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Ações Socioeducativas:
Estudos e Pesquisas
DEGASE
Rio de Janeiro
2016
Conselho Editorial Janaina de Fátima da Silva Abdalla
Alexandre de Moraes Lessa
Christiane da Mota Zeitoune
Ações Socioeducativas:
Estudos e Pesquisas
DEGASE
Rio de Janeiro
2016
Governador do Estado do Rio de Janeiro Luiz Fernando Pezão
Diagramação Assessoria de
Sistematização Institucional
Equipe de revisão:
Fernando Pimentel Henriques
Érika Cristine Ilogti de Sá
Núbia Graciella Mendes Mothé
Ações Socioeducativas
Estudos e Pesquisas
Janaina de Fátima Silva Abdalla
Maria Beatriz Barra de Avellar Pereira
Tania Mara Trindade Gonçalves
Organizadores
Diretora
Janaina de Fatima Silva Abdalla
Equipe Técnica
Ida Cristina Rebello Motta
Maria Beatriz Barra de Avellar Pereira
Marizélia Barbosa
Tânia Mara Trindade Gonçalves
Bianca Ribeiro Veloso
Lívia de Souza Vidal
Paula Werneck Vargens
Ações Socioeducativas:
estudos e pesquisas
O livro
Todas as pesquisas/artigos deste livro foram apresentadas
por seus autores/pesquisadores, recortes/sínteses de teses,
dissertações, monografias e estudos realizados no DEGASE nos
últimos anos. Compreendemos não ser possível a publicação na
integra dos conhecimentos, análises, reflexões e problematizações
apresentadas em tais publicações acadêmicas11.
Pretende-se com esta publicação divulgar e apresentar os
saberes científicos visando os seguintes objetivos:
(1) problematizar as diferentes questões e perspectivas sobre
o sistema socioeducativo; (2) análise e reflexão sobre os saberes
científicos apresentadas pelos pesquisadores e (3) análise de
proposições científicas nas interfaces com os saberes da prática,
na política implementada pelo sistema e no processo de formação
inicial e continuada de seus profissionais.
A obra se divide em quatro partes, apresentando artigos de
pesquisadores/estudiosos e pesquisadores/operadores do sistema
socioeducativo estadual que se articulam desvelando os saberes.
A Parte I “Sistema Socioeducativo – reflexões e desafios”
inicia-se com o artigo Poder, Estado e adolescentes envolvidos em
atos ilícitos, de Janaina de Fátima Silva Abdalla. A autora, partindo
da análise histórica das instituições socioeducativas, apresenta
e analisa os paradoxos entre as políticas públicas em direitos
humanos na socioeducação e as práticas cotidianas gerando
dispositivos disciplinares de encarceramento/controle e, ao
mesmo tempo, produzindo resistências, fabricando processos de
subjetivação dos adolescentes em privação de liberdade. O artigo,
11 Todas Teses/ dissertações e estudos encontram-se arquivadas na ESGSE
Convite à leitura
O presente livro reúne contribuições que, contrariamente ao
pensamento único e homogeneizador, mostram a multiplicidade,
a riqueza, a variedade das perspectivas e sujeitos da socioeducação.
Saberes científicos que se constituem em um espaço historicamente
construído, é claro, com velhos e persistentes saberes-fazeres,
mas que se introduzem aquelas preocupações que estão no
cerne destes novos-velhos tempos, vidas cotidianas dos jovens-
adolescentes envolvidos com a violência e atos ilícitos: violência,
sexualidade, escuta, subjetividade, gênero, aprisionamento,
resistências ... No conjunto, as contribuições aqui apresentadas
constituem um panorama de questões que afetam aos diversos
campos de saberes, de fazeres e de construir uma politica
socioeducativa inclusiva e amorosamente restaurativa.
Convidamos a leitura-ação!
Resumo
Este artigo apresenta e analisa os paradoxos entre as
políticas públicas em direitos humanos na socioeducação e as
práticas cotidianas voltadas para os adolescentes em conflito com
a lei. Partimos da análise histórica das instituições educacionais
para adolescentes envolvidos em atos ilícitos. As análises
empreendidas se fizeram a partir do entrecruzamento dos aportes
teóricos advindos, principalmente do pensamento de Michel
Foucault, Gilles Deleuze e Michel de Certeau. Concluímos que
as práticas punitivas de sanção e de socioeducação se articulam
com as tensões históricas no cotidiano, gerando dispositivos
disciplinares de encarceramento/controle e, ao mesmo tempo,
produzem resistências, fabricando processos de subjetivação
dos adolescentes: “menor/bandido” “adolescente/infrator”
ou “adolescente em conflito com a lei/socioeducando”. A
(auto) responsabilização do adolescente pelos atos ilícitos e
a intervenção socioeducativa prevista pelo amparo legal na
doutrina da proteção integral ainda, é um desafio para os
Sistemas Socioeducativos.
