tantes, porém a vítima apresenta ptose palpebral, diplopia, sialorreia, dificuldade de
deglutição, insuficiência respiratória aguda.

11.1.3 Assistência a vítimas de acidente ofídico pela equipe de


suporte básico
1:1 Lavar o local da picada apenas com água ou com água e sabão.

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a Manter a vítima deitada, evitando que o veneno espalhe-se mais rapidamente pelo
corpo. O membro picado deve ser imobilizado, sem ser apertado demasiadamente, e
mantido abaixo do nível do coração.
111 Anéis, relógios e roupas apertadas devem ser removidos e nenhum estimulante deve
ser administrado.
111 Um extrator de Sawyer (bomba a vácuo para aspirar o veneno do local da mordida)
deve ser aplicado sobre a mordida em cinco minutos e mantido durante 30 a 40 minu-
tos, durante o transporte para o hospital para a continuação do tratamento, Figura 11.1.
111 Não fazer incisões no local da picada, pois além de alguns venenos terem ação hemor-
rágica, podem aumentar a possibilidade de infecções principaltnente tétano.
a Não fazer torniquete ou garrote, pois pode ocorrer necrose ou gangrena.
a Levar a vítima ao serviço médico mais próximo, ou se estiver mais perto, levar direta-
mente ao Centro de Informação e Assistência Toxicologica existente em cada região.
A rapidez no atendimento em acidentes com qualquer animal peçonhento pode significar
a diferença entre a vida e a morte da vítima.
O tratamento definitivo será no intra-hospitalar com a administração do soro antiofídico
por via intravenosa. Assim como deve ser administrada dose de reforço da vacina antitetânica
e, ocasionalmente, é necessária a administração de antibióticos.

Figura 11 .1: Extrator de Sawyer, bomba a vácuo para retirada do veneno.


(Fonte: hllp://www.moontrail.com/accessrs/a-emerglvenom_extractor.htm/)

11.2 Acidente com aranhas - Araneísmo


Existem cerca de 30.000 espécies de aranhas no mundo, mas poucas espécies possuem ve-
neno ativo para o homem. No Brasil existem três gêneros de aranhas responsáveis por envene-
namento, sendo a aranha-armadeira, aranha marrom e a viúva-negra. As aranhas-cartlnguejeiras
e as tarânnilas, apesar de muito comuns, não causam acidentes de importância médica por
não possuírem peçonha que cause dado ao homem.
Em 2008, foram notificados pelo Sinitox 3.574 casos de acidente com aranhas peçonhentas
no Brasil, sendo 153 por acidente de trabalho.

Assistência a Vítimas de Acidente com Animais Peçonhentos 147


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11.2.1 Aranha-armadeira
A aranha-armadeira apresenta o corpo coberto por pelos curtos, aderentes, acinzentados.
No dorso do abdômen há pares de manchas claras formando uma faixa longirudinal e desta
seguem filas laterais oblíquas de ma.nchas menores. O ventre da fêmea é negro e do macho
alaranjado, apresentando o macho um colorido geral mais claro, amarelado. As pernas apre-
sentam espinhos negros implantados em manchas claras. (CICCO)
O veneno (peçonha) tem ação neurotóxica, sendo responsável pelo maior número de
acidentes de aranhas. O veneno dessa aranha cosruma agir mais rapida1nente do que a da
maioria das serpentes. Há registro de mortes de crianças, seis a doze horas após o acidente,
bem como de alguns adultos. Os principais sintomas são dor local imediata e intensa ge-
neralizada pelo 1nembro atingido, acompanhados por discreto edema no local da picada,
pulso rápido, febre e sudorese, problemas respiratórios, vômitos, vertigens e dificuldades de
acomodação visual, morte por asfixia, principalmente em crianças. (MORAES, 2010)

