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O Adicional de Periculosidade

1 - O Adicional de Periculosidade
1.1 – Introdução
1.2 – Conceito
1.3 – Legislação
1.3.1 - A questão das substancias radioativas e radiação ionizante
1.4 - Da caracterização
1.5 - A remuneração
1.6 - Acordo e convenções coletivas de trabalho
1.7 - Outras disposições
1.8 – Resumo
1 - O Adicional de periculosidade
1.1 – Introdução
Diferentemente do Adicional de insalubridade, que afeta a saúde do trabalhador, o
Adicional de Periculosidade, tem o objetivo de "compensar" o empregado que desenvolve
sua atividade em risco eminente de sua vida.
Deve-se considerar que um trabalhador desenvolve uma atividade perigosa quando esta
causa risco a sua vida ou a sua incolumidade física.
A CLT, todavia, traz em seu bojo, uma definição mais completa do que vem a ser uma
atividade perigosa.
1.2 – Conceito
Consolidação das Leis do Trabalho
Art. 193 - São consideradas atividades ou operações perigosas, na forma da
regulamentação aprovada pelo Ministério do Trabalho, aquelas que, por sua natureza ou
métodos de trabalho, impliquem o contato permanente com inflamáveis ou explosivos em
condições de risco acentuado.
Acrescente-se a esta definição os empregados em contato com energia elétrica que têm
direito ao recebimento do Adicional de Periculosidade por força da lei 7.369/85, e ainda,
recentemente, os empregados em contato com substancias radioativas e radiação
ionizante, por força da portaria 518/2003 expedida pelo Ministério do Trabalho.
Na realidade, um trabalhador somente terá direito ao recebimento do Adicional de
periculosidade se preenchidas algumas condições preestabelecidas pelo Ministério do
Trabalho.
Assim, a atividade deverá, obrigatoriamente, expor o trabalhador:
a) Ao contato permanente com determinada atividade perigosa;
b) Que além de perigosa, esta atividade cause risco acentuado ao trabalhador a ponto de,
em caso de acidente, lhe tirar a vida ou mutilá-lo;
c) E ainda, que esta atividade esteja definida em Lei, ou como no caso da radiação ou
substancias ionizantes, definida em portaria expedida pelo Ministério do Trabalho.
Ou seja, resumidamente, pode-se considerar que uma atividade é perigosa, dando direito
ao recebimento ao Adicional de Periculosidade, se esta, por sua natureza ou método de
trabalho, implicar ao trabalhador o contato permanente com inflamáveis, explosivos,
substâncias radioativas, ou radiação ionizante, ou energia elétrica, em condição de risco
acentuado.
1.3 – Legislação
O Adicional de Periculosidade, também é um direito constitucional, previsto, atualmente,
no artigo 7º, inciso XXIII de nossa Constituição Federal.
Constituição Federal
Artigo 7º....
XXIII - Adicional de remuneração para as atividades penosas, insalubres ou perigosas, na
forma da lei;
Em nossa CLT, o Adicional de Periculosidade também encontra previsão legal, sobretudo
em seu capítulo V (Da segurança e medicina do Trabalho), que na seção XIII, trata das
atividades insalubres ou perigosas, artigos 193 e seguintes.
Consolidação das Leis do Trabalho
Art. 193 - São consideradas atividades ou operações perigosas, na forma da
regulamentação aprovada pelo Ministério do Trabalho, aquelas que, por sua natureza ou
métodos de trabalho, impliquem o contato permanente com inflamáveis ou explosivos em
condições de risco acentuado.
§ 1º - O trabalho em condições de Periculosidade assegura ao empregado um Adicional de
30% (trinta por cento) sobre o salário sem os acréscimos resultantes de gratificações,
prêmios ou participações nos lucros da empresa.
§ 2º - O empregado poderá optar pelo Adicional de insalubridade que porventura lhe seja
devido.
Ainda, quanto à legislação infraconstitucional cumpre citar algumas Leis que estabelecem
o direito ao Adicional de Periculosidade:
A Lei 2.573/55 instituiu o direito ao recebimento do Adicional de Periculosidade aos
empregados que estão em contato com as substancias inflamáveis.
Posteriormente, a Lei 5880/73, também instituiu o direito ao recebimento do Adicional de
Periculosidade aos empregados que estão em contato com as substancias explosivas.
No ano de 1977, a Lei 6.514 deu nova redação ao artigo 193 da CLT, alterando os ditames
contidos no artigo 193 da CLT e estabelecendo no bojo da CLT que os trabalhadores em
contato com explosivos e inflamáveis tem direito ao recebimento ao Adicional de
Periculosidade.
A Lei 7.369/85, por sua vez, estendeu o direito ao recebimento do Adicional de
Periculosidade aos trabalhadores do setor de energia elétrica. Esta Lei foi regulamentada
pelo decreto 93.412/86.
Também existem normas regulamentares (as NR) que tratam desta questão, como a NR-
16 da portaria 3214/78.
1.3.1 - A questão das substancias radioativas e radiação ionizante A portaria 3.393/87
estabelecia que o trabalho em contato com substâncias radioativas e radiação ionizante
dava direito ao trabalhador ao recebimento ao adicional de periculosidade.
Todavia, no ano de 2002, a portaria 496/2002 revogou a portaria 3.393/87, sob os
argumentos de que esta matéria somente poderia ser regulamentada através de Lei, vez
que não inserida dente os ditames do artigo 193 da CLT.
Contudo, este entendimento não prevaleceu.
É que a portaria 496/2002 revogou a portaria 3.393/87, sob os argumentos de que esta
matéria somente poderia ser regulamentada através de Lei, vez que não inserida dente os
ditames do artigo 193 da CLT.