7 Diante dos avanços tecnológicos , muitos sistemas socioeducativos tem optado por
instalar câmeras de filmagem em locais estratégicos que transmitem e gravam imagens
constantes para setores de segurança do Sistema Socioeducativo.
Eu acho que isso aí de não ter mais solução é uma palavra muito forte,
porque se eu quero mudar, eu vou mudar. Se eu botar na minha cabeça
que eu vou mudar, eu quero, eu posso e eu vou. Qualquer oportunidade
eu iria agarrar, porque é uma oportunidade, e eu não posso desperdiçar,
é uma oportunidade pra largar o crime de mão (Adolescente internado,
Fantástico, 22/07/2012).
Considerações finais
O propósito principal deste estudo foi apresentar e analisar
os paradoxos entre as políticas públicas em direitos humanos, as
diretrizes e a legislação para os adolescentes em conflito com a lei
inseridas nos planos e projetos do Estado Brasileiro, e as práticas
cotidianas de disciplina e controle que constituem um lugar/
espaço de aprisionamento para educar-disciplinar adolescentes.
Ao mesmo tempo em que procuramos desvelar essas práticas
discursivas e o panorama sociocultural que as constituem,
tentamos compreender os sentidos produzidos por essas
narrativas no processo de subjetivação dos adolescentes que por
Resumo
Este artigo destina-se a analisar o sistema socioeducativo
e suas especificidades. Propõe-se a caracterizá-lo como um
sistema contraditório onde a punição e a violência fazem-se
presente, ainda assim, garante direitos. Os eixos da discussão
estão fundamentados na análise histórico estrutural, sem
descartar o caráter simbólico, cultural, social e político enraizado
na sociedade brasileira. A indagação que se instaura é: como um
sistema destinado ao encarceramento pode assegurar direitos?
Os contornos da análise
O objetivo, neste momento, é apresentar a pesquisa e
os caminhos percorridos. Cabe aqui explorar o perfil dos
adolescentes pesquisados e o campo de pesquisa. A condução
garante o reconhecimento da subjetividade dos atores
pesquisados e suas condições de vida.
A primeira parte fundamenta-se sobre os caminhos
traçados até a obtenção dos resultados. Por último garantem-
se o debate teórico e os resultados alcançados, bem como o
discurso dos adolescentes sobre suas vivências.
O perfil dos adolescentes ratifica o perfil dos adolescentes
em cumprimento de medida socioeducativa no Brasil, onde os
dados demonstram ser: negros, pobres, com baixa escolaridade,
em cumprimento de medida por atos cometidos principalmente
contra o patrimônio ou o trabalho no tráfico5. Este grupo tem o
racismo como principal fator de segregação na sociedade; ele
categoriza quem será ou não usuário do sistema socioeducativo
5 Dados nacionais podem ser analisados em: CONSELHO NACIONAL DE JUSTIÇA.
Programa Justiça ao Jovem. Disponível em <http://wwwh.cnj.jus.br/portal/images/
programas/justica-ao-jovem/relatorio_final_rio_de_janeiro.pdf>. Acesso em: 24 de
fev. 2014. ________. Panorama Nacional – A execução das Medidas Socioeducativas
de Internação. Brasília, Conselho Nacional de Justiça, 2012.
(...) sabemos que não são causas de crimes, mas são causa da prisionização
da pessoa; sabemos que eles fazem parte dos estereótipos, sabemos que
sem estereótipo não temos preso, sabemos que a prisão fixa os dados
do estereótipo (...) e também sabemos que a pessoa pratica esses crimes
contra a propriedade porque não sabe praticar os crimes usualmente
praticados pelas pessoas respeitáveis. Ou seja, tem treinamento para
os roubos, tem treinamento que é próprio dos feios, daqueles que têm
cara e reputação de ladrões. Só tem treinamento para esses roubos
não para outros. Estão treinados para isso e mais nada. Hoje sabemos
isso. O estereótipo e o treinamento são duas condições sociais da sua
vulnerabilidade na frente do sistema penal. Se não tivessem cara e
tivessem treinamento para praticar outros crimes, não estariam na
cadeia, sem dúvida; seriam pessoas respeitáveis. (MOREIRA apud I,
ZAFFARONI, 1990, p.55).