11.2.2 Aranha marrom


~

E a menor aranha entre as mais perigosas apresentando um corpo de 7-12 mm. Por causa
dos hábitos noturnos e seu tamanho, passam despercebidas pelo homem. Os machos têm cor-
po menor e pernas relativamente mais longas. O cefalotórax é baixo, isto é, não ultrapassam,
em altura, o abdômen, são seis olhos, reunidos em três pares. Todas apresentam um colorido
uniforme que varia do marrom claro até o escuro, podendo apresentar no cefalotórax um
desenho amarelo em forma de estrela. A duração de vida é de 1.536 dias para as fêmeas e 696
panos machos que acasalaram. (CICCO)
A ação do veneno é proteolítica e hemolítica. A picada não é dolorosa, por isso não é per-
cebida. Os sintomas manifestam-se tardiamente, em tomo de 12 a 24 horas após o acidente,
aparecendo vermelhidão, endurecimento e dor local, podendo ser acompanhados de bolha
semelJiante à queimadura. Quando há comprometimento cutâneo visceral, observamos febre,
mal-estar generalizado, icterícia, equimose, vesículas, bolhas, necrose e ulceração. A urina
toma-se escura, cor de "coca-cola". (MORAES, 2010)

11.2.3 Aranha viúva-negra


Existem nu1nerosas subespécies de aranhas viúvas-negras, distribuídas pela maioria das
regiões quentes. A mais venenosa delas é a do Sul dos Estados Unidos. São aranhas de porte
médio, corpo preto-brilhante e frequentemente com uma mancha vermelha no abdômen, que
é muito gr&nde em relação ao corpo e quase esférico. Fazem suas teias e1n lugares sombrios
e frescos, o que explica a sua preferência por casas. Após o acasalamento, a fêmea devora o
macho, por isso são conhecidas como viúvas-negras. O casulo onde os ovos são depositados
é maior que o corpo da aranha. Dele saem dezenas de filhotes. (CICCO)
o local da picada não se observa anomalia nenhuma. A dor, intensa, irradia-se, gene-
ralizando-se pelo corpo e concentrando-se nas articulações e nos órgãos internos revestidos
de muscularura lisa. Pode haver elevação de tempenrura, calafrios, tremores, cãibras, prin-
cipalmente nas pernas, pés e dedos dos pés. Palpitações cardíacas, suores frios, retenção
de urina, convulsões tetânicas, estados dolorosos das vísceras são comuns, à medida que o
envenenamento se propaga. (MORAES, 2010)

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11.3 Acidente com escorpião - Escorpionismo
Existem cerca de 1.500 espécies de escorpião no mundo. No Brasil, os escorpiões de im-
portância médica são do gênero Tityus. O T serrnlatus(escorpião amarelo) tem cerca de 7 cm
de comprimento e um par de serrilhas na cauda. O T bahiensis (escorpião preto) tem cerca
de 7 cm de comprimento com as pernas mais claras manchadas de escuro e sem serrilhas na
cauda. A letalidade é cerca de 0,9%, sendo 88,90Ai em indivíduos menores de 14 anos.
Os escorpiões vivem sob pedras, madeiras, troncos podres, alguns enterram-se no solo
úmido da mata, outros na areia do deserto, ou mesmo a grandes alturas nas árvores. Outros
dão preferência às proximidades das residências humanas onde se escondem no entulho, em
madeiras ernpilhadas. São animais carnívoros e de hábitos noturnos, alimentando-se prin-
cipalmente de insetos e de aranhas. Podem jejuar por tempo prolongado de até 23 meses,
armazenando alimento nos divertículos do hepatopâncreas. A visão é pouco desenvolvida.
Antes do acasalarnento, o macho e a fêmea se agarrarn pelas pinças, fazendo estranha dança.
Quando tudo terrnina, a fê1nea frequentemente come o macho. (CICCO)
Em 2008, foram notificados pelo Sinitox 7.422 casos de acidente com escorpião no Brasil,
sendo 276 por acidente de trabalho.
O acidente com escorpião pode ser classificado em:
ll Leve: a vítima apresenta dor e edema no local da picada, sudorese local, dor em
membros inferiores, tremores, sendo o tratamento feito com analgésicos e observação
clínica (não se faz soro).
ll Moderado: a vítima apresenta dor abdominal, ansiedade/agitação, dificuldade de an-
dar, dor cabeça, febre (faz uma ampola de soro).
ll Grave: a vítima apresenta taquicardia, hipertensão, taquipneia, náuseas, vômitos, re-
tenção urinária, priapismo (faz uma a duas ampolas de soro).

