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PALAVRAS
Ao anunciar a ruína do templo e os últimos dias do
mundo, Nosso Senhor predisse: “E porque abundou a
iniquidade, se há de resfriar a caridade de muitos”. “Quoniam
abundavit iniquitas, refrigescet caritas multorum”. (Mt 24,
12).
Parecemos chegados a estes dias sombrios: resfria-se
a caridade, o fervor de tantas almas, enquanto a iniquidade
cresce assustadoramente. A tibieza é o grande flagelo, é o
espinho mais doloroso do Coração de Jesus; sobretudo a
tibieza das almas consagradas a Deus, das almas outrora fiéis
à graça.
Não se presta bastante atenção à tibieza, esta
mediocridade perigosa e funesta na vida espiritual; daí tanta
falsa piedade e esta ausência do verdadeiro espírito
evangélico, do sentido cristão na vida de muitos devotos e
devotas. O espírito de sacrifício, o senso da
responsabilidade, a seriedade, a tremenda seriedade da vida
cristã de que fala Bossuet, tudo isto anda aí tão esquecido,
tão mal compreendido. Só almas fervorosas poderão salvar
este mundo paganizado. Almas de elite. Almas de neve e
corações de fogo, no dizer do Pe. Mateo. Mas elas são tão
raras, tão raras, meu Deus!
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Que este livrinho seja uma centelha e provoque
incêndios e ilumine algumas almas. Eu o consagro ao Divino
Coração de Jesus, fornalha ardentíssima de amor.
Cor Jesu, flagrans amore nostri, inflamma cor nostrum
amore tui! Coração de Jesus, todo abrasado de amor por nós,
inflamai nosso coração nas chamas de vosso amor!
Junho de 1937
Mons. Ascânio Brandão
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I. O QUE É A TIBIEZA?
A tibieza é uma doença espiritual, e das mais graves e
perigosas. É o verme roedor da piedade. Micróbio terrível!
Mina o organismo espiritual, sem que o enfermo o perceba.
Enfraquece a pobre alma, amortece as energias da vontade.
Inspira horror ao esforço, afrouxa a vida cristã. Espécie de
languor ou torpor, diz Tanquerey1, que não é ainda a morte,
mas que a ela conduz sem se dar por isso, enfraquecendo
gradualmente as nossas forças morais. Pode-se compará-la
a estas doenças que definham, como a tísica, e consomem
pouco a pouco algum dos órgãos vitais. É uma sonolência,
um sistema de acomodações na vida espiritual.
O tíbio não quer lutar, tem horror ao combate da vida
cristã. Não compreende a palavra de Nosso Senhor no
Evangelho: “Eu não vim trazer a paz, mas a guerra”! Guerra
ao pecado, guerra às paixões, guerra à indiferença. “Quem
não é por mim, é contra mim”!
O tíbio não compreende este radicalismo sublime do
Evangelho e da cruz. Numa palavra o define bem o Espírito
Santo: É morno, nem frio, nem quente. Nem o ardor da
caridade, o fogo do amor, nem o gelo da descrença, da
impiedade e da morte da alma.
A tibieza é uma inércia espiritual, um estado
lamentável da alma. É a mediocridade que se contenta com
não ofender a Deus pelo pecado mortal, mas não quer evitar
o pecado leve, nem fugir do relaxamento na vida espiritual.
5 (Col 3, 5).
6 “Contraria contrariis curantur”: esta é a chamada lei dos contrários, em