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Simpósio de Estudos Oitocentistas e

XXI Seminário de Estudos Literários


19 e 20 de outubro de 2020

Figurações do romance e da
narrativa breve e lendária no
século XIX

Caderno de Resumos

Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho”


Câmpus de São José do Rio Preto
Instituto de Biociências, Letras e Ciências Exatas
Programa de Pós-Graduação em Letras

São José do Rio Preto


UNESP/IBILCE
2020
Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)

Simpósio de Estudos Oitocentistas (2020 : São José do Rio Preto, SP)


Caderno de resumos [do] Simpósio de Estudos Oitocentistas ; XXI Seminário de
Estudos Literários [recurso eletrônico] : São José do Rio Preto-SP, 19 e 20 de outubro de
2020 / [Organização de Manoela Caroline Navas, Pedro Henrique Pereira Graziano]. – São
José do Rio Preto : UNESP/IBILCE, 2020
88 p.

Temática do evento: Figurações do romance e da narrativa breve e lendária no


século XIX
E-book
Requisito do sistema: Software leitor de pdf
Modo de acesso: <https://www.ibilce.unesp.br/#!/pos-graduacao/programas-
de-pos-graduacao/letras/congresso-2020/resumos/>
ISBN 978-65-990334-4-5

1. Literatura - História e crítica - Teoria, etc. 2. Análise do discurso literário.


I. Seminário de Estudos Literários (21. : 2020 : São José do Rio Preto, SP) II. Navas,
Manoela Caroline. III. Graziano, Pedro Henrique Pereira. IV. Universidade Estadual Paulista
(Unesp), Instituto de Biociências, Letras e Ciências Exatas, São José do Rio Preto.
IV. Título. V. Figurações do romance e da narrativa breve e lendária no século XIX.
CDU – 8.015

Ficha catalográfica elaborada pela Biblioteca do IBILCE


UNESP - Câmpus de São José do Rio Preto
Bibliotecária: Luciane A. Passoni
CRB-8 7302

Reitor
Sandro Roberto Valentini
Vice-reitor
Sergio Roberto Nobre
Pró-Reitora de Graduação
Profa. Dra. Gladis Massini-Cagliari
Pró-Reitora de Pós-Graduação
Profa. Dra. Telma Teresinha Berchielli
Pró-Reitora de Pesquisa
Prof. Dr. Carlos Frederico de Oliveira Graeff
Pró-Reitora de Extensão Universitária e Cultura
Profa. Dra. Cleopatra da Silva Planeta
Pró-Reitor de Planejamento Estratégico e Gestão
Prof. Dr. Leonardo Theodoro Büll

Diretor
Prof. Dr. Julio Cesar Torres
Vice-Diretor
Prof. Dr. Fernando Barbosa Noll

Chefe e Vice-Chefe do Departamento de Letras Modernas


Profa. Dra. Sandra Denise Gasparini Bastos
Profa. Dra. Suzi Marques Spatti Cavalari

Chefe e Vice-Chefe do Departamento de Estudos Linguísticos e Literários


Profa. Dra. Marize Mattos Dall’Aglio Hattnher
Prof. Dr. Sebastião Carlos Leite Gonçalves
Programa de Pós-Graduação em Letras
Coordenador
Prof. Dr. Pablo Simpson
Vice-coordenador
Prof. Dr. Cláudio Aquati

Comissão organizadora do evento


Corpo docente
Profa. Dra. Rafaela Sanches (pós-doc UNESP/IBILCE)
Prof. Dr. Pablo Simpson (UNESP/IBILCE)
Corpo discente
Adriana Aparecida de Jesus Reis
Dibo Mussi Neto
Érika Shigaki Lisbôa Aidar
Jean Carlos Carniel
Lilian Tigre Lima
Lucas de Castro Marques
Manoela Caroline Navas
Natália Fernanda da Silva Trigo
Pedro Henrique Pereira Graziano

Comissão científica do evento


Prof. Dr. Afonso Henrique Favero (UFS)
Prof. Dr. Daniel Largo Monteiro (pós-doc UNICAMP)
Prof. Dr. Daniel Puglia (USP)
Prof. Dr. Emerson da Cruz Inácio (USP)
Prof. Dr. Fabiano Rodrigo da Silva Santos (UNESP/FCL)
Prof. Dr. Fábio Lucas Pierini (UEM)
Profa. Dra. Fani Miranda Tabak (UFTM)
Prof. Dr. Jefferson Cano (UNICAMP)
Prof. Dr. Jorge Vicente Valentim (UFSCar)
Profa. Dra. Karin Volobuef (UNESP/FCLAr)
Profa. Dra. Giséle Manganelli Fernandes (UNESP/IBILCE)
Prof. Dr. Márcio Scheel (UNESP/IBILCE)
Profa. Dra. Maria Cláudia Rodrigues Alves (UNESP/IBILCE)
Prof. Dr. Nelson Luís Ramos (UNESP/IBILCE)
Profa. Dra. Norma Wimmer (UNESP/IBILCE)
Prof. Dr. Pablo Simpson (UNESP/IBILCE)
Profa. Dra. Rafaela Mendes Mano Sanches (pós-doc UNESP/IBILCE)

Organização do caderno de resumos


Manoela Caroline Navas
Pedro Henrique Pereira Graziano
APRESENTAÇÃO

No decurso do século XIX, os gêneros em prosa foram cultivados como espaço


privilegiado para o experimentalismo estético, o que conferiu uma posição cimeira às
narrativas ficcionais no plano da invenção de novos paradigmas literários, estabelecidos,
dentre outros fatores, sob a égide da flexibilização e hibridação de gêneros. As
inovações no âmbito do discurso prosístico dinamizaram as fronteiras entre os gêneros
literários, redimensionaram os limites do decoro em relação à matéria literária e
resultaram no incremento de formas narrativas caras à vida literária dos oitocentos:
tanto os gêneros breves (a crônica, o conto e a narrativa lendária) quanto o romance se
tornaram, no século XIX, objeto de intenso debate e plataforma de experimentalismo
estético.
Com efeito, já nos programas estéticos e avaliações críticas de autoria de
letrados e ficcionistas do século XIX, constata-se que a trajetória de constituição e as
transformações do romance suscitavam discussões em torno da investigação de sua
forma estética e de sua conexão com as demandas do presente. Multiforme, o romance
mistura estilos e ingredientes da tradição clássica, conjugando a dicção lírica à prosaica,
articulando o cômico ao trágico, o grotesco ao sublime, o popular ao erudito e, ao fim, a
história ao processo inventivo, em confronto com questões que rondam a sociedade. A
dinâmica da forma romance enfeixa um vasto espectro, dialogando com os mais
diversos âmbitos: o gênero dedicou-se aos ideais da identidade nacional, projetados em
narrativas de fundação e tomou o apelo ao popular e ao regional como forma de plasmar
as especificidades de culturas locais; registrou a experiência urbana em relatos do
cotidiano, e chegou ao âmbito mais profundo da sondagem subjetiva. Tais propósitos e
relações com a sociedade exigiram um desenvolvimento estético que conferisse
autenticidade à matéria tratada; assim, a forma flexível do romance incorporou influxos
oriundos de distintos gêneros e experiências culturais: não é raro encontrar, por
exemplo, nos romances históricos a dicção solene da poesia épica, e nos regionalistas a
tentativa de reproduzir a ingenuidade dos relatos orais. Frequentemente, a matéria
trágica misturava-se à comicidade trivial e a crônica mundana aos romances urbanos;
com grande regularidade também se notava a eclosão do mais autêntico lirismo nos
romances de acentuada densidade psicológica. Dessa maneira, a busca por uma íntima e
franca sintonia do romance com a história e com a vida social pareciam oferecer
combustível às experiências com a forma, o tom e a matéria.
Enquanto o romance se erigiu como forma, por excelência, ligada ao cotidiano e
à mimesis realista, a narrativa curta, cujos gêneros também sofreram franco
desenvolvimento no século XIX, permitiu a integração de orientações realistas a
elementos maravilhosos e fantásticos, dando largo espaço para expressão da imaginação
artística. Em particular, as narrativas lendárias incorporaram conscientemente uma série
de motivos radicados no imaginário coletivo, de modo a tornar a ficção uma plataforma
privilegiada para se investigar a cultura popular, esta que, por seu turno, figura como
um fenômeno de grande interesse para o pensamento oitocentista. Daí a ampla

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circulação, no ambiente oitocentista, de lendas, muitas delas baseadas em eventos
históricos que ao sabor da transmissão se integraram intimamente à imaginativa
popular. Possivelmente, ao descortinarem o lastro histórico das curiosas narrativas
difundidas pela voz popular, as lendas foram valorizadas pelos pensadores do XIX
como depositárias das tradições do povo e manifestação de práticas e costumes que
traduzissem a identidade nacional.
A despeito de terem oferecido espaço oportuno às solicitações do imaginário, as
narrativas breves não se eximiram do compromisso com a realidade circundante, tendo
se aproximado também da experiência comum. Nas formas da crônica e do conto, essas
narrativas emolduram aspectos da vida cotidiana. O conto, por sua vez, oferece-se como
gênero particularmente flexível em relação ao modo de enfocar a experiência humana,
comportando desde o registro anedótico do fato curioso, até a exposição da psicologia
profunda que envolve as motivações e gestos corriqueiros.
Considerando, pois, a relevância conferida pelo ambiente letrado do século XIX
à ficcão em prosa, espaço que se coloca como peça fundamental nos debates acerca das
relações entre criação literária e investigação da história e sociedade, o simpósio
proposto visa promover discussão dos diversos desdobramentos do romance e da
narrativa breve.

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PROGRAMAÇÃO GERAL

19 de outubro de 2020 – segunda-feira

10h-11h: Aula magna:


“Como fala o PISA: questões linguìsticas e literárias sobre um discurso
problemático” – Prof. Dr. Bertrand Daunay (Universidade de Lille, França)

14h-17h: Mesas de debates de trabalhos / Sessões de comunicações

19h-21h: Mesa-redonda:
“As promessas do realismo e os caminhos da ficção no Brasil do século
XIX” – Prof. Dr. Jefferson Cano (UNICAMP)
“Literatura e magia: E.T.A. Hoffmann e outros românticos sem reflexo no
espelho” – Profa. Dra. Karin Volobuef (UNESP)

20 de outubro de 2020 – terça-feira

09h-12h: Sessões de comunicações

14h-17h: Mesas de debates de trabalhos / Sessões de comunicações /


Sessão de painéis

19h-21h: Mesa-redonda:
“A poética da lenda em Alfarrábios, de José de Alencar: representações do
elemento popular e do maravilhoso no imaginário romântico sobre o
passado colonial” – Profa. Dra. Rafaela Sanches (UNESP)
“A forma livre de um Lamb: Charles Lamb nas Memórias Póstumas de
Brás Cubas” – Prof. Dr. Daniel Lago Monteiro (UNICAMP)
“Da epopeia ao romance, do mundo da comunidade ao homem socialmente
desenraizado” – Prof. Dr. Márcio Scheel (UNESP)

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Nota explicativa

Devido às circunstâncias de distanciamento social, tomadas como medidas preventivas


contra a disseminação da Covid-19, o Simpósio de Estudos Oitocentistas e XXI
Seminário de Estudos Literários tiveram suas respectivas atividades desenvolvidas em
formato virtual. A programação dos eventos contou com mesas-redondas transmitidas
via Youtube. As Mesas de debates de trabalhos de discentes do Programa de Pós-
Graduação em Letras e as Sessões de Comunicações e Painéis foram promovidas na
plataforma Google Meet.

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COMUNICAÇÕES
(Em ordem alfabética por sobrenome do autor)

AS ILUSTRAÇÕES DE FRANCIS D. BEDFORD EM PETER PAN (1911), DE


JAMES M. BARRIE

Érika Shigaki Lisbôa Aidar


UNESP/Ibilce
erika_shigaki1@hotmail.com

Esta comunicação tem como objetivo apresentar um estudo sobre as relações entre texto
e imagem na obra Peter Pan, do escritor escocês James Matthews Barrie (1860-1937).
A história foi apresentada primeiramente como peça teatral de título Peter Pan, or The
Boy Who Wouldn’t Grow Up, em 1904, e publicada em prosa sob o título Peter and
Wendy, em 1911. A narrativa de Berrie é ambientada em dois mundos: o real,
representado pelo sobrado de Mr. & Mrs. Darling, localizado nas proximidades de
Kensington Gardens, em Londres; e o fantástico, representado por Neverland, a Terra
do Nunca, cenário repleto de aventuras e de personagens fantásticos. Na primeira
edição, publicada em 1911, as ilustrações foram feitas pelo britânico Francis Donkin
Bedford (1864-1954), também artista de algumas obras de Charles Dickens, tais como A
Christmas Carol (1923) e The Cricket on the Hearth (1927). Na obra do estudo em
questão, foram inseridas quatorze ilustrações de Bedford, que retratou algumas cenas
marcantes de Peter Pan, como sua chegada a Londres, a viagem das crianças rumo a um
lugar desconhecido, suas aventuras em Neverland e o duelo entre ele e Hook. As
representações visuais realizadas por Bedford, todas em preto e branco, delineadas por
traços finos, compõem a ambientação das cenas e caracterização das personagens,
conferindo um tom de dramaticidade à obra. Tendo em vista a importância da
concatenação da linguagem verbal e da linguagem visual na composição das narrativas,
principalmente, em obras juvenis, como é o caso de Peter Pan, serão abordados os
pressupostos teóricos da Teoria da Imagem, a partir dos estudos de Nodelman (1988) e
Nikolajeva & Scott (2011), que consideram as relações intersemióticas entre texto e
imagem como constituintes elementares para o compreensão expansiva por parte dos
pequenos leitores.

Palavras-chave: Francis Donkin Bedford. James Matthews Barrie. Peter Pan. Texto e
imagem.

FEMINISMO E QUESTÕES DE GÊNERO NA NARRATIVA GRÁFICA DE


NEIL GAIMAN

Marco Aurelio Barsanelli de Almeida


UNESP/Ibilce
marcoaurelio_maba@hotmail.com

A mulher, como personagem literária, esteve por muitos anos, observando-se poucas
exceções, atrelada à ideia de sensibilidade, doçura e fraqueza; qualidades atribuídas ao
feminino e à subserviência frente à imagem masculina. Aos poucos, autoras começam a

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mostrar a força da mulher, principalmente a partir dos movimentos feministas iniciados
no século XIX. O empoderamento de personagens não fica restrito a autoras, tendo cada
vez mais a participação de autores homens representado a mulher enquanto senhora de
si e detentora de uma poderosa voz de comando frente à sociedade e, em especial, à
figura masculina. É o que encontramos em muitas das obras do escritor e roteirista
britânico Neil Gaiman. Em suas narrativas gráficas, Gaiman explora personagens
femininas com vozes poderosas frente a sociedade patriarcal e que, geralmente,
sobressaem frente ao ser masculino. Suas personagens femininas deixam-se dominar
quando lhes convém, mas mantêm a certeza, mesmo que inconscientemente, de que sua
submissão é escolha própria, nunca um imposição da entidade masculina. A partir
dessas considerações, e por meio da análise das personagens femininas da narrativa
gráfica The Doll's House (1991), gostaríamos de direcionar um olhar mais atento ao
modo como a feminilidade e a masculinidade são expressas no universo criado por
Gaiman. Dessa forma, à luz de algumas ideias de Butler (1990) e de Kolontai (2000),
acerca do papel que a mulher exerce na sociedade e de como esse papel lhe é atribuído e
cobrado; e de Spivak (2010) sobre as relações de poder entre o dominador e o
dominado; temos por objetivo analisar o modo como o feminino interage com o
masculino na obra de Gaiman, bem como a forma como o feminino é sublinhado
enquanto elemento dominador dessa relação.

Palavras-chave: Feminino. Masculino. Neil Gaiman. Romance. Quadrinhos.

DO ÍNTIMO AO SOCIAL EM “O REMORSO DA VISCONDESSA”, DE JÚLIA


LOPES DE ALMEIDA

Maria Cláudia Rodrigues Alves


UNESP/Ibilce
rodrigues.alves@unesp.br

Marcus Vinicius Camargo e Souza


UNESP/Ibilce
profmarcuss@gmail.com

Em 20 de julho de 1897, um grupo de ilustres escritores fundava a Academia Brasileira


de Letras, no Rio de Janeiro. Embora muitas escritoras fossem atuantes na época, foi
somente em 1977 que Raquel de Queiroz tornou-se a primeira mulher entre os
“imortais”. Mas ao final do século XIX, uma intelectual do círculo dos escritores se
destacava: Júlia Lopes de Almeida. O nome e a obra dessa notável escritora brasileira,
que ajudou a fundar a Academia Brasileira de Letras, inexplicavelmente, tende a
desaparecer da história da literatura brasileira por décadas para ressurgir recentemente
em alguns estudos e na lista de leitura obrigatória de vestibulares em 2019/2020. Seu
primeiro livro de prosa para adultos, Traços e Iluminuras (1887) é publicado em edição
portuguesa, tornando-se bastante raro no Brasil nos dias atuais. Nos vinte e poucos
contos da coletânea, a autora contempla, pelos temas e personagens, diversas classes
sociais do Brasil, fornecendo-nos um retrato da sociedade brasileira da época. Dentre
esses contos, em “O remorso da viscondessa” podemos vislumbrar embates sociais, de
gênero e de educação. Teria a viscondessa Mathilde feito a escolha certa ao educar sua
filha visando apenas um casamento e os tratos sociais burgueses ou estaria Judith
“irremediavelmente estragada por uma educação defeituosa”? (1887). Com o objetivo

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de debater a questão da educação feminina dentro da sociedade burguesa no século
XIX, embasados nos estudos de Butler (2016), Miskolci (2016), Louro (2014) e Shieh
(2010), pretendemos igualmente resgatar e dar maior visibilidade à originalidade na
obra de Júlia Lopes de Almeida em seu tempo.

Palavras-chave: Educação no século XIX. Júlia Lopes de Almeida. Literatura e


sociedade.

LUTE COMO UMA PRINCESA MODERNA: REVISITANDO ALGUNS


CONTOS DE FADAS CLÁSSICOS

Inessa Rosa de Amorim


UNESP/Ibilce
inessaamorim@gmail.com

A literatura para crianças começou a ser difundida na França, século XVII, graças a
intenção do rei absolutista em promover uma literatura direcionada ao público infantil.
Assim nomes como La Fontaine, Charles Perrault (Contos da mamãe gansa) e Mme.
D’Aulnoy foram responsáveis por obras primorosas de fábulas e contos de fadas
repletas de magia (COELHO, 2010). Em momento posterior, século XIX, os Irmãos
Jacob e Wilhelm Grimm publicaram Contos maravilhosos para o lar e as crianças
possuindo histórias feitas a partir de registros orais, uma forma de conferir valor à
cultura alemã. Os contos de fadas logo conquistaram o imaginário de crianças e
adolescentes, fazendo inúmeros personagens perpassarem gerações, ganhando inúmeras
traduções, releituras, séries, filmes e histórias em quadrinhos. As histórias das
personagens Cinderela, Branca de Neve, Rapunzel, Bela Adormecida, por exemplo, são
reconhecidas nos contos tradicionais e algumas releituras como donzelas indefesas,
delicadas e tão frágeis ao ponto de precisarem não só de serem salvas dos perigos, mas
também se realizarem por meio do casamento com o príncipe ou resolução de conflito
do herói. Essa visão clássica das princesas, nas últimas décadas, ganhou novas
interpretações com o intuito de contestar esses padrões impostos (MARTINS, 2015).
Dessa maneira, o intuito deste trabalho é comparar as versões clássicas dos contos
“Cinderela”, “Bela Adormecida” e “Rapunzel” escritos pelos Irmãos Grimm e as
versões homônimas presentes no livro Lute como uma princesa, da autora Vita Murrow,
publicado em 2019. Os elementos analisados serão a estrutura dos contos clássicos e
modernos e principalmente as mudanças sofridas pelas personagens femininas como
reflexo de uma sociedade moderna que anseia pela continuidade de transformação e
quebra de estereótipos. Dessa forma, serão utilizados os autores Diana e Mário Corso
(2006), Propp (2002), Martins (2015) e Estés (2018).

Palavras-chave: Bela adormecida. Cinderela. Contos de fadas clássicos. Rapunzel.


Revisionismo.

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TRADUÇÃO LITERÁRIA NO SÉCULO XIX: UMA ANÁLISE DO CORVO
MACHADIANO

Anderson de Souza Andrade


UNESP/FCL
ander2790@yahoo.com.br

Neste trabalho pretendemos analisar a tradução feita de “The Raven”, de Edgar Allan
Poe, realizada por Machado de Assis. Tal análise abarcará todo um posicionamento do
ato de tradutor realizado na obra, alinhando assim, o papel do mesmo com a criação de
uma identidade nacional, e, principalmente mostrando como o conceito de “adaptação”
pode ser encontrado durante a leitura do poema em Língua Portuguesa. Como
referencial teórico serão utilizados conceitos sobre tradução e adaptação, além de
trechos retirados do poema original para o confronto com a Língua Portuguesa.
Machado de Assis foi fortemente influenciado pela escrita de Poe, como é possível ao
observar em diversos contos com características da literatura fantástica e de mistério. O
que cabe, aqui, é observar a forma pela qual o poema do Poe foi transposto para a língua
materna de Machado, já que será perceptível verificar como carregada pelo olhar atento
do contista brasileiro e permeado de um tom de intensidade que, em alguns momentos,
foge a proposta de Poe, colocando o poema perante a conceitos da adaptação, a qual
está fortemente ligada ao ato da tradução, embora não possamos dizer que são ações
sinônimas. O autor brasileiro que fazemos referência foi fortemente ligado a literaturas
estrangeiras, porém, quando nos é posto seu papel como tradutor, Machado de Assis
estabelecerá uma ligação fortemente marcada pelo nacionalismo brasileiro, ou seja, em
muitas de suas obras, estão a presença de fatos culturais característicos pertencentes ao
Brasil, os quais servirão de modelo para o entendimento da obra traduzida.

Palavras-chave: Edgar Allan Poe. Machado de Assis. Tradução.

TUTTI I NOSTRI IERI, DE NATALIA GINZBURG: ONTEM, HOJE, SEMPRE

Cátia Inês Negrão Berlini de Andrade


UNESP/FCL
catia.berlini-andrade@unesp.br

Natalia Ginzburg (1916-1991), uma das mais representativas escritoras italianas, é


conhecida, principalmente, pelo seu estilo ímpar e inconfundível, por sua prosa clara e
enxuta, não raras vezes, marcada pela inquietude e silêncio, ironia e humor. A escritora
construiu, a partir das memórias, toda sua matéria narrativa, é possível perceber que
essas lembranças são, às vezes, a mola propulsora para falar de si e de seus entes
queridos por meio de seus personagens, e outras vezes, mais raras, para desvelar
abertamente suas próprias experiências e vivências. Tutti i nostri ieri (1952), como boa
parte de sua obra, abarca as memórias e os fatos históricos dos anos imediatamente
anteriores à Segunda Guerra até algum tempo após o término do conflito bélico. Esse
romance, a exemplo de outras narrativas ginzburguianas, também se desenvolve a partir
do cotidiano de membros de duas famílias, de seus problemas, de seus silêncios e
afetos, da inquietude e angústia que pairam sobre esses personagens em um momento
tão crítico e grave da história da Humanidade. Desse modo, pretende-se, neste trabalho,
apresentar uma leitura de Tutti i nostri ieri levando em conta suas principais

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características. Além disso, destacar a importância de narrativas de resistência como
Tutti i nostri ieri, ontem, hoje e sempre.

Palavras-chave: Literatura italiana contemporânea. Memórias. Natalia Ginzburg.


Resistência.

PRESENÇA DAS ESTÉTICAS FINISSECULARES NA OBRA DE JUVENTUDE


DE JAMES JOYCE: STEPHEN HERÓI E UM RETRATO DO ARTISTA
QUANDO JOVEM

Rangel Gomes de Andrade


UNESP/FCLAr
r4n6e@terra.com.br

A obra de juventude do escritor irlandês James Joyce compreende sua produção literária
anterior a Ulysses, publicado em 1922. Dentre essa produção, destacam-se o romance de
teor autobiográfico Um retrato do artista quando jovem bem como sua versão
embrionária Stephen herói, publicados respectivamente em 1916 e 1944 (edição
póstuma), nos quais é narrado o período de formação de Stephen Dedalus da infância
até o início da maturidade. A descoberta da arte herética e do desejo sexual culminam
na apostasia religiosa do jovem artista, evidenciando a íntima ligação que se estabelece
no romance entre experiência estética e erótica. Tais experiências levam Stephen a
identificar-se com a figura de Lúcifer na revolta e insubordinação contra a moral
religiosa e na busca de liberdade para se expressar artisticamente. A presença desses
elementos permite aproximar a obra de juventude de Joyce com preceitos das estéticas
finisseculares de extração simbolista-decadentista. Objetivamos, portanto, demonstrar as
confluências entre Um retrato do artista quando jovem/Stephen herói e as estéticas do
fim de século, tanto em razão dos recursos formais mobilizados pelo romancista – a
exemplo da linguagem voluptuosa, vitalista e sinestésica –, quanto dos motivos
artísticos fundados na artificialidade, no erotismo e na subversão moral, incluindo ainda
a teoria estética elaborada por Stephen – principalmente em Stephen herói – em torno
do conceito joyceano de epifania.

Palavras-chave: Decadentismo. Estética finissecular. James Joyce. Obra de juventude.


Simbolismo.

CRIMES E CRIMINOSOS NO ESTADO NOVO: UMA REFLEXÃO A PARTIR


DE MEMÓRIAS DO CÁRCERE

Bruno Henrique Castelo Branco Arena


UNESP/Ibilce
bruno.arena.usp@gmail.com

O projeto de tìtulo “Crimes e criminosos no Estado Novo: uma reflexão a partir de


Memórias do Cárcere” pretende analisar as contribuições da literatura brasileira ao
pensamento criminológico nacional a partir do testemunho qualificado do intelectual
Graciliano Ramos. Fundamentando esse direcionamento, constatou-se até agora que há
pouca coisa produzida na interlocução direito e literatura brasileira, diferentemente do

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que se tem produzido entre direito e literatura universal, em que vêm imediatamente à
mente obras como O Processo, de Franz Kafka, Crime e Castigo, de Dostoiévski ou
mesmo O Estrangeiro, de Albert Camus. A questão nessas obras são sempre crimes e
criminosos, então consideramos que a expressão mais genuína da intersecção entre
direito e literatura está nas ciências criminais. Como argumento de autoridade para esta
abordagem tomamos o Prof. Roberto Lyra, que pontuou no livro Direito Penal
científico, que Euclides da Cunha, com Os Sertões, foi quem realmente fundou no país a
sociologia criminal. A base metodológica se dará a partir de Sidney Chalhoub (A
História contada), pelo qual pretendemos justificar como memórias e testemunhos,
mesclados com ficção, podem servir para uma construção da história social. Em
capítulo próprio, também pretendemos buscar um esteio na literatura universal de Franz
Kafka, analisando as repercussões kafkianas de cárcere e de escrita a partir das obras O
Artista da Fome e Na Colônia Penal: pela primeira, a própria escrita de Graciliano
como corpo esquálido na e após a prisão, pela segunda, o estigma da sentença penal no
criminoso. Por fim, buscaremos como que a experiência carcerária de Graciliano no
contexto histórico do Estado Novo brasileiro e da ascensão dos fascismos no mundo,
fundado em um nacionalismo exacerbado e na eliminação de opositores políticos,
poderia ser atualizada para nos servir ao contexto brasileiro contemporâneo de escalada
de discursos punitivistas e autoritários.

Palavras-chave: Criminologia brasileira. História social. Memórias do Cárcere.

É EXCELENTE LEITURA, MAS PARA MOMENTOS DE LAZER: A LEITURA


DE ROMANCES DE WALTER SCOTT PELO IMPERADOR PEDRO II

Larissa de Assumpção
UNICAMP
larissadeassumpcao@gmail.com

O objetivo deste trabalho é analisar as anotações e opiniões sobre romances de Walter


Scott presentes em cartas escritas pelo imperador Pedro II. Por meio dessa análise,
busca-se colaborar para os estudos sobre a História do Livro e da Leitura (DARNTON,
1990; CHARTIER, 2001) e sobre a circulação e recepção de romances no século XIX
(ABREU, 2003; ABREU, 2016), utilizando os testemunhos de leitura do imperador
para compreender como os romances de Scott foram lidos e compreendidos por esse
membro da aristocracia do período. Como corpus, serão utilizadas as missivas enviadas
pelo Imperador à princesa Isabel e ao conde de Gobineau entre os anos de 1860 e 1880
e que hoje fazem parte do Arquivo Grão-Pará do Museu Imperial de Petrópolis. As
práticas de leitura retratadas nessas cartas serão apresentadas e analisadas por meio do
exame de três aspectos principais: de que maneira a obra de Walter Scott era vista pelo
imperador, qual papel esses livros ocupavam no seu cotidiano e quais critérios foram
utilizados por Pedro II para avaliar os romances de Scott e indicar sua leitura à filha e ao
amigo. Ao final do trabalho, conclui-se que a leitura de livros de Walter Scott era
bastante valorizada pelo imperador e, segundo ele, era uma ótima ocupação para os
momentos de descanso e lazer. Além disso, em suas cartas para o conde e para a
princesa, ele indica a leitura de diferentes obras do escritor, como Ivanhoé e Waverley,
com base em critérios que também eram utilizados pela crítica especializada do período,
como a qualidade das descrições, a verossimilhança, a construção das personagens e a
capacidade dos romances de entreter e instruir os leitores.

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Palavras-chave: Família Imperial Brasileira. Leitura. Romance. Século XIX. Walter
Scott.

SHERLOCK HOLMES E O ENCANTO RACIONAL

Luiza Herrera Braga


UNICAMP
luizaherrera93@gmail.com

Conan Doyle teve seu nome reconhecido após a publicação de Um estudo em vermelho
(1887), evento impulsionado pela recorrente contribuição na revista mensal The Strand
Magazine. Desde então as histórias, assim como seu personagem principal, Sherlock
Holmes, têm causado imenso interesse sobre o gênero policial e aspectos que o fazem
cair no gosto de um grande número de leitores. Para Franco Moretti (2000), a
racionalidade ocupa função importante na narrativa policial. Sendo inserida na estrutura
narrativa por meio do elemento formal das pistas, esta permite estudo sobre o gênero
além do aspecto formal, visto ser responsável pela criação de uma ligação entre leitor e
obra. De acordo com Saler (2003), o período passava por uma valorização da razão, e o
gênero, estando de acordo com as tendências da época, institui o detetive como símbolo
desse ideal. A partir do vínculo entre ideais e demandas populares, as narrativas
correspondiam literariamente as demandas da época, permitindo o que o autor chama de
“re-encantamento da modernidade”, posto apresentarem desfecho surpreendente
segundo método lógico. Para o autor, Sherlock Holmes se revela como a representação
dos valores modernos, exemplificando um complexo de ideias que interage com a
insatisfação e esperanças dos adultos, refletindo a sociedade simultaneamente em que
incita a imaginação infantil. Com base nisso, propõe-se a análise da produção da
primeira fase da personagem no periódico londrino, compreendida entre 1891 e 1893,
atentando para o desenvolvimento da racionalidade dentro das narrativas como objetivo
central, posto que também fundamenta as teorias da casa vazia e a ciência da dedução,
além da representação dos demais valores modernos, identificados por Saler (a saber,
urbanismo, consumismo e secularismo), pela personagem. A apresentação dos métodos
do detetive ao público permite ao público aplicá-las ao cotidiano, formando novo
vínculo entre obra e público através de paridade intelectual entre si.

Palavras-chave: Arthur Conan Doyle. Cultura de massas. Strand Magazine.