Inclusive, recentemente, o Tribunal Superior do Trabalho ao analisar esta questão,
garantiu o pagamento do Adicional de Periculosidade à estes trabalhadores.
Em sua decisão, verificou-se que a fundamentação está calcada na portaria 518/2003, que
no entendimento do Tribunal Superior do Trabalho não havia sido revogada pelo decreto
496/2002.
Decisão esta, que deu origem a Orientação Jurisprudencial 345 da SDI-1 do Tribunal
Superior do Trabalho.
O.J. 345. ADICIONAL DE PERICULOSIDADE. RADIAÇÃO IONIZANTE OU SUBSTÂNCIA
RADIOATIVA. DEVIDO. DJ 22.06.05
A exposição do empregado à radiação ionizante ou à substância radioativa enseja a
percepção do Adicional de Periculosidade, pois a regulamentação ministerial (Portarias do
Ministério do Trabalho nºs 3.393, de 17.12.1987, e 518, de 07.04.2003), ao reputar
perigosa a atividade, reveste-se de plena eficácia, porquanto expedida por força de
delegação legislativa contida no art. 200, "caput", e inciso VI, da CLT.
No período de 12.12.2002 a 06.04.2003, enquanto vigeu a Portaria nº 496 do Ministério
do Trabalho, o empregado faz jus ao Adicional de insalubridade.
1.4 - Da caracterização
Tal como acontece como o Adicional de insalubridade, a caracterização da Periculosidade
deverá ser feita por intermédio de perícia técnica, elaborada por médico ou engenheiro do
trabalho, que através de um laudo técnico irá declarar se aquela categoria ou mesmo,
aquele determinado empregado que pleiteia este direito, se enquadra nos requisitos
definidos pela Lei para a caracterização da atividade perigosa e por conseqüência, se tem
direito ao recebimento do respectivo adicional.
1.5 - A remuneração
O percentual do Adicional foi definido pela CLT, no parágrafo único do artigo 193:
Consolidação das Leis do Trabalho
Artigo 193 ...
§ 1º - O trabalho em condições de Periculosidade assegura ao empregado um Adicional de
30% (trinta por cento) sobre o salário sem os acréscimos resultantes de gratificações,
prêmios ou participações nos lucros da empresa.
Como se pode notar, o percentual do Adicional de Periculosidade é de 30% calculados
tendo como base o salário contratual do empregado.
Entende-se como salário contratual, o salário base do empregado; ou seja, o salário,
deduzidas as gratificações, prêmios ou participação nos lucros. Todavia, há uma exceção a
esta regra. Trata-se dos empregados do setor de energia elétrica, que terão o percentual
do Adicional de Periculosidade, calculados sobre a integralidade das parcelas de natureza
salarial.
Este entendimento justifica-se na medida em que a Lei 7369/85 que instituiu este direito a
estes trabalhadores não fixou estes parâmetros.
Este entendimento, inclusive, encontra-se, atualmente, consolidado na súmula 191 do
Tribunal Superior do Trabalho;
Nº 191 ADICIONAL. PERICULOSIDADE. INCIDÊNCIA - Nova redação - Res. 121/2003, DJ
21.11.2003
O Adicional de Periculosidade incide apenas sobre o salário básico e não sobre este
acrescido de outros adicionais. Em relação aos eletricitários, o cálculo do Adicional de
Periculosidade deverá ser efetuado sobre a totalidade das parcelas de natureza salarial.
1.6 - Acordo e convenções coletivas de trabalho
É permitida a redução do percentual do Adicional de Periculosidade pago ao trabalhador,
desde que proporcional ao tempo de exposição ao agente nocivo e esteja estabelecido em
Acordo ou Convenção Coletiva de Trabalho.
Embora ainda haja grande controvérsia na doutrina, esta questão encontra-se
sedimentada na súmula 364 do Tribunal Superior do trabalho.
Nº 364 ADICIONAL DE PERICULOSIDADE. EXPOSIÇÃO EVENTUAL, PERMANENTE E
INTERMITENTE. (conversão das Orientações Jurisprudenciais nºs 5, 258 e 280 da SBDI-1) -
Res. 129/2005 - DJ 20.04.2005.
I - Faz jus ao Adicional de Periculosidade o empregado exposto permanentemente ou que,
de forma intermitente, se sujeita as condições de risco.
Indevido, apenas, quando o contato dá-se de forma eventual, assim considerado o
fortuito, ou o que, sendo habitual, dá-se por tempo extremamente reduzido. (ex-OJs nº 05
- Inserida em 14.03.1994 e nº 280 - DJ 11.08.2003)
II - A fixação do Adicional de Periculosidade, em percentual inferior ao legal e proporcional
ao tempo de exposição ao risco, deve ser respeitada, desde que pactuada em acordos ou
convenções coletivos. (ex-OJ nº 258 - Inserida em 27.09.2002)
Todavia, há diversos doutrinadores que se posicional de forma contrária a referida súmula,
pelo que pensamos que a questão ainda irá demorar em restar devidamente solucionada.
1.7 - Outras disposições
Estabeleceu expressamente a CLT que os adicionais de Periculosidade e insalubridade não
podem ser recebidos conjuntamente, devendo o empregado, conforme preconiza o
parágrafo 2º do artigo 193, optar por um deles.
Preleciona também a CLT, que tanto o Adicional de insalubridade, quanto o de
Periculosidade não se incorporam ao salário, vez que cessando a causa que lhes assegura
o direito, cessará também o respectivo direito.
1.8 – Resumo
PERICULOSIDADE EM CINCO PARTES
1 - Risco de vida eminente.