Escolarização
Os dados aqui levantados sobre a escolarização ratificam
a baixa frequência e a dificuldade em manter os adolescentes
nos bancos escolares. Este quadro impõe a problematização
sobre o tipo de escolarização que está sendo oferecido, além de
reforçar críticas sobre políticas públicas que pouco avançaram
no incentivo e a manutenção de alunos nas escolas. Ainda,
Profissionalização
Não somente na escolarização, mas na realização de cursos
e preparação escolar profissionalizante verificamos o acesso
invertido aos direitos. Dentre os entrevistados: um realizou
cursos apenas em seu território, este não estava matriculado nos
cursos oferecidos pelo DEGASE; três já haviam feito cursos em
sua comunidade e no Sistema Socioeducativo; dezesseis haviam
realizado cursos apenas no DEGASE.
Políticas Sociais
O acesso aos programas, serviços, benefícios e projetos sociais
pouco aparece no discurso dos adolescentes. Dos entrevistados,
quinze indicaram nunca terem participado – pessoalmente ou
por meio de sua família - de qualquer programa social. Neste
momento, cabe destacar dois importantes apontamentos:
Demais Políticas
Conforme já apontado, é somente no sistema que o
adolescente tem ingresso nas políticas públicas, entre elas de
saúde, inclusive, com tratamento para uso abusivo de drogas. Há
uma equipe profissional que atende exclusivamente adolescentes
com esta demanda. Existe também atendimento médico para
demandas em clinico geral, para especialidades os adolescentes
tem prioridade nos atendimentos na rede municipal e estadual.
A prioridade se dá pelo cumprimento de medida, prioridade esta
que, por vezes, se estende à família, a partir do encaminhamento
da equipe técnica ou determinação judicial.
Conclusão
O sistema socioeducativo de uma forma contraditória
tem representado a porta de entrada para acessar alguns
direitos. Ainda que de uma maneira controversa utilizando
excessivamente a violência, com o encarceramento dos pobres,
com a promoção da miséria humana e subjugação dos resistentes.
Resumo
Este trabalho tem por objetivo refletir sobre a educação
relacionada aos adolescentes e jovens envolvidos com a prática de
atos infracionais. Tendo como aporte metodológico as pesquisas
bibliográfica, documental e de campo e como fio condutor
algumas abordagens da mídia e os processos de higienização
social associados a esses adolescentes e jovens, especialmente
durante a realização de grandes eventos no País, o texto destaca,
entre outros resultados, a necessidade de a socioeducação
ampliar seus limites, buscando encontrar na integração entre
os profissionais que orbitam em seus espaços e na colaboração
entre diferentes áreas, setores, secretarias e unidades federadas,
formas de efetivar e potencializar sua (atu)ação.
8 A pesquisa realizada por Souza e Menezes (2014) abarcou os 11 (onze) PEEs aprova-
dos na vigência do Plano Nacional de Educação (PNE) 2001-2010 (Alagoas, Amazonas,
Bahia, Goiás, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Pará, Paraíba, Pernambuco, Rio de
Janeiro, Tocantins).
12 Instituído por meio da Lei nº 5.778, de 30 de junho de 2010 (RIO DE JANEIRO, 2010).
13 O relatório aponta que o número de adolescentes privados de liberdade passou de
1.005, em 4 de julho de 2013, para 1.487, durante a Copa do Mundo de 2014.
15 De acordo com Costa (1999, p. 53), “o trabalho educativo é – e sempre será – uma
fonte inesgotável de aprendizagem. Basta querer aprender. O automatismo e a rotina
fazem com que experiências valiosas se percam por falta de sensibilidade, interesse
e sutileza do educador em captá-las e delas fazer a matéria de seu crescimento como
pessoa, como profissional e como cidadão”.
Resumo
O objetivo deste artigo é apresentar as ações realizadas no
período de 2013 a 2015 pela Coordenação de Saúde Integral e
Reinserção Social do Sistema Socioeducativo do Estado do Rio de
Janeiro para implantação e implementação das novas diretrizes
da Política Nacional de Atenção Integral à Saúde de Adolescentes
em Conflito com a Lei – PNAISARI - e a consolidação de um
modelo de gestão participativa pautada no planejamento,
monitoramento e avaliação.
Introdução
Embora o Estatuto da Criança e do Adolescente, que agora
completou 26 anos, tenha representado um avanço do ponto de
vista do marco legal, o mesmo não aconteceu na implementação
de políticas públicas eficazes de promoção da cidadania de forma
a garantir a doutrina de proteção integral expressa na lei.