A DESSACRALIZAÇÃO HUMORÍSTICA DA ODISSEIA EM NESSUNO, DE


LUCIANO DE CRESCENZO

Giácomo Enzo Cinquarole Bellissimo


UNESP/Ibilce
giacomo.enzo@hotmail.com

A proposta de comunicação aqui apresentada aborda a releitura feita pelo autor


napolitano Luciano De Crescenzo em sua obra Nessuno: l’Odissea raccontata ai lettori
d’oggi (1997) da obra homérica A Odisseia. Escrita no final do século XX, a obra
apresenta uma releitura humorística e utiliza de diferentes estratégias relativas ao

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humor, como a sátira e a ironia, em diferentes níveis, fazendo, ao nosso ver, uma
dessacralização do texto-fonte, uma vez sagrado para os povos gregos, racionalizando
em sua interpretação, trazendo-a para o tempo contemporâneo e também apresentando
discussões e abordagens da obra extraídas de estudos feitos por Luciano em sua carreira
como divulgador da mitologia. O objetivo principal da comunicação é apresentar de
maneira expositiva o movimento que sai do maravilhoso mitológico, e sagrado, para o
mundo prosaico e contemporâneo. Para isso, serão relacionado os conceitos de
intertextualidade, encontrados na obra Intertextualidade (2002), de Tiphaine Samoyault,
e de ironia e humorismo, retirados dos estudos de Pirandello, em L’umorismo (1993),
Muecke, em A Ironia e o Irônico (1982), Brait,em Ironia em perspectiva polifônica
(1996) e Paiva, em Contribuição para uma estilística da ironia (1961), que são
utilizados para fazer com que a obra homérica apresente um novo significado através da
narração de De Crescenzo, apresentando não só uma inovação em seu conteúdo,
inserindo um novo final para a obra, mas também uma visão nova sobre o herói Ulisses
em relação ao texto-fonte.

Palavras-chave: Intertextualidade. Ironia humor. Literatura clássica. Literatura italiana.

REPRESENTAÇÕES DA CRISE DO COVID NA CRÔNICA “EM


QUARENTENA”, DE MARIANA IANELLI

Osnir Branco
UEL
osnir_branco@hotmail.com

Este trabalho refere-se ao início de estudos voltados às representações em textos


literários, mais especificamente a crônica, pesquisa vinculada ao Programa de Pós-
Graduação em Letras – Estudos literários (PPGL), da Universidade Estadual de
Londrina (UEL), sob orientação do Prof. Dr. Miguel H. B. Vieira. Temos como objetivo
para este fragmento da pesquisa estabelecer reflexões em torno de um assunto bastante
profícuo de discussão – a crise, com enfoque nas causadas pelo COVID-19, pois esta é
tema central da crônica “Em quarentena” (2020), de Mariana Ianelli para a revista
Rubens e se refere à discussão bastante atual, uma vez que as vivemos no momento
destas reflexões. Tendo em vista que a crise causada pelo vírus impôs medidas de
isolamento (a quarentena)a grande parte da população mundial, uma condição que causa
outros tipos de crises, a exemplo econômica, cultural e emocional, buscamos por meio
das tessituras apresentadas na crônica apresentar e discutir os aspectos trazidos por
Hilário, 2017, p.105 “Sua dupla tarefa é denunciar/descrever os efeitos de barbárie
provocados pela crise ao mesmo tempo em que aponta/narra para a possibilidade de
viver de outra maneira” trazendo à tona o potencial da crìtica analìtica que somente a
Literatura pode proporcionar. Iniciamos este trabalho com a apresentação dos conceitos
de Literatura (CANDIDO, 1998), da(s) crise(s) e pós-modernidade (BAUMANN, 2016)
e seguimos com a análise da crônica e as representações da crise trazidos nela.

Palavras-chave: Crise. Crônica. Literatura

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XAVIER DE CARVALHO: UM AGENTE DAS TRANSFERÊNCIAS
CULTURAIS

Jaqueline de Oliveira Brandão


UNESP/FCL
brandao.joliveira@gmail.com

A imprensa brasileira constitui um terreno fecundo para o estudo das transferências


culturais entre Brasil e França, especialmente no período em que não apenas ela se
encontrava em processo de formação, mas a própria nação estava em vias de
consolidação de sua identidade. Dentre o vasto conjunto de bens propagados através das
transferências culturais desse momento, nos deteremos naqueles que foram veiculados
pela imprensa carioca, mais especificamente através da coluna “Cartas de Paris”, do
jornal O País, escrita pelo correspondente estrangeiro José Xavier de Carvalho Júnior
(1861-1919). Em função disso, o lisboeta Xavier de Carvalho deve ser considerado um
agente das transferências culturais, portanto um mediador cultural, tendo em vista que
desempenhou um papel significativo na divulgação da cultura europeia,
fundamentalmente ao que tange à literatura, sobretudo a francesa, não apenas no Brasil,
como também em seu país de origem, em um momento em que a nossa Semana de Arte
Moderna estava sendo gestada, o que coincide com o advento da vanguarda Futurista.
Dessa forma, Xavier de Carvalho contribuiu para o desenvolvimento cultural de ambas
as nações, que tiveram a oportunidade de se apropriarem desses objetos culturais,
aclimatando-os aos próprios contextos e, por isso, tornando-os legítimos e originais.

Palavras-chave: Mediação. O país. Transferências culturais. Xavier de Carvalho.

A INTERLOCUÇÃO DA LITERATURA DE GABRIEL GARCÍA MÁRQUEZ E


OS MOVIMENTOS TRABALHISTAS NA COLÔMBIA

Camila Marques Bottós


UNESP/Ibilce
camila_bottos@hotmail.com

Esse trabalho tem o objetivo de desenvolver um estudo reflexivo sobre a história dos
movimentos trabalhistas na Colômbia, do século XX, como ensejos fundamentais para a
criação literária de Gabriel García Márquez, no romance Cem Anos de Solidão (1967).
Neste estudo leva-se em consideração as influências externas sobre o texto, ao colocar
no centro da abordagem aspectos do contexto social, do tempo e do lugar em foi
produzida no processo de criação da narrativa. Busca-se referências da manifestação
grevista dos funcionários da Companhia United Fruit Company que possibilitem a
recuperação da memória coletiva e individual de fatos históricos, culturais e pessoais do
autor, de um povo e de um continente dentro da literatura garcimarquiana. Trata-se de
uma pesquisa de cunho bibliográfico e de análise literária, com ênfase no aparato
teórico dos estudos de Antonio Candido, que defende o sentido da crítica dialética
(texto e contexto), no qual analisa os elementos externos como parte integrante da
estrutura de obras literárias. Assim, busca demonstrar a literatura não como um reflexo
puro do real, mas como uma interpretação subjetiva do meio, cujo fim é o de revelar o
conjunto social e construir mecanismos de debate entre a literatura e os movimentos
sociais latino-americanos.

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Palavras-chave: América Latina. Anti-imperialismo. Literatura. Movimentos
trabalhistas.

COISAS QUE SÓ SE DIZEM EM LATIM: A PRESENÇA DE BOILEAU NA


CRÔNICA DE MACHADO DE ASSIS

Daniela Mantarro Callipo


UNESP/FCL
danielacallipo@gmail.com

No século XIX, Literatura e Jornalismo não estabeleciam uma fronteira rígida. Ambas
as práticas se confundiam e, por essa razão, as notícias podiam trazer elementos
ficcionais e os poemas, abordar fatos deveras ocorridos. Nesse período, a crônica era
um gênero estimado do leitor e produzido em grande quantidade por colaboradores que
contavam os acontecimentos ocorridos de forma leve e divertida. Gênero híbrido,
mistura de realidade e ficção, a crônica é rica e despretensiosa, colada ao tempo e
eterna, satírica e poética. Ela parte de um fato real, mas não é notícia; constitui-se por
meio da paródia e da sátira, mas não é conto, nem romance. O jornal do século XIX
acolhe todos esses gêneros democraticamente, criando uma “literalização ambìgua”.
Machado de Assis foi um grande cronista e descreveu episódios vividos pela sociedade
fluminense oitocentista, contando anedotas políticas, criticando comportamentos que
julgava inaceitáveis, sempre com humor e ironia. Pretende-se analisar, nesta
comunicação, a presença do clássico Boileau na crônica machadiana que trata do uso
polêmico de anquinhas. Para se compreender a presença do elemento clássico na
crônica machadiana, recorreu-se aos estudos de Thérenty (2007) e Kalifa (2011), pois
esses teóricos auxiliam no entendimento da porosidade da crônica.

Palavras-chave: Boileau. Crônica de Machado de Assis. Moda feminina. Vênus


Calipígia.

O MOTIVO DO MANDARIM ASSASSINADO EM BALZAC E EÇA DE


QUEIRÓS

Jean Carlos Carniel


UNESP/Ibilce
jc.carniel@hotmail.com

Objetivamos realizar, nesta intervenção, uma leitura comparada entre o romance O pai
Goriot (1835), de Honoré de Balzac, e o conto “O mandarim” (1880), de Eça de
Queirós. As duas narrativas apresentam versões do motivo literário, bastante utilizado
ao longo do século XIX, conhecido como “mandarim assassinado” ou “paradoxo do
mandarim” que, resumidamente, consiste na seguinte alegoria: o homem cometeria um
crime se tivesse a certeza da impunidade? Almejamos comparar como esse tema é
representado nos dois textos, apoiando-nos nas considerações críticas de António
Coimbra Martins (1963-1964), Pedro Luzes (1978), Beatriz Berrini (1992) e Carlo
Ginzburg (2001). Decidimos analisar o romance balzaquiano juntamente com o conto
queirosiano, pois são duas narrativas escritas em períodos distintos do século XIX por

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escritores de nacionalidades diferentes. Intrigados com as convergências e as
divergências entre a trajetória dos personagens Eugène de Rastignac do rormance de
Balzac e Teodoro do conto de Eça de Queirós, acreditamos ser pertinente revisitar essas
duas obras, por intermédio do paradoxo do mandarim, para uma melhor compreensão
das ações desses dois personagens. Apesar dos diferentes tratamentos dados ao motivo
do mandarim assassinado, concluímos que os dois escritores inserem esse tema para
abordar, entre outras coisas, sobre a ambição social de Rastignac e de Teodoro.

Palavras-chave: Balzac. Eça de Queirós. Motivo do mandarim assassinado.

“NÃO VIM NO MUNDO PARA SER PEDRA”: O HERÓI INÚTIL EM


MACUNAÍMA

Keissy Guariento Carvelli


UNESP/FCL
keissycarvelli@gmail.com

O presente trabalho busca realizar uma investigação acerca do caráter “inútil” do herói
Macunaíma, personagem central da rapsódia Macunaíma: o herói sem nenhum caráter
de Mário de Andrade, publicada em 1928 e considerada a prosa basilar do primeiro
modernismo (CAMPOS, 1978). A pesquisa toma como ponto de partida dois pontos
principais, a saber: a formação e a transformação da consciência do herói. Para isso,
serão analisados três momentos decisivos da narrativa:a circunstância de iniciação de
Macunaíma em seu mundo de origem, a circunstância de punição radical representada
pela viagem à cidade de São Paulo – e as consequências em relação à transformação da
consciência do herói que essa viagem proporciona –, e a circunstância do retorno do
herói ao seu mundo de origem, o “fundo do Mato-Virgem”. A perspectiva é a de
apresentar as facetas do herói andradiano que, ao se transformar, também transforma
seu modo de existir afirmando-se como um “herói inútil”. Ao assumir tal “inutilidade”,
Macunaíma reforça não só uma opção individual de um personagem em derrocada, mas
sobretudo assume uma posição indispensável de recusa à reificação de si e do seu
mundo. Com isso, portanto, Macunaíma é capaz de instaurar a dialética da consciência
mítica face à consciência retificada.

Palavras-chave: Anti-herói. Herói nacional. Literatura Brasileira. Macunaíma.


Modernismo.

LETRAMENTO LITERÁRIO ATRAVÉS DO POEMA “BALADA DE AMOR


ATRAVÉS DAS IDADES” DE CARLOS DRUMMOND DE ANDRADE

Poliane Lima Leal de Souza Carlos


UPE
polianellsc@gmail.com

Por muito tempo o ensino de Literatura nas escolas serviu como aparato ou para o
ensino de língua ou para a formação de leitor. Segundo Cosson (2012), o ensino da
escola tem um duplo pressuposto: de um lado se pretende ensinar o cidadão a ler e
escrever, por outro lado se busca formar o indivíduo culturalmente. O interesse em

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promover um ensino de literatura atendendo essencialmente as peculiaridades de um
texto literário tem sido bastante abordado entre autores da área. Por muito tempo houve
a escolarização da literatura de modo a descaracterizá-la, reduzí-la, silenciá-la. O que se
discute não é a escolarização e sim essa descaracterização que não atende à real
necessidade do estudo do texto literário. Com base nesses aspectos, este trabalho
apresenta uma proposta de atividade com o poema “Balada de amor através das idades”
de Carlos Drummond de Andrade, baseada na sequência expandida postulada por
Cosson (2012). O principal objetivo é o de contribuir para o ensino de literatura que
promova a sensibilidade às minúcias e entrelinhas do texto literário, bem como a
construção de um sujeito crítico capaz de experienciar as situações do texto, conhecer
outras formas de enxergar o mundo e inferir posicionamento crítico sobre isso, seja para
concordar ou não com o texto. Assim, o trabalho direcionado com a literatura deve ser o
compromisso de todo o professor de língua portuguesa, pois as dificuldades já
mencionadas precisam ser sanadas ou contribuirmos para a formação de um leitor raso e
um indivíduo sem argumentos.

Palavras-chave: Ensino. Literatura. Sequência Expandida.

DIÁLOGOS ENTRE ISOLAMENTO E PROCESSOS DE


ENLOUQUECIMENTO

Maraiza Almeida Ruiz de Castro


maraizaarcastro@gmail.com

Internações psiquiátricas, prisões e outras práticas de isolamento social são recorrentes


quando a temática da loucura é abordada. Neste estudo, pretendemos tratar da relação
entre esses processos e seu impacto no desenvolvimento de possíveis disfunções
psíquicas de personagens literários. A partir do diálogo entre o enlouquecimento
individual e coletivo em obras da literatura nacional, buscaremos mostrar como o
universo literário é capaz de representar, por meio de diferentes formas de escrita,
desconformidades na realidade histórica e social brasileira. Para tanto, serão utilizados o
conto O alienista (1882), de Machado de Assis, e o romance O louco do Cati (1942),
Dyonélio Machado. Ambas as obras são narradas em terceira pessoa, o que confere uma
espécie de filtro na imagem do louco, feita a partir da visão do personagem protagonista
de cada narrativa. Serão utilizados, como aparato teórico, os estudos do filósofo francês
Michael Foucault, cujos conceitos ajudam a compreender a loucura na intersecção entre
liberdade e sabedoria, considerando, também, o limite entre a loucura e a razão. Nessas
duas narrativas brasileiras, a primeira do final do século XIX e a segunda de meados do
século XX, a loucura representa uma crítica à estrutura social brasileira, em seus
instrumentos de poder e mecanismos de opressão. Essa discussão resulta em
considerações que, guardadas as devidas proporções, também podem ser traçadas tendo
em vista um contexto pandêmico, como o que estamos vivenciando atualmente.

Palavras-chave: Isolamento social. Loucura. O alienista. O louco do Cati.

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A PRESENÇA DOS CONTOS DE MACHADO DE ASSIS NAS FOLHAS
PÚBLICAS BRASILEIRAS

Valdiney Valente Lobato de Castro


UERJ
valdineyvalente@hotmail.com

Nenhum autor teve um vínculo mais íntimo com os jornais do que Machado de Assis:
além de poesias, contos, romances, críticas, peças teatrais e crônicas publicados nas
páginas impressas, o escritor participava de problemas de xadrez, comentava
publicações recém lançadas e escrevia cartas a pedido. A análise da presença do
eminente autor nas folhas públicas revela o quanto, ao longo dos anos, ele foi
dominando a imprensa do país, como destacam os biógrafos Jean Michel Massa (1971)
e Raimundo Magalhães Júnior (1981). Essa consagração dá-se graças à valorosa pena
do escritor e ao contato com os editores, com quem Machado sempre teve excelentes
relações, como Paula Brito, Faustino Xavier de Novaes e Baptiste Louis Garnier, por
isso Bourdieu (1992) ao afirmar que no século XIX o campo literário se solidifica,
assinala que antes da consagração pelos leitores há a entronização pelos seus pares, e o
escritor carioca nasceu no mundo da imprensa. Com esses contatos e graças aos navios
a vapor, que percorriam aceleradamente pelos portos do país, as obras machadianas
eram reproduzidas em jornais de diferentes estados. Assim, o objetivo deste trabalho é
analisar a reprodução dos contos do autor em impressos distantes do eixo Rio-São
Paulo, desde a década de 1860, quando começam as publicações regulares no luxuoso
Jornal das Famílias, até 1908, quando o escritor falece, a fim de elucidar o quanto os
jornais brasileiros reproduziram as narrativas breves machadianas, tornando Machado
de Assis uma das maiores personalidades literárias no Brasil oitocentista.

Palavras-chave: Machado de Assis; jornais; século XIX; contos.

TRANSTEXTUALIDADES EM LE CHEVALIER DOUBLE, DE THEOPHILE


GAUTIER

Cristovam Bruno Gomes Cavalcante


UNESP/FCLAr
cbgc13@hotmail.com

Théophile Gautier (1811 - 1872), antes de se tornar um autor cujos textos preparariam o
Parnasse Contemporaine e fomentariam a ideia de “Arte pela Arte”, foi um dos Jeunes-
France que, ao lado de Victor Hugo, defendeu os pressupostos do movimento romântico
nas primeiras décadas do século XIX. Nesse contexto, além de produzir toda uma série
de estudos acerca de autores antes esquecidos pelo antigo cânone, também escreveu
narrativas fantásticas e destacou artistas plásticos que eram descuidados pela então
estética vigente neoclássica, que se encantava o com o Renascimento Italiano e com o
espírito apolíneo clássico, mas que subestimava a arte de Albrecht Dürer (1471 – 1528)
e a dos pintores rococós, a exemplo de Jean-Antoine Watteau (1684 – 1721). Nesse
sentido, não raro, nas narrativas e nos poemas de Gautier, as obras desses artistas
negligenciados foram evocadas graças a procedimentos de experimentação e de
hibridização, o que foi chamado, sobretudo na segunda metade do século XIX, de
“transposição”. Dado isso, valendo-nos da teoria de Genette (2010) acerca dos

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procedimentos transtextuais, o objetivo deste trabalho é destacar como Gautier remete a
algumas obras de Dürer em seu conto “Le Chevalier double”, publicado em 1840, além
de analisar as possíveis implicações de efeito desses procedimentos.

Palavras-chave: Narrativas fantásticas. Romantismo. Théophile Gautier. Transposição.


Transtextualidade.

“O ROMANCE DE MINHA VIDA”: AS MEMÓRIAS DE CHATEAUBRIAND


ENTRE SUBJETIVIDADE, FICÇÃO E HISTÓRIA

Melissa Raquel Zanetti Franchi Christofoletti


UNICAMP
melissa.rzfranchi@gmail.com

Paralelamente à ascensão do romance, difundiram-se na França, na primeira metade do


século XIX, inúmeras memórias, que faziam da busca por explicação e sentido dos
eventos revolucionários sua principal matéria. A historiografia romântica passou a
questionar a fidelidade dos memorialistas aos acontecimentos, sinalizando sua
propensão à tendenciosidade, à subjetividade e à ficcionalização, relacionadas ao
processo de rememoração. Essas características se intensificaram nas memórias
oitocentistas – muitas delas elaboradas por escritores profissionais –, visto que tratavam
de uma sequência de experiências recentes de grandes proporções, da qual ainda não era
possível se distanciar cronológica e emocionalmente. Além disso, a publicação das
Confissões, de Rousseau, em 1782, exerceu grande influência na consolidação de uma
nova individualidade, tendo inaugurado o formato que ficaria conhecido como a
autobiografia moderna – não por acaso, o início dos 1800 é igualmente marcado por
diversos romances pessoais e autobiográficos (DUFIEF, 2001). O romantismo articulou
o culto do eu e o da história (ZANONE, 2006) e as memórias, constituídas na
intersecção entre os discursos histórico e literário (GUSDORF, 1991; LEJEUNE, 1975),
apresentam-se como um registro favorável à análise da conciliação entre esses polos.
Principalmente após 1820, o romance realista também começou a abordar a história
recente, disputando com os memorialistas e a nascente historiografia o domínio dessa
narrativa. Pretendemos esboçar como as Mémoires d’outre tombe (1849), embora
declaradas por Chateaubriand como a “epopeia de seu tempo”, dialogam com o
romanesco e com a escrita da história. Ao longo da obra, encontram-se diversas
passagens em que o ideal épico visado pelo autor é nuançado pelo gênero oitocentista
por excelência: Chateaubriand refere-se às suas memórias como a narrativa do
“contìnuo romance de sua vida” e define-as como “a história levada na garupa do
romance” (1951, t. II, p. 53/574). Outras obras memorialistas contemporâneas serão
acionadas, de forma complementar, para exemplificação e comparação.

Palavras-chave: Chateaubriand. Historiografia romântica. Memórias oitocentistas.


Romance.

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A POÉTICA DA DESTERRITORIALIZAÇÃO EM MANUEL BANDEIRA

Gladiston de Souza Coelho


Secretaria Municipal de Educação da Cidade de São Paulo
gladistonsouzacoelho@gmail.com

A literatura, especialmente a poesia de Manuel Bandeira, instaura uma espécie de


ruptura fronteiriça não apenas entre os gêneros poema e conto, mas entre o universo real
e ficcional. Assim, desatam-se os nós. Sua poesia abre veredas que se bifurcam por
entre a realidade convencional e a utopia, a tradição e a modernidade. E nessa leitura,
percorremos o modo como o autor reconfigura a territorialidade na criação de seus
versos. Essa territorialidade deve ser compreendida, porém, dentro do universo literário,
na composição da espacialidade e da temporalidade, bem como a linha limítrofe entre o
realismo e a realidade e as vozes ressonantes no palco tecido pela palavra e o diálogo
entre os diversos gêneros. Talvez Bandeira tenha arquitetado, a seu modo, o conceito de
desterritorialização presente na ficção contemporânea. O lugar quimérico, ou um
terceiro espaço, talvez tenha sido uma solução para a descentralização. Esse sair do
centro torna-se um modus operandi na urbanidade, o movimento de mundo estabelece
um novo paradigma nas relações entre a literatura e a realidade. Manuel Bandeira, em
sua poesia, antevê tais mudanças, e tece em seus versos um feixe de conexão entre o
universo real e o fictício. Depreender a constituição do conceito de extraterritorialidade
ou desterritorialização significa observar até que ponto o poeta dilui essas fronteiras,
como, na medida do possível, reorienta o entendimento acerca do espaço literário.

Palavras-chave: Espaço. Desterritorialização. Manuel Bandeira. Poesia. Prosaico.

A INFLUÊNCIA DOS CONTOS DE FADAS DOS IRMÃOS GRIMM NAS


NARRATIVAS DE EDGAR A. POE: UMA PERSPECTIVA FANTÁSTICA E
GROTESCA

Lara Ozaniqui Colar


UNESP/Ibilce
lara.ozaniqui@hotmail.com

Versarei, através de uma perspectiva comparativa, sobre os elementos fantásticos e


grotescos visíveis nas obras dos irmãos Jacob Grimm (1785-1863) e Wilhelm Grimm
(1786-1859), nos primórdios do Romantismo na Alemanha, e, anos depois, nos contos
de Edgar Allan Poe (1809-1849), nos Estados Unidos. Como a obra de Poe figura
alguns dos princípios elementares do Romantismo, sobretudo certos traços inspirados
nos elementos do Sturm und drang, o Préromantismo alemão, pressupõe-se que ele teve,
direta ou indiretamente, contato com as obras precursoras dos Grimm, e que isto o tenha
inspirado em algumas de suas narrativas. Os contos de fadas foram compilações
realizadas pelos irmãos como forma de demonstrar seu nacionalismo durante uma época
de conflitos na antiga Alemanha. Circularam, inicialmente, como parte do patrimônio
oral e folclórico da Idade Média europeia e da cultura alemã. Após perceber o crescente
aumento da leitura voltada para as crianças, Wilhelm Grimm reviu as próximas edições
de seus contos e descartou parte do grotesco que, através deste estudo, será reavivado,
das primeiras edições. Além disso, identifica-se, tanto nos Grimm quanto em Poe, um
outro elemento literário, conhecido como o fantástico. Serão analisados um conjunto de

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cinco contos de Poe que exploram, de diferentes maneiras, os aspectos do fantástico e
do grotesco. De modo similar, elegemos mais de uma dezena de contos dos Grimm que
deverão ser analisados e subsidiarão nossas comparações. Sendo assim, nosso problema
de pesquisa consiste em compreender de que modo os contos de Poe preservam certos
traços característicos dos contos de fadas tais quais os irmãos Grimm publicaram, mas
acentuando a atmosfera romântica, muitas vezes mórbida e perturbadora, por meio das
situações e representações grotescas.

Palavras-chave: Contos de fadas. Edgar Allan Poe. Fantástico. Grotesco. Irmãos


Grimm.

REPRESENTAÇÕES DA RAZÃO E DA EMOÇÃO EM SENSE AND


SENSIBILITY, DE JANE AUSTEN

Júlia Mota Silva Costa


UNICAMP
juliamscosta@hotmail.com

Na fortuna crítica de Sense and Sensibility (1811), primeiro romance publicado de Jane
Austen, frequentemente tomou-se por certo que os termos do título compõem uma
oposição entre razão e emoção, que seria incorporada pelas irmãs protagonistas da
narrativa, Elinor e Marianne. Críticos do século XX interpretaram o comportamento de
Marianne como expressão de uma individualidade espontânea e apaixonada e
condenaram o decoro de Elinor como hipocrisia, embora a conduta desta última seja
claramente representada, na narrativa, como exemplar. Desgostosos com o enredo, tais
críticos pronunciaram a inferioridade de Sense and Sensibility no conjunto da obra de
Austen. Pretendo argumentar que essa avaliação negativa do romance está associada a
uma mudança histórica no sentido dos termos do título, que, se ainda guardavam uma
ambiguidade notável no início do século XIX, já se haviam cristalizado como uma
antítese no século seguinte. Em conjunto com a leitura do romance, o recurso a
documentos históricos como resenhas de periódicos, dicionários contemporâneos e
textos da filosofia moral britânica permite recuperar uma relação entre a faculdade
racional e as emoções que não é de conflito, mas de subordinação, em que os
sentimentos mais nobres de um indivíduo são prerrogativa da sua racionalidade, da qual
se origina a consciência moral. A reconstituição dessa perspectiva histórica do início do
século XIX evidencia que o romance sustenta uma análise rigorosa tanto no nível do
enredo quanto de sua forma e pode ser entendido não como uma defesa da primazia da
racionalidade sobre a emoção, mas como um elogio da virtude da moderação orientada
à promoção de um bem individual que só se efetiva num bem comum; Elinor, assim,
pode ser lida como uma personagem exemplar da medida virtuosa tanto de “sense”
quanto de “sensibility”, enquanto Marianne seria caracterizada por um excesso algo
histriônico que resulta em uma insensibilidade egoísta.

Palavras-chave: Jane Austen. Romance. Sense and Sensibility.

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DESPERTAR E AMADURECER: AS PRINCESAS ADORMECIDAS DOS
IRMÃOS GRIMM

Bruna Vieira Dorneles


UFRGS
brunavdorneles@gmail.com

No século XIX, os autores alemães Jacob e Wilhelm Grimm transpuseram inúmeras


narrativas orais para a escrita. As histórias que foram recolhidas eram, primeiramente,
passadas de geração a geração pela oralidade. Por esse motivo, o estruturalista russo
Vladimir Propp compreende que muitos contos de fadas tiveram a mesma origem, mas,
com a passagem do tempo e com as diferenças culturais de onde eram contados,
tornaram-se narrativas diferentes. Um exemplo desse caso é o registro de duas histórias
em que as protagonistas adormecem em função de um feitiço e são despertadas por um
príncipe: Branca de Neve e A Bela Adormecida. Sob essa perspectiva, este estudo
propõe uma análise da metáfora do adormecimento enquanto um processo de maturação
emocional das personagens. Desse modo, o trabalho do psicanalista estadunidense
Bruno Bettelheim serve como base teórica para a fundamentação desta pesquisa. Além
disso, são consideradas as teorias feministas para se pensar sobre o papel social da
mulher no século XIX e na contemporaneidade, principalmente os estudos da filósofa
norte-americana Nancy Fraser. Ademais, os desfechos dos contos que servem como
corpus deste estudo são analisados sob a premissas do movimento do Romantismo
europeu, o qual foi fundamental para a construção dos personagens dos contos de fadas.
Sendo assim, percebe-se que as princesas Branca de Neve e Rosamond são adormecidas
para viverem um processo de autoconhecimento e de superação de dores, o que é
resultado da sociedade patriarcal que promove a desigualdade de gênero na sociedade.

Palavras-chave: Contos de Fadas. Feminismo. Psicanálise. Romantismo.

A ANTÍTESE DE AQUILES: A CRIAÇÃO ARTÍSTICA PROUSTIANA EM


PARALELO À TEORIA DO ROMANCE DE GEORG LUKÁCS E AO
ROMANCE ESTÁ MORRENDO? DE FERENCE FEHÉR

Karina Espúrio
UNESP/Ibilce
karina.espurio@unesp.br

O trabalho artístico materializa e dá forma à relação entre sujeito/objeto por meio da


feitura da obra de arte. Dessa maneira, portanto, pode-se concluir que toda a obra de arte
é singular, pois sua construção é, sobretudo, um modo de recriar uma realidade por
meio da forma. Um desdobramento dessa ideia, consequentemente, é que toda forma de
arte é temporal, pois foi criada em um dado momento histórico, que, por sua vez, é
também um momento político e social específico. Com o tempo, as formas literárias
começaram a mostrar os pormenores da sociedade da época em que foram criadas por
outro viés que não aquele da vida em comunidade, como acontecia na epopeia, segundo
explica Lúkacs (2000). Sendo assim, as personagens começaram a refletir as ações de
um determinado agrupamento social, com suas imperfeições e críticas, bem como com
suas personalidades imperfeitas e fraturadas. Isso começou a ser possível com o
surgimento do romance como forma. A criação de Em busca do tempo perdido, de

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Marcel Proust, nesse sentido, leva essa ideia da composição artística romanesca ao seu
ápice. As características dessa construção literária estão pormenorizadas em A teoria do
romance de Georg Lúkacs e também em O romance está morrendo de Ference Fehér.
Tendo isso em mente, a presente comunicação tem o objetivo de discutir aspectos da
criação da narrativa proustiana relacionando-a às ideias da composição romancesca de
Lúkacs e Fehér. A partir disso, pretende-se analisar como a narrativa proustiana
reverbera as imperfeições e as roturas do personagem principal no contexto histórico e
social em que ele vive.

Palavras-chave: Criação literária. Marcel Proust. Teoria do romance.