2 - Contato permanente com explosivos (art. 193, CLT), inflamáveis (art. 193, CLT), energia
elétrica (lei 7.369/85), radiação ionizante ou substancias radioativas (portaria nº
3.393/87).
3 - Percentual de 30% sobre o salário base do empregado, deduzidos os acréscimos
resultantes de gratificações, prêmios ou participação nos lucros das empresas, ressalvada
a exceção para os empregados em contato com energia elétrica.
4 - Não poderá ser pago cumulativamente com o Adicional de insalubridade, havendo
direito a percepção dos dois adicionais, o empregado deverá optar por um deles.
5- Não se incorpora ao salário, cessando a causa que o justifique, cessará o direito ao
respectivo adicional.

O adicional de periculosidade e a Súmula


191 do TST, após o advento da Lei n.º
12.740/2012
Alessandro Medeiros de Lemos
1. Introdução
Como de conhecimento geral, até pouco tempo o adicional de periculosidade era devido
em função dos agentes “inflamáveis e explosivos”, nos ditames da Consolidação das Leis
do Trabalho, enquanto que em função do agente “eletricidade”, nos termos da Lei nº
7.369/85.
Nessa linha de análise, os textos legais mencionados pareciam dispor diferentes bases de
cálculo para uma parcela de igual nomenclatura e natureza (adicional de periculosidade),
ao passo que, enquanto a CLT previa, no § 1º de seu Art. 193, que o adicional seria de
30% sobre o salário sem os acréscimos resultantes de gratificações, prêmios ou
participações nos lucros da empresa (isto para os que tivessem contato com inflamáveis e
explosivos), o Art. 1º da Lei nº 7.369/85 estabelecia que, para o empregado que exerce
atividade no setor de energia elétrica, em condições de periculosidade, este direito
consistiria numa remuneração adicional de 30% sobre o salário “que perceber”.
Essa expressão “salário que perceber” viria a mais tarde ser interpretada pelo Colendo
Tribunal Superior do Trabalho como concernente à totalidade das parcelas de natureza
salarial auferidas pelo empregado, como se infere da – ainda vigente – Súmula 191
daquela Corte Superior Laboral, a qual difere expressamente a forma de cálculo do
adicional em comento entre o empregado eletricitário e os demais que percebam a mesma
verba.
Recentemente, a normatização sobre o adicional de periculosidade foi alterada em razão
da Lei n.º 12.740/2012, a qual, em síntese, trouxe todos os agentes ensejadores do
pagamento do adicional em comento para dentro da CLT e acresceu, como beneficiária, a
categoria dos empregados expostos a roubos ou outras espécies de violência física nas
atividades profissionais de segurança pessoal ou patrimonial.
Ocorre que, além de inovar a redação do caput e introduzir os incisos I e II e o §3º ao Art.
193 da Consolidação das Leis do Trabalho, a mesma Lei nº 12.740/2012 revogou
expressamente a Lei n.º 7.369/1985.
Apesar de as mudanças mais visíveis serem a inclusão, no inciso I, do risco da exposição
à energia elétrica e a previsão, no inciso II, de uma novel hipótese de pagamento do
adicional de periculosidade, outras modificações expressivas e importantes restaram
concretizadas, as quais serão em parte abordadas nesta singela análise.
Assim é que, neste estudo, teremos como enfoque a discussão sobre a base de cálculo do
adicional de periculosidade para os empregados que o percebiam ou venham a percebê-lo
com base no elemento “eletricidade”, após o advento da Lei nº 12.740/2012, procedendo a
uma análise crítica da Súmula 191 do TST neste novo cenário.

2. Palavras-chave.
Adicional de periculosidade; inflamáveis e explosivos; eletricidade; eletricitário; Lei nº
7.369/85; Art. 193, incisos I e II, §1º, CLT; salário que perceber; salário sem acréscimos;
gratificações, prêmios ou participações nos lucros da empresa; Súmula 191; Lei n.º
12.740/2012; Tribunal Superior do Trabalho; Consolidação das Leis do Trabalho.

3. Evolução Histórica da Súmula 191 do TST.


De início, impende relembrar que a previsão legal contida na CLT sobre a base de cálculo
do adicional de periculosidade, para empregados que o percebam por força de contato
com inflamáveis e explosivos, data de 1977, porquanto incluso no Diploma Celetizado pela
Lei n. 6.514.
Já em relação aos empregados que percebam o mesmo adicional em razão de contato
com o agente eletricidade, a previsão legal data de 1985, chegada ao mundo jurídico por
meio da Lei n. 7369/85.
Como prenunciado na introdução deste estudo, a CLT veio a prever, para o primeiro
grupo, a base de cálculo como sendo o salário sem acréscimo de qualquer gratificação,
prêmio ou participação no lucro da empresa; noutras palavras, o salário-base.
O legislador de 1985, entretanto, tendo a oportunidade de se utilizar das mesmas palavras
e expressões da CLT, entendeu por dispor que o segundo grupo teria direito ao adicional
de periculosidade calculado sobre “o salário que perceber”.
Prima facie, com a devida vênia de entendimentos diversos, não visualizamos que a
ausência na lei de 1985 das expressas excludentes contidas na CLT, poderiam ter o
condão de atribuir à expressão “salário que perceber” a amplitude do conceito jurídico de
“remuneração”. Ao nosso ver, portanto, não haveria uma distinção jurídica entre uma e
outra previsão legal.
Contudo, quis o C. Tribunal Superior do Trabalho impingir na jurisprudência pátria a
exegese segundo a qual, em relação aos eletricitários, diversamente das demais
categorias que tivessem direito a tal parcela, o cálculo do adicional de periculosidade
deveria ser efetuado sobre a totalidade das parcelas de natureza salarial.
