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O servo, sem suspeitar, excitado e ansioso para dar a boa nova, comunica que o
irmão mais novo voltara e que o pai mandara matar o novilho cevado. Mas essa
manifestação de alegria não pode ser recebida. Em vez de alívio e gratidão, a
alegria do servo produz nele o efeito contrário: a música e as danças, em vez de
convidar ao festejo, tornaram-se causa para um afastamento ainda maior.
Essa experiência de não poder partilhar da alegria é a experiência de um
coração duro, frio e ressentido
O filho mais velho não podia entra na casa e partilhar da alegria do seu pai.
Sua mágoa íntima o paralisava e o deixava taciturno.
Rembrandt entendeu o sentido profundo de tudo isso quando ele pintou o filho mais velho ao lado do
estrado em que o filho mais jovem é recebido na alegria do pai. Ele não descreve a comemoração com
música e dançarinos; eram meros sinais exteriores do contentamento do pai.
Em lugar de uma festa, Rembrandt pintou luz, a luz radiosa que envolve tanto o pai como o filho.
A alegria que Rembrandt retrata é a alegria tranquila que pertence à casa de Deus.
Na parábola é possível imaginar o filho mais velho do lado de fora, no escuro, não
desejando entrar na casa iluminada e cheia de ruídos de festa.
Mas Rembrandt não pinta nem a casa nem os campos. Ele retrata tudo com
claro e escuro.
O abraço do pai, cheio de luz, é a casa de Deus. Lá estão as músicas e as danças.
O filho mais velho fica fora do círculo desse amor, recusando-se a entrar.
A luz sobre seu rosto mostra que ele também é chamado à LUZ, mas não pode ser
forçado.
A alegria da festa só será completa quando o filho mais velho participar dela.
Nem a pintura de Rembrandt nem a parábola que ela retrata falam da decisão
final do filho mais velho.
- Ele se deixou persuadir pelo pai? Entrou, finalmente, e participou dos festejos?
- Abraçou seu irmão e lhe desejou as boas vindas como seu pai havia feito?
- Sentou-se à mesa com o pai e o irmão e partilhou com eles da refeição festiva?
- Será que o filho mais velho foi capaz de reconhecer que ele também é um pecador que precisa ser
perdoado? Será que ele está disposto a admitir não ser melhor do que seu irmão?
Disso não temos certeza. O que conhecemos, com certeza plena, é o coração do
pai. É um coração capaz de compaixão sem limites. A parábola não sugere um
final feliz. Ao contrário, deixa-nos face a face com uma das mais difíceis escolhas
espirituais: confiar ou não no amor todo misericordioso de Deus. Sou eu
somente que posso fazer essa escolha.
A parábola, portanto, não tem um fi-
nal feliz, mas um final aberto.
Pedir a graça: pedir a graça de conhecer a
bondade e o perdão de Deus,
que são infinitamente maiores que a nossa “justiça”.