NEM TUDO É RISO: A CRÍTICA PRESENTE NA ATUAÇÃO DOS BOBOS DA


CORTE FOOL, DE SHAKESPEARE E GUARIN, DE ANTONIO JOSÉ DA
SILVA

Arlene Rosa Eustáquio


UFU
arlenerosae@gmail.com

Ao longo da história do teatro um tipo de personagem vem chamando a atenção por sua
irreverência, criticidade e deboche: o bobo da corte, ou truão. Sua relação com o riso e
com figuras detentoras do poder o autorizava a expor as mazelas sociais de tal forma
que, ou ele era considerado ingênuo ou era desacreditado pela maioria das pessoas que o
escutavam. No entanto, ao ouvi-lo atentamente, era possível perceber seu grau de
racionalidade diante das relações humanas. Dentre tantos personagens famosos de peças
conhecidas mundialmente, dois histriões chamam, particularmente, a atenção: o bufão
de Rei Lear, Fool, e Guarin, de O prodígio do Amarante, de Antônio José da Silva. Fool
denunciava o abuso, respectivamente, dos filhos que abandonam os idosos de sua
família – no caso, Lear – e os denominam loucos. Já o bobo, ou gracioso, de Antônio
José irá criticar a Igreja Católica, o fanatismo religioso e a Inquisição. Para Bakhtin
(1987), o bobo da corte seria aquele que retira a máscara das elites e expõe as mazelas
sociais, como acontece com o personagem Fool, de Rei Lear, que diz verdades ao rei. Já
Paulo Pereira (2007) comenta que, no “teatro do Judeu, o gracioso é o fio condutor das
ações, representa a consciência social e serve para pôr a ridículo os poderosos do
tempo”. Assim, pretende-se evidenciar que o bufão apresenta uma dupla função:
conseguia fazer com que as pessoas rissem, ao mesmo tempo em que denunciava a
tirania e falhas de caráter de autoridades que se portavam como intocáveis no que diz
respeito a questionamentos, tal como a figura dos monarcas, por exemplo. A
fundamentação teórica compreenderá as contribuições de Mikhail Bakhtin referentes à
carnavalização e à função cômica dos graciosos e de Henri Bergson e Paulo Pereira no
que diz respeito ao riso.

Palavras-chave: Bobo da corte. Crítica. Riso.

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O ESPAÇO EM VIDAS SECAS E CONVERSAZIONE IN SICILIA: DENÚNCIA
E RESISTÊNCIA

Patricia Aparecida Gonçalves de Faria


UNESP/Ibilce
patricia_faria09@yahoo.com.br

O presente estudo “O espaço em Vidas Secas e Conversazione in Sicilia: denúncia e


resistência” propõe uma análise comparatista a partir das obras Vidas secas (1938), de
Graciliano Ramos, e Conversazione in Sicilia (1941), de Elio Vittorini, sob o viés de um
olhar interpretativo de como a Literatura pode desempenhar, por meio do espaço, nos
respectivos romances, um papel de denúncia e resistência. Logo, tal análise pretende,
ainda, verificar a relação temática construída a partir do caminhar, presente nas duas
obras, que demonstra a relação entre o sujeito e o mundo dentro de seu respectivo
contexto, que nos romances é marcada pelo costume de vida simples em um local árido
e subdesenvolvido, o sertão nordestino e o sul agrícola da península itálica. Para guiar
nossas reflexões, baseamo-nos principalmente nos estudos de Candido (1976, 1989,
1992 e 2009), Bosi (1995, 1996, 2002, 2003 e 2013), Panicali (1994), Squarotti (1987) e
Facioli (1987), entre outros, com o objetivo de compreender como, entre as décadas de
1930 e 1940, o caminhar de Silvestro Ferrauto e a família de retirantes de Fabiano, pode
representar por meio do deslocamento em locais inóspitos denúncia em relação às
sociedades opressoras e, ao mesmo tempo, resistência.

Palavras-chave: Caminhar. Conversazione in Sicilia. Espaço. Literatura Comparada.


Vidas secas.

O ENSINO DE LITERATURA NO BRASIL: UMA ABORDAGEM NO


CURRÍCULO DO ENSINO MÉDIO

Juliana Cristina Ferreira


UFU
juliana.ferreira@ufu.br

Este texto discute alguns aspectos abordados no Ensino de Literatura no Brasil e aponta
algumas maneiras de como a Literatura deve ser trabalhada em sala de aula, em turmas
do Ensino Médio, para que haja a compreensão do aluno-leitor. Nesse sentido, coloca-se
em pauta aspectos históricos, sociais e culturais que estão presentes nos textos literários
e que são pleiteados pelo professor-mediador para o entendimento e gosto pela leitura
deleite, por parte do aluno. Assim, a pesquisa fundamenta-se em aportes teóricos
propostos por Candido (2006) que apresenta modos e conceitos sobre o estilo como o
texto literário é compreendido, através do olhar investigativo do aluno. Nesse sentido,
elucida acerca da contextualização e estilização do texto, por meio da mediação do(a)
professor(a). Conta-se também com a contribuição da autora Malard (1985) que revela
algumas razões para a aprendizagem da Literatura através da leitura crítica sobre os
textos. Nessa consonância, a metodologia utilizada nesse texto baseia-se na pesquisa
bibliográfica. Quanto aos resultados desse estudo, conclui-se que a melhor maneira de
trabalhar os textos literários para o entendimento e gosto pela leitura do aluno faz-se
pela individualização do leitor, em sala de aula, com análise, crítica, adequação,
intervenção e contextualização expressa pelo professor mediador.

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Palavras-chave: Contextualização. Ensino de Literatura. Metodologia.

OS JARDINS MITOLÓGICOS DE MADAME D’AULNOY E HANS


CHRISTIAN ANDERSEN EM DIÁLOGO

Paulo César Ribeiro Filho


USP
paulo.cesar.filho@usp.br

Quase duzentos anos separam a publicação de “A Ilha da Felicidade” (1690) de Marie-


Catherine Le Jumel de Barneville, a Madame d’Aulnoy, e “O Jardim do Paraìso” (1839)
de Hans Christian Andersen. Sob a perspectiva da literatura comparada, somos
convidados a refletir não apenas sobre as similitudes temáticas e estruturais que
aproximam ambos os contos, mas também acerca do conto de fadas literário enquanto
gênero cultivado por esses dois autores. Marie-Catherine d’Aulnoy é a autora do
primeiro conto de fadas literário de que se tem notìcia, A “Ilha da Felicidade”, episódio
fantasioso de seu romance “História de Hipólito, Conde de Douglas” (Paris, 1690).
Ademais, a ela também é outorgada a cunhagem do termo “conto de fadas”. A autora
seiscentista escreveu cerca de vinte e quatro narrativas feéricas na mesma época em que
Charles Perrault publicava os seus “Contos ou Histórias do Tempo Passado, Contos da
Mamãe Gansa”, de 1697, coletânea responsável por estabelecer a estrutura narratológica
clássica do conto de fadas popular tal como a conhecemos hoje, bem como o chamado
horizonte de expectativas desse gênero. Hans Christian Andersen, por sua vez, mesmo
tendo feito carreira na Dinamarca do século XIX, não pautou sua atividade literária
pelos mesmos pressupostos nacionalistas que seus vizinhos e contemporâneos Jacob e
Wilhelm Grimm. Ainda que inicialmente Andersen tenha resgatado motivos populares
para compor sua coletânea de contos de fadas, a presente comunicação tem por objetivo
demonstrar que os títulos de sua fase autoral estão em consonância com os pressupostos
teóricos que definem o que convencionou-se chamar de conto de fadas literário,
evidenciando, portanto, que os projetos estético-literários de Andersen e Aulnoy estão
mais próximos entre si do que os de Andersen e Grimm.

Palavras-chave: Conto de fadas literário. Hans Christian Andersen. Madame d'Aulnoy.

AS ORIGENS DA REVOLUÇÃO FRANCESA SÃO MAIS OCULTAS DO QUE


PARECEM: A INTERPRETAÇÃO DE ALEXANDRE DUMAS SOBRE A
INFLUÊNCIA DAS SOCIEDADES SECRETAS NA REVOLUÇÃO NO
ROMANCE JOSÉ BÁLSAMO

Maria Gabriella Flores Severo Fonseca


UnB
gabriellafloress@hotmail.com

O romance José Bálsamo, publicado em folhetim entre 1846 a 1848, de Alexandre


Dumas, apresenta a alta influência na política exercida pela Maçonaria na condução dos
rumos da Revolução Francesa, trazendo com um dos personagens centrais o Grande
Cophta José Bálsamo-Cagliostro. Esse personagem, que ficou conhecido na Europa, em

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meados do século XVIII, por ser um influente místico, recebe na narrativa de Dumas
um papel muito destacado na condução desse importante episódio histórico, sendo
apresentado como seu idealizador. Sabe-se, pelo relato de historiadores, que faltam
indícios sobre o papel real que teve José Bálsamo-Cagliostro na Revolução. Dumas, no
entanto, como um escritor romântico, envolto pelas crenças de sua época, utiliza temas
como o mesmerismo e o poder de forças místicas para apresentar figurativamente a
Revolução em seu romance, como conclui Fizaine (1976). Para Rosenfeld e Guinsburg
(1993), o Romantismo propõe uma espécie de teosofia, fundada a partir de pensamentos
como: o idealismo, o orientalismo e o misticismo de Swedenborg. Assim, ao apresentar
a influência de sociedades secretas e de místicos como José Bálsamo-Cagliostro, Dumas
dialoga com o pensamento de sua época e interpreta, a seu modo, a Revolução Francesa.
É essa interpretação do escritor, embasada por uma espécie de romantismo místico, que
se pretende analisar a partir da leitura do romance José Bálsamo.

Palavras-chave: Alexandre Dumas. José Bálsamo. Misticismo. Revolução Francesa.


Romantismo.

DIÁLOGOS INTERARTES: A COSTURA COMO SÍMBOLO DE SUBVERSÃO


NA LITERATURA E NAS ARTES PLÁSTICAS

Jéssica Marroni Fortuna


UNESP/Ibilce
jessimfortuna@gmail.com

A costura é um símbolo importante nas artes, tendo papel relevante em diversas


mitologias e culturas. Essa atividade manual está, de maneira geral, relacionada ao
universo feminino: na mitologia grega temos as Moiras que fabricam o fio da vida e, no
clássico épico da Odisseia, é Penélope quem tece a mortalha de Ulisses. No decorrer da
história, a costura passou a ser um passatempo para algumas mulheres e uma fonte de
renda para outras. Além disso, na maior parte das vezes, é passada de geração em
geração pela linha matriarcal da família. Desse modo, este trabalho propõe investigar o
símbolo da costura em duas manifestações artísticas diferentes: no romance A Invenção
das Asas (2014), da autora estadunidense Sue Monk Kidd, e na obra da artista plástica
brasileira Rosana Paulino. As duas autoras trazem para suas obras a simbologia dessa
atividade manual relacionada ao universo feminino, principalmente naquele em que se
encontra o corpo feminino negro e escravizado. Este trabalho, portanto, pretende
mostrar como a costura pode se tornar um elemento de subversão e resistência das
mulheres na sociedade, deslocando a posição de inferioridade relegada às atividades
manuais e às mulheres responsáveis por sua confecção. Para isso, serão utilizados os
trabalhos de Elaine Showalter (1986) e Linda Pershing (1993) sobre o símbolo da
costura na literatura, bem como as análises de Ana Paula Simioni (2010) e Fabiana
Lopes (2019) sobre o trabalho de Rosana Paulino nas artes plásticas.

Palavras-chave: Artes plásticas. Costura. Literatura e outras artes. Rosana Paulino. Sue
Monk Kidd.

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A POSTURA OSCILANTE DO NARRADOR DA ILÍADA: ENTRE OMISSÕES
E EXCESSO DE INFORMAÇÃO

Gabriel Galdino Fortuna


UNESP/FCLAr
gabriel.fortuna@unesp.br

Este trabalho surgiu a partir de nossa pesquisa de Doutorado em que almejamos


identificar profundidade e complexidade nas personagens da Ilíada, assim, por
intermédio de autores oriundos das últimas três décadas que voltaram suas atenções
para os épicos homéricos, dentre eles, Richard Gaskin (1990), Scott Richardson (1990),
Nünlist (2003), Irené De Jong (2004), Ruth Scodel (2014) e Johannes Haulbot (2014),
apontaremos para a existência de um modo variável e heterogêneo pelo qual o narrador
da Ilíada constrói o seu discurso. O controle do conteúdo diegético no épico em questão
pode oscilar entre o excesso de informação e as paralepses- quando o olhar onisciente e
privilegiado do narrador invade as perspectivas recortadas e limitadas das personagens
(GENETTE, [1972] 1995, p. 193)- e as omissões laterais e as paralipses ([1972] 1995,
p. 194)- quando o narrador e a personagem optam em ocultar ou simplesmente
negligenciar informações relevantes para o enredo e para o leitor. Tal postura do
narrador responde a alegações de críticos como Eric Auerbach ([1953] 2002, p. 9-10) e
Joseph Russo (RUSSO e SIMON, 1971, p. 41-71), ambos classificam a obra homérica
como dotada de um discurso excessivamente descritivo, rico em detalhes, porém
incapaz de criar elementos em segundo plano, culminando em uma narrativa imediatista
e superficial, pobre em lacunas que obriguem o leitor a utilizar a sua capacidade de
inferência para interpretar elementos subjetivos que deveriam estar ocultos, mas foram
explicitados devido ao caráter oral da obra. Diferente desta linha, nossa apresentação
visa explorar a perspicácia do narrador em conseguir destacar sua presença em certos
momentos, bem como camuflá-la em outros trechos, abandonando o leitor a sua própria
capacidade de apreensão e expandindo o texto para níveis mais profundos de abstração.

Palavras-chave: Ilíada. Narrador. Personagens. Profundidade.

TRILOGIA DO ADEUS: ESCRITA EM DIÁRIOS ÍNTIMOS

Thais Loreyne Rozza Garbelin


UNESP/Ibilce
thaisloreyne@gmail.com

O estudo em questão tem como seu corpus a Trilogia do adeus (2017), de João
Anzanello Carrascoza. Esta que é composta por Caderno de um ausente, Menina
escrevendo com pai e A pele da terra. Todas as respectivas obras têm narradores
distintos, entretanto, são membros de uma mesma família, sendo pai, filha e filho, um
ciclo familiar na escrita de diários. Em cada uma das obras supracitadas podemos
encontrar características de uma escrita diária, repleta de acontecimentos cotidianos. Os
personagens de cada narrativa buscam a realização de suas motivações por intermédio
da escrita, seja para tentar não cair no esquecimento, como o narrador de Caderno,
desabafar após a perda de um ente querido, como no caso da segunda obra, ou até
mesmo conservar as memórias afetivas entre pai e filho em uma viagem, como na
terceira e última obra que compõe a trilogia. Mantém-se um diário para ser como um

29
confidente e amigo do diarista. Neste estudo, pretendemos apontar as principais
características encontradas nas obras que nos remetem a diários íntimos, seja pela
finalidade que a escrita surge, o suporte utilizado, etc. Pretendemos mostrar também
como esses diários se encerram após cumprirem seu propósito inicial de escrita. Para
isso, utilizaremos textos de Lejeune (2014) como base para os apontamentos feitos,
entre outros.

Palavras-chave: Diários. João Anzanello Carrascoza. Literatura brasileira.

NARCISA AMÁLIA E A NARRATIVA FANTÁSTICA: UMA LEITURA DO


CONTO “NELUMBIA”

Priscila Renata Gimenez


UFG
priscilagimenez@ufg.br

Marina Cardoso Nascimento


UFG
marinacardoso30@outlook.com

Narcisa Amália foi escritora, poetisa, tradutora e jornalista resendense. Considerada


uma mulher muito a frente de seu tempo. Contribuiu frequentemente na imprensa
brasileira no século XIX, escrevendo, sobretudo, artigos e cartas em que abordava
temáticas sociais como a desigualdade, instrução popular e instrução feminina,
emancipação da mulher, liberdade, evoluções científicas, entre outros. Ela também
escreveu e publicou narrativas ficcionais, sendo uma delas “Nelumbia”, repertoriada na
Bibliografia Brasileira – Narcisa Amália (1949), de Antônio Simões dos Reis, e
publicada em alguns periódicos brasileiros entre 1873 e 1875. Trata-se de um conto
fantástico, em que é latente uma linguagem profundamente poética para desenvolver a
trajetória de Nelumbia, protagonista abandonada por seu amado. A narrativa, instigando
a imaginação do leitor, é rica em imagens de uma região oriental e apresenta, por
exemplo, criaturas míticas como personagens. Nesta intervenção, interessa-nos
apresentar uma análise geral sobre a publicação do conto, sobre os principais aspectos
de sua composição, bem como examinar conexões entre o perfil da protagonista com a
evolução da história, com o fantástico e com o ambiente natural que a cerca. Isso,
observando as influências e inspirações que permeiam a temática, o enredo, a estrutura,
a escolha lexical, tecendo possíveis interpretações para este instigante conto e sua
relação com seu suporte original de publicação. Além do estudo analítico, trata-se,
também, de um resgate da produção ficcional em prosa de Narcisa Amália.

Palavras-chave: Fantasia. Literatura. Narcisa Amália. Narrativa

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OS DESDOBRAMENTOS DO ALEGÓRICO E DO FANTÁSTICO NA
CONTÍSTICA DE CAIO FERNANDO ABREU

Pedro Henrique Pereira Graziano


UNESP/Ibilce
pedro.graziano@hotmail.com

No presente trabalho propomos a análise do conto “O ovo”, parte de seu livro de contos
Inventário do irremediável. Trabalharemos com uma perspectiva dúplice para a análise
do texto: a perspectiva da leitura alegórica, retomando o conceito de alegoria de Walter
Benjamin (1996, p. 132), no qual o texto faria alusão a aspectos do mundo extraliterário
por meio de recursos estéticos; e também levando em conta a leitura a partir do modo
fantástico e seus desdobramentos, o maravilhoso e o estranho, como os conceitua o
autor italiano Remo Ceserani (2006, p. 56). O objetivo da comunicação é traçar uma
linha a respeito de duas possibilidades de leitura: uma na qual o texto é lido como uma
situação insólita e impossível, e outra em que o conto representa uma crítica ao regime
militar brasileiro e sua consequente repressão. Objetiva-se, assim, estabelecer um
panorama crítico de leitura a partir do qual podemos chegar a conclusões a respeito do
uso da Literatura Fantástica no Brasil como possível ferramenta crítica que se dá de
forma velada.

Palavras-chave: Alegoria. Caio Fernando Abreu. Fantástico. Walter Benjamin.

MEMÓRIA E JUSTIÇA EM “MARTELO”, DE JOÃO ANZANELLO


CARRASCOZA: O CONTO CONTEMPORÂNEO COMO SINALIZADOR DA
REALIDADE SOCIAL BRASILEIRA

Lara Giselle Guardiano


UNESP/Ibilce
laraguardiano@gmail.com

A narrativa memorialista corresponde a uma das grandes vertentes da produção de


contos no Brasil contemporâneo. Esse eixo de escrita, quando associado a um processo
de retrato da realidade social, inevitavelmente abre espaço para a observação crítica de
diretrizes históricas responsáveis por delinear o cenário em que hoje se vive. Nesse
sentido, o conto que narra determinada memória é capaz de promover um resgate não só
das lembranças individuais de um ou de mais personagens, mas também da memória
coletiva de dada sociedade. É exatamente esse processo que se pretende analisar neste
trabalho, tomando-se como referencial o conto “Martelo”, publicado em 2017 por João
Anzanello Carrascoza. O texto, que se desenvolve a partir de uma retomada da memória
do narrador-protagonista, aborda, com uma sensibilidade ímpar, temas fortemente
presentes na realidade brasileira, como a desigualdade, a injustiça social e a importância
da criação de medidas afirmativas, a exemplo da política de cotas para ingresso em
universidades. Assim, a partir de uma aprofundada análise estrutural e reflexiva do
conto, pretende-se evidenciar a sua significativa contribuição para a cena literária
nacional do século 21, especialmente no que tange ao registro histórico da memória
social que ele promove.

Palavras-chave: Conto brasileiro contemporâneo. Justiça. Memória.

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A RECEPÇÃO HUGOANA NA SEGUNDA GERAÇÃO ROMÂNTICA
BRASILEIRA: A TEORIA DOS CONTRASTES E O GÊNERO DA BALADA

Isabelle dos Santos Guimarães


UNESP/FCL
isabellesg25@gmail.com

A pesquisa tem como objetivo analisar a recepção das Ballades hugoanas na segunda
geração romântica brasileira. O corpus se concentra na obra Odes et Ballades (1826) de
Victor Hugo em correlação às poesias de Bernardo Guimarães em Poesias completas
(1865), e Álvares de Azevedo em Lira dos Vinte Anos (1853). O gênero da Balada,
como hìbrido, flexìvel e de origem medieval (D’ONOFRIO, 1995) ressurge no
romantismo francês como um modo de contestação à poesia neoclássica. A teoria dos
contrastes presente em “Do grotesco e do Sublime” (1826) de Hugo é contemporânea ao
lançamento das Ballades, anunciando total rompimento com o modelo clássico vigente
da época. No que permite ao autor abandonar a lógica aristotélica por ousar a
construção rítmica e sonora culminando em um universo atmosférico e fantástico. A
circulação das ideias hugoanas no Brasil são oriundas de suas primeiras obras: Odes et
Ballades (1826) e sua teoria Do Grotesco e do Sublime (1843). A mediação da
inspiração moderna é feita pelos periódicos portugueses que circulavam no Brasil no
século XIX e são parte fundamental neste estudo de recepção. Em principal, o jornal O
Panorama (1837) dirigido por Alexandre Herculano, trazia ideais novos e românticos
aos estudantes da Universidade de São Paulo. Os resultados se concentraram nos
experimentalismos dos autores brasileiros com o gênero da balada retomado por Hugo.
Com Álvares de Azevedo, em Lira dos Vinte Anos (1853), com a binômia da obra
dividida por Antonio Candido como Ariel e Caliban (CANDIDO, 1981). E Bernardo
Guimarães com a balada “A Orgia dos Duendes” em que realiza um máximo
experimentalismo do gênero ao combinar cultura popular medieval, elementos da fauna
e flora brasileira e ressonâncias da Ballade de Hugo “La ronde du Sabat”.

Palavras-chave: Álvares de Azevedo. Balada. Romantismo. Victor Hugo.

A MORTE E A DONZELA: SEDNA, RUSALKA E A PEQUENA SEREIA DE


ANDERSEN

Therezinha Maria Hernandes


UNESP/FCLAr
hernandestherezinha@gmail.com

O século XIX revela um grande interesse no registro de narrativas orais, às quais,


muitas vezes, são dadas feições literárias. Essa questão estética, somada à visão
eurocêntrica e androcêntrica da abordagem – não apenas focada na figura do herói, mas
também sob a perspectiva de autores e teóricos homens – pode, entre outras
circunstâncias, mascarar possíveis origens não-europeias de algumas narrativas.
Tomando a morte como grande tema, a partir do qual centramos nosso estudo em certas
personagens folclóricas e/ou mitológicas femininas, notamos a ocorrência de confusão e
absorção de características entre elas, como ocorreu, por exemplo, com a imagem da

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sereia e sua vinculação com a morte. Nesta comunicação, abordaremos a disseminação
da narrativa Inuíte sobre Sedna ao redor do Ártico e extremo norte da Europa, suas
relações com personagens lendárias como Rusalka e seus reflexos em A Sereiazinha, de
Hans Christian Andersen. Ainda que superficialmente, procuraremos distingui-las de
outras, de origens diversas, como as sereias gregas, Melusina e as mouras portuguesas
em cavernas com serpentes. Deixaremos, por enquanto, de aprofundar elementos
relativos à difusão dessa mesma narrativa ao longo das Américas até seu extremo sul, na
Terra do Fogo, em mitos do povo Selk-nam, por envolverem diferentes processos de
disseminação, especialmente a fusão e a divisão. Procuramos conjugar diversas teorias
sobre estruturas narrativas (Propp, Barthes, Bowra), bem como teorias antropológicas
aplicáveis às narrativas (Dumézil, Eliade, Lévi-Strauss, entre outros), além da aplicação
de elementos de semiótica (principalmente sobre imagens, mas não somente elas), a fim
de elaborar um aporte teórico que nos permitisse, não situar as narrativas num tempo
cronológico, mas ao menos auferir a anterioridade de umas em relação a outras,
basicamente por meio de oposições como “humano X divino”, “natural X sobrenatural”,
“xamanismo X religião de Estado”, aplicadas a personagens.

Palavras-chave: Abordagem ginocêntrica. Narrativa. Sereias. Visão eurocêntrica e


androcêntrica

A CONTEMPORANEIDADE DO EU AUTOFICCIONAL EM NAS PELES DA


CEBOLA DE GÜNTER GRASS

Taisy Buzanello Janku


UNESP/FCLAr
taisy.janku@unesp.br

Günter Grass publica em 2006 o romance autoficcional Nas peles da cebola. A


autoficção é uma prática narrativa na qual as instâncias narrador-personagem-autor
coincidem e que ganhou seu espaço nos anos 70, sendo até hoje um objeto de estudo
controverso devido a seu caráter maleável. Fato é que a autoficção se faz muito fértil em
uma época na qual a identidade descentralizada e deslocada do sujeito (Hall) e a
exposição da intimidade são tendências dominantes na literatura contemporânea. No
romance, Grass revela que foi membro da Waffen-SS durante o nazismo, o que tornou a
publicação de seu livro um evento de grande repercussão, uma vez que era considerado
“a voz da consciência alemã”. Munido da metáfora do descascar da cebola como meio
de acessar sua história de vida progressivamente, Grass apresenta, na verdade, um jogo
que funciona em dois sentidos, ocultando as informações ao mesmo tempo em que as
revela. Por entre as declarações sobre si, o autor desestabiliza as afirmações feitas,
suprimindo qualquer possibilidade de ali ser assumida alguma verdade absoluta. Os
recursos narrativos do texto (como o discurso vacilante da memória, o narrador não-
confiável, a identificação com a figura de Oskar Matzerath e a metáfora da cebola e do
âmbar) culminam em uma tensão substancial: o sujeito contemporâneo é volátil e
impossível de ser captado em sua integridade. É nosso objetivo investigar como se
comporta o limiar entre fatual e ficcional no romance, partindo da observação do “eu-
autoficcional”. Para tanto, nos deteremos primeiramente nas teorias das escritas do eu
(Colonna e Gasparini), e então analisaremos o romance nos concentrando nas categorias
da narração de voz e modo propostas por Genette, bem como nos demais artifícios
narrativos que potencializam o caráter não-fiável do texto.

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Palavras-chave: Autoficção. Eu. Günter Grass. Literatura alemã. Narrativa.

DIÁLOGOS ENTRE GÊNEROS NA CRÍTICA LITERÁRIA E TEATRAL DE


EDGAR ALLAN POE: O CONTO E O DRAMA

Jessica Cristina dos Santos Jardim


USP
jessicajardim@usp.br

Produzindo críticas literárias e teatrais com a mesma grande frequência com que
escreveu contos e poemas, o escritor norte-americano Edgar Allan Poe (1809-1849) não
apenas cumpria importante papel, dividido com outros jornalistas de seu tempo, de
difusor das produções nacionais, como também se comprometia com a defesa de uma
nova estética para a literatura produzida nos Estados Unidos. Nesse exercício crítico,
sua defesa de uma específica forma dramática para o teatro nacional encontraria
consonância com suas próprias concepções para a criação literária. Reconhecendo a
relevância do teatro para o desenvolvimento sociocultural de um país, Poe defenderia,
em importantes ensaios como “O drama americano” (POE, 1984) e “A filosofia da
composição” (POE, 1999), ambos publicados em 1845, uma estética mais realista e
mais ligada ao referencial da vida americana, além de práticas “menos corruptas” por
parte dos críticos de teatro. Numa tentativa de integrar o conjunto de sua obra teórica, o
objetivo desta comunicação é pôr em diálogo os mencionados ensaios. Como resultado,
observamos que o conceito de “unidade de efeito” – princípio axiológico norteador dos
procedimentos trabalhados em uma obra literária defendido por Poe para a escrita de
seus contos e poemas – exerceu grande importância em suas ideias sobre a definição do
drama. De fato, a noção de “situação teatral” (PAVIS, 2011), sobretudo em seu sentido
unificador de temas e efeitos, tem lugar na interpretação de alguns importantes
conceitos da obra crìtica do escritor, por ser análoga à “unidade de efeito”. A busca do
tom, da atmosfera, por fim, de um efeito generalizado, a partir de elementos cênicos
específicos é fundamental ao estabelecimento do clima teatral na forma dramática,
sobretudo, dentro da concepção poeiana de formação de um teatro nacional.

Palavras-chave: Drama americano. Edgar Allan Poe. Filosofia da composição.


Romantismo norte-americano.

O AMOR COMO REDENÇÃO NA ÚLTIMA CENA DO FAUSTO II, DE


GOETHE

Debora Domke Ribeiro Lima


Universidade de Lisboa
deboradomke@yahoo.com.br

O estudo se refere à pesquisa que realizei durante o doutorado a respeito do Fausto I e


II, de Goethe. Pretende-se mostrar como Goethe dissolve antagonismos, como bem e
mal, fazendo com que uma moça do povo, Margarida, torne-se salvadora, já que mesmo
após cometer um infanticídio, é capaz de interceder, no final do Fausto II, pela redenção
de seu amado. Pretende-se analisar o espaço que a figura feminina ocupa no enredo do

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escritor alemão, o poder que ela exerce sobre a personagem de Fausto e também sobre o
cenário, que é um elemento importante na criação de Goethe. O conceito atrelado à
presença da “mater gloriosa” será de extrema importância para a análise da cena final de
Fausto, juntamente com a impossibilidade de vivenciar a experiência do amor após o
acordo feito com Mefistófeles nas primeiras cenas do Fausto I. A religião, que ocupa
lugar importante na construção do cenário, será enfocada como elemento importante
para a tecitura do enredo goetheano, uma vez que ao apresentar uma abordagem
cirúrgica a respeito do assunto, traz em cena inúmeras contradições que afligem a alma
dos personagens.

Palavras-chave: Amor. Fausto. Goethe.

JOSÉ DE ALENCAR: CRÍTICO E TEORIZADOR DA LITERATURA (1850-


1856)

Lilian Tigre Lima


UNESP/IBILCE
liliandelima17@hotmail.com

Considerado o chefe da prosa brasileira romântica de ficção, José de Alencar foi, além
de ficcionista, jornalista e político, um escritor em constante inquietação sobre questões
de teoria e crítica literária. Em 1846, ainda estudante de Direito, ajudou a fundar a
revista Ensaios Literários, onde, em 1850, publica “O Estilo na Literatura Brasileira”.
Embora pouco estudado pela fortuna crítica, é nesse ensaio incompleto que o jovem de
21 anos começa a desenvolver sua reflexão teórico-crítica em torno do estilo na
literatura brasileira. No artigo, Alencar traça um programa para o futuro desdobramento
de sua atividade literária, discutindo, entre outros aspectos, as implicações dos estilos
clássico e moderno na composição da literatura nacional. Seis anos depois, após
passagem pelo Correio Mercantil e já na condição de redator-chefe do Diário do Rio de
Janeiro, o escritor retoma a discussão, vendo na publicação de A Confederação dos
Tamoios, de Gonçalves de Magalhães, a grande oportunidade de exercer o seu espírito
crítico e inscrever-se definitivamente no quadro das letras do país. De folhetinista
desconhecido, Alencar passa a principal desafeto do já consagrado autor de Suspiros
Poéticos e Saudades e de seu patrocinador, o imperador Dom Pedro II. Embora não
pretendesse escrever propriamente um juìzo crìtico, mas apenas registrar “impressões de
leitura”, a reação de Alencar ao poema de Magalhães vai figurar como “a maior
polêmica literária do romantismo” (MARTINS, 2003, p. 99) e, ainda, como um dos
textos de natureza crítica mais importantes da época. Assim, tomando por base o ensaio
O Estilo na Literatura Brasileira e As cartas sobre A Confederação dos Tamoios, o
objetivo desta comunicação é discutir como Alencar pensou os diferentes gêneros e
estilos em voga, contribuindo, como crítico e teorizador, para o processo de renovação
estética da literatura brasileira da qual era, senão precursor, um de seus principais
iniciadores.

Palavras-chave: Estilo. José de Alencar. Teoria e crítica literária.