Interessante salientar que a redação original da Súmula 191 assim não previa. Muito pelo
contrário, seu texto de nascituro data de 09/11/1983, advinda da Res. 13/1983, no qual
estabelecia a mesma previsão do § 1º do Art. 193 da CLT, ou seja, que o adicional de
periculosidade incidia “apenas, sobre o salário básico, e não sobre este acrescido de
outros adicionais”.
Essa orientação, entretanto, começou a ser mudada a partir de julgamentos datados de
2002 em diante (vide precedentes da súmula em comento, no sítio oficial do TST),
desaguando na Res. 121/2003, publicada em 19/11/2003, passando a estabelecer o texto
atual, no sentido de manter o entendimento anterior para as demais categorias, mas, em
relação aos eletricitários, dever o adicional ser calculado sobre a totalidade das parcelas
de natureza salarial.
A partir daí, outra discussão terminou por ser travada em algumas demandas trabalhistas,
a exemplo de casos em que pessoalmente atuamos perante o TRT 19ª Região,
envolvendo a Companhia de Saneamento de Alagoas.
Com efeito, afigurou-se imperioso debater o conceito da expressão “eletricitário”, para se
interpretar se, para os fins de definição da base de cálculo do adicional de periculosidade
na forma ampliada da Súmula 191 do TST, deveria ser tratado como tal o empregado de
empresa geradora, distribuidora, transmissora e/ou rebaixadora de energia elétrica
(sistema elétrico de potência), ou se todo e qualquer empregado que percebesse o
adicional em questão fundado no agente “eletricidade”.
E o que motivou a necessidade desse debate? O fato de empregados operacionais, v.g.,
de empresa de saneamento, estarem postulando o adicional de periculosidade, invocando
como causa de pedir o risco de choque elétrico, e vindicando como base de cálculo a
totalidade das parcelas de natureza salarial. Daí a relevância de se buscar entender se a
Lei nº 7.369/85 e/ou a Súmula 191 do TST teria(m) estabelecido o direito a esta base
ampliada de cálculo exclusivamente para os “eletricitários” na concepção da palavra, ou se
para todo e qualquer empregado que percebesse o adicional em comento por contato com
energia elétrica.
A esta altura, analisando a Lei nº 7.369/85, encontra-se a seguinte disposição:
Art.1º O empregado que exerce atividade no setor de energia elétrica, em condições de
periculosidade, tem direito a uma remuneração adicional de 30% sobre o salário que
perceber.
Aliás, sem sair da linha de raciocínio até aqui trilhada, por vezes nos deparamos, inclusive,
com pronunciamentos jurisdicionais que entendiam sequer caber o direito ao adicional em
questão para empregados não integrantes do setor de energia elétrica, como se infere,
exemplificativamente, da sentença proferida nos autos do Processo nº 0000417-
45.2010.5.19.0002, abaixo parcialmente transcrita:
“A esse respeito, e necessário ressaltar que para o trabalhador fazer jus ao adicional
de periculosidade em decorrência de eletricidade não basta que desenvolva
atividade que implique risco provocado por energia elétrica, sendo necessário que
trabalhe em área de risco ou em atividades que envolvam operações com sistema
elétrico de potência, nos termos da Lei 7.369/85, do Decreto 93.412/86 e da NR 16 da
Portaria 3.214/78 do MTE.”
Voltando, porém, para o ponto da base de cálculo para empregados de Companhia de
Saneamento, na discussão conceitual e legal da expressão eletricitários, obtivemos
ilustrativamente as seguintes decisões do Colendo Tribunal Superior do Trabalho:
NÚMERO ÚNICO PROC: RR - 716/2006-010-19-40
PUBLICAÇÃO: DJ - 31/08/2007
PROC. Nº TST-RR-716/2006-010-19-40.9
ACÓRDÃO
4ª TURMA
I) AGRAVO DE INSTRUMENTO BASE DE CÁLCULO DO ADICIONAL DE
PERICULOSIDADE VIOLAÇÃO LEGAL. Diante da constatação de violação do art. 1º da
Lei 7.369/85, no tópico atinente à base de cálculo do adicional de periculosidade, dá-se
provimento ao agravo de instrumento para determinar o processamento do recurso de
revista.
Agravo de instrumento provido.
II) RECURSO DE REVISTA ELETRICISTA DE EMPRESA VINCULADA AO RAMO DE
ÁGUA E SANEAMENTO - BASE DE CÁLCULO DO ADICIONAL DE PERICULOSIDADE
VIOLAÇÃO DO ART. 1º DA LEI 7.369/85.
1. A jurisprudência predominante do TST segue no sentido de estender ao eletricista de
empresa que não seja exclusivamente distribuidora de energia elétrica o adicional de
periculosidade, desde que o empregado esteja comprovadamente exposto ao risco de
choque elétrico (Orientação Jurisprudencial 324 da SBDI-1 do TST).
2. Esse posicionamento, contudo, não se estende à base de cálculo do respectivo
adicional, porque essa base foi expressamente prevista apenas para os eletricitários
referidos na Lei 7.369/85, conforme se vê do seu art. 1º.
3. Nesse compasso, a decisão recorrida viola diretamente o art. 1º da Lei 7.369/85 ao
concluir que o referido dispositivo legal não se aplica apenas aos eletricitários, mas
que deve ser estendido a todos os empregados que laboram com energia elétrica,
incluindo o Reclamante, operador de bombas de Empresa não distribuidora de
energia elétrica. Recurso de revista parcialmente conhecido e provido em parte.