11.4 Tratamento das vítimas com soro


Os soros são utilizados para tratar intoxicações provocadas pelo veneno de animais pe-
çonhentos ou por toxinas de agentes infecciosos, como os causadores da difteria, botulismo
e tétano. O soro antipeçonhento é o único meio comprovadamente eficaz no tratamento de
vítimas de picadas por serpentes venenosas, escorpião ou aranha.
O soro é produzido a partir da extração da peçonha dos animais peçonhentos (cobra,
escorpião, aranha) por meio ela inoculação dessa peçonha após diluída no cavalo. O cavalo
recebe em intervalos de dias, várias aplicações desse veneno. A cada aplicação a diluição vai
diminuindo, apresentando maior concentração, mas nunca lOOOA> da atividade, pois acarretaria
danos ao animal. Depois de umas seis semanas, o organismo do cavalo produz uma quanti-
dade suficiente de anticorpos contra esse veneno. O cavalo é então sangrado, retirando entre
seis e oito litros de sangue, do qual se separam os anticorpos por um processo de centrifu-
gação. Após a extração, ele é seco e liofilizado, ou seja, retira-se a água, transformando-o em
pó. Para ser utilizado nas vítimas ele é diluído, tornando-se líquido novamente.

Assistência a Vítimas de Acidente com Animais Peçonhentos 149


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Os tipos de soro são:
a Antlcrotállco: contra o veneno das cascavéis.
a Antielapídico: contra o veneno das corais.
a Antibotrópico: contra o veneno das jararacas, incluindo as jararacuçus, urutus, caiça-
cas e jararacas pintadas.
a Antilaquético: contra veneno das surucucus.
a Antibotrópico-crotálico: contra o veneno de jararacas e cascavéis.
a Antibotrópico-laquético: contra o veneno de jararacas e surucucus.
a Antiaracnídico: contra o veneno de aranha e escorpião.
a Antiescorpiônico: contra o veneno do escorpião.

Exercícios
1. O que são animais peçonhentos?
2. Quais são os sinais e sintomas de uma picada de cascavel?
3. O que é extrator de Sawyer?
4. Como se classifica o acidente com escorpião?

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152 Atendimento Pré-Hospitalar - Treinamento da Brigada de Emergência do Suporle Básico ao Avançado


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154 Atendimento Pré-Hospitalar - Treinamento da Brigada de Emergência do Suporle Básico ao Avançado


Editora ~rica - Atendimento Pré-Hospitalar. Treinamento da Brigada de Emergência do Suporte Básico ao Avançado • Márcia Vllma G. de Moraes • 1• Edição
Glossário

Capnografia: é um método de avaliar o gradiente de dióxido de carbono presente na expira-


ção. Para isso é utilizado um instrumento, o capnógrafo, que a partir de um sensor colocado
no ramo expiratório das próteses ventilatórias faz a leitura.
Catarata: é a turvação progressiva do cristalino que interfere na absorção da luz que chega
à retina, causando uma visão progressivamente borrada. A leitura fica mais difícil e dirigir um
carro pode se tomar perigoso. O portador de catarata pode se sentir incomodado por luz forte
ou ver halos ao redor das luzes.
Desbridamento: consiste na remoção de tecidos necrosados aderidos ou de corpos/partí-
culas estranhos no leito da ferida, usando técnicas mecânicas e/ou quúnicas. Os métodos de
desbrida1nentos são desbridamento cirúrgico cortante, desbridamento autolítico com uso de
curativos interativos úmidos para liquefazer crostas e escaras, desbridamento mecânico com
uso de curativos úmidos ou secos e irrigação e lavagem em jato; desbridamento enzimático
consiste e1n curativos com enzi1nas co1no papaína, colagenase, sendo usadas em desbrida-
mento de escaras e crostas.
Diurético osmótico: drogas que elevam a osmolalidade do plasma sanguíneo e produzem
um aumento do fluxo de água a partir dos tecidos, inclusive o encéfalo, até o líquido inters-
ticial e o plasma. Desta forma, pode-se reduzir o edema cerebral, a pressão intracraníana
elevada.
Doença de Chagas: também conhecida como mal de Chagas, é uma infecção causada pelo
parasita Trypanosoma cn-tzi. A forma mais comum de contágio é através das fezes de insetos
conhecidos popularmente como barbeiros, que se alimentam sugando sangue humano e de
animais. A doença de Chagas também pode ser transmitida pela transfusão de sangue ou
por via placentária. Se não for tratada, a infecção pode durar a vida toda. A fase aguda da
doença de Chagas ocorre logo após a infecção. Pode durar de algumas semanas a meses, e
parasitas podem ser encontrados na circulação sanguínea. A infecção pode ser moderada ou
assinto1nática. Em algumas ocasiões, a infecção aguda pode resultar em inflamação severa do
músculo cardíaco ou do cérebro e seu revestimento.
Efeito Joule: a circulação do fluxo de corrente elétrica em um condutor apresenta um fenô-
meno de produção de calor, o qual é resultado da colisão dos elétrons livres com os átomos
dos condutores. Quando a corrente elétrica percorre um condutor, como, por exemplo, um
metal, faz com que ele se aqueça, transformando a energia elétrica em energia térmica. Esse
fenômeno de conversão de energia nos condutores, energia elétrica em térmica, foi estudado
e descoberto no século XIX pelo cientista e físico britânico James P. Joule. É em homenagem
a ele que esse efeito tem o seu nome.
Embolia! bloqueio de um vaso sanguíneo por um coágulo de sangue ou material estranho
que tenha sido transportado de um sítio distante pela corrente sanguínea. O êmbolo pode ser
um coágulo sanguíneo (trombo) ou um êmbolo de gordura, de líquido amniótico, de medula
óssea, um fragmento de um rumor ou uma bolha de ar que se desloca através da corrente
sanguínea até obstruir um vaso. A embolia pulmonar é a obstrução repentina de uma artéria
pulmonar causada por um êmbolo, uma complicação grave que pode causar morte súbita.