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IDENTIDADE E AUTO AFIRMAÇÃO NO HERÓI PROBLEMÁTICO DE DOM
CASMURRO DE MACHADO DE ASSIS

Leila Aparecida Cardoso de Freitas Lima


UNESP/Ibilce
leila_freitas011@hotmail.com

A partir de pressupostos da teoria e crítica literária apresenta-se esta proposta de


reflexão acerca do romance Dom Casmurro de Machado de Assis (1899). O tema
concentra-se na postura adotada por Machado de Assis, no que se refere à procura da
auto afirmação da Literatura Brasileira. Objetiva-se, portanto, direcionar o olhar à figura
do narrador autodiegético, no intuito de observar como esta personagem se comporta
em face da busca de identidade que parece perpassar a Literatura Brasileira ao longo do
século XIX. Com efeito, o século XVIII é marcado pelos ideais iluministas com todos
os seus desdobramentos ideológicos. Neste contexto, os escritores passam a questionar
os ideais de “liberdade, igualdade e fraternidade” e, assim, as personagens do romance
chegam ao século XIX, com caracterìsticas muito próximas do “indivìduo
problemático” desenvolvido por Georg Lukács (2000). Neste sentido, partimos da
hipótese de que Bentinho ao assumir a enunciação e tornar-se um narrador-escritor, vai,
aos poucos, tirando a máscara do eu narrado, ainda que insista em convencer o
narratário a respeito da culpabilidade de Capitu, bem como de sua própria ingenuidade.
Sendo assim, a busca de identidade da Literatura Brasileira, possivelmente, é subvertida
na construção da identidade do herói problemático de Machado de Assis. O ponto de
partida de semelhante abordagem concentra-se na narratologia de Gérard Genette em O
discurso da narrativa; no entanto, posteriormente, os estudos de Genette, encontrarão as
ideias defendidas por Luckács em Teoria do romance. Além disso, outros autores como
Sigmund Freud (1930), Clement Rosset (1976) e Jeanne Marie Gagnebin (2006), serão
convidados à discussão em momentos oportunos. Neste percurso, espera-se chegar à
compreensão dos desdobramentos que as técnicas narrativas observadas no narrador
machadiano proporcionaram aos narradores da atualidade, contribuindo, assim, para a
composição da identidade da Literatura Brasileira.

Palavras-chave: Dom Casmurro. Identidade. Literatura brasileira. Machado de Assis.


Narrador.

FRONTEIRAS DA IDENTIDADE DO IMIGRANTE NO ROMANCE BEHOLD


THE DREAMERS (2016), DE IMBOLO MBUE

Leonardo de Matos Malacrida


UNESP/Ibilce
leonardodematos@uol.com.br

Este trabalho objetiva refletir sobre a construção da identidade do imigrante, oriundo de


países menos favorecidos, neste caso, de Camarões, em sua saga para conseguir sair de
seu país de origem, atravessar a barreira da imigração estadunidense e alcançar
prosperidade nos Estados Unidos. Discute-se também as implicações que as diferenças
culturais, étnicas, sociais e econômicas imprimem em seu cotidiano nos EUA, na
narrativa de Imbolo Mbue, no romance Behold The Dreamers (2016). Verifica-se como
a autora expressa, por meio de seus personagens, o esforço do imigrante em adquirir

36
traços da identidade do país anfitrião, observando-se os elementos da identidade cultural
estadunidense assimilados por pessoas de identidade cultural diferente que buscam o
sonho americano, sem recursos financeiros, sem educação formal adequada e sem
proficiência em inglês, em um momento histórico, marcado pela crise hipotecária de
2007 e eleição de Barack Obama em 2008. Será observada a relação entre os aspectos
formais e interpretativos, a construção dos personagens e de suas identidades
amalgamadas. Para elementos envolvidos na representação de uma identidade cultural
dos Estados Unidos da América, bem como a assimilação destes por parte dos
personagens imigrantes, são utilizados Karnal (2010), Harari (2018) e De Masi (2013),
a tese de liquidez e de identidades includente e excludente de Bauman (2001; 2005),
Figueiredo e Noronha (2005), Evangelista (2006) e Jameson (1996). Observa-se que
existe uma transformação na identidade desses imigrantes, que não conseguem
simplesmente apagar as marcas genéticas e históricas de sua cultura de origem, e
tampouco conseguem fluir de maneira natural, desempenhando o comportamento dos
estadunidenses nativos. Esses “neoamericanos” encontram-se em um lugar identitário
fronteiriço, entre o que eles eram e o que eles querem ser.

Palavras-chave: Identidade Cultural. Identidades Includente e Excludente. Imigrante.

TRADUÇÕES E TRADUTORES NO PERIÓDICO A MARMOTA (1849-1864):


DO CONTO AO ROMANCE-FOLHETIM

Lucas de Castro Marques


UNESP/Ibilce
lucascas.mar@gmail.com

Esta comunicação tem como objetivo apresentar um estudo historiográfico das


traduções e dos tradutores no periódico A Marmota (1849-1864), considerando,
principalmente, as narrativas (contos, novelas e romances-folhetins) traduzidas para o
português e nele publicados. Atualmente esquecidos, nomes como Ananias Ibirapitanga
de Araújo e Bráulio Jaime Moniz Cordeiro juntavam-se, nesse jornal, a personalidades
hoje lembradas, como Manuel Antônio de Almeida, e mesmo muito aclamadas, como
Machado de Assis. Todos eles, de alguma forma, colaboravam com o periódico do
literato, editor e tradutor Francisco de Paula Brito, escrevendo ou traduzindo contos,
novelas, romances-folhetins, poemas, peças teatrais etc. Segundo Lúcia Miguel Pereira
(1988), essas figuras formavam “o grupo da Marmota e da Petalógica”, uma rede de
amigos que se reunia em torno de Paula Brito, em meados do Rio de Janeiro do século
XIX. A Marmota era uma folha de entretenimento, na qual jovens estudantes poderiam
ler histórias consideradas simples, moralizantes, recreativas e instrutivas (A Marmota,
26 mar. 1861, p. 1). Muitas delas eram traduções, como as narrativas “Maria ou o lenço
azul” (1861) – « Marie ou le mouchoir bleu » (1829) –, do francês Étienne Béquet, e “O
pescador e o viajante” (1861) – « Le pêcheur et le voyageur » (1840) –, da francesa
Mme. de Sainte-Marguerite – essa última, publicada sob a rubrica “Instrução e recreio”.
O jornal creditou, em ambas as publicações, o professor Raimundo Antônio da Câmara
Bittencourt como tradutor, identificação não muito recorrente, naquela época, nas
traduções impressas em periódicos e livros, os quais muitas vezes não assinalavam o
nome do responsável pela tradução. Esta comunicação, portanto, abordará a atividade
tradutória do grupo de colaboradores d’A Marmota, bem como demonstrará como esse
jornal foi um espaço de visibilidade para alguns tradutores no Brasil do século XIX.

37
Utilizaremos, como base teórica, os trabalhos de Meyer (1996), Wyler (2003),
Simionato (2009), Godoi (2010) e Silva-Reis (2012, 2015).

Palavras-chave: A Marmota. Romance-folhetim. Século XIX. Tradução literária.

OCUPANDO SEUS LUGARES NA HISTÓRIA: AS VOZES DOS CHICANOS


EM THE HOUSE ON MANGO STREET, DE SANDRA CISNEROS

Nayara Cristina Marques


UNESP/Ibilce
nayarine@hotmail.com

Ao longo da história, alguns grupos tiveram suas culturas e tradições silenciadas e


esquecidas pelo poder hegemônico. Com o Pós-Modernismo, muitos desses grupos
conquistaram espaço e puderam apresentar suas próprias versões do discurso histórico.
A arte teve um importante papel para que as barreiras culturais, linguísticas e sociais
fossem transpostas a fim de que os povos não-hegemônicos pudessem, através de suas
próprias buscas identitárias, encontrar seus lugares de pertencimento na história. No
romance The House on Mango Street (1984), de Sandra Cisneros, temos como
personagem-protagonista a jovem Esperanza, uma garota chicana, filha de mexicanos
nascida nos Estados Unidos, que vive em uma vizinhança de latinos e que narra, a partir
de seu ponto de vista, o cotidiano, os dramas e as violências vividos por ela, por sua
família e por seus vizinhos. A partir dos estudos de Hutcheon (1991), White (1999) e
Mignolo (2003), propomos analisar de que forma o romance de Cisneros questiona e
ressignifica a história oficial ao problematizar a realidade dos chicanos. Nesse sentido,
por meio da análise de The House on Mango Street, entendemos que a literatura
produzida pelos chicanos é instrumento de resistência e de alicerce para que grupos não-
hegemônicos possam transpor barreiras geográficas, sociais, culturais, econômicas e
linguísticas. A reavaliação histórica encontrada no romance permite uma reflexão sobre
a participação dos chicanos na sociedade norte-americana, além de possibilitar um
questionamento sobre a garantia dos direitos dos chicanos e de outros grupos não-
hegemônicos.

Palavras-chave: Chicanos. História. Sandra Cisneros. The House on Mango Street.

A TRAGÉDIA ESCRAVISTA NO CONTO “VIRGINIUS: NARRATIVA DE UM


ADVOGADO”, DE MACHADO DE ASSIS

Alexandre Marroni
UNESP/FCL
alexandremarroni@hotmail.com

O Jornal das Famílias foi um importante periódico, dedicado em um primeiro momento


às mulheres, que circulou no Brasil entre 1863 e 1878. A pesquisadora Silvia Azevedo,
em sua obra De Revista Popular a Jornal das Famílias: A imprensa carioca do século
XIX a serviço dos interesses das famílias brasileiras, traz importantes contribuições
acerca deste periódico, o que foi fundamental para a produção deste artigo. Vale
salientar também que O Jornal das Famílias sempre contou com a colaboração de

38
inúmeros escritores respeitados, recebendo destaque o jovem Machado de Assis. Tal
fato é evidenciado a partir da leitura da obra A trajetória de Machado de Assis: do
Jornal das Famílias aos contos e histórias em livros, também de Sílvia Azevedo. Com
efeito, O Jornal das Famílias serviu de suporte para o conto “Virginius: narrativa de um
advogado”, de Machado, o qual foi publicado pela primeira vez em 1864. A leitura do
periódico através do site da Biblioteca Nacional (Hemeroteca Digital) é de suma
importância para o conhecimento na íntegra da primeira aparição do conto. Este, por sua
vez, ilustra a irreverência e a coragem do escritor, à medida que abordou a questão da
escravatura em plena escravidão no Brasil. Abordar a escravidão no Brasil sempre foi
muito comum nas obras machadianas e John Gledson, em Machado de Assis: ficção e
história, evidencia esta postura do escritor. Por isso, é necessário apresentar um breve
resumo do enredo, a fim de que o leitor consiga se ambientar com a história e
compreender o objetivo principal do artigo: evidenciar a ironia utilizada pelo autor no
referido conto ao abordar a temática da escravidão.

Palavras-chave: Conto. Escravidão. Ironia. Machado de Assis

O NEGROR DE WUTHERING HEIGHTS NA VERSÃO DE OSCAR MENDES

Ana Cecilia Agua de Melo


ceci_agua@hotmail.com

Wuthering Heights, que veio à luz em 1847, é um romance superlativamente singular do


século XIX que os brasileiros só viriam a conhecer no século XX. Em 1938, a Editora
Globo, dentro da Coleção Nobel, publicaria O morro dos ventos uivantes, em tradução
de Oscar Mendes. Ao leitor do século XXI (e não menos o brasileiro) que porventura
tenha em mãos o original em língua inglesa não passará despercebida a peculiar
“escuridão” (ou “negritude”?) da personagem Heathcliff. Quando Earnshaw pai chega
de Liverpool com seu “achado”, ele adverte à esposa: “but you must e’en take it as a gift
of God, though it’s as dark almost as if it came from the devil”. Até o fim do romance,
dark, darkness, black, blackness são termos recorrentes que ressoam como ecos deste
dado fundamental, o tom mais escuro da pele de Heathcliff. Contemporaneamente, a
crítica tem dado bastante atenção a este tópico. Caberia mencionar o artigo de Turki
Althubaiti, “Race discourse in Wuthering Heights” (2015). Nesta comunicação,
proponho observar como a tradução de Oscar Mendes transpôs essa marca estilística do
texto de Emily Brontë. No trecho citado acima, por exemplo, “though it’s as dark” é
“embora esteja tão preta”: o uso do verbo “estar” associa o negror a uma condição
passageira (a sujeira), lançando ao segundo plano o aspecto da diferença inscrita no
corpo da personagem Heathcliff como uma condição permanente. Levando em conta
que tradução e criação literária se alimentam reciprocamente, procurarei observar esses
efeitos na versão que Oscar Mendes deu do romance dezenovista, sem desconsiderar
que a prosa brasileira então estava em plena voga dos temas e da linguagem do
chamado romance de 30.

Palavras-chave: O morro dos ventos uivantes. Século XIX. Século XX. Tradução.

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NARRADOR E FOCO NARRATIVO: TEORIA E APLICAÇÕES NO
ROMANCE AS VISITAS QUE HOJE ESTAMOS, DE ANTONIO GERALDO
FIGUEIREDO FERREIRA

Jessica Roberti de Mello


UNESP/Ibilce
jessicarobertimello@gmail.com

A pesquisa visa estudar o narrador e o foco narrativo, desenvolvendo uma análise acerca
de suas características, suas funções e seus efeitos, aplicada, especificamente, à obra As
visitas que hoje estamos (2012), de Antonio Geraldo Figueiredo Ferreira. A base da
pesquisa se dá nas concepções de Norman Friedman (2002), Gérard Genette (1972) e
Jean Pouillon (1974), principalmente, sobre as funções do narrador e do foco narrativo
no romance. Investigaremos as características do narrador e da focalização, seus efeitos,
funções e possibilidades de perspectivação a partir da análise do romance "As visitas
que hoje estamos" (2012), que é rico em possibilidades de perspectivação narratológica
e focalização narrativa, principalmente no que diz respeito à sua forma fragmentada e às
múltiplas vozes que o compõem. A metodologia escolhida para este trabalho será a da
abordagem imanentista do texto, que se dá no processo analítico-descritivo do romance.
É claro que, a partir do texto, uma série de relações extratexto se apresentam como
possibilidades férteis de leitura do romance. Sendo assim, a abordagem imanentista é,
de fato, um norte e um comportamento diante do texto literário, porém, entendo a
necessidade de que, uma vez que o texto tenha sido estudado e todas as possibilidades
de leitura a partir das relações externas a ele tenham sido verificadas, tais relações
externas só fazem enriquecer a leitura e o papel do texto literário.

Palavras-chave: Focalização. Narrador. Romance fragmentado. Teoria da narrativa.


Teoria literária.

LUCIEN DE RUBEMPRÉ E EUGENE DE RASTIGNAC: OS DÂNDIS DE O PAI


GORIOT, ILUSÕES PERDIDAS E ESPLENDORES E MISÉRIAS DAS
CORTESÃS

Fernando Henrique Magalhães Mendes


UNESP/Ibilce
fernando.h.mendes@outlook.com

A presente comunicação tem como objetivo apresentar uma rápida análise de como as
personagens Eugene de Rastignac e Lucien de Rubempré, durante suas trajetórias nos
romances os quais são personagens centrais, se aproximam e ao mesmo se distanciam
da figura do dândi apresentada por Charles Baudelaire no ensaio “O pintor da vida”:
homens que não tem outra ocupação a não ser a de cultivar o belo em sua pessoa, de
satisfazer às suas paixões, desse modo o dândi dispõe, a seu bel-prazer de grande
quantidade de tempo e dinheiro, sem os quais, sua fantasia seria reduzida a apenas um
devaneio, sem a possibilidade de pô-la em ação; o dandismo seria uma espécie de culto
de si mesmo, capaz mesmo de sobreviver à busca pela felicidade a ser encontrada em
outrem. Tendo essa definição em mente, seria possível, ao observar o enredo dos
romances que protagonizam, traçar certos traços da personalidade e atitudes tomadas
tanto por Rastignac quanto Rubempré que podem ou não ser enquadradas na concepção

40
de dandismo apontada pelo poeta francês. Para esse objetivo serão levados em
consideração as trajetórias e o comportamento de ambas personagens, de modo a
verificar de que maneira se aproximam e se distanciam da definição que Baudelaire faz
em seu ensaio, levando em conta principalmente a questão do dinheiro e da ascensão
social que permeia essas obras, e de como isso afeta diretamente o modo como essas
personagens interagem com as outras personagens e o mundo social que as cercam.

Palavras-chave: Balzac. Dândi. Literatura Francesa. Romance.

O CONTO “A RAINHA DA NEVE”, DE HANS CHRISTIAN ANDERSEN, E


SEUS MÚLTIPLOS DIÁLOGOS

Lígia Regina Máximo Cavalari Menna


UNIP/USP
mennaligia@gmail.com

Reconhecido por seus inúmeros contos de fadas, alguns adaptados outros originais, é
fato que Hans Christian Andersen tenha um estilo próprio, marcado pela estética
romântica alemã e pelos preceitos cristãos, acrescidos, por outro lado, de elementos da
cultura popular em um amálgama do folclore nórdico, ou seja, o imaginário cristão
entrelaça-se ao maravilhoso pagão, ambos embebidos, conforme aponta Nelly Novaes
Coelho (1991), em uns “húmus humanìstico que energiza sua criação novelesca”. Um
bom exemplo de tão hìbrido estilo é o conto “A Rainha da Neve” (Snedronningen, The
Snow Queen, 1844), uma narrativa de formação de tessitura complexa e instigante que
se revela um rito de passagem da infância para a vida adulta, em uma analogia para os
primeiros contatos com a sexualidade. Essa obra, além de dialogar com narrativas
míticas e inspirar um variado leque de releituras e adaptações, tanto literárias quanto
audiovisuais, ainda, em um processo intratextual, referencia outros contos andersianos,
como “Sapatinhos vermelhos”, “A donzela de gelo”, “Jardim do Éden”, “A menina que
pisou o pão” e “O companheiro de viagem”. Propomos, nesta comunicação, analisar,
por meio dos estudos comparados, os diferentes diálogos intertextuais e intratextuais
dos contos andersianos a partir do conto “A Rainha da Neve”, como parte de nossa
pesquisa de pós-doutorado “Releituras do maravilhoso: A Rainha da Neve, de Hans
Christian Andersen, suas figurações e múltiplos diálogos”, finda em 2020.

Palavras-chave: Hans Christian Andersen. Intertextualidade. Rainha da Neve.

O HIBRIDISMO LITERÁRIO NO CONTO “AFLIÇÃO”, DE ANTON


TCHEKHOV

Maria Alice Sabaini de Souza Milani


UNIR
maria.aliceprbr@unir.br

Essa comunicação tem o objetivo verificar a presença da hibridez literária no conto


“Aflição”, ressaltando sobretudo a utilização da linguagem figurativa e das imagens
poéticas presentes no texto. Anton Tckekhov faz parte dos escritores que colaboraram
para a mudança que a literatura vivenciou no século XIX, pois seus contos apresentam

41
um final reticente, uma estrutura temporal alinear, um enfoque maior no acontecimento
narrativo, além de se dedicar aos enredos que tratam da vida cotidiana e de se debruçar
sobre a sondagem psicológica do personagem a partir da reverberação que a vivência do
acontecimento narrado provoca no íntimo, sobretudo, do protagonista. Tais reflexões
interiores são tão intensas e profundas que, muitas vezes, a narrativa parece não
prosseguir, no entanto tal escolha advém da preferência do escritor em produzir contos
que se desenvolvam de maneira vertical, ou seja, que se concentrem nas percepções e
reflexão das personagens, não buscando desenvolver narrativas que se projetem
horizontalmente por meio de uma sequência de ações executadas. Além dessas novas
perspectivas assimiladas pelo escritor em questão, na sua produção literária contística
também se nota a presença da hibridez literária, na medida em que Tchekhov borra os
limites entre os gêneros literários e propicia uma narrativa poética que se consolida pelo
uso de uma linguagem figurada, pela criação de certas imagens poéticas e pelo trabalho
com a linguagem na revelação dos afetos, impressões e percepções do protagonista.
Neste conto, por exemplo, o lirismo está na construção da linguagem e da própria
paisagem que compõe o cenário e interfere na atmosfera textual. O embasamento
teórico desse trabalho será: Bachelar (1989), Freedman (1971), Moisés (1968), Ogliari
(2014) entre outros.

Palavras-chave: Aflição. Anton Tchekhov. Hibridez literária.

O SÉCULO XIX NO BRASIL: O MEIO HISTÓRICO-SOCIAL E AS TEORIAS


CIENTÍFICAS NO ROMANCE NATURALISTA ALMA EM DELÍRIO

Rodrigo Donizeti Mingotti


UNESP/Ibilce
rodrigodmingotti@gmail.com

Na formação da história literária, de um modo geral, autores e títulos foram


negligenciados nas mais plurais circunstâncias e por motivos diversos. Neste inventário,
encontra-se o escritor brasileiro Canto e Mello, atrelado ao Movimento Naturalista,
tempestuoso no século XIX, mas que publicou suas obras tardiamente, o que justifica
parte de seu esquecimento pela crítica e história literária. Poucos são os que reconhecem
o escritor e suas produções e, assim, dedicam considerações a respeito. No seu romance
Alma em delírio, publicado em 1909, notam-se importantes referências e colocações não
só ao Naturalismo, de forma geral, como também ao contexto histórico, social e político
do século XIX. Nesta narrativa do gaúcho, é possível encontrar alusões à época
conturbada a qual corresponde à segunda metade do Brasil oitocentista, profundamente
marcada pelo fim do Segundo Reinado, início da Primeira República e pelos ideais de
progresso e modernização da sociedade, diante do afloramento das ciências, em
especial, da medicina social e da psiquiatria. Em Alma em delírio, através das descrições
da experiência de vida do protagonista Rogério Duarte – soldado, ex-combatente da
Guerra do Paraguai – é possível ter acesso ao panorama dos ideais progressistas e de
higienização social do período, a instalação de hospícios e o problema da loucura do
século, mediante determinismos do meio social. Aos modos de Émile Zola, com
L’Assommoir (1877), Canto e Mello explora questões do determinismo, do alcoolismo e
da loucura consequente, reconfigurados pelo contexto brasileiro. À vista disso, esta
comunicação tem por objetivo evidenciar o romance Alma em delírio, dantes esquecido,
elucidando suas principais acepções atreladas ao Naturalismo e à influência do meio, na

42
conjuntura sócio-histórica brasileira do século XIX, demarcada pelas teorias em torno
do alcoolismo, da loucura consequente e pelas campanhas de modernização e
higienização social, especialmente no ambiente da cidade do Rio de Janeiro.

Palavras-chave: Alcoolismo. Canto e Mello. Loucura. Naturalismo Brasileiro. Século


XIX.

O DESEJO DE (DES)HABITAR O OUTRO: O CORPO QUARE NA (PO)ÉTICA


DE WALDO MOTTA

Fernando Luís de Morais


UNESP/Ibilce
dmorays_2@hotmail.com

O panorama social contemporâneo – embora muitas vezes fortemente marcado pelo


conservadorismo – mostra-se, por força de movimentos de contestação, como palco
onde o debate acerca de questões de gênero e de raça ganha impulso. A manobra
reacionária de cerceamento de corpos tidos como “abjetos” parece ter surtido um efeito
contrário: uma multiplicação e uma visibilização ainda mais acentuadas dessa
“subclasse”. Ao refutar e colocar em xeque as disposições sociais radicadas num
patriarcalismo retrógrado, cuja voz deliberativa é notoriamente branca, cis-
heterossexual e elitista, há uma necessidade premente de reavaliação da história
daqueles sujeitos – até então destituídos de qualquer privilégio. A partir da impugnação
do discurso do dominador, estabelece-se uma dinâmica outra, fomentadora de uma
articulação discursiva renovada, que transpõe silêncios há muito impostos, resistindo à
tendência à exclusão. O intelectual e ativista martinicano Frantz Fanon defende haver
“uma zona de não-ser, uma região extraordinariamente estéril e árida, uma rampa
essencialmente despojada, onde um autêntico ressurgimento pode acontecer” (FANON,
2008, p. 26). A arte literária permite tal transformação, abarcando esse repertório de
memórias de aflição e amargura, mas também de luta e resistência. A poesia
contemporânea, cada vez mais voltada para questões da vida real, procura justamente
construir uma zona de atenuação da dor e de reposicionamento social. Pensando nessa
problemática, proponho apresentar uma leitura do poema “Preceituário para racistas
com receita de rebuçado e contra-receita de angu”, do poeta capixaba Waldo Motta.
Sustento que, na busca pela possibilidade de dizer, Motta constrói uma produção
(po)ética cuja linguagem é altamente munida de uma consciência crítica e visceral,
construìda como resistência às coibições que se impõem sobre o corpo “subalterno”.

Palavras-chave: Corpo quare. (po)ética. Waldo Motta.

43
TRAÇOS DO MARAVILHOSO EM JOGOS VORAZES, DE SUZANNE
COLLINS

Guilherme Augusto Louzada Ferreira de Morais


UNESP/Ibilce
gui_amorais@hotmail.com

É possível que obras literárias contemporâneas, como Jogos vorazes, conservem traços
do maravilhoso? Nas histórias desse universo, tal como teorizado por Todorov (1969;
1975), para quem o maravilhoso é um gênero literário vizinho do fantástico e do
estranho, acontecimentos e seres sobrenaturais são aceitos desde o princípio como
normais pelos personagens e pelo(s) leitor(es), visto que estão integrados à realidade do
mundo diegético, regido por leis diferentes das nossas. Com isso, podemos dizer que o
maravilhoso possui uma lógica própria, uma vez que o sobrenatural é parte integrante e
essencial da ordem interna de cada história. Em suma, esse gênero se caracteriza “pela
existência de feitos sobrenaturais, sem implicar a reação que provocam nos
personagens” (TODOROV, 1975, p. 53). Marinho (2009), em expandindo esse
conceito, considera o maravilhoso como um gênero narrativo, que, além de possuir uma
lógica própria, configura um modo específico de narrar, neste caso, a estrutura
identificada por Propp (2010, p. 90) em seus estudos a respeito do conto maravilhoso:
“todo desenvolvimento narrativo que, partindo de um dano (A) ou uma carência (a) e
passando por funções intermediárias, termina com o casamento (W0) ou outras funções
utilizadas como desenlace”. Enfim, o maravilhoso surgiu primeiro nos mitos. Em
seguida, floresceu nos contos de fadas, desdobrando-se em outras formas literárias,
como a ficção científica, com o passar dos séculos. Por essa razão, esse gênero pode ser
visto como um repositório que reúne em si diferentes fenômenos literários (e até mesmo
cinematográficos). Com efeito, conto de fadas e ficção científica compartilham diversas
afinidades, como a presença do sobrenatural aceito, da indeterminação temporal e
espacial e do modo único de contar histórias, singularizado pelas funções proppianas.
Nesta apresentação, objetivamos mostrar como esses elementos são recuperados e/ou
atualizados, por Suzanne Collins, no plano narrativo do romance Jogos vorazes.

Palavras-chave: Indeterminação temporal e espacial. Funções proppianas. Jogos


vorazes. Maravilhoso. Sobrenatural aceito.

POEMA HERÓI-CÔMICO, UM GÊNERO RESILIENTE DO MUNDO LUSO-


BRASILEIRO

Fernando Lima e Morato


limaemorato.1@buckeyemail.osu.edu

O presente trabalho procura chamar a atenção para a sobrevivência longeva do gênero


de poesia narrativa herói-cômica no universo lusófono e de como este pode ser um
aspecto determinante, ainda que até o momento não totalmente apreciado, da evolução
do romance luso-brasileiro. Apesar de este tipo de poesia identificar-se com as poéticas
clássicas, nas quais se originou, sobretudo as setecentistas, verifica-se uma enorme
produção e circulação de poemas herói-cômicos em português ao longo de todo o século
XIX, conforme nos informa o estudo clássico de Alberto Pimentel O poema herói
cômico português (1922). A análise que desenvolvo procura sugerir que as

44
oportunidades oferecidas por este gênero, sobretudo o uso obrigatório da ironia,
parecem estar na raiz da formação do estilo de futuros romancistas como Camilo
Castelo Branco e Machado de Assis, que, em seus anos de juventude, escreveram
poemas herói-cômicos, respectivamente “A Murraça” e “O Almada”. A autoconsciência
metalinguística, tão importante para a poesia de corte herói-cômico sobrevive nas obras
posteriores desses autores. Da mesma forma, a enorme quantidade de poemas herói-
cômicos em língua portuguesa já catalogados e ainda por identificar, revela um
ambiente de receptividade em certa medida “elitista” que pode ajudar a reavaliar a
maneira como se entende a evolução da narrativa oitocentista no universo da língua
portuguesa, assim como de suas práticas de leitura.

Palavras-chave: Ironia. Historiografia. Poema herói-cômico. Romance.

O MITO DO CAPITALISMO EM BALZAC: A FORMAÇÃO DO


EMPREENDEDOR

Leilane Luiza Ferreira Mota


UFOP
leilane.mota@aluno.ufop.edu.br

Durante a Revolução Industrial, o mundo começa a funcionar à medida que o dinheiro


circula e o tempo adquire valor de moeda em prol da produtividade. Em meio à
ascensão do capitalismo, ocorre na França, em 1789, a Revolução Francesa, evento
responsável pela horizontalização no tratamento entre pessoas e a organização de uma
nova ordem do mundo. Posteriormente, já durante a Restauração, Balzac começa a
consolidar seu projeto de representação da sociedade francesa da primeira metade do
século XIX. Um dos livros pertencentes a A comédia humana e que consolida seu
projeto é O pai Goriot, romance no qual vemos a jornada do jovem arrivista Eugène de
Rastignac para ascender socialmente, tornar-se rico, recuperando, assim, o prestigio de
sua família, nobre e decadente, e que está em busca de sua identidade. O aprendizado do
jovem é cristalizado ao final do romance após os ensinamentos de Vautrin e da
viscondessa de Beauséant. Para aprender o mecanismo social, Eugène aproveita um dos
conselhos de Vautrin, que ganha vantagem sobre a viscondessa: vender-se quando a
oportunidade for boa. Numa sociedade em que o dinheiro está em toda parte, é
compreensível que o caráter também seja mercantilizado, pois como Rastignac afirma, é
preciso rastejar, bajular e mentir para tornar-se um homem da sociedade. Em A comédia
humana, a hiperconectividade das narrativas demonstra a força cognitiva da literatura de
Balzac, desenvolvida por meio da verossimilhança, da identificação com as personagens
e do realismo em um jogo proposto pelo narrador. O processo de formação de Rastignac
termina com sua compreensão de que não é possível resolver a contradição, mas sim
aprender a habitá-la. À sombra da literatura de Balzac e de suas personagens arrivistas
está Napoleão Bonaparte, o usurpador que conquistou sozinho a Europa e fundou,
conforme sua vontade, uma dinastia: a dos self-made man.

Palavras-chave: Balzac. Capitalismo. O pai Goriot. Romance. Self-made man.

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O PECADO ORIGINAL E A QUEDA SOB A ÓTICA DE DOSTOIÉVSKI EM
“O SONHO DE UM HOMEM RIDÍCULO”

Carlos Eduardo Varella Pinheiro Motta


PUC-Rio
cvarell@gmail.com

Dostoiévski é mais conhecido pelos grandes romances, mas também se aventurou, com
sucesso na narrativa curta e fantástica, a última uma inspiração assumida para autores
como Kafka. Um bom exemplar dessa vertente “O sonho de um homem ridìculo”,
publicado em 1877 no Diário de um Escritor. Nesta obra, o escritor russo nos brinda
com uma interpretação pessoal de dois motivos recorrentes da mitologia cristã: o
Pecado Original e a Queda, questões que possuem relação direta com as recorrentes
críticas do autor à Modernidade e às utopias racional e científica, que configuram uma
postura de humanismo ridículo, que, não raro, vai desembocar no niilismo e na ideia do
suicídio lógico. Usando como ferramenta de apoio as reflexões críticas do filósofo
existencialista Léon Chestov, no livro As Revelações da Morte, o objetivo da presente
comunicação é associar o arcabouço mitológico que estrutura o conto com a crítica
filosófica e religiosa aos hábitos de uma sociedade corrompida pelo orgulho e a
autossuficiência, fruto de um projeto de dessacralização e autodeificação, que se afigura
como uma segunda e constante Queda. O protagonista do conto, denominado
simplesmente como “Homem Ridìculo”, passa do desespero da condição de cético para
a de portador de uma revelação que lhe foi concedida por meio de um sonho misterioso,
cuja mensagem pode levar a humanidade tanto à salvação quanto à perdição definitiva.