ISTO POSTO
ACORDAM os Ministros da Egrégia 4ª Turma do Tribunal Superior do Trabalho:
I - por unanimidade, dar provimento ao agravo de instrumento para mandar processar o
recurso de revista;
II - por unanimidade, conhecer do recurso de revista no tópico atinente à base de cálculo
do adicional de periculosidade, por violação do art. 1º da Lei 7.369/85, e, no mérito, dar-lhe
provimento para, reformando o acórdão regional, no particular, determinar que o adicional
de periculosidade incida apenas sobre o salário básico do Reclamante.
Brasília, 08 de agosto de 2007.
IVES GANDRA MARTINS FILHO
MINISTRO-RELATOR
NÚMERO ÚNICO: RR - 63900-19.2005.5.19.0004
PUBLICAÇÃO: DEJT - 10/09/2010
PROCESSO Nº TST-RR-63900-19.2005.5.19.0004
ACÓRDÃO
2ªTurma
RECURSO DE REVISTA. AUSÊNCIA DE SUBMISSÃO DO PLEITO ÀCOMISSÃO DE
CONCILIAÇÃO PRÉVIA.
(...)
ADICIONAL DE PERICULOSIDADE. BASE DE CÁLCULO.
Prevê a Súmula nº191 desta Corte: “O adicional de periculosidade incide apenas sobre o
salário básico e não sobre este acrescido de outros adicionais. Em relação aos
eletricitários, o cálculo do adicional de periculosidade deverá ser efetuado sobre a
totalidade das parcelas de natureza salarial”. Portanto, o Tribunal, ao entender que,
além do salário-base, as parcelas salariais integram o cálculo do adicional de
periculosidade do reclamante, que não é eletricitário, contrariou a citada Súmula
(primeira parte). Prejudicada a análise da matéria referente às repercussões das
diferenças do adicional de periculosidade.
Recurso de revistaconhecido e provido, neste item.
HONORÁRIOS ADVOCATÍCIOS.
(...)
Recurso de revista não conhecido.
Vistos, relatados e discutidos estes autos de Recurso de
Revista n° TST-RR-63900-19.2005.5.19.0004, em que é Recorrente CASAL -
COMPANHIA DE ABASTECIMENTO D'Á GUA E SANEAMENTO DO ESTADO DE
ALAGOAS e Recorrido SEVERINO RAMOS SOUZA COSTA.
(...)
É o relatório.
VOTO
1. AUSÊNCIA DE SUBMISSÃO DO PLEITO À COMISSÃO DE CONCILIAÇÃO PRÉVIA
I - CONHECIMENTO
(...)
II MÉRITO
(...)
2. BASE DE CÁLCULO DO ADICIONAL DE PERICULOSIDADE. REFLEXOS
I - CONHECIMENTO
O Regional deu parcial provimento ao recurso ordinário da reclamada, mantendo a
condenação ao pagamento de diferenças do adicional de periculosidade, para que este
seja calculado sobre todas as verbas de natureza salarial, alterando a sentença apenas
para excluir o adicional noturno e as horas extras de sua incidência, pelos seguintes
fundamentos: “Por outro lado, ao fundamento de que a base de cálculo do adicional de
periculosidade, como sendo a composição de todas as verbas salariais, somente se
destinaria aos eletricitários, categoria à qual o reclamante não pertence, postula também a
reclamada seja a sentença reformada, no particular.
Aqui, tem parcial razão.
(...)
A reclamada alega que o reclamante não era eletricitário tampouco a recorrente é
empresa geradora ou distribuidora de energia elétrica ou detentora de sistema
elétrico de potência, motivo pelo qual entende que o adicional de periculosidade não
deve ser calculado sobre a remuneração do autor, mas sim sobre seu salário-base.
Aponta violação dos arts. 193, §1º, da CLT e 1º da Lei nº7.369/85, além de indicar
contrariedade à Súmula nº191 e às Orientações Jurisprudenciais nºs 259 e 267 da SBDI-1,
todas do TST. Colaciona arestos para comprovação de divergência jurisprudencial.
Inicialmente, registra-se que os arestos colacionados não impulsionam o conhecimento do
recurso de revista interposto. O último aresto de fl.210 e os paradigmas de fls. 211 e 212 e
o primeiro da fl. 216 são inespecíficos, pois não tratam da base de cálculo do adicional de
periculosidade de empregado que, apesar de não ser eletricitário, trabalha exposto à
energia elétrica. Incidência da Súmula nº 296, item I, do TST. Os demais modelos são
oriundos de Vara do Trabalho, do mesmo tribunal prolator da decisão recorrida e de
Turmas do TST, portanto, de órgãos julgadores não elencados no art. 896 da CLT.
Passa-se à análise do mérito.
A Súmula nº 191 desta Corte prevê: “O adicional de periculosidade incide apenas sobre o
salário básico e não sobre este acrescido de outros adicionais. Em relação aos
eletricitários, o cálculo do adicional de periculosidade deverá ser efetuado sobre a
totalidade das parcelas de natureza salarial”. De acordo com a primeira parte da
jurisprudência, o adicional de periculosidade deve ser calculado sobre o salário
básico não acrescido de outros adicionais, exceções apenas aos eletricitários, em
que o adicional deverá ser calculado sobre todas as parcelas de natureza salarial.
Como o reclamante não era eletricitário, o adicional deve incidir apenas sobre o
salário básico.
O Tribunal, ao entender que o adicional de periculosidade deve ser calculado sobre
o ordenado básico e sobre outras parcelas de natureza salarial, contrariou a
jurisprudência transcrita.
Conheço por contrariedade à Súmula nº191, primeira parte, do TST.