Glossário 155
Editora ~rica - Atendimento Pré-Hospitalar. Treinamento da Brigada de Emergência do Suporte Básico ao Avançado - Márcia Vllrna G. de Moraes - 1• Edição
Hemofilia: é um distúrbio na coagulação do sangue. Por exemplo: quando cortamos alguma
parte cio corpo e começa a sangrar, entra em ação o sistema de coagulação formado por
fatores de coagulação para estancar o sangramento. Esse processo é chamado de coagulação.
As pessoas portadoras de hemofilia não possuem essas proteínas e por isso sangram mais do
que o normal. Existem vários fatores da coagulação no sangue, que agem em uma sequência
determinada. No final dessa sequência é formado o coágulo e o sangramento é interrompido.
Em uma pessoa com hemofilia, um desses fatores não funciona. Sendo assim, o coágulo não
se forma e o sangramento continua.
Laparotomia ex ploradora: é uma cirurgia que consiste na abertura do abdômen (laparoto-
mia), tendo co1no finalidade sua exploração Oaparotomia exploradora), exame e tratamento
de problemas. O abdômen contém diversos órgãos vitais, como o estômago, o intestino
delgado, o intestino grosso, o fígado, o baço, a vesícula biliar, o pâncreas, o útero, as tubas
uterinas, os ovários, os rins, os ureteres, a bexiga e muitos vasos sanguíneos. Alguns proble-
mas que ocorrem no interior do abdômen podem ser diagnosticados facilmente, porém para o
diagnóstico de muitos deles é preciso uma cirurgia "exploradora" (laparotomia exploradora).
Neurocistecercose: é uma infecção do sistema nervoso provocada por cisticercos, formas
larvárias da Taenia solium. De uma forma geral, o ciclo da doença compreende o homem
como hospedeiro definitivo da Taenia solium, e os porcos (suínos) seriam os hospedeiros in-
termediários infectados pela forma larvária da tênia. A ingestão da carne de porco pelo homem,
com determinadas formas de cisticcrcos, produz a teníase. A cisticercose será gerada quando
houver a ingestão de ovos da Taenia solium, podendo isso se dar por vários meios, tais
como pela ingestão de água e/ ou alimentos contaminados, como consequência de péssimas
condições higiênicas ambientais e pessoais. A ação do suco gástrico possibilita a eclosão dos
ovos e a liberação do embrião que dá origem ao cisticerco. Esse embrião atravessa ativamente
a mucosa gástrica, atinge a corrente sanguínea e fixa-se preferencialmente em algum tecido,
como no tecido celular subcutâneo, tecido muscular estriado, globo ocular e sistema nervoso.
Este último é acometido em aproximadamente 900A> dos casos.
Osteoporose: doença osteometabólica mais frequente no paciente idoso. Acomete ambos os
sexos, sendo mais frequente na mulher, já que, no climatério, a diminuição dos níveis estrogê-
nicos precipita as perdas de massa óssea. Aos 50 anos, a cada cinco fraturas por osteoporose
na mulher ocorrem duas no homem. Aos 70 anos, essa relação cai para três fraturas na mulher
a cada duas no homem. O diagnóstico de osteoporose é clínico e deve ocorrer somente após
a exclusão de causas secundárias de perda óssea, como as neoplasias ósseas e outras doenças
osteopênicas. O exame de densitometria mineral óssea quantifica as perdas ósseas e é um
bom preditor de fraturas.
Oxímetro de pulso: equipamento que mede indiretamente a quantidade de oxigênio no
sangue de um paciente. Consiste em um par de pequenos diodos emissores de luz frente a
fotodiodos, através de uma parte do corpo translúcida como a ponta dos dedos. A absorção
desses comprimentos de onda difere significamente entre a oxiemoglobina e sua forma deso-
xigenada, sendo possível determinar a taxa de concentração a partir dessa absorção.
Síndrome compartimentai: é um distúrbio no qual ocorre aumento da pressão, dentro de
um compartimento osseofascial fixo, provocando compressão das estruturas musculares e
neurovasculares dentro desse compartimento. A pressão aumenta e provoca diminuição do