Palavras-chave: Dostoiévski. Homem Ridículo. Humanismo Ridículo. Pecado Original.


Queda.

BRUXAS, SEREIAS E VIRGENS: A FORÇA DO FEMININO EM CONTOS DE


EDGAR ALLAN POE

Sérgio Gabriel Muknicka


UNESP/FCLAr
sergiomuknicka@hotmail.com

Este trabalho pretende, por meio de uma leitura do texto crítico “A filosofia da
composição”, de Edgar Allan Poe (1809-1849), analisar três contos desse autor:
“Berenice”, “Ligeia” e “Morella”. Nesses contos, as personagens femininas são
componentes fulcrais da narrativa. Considerar-se-á, também, à luz do texto teórico, o
modo como Poe compôs essas obras. Além de, é claro, comentarmos a poética do autor
e a maneira como as personagens femininas aparecem inseridas nela. Edgar Allan Poe,
por meio do pleno domínio de suas proposições teóricas, faz de seus contos um
laboratório para a experimentação de novas técnicas e para a construção de efeitos de
sentido. Além disso, frisa-se a reiteração dos recursos preferidos do autor, como a
repetição, as epígrafes retomadas no interior da narrativa por meio de diálogos e
digressões narrativas, bem como a simbologia de nomes. O autor elabora em detalhe
seus contos, fazendo com que esses seres de papel, poliédricos e especulares, possam
ser lidos como facetas do próprio artífice atormentado. Poe constrói arquitetonicamente
seus contos, enlaçando suas personagens num enredo cuidadosamente construído. Desta

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forma, essas personagens, por meio de suas atormentadas histórias, revelam-se
extremamente complexas; são mulheres que, ao mesmo tempo, sofrem agruras pelas
mãos de seus amados e empunham a maça com a qual os fustigam – nem sempre do
além-túmulo. Berenice, Morella e Ligeia apresentam-se, pois, como personagens
enigmáticas e especulares, exatamente da maneira pela qual viria a ser conhecido o
atormentado e sensível Poe.

Palavras-chave: Conto. Edgar Allan Poe. Personagem feminino.

AS ADAPTAÇÕES DE ALMODÓVAR: HISTÓRIAS QUE (NÃO) SÃO SUAS

Débora Spacini Nakanishi


UNESP/Ibilce
debora.nakanishi@gmail.com

Pedro Almodóvar é um cineasta conhecido pelo estilo inusitado, porém constante,


facilmente reconhecível, e entendido como uma marca. Além dos aspectos visuais,
como mise-en-scène com cores saturadas e moda retrô, a filmografia do espanhol
também é distinta por assuntos recorrentes. Uma das questões que mais circuncidam o
fazer artístico de Almodóvar é a capacidade de escrever histórias nas quais as mulheres
se sentem deveras contempladas e entendidas. Estudiosos se desdobram sobre o fato do
diretor ser um homem gay escrevendo personagens femininas tão relevantes, e muitos
encontram uma possível explicação no relacionamento intenso com a mãe. Os enredos
de Almodóvar partem de experiências reais, passando pelo filtro da memória e sendo
transformadas em ficção. Por outro lado, nos perguntamos a respeito dos (poucos)
trabalhos de adaptação no conjunto de sua obra: Carne trêmula (1997), A pele que
habito (2011) e Julieta (2016). Se os argumentos de seus filmes partem da história
pessoal, o que acontece nas adaptações? Almodóvar argumenta apenas se inspirar nos
hipotextos para criar, nos filmes citados, outras histórias. Entretanto, no caso de Julieta,
por exemplo, podemos facilmente identificar as semelhanças. Dessa forma, neste
trabalho, propomos uma reflexão acerca das adaptações de Almodóvar em relação aos
enredos autobiográficos. Encontramos suporte na literatura sobre o cineasta, em autores
como Allison (2001), D’Lugo (2013) e Mira (2013); além disso, nos apoiamos em
textos fundamentais dos estudos de adaptação, como os de Hutcheon (2006) e de Leitch
(2009).

Palavras-chave: Adaptação. Almodóvar. Cinema autobiográfico.

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A RELAÇÃO ENTRE A LITERATURA E O MAL EM “A MORTE DE
BALDASSARE SILVANDE, VISCONDE DE SYLVANIE” (1894), DE MARCEL
PROUST

Manoela Caroline Navas


UNESP/Ibilce
manoelanavas@hotmail.com

A relação do homem com o mal encontra na literatura um subterfúgio para que possa
expressar-se livremente, sem o pré-julgamento dos conceitos, da razão ou do
empirismo. Em uma carta a seu amigo, da entrega de seu livro de contos, o escritor
francês, Marcel Proust, nos revela que a inspiração para a vida não seria de ordem da fé
ou do gênio, mas sim seria a própria morte. A presente comunicação tem como objetivo
analisar o conto “A morte de Baldassare Silvande, visconde de Sylvanie”, de outubro de
1894, com o intuito de analisar a relação do homem com o mal diante da sensação da
aproximação da morte e da experiência mística. O conto inaugura o livro Os prazeres e
os dias, coletânea de narrativas breves que Proust publicou em 1896, e conta a história
de um homem que se encontra em face com o próprio anúncio de sua morte e que
começa a ponderar sobre o tema, inebriado por uma febre intensa e uma decepção
amorosa, e em consonância com o conteúdo da carta citada, questiona a necessidade do
Mal para o Bem. A esse respeito, serão utilizadas as considerações de George Bataille
acerca da relação entre a literatura e o mal, mais especificamente, como a literatura é o
campo da expressão da experiência mística, folha em branco na qual o ser humano é
capaz de esgotar suas ponderações existenciais. Temos então contato os caminhos que
Proust já começava a percorrer antes da escrita da sua obra monumental, já mostrando
sua crítica à sociedade da época e seus questionamentos acerca da vida.

Palavras-chave: Contos. Experiência Mística. Morte. Proust.

“O QUE ESTOU FAZENDO NESTE LUGAR E QUEM SOU EU?”: A SOLIDÃO


FEMININA EM WIDE SARGASSO SEA, DE JEAN RHYS

João Lucas Nunes


UNESP/Ibilce
jlucasn@outlook.com

O romance da autora dominiquense Jean Rhys (1890-1979), Wide Sargasso Sea,


publicado em 1966, é referência mundial nos estudos pós-coloniais e de literatura
inglesa em função de sua intertextualidade com a obra Jane Eyre (1847), de Charlotte
Brontë (1816-1855). Em seu romance, Jean Rhys traz ao leitor a mente arruinada de
Antoinette Cosway, personagem que aparece em Jane Eyre como Bertha Mason, a
primeira esposa de Mr. Rochester. Retratada em Jane Eyre de forma selvagem, segundo
o discurso de seu marido, Bertha é silenciada e não consegue contar sua própria história,
uma vez que fora trancafiada por anos dentro da mansão de Rochester. Em Wide
Sargasso Sea, temos a oportunidade de saber pela própria personagem o que realmente
aconteceu antes de seu confinamento. A narrativa funciona como um spin-off; trazendo
também o conflito e a tensão na divisão do turno narrativo, ou seja, o romance é contado
por Antoinette e seu esposo; na segunda parte, o enredo é contado sob a perspectiva de
seu marido, cujo nome permanece anônimo. Contudo, em função de sua

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intertextualidade com o texto de Brontë, sabemos que trata-se de Rochester. Nesta
comunicação, propomos uma leitura crítica do romance, sob a perspectiva do
isolamento físico e psicológico que a protagonista é submetida, como também abordar
questões como o exílio e o sentimento complexo da “procura por um lar e um lugar ao
qual pertencer”, como aponta Eleani Savory, em Cambridge Studies in African and
Caribbean Literature – Jean Rhys (1999), reforçando tal sentimento como uma das
facetas da cultura caribenha que Rhys reflete em sua protagonista. Além disso,
pretendemos pontuar como a personagem, apesar de reforçar e imprimir uma nova
forma de representação feminina, ainda acaba por ser silenciada ao final da narrativa, e
dialogar com a leitura crítica de Savory do romance de Rhys.

Palavras-chave: Exílio. Isolamento. Marginalização.

CONSIDERAÇÕES SOBRE A LINGUAGEM POÉTICA EM L´ÉCUME DES


JOURS, DE BORIS VIAN

Andressa Cristina de Oliveira


UNESP/FCLAr
andressa.oliveira@unesp.br

L’Écume des jours é uma obra em prosa do escritor, cantor e artista francês Boris Vian,
publicada em 1947, e considerada pela crítica como sua obra prima, que conta a história
de amor entre dois jovens – Colin e Chloé. Esta adoece após o casamento – descobre-se
que tem um nenúfar no pulmão. Após o conhecimento deste fato, Colin volta todos os
seus esforços – e sua fortuna – para tentar curá-la, contudo, em vão. Para Bens (1963),
as invenções do autor nada mais são do que tentativas de mostrar que a língua não passa
de uma convenção, a qual funciona com o mesmo tanto de opacidade que suas próprias
invenções. Ressalta o caráter absurdo da linguagem do autor francês e coloca em
questão não somente o problema do convencional na linguagem, mas demonstra,
através da realização de exercícios verbais, a sociedade tal qual é concebida pelos
homens, isto é, com virtudes e vícios de linguagem. Tadié (1994) apresenta as
características das narrativas ditas poéticas, as quais, como o nome já evidencia, trazem
aspectos estruturais da prosa e, também, da poesia. Isto se deve ao fato de que este tipo
de narrativa possui a ficção proveniente do romance; no entanto, ao mesmo tempo, os
processos narrativos remetem à poesia, seus efeitos e modos de ação. É especificamente
no trabalho com a linguagem que o caráter poético da narrativa é revelado. Demonstrar-
se-á, aqui, de forma breve, de que maneira isto pode ser verificado na prosa de Vian,
isto é, por meio do aparecimento de sucessivas imagens, da musicalidade e do ritmo,
assemelhando-a a um longo poema em prosa. Nela, a função poética volta a atenção
para a mensagem e, como ocorre no poema, os eventos mencionados são esvaziados de
sentido, uma vez que o foco está no trabalho com a própria linguagem.

Palavras-chave: Boris Vian. Literatura francesa. Narrativa poética. Século XX.

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QUESTÕES CONCEITUAIS ACERCA DO ESPAÇO NO ROMANCE
HISTÓRICO BRASILEIRO

Cristiano Mello de Oliveira


UFRJ
crisliteratura@yahoo.com

A presente comunicação (parte da minha pesquisa de pós-doutorado) objetiva investigar


como se apresenta a configuração do espaço cenográfico no Romance Histórico
brasileiro. Importa-nos identificar como se opera a figuração descritiva – casas,
casarões, igrejas, mosteiros, sinagogas, prédios públicos, pontes, logradouros, praças,
entre outros -, com vistas a interpretar tais representações. É lúcido atestarmos que
muitos romancistas históricos investiguem compêndios históricos, documentos do
período abordado, arquivos institucionais, centros de pesquisas, museus, sondando
como representar ou forjar o pano de fundo dos enredos históricos formulados. A
integração da montagem do cenário de época (funcionando como localizações
espaciais), adicionando à reconstituição dos seus ambientes internos, juntamente com o
desenvolvimento da trama histórica, reforça o empenho do autor no apelo à autenticação
do passado. A linha de pesquisa a qual este projeto se insere - Literatura, História e
Sociedade - possui como objetivação averiguar o estudo das figurações dos discursos de
caráter historiográfico no discurso literário, portanto, acreditamos deixar contribuições
relevantes para essa proposta. Como lastro teórico, pretendemos trabalhar com autores:
Bachelard (2006); Pimentel (2000); Loventhal (1998); Lins (1978); Zubiaurre (2001),
dentre outros que possam sustentar a nossa abordagem teórica. Durante tal pesquisa,
pretendemos utilizar a metodologia bibliográfica, identificando os principais fragmentos
descritivos que iluminem a morfologia urbana encenada em alguns enredos literários
exemplificados.

Palavras-chave: Novo Romance Histórico brasileiro. Questões conceituais acerca do


espaço. Representação do cenário

A MONTAGEM CINEMATOGRÁFICA COMO CRÍTICA SOCIAL EM


CAMINHOS CRUZADOS, DE ERICO VERISSIMO

Marília Corrêa Parecis de Oliveira


UNESP/Ibilce
marilia.parecis@gmail.com

Quando se fala na incorporação de procedimentos cinematográficos pela literatura,


tende-se a dizer, de modo genérico, que, no contexto brasileiro, entre as décadas de
1910 a 1920, a literatura dialogou de modo muito evidente com o cinema, incorporando
no texto escrito recursos oriundos da linguagem audiovisual. Contudo, também se diz
que o romance brasileiro, a partir da década de 1930, se afastaria do experimentalismo
vanguardista e seguiria rumos mais comprometidos com o fator social. Nesse sentido,
ainda que se diga, sem maiores problemas, que a partir dos anos 1960-1970 a literatura
dialoga de modo muito evidente com o cinema, quando a indústria cultural se consolida
de fato e se expande no Brasil, essa “herança cinematográfica” certamente permeou a
produção literária de algum modo, por isso, com o intuito de avaliar como essas
estratégias foram incorporadas e compartilhadas e em quais efeitos estéticos e de

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sentido essa incorporação resulta, interessa-nos, nesta comunicação, investigar como o
diálogo com o cinema não se encerra no romance brasileiro na década de 1930, de
maneira a identificar como ele se manifesta, particularmente, no romance Caminhos
Cruzados, de Erico Verissimo. A construção de Caminhos Cruzados remete a aspectos
de uma linguagem cinematográfica, com uma narrativa sincopada e fragmentária. Além
disso, constitui-se de frases que revelam uma escassez de conjunções, o que se traduz
em construções justapostas e em paralelo – aos moldes da montagem do cinema. A
partir disso, procuraremos demonstrar como a constituição formal do romance revela
traços de experimentalismo linguístico, unido à incorporação de procedimentos da
linguagem cinematográfica, para problematizar o fator social.

Palavras-chave: Caminhos Cruzados. Cinema. Literatura. Montagem Cinematográfica.


Romance de 30.

LITERATURA E DANÇA: UMA PROPOSTA INTERDISCIPLINAR PARA O


ENSINO DE ROMANTISMO NO ENSINO MÉDIO

Thadyanara Wanessa Martinelli Oliveira


UFSCar
thadyanara@gmail.com

A relação entre Literatura e Dança está presente nas falas de alguns teóricos da
Literatura. Um desses exemplos é Paul Valéry: segundo o poeta e crítico francês (2011),
a dança não consiste em um entretenimento frívolo ou algo apenas limitado a algumas
performances para a diversão das pessoas que a contemplam ou que dela participam;
mais do que isso, é poesia da ação geral dos seres vivos, pois ela desenvolve
características essenciais dessa ação, transformando o corpo dançante em objeto.
Octavio Paz (2014) também estabelece aproximação entre essas duas linguagens
artísticas, afirmando que a relação entre ritmo e palavra poética não é diferente da
existente entre dança e ritmo musical. Dessa maneira, a partir da noção da dança como
atividade rítmica e parte da cultura corporal dos sujeitos, conforme expressam os
Parâmetros Curriculares Nacionais (PCNs) de Educação Física (2009), a proposta deste
trabalho é discutir de que forma as disciplinas de Literatura e Educação Física podem
estabelecer relações dialógicas para pensar questões como ritmo, corpo e linguagem
poética dentro de suas práticas pedagógicas para o Ensino Médio, além de possibilitar o
despertar de interesse dos alunos pela Literatura. O diálogo entre as disciplinas de
Educação Física e Língua Portuguesa se relacionam, pois, ainda de acordo com os
PCNs (2009), a grande área de Linguagens se compõe das disciplinas de Artes,
Educação Física, Língua Portuguesa e Língua Estrangeira. Assim, o objetivo deste
trabalho é apresentar uma possibilidade de atividade didático-pedagógica para
professores, considerando como público-alvo o segundo ano do Ensino Médio. Para
fundamentar nossa proposta didática, utilizaremos referenciais teóricos que aproximam
a dança do fazer literário, tais como Valéry (2011) e Paz (2014), além dos PCNs (2009)
de Língua Portuguesa e Educação Física, documentos norteadores oficiais que servem
de apoio ao planejamento de aulas e ao desenvolvimento do currículo escolar.

Palavras-chave: Dança. Educação Física. Ensino Médio. Literatura.

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ÁLVARES DE AZEVEDO E AS IMAGENS UTÓPICA E DISTÓPICA NOS
SONETOS “UM MANCEBO NO JOGO SE DESCORA” E “AO SOL DO MEIO-
DIA EU VI DORMINDO”

Elisângela Maria Ozório


Secretaria da Educação do Estado de São Paulo
profelisma@gmail.com

A utopia traduz-se por uma imagem de um lugar perfeito, recriado por Thomas More
(2015) em seu livro cujo título é A Utopia, e onde o mesmo autor assume que o
significado da palavra utopia está na ausência de um espaço físico na realidade. De
qualquer maneira, a ideia de perfeição, seja enquanto espaço, seja enquanto tempo, seja
enquanto imagem, permeia o desejo humano de viver algo melhor do que a realidade
permite. Durante o Romantismo no Brasil, a utopia parece encontrar eco livre para a
criação e a propagação de sua imagem perfeita, sendo os poetas ultrarromânticos um
indicativo de que a procura pela utopia fazia sentido diante de um mundo que a negava.
Beatriz Berrini (1997) já tratava da utopia romântica como forma de expressão e de
busca dos poetas, uma vez que eles procuravam ora no retorno à infância, ora na morte
o encontro do universo perfeito. No entanto, como fala Russel Jacoby (2007), em livro
que não trata do Romantismo, a utopia não pode existir sem a distopia, não porque essa
é seu contrário, mas porque há uma espécie de dependência entre ambas. E nós
acrescentamos que a distopia e a utopia estão em constante diálogo, posto que a distopia
responde pelo tempo e pelo espaço imperfeitos. Quando os ultrarromânticos pensam a
utopia em seus poemas, se abrem para a representação da distopia enquanto um real no
qual sobrevivem. Refletindo sobre a distopia no ultrarromantismo, o presente texto tenta
entender como a imperfeição é recriada em dois sonetos de Álvares de Azevedo (2011),
no livro Lira dos vinte anos: “Um mancebo no jogo se descora” e “Ao sol do meio-dia
eu vi dormindo”.

Palavras-chave: Álvares de Azevedo. Distopia. Romantismo. Utopia.

EMPODERAMENTO NARRATIVO NA OBRA DE EMILY BRONTË:


CONCEITO E ANÁLISES

Kalina Alessandra Rodrigues de Paiva


IFRN
kalinissima@yahoo.com.br

Partindo da leitura de O morro dos ventos uivantes, costurado por uma perspectiva
marxista, o trabalho ressalta a estética narrativa vanguardista de Emily Brontë e seus
reflexos no resultado literário do romance. Para tanto, como objetivo geral, buscou
estudar a forma literária do romance do século XIX, analisando o espaço e a
mentalidade social em que a obra foi gestada. Também, visou confrontar os tempos do
enunciador e o da enunciação como estratégias para o desdobramento da narrativa, sob a
forma de memórias, apontando elementos estéticos como demarcadores das relações de
poder, tanto refletidos na linguagem, quanto na estrutura do romance, demonstrando,
assim, o uso da memória como meio de captação de tempo e espaço específicos e o
modo como as relações de classe são experienciadas, legitimadas e perpetuadas. As
escolhas metodológicas valeram-se de ampla pesquisa bibliográfica relativa ao tema,

52
reportando-se a outras obras literárias como contraponto, sob o crivo do pensamento
marxista como também de autores posteriores que se vincularam a Marx, através de
desdobramentos de suas teorizações. Como resultado, a título de contribuição
acadêmica, apresenta uma visão sobre a propriedade privada como constituinte de
identidades e propõe um conceito-chave, o de empoderamento narrativo, que se estende
para qualquer obra literária que tenha sido produzida em contextos históricos nos quais
há silenciamento de falas; nos quais há luta pela igualdade civil; ou nos quais se vive
em regimes opostos ao Estado democrático de direito. Eagleton, Marx, Engels, Federici,
entre outros, proporcionaram o embasamento deste trabalho.

Palavras-chave: Empoderamento narrativo. Luta de classes. Memória e narração.

LUÍS DA CÂMARA CASCUDO E MÁRIO DE ANDRADE EM DIÁLOGO:


LENDAS BRASILEIRAS EM MACUNAÍMA

João Paulo Moda Paladino


UNESP/FCLAr
joaopaulom.paladino@gmail.com

Esta comunicação tem como objetivo abordar as relações entre a cultura presente na
literatura oral, registrada por Luís da Câmara Cascudo, e o registro das produções orais
na obra Macunaíma, de Mário de Andrade. O livro, publicado pela primeira vez em
1928, em um Brasil que aspirava pelos ideais modernistas, que utiliza do folclore para
lançar seus rompantes artísticos, traça sérias críticas e profundas reflexões sobre o povo
brasileiro e o cenário nacional. Em sua narrativa, Mário de Andrade traz, por meio de
mitos e símbolos presentes, diversos conceitos sobre o folclore brasileiro, compilados
por Câmara Cascudo em seus trabalhos sobre a cultura nacional, embasados em
pesquisa séria a profunda dos usos e dos costumes, num entendimento da importância
do registro do folclore e de sua relevância para as práticas sociais. O diálogo entre obras
e autores, estabelecido por esta investigação, propõe uma reflexão acerca da
materialização dos saberes populares aplicados nos estudos e observações de caráter
mais erudito. Ainda nesse eixo de considerações, há um profundo interesse em discutir a
diversidade cultural brasileira através da personagem Macunaíma, que, ao ser destituída
de caráter, acaba apresentando várias possibilidades que parecem personificar a
miscigenação, os regionalismos e a pluralidade de costumes presentes no cenário
nacional. Compreendemos que a obra de Mário de Andrade, ao tratar de elementos
folclóricos, estabelece ligação com os registros realizados por Luís da Câmara Cascudo,
mostrando-se fundamental para a demonstração da identidade nacional e para o registro
histórico e comportamental da sociedade brasileira.

Palavras-chave: Câmara Cascudo. Cultura. Folclore. Macunaíma. Mário de Andrade.

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UTILIZAÇÃO DO GÊNERO TEXTUAL HISTÓRIAS EM QUADRINHOS
COMO SUPORTE PEDAGÓGICO

Ivone Colu Frederico Panzarin


Universidad Autónoma de Asunción - UAA - Paraguay
panzarin@bol.com.br

A utilização do gênero histórias em quadrinhos pode incentivar a prática da leitura e da


escrita criativa. A partir das narrativas de produção, é possível conhecer a trajetória e os
elementos linguísticos para produção desse gênero textual, com o propósito de analisar
os recursos estilísticos que o estruturam, como: recursos gráficos, balões, diálogos e
onomatopeias. Posto isso, através das histórias em quadrinhos é possível trabalhar
conteúdos relacionados com os componentes curriculares, como a literatura, a
interpretação de texto, a produção textual (coerência e coesão), a escrita do gênero
textual com inferências, os contextos históricos e os conteúdos da atualidade. Segundo
Brasil (2017, p. 136), no Ensino Fundamental - Anos Finais, “amplia-se o contato dos
estudantes com gêneros textuais relacionados a vários campos de atuação e a várias
disciplinas”. Com a ampliação dos gêneros textuais, há a possibilidade de trabalhar
várias estratégias como suporte de compreensão em diversas disciplinas, possibilitando
ampliar o repertório da escrita e da leitura na construção do conhecimento. De acordo
com Almeida (2019, p. 20), “a inclusão das HQ em sala de aula, nesse caso nas aulas de
Língua Portuguesa, possibilita ao estudante transitar entre linguagens, associando a
linguagem gráfica (imagética) à linguagem escrita”. A integração das histórias em
quadrinhos nas aulas possibilita aos alunos a compreensão e o entendimento das
linguagens, sendo elas gráficas ou escritas. Com isso, é possível criar possibilidades
para ampliação das habilidades relacionadas aos conhecimentos da Língua Portuguesa,
nos variados campos como: a semântica, a fonologia e o léxico. As histórias em
quadrinhos atualmente são utilizadas para o desenvolvimento da aprendizagem de
forma interdisciplinar. Elas guardam possibilidades específicas entre as imagens e as
escritas inseridas, pois contemplam formas expressivas pela unificação de imagem e
texto, para transmitir o conhecimento lúdico e atrativo.

Palavras-chave: Escrita. Habilidades. Leitura.

“WELCOME, O LIFE!”: O KÜNSTLEROMAN DE JAMES JOYCE COMO


GALHO MORTO DO BILDUNGSROMAN

Hêmille Raquel Santos Perdigão


UFOP
hrsperdigao@yahoo.com.br

O Bildungsroman é a denominação dos romances que narram a trajetória de


aprendizagem dos personagens, tendo, como principal exemplo, a obra de Goethe, Os
anos de aprendizagem de Wihelm Meister. O exemplo de Goethe foi reproduzido por
outros autores, como Jane Austen, Stendhal e Balzac. Há aqueles que defendam que os
romances de formação se estenderam até o século XX, todavia, no presente trabalho,
defendo que esse século, ao contrário, marca a crise deles. Para tal, apresento uma
análise comparativa dos romances O Pai Goriot, de Balzac e Um Retrato do Artista
quando Jovem, de James Joyce, apontando as características do Bildungsroman ainda

54
presentes na obra do século XIX e que não reaparecem na do século XX. A conclusão
foi que a sociedade, sobretudo os adultos, são parte do processo de formação
balzaquiano e o fim do processo significa justamente a capacidade de bem viver na
sociedade. Entretanto, as mudanças dos problemas mundiais de um século para o outro
exigiram narrativas distintas. Isso explica o porquê de Um Retrato do Artista quando
Jovem não compartilhar as características do Bildungsroman, como a transformação da
criança em um adulto, mas ter características do Künstleroman, com a transformação do
jovem em um artista. Dessa forma, O Pai Goriot¸ de Balzac, é representante do século
em que a árvore Bildungsroman ainda possuía galhos vivos enquanto Um Retrato do
Artista quando Jovem, ao lado de outros romances do mesmo período, são galhos
mortos dessa árvore centenária.

Palavras-chave: Bildungsroman. Künstleroman. Realidade Regressão.

O PERCURSO LÍRICO E A DECADÊNCIA FAMILIAR EM OARQUIPÉLAGO


DA INSÔNIA, DE ANTÓNIO LOBO ANTUNES

Daniella Sigoli Pereira


UNESP/Ibilce
daniellasipereira@hotmail.com

O arquipélago da insônia tem como espaço central um casarão outrora imponente,


localizado no Alentejo, símbolo do poder de uma família tradicional portuguesa agora
em ruínas, onde flagramos o encontro do avô, representante do poder patriarcal, seu
neto autista e seus empregados submissos para nos contar a trama da decadência que
atravessa as três gerações desse núcleo familiar. Marcado por um discurso polifônico
com focalização estereoscópica, lemos o relato de vozes, vivas e mortas, que alterna
entre o factual e o onírico, o presente e o passado e a percepção interna e a realidade
externa, compondo os elementos para a construção de mais um romance poético
integrante do percurso lírico de António Lobo Antunes. Para anunciar tais transições
diegéticas e discursivas, assim como toda a decadência da família tradicional portuguesa
(enquanto queda de todo um modo coletivo de ser português), Lobo Antunes lança mão
de uma linguagem altamente figurada, marcada principalmente pela utilização de
imagens metafóricas, metonímicas, simbólicas e alegóricas. Tal linguagem emerge
geralmente quando o plano memorialístico irrompe no discurso, fazendo com que o
tempo e o modo de experienciá-lo se tornem subjetivos, característica fundamental, de
acordo com Tadié (1974), para que uma narrativa possa configurar uma linguagem
poética, fruto de uma integração entre a percepção sensorial-emotiva e a tentativa de
apreensão e interpretação do mundo, provocando uma tal significação singular que, ao
nos revelar o mundo ficcional, permite-nos também desvelar e apreender o sujeito que o
considera poeticamente.

Palavras-chave: António Lobo Antunes. Memória. Romance lírico.

55
A PERSONAGEM EMÍLIA E SEU AUTOR: UM ESTUDO DOS VÍNCULOS
EXPRESSOS

Geovana Maria David Pinheiro


UNESP/FCLAr
geovana.pinheiro@unesp.br

Esta apresentação propõe uma discussão sobre a narrativa Reinações de Narizinho


(1931), de Monteiro Lobato. O propósito será buscar subsídios para se entender melhor
a voz crítica desse escritor, marco da literatura infantil brasileira. A análise, que será
voltada à personagem Emília, apresenta por objetivo apontar e identificar, por meio da
instância do narrador, os comportamentos e falas da boneca que a vinculam aos
pensamentos do autor, partindo da hipótese de que a relação existente formula um
conjunto de valores pretendidos ao público alvo. A fim de configurar uma personagem
que expusesse as contradições sociais, apresentando-as num formato descontraído e
divertido, como de agrado dos pequenos leitores, Monteiro Lobato construiu,
utilizando-se dos recursos cômicos, Emília. De tal modo que, nas ambiguidades da
protagonista e na confluência entre loucura e sinceridade, ingenuidade e criticidade, o
autor outorgou, a ela, valores os quais evidenciou, a fim de criticar. Mais que uma lista
de segmentos pontuais, Lobato distribuiu, na personagem, através do narrador, uma
imagem do homem, dos seus comportamentos e das suas incongruências, entrevendo,
pelo humor, o exercício reflexivo sobre os princípios transgredidos. Assim, como
fundamentamento teórico para a apresentação, recorrer-se-á aos textos: A Personagem
do Romance (2009), de Antônio Candido e Pessoa e Personagem: o romanesco dos
anos 1920 aos anos 1950 (2010), de Michel Zéraffa.

Palavras-chave: Autor. Personagem. Relação.

A MEMÓRIA EM LEITE DO PEITO, DE GENI GUIMARÃES

Letícia Coleone Pires


UNESP/FCLAr
leticia.coleone.p@gmail.com

A presente apresentação tem como objetivo tecer uma análise de lances marcantes da
obra Leite do peito, de Geni Mariano Guimarães, primeira escritora negra
contemporânea a publicar um livro individual, com esta investigação será possível
evidenciar a importância da narrativa memorialística na literatura negra. Para tal feitura
foram selecionados três episódios que marcam o livro, são estes; “Primeiras
lembranças”, “Fim dos meus natais de macarronada” e “Força flutuantes”, que se
destacam ao revelar a aguda consciência de sua negritude que a menina Geni tinha ainda
com poucos anos. Com tal seleção é possível observar o amadurecimento da
personagem, em uma espécie de romance de formação, escolhendo instantes
significativos, que perpassam do primeiro contato com o preconceito – mesmo que não
direcionado diretamente a ela - até seu amadurecimento físico e sentimental, ao relatar o
ingresso como professora. Para contextualizar essa pequena jornada pela obra será feito
também algumas ponderações sobre a cultura brasileira e o local do negro na literatura
brasileira, seja assumindo a função de autor ou de personagem. Assim, para construção
desta apresentação será fundamental como baliza teóricas textos de Conceição Evaristo,

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“Literatura negra: uma poética de nossa afrobrasilidade” e “Escrevivência da Afro-
brasilidade: história e memória”, além de composições voltadas para fortuna crítica de
Geni Guimarães, como textos de Omar da Silva Lima, como “O feminino negro em
Leite do Peito”.

Palavras-chave: Geni Guimarães. Leite do peito. Literatura negra. Memória.