II - MÉRITO
A conseqüência lógica do conhecimento do recurso de revista por contrariedade a
jurisprudência sumular é o acolhimento da pretensão da recorrente. Dou provimento
ao recurso de revista para excluir da condenação o pagamento de diferenças de
adicional de periculosidade. Prejudicada a análise do tema relativo às repercussões
das diferenças do adicional de periculosidade.
(...)
ISTO POSTO
ACORDAM os Ministros da Segunda Turma do Tribunal
Superior do Trabalho, por unanimidade: I não conhecer do recurso de revista em relação
ao tema “Honorários Advocatícios” e II conhecer do recurso de revista em relação ao tema
“Ausência de Submissão do Pleito à Comissão de Conciliação Prévia” por divergência
jurisprudencial e, no mérito, negar-lhe provimento; III conhecer do recurso de revista
quanto ao tema “Base de Cálculo do Adicional de Periculosidade. Reflexos” por
contrariedade à Súmula nº191, primeira parte, do TST e, no mérito, dar-lhe provimento
para excluir da condenação o pagamento de diferenças de adicional de
periculosidade. Prejudicada a análise do tema relativo às repercussões das diferenças do
adicional de periculosidade.
Brasília, 01 de setembro de 2010.
Firmado por assinatura digital (MP 2.200-2/2001)
ROBERTO PESSOA
Juiz Convocado Relator
Apesar desses arestos, entretanto, é preciso se reconhecer que o entendimento neste
sentido afigurou-se minoritário, após número expressivo de demandas movidas com o
tema sub examine, sendo que, em sua maioria, os pronunciamentos trilharam o caminho
de ser devida a observância da remuneração como base de cálculo para o adicional de
periculosidade, mesmo para empregados de companhia de saneamento, ou seja,não
eletricitários na concepção literal da expressão.
Em linhas de conclusão, um derradeiro aspecto correlacionado ao presente tópico
concerne a um aparente conflito entre os ditames da Súmula 191 e outros enunciados
sumulares, quanto às bases de cálculos de parcelas de natureza salarial.
De fato, mais uma vez citando nossa militância, nela nos deparamos com pedidos
fundamentados na Súmula 191, no sentido de que integrassem a base de cálculo do
adicional de periculosidade, por exemplo, horas extras e adicional noturno.
Todavia, ao compulsarmos o teor, por exemplo, da Súmula 264 da mesma Corte
Trabalhista Superior, constatamos que esta assim preconiza:
TST Enunciado nº 264 - Res. 12/1986, DJ 31.10.1986 - Mantida - Res. 121/2003, DJ 19,
20 e 21.11.2003
Remuneração do Serviço Suplementar - Composição
A remuneração do serviço suplementar é composta do valor da hora normal, integrado por
parcelas de natureza salarial e acrescido do adicional previsto em lei, contrato, acordo,
convenção coletiva ou sentença normativa.
Noutras palavras, a teor desta última súmula acima transcrita, as horas extras já têm
considerado em sua base de cálculo, por sua vez, o adicional de periculosidade que
perceba o empregado. E com razão, até porque o empregado que trabalha sob condições
perigosas não abandona esse risco por ocasião do labor suplementar, podendo até
mesmo potencializá-lo.
Deste modo, não há como se cogitar que a hora extra também integraria a base de cálculo
do adicional de periculosidade, sob pena de patente bis in idem ou o chamado “efeito
cascata”. Aliás, tornaria até mesmo inviável o cálculo, posto que nem se saberia quem
deveria incidir primeiro: o adicional deveria ser somado ao salário-base para cálculo da
hora extra, ou esta ao salário-base para cálculo do adicional? E após o primeiro cálculo,
como se faria o segundo?
A ilação a que chegamos é que, para os eletricitários, a Súmula 191 quis estabelecer a
inclusão de outras parcelas salariais na base de cálculo do adicional de periculosidade,
que não aquelas (verbas) em cuja base este (adicional) já seria considerado.
. O Advento da Lei nº 12.740/12 numa concepção analítica
Para uma perfeita compreensão dos fundamentos que nos levarão à conclusão desse
estudo, apresenta-se de vital importância a análise dos pontos alterados e/ou acrescidos
ao ordenamento pátrio, com o advento da novel Lei nº 12.740/12.
4.1. Substituição da expressão “Contato”por“Exposição”
O Art. 193 da CLT previa o cabimento do direito ao adicional de periculosidade quando a
atividade ensejasse “contato permanente” com inflamáveis ou explosivos em condições de
risco acentuado.
Com a superveniência da Lei nº 12.740/12, o legislador entendeu por trocar a expressão
“contato” por “exposição”. Com efeito, a atual redação do aludido preceito consolidado é a
seguinte:
Art. 193. São consideradas atividades ou operações perigosas, na forma da
regulamentação aprovada pelo Ministério do Trabalho e Emprego, aquelas que, por sua
natureza ou métodos de trabalho, impliquem risco acentuado em virtude de exposição
permanente do trabalhador a: (Redação dada pela Lei nº 12.740, de 2012)
I - inflamáveis, explosivos ou energia elétrica; (Incluído pela Lei nº 12.740, de 2012)
II - roubos ou outras espécies de violência física nas atividades profissionais de segurança
pessoal ou patrimonial. (Incluído pela Lei nº 12.740, de 2012)
§ 1º - O trabalho em condições de periculosidade assegura ao empregado um adicional de
30% (trinta por cento) sobre o salário sem os acréscimos resultantes de gratificações,
prêmios ou participações nos lucros da empresa. (Incluído pela Lei nº 6.514, de
22.12.1977)
§ 2º - O empregado poderá optar pelo adicional de insalubridade que porventura lhe seja
devido. (Incluído pela Lei nº 6.514, de 22.12.1977)
§ 3º Serão descontados ou compensados do adicional outros da mesma natureza
eventualmente já concedidos ao vigilante por meio de acordo coletivo. (Incluído pela Lei nº
12.740, de 2012)”
O novel texto condiciona a classificação de atividades ou operações perigosas à
constatação de risco acentuado decorrente de exposição permanente a inflamáveis,
explosivos, energia elétrica, ou roubos ou outras espécies de violência física nas
atividades profissionais de segurança pessoal ou patrimonial.