1 Doutora em Teoria Psicanalítica pela UFRJ (2010). Mestre em Psicologia Clínica pela
Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (1992). Psicóloga do Departamento
Geral de Ações Socioeducativas do Estado do Rio de Janeiro. Coordenadora de Saúde
Integral e reinserção Social do Departamento Geral de Ações Socioeducativas do
Estado do Rio de Janeiro, cargo assumido em janeiro de 2013. Professora substitu-
ta do Departamento de Psicologia da Universidade Federal Fluminense (2011-2012).
Membro do Comitê da Política Editorial (CPE) do NOVO DEGASE. Parecerista ad hoc
da Revista Psicologia: Teoria e Pesquisa.
Um Pouco de Historia...
No Estado do Rio de Janeiro, o Departamento Geral
de Ações Socioeducativas (DEGASE) é o órgão responsável
pela execução das medidas socioeducativas de Internação e
Semiliberdade, designadas nos arts. 120 a 125 do Estatuto da
Criança e do Adolescente. Foi criado em 1993 e, atualmente, está
vinculado à Secretaria de Estado de Educação.
Nos últimos anos o DEGASE vem passando por um amplo
processo de reordenamento institucional reformulando conteúdo,
método e gestão, com o objetivo de reposicionar o atendimento
3 A responsável pela realização desse trabalho foi a médica do DEGASE Eliana Souza
e Silva. É importante ressaltar que a partir desse momento, com o trabalho desenvolvi-
do pela Dra. Eliana Silva, tivemos grandes avanços na oferta dos serviços de saúde nas
Unidades Socioeucativas e na elaboração do Plano Operativo Municipal.
Considerações Finais
A socioeducação tem interfaces com diferentes sistemas e
políticas. A formação de uma rede integrada de atendimento é
tarefa essencial para a efetivação das garantias dos direitos dos
adolescentes em cumprimento de medidas socioeducativas,
contribuindo efetivamente no processo de inclusão social e
promoção da cidadania rompendo uma política de segregação.
Assim, para garantir o acesso na Rede de Atenção à Saúde e
Resumo
A produção da vulnerabilidade da infância e de juventude,
em nosso pais, tem sido invisibilizada e, quando percebida
naturalizada, ao longo dos anos. São milhares de crianças e
jovens que perdem boa parte de suas vidas ou até mesmo a
totalidade delas, ao se envolverem em situação de conflito com
a Lei ou de privação de liberdade. Resultado de um projeto de
sociedade espoliador e excludente que faz com que lutem em
tão tenra idade, pelo acesso aos bens produzidos. Se falarmos
em quantitativos, trata-se de um verdadeiro genocídio. Quando
na escola, essas crianças e jovens lançam diariamente, inúmeros
desafios aos educadores, estabelecem novas regras, exigem
diferentes posturas e imprimem múltiplas lógicas ao fazer
docente daqueles que, por elas se deixam afetar, se permitem
com eles aprender, para ensiná-los cada vez mais e melhor. Suas
vivências e experiências, ao serem consideradas e incorporadas
às dinâmicas escolares, produzem novos sentidos à pedagogia,
desvelando outras possibilidades educacionais. Diante desse
processo é possível dialogar com seus saberes, afirmar suas
identidades e promover o sucesso escolar dos historicamente
excluídos. Nesse cenário surge a pedagogia social como uma
pedagogia que resgata vidas, estabelece pactos e instaura poder.
SITES:
www. dourados agora. com.br, MOZART, pag. 1, 2011.
www.vagalume.com.br
www.projetopipasuff.com.br
Resumo
Este artigo tem por objetivo relatar e analisar a importância
de propostas curriculares, referente às licenciaturas, que propicie
vivências em diferentes espaços educativos. Temos como foco
deste material uma feira de ciências realizada por alunos de duas
turmas do curso de Licenciatura em Química do IFRJ-CDUC1 no
Centro de Atendimento Intensivo Belford Roxo (CAI Baixada)
do Departamento Geral de Ações Socioeducativas (DEGASE).
A partir dos resultados obtidos com a atividade, discute-se
a importância da proposta para os futuros professores numa
perspectiva de responsabilidade social, bem como o impacto
de atividades de alfabetização científica para os jovens em
cumprimento de medida socioeducativa.
1 Este artigo contou com a colaboração de Flávia de Almeida Pereira, Flávia Roberta
Bezerra Balbino, Janice Cristina da Silva Luiz Cabo Verde e Luise Melo de Aguiar,
licenciandas em Química pelo Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do
Rio de Janeiro (IFRJ) campus Duque de Caxias.
2 Licenciada em Química pelo Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do
Rio de Janeiro (IFRJ) e mestranda em Ensino de Química na Universidade Federal do
Rio de Janeiro (UFRJ).
3 Graduada em Psicologia pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ), mes-
tre em Psicologia Social pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro e doutora em
Psicologia Clínica pela Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-RJ).