156 Atendimento Pré-Hospitalar - Treinamento da Brigada de Emergência do Suporle Básico ao Avançado


Editora ~rica - Atendimento Pré·Hospltalar. Treinamento da Brigada de Emergência do Suporte Básico ao Avançado - Márcia Vllma G. de Moraes - 1• Edição
fluxo de sangue venoso até parar. O fluxo arterial também pode cessar. Pode ocorrer nos
membros inferiores, nos membros superiores e até na região abdominal.
Sinusite: é a inflamação das mucosas dos seios da face, região do crânio formada por cavi-
dades ósseas ao redor do nariz, maçãs do rosto e olhos. Quando a sinusite atinge os seios
maxilares, podem surgir dores nas maxilas e dentes devido à infecção e inflamação dos
seios maxilares. Quando a sinusite atinge os seios frontais e/ou etmoidais, ocorrem cefaleias
intensas e incapacitantes, o que requer uma atenção urgente devido ao desconforto causado.
Stent: foi descrito pela primeira vez em 1987. Através da angioplastia coronariana o stent é
implantado. Ele consiste em uma rnicromalha metálica que envolve o balão, e que é liberado
definitivamente com a sua insuflação no local da obstrução coronária A utilização do stent
determinou a drástica diminuição dos fenômenos oclusivos agudos e da reobstrução tardia
do vaso tratado.
Trombose: é a formação de trombos (coágulos) no interior de um vaso. A formação do
trombo é geralmente causada por um dano nas paredes do vaso, ou ainda por um trauma
ou infecção, e ta1nbém pela lentidão ou estagnação do fluxo sanguíneo. Em geral eles se
formam nos membros inferiores. Como sua estrutura é sólida e amolecida, um fragmento
pode desprender-se e seguir o trajeto da circulação venosa que retoma aos pulmões para o
sangue ser oxigenado.
Trombocitopenia: é uma deficiência de plaquetas (trornbócitos), as quais estão envolvi-
das no processo de coagulação. O sangue geralmente contém aproximadamente 150.000 a
350.000 plaquetas por microlitro. O sangramento anormal pode ocorrer quando a contagem
plaquetária cai abaixo de 30.000 por microlitro, embora os problemas comumente não sejam
aparentes até que ela caia abaixo de 10.000 por microlitro. Muitas doenças podem causar uma
baixa contagem plaquetária, mas frequentemente não é possível detectar uma causa espeá-
fica. Existem quatro razões principais para a redução da quantidade de plaquetas: a medula
óssea não produz plaquetas suficientes, as plaquetas são sequestradas no baço aumentado de
volume, o aumento da utilização ou da destruição das plaquetas e a diluição das plaquetas.

Glossário 157
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Índice Remissivo

