Inicialmente, é pontuado as 3 grandes crises que o Brasil entrou no fim da década
de 70 e início dos anos 80: Crise da dívida externa, crise fiscal, e inflação inercial. - Fatores que são ressaltados que levaram à crise foram: 1. Segundo choque do petróleo (1979) 2. Choque de juros internacionais (alta da taxa de juros americana) 3. Prefixação da taxa de câmbio para mudar as expectativas da inflação - É importante lembrar que o aumento da taxa de juros americana foi negativo para o Brasil, pois fez com que o custo da dívida externa subisse fortemente, aumentando o pagamento de juros. - Brasil, devido aos 3 fatores, se tornou mais vulnerável ao cenário externo, com déficits na balança comercial e balança de serviços, consequentemente, déficits em transações correntes. Nesse cenário, a conta movimento de capitais foi insuficiente para fazer frente às transações correntes. - Nesse período conturbado, o presidente era João Figueiredo. - A equipe econômica tinha uma visão mais monetarista, e se baseava em expectativas racionais, realizando no período, o ajuste voluntário, isto é, medidas adotadas pelo governo sem nenhuma pressão externa, e que buscava melhorar o cenário do país, a partir de: 1. Políticas econômicas restritivas (ajuste fiscal) 2. Maxidesvalorização cambial (depreciação da moeda) 3. Elevação da taxa de juros - Porém, mesmo após tais ajustes, a inflação se mantém em patamares elevados, ficando na casa de 100% a.a. em 1980 e 1981, e 200% a partir de 1983. Esse fenômeno que ocorre no país é denominado como inflação inercial, a qual advém da inflação crônica já presente na economia anteriormente. - É interessante a comparação que o autor faz entre o período dos anos 60 e 80. Ao longo desses 20 anos, ocorre a inflação crônica no país, havendo um componente inercial que passa a ficar cada vez mais presente ao longo desse tempo. A grande problematização colocada é que, com a inflação crônica nos anos 60, havia a indexação formal, principalmente para contratos financeiros. Porém a partir dos anos 80, com a grande alta da inflação, a indexação passa a ser informal também, isto é, todos os preços são indexados, e aumentados de acordo com a inflação passada, e não apenas aqueles preços que anteriormente eram formalmente indexados - Dessa forma, para atender à necessidade do país, estudos e teorias sobre inflação inercial começam a surgir, e que dominam o Brasil entre 1980 e 1994. - Bresser-Pereira, junto a Yoshiaki desenvolvem um modelo que permite entender mecanismos que tornavam a inflação autônoma. - Mesmo com o ajuste fiscal feito no ajuste voluntário, com uma política fiscal restritiva que visava conter a demanda agregada, e efetivamente quase zerou o déficit público, mas que não foi capaz de estabilizar os preços – Novamente, segundo Bresser, e uma inflação indexada, uma inflação autônoma de demanda. - A base da teoria de Bresser está no estruturalismo de Ignácio Rangel, colocando que a solução do problema inflacionário não seria tão custoso no que se refere à redução da demanda. - A teoria de Rangel sobre a inflação dava ênfase na oferta de certos bens, mas levava em conta, principalmente, a inflação como um mecanismo de defesa, que surgia em períodos de recessão através dos setores e agentes com poder de monopólio, e que através do aumento de preços, podiam proteger seu nível de renda. Portanto, há um contraponto com a teoria monetarista, que coloca a inflação em períodos de expansão econômico e aumento da demanda agregada. - Na teoria de Rangel, a inflação tem uma relação inversa com o crescimento econômico. Assim, a inflação nada mais é do que um sintoma da crise, e já que a oferta monetária é considerada como endógena pelo autor, então é o aumento da inflação que causa o aumento da oferta de moedas. - De acordo com Bresser (...), “A curto prazo, o excesso de demanda pode provocar inflação, mas, em um prazo mais longo, o que eleva a taxa inflacionária é a incapacidade da economia de resolver adequadamente suas próprias contradições, resultando daí a relação inversa”. - Bresser traz o acontecimento da estagflação nos países centrais na década de 70 (período do choque do petróleo), isto é, taxa de inflação crescente em meio à recessão. - Bresser deixa bem claro o ponto fraco da teoria de Rangel, que é não conseguir explicar o fato da inflação se estabilizar por um período em patamares elevados, isto é, eventuais estrangulamentos de oferta levavam ao aumento da inflação, mas a inflação não voltava a cair se não houvesse excesso de demanda. - Resumindo, a teoria de Rangel explica a aceleração e desaceleração da inflação (teoria da inflação administrada), mas não explica a manutenção da mesma em certos patamares (inercial). - Para Bresser, ocorria o seguinte problema: a inflação se mantinha em elevados patamares porque não ocorria apenas a indexação formal dos preços, mas também a informal, fazendo com que as empresas não aumentassem o preço de seus produtos de forma simultânea, mas sim defasada, de acordo com o comportamento dos preços relativos, e isso ocorria independentemente da demanda. Com esse ajuste, podiam manter sua margem de lucro no nível desejado, e consequentemente equilibrando os preços relativos. - A busca pela margem de lucro, a partir de alterações defasadas de preços, não leva ao aumento da inflação, mas sim na manutenção da inflação em um certo patamar. - O modelo completo da inflação inercial leva em conta os fatores aceleradores, mantenedores e sancionadores. - Bresser e Yoshiaki recebem grande influência das teorias estruturalistas, e consideram um fator positivo não ter como base a teoria