Professora, pesquisadora e extensionista do Instituto Federal de Educação, Ciência e
Tecnologia do Rio de Janeiro.
4 Licenciada em Química pela Universidade Federal do Ceará (UFC), mestre em Química
Inorgânica pela Universidade Federal do Ceará (UFC) e doutora em Ciência e Tecnologia
de Polímeros pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Professora, pesquisado-
ra e extensionista do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Rio de Janeiro.
Resumo
As questões abordadas neste artigo pretende de forma
breve possibilitar a melhor compreensão e a necessidade de
aprofundar os estudos nas temáticas Relações de Poder e
Produção de Subjetividade que estão presentes no cotidiano de
nossas vidas, nas práticas profissionais e que se propagam em
toda a sociedade, mas muitas vezes já não produzem a crítica
e análise necessária para um fazer diferenciado ou a indagação
que possibilita a busca de novos horizontes. Neste contexto, a
intenção é desenvolver os temas abordados e relacionados com
as Relações de Poder, segundo a bibliografia de Michel Foucault
e com breves reflexões sobre subjetividade do livro Micropolítica:
Cartografias do Desejo, de Felix Guattari e Suely Rolnik, de
1996. E, como os processos de subjetivação são constituídos e
disseminados, considerando as lógicas presentes na sociedade
e na realização do fazer profissional, tornando, assim, relevante
num processo de reflexão sobre as práticas existentes e na
construção de um novo fazer no sistema socioeducativo.
Não se trata de colocar tudo num certo plano, que seria o do acontecimento, mas
de considerar que existe todo um escalonamento de tipos de acontecimentos
diferentes que não têm o mesmo alcance, a mesma amplitude cronológica,
nem a mesma capacidade de produzir efeitos. (FOUCAULT, 2005, p.5)
Resumo
O trabalho a seguir pretende analisar a experiência
cotidiana de adolescentes em conflito com a lei no estado do
Rio de Janeiro, na unidade feminina do Departamento Geral de
Ações Socioeducativas. Através da cartografia psicossocial e de
encontros realizados na instituição, propomos abordar temáticas
que emergiram do discurso das adolescentes como gênero e
iniciação ao tráfico.
Introdução
O presente trabalho tem como objetivo discutir e colocar em
análise questões emergentes ao longo do trabalho de campo que
está sendo realizado na unidade feminina do Departamento Geral
de Ações Socioeducativas (DEGASE), denominada Professor
Antonio Carlos Gomes da Costa (PACGC), no Rio de Janeiro.
O intuito é problematizar temáticas levantadas pelas próprias
adolescentes em conflito com a lei, tais como gênero, sexualidade,
Resumo
Gênero e sexualidade atravessam e constituem nosso
cotidiano em seus mais diversos aspectos. A sexualidade coloca-se
enquanto importante dispositivo na construção de subjetividades,
envolvendo uma série de saberes, poderes e forças que engendram
e são engendrados por práticas específicas. Para compreender as
íntimas conexões entre mudanças e permanências relacionadas
à sexualidade dos/as jovens, sugerimos aprofundar a discussão
incorporando a noção de gênero, tão cara às Ciências Sociais nas
últimas décadas. Este texto relata e discute as diversas práticas
que atravessam o cotidiano da socioeducação, no que tange
ao gênero e à sexualidade, tais como visita familiar, relações
afetivas e/ou sexuais entre internos/as, vestimenta, fotografias,
refeições, vigilância, entre outras.
Resumo
Este artigo é resultado de pesquisa realizada com
adolescentes do sexo masculino internados no Educandário Santo
Expedito – DEGASE RJ. O objetivo é saber como os participantes
percebem a possibilidade da visita íntima, em decorrência
da lei 12.594 de 2012. Um dos princípios que a sustenta é a
convivência familiar e a continuidade do vínculo entre o casal.
Trabalhamos com a ideia de visita íntima enquanto dispositivo,
pois entendemos que ela possa colocar em evidência questões
relacionadas à sexualidade do adolescente que, historicamente,
foram instituídas a partir de certa subjetividade, a do “menor”
infrator, do delinquente, entre outras. Apesar do Estatuto da
Criança e do Adolescente trazer o princípio da Proteção Integral,
ainda prevalecem discursos e práticas sustentados na Situação
Irregular do Código de Menores. Utilizamos como método a
pesquisa-intervenção na perspectiva da análise institucional. O
registro no Diário de Campo nos auxiliou na discussão sobre os
efeitos da institucionalização nas subjetividades dos adolescentes
privados de liberdade. Na mesma lógica, os trabalhadores
são marcados e acabam respondendo ao modus operandi do
encarceramento a que se submetem os adolescentes.