O sentido do vocábulo “contato”, ao nosso sentir, é sensivelmente mais restrito do que o
de “exposição”. Enquanto aquele guarda relação com toque ou tateio dos elementos
periculosos, o último amplia o cabimento do direito para os casos em que haja o “contato a
distância” ou possibilidade de consequências de impactos por acidentes desencadeados
pelos agentes ditos periculosos (“contato indireto”).
Vale frisar, contudo, que a NRn.º 16 do Ministério do Trabalho e Emprego já considerava a
exposição aos explosivos e inflamáveis, assim como o Decreto n.º 93.412/86, que
regulamentou a Lei n.º 7.369/85, ao disciplinarem analiticamente as hipóteses de direito ao
pagamento do adicional de periculosidade, estabeleceram as áreas de risco dentro das
quais, relativamente às atividades ou operações com aqueles agentes químicos e físicos,
mesmo os trabalhadores que realizavam atividades distintas faziam jus ao recebimento do
adicional em comento.
A modificação legislativa promovida no caput do Art. 193 da CLT surge em nosso
ordenamento jurídico como aparente forma de regular que o risco qualificador de operação
ou atividade periculosa não se atém àquele verificado nas atividades em si, mas também
relacionadas a estes agentes, certo de que, por exemplo, a proximidade do local da
realização de atividades igualmente pode ter o condão de gerar o cabimento do adicional
ora em análise.
4.2. A revogação da Lei n.º 7.369/85 e a trazida do elemento “eletricidade” para a
CLT.
A Lei n.º 12.740/2012, dentre outras consequências jurídicas, determinou, em seuArt. 3º, a
revogaçãoda Lei n.º 7.369/85.
Todavia, não sem antes trazer para o bojo da Consolidação das Leis do Trabalho, o
elemento “eletricidade” como ensejador, em casos determinados, do cabimento do direito
ao adicional de periculosidade.
Numa leitura mais apressada que inicialmente fizemos do novel texto legal, entendemos,
prima facie, que o objetivo do legislador teria sido o de condensar na CLT as hipóteses
ensejadoras do pagamento do adicional em comento, bem como de acrescer ao
ordenamento jurídico mais um suporte fático de cabimento de tal pagamento, qual seja, a
exposição a riscos que pudessem acarretar violência física na esfera de segurança
patrimonial.
Nossas atenções, naquela oportunidade, portanto, passaram ao largo da questão da base
de cálculo do adicional de periculosidade, doravante, para os empregados que o recebiam
ou viriam a recebê-lo em razão da exposição permanente a riscos com energia elétrica.
Talvez essa nossa desatenção inicial tenha derivado do aspecto de que, a bem da
verdade, nunca enxergamos uma diferença entre a ratione legis do legislador celetista, em
relação àquele que participou da edição da Lei n.º 7.369/85, quanto à base de cálculo do
adicional periculositório. Com efeito, jamais entendemos que o fato desta última lei
consignar a expressão “salário que perceber” teria o condão de indicar a vontade
legisferante como sendo a de estabelecer a remuneração como base.
Ora, ao nosso ver, se o legislador quisesse assim preconizar teria indicado a remuneração
como base, ou mesmo diria que o adicional seria calculado sobre a totalidade das parcelas
de natureza salarial etc.
Com a devida vênia de entendimentos diversos, até hoje não concebíamos
confortavelmente esta exegese oriunda da mera ausência de consignação expressa, na
Lei n.º 7.369/85, no sentido de que deveriam ser excluídos da base de cálculo as
gratificações, prêmios ou outras participações no lucros do empregador, como
anteriormente já havia previsto a CLT para os trabalhadores que viessem a perceber o
adicional por força de contato com inflamáveis e explosivos.
Em suma, o fato da posterior Lei n.º 7.369/85 ter feito alusão ao “salário que perceber”,
sem constar a ressalva às gratificações e demais parcelas anteriormente dispostas pelo
Art. 193 da CLT, jamais poderia ser entendido, sob nossa ótica, como fundamento para
hermenêutica de que quis estabelecer a remuneração como base de cálculo para o
adicional de periculosidade.
Até porque tal interpretação, que somente veio a ser jurisprudencialmente estabelecida
pelo TST por volta do ano 2002, confronta-se, ao nosso ver, com preceitos contidos em
nossa Carta Magna, a exemplo do próprio princípio da legalidade (Art. 5º, II, CRFB/88), ao
passo que preconiza tratamento diferenciado para trabalhadores que, até ulterior
evidência, encontram-se sob mesma condição laboral de risco. Afinal, não se tem notícia
de estudos técnicos que tenham servido de base para edição da Lei n.º 7.369/85, neste
aspecto, que houvesse indicado que os trabalhadores expostos a riscos de choques
elétricos estariam em condição mais desfavorável ou de maior vulnerabilidade do que os
expostos a inflamáveis e explosivos.
E, ainda que houvesse tal base técnica assim asseverando, o critério, em nossa
concepção, jamais poderia ser o de aumentar a base de cálculo, mas sim o percentual do
próprio adicional, como aliás já adotava e persiste adotando a CLT para o caso do
adicional de insalubridade, cuja definição do percentual varia de acordo com o maior ou
menor grau de nocividade dos agentes insalutíferos ao organismo humano. Em suma, se o
risco por exposição a energia elétrica fosse mais acentuado do que o perigo de exposição
a inflamáveis e explosivos, estes deveriam ensejar um percentual menor para o adicional.