de Keynes, ou mesmo dos monetaristas, o que permitiu o desenvolvimento da teoria. - O objetivo principal da teoria é mostrar o porquê da inflação se manter em elevados patamares mesmo sem um excesso de demanda. - É clara a distinção: 1. Os monetaristas consideram a inflação como consequência do aumento da quantidade de moeda acima do nível do aumento de renda 2. Os estruturalistas relacionam a inflação com o estrangulamento de oferta e aos aumentos setoriais de preços Porém, até então, as teorias buscavam explicar apenas fatores que aceleravam e desaceleravam a inflação. - Dessa forma, uma vez que a inflação no Brasil se elevava para altos patamares e depois se mantinha em tal nível, buscar os fatores que aceleravam/desaceleravam não traria efetivamente resultados, por isso a importância de buscar os fatores mantenedores. - De acordo com Bresser (...), “A manutenção do patamar de inflação decorre do fato de que os agentes econômicos, em seu esforço para manter sua participação na renda, indexam informalmente seus preços, aumentando-os defasadamente” - Tal aumento de preço ocorre de forma defasada, pois de forma simultânea só ocorre em casos de hiperinflação. Assim, repetem a inflação passada no presente. - Ainda, para Bresser (...) “A inflação inercial torna-se, assim, o resultado do conflito entre empresas, capitalistas, burocratas e trabalhadores para manter sua participação na renda”. Em um caso de busca por aumento da participação, pode ser um fator acelerador da inflação, mas para inflação inercial, é um comportamento apenas defensivo, através da indexação informal, aumento defasado dos preços, e consequentemente equilíbrio dos preços relativos. - Como na economia do país já havia anteriormente a indexação formal dos preços, a inflação inercial é facilitada. Assim, uma economia oligopolizada é um fator que ajuda, devido à políticas de mark-ups de tais empresas, porém, o fator principal destacado pelo autor é a indexação informal, isto é, uma economia em que os agentes já estão acostumados com a inflação alta, e os ofertantes aumentam seus preços baseados em experiências passadas e comportamento dos concorrentes, mesmo que a demanda não esteja aquecida. - Em um caso de inflação inercial, os agentes já tem a expectativa de que os preços vão continuar a subir, baseado na inflação do passado, mesmo em uma situação de recessão, sendo que tal prática é essencialmente para manter o nível de renda. - Portanto, esse comportamento dos agentes é o fator mantenedor. - Como fatores sancionadores, os autores consideram a moeda e o déficit público, considerando que a inflação inercial é um incentivo ao déficit público (financiamento inflacionário de despesas públicas). - Como se tratava de um novo tipo de inflação, Bresser considera que políticas convencionais de combate à inflação não seriam suficientes, isto é, não bastava apenas restringir a demanda se a economia estava em recessão e a inflação, ainda assim, era alta. E como a oferta de moeda se considerava como endógena, não adiantava controlar a oferta de moeda. - Para um caso de hiperinflação, em que os preços sobem constantemente, rapidamente, e simultaneamente, além do fato dos preços poderem ser indexados à uma moeda forte (como o dólar). Para o caso da hiperinflação, a solução pode ser a âncora nominal, geralmente baseada na taxa de câmbio, portanto, a âncora cambial, sendo necessário que o governo tenha reservas internacionais para dar suporte. Porém, é importante ressaltar que além da âncora cambial, é necessária a realização de um ajuste fiscal, já que em uma economia com hiperinflação é resultado também de uma crise fiscal. - Para Bresser, no início dos anos 80, o Brasil se encontrava em uma situação intermediária entre hiperinflação, e inflação normal, isto é, a inflação inercial. Para a inflação inercial, os autores identificam que há uma necessidade de administra-la, através do controle de preços relativos, ou seja, um sistema de precificação gradual (baseado em guidelines e em uma futura inflação decrescente), ou um congelamento rápido de todos os preços e salários, assim como o estabelecimento de uma tabela de correção dos contratos de compra e venda (Bresser chama de choque heterodoxo). - Deve-se ressaltar que controlar a inflação a partir de políticas fiscal e monetária só é possível quando a inflação depende da demanda, e na inflação inercial, ela é autônoma à demanda. - Bresser conclui que para o controle de inflação, o estabelecimento de guidelines só é possível em baixas taxas de inflação, e não no caso brasileiro, pois de acordo com as guias, se um empresário as seguir, e outros não, esse pode incorrer em grande prejuízo, o que em um cenário de baixa inflação não aconteceria. - Para Bresser, na inflação inercial, os agentes não seguem suas expectativas racionais, ou seja, não aumentam os preços pois acreditam que os outros também vão aumentar, mas sim, de acordo com a visão estruturalista, aumentam para recompor, de forma permanente, o equilíbrio dos preços relativos. Ainda, os agentes seguem as expectativas reais em uma situação de inflação informalmente indexada, ou seja, a partir de um fato concreto anterior (aumento de preço passado) se dá origem à expectativa real, em que os preços sobem de forma defasada, com o único objetivo de manter sua parcela de renda. - O foco principal de Bresser é no pilar distributivo para solucionar a inflação inercial. - Bresser dá como exemplo o Plano Cruzado, que foi capaz de neutralizar a inflação inercial, porém como a moeda foi valorizada, e não houve ajuste fiscal devido ao populismo, o plano acaba fracassando.