Resumo
O presente objetivou fazer um estudo das propostas voltadas
para o atendimento de famílias na Política Socioeducativa dentro
do Departamento Geral de Ações Socioeducativas do Estado
do Rio de Janeiro nos últimos 20 anos, a partir da metodologia
de análise documental, tendo como marcos legais o Estatuto
da Criança e do Adolescente - ECA e o Sistema Nacional de
Atendimento Socioeducativo - SINASE. Contextualizou-se
historicamente o processo de construção desses dois marcos
e verificou-se os conceitos de Doutrina da Proteção Integral,
Incompletude Institucional e Família nos programas elaborados
ao longo desse período: o Programa Golfinhos (1995), o Programa
de Atenção às Famílias – Espaço Golfinhos (2002) e o Programa de
Atenção às Famílias (2015). Concluiu-se que os conceitos elencados
estão presentes nas diferentes abordagens familiares analisadas,
trazendo contribuições para o campo da prática, ultrapassando o
plano jurídico (ECA e SINASE) e o político conceitual.
7 Essa política tem interfaces com diferentes sistemas e políticas e exige atuação dife-
renciada que coadune responsabilização (com a necessária limitação de direitos deter-
minada por lei e aplicada por sentença) e satisfação de direitos. Os órgãos deliberati-
vos e gestores do SINASE são articuladores da atuação das diferentes áreas da política
social (SINASE, 2006, p. 23).
Considerações Finais
A partir do estudo realizado com base na metodologia de
análise documental, pôde-se constatar que toda a documentação
analisada (projetos e programas) foram norteadas pelos marcos
legais dos diferentes contextos (ECA e SINASE), apresentando
especificidades próprias e influenciadas por suas conjunturas.
Identificou-se que os conceitos Doutrina da Proteção Integral,
Incompletude Institucional e Família aparecem de forma explícita
e implícita na documentação elencada, tomando por base as
concepções que fundamentam os princípios dos direitos humanos.
Verificou-se ainda que a metodologia utilizada contribuiu
para alcançar nossos objetivos, pois permitiu identificar os sujeitos
sociais que construíram as propostas de intervenção, os interesses
pertinentes e os contextos sociais de cada produção, bem como as
concepções que permeavam os diversos cenários políticos.
As hipóteses que alavancaram este estudo foram elucidadas,
considerando que traçamos um paralelo entre as diferentes
abordagens familiares apresentadas, podendo ser observado que
houve uma ampliação e concretização dos conceitos analisados,
com base nas ações delineadas.
Observou-se que o atual Programa de Atenção às Famílias
do DEGASE, elaborado em 2015, e em fase de implantação,
apresenta uma proposta dentro das diretrizes do SINASE e
tomando por base os preceitos da socioeducação.
Avaliou-se ser pertinente a implementação do mesmo por
considerar o aspecto já evidenciado inicialmente: tratar-se de
um direito social dessas famílias a existência de uma política de
Resumo
Escutar é sempre um ato possível. Esta é a grande lição que
Freud nos ensina. A psicanálise veio a se constituir como ciência
a partir da experiência, reivindicada pelo real da clínica aonde
as pacientes histéricas eram desconsideradas em seu sofrimento
pelo saber médico da época. Freud toma a iniciativa de acolher
e escutar esse mal-estar. Este artigo toma em consideração,
portanto, a experiência freudiana para discorrer sobre a
importância de se apreender o sentido da escuta dos atos de
violência. Permitir ao sujeito adolescente elaborar em seu nome a
sua narrativa é pertinente à psicanálise. Esta nos permitiu analisar
a responsabilização do sujeito no seu próprio discurso revelando
o seu próprio enigma. Refletir sobre a articulação simbólica
implica questionar a responsabilização do sujeito da linguagem
e o que não está ali, no ato, à vista, mas no discurso, a fim de
possibilitar, a emergência da verdade do sujeito. A psicanálise,
por essa via, como propriamente se trata da clínica da escuta,
indica esta iniciativa sempre possível diante do sofrimento
humano. Põe-se em evidência a práxis socioeducativa no que diz
respeito à adolescência institucionalizada.
3 De acordo com Freud (1909/1980 b), p. 23) o Dr. Joseph Breuer era médico da Real
Academia de Ciências, nascido em 1842, conhecido por trabalhos sobre a respiração e
sobre a fisiologia do sentido do equilíbrio.
4 A história clínica e terapêutica desse caso se acha minuciosamente descrita nos
Estudos sobre histeria (1893-1895), volume II da Edição Standard brasileira da Coleção
das Obras Completas de Freud.