A D
Abordagem Debridamento 111
primária completa 33 Desfibrilação 122
primária rápida 32, 131 Desfibrilador 50, 52, 53, 56, 57
secundária 37 Diabetes 39, 40, 47, 48
Acidente ofídico 145, 146 Dispositivo de válvula unidirecional 72
Aloenxerto 111 Drenagem
Ambulância 27, 28, 43, 45 pleural 71, 72
Amônia 113-116, 142, 143 torácica 24
Amputação traumática 95 Dreno de tórax 73
Animais peçonhentos 145
Aranha 145, 147, 148
Arco elétrico 121
E
Artérias coronárias 43 Efeito Joule 123
Autoenxerto 107, 111 Eletricidade cósmica 121
Autorresgate 130 Eletrocussão 133
Autotransfusão 73 Eletroplessão 120
Avaliação do cenário 31 Elevação a cavaleiro 97
Engasgo 59, 6o
Entorse 86
B Epilepsia 39, 64, 65
Balneoterapia 111 Epistaxe 63, 64
Bandagem triangular 28, 88 E.scala de
Cincinnati 42
e Glasgow 36, 45, 79-81
trauma 81
Cartão Escarotomia 110
amarelo 139 Escorpião 145, 149
preto 139 Esmagamento 29, 94
verde 139 Espaço confinado 19, 22, 28, 127-130,
vennelho 138
132, 142
Chave de l~auteck 95, 96, 131 Estímulo doloroso 36
Choque elétrico 49, 119-122, 126 Estreptoquinase 45
Cinto aranl1a 102 Evidência de óbito 28
Colar cervical 23, 28, 62, 81, 95, 99, 100
Evisceração 75
Colchão a vácuo 102 Exposição da vítima 37
Cricotiroidostomia 24, 58 Extrator de Sawyer 147
Crise convulsiva 64-67
Curativo de três pontas 71

158 Atendimento Pré-HospiLalar - Treinamento da Brigada de Emergência do Suporle Básico ao Avançado


Editora ~rica - Atendimento Pré-Hospitalar. Treinamento da Brigada de Emergência do Suporte Básico ao Avançado - Márcia Vllrna G. de Moraes - 1• Edição
F Massagem cardíaca 50-52, 56, 57, 123, 125
MedtLla espinhal 75, 76
Fasciotornia 111
Método START 138, 139
Fenômeno de Cushing 79
Múltiplas vítimas 137, 138, 142
Fibrilação ventricular 53, 55, 122, 123
Fratura
aberta 84-86, 88 o
fechada 84-86 Osteossíntese 85
Fulguração 121 Oxigênio hiperbárico 115
Fulminação 121 Oxírnetro 24, 43, 47, 48, 114, 115

G p
Glicosí1netro 24, 48 Parada cardíaca 29
Perfusão distal 35, 125
H Pericarcliocentese 74
Plano de Auxílio Mútuo 141, 144
Hemorragia 32, 89, 125, 138
Pneumotórax 70-72, 138
Hemotórax 73
Produtos perigosos 28, 116, 117
Hipertensão arterial 39, 40, 44, 63
Punção intraóssea 24, 93, 94

1
Q
Imobiliz.ador
Queimadura 105-113, 123-126, 138, 139
de coluna 28
especial 111
dorsal 28
química ocular 111-113
lateral de cabeça 101
química no corpo 113
Inalação de fumaça 114
Infarte 43-45
Intoxicação por monóxido de carbono 114 R
Redução incruenta 87
Regra
J da palma da mão 109
Jaw-Thrust 33, 62
dos nove 108
Resgate
K em altura 142
KED 98 externo 130
vertical 133-135
Respirador autônomo 132
L Responsividade 32
Luxação 87, 88 Rolamento em
900 62, 96
M 180º 96, 97
Manequim vivo 142, 143
Manobra de 1-Ieimlic 60, 61
Marca elétrica de Jellineck 120, 124

Índice Remissivo 159


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s Torniquete 91, 147
Trabalho em altura 133
Schint lift 33
Transporte médico 27
Serpente 145
Trauma
Simulado 141, 142
abdominal 74, 75
Sinal
cranioencefálico 78
de Battle 79
muscuJoesquelético 82
de Lichtemberg 121, 124
raquimedular 75, 77, 78
de Panda 79
torácico 69, 70
universal do engasgo 60
Traumatismos abdominais 139
Síncope 46
Tríade de Beck 74
Síndrome de
Triagem 137, 138
compartimento 84, 111
Tripé 131
suspensão inerte 134
Soro antipeçonhento 149
X
T Xenoenxerto 111
Tala 23, 28, 87
inflável 88 z
Tamponamento cardíaco 74 Zona
Técnica de hemostasia 91 de trabalho 26, 117
Tetanização 122, 123 fria 26, 117
Tirolesa 135 morna 26, 95, 117
Toracocentese 72, 73 quente 26, 95, 117

160 Atendimento Pré-HospiLalar - Treinamento da Brigada de Emergência do Suporle Básico ao Avançado


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