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Revista de Psicologia
SIMBÓLICO E A TEORIA NEUROPSICOLÓGICA DE
Vol. 16, Nº. 25, Ano 2013
HEBB
RESUMO
Marilia Bazan Blanco
Universidade Federal de São Carlos A Psicologia Comportamental apresenta uma explicação bastante
UFSCar plausível para o desenvolvimento da linguagem, enfatizando a relação
marilia.bazan@gmail.com dos indivíduos com o seu ambiente nesse desenvolvimento. No
entanto, uma das críticas sofridas por esta abordagem é a de que ignora
os eventos biológicos envolvidos no comportamento. Assim, o objetivo
do presente ensaio é discutir a possibilidade da Teoria
Neuropsicológica do psicólogo canadense Donald Hebb fornecer
subsídios para se entender os mecanismos cerebrais da formação de
classes de estímulos e do comportamento simbólico. Acredita-se que os
circuitos reverberantes, aglomerados de células e sequências de fases
apresentados por Hebb possam fornecer subsídios para o entendimento
da formação de classes de estímulos.
ABSTRACT
1. INTRODUÇÃO
Embora defenda que um dos maiores erros da Psicologia seja buscar as causas do
comportamento no interior do organismo, Skinner (1974) afirma que a fisiologia no futuro
será capaz de dizer o que ocorre no organismo durante sua ação:
[...] o fisiólogo do futuro nos dirá tudo quanto pode ser conhecido acerca do que está
ocorrendo no interior do organismo em ação. Sua descrição constituirá um progresso
importante em relação a uma análise comportamental, porque esta é necessariamente
“histórica”- quer dizer, está limitada as relações funcionais que revelam lacunas
temporais. Faz-se hoje algo que virá a afetar amanhã o comportamento de um
organismo. Não importa o quão claramente se possa estabelecer esse fato, falta uma
etapa e devemos esperar que o fisiólogo a estabeleça. Ele será capaz de mostrar como
um organismo se modifica quando é exposto às contingências de reforço e por que então
o organismo modificado se comporta de forma diferente, em data possivelmente muito
posterior. O que ele descobrir não pode invalidar as leis de uma ciência do
comportamento, mas tornará o quadro da ação humana mais completo. (SKINNER,
1974, p.183).
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Entre essas relações, da figura cachorro (A), do som cachorro (B) e da palavra
escrita CACHORRO (C), derivam outras relações emergentes, que não foram treinadas, e
partir daí diz-se que a criança possui o conceito de cachorro.
Quando a relação arbitrária entre palavras faladas e objetos, por exemplo, é uma
relação de equivalência, pode-se dizer que as palavras são compreendidas (DE ROSE e
BORTOLOTI, 2007).
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Embora em 1949, quando Hebb escreveu sua obra “The organization of behavior:
a neuropsychological theory”, pouco ou quase nada se soubesse sobre a organização do
sistema nervoso e das propriedades dos neurônios, sua teoria neuropsicológica vai ao
encontro dos achados atuais em neurociências (SEJNOWSKI, 1999).
Os neurônios podem ser ativados por estimulação, podem ativar uns aos outros e
podem transmitir impulsos que estimulam glândulas, órgãos ou músculos. Quando um
neurônio é reativado, ele pode disparar o neurônio que o reativou; o reultado dessa
reativação circular é o chamado circuito reverberante. Circuitos reverberantes podem
ativar uns aos outros, formando aglomerados de células, compostos por milhares de
neurônios. Esses aglomerados de células podem ainda ativar uns aos outros, dando a
origem a sequências de fases. Assim, uma estimulação específica pode ativar uma rede
muito complexa de células nervosas (MOREIRA, 2011)
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4. CONSIDERAÇÕES FINAIS
Quando as crianças são expostas as mais diversas situações, tendo contato com
objetos e pessoas, vão apresentando comportamentos variados que são reforçados
diferencialmente. Por meio da modelação e modelagem, vão desenvolvendo a linguagem,
aprendendo a se comunicar, nomear objetos e fazer uso de símbolos. Concomitante a essa
estimulação e consequenciação ambiental, formam-se circuitos cerebrais específicos, base
neurobiológica do comportamento. A formação de circuitos reverberantes, aglomerados
de células e sequência de fases, capazes de ativarem-se umas as outras, seria resultado da
exposição concomitante aos diversos estímulos relacionados. De forma bastante
simplificada, classes de estímulos equivalentes corresponderiam a sequências de fases,
conjunto de células nervosas interligadas de modo bastante complexo. Embora os
conceitos de Hebb ainda façam parte de uma explicação conceitual para o funcionamento
do sistema nervoso, a Neurociência moderna tem conseguido explicar cada vez mais
detalhadamente como se dá neurologicamente todo esse processo.
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