5 Conforme nota de rodapé: FREUD (1893-95/1980a, p. 100); talvez seja este o primeiro
aparecimento do que se tornou depois o método da livre associação.
Responsabilidades
A palavra “responsabilidade”, de modo geral, indica o
compromisso com algo ou alguém, ou é empregada em relação a
algo ou alguém. Trata-se de uma noção que se subentende na relação
entre a mãe e o filho, quando ele é ainda sem palavras para formular
seu desejo. Pode-se subentender também no pai que assume, junto
a mãe de seu filho, o seu lugar e a sua função. Ou ainda, nas formas
de relacionamentos que se estabelecem entre os humanos, cujas
obrigações sociais ou não, exigem o ser responsável.
Considerações Finais
A psicanálise como responsável por um discurso que se
concentra na linguagem do inconsciente nos faz vislumbrar
as possibilidades de se buscar alternativas para o sofrimento
humano, mesmo quando o real da clínica se apresenta tão
implacável aos denominados “técnicos do saber” pelos novos
sintomas contemporâneos dentre os quais é preciso destacar os
atos de violência praticados por adolescentes. A adolescência
aparece no contexto da hipótese freudiana da horda primitiva
em “Totem e tabu”
Na concepção de Freud (1980c) a religião totêmica constituiu
o resultado de uma ambivalência primordial de sentimentos
para com o pai, considerando a simultaneidade de sentimentos
de ódio e amor para com ele. Se o ódio foi satisfeito pelo ato de
Resumo
A presente pesquisa busca refletir acerca do sistema
socioeducativo e da maneira com que a metodologia de pesquisa
pode ser empregada neste campo. Para tanto, aborda a análise
da implicação, autoridade etnográfica e cartografia, bem como o
tema da adolescência e da sistematização de resultados.
Tem várias coisas pra gente fazer aqui, pra ficar fora do alojamento, tia.
Tem biscuit, tem oficina de artesanato... Eu gostava da aula de Ioga, era
um guarda que dava. (T., 14 anos, 26/02/16).
Nós ficamos muito presas, a rotina é muito chata. (S., 16 anos, 27/11/15).
Considerações finais
O presente trabalho procurou abordar e refletir, mesmo
que de maneira inicial, tanto sobre o contexto do sistema
socioeducativo, como sobre o modo com que a pesquisa
nessa área pode ser realizada. Nesse sentido, o intuito foi o de
problematizar a neutralidade acadêmica por meio da análise da
implicação e da postura da cartografia psicossocial. Ao passo
que esses referenciais foram trazidos, a temática em torno
da homogeneização e generalização da adolescência ganhou
terreno, indicando o debate que perpassa toda a produção aqui
mencionada: como fazer com que as vicissitudes, especificidades
e potências do campo não sejam silenciadas por uma retórica
acadêmica comumente legitimada na esfera social?
Longe de querer esgotar a discussão, a pesquisa procurou
trazer e compartilhar justamente os seus pontos de inquietação,
como no último tópico em que indica a sistematização do material
produzido em torno de dispositivos e ramificações rizomáticas.
Ciente dos limites e alcances de sua empreitada, este trabalho
procura aqui trazer à tona os seus processos constituintes para
que, por meio de sua exposição, possa se enriquecer com a
discussão decorrente.
Resumo
O presente artigo apresenta alguns dos dados obtidos em
pesquisa realizada junto a adolescentes em cumprimento de
Medidas Socioeducativas no DEGASE2 , que teve como objetivo
conhecer as representações sociais do psicólogo que atua no
referido órgão, relacionando tais subsídios a um caso de execução
da medida de Semiliberdade e enfatizando a importância da fala e
da escuta na ação do profissional de psicologia na socioeducação.
O caso Luna5
Luna foi encaminhada ao CRIAAD para o cumprimento
de medida socioeducativa de semiliberdade e, no momento
da execução da medida, seus pais já estavam separados há um
tempo considerável. Após a separação, os cuidados de Luna
e de seu irmão mais velho ficaram inicialmente a cargo da
mãe. Posteriormente, os cuidados dos filhos se alternavam em
períodos em companhia materna e paterna, sendo que a maior
parte do convívio aconteceu em junto á mãe.
Durante os atendimentos realizados pela equipe e conforme
anotações feitas no PAS6 da adolescente, o pai de Luna sempre
pontuava a falta de juízo da ex-companheira, que segundo ele,
“vivia em bagunças” e criava os filhos desta maneira. Usava
o dinheiro da pensão que ele dava para o sustento dos filhos
Conclusão
Assim como Lacan destaca a importância de um ouvinte,
os adolescentes participantes da pesquisa, com suas ideias a
respeito do trabalho do Psicólogo do DEGASE e Luna, fortalecem
o entendimento de que a ajuda pelo atendimento deve primar
pela escuta, pois ser ouvido alivia e fornece importantes saberes
referentes aos adolescentes; saberes estes que deverão, dentre
outras coisas, subsidiar a elaboração dos Pareceres Psicológicos e
Planos Individuais de Atendimento, sendo uma das atribuições
do Psicólogo do DEGASE, como abaliza a literatura legal.