O EROTISMO LIBERTINO NO CONTO “MEMÓRIAS DE UM LEQUE”, DE


JÚLIA LOPES DE ALMEIDA, À LUZ DO GRANDE TEMPO BAKHTINIANO

Rosana Letícia Pugina


UNESP/FCLAr
rosana.pugina@unesp.br

Para Bakhtin (2011), o grande tempo da literatura é um todo composto por pluralidades
de cosmovisões temporais, as quais orientam o espaço e a cultura. Na prática, o conceito
ampara a análise das relações dialógicas existentes entre textos produzidos em
diferentes cronotopos. À luz dessa acepção, objetiva-se verificar a presença do erotismo
libertino em “Memórias de um leque”, de Júlia Lopes de Almeida (1862-1934),
pertencente à coletânea Corpo descoberto: contos eróticos brasileiros – 1852-1922
(MORAES, 2018). O conto foi escolhido por apresentar interdiscursividade ligada à
estética literária libertina, com os romances O sofá ([1742] 2011), do francês Crébillon
Fils; e A autobiografia de uma pulga ([1885] 1991), do inglês Stanislas de Rhodes. Em
ambos, a narrativa é contada por vozes inusitadas: um sofá e uma pulga. Já no conto
brasileiro, o narrador é um leque. Vale ressaltar que, na época em que o conto foi
escrito, era raríssima a presença de uma mulher nas letras nacionais. Desse modo,
apesar do reaproveitamento do mote, nota-se uma subversão do cânone libertino quanto
à assinatura feminina. Ademais, em função da adequação à austeridade moral do fim
dos oitocentos – enfaticamente quanto às mulheres –, o erotismo se dá por alusão, como
ocorre com o leque, em analogia ao falo. Logo, a associação é tácita e construída nas
entrelinhas, as quais sussurram o que não pode ser dito. Assim, no questionamento ao
cânone, entrevê-se uma busca pela emancipação feminina na literatura brasileira do
século XIX. Sobre o arcabouço, serão utilizadas as reflexões de Bakhtin (2011) e os
estudos de Maingueneau (2010). Quanto à abordagem, a metodologia é exploratória,
qualitativa e bibliográfica. Ao final, espera-se ter observado como a potencialidade
artística atemporal da literatura, dada pelo grande tempo, permite o renascimento de
obras produzidas em diferentes cronotopos para que possam ser lidas em quaisquer
contextos históricos.

Palavras-chave: Conto erótico brasileiro. Emancipação feminina. Memórias de um


leque. Tradição libertina.

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A SIMBOLOGIA DOS ANIMAIS E O MARAVILHOSO NOS CONTOS
“FORTUNIO” E “A PRINCESA SISUDA”: DE STRAPAROLA A CÂMARA
CASCUDO

Maria Celeste Tommasello Ramos


UNESP/Ibilce
Bolsista PQ do CNPq
celeste.tommasello@gmail.com

A simbologia dos animais e a manifestação do maravilhoso no conto “Fortunio”, do


italiano Giovanni Francesco Straparola (Caravaggio-Venezia, 1480-1557), presente em
sua obra Le piacevoli notti (As noites agradáveis) e no conto “A princesa sisuda”, do
brasileiro Luís da Câmara Cascudo (Natal, 1898-1986), presente em sua obra Contos
tradicionais do Brasil, são elementos determinantes na estruturação das duas narrativas.
Assim estudamos as convergências e divergências entre elas, tendo como eixo a
simbologia dos animais representados nos dois textos: o lobo, a águia e a formiga (no
conto de Straparola), a formiga, a lagartixa e o rato (no conto de Cascudo). Para tanto,
serviram de base os estudos de Volobuef (2011), sobre o conto maravilhoso ou popular,
os estudos de Lima (2008) e Pazzaglia (1997), a respeito dos autores estudados, os
estudos de Samoyault (2008), no tocante à intertextualidade e os de Cirlot (2005) e
Chevalier (1989), sobre simbologia dos animais citados acima e outros elementos
ligados à Literatura e à Cultura Popular. Foi verificado de que modo os contos foram
chamados ao diálogo intertextual na recepção por meio do tema, da estrutura narrativa,
e do significado simbólico dos animais a fim de refletir em torno de questões inerentes
ao folclore italiano e brasileiro e à identidade dos indivíduos dos dois países nos quais
os contos populares foram coletados e fixados na Literatura. Objetivamos promover
uma discussão sobre a expressão do maravilhoso no campo da Literatura Comparada,
uma vez que comparamos dois contos de diferentes épocas e nacionalidades, para
buscar a interpretação das obras estudadas e o entendimento do contexto no qual estão
inseridas.

Palavras-chave: Cascudo. Contos. Maravilhoso. Simbologia. Straparola.

FRANÇOIS PARÉ E AS TEORIAS DA FRAGILIDADE

Nelson Luis Ramos


UNESP/Ibilce
nelson.ramos@unesp.br

François Paré, crítico e estudioso canadense, no ensaio Théories de la fragilité (1994)


aprofunda o tema da exiguidade relacionado às literaturas minoritárias, por ele tratado
em obra anterior, e denuncia as condições da opressão, que levam ao isolamento e à
invisibilidade do sujeito minoritário: “Nas culturas minorizadas, a expressão de si é
percebida como estigmatizante e excessiva. Aliás, é nos instantes iniciais da prise de
parole, no nível da intenção, que a minorização se produz e que os ritmos do silêncio se
instalam.” (PARÉ, 1994, p.43-44). Paré, para quem a literatura é sempre um trabalho
sobre o frágil, vai além: “Para Levac, o sujeito minorizado se caracteriza pela ineficácia
do sonho (individual e coletivo), porque nele se enfrentam sem fim duas tendências
iguais, uma conduzindo ao aparecer, a outra ao desaparecer. Por essa razão, esse sujeito

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não tem história, pois ele chama sobrevivência o que é de fato apenas um combate
estéril e estagnado.” (PARÉ, 1994, p.21). Além desses, fruto de décadas de experiência
do estudioso canadense, outros temas são tratados com profundidade, como as
estruturas da exclusão que ocorrem nos contextos minoritários francófonos do Canadá,
mas que podem ser observadas em qualquer lugar do mundo, com também “o
julgamento peremptório, a ignorância, a falsa indiferença, a censura” que fazem parte
do funcionamento interno das literaturas minorizadas (PARÉ, 1994, p.42). Tamanha é a
importância de sua obra crítica que acaba de ser publicado Le défi de la fragilité: Autour
de François Paré, uma homenagem e um testemunho dos estudos que influenciaram
várias gerações de pesquisadores envolvidos nos estudos das minorias no Canadá e no
exterior. Vemos, desta forma, confirmada a importância das propostas de Paré para os
estudos sobre literaturas minoritárias, sendo nosso objetivo, nesse trabalho, apresentar e
analisar os pontos mais importantes do ensaio citado.

Palavras-chave: Exiguidade. François Paré. Literaturas minoritárias. Teorias da


fragilidade.

OS GRIMM LERAM BASILE: AS ANDANÇAS DE “JOÃO E MARIA”

Adriana Aparecida de Jesus Reis


UNESP/Ibilce
adrianareis.ibilce@gmail.com

É muito divulgada a informação de que Jacob e Wilhelm Grimm ouviram e recolheram


contos de fadas da oralidade no século XIX, tendo como principal informante Dorothea
Viehmann (cf. BRANDÃO, 1995). Entretanto, estudos mais aprofundados revelam que
muito dos contos de fadas publicados pelos Grimm nas edições de 1812, 1815 e 1857
foram originários de manuscritos antigos do século XVII, sobretudo de Lo cunto de li
cunti (recém traduzido no Brasil como O conto dos contos), de Giambattista Basile,
uma vez que os irmãos alemães desempenharam o papel de filólogos e bibliotecários
(cf. VOLOBUEF, 2013a). Compartilha essa visão, o crítico italiano Benedetto Croce
(1925), segundo o qual os irmãos Grimm não somente leram Basile, incluindo vários
cunti na antologia Conto para o lar e as crianças, como também encomendaram uma
tradução do livro barroco para o alemão por Félix Liebrecht. É o que se verifica, pois,
ao confrontar os contos de fadas registrados pelos Grimm em sua coletânea com os
cunti de Basile, são encontradas várias convergências temáticas e estruturais entre “A
bela adormecida” e “Sole, Luna e Talia”; “Rapunzel” e “Petrosinella”; “Cinderela” e
“La gatta Cenerentola”; “Branca de Neve” e “La schiavetta; “João e Maria” e “Ninnillo
e Nennella” entre outros, respectivamente de Grimm e Basile. Dadas as semelhanças,
este trabalho objetiva analisar o diálogo intertextual entre os contos “Ninnillo e
Nennella”, registrado por Basile, e “João e Maria”, recontado pelos Grimm, tendo em
vista as repetidas adaptações cinematográficas e o revisionismo desta narrativa, porém
os primeiros registros literários ainda permanecem desconhecidos aos olhos do leitor de
hoje. O enfoque será tanto a crueldade e a violência quanto a representação da bruxa
nos contos de fadas. Para isso, o aporte teórico escolhido foi o de Samoyault (2008);
Darnton (1986); Volobuef (2013b); Coelho (1991); Eco (2007) e Propp (2002).

Palavras-chave: Conto de fadas. Intertextualidade. Irmãos Grimm. Giambattista Basile.


João e Maria.

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LETRAMENTO LITERÁRIO – O CORDEL NO DESENVOLVIMENTO DA
ORALIDADE EM SALA DE AULA

Domingos Aparecido dos Reis


Universidad Autónoma de Asunción - UAA - Paraguay
domingos.professor2020@gmail.com

O presente trabalho é de relato de experiência em sala de aula do 8° ano com 30 alunos


do Ensino Fundamental da Escola Estadual Professora Maud Sá de Miranda Monteiro,
de São Paulo – SP, no mês de março de 2020. Essa experiência de intervenção
pedagógica teve como objetivo desenvolver a oralidade nas aulas de Língua Portuguesa
com a utilização da poesia popular brasileira, a Literatura de Cordel. A fundamentação
teórica e metodológica se baseia no Letramento Literário (Cosson, 2019) e na
observação do participante. Foi utilizada, segundo Cosson (2019), a sequência básica
em quatro etapas: 1ª Motivação – o contexto histórico do Cordel e sua importância
cultural em nosso país; 2ª Introdução – que consiste na apresentação ao aluno do autor e
a obra escolhida; 3ª Leitura – nessa etapa foi feito um círculo de leitura compartilhada
na sala de aula para cada aluno praticar a oralidade através do cordel e no decorrer da
atividade interferências do professor; e a 4ª Interpretação – diálogo entre o autor e leitor
e com isso o compartilhamento do ponto de vista de cada aluno sobre a obra em
questão. Constatou-se que, após a observação e participação das atividades propostas
através da Literatura Cordel, os alunos aprenderam as variações linguísticas e os
costumes culturais de nosso idioma, especificamente da região do Nordeste, e
conheceram a xilogravura, que é sua principal característica artística; houve ainda uma
melhora na oralidade dos mesmos, em particular por conhecer mais essa cultura
popular, ou seja, além no desenvolvimento oral proposto, houve aumento no incentivo à
leitura desse gênero textual pouco explorado em sala aula. Hoje em dia se continua a
desenvolver a atividade com os mais importantes cordelistas brasileiros, desse
patrimônio cultural reconhecido pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico
Nacional (IPHAN) em 2018.

Palavras-chave: Cordel. Leitura. Letramento literário. Oralidade.

O MODO DE NARRAR EMPREGADO POR EDGAR ALLAN POE EM


“ASSASSINATOS NA RUA MORGUE”

Murilo Eduardo dos Reis


UNESP/FCLAr
murilo.reis@unesp.br

A presente proposta de comunicação oral tem como tema o modo de narrar empregado
por Edgar Allan Poe em uma de suas narrativas. O objetivo é examinar de que maneira
o autor arranja recursos expressivos em um conto que, para muitos, é considerado o
marco zero do romance policial. Assim, escolhemos como objeto de análise
“Assassinatos na Rua Morgue”, de 1841. Trata-se de uma história em que a
investigação de um crime brutal é conduzida por C. A. Dupin, indivíduo que, mesmo
não pertencendo à força policial, desvenda o mistério como se resolvesse um problema

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matemático. Vale destacar que a mesma personagem seria o protótipo de detetives como
Sherlock Holmes e Hercule Poirot. Dessa maneira, o percurso metodológico se vale da
apropriação seletiva de ensaios sobre aspectos das narrativas em geral e de textos que
tratam de características dos contos escritos a partir do fim da primeira metade do
século XIX. Vale destacar que também será fundamental, no corpus selecionado, a
investigação da figura do narrador (quem fala) e do focalizador (quem vê). Portanto,
tomamos como apoio teórico textos críticos e analíticos de estudiosos como Gérard
Genette (2017), Ricardo Piglia (2004), Jorge Luis Borges (2011), Nádia Batella Gotlib
(1985), Charles Kiefer (2011) e Júlio Pimentel Pinto (2019). Ao final, espera-se
identificar como Edgar Allan Poe organiza seu texto em favor do efeito de surpresa
buscado pela narrativa e de que maneira esse trabalho reflete o tipo de obras de ficção
que eram produzidas naquele período.

Palavras-chave: Conto. Edgar Allan Poe. Narração.

CONTOS FRANCESES N’A PROVÍNCIA DO PARÁ

Amanda Gabriela de Castro Resque


UFPA
amanda.resque@ilc.ufpa.br

Com a invenção dos modernos navios a vapor o Brasil se tornou mais próximo do
Velho Mundo, essa aproximação fez com que as novidades europeias chegassem
rapidamente na capital da Província do Pará no século XIX, dessas novidades
destacamos a publicação da prosa ficcional em jornais, técnica adotada por inúmeros
periódicos dentre os quais frisamos A Província do Pará, jornal político e de enorme
força cultural. Dos autores que tiveram seus escritos propalados na folha supracitada,
sublinhamos os franceses Guy de Maupassant (1850-1893) e o Emile Zola (1840-1902)
para este estudo. Tendo em vista o postulado, assinalamos que o objetivo principal deste
trabalho é apresentar os contos de autoria de Maupassant e Zola publicados n’A
Província do Pará nas últimas décadas do século XIX. Em relação ao aporte teórico,
utilizamos os estudos de Sarges (2002) e Rocque (1976) para tratarmos do periódico,
Romero (1978) para pautarmos a fundamentação sobre Zola, e Neves (2012) para
abordarmos Maupassant. Em relação aos resultados alcançados até o presente momento,
verificamos seis contos de autoria de Guy de Maupassant e cinco contos de autoria de
Emile Zola. Avaliamos a pertinência de nossa pesquisa pautada na importância de que
os autores supracitados representam a literatura ocidental, além de ser importante frisar
que estamos passando por um momento histórico conturbado, que tem em si uma
grande necessidade de compreensão pelo imaginário (SERRA, 2012, p. 12), aonde se
regulariza as incertezas advindas com um dia-a-dia estressante e repleto de dúvidas, que
é próprio de uma situação de caos, sendo assim, esperamos que o estudo do nosso
passado auxilie, ainda que em pequena medida, a compreensão da nossa atualidade.

Palavras-chave: A Província do Pará. Emile Zola. Fontes Primárias. Guy de


Maupassant.

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O NOVO ROMANCE HISTÓRICO BRASILEIRO: UMA LEITURA DE
DESMUNDO, DE ANA MIRANDA

Dinameire Oliveira Carneiro Rios


UFG
dina_meire@hotmail.com

Este trabalho tem como objetivo apresentar uma leitura acerca do novo romance
histórico na literatura brasileira a partir do romance Desmundo (1996), da autora
cearense Ana Miranda. Neste tipo de narrativa, há uma evidente intenção de reescrever
os fatos históricos numa perspectiva de contrapelo ao discurso oficial, moldando uma
constituição identitária que considera, a partir de então, traços culturais, sociais e
antropológicos, visando desconstruir e retificar a versão oficializada da história por
meio de mecanismos discursivos como a paródia e o pastiche. Assim, estes romances
comprovam o quanto o discurso histórico pode ser dominado pela falta de neutralidade,
além da maneira com que os fenômenos podem ser alterados ou mesmo falsificados por
meio da linguagem. Através destas narrativas, vozes outrora silenciadas por versões
historiográficas amplamente difundidas e conhecidas passam a se inscrever na história
como parte ativa e significante dela, num processo de revisão em que eventos históricos
começam a ser relidos e reordenados dentro de padrões despidos de convenções arcaicas
e segregacionistas. Desta forma, a partir dos estudos como os de Aínsa (1991), Menton
(1993) e Hutcheon (1991), analise-se de que modo Ana Miranda, no romance
Desmundo, constrói uma revisitação ao passado colonial brasileiro, numa postura de
crítica e contraponto, para recontar aspectos importantes das relações sociais no Brasil
Colônia, especialmente relacionados à presença feminina e suas funções na sociedade.

Palavras-chave: Brasil colonial. Literatura brasileira. Romance histórico.

“É A HORA” – A CONCEPÇÃO DO QUINTO IMPÉRIO PORTUGUÊS NA


VISÃO DE FERNANDO PESSOA

Camila Sabino
UNESP/FCLAr
ccamila.sabino@gmail.com

Fernando Pessoa, assim como todo poeta de gênio, acreditava que tinha uma missão a
cumprir e a sua seria, portanto, a de reconstruir a grandeza de Portugal. De fato,
Portugal é a grande personagem de sua principal obra ortônima: Mensagem. O livro foi
o único volume de versos portugueses organizado e publicado pelo poeta e é dividido
em três partes, constituindo a interpretação corrente e óbvia da história portuguesa:
ascensão, apogeu e declìnio. A primeira parte, intitulada “Brasão” contém 19 poemas e
se subdivide em cinco seções; a segunda, “Mar Português” possui 12 poemas e a
terceira “O Encoberto” é composta por 13 poemas. A parte do “O Encoberto” fixa-se na
figura de Dom Sebastião e na ideia messiânica do Quinto Império, referindo-se assim ao
longo período de decadência e de incertezas, que se estende até o tempo do poeta. A
ideia do Quinto Império é uma promessa antiga e se manifesta principalmente nos
momentos históricos em que é forte a sensação de descrença, mesclando dialeticamente
a exaltação patriótica e a confiança de um futuro de glória. O livro Mensagem foi
publicado apenas em 1934, porém o projeto do livro data, pelo menos, de 1913, quando

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Pessoa escreveu o poema Gládio, que depois foi incluído em Mensagem com o título D.
Fernando, Infante de Portugal. É desse mesmo perìodo os artigos sobre “A Nova Poesia
Portuguesa”, publicados na revista A Águia, que afirmam para muito breve o
aparecimento do poeta que abriria caminho, por meio da criação literária, para a
modernização de que o país tanto precisava. Portanto, a presente comunicação tem por
objetivo analisar a relação do Quinto Império com os artigos sobre “A Nova Poesia
Portuguesa” e o surgimento do Supra-Camões.

Palavras-chave: Fernando Pessoa. Mensagem. Quinto Império. Supra-Camões.

TESTEMUNHO NA FICÇÃO DE PATRICK MODIANO

Marcos Eduardo Santoro


UNESP/FCLAr
m.santoro@unesp.br

O autor francês Patrick Modiano não viveu a Segunda Guerra Mundial, mas aborda esse
tema misturando ao sabor das narrativas metaficcionais pós-modernas personagens
históricos e fictícios, com protagonistas sem identidade, ou de identidade duvidosa,
sempre em busca de suas origens. O livro em questão apresenta um protagonista
narrando seus traumas do período da Ocupação da França no divã do Dr Freud. Judeu
perspicaz, irônico e até sarcástico, Raphael, ao narrar suas peripécias, deixa o leitor
intrigado, porque instaura a problematização a noção de História e de representação a
partir da arte. Acreditamos poder provar que o autor se utiliza dessas técnicas de criação
com o propósito de conhecer a história da qual se sente fruto - ele mesmo o diz em
entrevistas - e portanto, conhecer-se. Utilizando-se de teorias da narrativa que tratam do
testemunho, do tempo, e da arte pós-moderna, pretendemos mostrar a possibilidade de
que Modiano procura resolver suas questões relacionadas ao período da Guerra a partir
da narrativa, pois conforme diz o filósofo Paul Ricoeur somente a narrativa pode
solucionar as aporias do tempo, bem como por extensão as questões da memória e do
apagamento da memória.

Palavras-chave: Metaficção. Narrativa. Tempo. Testemunho.

REPRESENTAÇÕES FEMININAS E LUGARES DE FALA NA POESIA DE


MYRIAM FRAGA

Andréa Silva Santos


UNESP/Ibilce
andrea.s.santos@unesp.br

O nosso intuito é compreender como a escritora baiana Myriam Fraga, no poema “A


fênix”, publicado no livro Poemas, em 2017, trilha um caminho de representação das
figuras femininas, construindo lugares de fala para a sua personagem, ao passo que
desloca alguns discursos hegemônicos. Desde os primeiros livros, Myriam Fraga
remonta às narrativas mitológicas, principalmente à mitologia greco-latina, colocando
em cena diversas personagens, ao mesmo tempo que cria discursos de resistência,
contrapondo-os àqueles que impõem modos de ser e o que cabe ou não às mulheres. No

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poema supracitado, a figura feminina ganha formas a partir da retomada da narrativa
mítica da Fênix, o pássaro que renasce das cinzas. Fraga, em sua elaboração poética, dá
vida a uma mulher que decide mudar sua condição e, para tanto, elege elementos que,
culturalmente, foram impostos como parte da vida cotidiana da mulher no ambiente
doméstico, como os pratos, rasurando o cenário. A personagem decide quebrar pratos e
cristais e reinventar-se. Ao fazer isso, torna-se uma mulher que desconstrói a redoma
em que foi colocada, bem como a imagem de fragilidade que também lhe foi atribuída.
Ao longo da análise proposta, foi possível perceber que, ao ressignificar o mito da fênix,
Fraga segue como uma poeta que demonstra preocupação com a condição feminina e
investe na produção de contradiscursos. O nosso estudo envolve a leitura do poema;
pesquisa e leitura de bibliografia voltada para questões de gênero, recorrendo, entre
outras, às obras de Guacira Lopes Louro; Cláudia Nigro; Judith Butler; no que se refere
a lugar de fala, dialogamos com as reflexões de Djamila Ribeiro; sobre discurso,
encontramos amparo em Michel Foucault e para discutirmos a presença do mito no
poema selecionado, citamos Poesia e Memória: A poética de Myriam Fraga.

Palavras-chave: Discurso. Fênix. Lugares de fala. Myriam Fraga. Representações


femininas.

ENTRE O DIA E A NOITE: A DUALIDADE EM “LA MORTE AMOUREUSE”,


DE THÉOPHILE GAUTIER

Camila Cristina dos Santos


UNESP/Ibilce
camila.cristina@unesp.br

Théophile Gautier dedicou o início de sua carreira literária ao fantástico, período no


qual se insere “La Morte Amoureuse” (1881), que narra a história de um pároco,
Romuald, e sua relação com uma mulher misteriosa, Clarimonde. A partir de seu
envolvimento com Clarimonde, Romuald começa a ver-se cada vez mais desintegrado
da vida unívoca de padre e confuso sobre qual caminho seguir: o caminho celibatário ou
o caminho mundano e do prazer carnal junto com Clarimonde. Tomamos como ponto
de partida o aspecto fragmentário do protagonista que permeia todo o conto, cuja
representação se dá pelo antagonismo entre Clarimonde e Sérapion, padre que o
persegue para convencê-lo a voltar à vida paroquial. Assim, sob a perspectiva
foucaultiana (1971) de sexualidade constituída por discursos reguladores e o conceito de
Unheimliche (estranho-familiar) proposto por Freud em 1919, analisamos a ideia do
duplo esboçada na constituição do personagem principal e os conflitos que enfrenta ao
longo da narrativa ao deparar com um mundo para além das portas da igreja. A partir
dessas duas perspectivas teóricas, objetivamos elencar os elementos, assim como
marcadores textuais, do conto sob um novo prisma, na tentativa de relacionar a
sexualidade recém descoberta de Romuald emergida na figura de Clarimonde, com a
figura moralizante de Sérapion que, no decorrer do conto, são ambos eixos essenciais
para a consequente fragmentação do personagem principal.

Palavras-chave: História da sexualidade. Literatura fantástica. Século XIX. Théophile


Gautier. Unheimliche.

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NARRATIVAS MITOLENDÁRIAS: MITO, LENDA E PROCESSO DE
HIBRIDIZAÇÃO

Eliete de Nazaré Barbosa Santos


UESPI
eliete-ma@hotmail.com

Este trabalho, parte da dissertação da pesquisadora, é um recorte feito com base em uma
inquietação que surgiu durante a pesquisa: como diferenciar claramente mito e lenda aos
alunos, se nas narrativas orais que constituem o acervo da comunidade em que os
discentes estão inseridos, essa distinção não é perceptível? Desta pergunta surgiu a
seguinte hipótese: essas narrativas são, na verdade, a manifestação da ocorrência de uma
hibridização entre mito e lenda. Para verificar esta hipótese, foi traçado o seguinte
objetivo geral: analisar a ocorrência de um processo de hibridização dos gêneros lenda e
mito em narrativas orais que povoam o imaginário popular maranhense. Para isso,
foram elencados os seguintes objetivos específicos: (i) confrontar as características
distintivas entre mito e lenda, na literatura disponível; (ii) verificar aspectos sociais e
históricos que conduziram a formação do acervo de narrativas orais maranhenses e
influenciam em sua categorização literária; (iii) evidenciar a ocorrência da hibridização
entre mito e lenda, com base nos dados coletados no levantamento bibliográfico e suas
observâncias nas narrativas estudadas. Para concretizar os objetivos, procedeu-se com
um estudo bibliográfico, de campo, descritivo, de cunho qualiquantitativo, tomando-se
por base teórica principalmente os estudos realizados pelos seguintes autores: Cascudo
(2006), Coutinho (2003), Cândido (2000), Passarelli (2012), Eliade (2004), Cassirer
(2003), Weitzel (1995), Halbwachs (1990), Calvet (2011) e Benjamin (1987). Como
resultado, percebeu-se que a hipótese inicial do estudo foi confirmada, possibilitando a
legitimação da nomenclatura “narrativa mitolendária”, proposta pela pesquisadora.

Palavras-chave: Hibridização. Mito e lenda. Narrativas mitolendárias. Narrativas orais.

A PERSONAGEM MACABÉA, DO LIVRO A HORA DA ESTRELA, E O


SUJEITO PSICANALÍTICO

Ray da Silva Santos


UFS
ray.letras@hotmail.com

Edificando um estudo interdisciplinar entre Literatura e Psicanálise, já que os dois


campos do saber abraçam as experiências do sujeito - estas que apresentam as diversas
maneiras que o sujeito possui para lidar com seus desejos e a incompletude da
significação -, este trabalho consiste em um estudo acerca da noção de sujeito, conforme
as perspectivas teórico-metodológicas da psicanálise de Freud e Lacan, tendo como
corpus o livro A hora da estrela (1977), de Clarice Lispector, e a personagem
nordestina Macabéa como objeto de análise. Para tanto, por meio do estudo sistemático
acerca da noção de sujeito para a psicanálise, realizou-se uma releitura do livro, tal
como uma análise qualitativa, sempre deslizando-se nos significantes que compõem a
obra literária. Nisso, pudemos distinguir o sujeito cartesiano (ser físico) do sujeito do
inconsciente, o qual, principalmente por intermédio dos enunciados, marcas dos seus
desejos inconscientes se revelam de maneira manifesta e/ou latente. Isto posto, percebe-

65
se que, no livro, conhecemos pouco da personagem Macabéa, pois grande parte das
informações do seu aspecto físico e emocional é revelado mediante os enunciados do
narrador Rodrigo S.M., ou seja, em quase toda a narrativa entramos em contato com as
fantasias do narrador (uma não-pessoa, ao ser apenas o tema do enunciado - um ele,
conforme a teoria do linguista Benveniste). Em vista disso, destaca-se que são poucos
os momentos nos quais Macabéa enuncia, mas nestes é possível notar o quão a
personagem segue seus passos no ímpeto da simbolização e, ao mesmo tempo, é um
sujeito maquinal, sobretudo porque apenas reproduz os enunciados da Rádio Relógio,
não sabe ler e escrever com proficiência, não tem conhecimentos científicos, bem como
se torna invisível na capital do Rio de Janeiro.

Palavras-chave: A Hora da Estrela. Literatura. Macabéa. Psicanálise.

DOM CASMURRO - DO TEMOR À TRAMA

Fernando Guimarães Saves


UNESP/IBILCE
fernando.gsaves@hotmail.com

Quando se fala em Dom Casmurro (1899), de Machado de Assis, muitas são as


possibilidades de trabalho com o texto, bem como de suas relações com outros campos
do conhecimento. Essas possibilidades, no entanto, não se esgotam, haja vista a
profundidade técnica e expressiva da obra. Levando-se em consideração o exposto, o
presente trabalho visa à discussão metatextual de três capítulos do romance
mencionado, baseada no conceito de metatextualidade proposto por Gérard Genette em
Introdução ao Arquitexto (1986). Sabe-se ser comum o uso da metalinguagem em
narrativas machadianas, especialmente as de sua fase realista; portanto, o que se busca
nestes três capítulos – “Do tìtulo”, “Do livro” e “E bem, e o resto?” – é elucidar índices
textuais que demonstrem, neste processo metalinguístico, a relutância do narrador
autodiegético, conceito também cunhado por Génette em o Discurso da Narrativa
(1979), a narrar sua história, isto é: pretende-se mostrar como Bento Santiago, no intuito
de “atar as duas pontas da vida”, mantém-se receoso a construir a narrativa, assumindo,
por vezes, já na elaboração da história, que ainda não a começara. Com isso, serão
verificados os elementos que apontam a uma insegurança do narrador em (re)traçar sua
própria vida.

Palavras-chave: Dom Casmurro. Machado de Assis. Metalinguagem. Relutância.

A CONSTRUÇÃO DO MARAVILHOSO EM “L'UGEL BEL VERDE” DE


STRAPAROLA

Eucimara Regina Santana Segundo


UNESP/Ibilce
eucimara@terra.com.br

Propomos, nesta comunicação, a análise do conto “L’ugel bel verde”, um dos setenta e
quatro contos entrelaçados pela narrativa moldura, obra-prima do autor, intitulada “Le
piacevoli notti” (1550-1553), de Giovan Francesco Straparola. Nossa proposta é

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analisar a simbologia das personagens maravilhosas do conto: a água dançante, o pomo
que canta e o pássaro Belverde. Todos eles com simbologias próprias, mas que, além
disso, se entrelaçam com a simbologia do número três que perpassa toda a narrativa em
seus diversos elementos como, por exemplo, o espaço, o tempo, as personagens e o
próprio enredo. São três auxiliares mágicos, dentro de toda essa estrutura gerada pelo
número três, que auxiliarão os três filhos no reencontro com o pai e na reconciliação
com a mãe injustiçada. Tudo isso corroborandocom a ideia defendida por Sperber
(2009, p.184) de que “Os contos de fadas tratam de vida e de morte, isto é, do ciclo vital
que inclui o tema da volta” neles há uma restauração que se dá por meio de uma
construção que ela dividiu em três tópicos, sendo o primeiro deles os três universos
(mundo anterior à provação, mundo da provação e o mundo posterior à provação); o
segundo o caráter mítico da temporalidade e da espacialidade dos contos e, por fim, o
terceiro: o começo (“era uma vez” ou algo do tipo) e o final dos contos (“e foram felizes
para sempre” ou algo parecido). Desse modo, teremos como base dos nossos estudos,
principalmente, os trabalhos de Sperber (2009), de Volobuef (1993) e Chevalier (2015).
Ao final da análise, pretendemos apontar e repetir sobre os principais elementos
maravilhosos presentes na narrativa curta estudada.

Palavras-chave: Conto maravilhoso. Simbologias. Três.