Os dados da pesquisa e o caso Luna indicam ainda que há um
entendimento dos adolescentes de que, no cotidiano socioeducativo, o
alívio das angústias através dos atendimentos, auxilia no cumprimento
da medida socioeducativa: “Ajuda o próximo a organizar suas ideias,
acalma muito. Dependendo de uma atitude que a pessoa quer tomar,
a psicóloga acalma ela”11, revela um adolescente em sua resposta.
10 Resposta fornecida por um adolescente que se encontrava em internação provisória
no momento da entrevista e elencada no subtópico nove.
11 Resposta surgida na internação, quando perguntado sobre o que faz o psicólogo do
DEGASE.
Resumo
Este estudo apresenta uma análise qualitativa das notícias
de três portais online, onde pesquisamos termos como “menor”,
“adolescente”, “maioridade penal”, entre outros. O trabalho,
tendo a cartografia como método, procura problematizar
processos de alteridade por meio de articulações entre as formas
de agenciamento da mídia e as falas de adolescentes que estão na
unidade feminina do DEGASE-RJ.
Introdução
Estamos informados! E parece não haver muitos meios de
fugir dessa condição, pois a todo instante uma nova informação
chega até nós. Ao que pese a reflexão sobre o que representa
o estado de estar ou não informado e o risco de totalização
reducionista que a expressão pode trazer, observa-se, por outro
lado, justamente o constante fluxo informativo que emerge
e circula junto às vivências contemporâneas e que impede
1 Graduanda em Psicologia,UERJ
2 Graduanda em Psicologia,UERJ
3 Graduanda em Psicologia,UERJ
4 Professor Adjunto, Psicologia, UERJ
Levantamento na mídia
Para iniciarmos a discussão referida, nos direcionamos
à pesquisa de matérias e notícias através dos mecanismos de
buscas de três diferentes portais de notícias web: G1, UOL e BBC.
Utilizamos as seguintes palavras-chave: “adolescente”, “menor”,
“crime”, “roubo”, “furto”, “maioridade penal”, “RJ”, que foram
consultadas separadamente, ou em conjunto de duas ou três
palavras, tendo como recorte temporal o mês de maio dos anos
de 2015 e 20165 .
5 A pesquisa encontra-se em andamento. Outros portais e recortes temporais estão
Dizem que estamos num spa. Não é isso! Será que iam querer passar
as férias aqui?!... olha, aqui não tão é ruim? Pode não ser como uma
cadeia tipo Bangu, mas ninguém quer vir pra cá!Eu não quero voltar.
Ninguém quer... O que eles querem (TV) é que a gente suma, seja
exterminado. Mas quanto mais eles falarem isso, pior vai ser, pois isso
revolta! (Entrevistada adolescente G., PACGC, 27/05/2016)
Considerações finais
O presente trabalho procura abordar a temática da mídia,
da produção de subjetividade e de como esses processos
agenciam elementos ligados aos adolescentes, em especial aos
que se encontram em conflito com a lei. Cabe ressaltar que se
trata de uma pesquisa em andamento. Muitos dos pontos
abordados ainda se encontram em fase inicial de análise, como
a sistematização dos dados levantados nos portais eletrônicos
de notícias, bem como as falas e dinâmicas ocorridas nos
encontros no DEGASE. O que se procura apresentar aqui são
indícios de alguns substratos estéticos, políticos e econômicos
que transversalizam as vivências do grupo em questão. No
primeiro contato com as matérias, destacam-se a relação entre
a abordagem criminológica, que agencia os termos “menores”,
“futuros bandidos”, “perdidos”, com um tipo de alteridade
em que o outro, no caso o(a) adolescente, se mostra distante do
contexto daquele que noticia e daquele que lê. Nesse tipo de
agenciamento, o território que ganha consistência, é aquele que
promove a individualização da análise, projetando a culpa do
acontecido sobre o jovem. Já nas matérias em que há uma maior
problematização do tema e que o personagem não ocupa apenas
o lugar do infrator, mas também o de vítima ou de cidadão (que
também “enfrenta os problemas da cidade” e não simplesmente
“é um dos problemas da cidade”) a alteridade apresenta-se mais
aberta, enriquecendo o debate.