CONTOS DE FADA E MITOLOGIA: O DIÁLOGO ENTRE “A PRIMEIRA


SÓ”, DE MARINA COLASANTI E O MITO DE NARCISO

Fernanda Cassiolato Marti Sguassábia


UNESP/FCLAr
feruta@yahoo.com.br

Quando o rei se depara com o sofrimento de sua filha que deseja ter uma amiga para
brincar e com quem estabelecer verdadeiros laços de amizade, a solução que ele
encontra é presenteá-la com o maior espelho do castelo, que traz à princesa o mundo de
sua imaginação. Nesta moldura de ilusões ela se depara e se encanta com sua própria
imagem refletida, acreditando ser o outro que tanto buscava, fazendo referência
interdiscursiva ao mito de Narciso. A partir daqui a princesa enfrentará dificuldades ao
longo de sua jornada em busca do autoconhecimento até que, pela última vez, depara-se
com seu reflexo, então, no lago. Este trabalho de análise literária do conto “A primeira
só”, da escritora Marina Colasanti, embasa-se na teoria sobre molduras, comumente
empregada em estudos sobre artes visuais, mas que recentemente tem sido abordada
também na literatura. Tal teoria aqui se justifica, pois o mundo imaginário de felicidade
e brincadeiras da menina é delimitado primeiramente pelo espelho e, posteriormente,
pelas margens do lago onde ela vê seu reflexo pela última vez e que já não mais
representa sua imaginação, mas sim, seu eu interior. Para tanto, serão utilizados Ortega
y Gasset, em Meditación del marco, como também Pere Ballart, na obra El contorno del
poema. Os fundamentos acerca da intertextualidade, significativa no conto em razão do
diálogo com o mito de Narciso, de Ovídio, apoiar-se-ão no livro Intertextualidade de
Tiphaine Samoyault.

Palavras-chave: Contos de fadas. Intertextualidade. Literatura infantil. Marina


Colasanti. Molduras. Narcisismo.

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O PIO ENEIAS EM EPHEMERIS BELLI TROIANI

Gelbart Souza Silva


UNESP/Ibilce
gel_bart@hotmail.com

Nesta comunicação, busca-se examinar a caracterização de Eneias em Ephemeris Belli


Troiani (Diário da Guerra de Troia) no que tange a “pietas”, um dos conceitos de
virtude da Roma Antiga. Ephemeris é um romance antigo romano, datado do século IV
d. C., anônimo, que reconta a Guerra de Troia do ponto de vista de um narrador em
primeira pessoa, apresentado como Díctis, um soldado grego. Seu conteúdo narrativo
abarca desde a fuga de Helena com Páris, Alexandre até a queda de Troia e os retornos
dos gregos. Ephemeris é um texto em latim que deriva de um texto grego do segundo
século, atualmente conhecido em estado fragmentado. Herdeira da corrente revisionista
dos mitos poéticos, a narrativa de Ephemeris aborda a Guerra de Troia sob um prisma
historicizante, mitigando as potências divinas e sobre-humanas. Neste romance, Eneias
participa ativamente na defesa de Troia, mas, ao ver profanado o templo de um deus,
passa a nutrir ojeriza por seu próprio povo. Aliado ao ancião troiano Antenor, que já
urdia um plano contra a própria cidade, tornam-se ambos traidores da pátria. Nesta
análise, portanto, procuramos demonstrar o contraste da representação desse
personagem em referência à tradição, com especial foco na Eneida, de Virgílio.
Objetivamos, por fim, discutir as possíveis implicações de leitura para um público
romano que se considera mítica e tradicionalmente ligado a Eneias como descendente.

Palavras-chave: Ephemeris belli Troiani Dictys Cretensis. Eneias. Guerra de Troia.


Pietas.

NO CAMINHO DA CIVILIZAÇÃO: A LEITURA DE ROMANCE NO JORNAL


CATÓLICO A BOA NOVA

Jeniffer Yara Jesus da Silva


UFPA
jeniffer.yara@gmail.com

Dom Macedo Costa (1830 – 1891), bispo ultramontanto, intentou implementar seu
projeto romanizador em Belém do Pará, durante o período em que comandou a Diocese
da cidade, enfatizando preceitos cristãos-católicos, de claras intenções moralizantes e
prescritivas. Um dos temas discutidos e de grande preocupação ao Bispo foram as
práticas de leituras da época, as quais o romance protagonizava devido a sua
popularização e circulação em jornais e revistas. Devido ao seu projeto voltar-se para as
questões literárias, A Boa Nova (1871 – 1883), periódico gerenciado pelo Bispo do
Pará, foi palco de posicionamentos relativos à leitura do novo gênero e, dessa forma, o
presente trabalho objetiva analisar a presença da crítica ao romance no impresso
religioso, de forma a vincular o projeto civilizatório e romanizador de Dom Macedo
Costa para com as práticas de leitura da época, analisando quais as possíveis finalidades
e preocupações para prevenção dos escritos considerados ímpios e subversivos. Dessa
forma, compreenderemos seu projeto a partir dos estudos de Karla Denise Martins
(2002) e Fernando Arthur Neves (2015) e, acerca do posicionamento quanto à prosa de

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ficção, a partir das pesquisas de Anne-Marie Chartier (1995), Walter Siti (2009) e
Márcia Abreu (2003), na tentativa de resgatar a crítica ao romance, inserindo-a em seu
contexto histórico-social e doutrinário, pertencente ao Bispo e à folha periódica de sua
direção.

Palavras-chave: A Boa Nova. Crítica ao romance. Dom Macedo Costa. Século XIX.

CAMINHOS PERIFÉRICOS DAS PERSONAGENS NO CONTO “REZA DE


MÃE”, DE ALLAN DA ROSA

Keury Carolaine Pereira da Silva


UEMA
carolainekeury@gmail.com

O livro de contos de Allan da Rosa, Reza de mãe (2016), comporta a primeira


experiência em prosa da produção do autor em historietas, introduz também uma
abordagem lúdica e de valoração estética, permeada de jogos de palavras e inserção de
vocábulos que contemplam a dura vivência na periferia. Além disto, o escritor propõe
uma nova voz para a literatura brasileira vigente, expondo um narrador que é
marcadamente crítico e que distancia seu olhar dos preconceitos que constantemente
acompanham as representações das minorias tanto em papéis literários, quanto sociais,
por conseguinte, Rosa consegue dar substância à sua representação literária, já que
experiencia o universo que é descrito em sua obra. Assim, essa pesquisa tem como
objetivo principal verificar, por meio da escrita de Allan da Rosa, os traços de
autorrepresentação da existência periférica no contexto literário atual, bem como
analisar os percursos periféricos das personagens protagonistas no conto “Reza de
mãe”, para então refletir acerca das nuances cotidianas que atravessam as temáticas
desenvolvidas pelo autor no interior do conto, essas que ultrapassam as fronteiras da
ficção e percorrem a realidade dos grupos marginalizados. Para facilitar a análise,
estabelecemos estudos literários relacionados aos movimentos críticos mais recentes
que abordam esses temas, tais como: Vaz (2011), Nascimento (2009) e Regina
Dalcastagnè (2002), entre outros. À vista disso, observamos que a prosa de Rosa, de
uma maneira politizada, favorece a existência de produtores literários que, por vezes,
são silenciados, ao conduzir uma narrativa repleta de lirismos e cruezas que refletem
com sensibilidade o cotidiano das margens, ademais, o autor redesenha as comunidades,
desconstruindo limites perspectivos através da ampliação dos olhares que se divergem
das produções de autores já “canonizados”, e provocam leituras afetivas das realidades
simbólicas marcadas pela força dessa trama.

Palavras-chave: Allan da Rosa. Percursos periféricos. Reza de mãe.

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A CONSTRUÇÃO CRONOTÓPICA DOS “CADERNOS DE MANUELA” NO
ROMANCE HISTÓRICO UM FAROL NO PAMPA (2004), DE LETICIA
WIERZCHOWSKI

John David Peliceri da Silva


UNESP/Ibilce
johndavidbrother@hotmail.com

Esta comunicação pretende discutir a construção cronotópica dos “Cadernos de


Manuela”, pelo viés da memória, na narrativa oitocentista do romance histórico Um
farol no pampa (2004), de Leticia Wierzchowski. Para Bakhtin (2011), cronotopo é um
processo de forma e conteúdo que procura delimitar, nas obras literárias, as relações de
tempo e espaço. Assim, gêneros textuais, como o diário íntimo, aparecem encartados
nas narrativas, determinando modos distintos de localização de tempo e espaço. No
romance de Leticia Wierzchowski, autora brasileira de metaficção historiográfica,
tempo e espaço são suscitados pelas lembranças da personagem Manuela, contendo as
relações sociais, familiares e amorosas que ornamentaram um “decadentismo”, no final
da “Guerra do Paraguai” (1870). Assim, uma Manuela tétrica redige o diário ìntimo
cujos cronotopos são desfiados, verbalmente, pela estética do grotesco lúgubre, com
nuanças sobre morte, cadáver e fantasma. A verificação dessas nuanças grotescas se dá
pelo diálogo com os personagens, pelas circunstâncias trágicas da guerra e pelas
ideologias de Manuela. Surge, então, o mistério do “vestido de noiva”, como forma de
Manuela (re)costurar, pela memória ativa, o cronotopo ausente e, ao mesmo tempo,
esperar por sua paixão, o italiano Giuseppe Garibaldi. Esta comunicação objetiva
sugerir não somente uma colaboração à compreensão das teorias sobre o cronotopo
bakhtiniano, mas também contribuir com a figura de Manuela que ficou famosa pela
consagração do mito “Noiva de Garibaldi”.

Palavras-chave: Cronotopo. Diário. Garibaldi. Grotesco lúgubre. Manuela.

O VERBO, A AÇÃO E A DESTRUIÇÃO: TRÊS RELEITURAS FÁUSTICAS DO


PRÓLOGO DO EVANGELHO DE JOÃO

Lucas Silveira Fantini da Silva


UNESP/Ibilce
lucas.fantini@unesp.br

O homem sábio que se desvia do caminho da fé e vende a alma ao diabo em troca de


poder e conhecimento é um motivo que reverbera pela tradição literária. O mito
fáustico, muito impulsionado por Goethe no início do século XIX, tem origem numa
lenda popular alemã do século XVI e é considerado um mito tipicamente moderno.
Berman (2007) aponta que o Fausto de Goethe é uma tragédia do desenvolvimento, pois
constata o potencial criativo e intelectual dos homens e instiga a força da vontade
humana para intervir no mundo e buscar novas experiências para si. Watt (1996), por
outro lado, resgata a origem histórica do Fausto na busca de uma genealogia do mito e
conclui que a danação do pactário é, no contexto de influência luterana, o terrível
destino daqueles que afirmam a própria individualidade acima de qualquer desígnio. Em
Goethe, o momento da “hybris” se dá antes do pacto, quando Fausto nega a verdade
revelada nas palavras iniciais do Evangelho de João e afirma que no princípio foi a

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“Ação”, e não o “Verbo”, que estava junto a Deus e era Deus. Eis que o sujeito fáustico
é genial e engenhoso, mas vaidoso e, é claro, individualista, colocando-se, a exemplo do
diabo e com a ajuda dele, acima de Deus. Este trabalho, enfim, pretende contrapor,
contra a chave dogmática de João 1:1, três posturas fáusticas presentes em Fausto, uma
tragédia, de Goethe (2017), Doutor Fausto, de Thomas Mann (2015), e Grande sertão:
veredas, de Guimarães Rosa (2019); uma vez que, se Goethe, no século XIX, propõe,
com certo otimismo, a Ação ao Verbo, vê-se que, nas duas outras obras do século XX, a
Ação é realocada, em Mann, pela Destruição e, em Rosa, de maneira quase antifáustica,
pela reafirmação do Verbo.

Palavras-chave: Fausto. Goethe. Guimarães Rosa. Thomas Mann.

O GROTESCO NA POESIA EM PROSA DE ALOYSIUS BERTRAND

Matheus Victor Silva


UNESP/FCLAr
matheus.victor@unesp.br

Gaspard de la Nuit (1842), obra póstuma de Aloysius Bertrand e precursora do poema


em prosa, ficou por muito tempo desconhecida do público em geral antes que os estudos
em torno de sua forma poética lhe restituíssem a devida importância. Compreendido na
linha de culto ao passado empreendido pelos românticos, fatalmente o Gaspard foi
encerrado no medievalismo que entrara em voga na década de 1830 na França, o que
lhe custou uma recepção rasa entre os leitores, ficando restrito a um pequeno grupo de
escritores. Entretanto, o esmero formal empregado pelo autor reflete-se sobre a temática
da sua obra de modo ímpar, criando um feixe complexo de imagens que, acreditamos,
erigem uma expressão mais profunda do ideal medieval romântico. Nesse sentido, é
fundamental a fusão então inédita realizada por Bertrand entre prosa e poesia, capaz de
criar uma forma de figuração de singular potencial. A forte presença de tensões em
todos os níveis do poema bertrandiano levou-nos ao estudo mais apurado do caráter
grotesco nas suas imagens poéticas, pilar central da amplitude da evocação do passado
intentada pelo autor e atento às prerrogativas de Victor Hugo em seu aclamado Prefácio
a Cromwell. Considerando os diversos estudos teóricos acerca do grotesco, sobretudo
aqueles de Mikhail Bakhtin, buscamos destacar a sua significação tanto no Romantismo
quanto na Idade Média, visando sua confluência no Gaspard, de forma a compreender
como a imagética criada pelo autor reflete as prerrogativas de seu tempo enquanto
resgata também, através dessas dissonâncias grotescas, muitos traços de uma
“mentalidade” medieval, permitindo-lhe o restabelecimento de uma realidade plena.

Palavras-chave: Aloysius Bertrand. Grotesco. Poema em prosa. Romantismo francês.

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A PERSONAGEM FEMININA NA LITERATURA FANTÁSTICA: UMA
ANÁLISE DE “BÁRBARA”, DE MURILO RUBIÃO, E “TIGRELA”, DE LYGIA
FAGUNDES TELLES

Michelle Nunes da Silva


UNESP/Ibilce
nunes.mns.silva@gmail.com

Esta comunicação tem como objetivo central discutir a imagem da mulher na literatura
fantástica em geral e mais especificamente a caracterização e ficcionalização da
personagem feminina nos contos “Bárbara”, de Murilo Rubião, e “Tigrela”, de Lygia
Fagundes Telles – autores de expressiva importância para a literatura fantástica no
Brasil. Os contos estão presente, respectivamente, nas coletâneas Contos reunidos
(2005) e Mistérios (1998) e foram publicados na segunda metade do século XX. Para
pensar a figuração da mulher na literatura fantástica contaremos principalmente com as
ideias de Paula Júnior (2011). O autor promove um estudo visando demonstrar como o
fantástico, que conta com um cânone essencialmente androcêntrico, ou seja, sob a
perspectiva masculina de autoria, tem tratado a figura feminina em sua composição. O
autor ainda propõe três categorias para pensar o lugar da mulher na literatura fantástica:
a mulher como objeto, como sujeito e como autora. Sob esta perspectiva, podemos
pensar a caracterização das personagens femininas nos contos indicados. Assim
podemos propor que Murilo Rubião, no conto “Bárbara”, apresenta a personagem
feminina mais próxima da categoria objeto e Lygia Fagundes Telles, no conto “Tigrela”,
apresenta a personagem mais alinhada à categoria sujeito. Além disso, para pensar a
condição da mulher autora, no caso de Lygia Fagundes Telles, contaremos com as
ideias de Coelho (1991) sobre a “nova mulher” e seu amadurecimento crìtico. E, por
meio de uma análise crítica comparativa dos contos, discutiremos essa questão. Ainda,
para um entendimento geral da literatura fantástica e sua configuração, contaremos com
ideias de Todorov (2014) e Bessière (2012).

Palavras-chave: Autoria feminina. Fantástico. Personagem feminina.

ADRIANA: A PERSONAGEM ROMÂNTICA EM AMANHÃ, DE ABEL


BOTELHO

Moisés Baldissera da Silva


UNESP/Ibilce
moises.baldi@gmail.com

O romance Amanhã (1901), de Abel Botelho, foi publicado em Portugal no final do


século XIX. Nesse contexto finissecular a estética naturalista está em sua fase epigonal
e, segundo Santana (2007), “sem perspectivas de renovação como gênero, conhece no
entanto interessantes derivações.” (SANTANA, 2007, p. 133). Assim, no terceiro
romance da série de livros intitulada “Patologia Social”, encontramos o registro de uma
personagem que subverte a representação feminina da narrativa realista-naturalista. A
mulher, como aponta Jesus (1997), está presente no romance para servir as necessidades
do homem, ele é o centro da narrativa e tudo é contado pela sua percepção. Sob essa
perspectiva, Moisés (1961) apontou que a história de amor entre Mateus, protagonista
do romance, e Adriana serve apenas “como pano de fundo, e pano de fundo um pouco

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incolor, para entreter o leitor, ou leitora, desejosa de intriga ou mistério na composição
do romance” (MOISÉS, 1961, p. 48-49). Discordando do apontamento feito pelo
estudioso brasileiro, compreende-se que a relação entre Mateus e Adriana não é apenas
um pano de fundo romântico, mas um ponto de subversão para ambos, pois a
personagem feminina tem papel decisivo no transcorrer e finalização do romance
quando, com lábios frios, beija Mateus em uma tentativa consciente de impedir o
atentado bombista organizado pelo amante. Assim, com esta comunicação, procura-se
demonstrar a intrigante apropriação que o autor português faz da representação da
mulher romântica “recodificada pela estética decadentista” (SANTANA, 2007, p. 206),
não restringindo a descrição, tão pouco as ações, de Adriana a uma única percepção
estética.

Palavras-chave: Abel Botelho. Naturalismo. Romantismo.

O DIÁLOGO ENTRE OS LUSÍADAS E O ROMANCE TUDO O QUE É SÓLIDO


PODE DERRETER

Rosana Munutte da Silva


UNESP/FCLAr
munuttedasilva@yahoo.com.br

O romance Tudo o que é sólido pode derreter, escrito por Rafael Gomes, em 2013, é
uma versão romanceada do seriado televisivo homônimo produzido em 2009 pela TV
Cultura, em parceria com a Ioiô Filmes. A obra apresenta um interessante diálogo com
obras canônicas em língua portuguesa, e observa-se as diferenças entre os dois suportes
(vídeo e livro). A protagonista Thereza, aluna do Ensino Médio, mantém estreita relação
com as obras apresentadas pelo professor de literatura, tentando ler atentamente todas e,
de certa forma, incorpora-as no seu cotidiano, pois há ligação intensa e significativa
entre o estado emocional da personagem e as histórias lidas. O capìtulo três, “Os
lusìadas”, torna-se expressivo objeto de análise devido à forma como é estabelecido o
diálogo com a epopeia de Camões, a temática da identidade e a experiência da garota no
centro de São Paulo, além de sua singular estruturação, pois o capítulo é composto em
forma de diário, pormenorizando os momentos do dia da personagem em sua
empreitada. Além da referência explícita ao poema de Camões e a versos da obra e de
importantes episódios, a estrutura do capítulo é peculiar, configurando mais um diário.
Aliás, as anotações seguem o esquema de um diário de bordo, realmente como se a
protagonista (narradora do texto, ou seja, quem conta a história, produz o discurso)
estivesse registrando uma viagem. Há, portanto, um jogo intertextual com a obra de
Camões, o qual fica explícito devido ao caráter didático que assume o romance escrito
por Rafael Gomes. O enunciatário não precisa ter um conhecimento amplo da obra
portuguesa para perceber o diálogo que se estabelece, pois o próprio enunciador aponta
os aspectos em contato e reflete a respeito, deixando em dúvida se é apenas imaginação
ou realidade, ficando a cabo do enunciatário preencher tal lacuna.

Palavras-chave: Ensino. Intertextualidade. Literatura. Tudo o que é sólido pode derreter.


Os Lusíadas.

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UM DOUTOR “POR FORÇA”: ASPECTOS DA SÁTIRA EM LIMA BARRETO

Rodrigo Aparecido Ribeiro da Silva


UNESP/FCL
rodrigo.ribeiro-silva@unesp.br

Nas primeiras décadas do século XX, o escritor Lima Barreto (1881-1922) atuou na
imprensa, escrevendo principalmente crônicas e contos para periódicos como Careta,
Fon-Fon!, Correio da Noite, A.B.C., entre outros. Em seus escritos, o autor de Triste fim
de Policarpo Quaresma traça um amplo perfil da sociedade de sua época, e utiliza com
frequência as estratégias próprias da sátira para empreender uma crítica severa a todos
os grupos sociais, em especial aqueles responsáveis pela falácia do projeto “civilizador”
e pela disseminação de práticas como o apadrinhamento e a ascensão social pela via
política. Em sua acepção moderna, a sátira está ligada à denúncia e correção de
condutas e à desconstrução de ideias cristalizadas. Na obra de Lima Barreto, o gênero
adquire tal importância que Carlos Erivany Fantinati (2012) aponta para uma verdadeira
dominância satírica, além de definir o escritor como um autêntico satirista.
Considerando a função pragmática exercida pela sátira na obra limabarretiana e os
estudos sobre o gênero empreendidos por Matthew Hodgart (1969) e Fantinati (2012),
nosso objetivo é analisar a crônica “Por força”, publicada na revista Careta em abril de
1915. Nesse texto, escrevendo sob pseudônimo, Lima Barreto alude a uma personagem
da obra L’Ingénu (1767), do escritor e filósofo francês Voltaire (1694-1778), para tratar
satiricamente da prática conhecida como “doutoromania”, que consistia no uso irrestrito
do tìtulo de “doutor” por muitos indivìduos tanto como marcador de status como meio
de ascensão social.

Palavras-chave: Crônicas. Lima Barreto. Revista Careta. Sátira. Voltaire.

MOTORES APAIXONANTES: ANGELICA E DULCINEA

Sara Gabriela Simião


UNESP/FCL
piccolasara.s@hotmail.com

Este trabalho visa comparar e debater as figuras femininas Angelica e Dulcinea,


respectivamente, em Orlando furioso (1532), de Ludovico Ariosto, e em Dom Quixote
de la Mancha (1605/1615), de Miguel de Cervantes. Foram selecionadas essas obras
porque dialogam entre si, principalmente por meio da questão cavaleiresca, revisitada
pelo olhar paródico, e trazem protagonistas que estão em busca de uma realização
individual. São histórias movimentadas, intercaladas pelas mais diferentes personagens
e narrativas paralelas. E isso acontece, principalmente, porque os protagonistas estão em
busca de seus anseios particulares, representados pelas damas. Angelica e Dulcinea são
personagens emblemáticas e funcionam como motores narrativos, uma vez que muitos
cavaleiros perseguem a princesa do Catai, desencadeando encontros e desencontros e
envolvendo-se nas mais diferentes aventuras. Angelica será a chave para um dos
episódios centrais dessa obra, no caso, a loucura de Orlando, que devastado pela
rejeição, libertar-se-á da sua armadura e de seu posto para perambular espalhando o
caos. Por outro lado, Dulcinea comporta-se como uma presença ausente, vivendo no
imaginário de Dom Quixote, fazendo com que ele invente e viva as mais diversas

74
histórias, sempre em busca de tornar-se digno de sua dama, obedecendo ao código do
amor cortês. Ainda que não apareça fisicamente na obra, será reinventada não apenas
pelo seu fiel cavaleiro, mas também por outras personagens, desencadeando uma
multiplicidade de imagens cômicas. Ainda que sejam de naturezas distintas, essas
damas são fundamentais para se compreender os protagonistas, pois Orlando
enlouquece porque se apaixonou por Angelica, e Dulcinea faz parte da loucura
quixotesca. Baseando-se nos trabalhos de Mario Santoro, Yves Bonnefoy, Italo Calvino,
Carlos Mata Induráin, Mariapia Zanardi Lamberti, e Gonzalo Torrente Ballester, esse
trabalho pretende apontar o modo como Angelica e Dulcinea movimentam essas
histórias, provando que são elementos fundamentais dessas obras.

Palavras-chave: Angelica. Dulcinea. Motores Narrativos. Personagens femininas.

PELO PONTO DE VISTA DA 'FALLEN WOMAN': O DISCURSO INDIRETO


LIVRE EM ESTHER WATERS, DE GEORGE MOORE

Thaís Marques Soranzo


UNICAMP
thais.soranzo@gmail.com

Caracterizada como fallen woman, a mulher que perde a virgindade antes do casamento
já foi tema de muitos romances ingleses. Esther Waters (1894), de George Moore,
inclui-se nessa tradição. Após engravidar de William, colega de trabalho por quem era
apaixonada, Esther é abandonada e tem de criar o filho sozinha. As adversidades que
enfrenta são imensas, afinal, a moralidade vitoriana não permitia que houvesse distinção
entre a prostituta e a jovem que errou uma vez. Para George Watt (1984), no entanto, o
lugar das fallen women passou a ser reivindicado quando elas ganharam espaço no
romance. No caso de Esther Waters, a avaliação de Watt parece estar correta, pois o
livro foi elogiado pelos críticos. Parte dessa recepção pode ser atribuída aos princípios
éticos da personagem. A despeito de ter violado uma norma social, Esther era uma mãe
dedicada e uma trabalhadora honesta. Todavia, ainda que a protagonista precisasse ser
virtuosa para ter uma boa aceitação entre o público, sua conduta não foi condenada no
romance. Diferentemente da representação usual da fallen woman, Moore não retrata
sua personagem como inocente. Ao contrário, enfatiza sua sexualidade. Esther cedeu a
William porque sentia-se atraída por ele. Como forma de registrar o desejo sexual
feminino na ficção, Moore adota o discurso indireto livre, possibilitando, assim, que sua
heroína ganhasse voz. Por essa perspectiva, este trabalho visa analisar o uso dessa
técnica narrativa a fim de explorar como Esther Waters apresenta novas subjetividades
no campo do romance (FEDERICO, 1993). Para além de ser uma fallen woman, Esther
era uma criada analfabeta. Embora quisesse compartilhar sua desdita, muitas vezes não
conseguia articular seu raciocínio de maneira clara. Com o discurso indireto livre, a
fallen woman pôde enfim contar sua história. Ao mostrar seu ponto de vista,
compadeceu a crítica vitoriana.

Palavras-chave: Discurso indireto livre. Esther Waters. Fallen woman.Romance inglês.

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A CENA DO SLAM DE POESIA NO BRASIL E NA ARGENTINA: DIÁLOGOS
A PARTIR DOS POEMAS “LEMBRA”, DE LUZ RIBEIRO, E “ACOSO
CALLEJERO”, DE MARIANA BUGALLO

Fabiana Oliveira de Souza


UFRJ
fabiana.oliveira.de.souza@letras.ufrj.br

Este trabalho tem como objetivo indicar traços característicos da cena do slam de poesia
no Brasil e na Argentina, uma corrente artístico-literária que vem movimentando
circuitos culturais de ambos os paìses. Por meio da análise dos poemas “Lembra”, da
slammer brasileira Luz Ribeiro, e “Acoso callejero”, da argentina Mariana Bugallo,
apresentados em batalhas poéticas de slam, pretende-se estabelecer um diálogo entre os
dois contextos, chamando a atenção para o fato de que a inquietação sobre uma mesma
temática surge em lugares distintos e é abordada em performances orais também
bastante diferentes. A escolha dessas poetas se deve pela relevância que cada uma tem
para a constituição do que são hoje as competições de poesia falada em seus respectivos
países, conforme tem sido possível perceber em uma pesquisa, ainda em
desenvolvimento, que tem como propósito compreender os rumos do poetry slam em
cada caso, tendo como base os diversos torneios brasileiros e argentinos ao longo dos
últimos anos. Ademais, pode-se afirmar que, embora cada slammer tenha um modo
único de explorar seu corpo e sua voz ao oralizar seus textos, Luz Ribeiro e Mariana
Bugallo o fazem de uma forma semelhante ao que se percebe como predominante em
cada cena. Além das obras que serviram de base para conhecer a história desse gênero
híbrido e acessível que surge na década de 1980, no subúrbio de Chicago, nos Estados
Unidos, orientaram este estudo considerações de Ruth Finnegan, Paul Zumthor, Peggy
Phelan e Martina Pfeiler sobre oralidade, poesia oral e performance, entre outros.

Palavras-chave: Luz Ribeiro. Mariana Bugallo. Performance. Poesia falada. Slam de


poesia.

REMINISCÊNCIA E SIMULTANEIDADE: COMO O TEMPO CONTA A


HISTÓRIA EM AS MENTIRAS DE LOCKE LAMORA

Luís Otávio Araujo Leal de Souza


UNESP/Ibilce
loaraujo98@hotmail.com

As Mentiras de Locke Lamora (2014) é um romance fantástico do escritor americano


Scott Lynch que narra as aventuras de Locke Lamora num mundo fantasioso, mais
especificamente, em Camorr, uma grande cidade litorânea dominada pela imoral
cumplicidade entre uma aristocracia corrupta e uma máfia altamente organizada. O
protagonista, Locke Lamora, é um chefe de gangue a serviço da máfia que trai
secretamente este pacto aplicando golpes elaborados contra a nobreza. Inicialmente, a
estrutura da narrativa parece bastante simples: o narrador onisciente não participa
ativamente da narrativa nem com comentários nem com juízos de valor, e a trama
desdobra-se, além de numa narrativa primeira onde se desenvolvem os conflitos do
romance, em interlúdios que se espalham da infância à adolescência de Locke e
esparsos interlúdios que contam acontecimentos importantes da história do mundo ou da

76
cidade de Camorr. Cada um destes dois tipos diferentes de interlúdio dá ao leitor
informações que serão imediatamente importantes para a compreensão da trama. É com
esta ilusão de simplicidade e interdependência temporal que o narrador adiciona
profundidade à narrativa. Além das informações dadas pelos interlúdios que serão
utilizadas imediatamente pela narrativa primeira, há detalhes menos essenciais que virão
a ser retomados vários capítulos mais tarde, bem como há interlúdios que parecem
dirigir o leitor para uma determinada direção mas quebram esta expectativa ao levá-lo à
direção oposta tão logo retorna a narrativa primeira. Além disso, a própria tessitura
temporal da narrativa trabalha com simultaneidades que são o alicerce para a aura de
genialidade que paira ao redor dos elaborados golpes de Locke. Esta comunicação, em
suma, terá como embasamento teórico as ideias de James Wood (2009) e Gérard
Genette (2017) para compreender como os efeitos de sentido são criados a partir da
representação e da subversão da temporalidade na obra.

Palavras-chave: As Mentiras de Locke Lamora. Fantástico. Scott Lynch.

A VORAGEM MATERNAL EM “UMA/DUAS”, DE ELIANE BRUM

Neila da Silva de Souza


UnB
neila.ssouza@yahoo.com.br

Esta comunicação tem o objetivo de apresentar o romance “Uma/Duas” (2011), de


Eliane Brum sob a perspectiva da figura não sacralizada do amor materno. A
presentenarrativa possui condições estéticas, em que o leitor é fisgado por uma
linguagem sem pudor por narradores que nos permitem desnudar a dimensão entre
corpo e escrita, amor e ódio nas vozes de mãe e de filha, em que o despedaçar-se das
fronteiras da figura não sacralizada do amor materno fala mais alto. Pensar a forma que
a autora procura transmitir essa voragem maternal ao leitor, por meio de sua arte, leva-
nos a refletir que, no decorrer do romance, essa palavra adquire diferentes níveis de
significações, uma vez que levanta questionamentos, não menos importantes, sobre a
maternidade, e ainda suscita outras inquietudes da condição humana. Todo sinal de
aproximação entre mãe e filha tem como resultado a hipocrisia, a inoperância, o descaso
e a violência em relação à afetividade. Assim, o texto fala, como uma disputa tanto na
escrita, como disputa pelo corpo, como disputa por si, o que permite pensar a voragem
como uma descoberta no que diz respeito tanto às micro quanto às macrorrelações,
constituindo-se, portanto, uma metáfora da vida. Para discutir esse aspecto incessante
por respostas para o enigma existencial, recorremos ao ensaio “A arte do romance”, de
Milan Kundera constituído por textos e entrevistas, no qual o autor apresenta suas
reflexões acerca da sabedoria do romance. Dessa forma, a palavra voragem, a partir do
romance, transfigura-se em uma possibilidade de conhecimento da vida humana.

Palavras-chave: Maternidade. Uma Duas. Voragem.

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OS MARGINALIZADOS ACOLHIDOS POR CRISTO NOS CONTOS DE
DOSTOIÉVSKI

Nataly Rafaele Ternero


USP
natalyternero@usp.br

Fiódor Dostoiévski (1821-1881) é mais conhecido por seus grandes romances, como
Crime e castigo (1866) e Os irmãos Karamázov (1880). Contudo, tendo sido uma figura
ativa nos jornais russos do século XIX, desenvolveu também vários trabalhos em
diversos outros gêneros, como crônicas, contos e ensaios, que foram recentemente
compilados no Brasil no volume Contos reunidos, de 2017. O objetivo dessa pesquisa é
observar como Dostoiévski traz para o centro de suas narrativas curtas figuras
marginalizadas pela sociedade – alcoólatras, ladrões, hereges, mendigos e suicidas – e
demonstrar como essas personagens encontram algum conforto em Cristo, figura
marcante nas obras do autor. Nessa comunicação, serão expostos e analisados os textos
“Mujique Marei” e “Um menino na festa de Natal de Cristo” (ambos de 1876), à luz dos
embates teóricos entre racionalismo e religião, modernização e tradição, efervescentes
no século XIX russo. Para compreender esse cenário, serão utilizados textos de Bakhtin,
Joseph Frank, Robert Louis Jackson, Luiz Felipe Pondé e Priscila Glehn. Em “Mujique
Marei”, observamos as memórias de Dostoiévski sobre um camponês russo que lhe
ensina ainda quando criança a importância de acolher ao próximo; anos depois, preso
por crimes políticos junto a ladrões e assassinos grosseiros, o autor aprende a colocar
em prática o amor ao próximo ensinado por Cristo e relembrado na figura do mujique.
“Um menino na festa de Natal de Cristo” mostra a miséria das crianças russas excluìdas
da modernização das cidades, mas que são engrandecidas depois da morte, na festa de
Jesus para os humilhados. Essas representações em seus contos são fruto de um intenso
embate de pensamentos presente em sua época, que contrapunha os valores
“ultrapassados” do povo aos novos ideais de sociedade trazidos da Europa pela
intelligentsia russa.

Palavras-chave: Contos. Dostoiévski. Racionalismo e religião. Rússia do século XIX

MANON LESCAUT, UM CAVALO DE TROIA EM DOM CASMURRO?

William de Oliveira Tognolo


UNICAMP
william.tognolo@gmail.com

Hélio Guimarães, em Machado de Assis, o escritor que nos lê, explica como em Dom
Casmurro há referências ao romance Manon Lescaut, de Antoine Prévost, que
identificam Bentinho ao puro e bom Des Grieux e Capitu à libertina Manon Lescaut.
Segundo Guimarães, essa visão dos amantes avançou na crítica machadiana até Helen
Caldwell mudar o paradigma de análise de Manon para Otelo. O objetivo deste trabalho
é apresentar uma leitura renovada de Dom Casmurro, partindo das referências à obra
Manon Lescaut suscitadas pelo narrador Bento Santiago. Baseio este estudo na
perspectiva de Santiago como um “mau leitor”, apresentada por Hélio Guimarães, em
Leitores de Machado de Assis, que destaca como Santiago ilustra seus ciúmes fazendo
leituras tendenciosas de Otelo e Manon Lescaut. Analiso, na apresentação, que

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Santiago, enquanto um “mau leitor”, sugere a aproximação de si com Des Grieux e
Capitu de Manon, porém, essa sugestão interpretativa poderia suscitar no leitor uma
abordagem mais detida dessas obras, o que poderia aguçar o sentido do leitor para
algumas questões, tais como: a história em Manon Lescaut ser contada da perspectiva
de Des Grieux; Des Grieux se qualificar e ser qualificado como “ingênuo”, “inocente”,
“naturalmente dócil” e “tìmido”, só que a história conta aventuras em que ele se mostra
ladrão, corrupto, dissimulado, mentiroso, pecador, violento e homicida; haver na
narrativa a condenação dos vícios dele e da amante. Essas questões poderiam fazer com
que o leitor analisasse Dom Casmurro com olhar renovado, transformando a sugestão
interpretativa de Santiago em um Cavalo de Troia, apontando sua parcialidade enquanto
narrador, sua falta de autoavaliação e questionando a visão do narrador de si mesmo
como ingênuo, puro e verdadeiro, pois ao narrar sua história mostra ocasiões em que
mente, engana, quebra juramentos, peca, tem pensamentos e ações violentas e dissimula
diversas vezes.

Palavras-chave: Dom Casmurro. Machado de Assis. Manon Lescaut.

A RELAÇÃO ENTRE LITERATURA E RELIGIÃO NOS FRAGMENTOS DE


NOVALIS

Natalia Fernanda da Silva Trigo


UNESP/Ibilce
natalia.trigo@unesp.br

No presente trabalho procuramos analisar como Novalis realiza uma importante


reflexão sobre a relação entre a religião e a literatura. Para Novalis, a função do artista é
a de transportar a humanidade para uma nova reflexão, a literatura e a arte são vistas
como atividade de pensamento, ou seja, se realizam como reflexão. Essas ideias acerca
da literatura, da linguagem poética e da crítica são desenvolvidas por Novalis nos
fragmentos de Pólen (Blüthenstaub), publicados em 1798, no primeiro número da
revista Athenaeum, que foi o principal veículo de divulgação das ideias desse grupo.
Analisaremos o fragmento 75 e o fragmento 110 de Pólen, de maneira a compreender a
relação entre literatura e a religião desenvolvida por Novalis nesses fragmentos, entendo
que essa relação se dá pelo uso da linguagem, aproximando a linguagem poética da
divina, porque ambas criam mundos. Além disso, para Novalis, tanto a religião como a
literatura aproximam o homem do mundo infinito, ambas têm a função de mediação do
Absoluto. Buscamos dialogar, principalmente, com as análises desses fragmentos
propostas por Dick (1967), Striedter (1985), O’Brien (1995), Uerlings (2004), Scheel
(2010), Schefer (2011) e Schulz (2013). A partir de nossa análise, procurando
compreender que ao aproximar a religião da literatura, Novalis ressalta o caráter
simbólico da linguagem de ambas, além de dissolver as fronteiras entre espírito,
pensamento e criação, além da sobreposição da literatura a outras artes, uma vez que a
literatura, a arte das palavras, é capaz de conectar o mundo humano e o mundo místico,
divino.

Palavras-chave: Novalis. frühromantik. Pólen.

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O LUGAR DO ROMANCE TRADICIONAL NOS DEBATES SOBRE GÊNERO
LITERÁRIO NO SÉCULO XIX

Antonio Marcos dos Santos Trindade


UFS
antonio.marcostrindade@gmail.com

No bojo dos experimentalismos estéticos pelos quais passam os gêneros literários no


século XIX, ocupa um lugar proeminente a redescoberta dos romances tradicionais, os
quais são poemas populares cantados, provenientes da Península Ibérica, de natureza
híbrida, apresentando simultaneamente características dos gêneros épico, lírico e
dramático. Tais poemas, cuja sobrevivência se deve ao processo de variação pelo qual
eles se mantêm vivos na memória popular, nascem tanto entre as classes aristocráticas
medievais, nas cortes palacianas, quanto entre as pessoas do povo; sendo a circularidade
cultural, portanto, uma de suas marcas principais. No século XIX, o romance tradicional
é redescoberto pelos letrados por razões intelectuais, estéticas e políticas. Intelectuais,
porque, nos movimentos românticos desse período, era compromisso intelectual o
nativismo e o primitivismo cultural, que depois se convertem nos nacionalismos.
Estéticas, porque era preciso reagir à arte artificial, neoclássica, universal e iluminista, e
voltar-se para uma tradição mais local e primitiva que revelasse a identidade nacional.
Finalmente, razões políticas por conta dos problemas políticos em jogo: as guerras,
invasões e a dominação estrangeira dos impérios contra a qual emergiam os
nacionalismos. Dentro desse contexto histórico, autores como Almeida Garrett e Teófilo
Braga, em Portugal, e Celso de Magalhães, José de Alencar e Sílvio Romero, no Brasil,
com o intuito de reunirem vestígios desse gênero literário em coletâneas (chamadas
Romanceiros), saem em busca dele junto ao povo. Além do hibridismo de gêneros e da
circularidade cultural, outra característica fundamental do romance tradicional é a
movência, ou seja, sua vocação para migrar diasporicamente de um espaço geográfico
para outro. Assim, durante o processo da colonização, o gênero chega ao Brasil, onde
sobrevive entre vaqueiros e cantadores de feira, inspira folhetos de cordel e ganha novas
versões com as cantadeiras, que, ao guardarem os poemas na memória, tornam-se suas
mais fiéis portadoras, coautoras e transmissoras.

Palavras-chave: Gênero literário. Romance tradicional. Século XIX.

UM OLHAR SOBRE A BIOGRAFIA EM OLGA, DE FERNANDO MORAIS

Matusa Mendes da Trindade


UFSM
matusa.mendes@hotmail.com

A análise do objeto de estudo – Olga – será realizado através de uma pesquisa sobre o
conceito de representação na Literatura e suas diversas teorias para, em seguida, iniciar
uma análise da configuração entre história e Literatura em uma obra biográfica, ou
como, em teoria, deveria se apresentar, para então realizar uma análise da obra
escolhida e de como ela articula sua estrutura literária para desenvolver um personagem
histórico. Esta pesquisa justifica-se pela necessidade de uma reflexão sobre como uma
obra biográfica pode ser caracterizada como ficção, enfatizando o personagem histórico:
até que ponto ainda se trata de realidade ou no decorrer da narrativa ele se torna um

80
personagem fictício. Não é que a vida de um personagem histórico não possa ser
contada, mas que nem sempre ela teria ocorrido exatamente como na obra, pois há o que
o autor imaginou que aquela pessoa teria vivido, ou como teria agido em determinada
situação. Afinal, em muitos casos, até mesmo no estudo da História atual, as fronteiras
estabelecidas no diálogo entre ficção e História tornam-se imprecisas. A ficção se insere
na realidade exterior, pois contém elementos produzidos por uma situação real da qual
eles dependem e na qual se projetam. Para uma análise a respeito desses laços entre a
ficção e a História, utilizaremos o método interdisciplinar de fundamentação teórica e
de pesquisa bibliográfica, partindo para a compreensão das relações entre literatura e
história na obra biográfica Olga, para assim identificar o processo de criação do autor e
identificar se ele desenvolveu um texto literário como uma fonte a serviço da História,
ou utilizou a História como objeto para a Literatura.

Palavras-chave: Biografia. História. Literatura. Olga.

A PARATEXTUALIDADE NAS PRIMEIRAS EDIÇÕES ILUSTRADAS DE


GREAT EXPECTATIONS, DE CHARLES DICKENS

Natalie de Olim Valença


UNESP/Ibilce
natalie.olim@hotmail.com

As ilustrações sempre ocuparam um lugar importante nas obras de Dickens,


acompanhando a maioria de seus trabalhos desde as suas primeiras edições. Ao publicar
seus romances no formato de folhetim ilustrado, serializado em partes mensais ou
semanais, Dickens alcançou reconhecimento popular (COHEN, 1980, p. 4 e 5). Great
Expectations, que narra a história do menino Pip desde a sua infância até a idade adulta,
foi lançado semanalmente, nos Estados Unidos, na revista Harper’s Weekly, após a
venda dos direitos de publicação do romance a editores norte-americanos. Nessa edição,
foram incluídas ilustrações de John McLenan. Na Inglaterra, Great Expectations foi
inicialmente publicado na revista do próprio autor, a All the Year Round,
simultaneamente à edição americana, porém sem ilustrações. O texto foi ilustrado em
seu país de origem somente em 1862, quando o ilustrador Marcus Stone, indicado pelo
próprio Dickens à editora Chapman and Hall, recebeu a tarefa de produzir oito gravuras
para a primeira edição em volume único de Great Expectations (SCHLICKE, 2011, p.
261). O tipo de publicação ilustrada lançada por Dickens possibilitou não só a
colaboração entre escritor e artistas, como também apresentou novas maneiras de
conceber e exibir relações entre imagem e palavra (STEIG, 1978, apud ALLINGHAM,
2009, p. 115 e 116). Assim, essa comunicação propõe a análise das ilustrações de Great
Expectations que acompanham o romance em suas duas primeiras edições ilustradas.
Será considerada, para isso, a relação entre o texto e a imagem, categorizada como
paratexto, que acompanha a narrativa, agregando novos significados a ela. Os estudos
teóricos de Genette (2006) nortearão essa análise. A partir dessas colocações, serão
analisadas as relações entre o texto e seus paratextos iconográficos, o que pode nos
conduzir a uma reflexão acerca das intenções dos ilustradores e dos motivos
relacionados à inserção das ilustrações nessas edições.

Palavras-chave: Charles Dickens. Great Expectations. Ilustrações. Paratexto.

81
A REPERCUSSÃO CRÍTICA DO DRAMA FANTÁSTICO “O BOM ANJO DA
MEIA NOITE”, DE FURTADO COELHO

Gustavo Zambrano
UNESP/Ibilce
guzambrano@hotmail.com

A partir da década de sessenta do século XIX, constata-se no ambiente teatral do Rio de


Janeiro o declínio de encenações de dramas realistas franceses, portugueses e brasileiros
e o avanço do teatro voltado para o entretenimento, isto é, das mágicas e das operetas
(FARIA, 2001); (MENCARELLI, 2003). Luiz Candido Furtado Coelho, ator e
dramaturgo português, e considerado um dos responsáveis pela implantação do teatro
realista no Brasil, vendo o declínio do teatro sério na Corte, procurou, quando
empresário do Teatro Ginásio, diversificar o seu repertório, encenando além dos dramas
realistas, algumas mágicas, operetas e dramas voltados ao gênero fantástico. Sobre esse
último, Furtado Coelho levou em cena em julho de 1866, a peça “O Anjo da Meia
Noite”, obra francesa de Théodore Barrière e Edouard Plouvier; em fevereiro de 1867
“O Remorso Vivo”, obra de sua autoria em parceria com Joaquim Serra e por fim em
1877 “O Bom Anjo da Meia Noite”, obra também de autoria própria. Assim, a partir
dessas considerações o objetivo dessa comunicação é apresentar, a partir dos jornais do
século XIX, a repercussão crìtica do drama fantástico “O Bom Anjo da Meia Noite”,
destacando pontos que envolvem a execução do espetáculo como um todo, além do
valor estético da obra.

Palavras-chave: Drama Fantástico. Furtado Coelho. Teatro Brasileiro.

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PAINÉIS
(Em ordem alfabética por sobrenome do autor)

JACQUES, O ESPINOSISTA: A SÁTIRA DA FILOSOFIA ESPINOSANA DE


JACQUES, LE FATALISTE, ET SON MAÎTRE, DE DENIS DIDEROT

Luca Barreiro Lopes de Almeida


UNESP/Ibilce
luca.barreiro.almeida@gmail.com

O século XVIII, segundo Cassirer (1992), foi intitulado como “Século da filosofia”
pelos seus próprios iluministas. Esse período viveu um grande florescimento intelectual
em que os pensadores se dedicavam ardentemente a novas descobertas e revelações.
Mesmo assim, o Iluminismo não é um período responsável por criar novos
entendimentos filosóficos, mas, sim, por reexaminar a herança intelectual e apropriar-se
dela. Dentre esses espíritos animosos do Setecentos, Denis Diderot (Langres, 1713 –
Paris, 1784) foi o homem mais rico de ideias do seu tempo (AUERBACH, 1972), cujo
vasto e multifacetado conjunto de produções compreende diversas obras que ainda são
muito importantes para diversas áreas das ciências humanas, como para a filosofia, para
a estética e, não menos importante, para os estudos literários. Neste painel, exporemos
um estudo sobre o romance Jacques le fataliste et son maître (DIDEROT, 1962). A
narrativa conta as aventuras de Jacques, um servo adepto do espinosismo, que viaja com
o seu amo para um lugar indeterminado. Durante o percurso, eles dialogam
constantemente sobre questões filosóficas e, muitas vezes, retomam questionamentos
semelhantes aos que Espinosa desenvolve em sua Ética (1960). Entretanto, o romance
não é só uma ferramenta de exposição das ideias do geômetra. A narrativa retoma as
ideias desse filósofo do Seiscentos satiricamente, isto é, expõe comicamente as
proposições espionosanas para que, enquanto rimos delas, possamos perceber o caráter
falho do sistema filosófico. O que propomos é realizar um percurso por Jacques, a fim
de identificamos de que modo a arte romanesca desenvolve questionamentos filosóficos
de Espinosa. Faremos isso a partir de um exame dos artifícios formais que contribuem
para a construção da sátira e do conteúdo filosófico que se manifestam no romance.
Para essa discussão, servir-nos-emos, no que cerne aos aspectos literários, de Bahktin
(2002) e de Bergson (1960). Quanto às questões filosóficas, servir-nos-emos de
Espinosa (1960).

Palavras-chave: Diderot. Espinosa. Filosofia. Literatura. Sátira.

83
SILÊNCIO E PERDA DA IDENTIDADE: UM ESTUDO SOBRE DIÁRIO DA
QUEDA

Ana Paula Vicente Carneiro


UNESP/FCL
anap.vic.carneiro@gmail.com

Segundo Seligmann Silva (2008, p. 66), as chamadas narrativas impossíveis advêm das
experiências indizíveis que precisam ser ditas, pois do testemunho destas depende a
sobrevida do indivíduo após um evento traumático, formando com isso um paradoxo. É,
então, através de tais relatos que nasce o estilo literário denominado como literatura de
testemunho, em que tal indivíduo se vale do discurso literário para representar o
irrepresentável, dando tridimensionalidade às suas experiências em um jogo entre o real
e o fictício. Em análise da obra Diário da Queda (2011), escrita por Michel Laub,
procuramos compreender o caráter literário das narrativas impossíveis, da construção da
memória dialogando com os estilos literários, da persistência do silêncio diante do
discurso seletivo enquanto fuga da experiência, além de analisar dentro do quadro
composto por Laub a construção da identidade, ou a perda desta, diante da inviabilidade
da experiência humana e o valor da literatura de testemunho contida na obra, que faz
ponte direta com o livro É isto um homem? (1988), de Primo Levi, pioneiro em tal
gênero literário. Tendo em vista a afirmação de Seligmann Silva (2009) de que a
literatura de testemunho talvez seja uma das maiores contribuições que o século XX
deixará para a história dos gêneros literários, nosso interesse é buscar uma maior
compreensão da contribuição literária que Laub faz ao modelo de narrativa de memórias
contemporâneo, explorando a reconstrução da memória do narrador junto à experiência
de vida do pai e do avô, fazendo um ponto de distinção entre eles dentro daquilo que o
autor denomina como inviabilidade da experiência humana, desenvolvendo um trabalho
tanto crítico quanto analítico da literatura como forma de expressão do indivíduo
remetendo à anterior prática oral de transferência de experiência.

Palavras-chave: Literatura Contemporânea. Literatura de Testemunho. Michel Laub.

GARCIA DE RESENDE, TROVAS À MORTE DE D. INÊS DE CASTRO: ENSAIO


SOBRE O GALARDÃO DE D. INÊS

Carolina Finamore de Figueiredo


IFES
carolffigueiredo@gmail.com

Com base na obra de Garcia de Resende, Trovas à Morte de D. Inês de Castro, o


trabalho faz um paralelo entre o relato histórico e a literatura medieval, a fim de
desvendar o significado do galardão de D. Inês. A reflexão toma como ponto de partida
a história da dama de companhia de D. Constança, realizando um paralelo com a
estrutura dos versos do poema palaciano. O enredo, que poderia ser contado em prosa, é
a poesia narrativa repleta de verbos em sua estrutura, bem encadeada e caracterizada
pela separação entre letra e música, em que o tema polêmico registra a intensidade e a
simpatia do autor pelos sentimentos entre D. Pedro e D. Inês. Na obra destacada, vemos
a voz sendo dada a uma mulher "pecadora", momentos antes de sua morte, que embora
colocada à margem por sua condição de "abarregada", amasiada, teve o seu drama

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abordado sob o aspecto psicológico por seu espetáculo trágico. Concluímos que a
grandeza trágica desse sentimento amoroso estava no desejo de Inês em sacrificar tudo
pela plenitude de um amor, e esse foi o seu galardão, a sua aliança com D. Pedro que se
perpetua na história e nos versos até os dias atuais.

Palavras-chave: Inês de Castro. Galardão. Garcia de Resende. Literatura. História.

O SÉCULO XIX SOB O PRISMA DE DOIS NARRADORES CAMILIANOS

Luiz Eduardo Martins de Freitas


USP
luiz.eduardo.freitas@usp.br

Pretende-se apresentar estudos de dois livros do escritor Camilo Castelo Branco:


Mistérios de Lisboa (1854) e Livro Negro de Padre Dinis (1855). Mostraremos a
maneira pela qual os romances representam o mundo prosaico, fazendo uma
ressignificação da sociedade oitocentista e da disputa dos valores de então sob a ótica
católica. Iniciaremos com a discussão da função de narrador, ocupada por Pedro da
Silva nos Mistérios e por seu mentor, padre Dinis, no Livro Negro. Indicaremos como
estes personagens, que detém a posição central de poder apresentar suas estórias,
interpretam a ciência, os acontecimentos históricos e as correntes socioeconômicas que
eram centrais no século XIX. Muito embora os narradores pontuem que estes
fenômenos funcionem apenas como plano de fundo, mostraremos que, na realidade, eles
são essenciais para a construção das obras. Isto porque é exatamente a partir do
julgamento de valor deles que uma moral de vida será estabelecida, moral esta que
levará os personagens ao penar e ao sublime religioso. Os narradores adotam uma ótica
católica que preconiza a honra e a moral. Apenas a título de exemplo vemos que os
episódios da revolução francesa, ocorrida no século XVIII, mas com ecos ainda
fortíssimos no período de composição dos livros, são considerados pelo narrador
“...atrocidades [...] que se acham obrigadas ao desenvolvimento do romance.”
(CASTELO BRANCO, 1982, p. 1232). Em outras passagens, no entanto, o viés
religioso se sobressairá com mais proeminência, como em: “É bom que se fechem os
ouvidos a Rousseau, e se abra o coração ao Evangelho.” (CASTELO BRANCO, 1982,
p. 1460). Nosso intuito, portanto, é expor o prisma destes narradores camilianos sobre a
sociedade do século XIX.

Palavras-chave: Camilo Castelo Branco. Literatura portuguesa.

MESTRES E MESTRAS DA TRADIÇÃO ORAL DO INTERIOR DA BAHIA:


HISTÓRIAS DE VIDA E REPERTÓRIOS

Dee Mercês
UEFS
deesmerces@gmail.com

Com a presente proposta, pretendemos apresentar um projeto de pesquisa de Iniciação


Científica que articula-se ao Projeto de Pesquisa Cacimbas de Histórias: vidas e saberes
dos contadores de histórias tradicionais de cidades do interior da Bahia. Muitas vezes o

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conceito de cultura está ligado aos saberes eruditos, aos letrados, às pessoas que
possuem determinados conhecimentos que abrangem os domínios humanos. Tal visão
cria um abismo entre os saberes acadêmicos e saberes de cultura popular, ou seja, do
Povo - esse grupo de pessoas que têm costumes, histórias, tradições, uma cultura em
comum. Nosso objetivo central é investigar a história de vida e repertórios de mestres e
mestras de tradição, isto é, de contadores de histórias de cidades do interior da Bahia,
por meio de entrevistas narrativas, a fim de estreitar os laços entre a Universidade e
esses agentes. A partir dessa aproximação, sistematizaremos as suas memórias em um
acervo digital de livre acesso, por meio da criação de um website, em que estarão
hospedados as entrevistas narrativas estruturadas pela equipe de pesquisa em seus
registros audiovisuais. Assim, preservaremos o repertório investigado de contos de
tradição oral. A pesquisa está baseada na metodologia (auto) biográfica, pois as
narrativas dos mestres e mestras de tradição são os instrumentos utilizados para
investigar suas histórias de vida, e fundamentada em bibliografia específica: Roque de
Barros Laraia (1986); Belmira Oliveira Bueno (2002); Marco Haurélio (2011); Matthew
MacDonald (2013); Luciene Souza Santos & Keu Apoema (2018).

Palavras-chave: Audiovisual. Contos. Narradores. Registro. Tradição.

POESIA E NEGATIVIDADE ENTRE VICTOR HUGO E ÁLVARES DE


AZEVEDO

Fábio Augusto Alves de Oliveira


UNESP/FCL
fabio.augusto357@live.com

Este trabalho se propõe a discutir as relações entre o romantismo francês e o brasileiro,


partindo de Victor Hugo e de Álvares de Azevedo, no confronto entre prefácios das
respectivas obras: Les chants du crépuscule (1835) e Lira dos vinte anos (1853). O
presente painel tem a intenção de debater os sentidos de negatividade (CANDIDO,
2006) presentes nas obras, tal como o cultivo de visões dicotômicas e paradoxais, de
imagens poéticas do escuro (crepúsculo, noite, luar, sombra etc). É objetivo da proposta
destacar e analisar as relações entre Hugo e Azevedo, a partir da composição dos
prefácios, de modo a discutir sentidos de negatividade compartilhados, que denotam
uma presença hugoana em Azevedo. No prefácio de Hugo, o autor apresenta um olhar
sobre a sociedade, coisas e ideias, compreendo-as em um "l'état de crépuscule", e ainda
expõe apontamentos, oriundos de uma autoconsciência crítica, sobre a poesia presente
na obra. Nesse sentido, Azevedo caminha em direção similar ao apontar uma "crise" no
século e nos homens e ao criar visões poéticas nas quais o contraste prevalece, assim
como em Hugo. Desse modo, o painel pretende analisar tais relações e argumentar a fim
de interpretá-las como sentidos de negatividade. Esse trabalho lida, pois, com o
pressuposto de que as semelhanças de criação poética entre Hugo e Azevedo dizem
respeito a aproximações com a estética romântica no século XIX, mas também
evidenciam uma interpretação alvaresiana de Hugo. A pertinência da proposta é discutir
e debater, em parte, a relação, a assimilação e o contato da poesia romântica brasileira,
na figura de Azevedo, com a francesa hugoana, dada a relevância artístico-literária da
França à época e o projeto romântico em curso no Brasil.

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Palavras-chave: Álvares de Azevedo. Literatura comparada. Negatividade.
Romantismo. Victor Hugo.

O ESTUDO DO LÉXICO DOS CONTADORES DE HISTÓRIAS


TRADICIONAIS DE CIDADES DO INTERIOR DA BAHIA

Ronaldo Pereira Porto


UEFS
portoronaldo20@gmail.com

O presente trabalho, vinculado ao Projeto de pesquisa Cacimba de Histórias: vidas e


saberes dos contadores de histórias tradicionais de cidades do interior da Bahia têm
como objetivo investigar a história de vida e repertórios de mestres e mestras da
tradição oral, do interior da Bahia, para a criação de um glossário ilustrado que reunirá
termos/palavras específicas dos contos narrados por eles. A partir dos dados produzidos,
ou seja, dos contos de tradição oral, será feita uma investigação lexical e uma
catalogação do emprego de termos mais ou menos (des)conhecidos que emergem com
certa recorrência das entrevistas narrativas, identificadas no repertório dos mestres e
mestras da tradição oral, especificamente o léxico presente nos contos. Havendo a
passagem desses mitos de criação, contos de tradição oral, de uma geração para outra,
destaca-se a figura dos mestres e mestras da tradição, contadores de histórias, que em
um mundo, outrora, deserto de recursos tecnológicos, fazia-se indispensável para a
formação de adultos, contando aos pequenos, por meio das narrativas orais, causos,
lendas e mitos. Sendo assim, esta pesquisa torna-se necessária, pois fará um
levantamento e catalogação das palavras que mais permeiam o léxico dos mestres e
mestras da tradição do interior da Bahia quando narram seus contos, que, por
consequência, ocasionará a valorização e o registro dessas heranças culturais, dos
saberes e fazeres da tradição. Fundamentam esta pesquisa os estudos de Luciene Souza,
Keu Apoema, Paul Zamthor, Maria Tereza Birdmann, Rodolfo Ilare e Ernest Fischer.

Palavras-chave: Contadores de histórias. Léxico. Tradição oral.

A JORNADA DO “AMOR VERDADEIRO”: UM ESTUDO ANALÍTICO DE “A


RAINHA DA NEVE” E FROZEN

Bianca Lopes Ribeiro


UNESP/Ibilce
thebiancaribeiro@gmail.com

O presente trabalho visa desenvolver um estudo crítico-analìtico do conto “A Rainha da


Neve” (1844), do escritor dinamarquês Hans Christian Andersen, e estabelecer uma
análise comparativa com a adaptação cinematográfica Frozen: Uma aventura congelante
(2014), de Jennifer Lee e Chris Buck, a fim de perceber os modos como o tema do
“amor verdadeiro” é revelado nas ações dos personagens e como tal tema é tratado por
ambas as narrativas. Pretende-se, ainda, perscrutar de que forma os valores morais e
religiosos percorrem as narrativas e seus níveis de dominância e de atualização para a
época de aparição dos contos em seus respectivos contextos. A pesquisa é de natureza
bibliográfica e tem como método a leitura crítico-analítica dos textos teóricos e dos

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contos, literário e cinematográfico, iniciando-se com a organização da base teórica e,
posteriormente, a leitura e análise crítico-descritiva do conto “A Rainha da Neve”, de
Hans Christian Andersen, seguida da leitura e análise crítico-descritiva do conto
cinematográfico Frozen: Uma aventura congelante. Dá-se em seguida a análise dos
temas presentes nas duas narrativas para construir a análise crítico-comparativa e,
enfim, a concluir o trabalho. A partir das análises e comparações das obras, notamos
que as temáticas trabalhadas em ambas as narrativas, tão afastadas uma da outra por sua
época de publicação e lançamento, apresentam pontos em comum como seus principais
temas: a exaltação do altruísmo e abnegação em nome do amor fraternal, que, em ambos
os universos ficcionais, é mostrado como a forma mais pura e poderosa de amor
verdadeiro.

Palavras-chave: Amor verdadeiro. Hans Christian Andersen. Literatura infantil.

REFLEXÕES SOBRE A EXPRESSÃO DA VIOLÊNCIA EM O ASNO DE OURO,


DE APULEIO

Vinícius Medeiros dos Santos


UNESP/IBILCE
vinicius_medeiros2@hotmail.com

O objetivo deste estudo (processos: 2018/19938-2 FAPESP e 2019/13798-7 BEPE) é


refletir sobre a expressão da violência em O asno de ouro, de Apuleio, romance antigo
romano escrito em latim no século II d.C. Essa narrativa consiste na história do
protagonista Lúcio, jovem extremamente curioso que, transformado magicamente em
burro, nessa condição é obrigado a viajar por diversas regiões da Grécia antiga. Em
nossas reflexões, consideramos tanto uma história principal, na qual Lúcio vivencia suas
aventuras asininas, quanto diversas histórias intercaladas, nas quais diferentes
narradores contam as mais variadas narrativas. Por meio de nossa fundamentação
teórica baseada nos estudos sobre o romance antigo grego e romano, sobre O asno de
ouro e sobre a expressão da violência, procuramos compreender como esse fenômeno
literário organiza-se de modo não só a contribuir para a constituição da narrativa de
Apuleio, mas também a promover a instauração de conflitos, o desencadeamento de
soluções e avanços narrativos. Como resultados, apontamos para o fato de que a
manifestação do fenômeno da violência, tanto no interior da história principal quanto no
desenrolar das histórias intercaladas, pode ser compreendida como um essencial
dispositivo literário, cuja influência afeta, altera e articula a composição literária em O
asno de ouro, de Apuleio.

Palavras-chave: Apuleio. O asno de ouro. Violência.

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