Retornando à questão da base de cálculo com o advento da Lei n.º 12.740/12, o fato é
que, posteriormente, numa análise mais cuidadosa, terminamos por inevitavelmente
constatar que o ordenamento pátrio não deixou mais qualquer espaço para o
entendimento diferenciado estabelecido pela Súmula 191 do TST.
Este aspecto, aliás, parece-nos claramente reforçar o entendimento que exaramos nos
parágrafos imediatamente anteriores deste estudo, tanto que o legislador, para não deixar
pairar qualquer dúvida a respeito, condensou as hipóteses de cabimento do adicional na
CLT, manteve a base de cálculo prevista em seuArt. 193, §1º, e ainda ab-rogou
(revogação total) expressamente a Lei n.º 7.369/85.
Em conformidade com o revogado art. 1º da Lei n.º 7.369/85, o adicional de periculosidade
devido aos eletricitários incidia sobre o salário que percebesse, vale dizer, no
entendimento do TST, sobre a totalidade das verbas salariais, incluindo outros adicionais.
De início, uma conclusão cabal é que os empregados que exercem suas funções com
exposição à energia elétrica passarão a perceber adicional de periculosidade em menor
valor, pois este título incidirá apenas sobre o salário básico, deixando de incluir na base de
cálculo a totalidade das parcelas salariais, como outros adicionais, gratificações, prêmios
etc., haja vista aplicar-se, doravante, a regra estatuída no § 1º do art. 193 da CLT.
Grife-se, aqui, que a modificação da Súmula n.º 191 pelo Colendo Tribunal Superior do
Trabalho, data máxima vênia, é medida que se impõe. Aliás, como o enunciado em
questão objetivava apenas diferenciar a base de cálculo entre os eletricitários e as demais
categorias que recebessem o adicional sub examine, a hipótese, ao nosso sentir,
recomenda ocancelamento da súmula, porquanto desnecessária a alteração para um texto
que disponha aquilo que expressamente a lei já estabeleceu.
Ou, caso queira o TST prestar um serviço de utilidade pública, neste aspecto, que altere o
texto da súmula para, doravante, esclarecer que, ressalvados os casos de pactuação
individual ou coletiva dispondo de modo diverso, com o advento da Lei n.º 12.740/12 o
adicional de periculosidade, mesmo para os eletricitários, tem como base de cálculo o
salário básico do trabalhador.
Já temos notícia de que esse cenário legal vem ocasionando debates entre trabalhadores
e empregadores, com questionamentos de toda ordem. Dentre os principais, estariam:
a) O empregado que já percebia o adicional de periculosidade calculado sobre a
totalidade das parcelas de natureza salarial teriam direito adquirido a esta base de
cálculo?
b) Como uma espécie do gênero do questionamento acima, o empregado que já
percebia o adicional sobre todas as verbas salariais, em razão de decisão judicial
transitada em julgado, teria esta base de cálculo consolidada como direito imutável?
c) As categorias que recebiam o adicional sobre a totalidade das parcelas
salariais, em razão de norma coletiva assim dispondo, teriam essa base assegurada?
Permissa vênia de entendimento diverso, entendemos pela possibilidade de adoção de um
mesmo posicionamento para os questionamentos contidos nas duas primeiras alíneas,
dado que, especialmente em relação ao adicional de periculosidade (assim como ocorre
no tocante ao adicional de insalubridade, porém com menor ênfase), este se constitui em
“salário-condição”, ainda que pago em razão de decisão judicial que assim impôs. É o que
se infere da dicção do Art. 194 da CLT, in verbis:
Art. 194 - O direito do empregado ao adicional de insalubridade ou de periculosidade
cessará com a eliminação do risco à sua saúde ou integridade física, nos termos
desta Seção e das normas expedidas pelo Ministério do Trabalho.
Noutras palavras, o direito a seu pagamento, administrativa ou judicialmente reconhecido,
é renovado mensalmente em sendo configuradas as hipóteses ensejadoras, podendo ser
suprimido a qualquer tempo, caso haja a eliminação do risco, seja por
alteração/melhoria/adequação do local de trabalho ou mesmo em razão da transferência
do trabalhador para setor cujas condições não se traduzam em atividades ou operações
perigosas, não se podendo suscitar violações a direito adquirido, ou, menos ainda,à
previsão constitucional de irredutibilidade salarial.
Há que se grifar que o intuito do legislador celetista, como não poderia deixar de ser,
jamais foi o de assegurar o pagamento do adicional (de periculosidade ou insalubridade),
mas sim, num primeiro momento, o de eliminar quaisquer condições nocivas ou perigosas
à saúde e integridade física do trabalhador. Somente quando não possível a eliminação
integral do risco ou nocividade é que estabelece o pagamento de uma espécie de
indenização, seja para tentar equilibrar a relação, compensando o empregado, seja para
estimular e cobrar do empregador a adoção de todas as medidas possíveis para
eliminação dos agentes periculosos ou insalutíferos. Para perfeita visualização,
transcrevemos a CLT, no particular:
Art. 191 - A eliminação ou a neutralização da insalubridade ocorrerá: (Redação dada
pela Lei nº 6.514, de 22.12.1977)
I - com a adoção de medidas que conservem o ambiente de trabalho dentro dos limites de
tolerância; (Incluído pela Lei nº 6.514, de 22.12.1977)
II - com a utilização de equipamentos de proteção individual ao trabalhador, que diminuam
a intensidade do agente agressivo a limites de tolerância. (Incluído pela Lei nº 6.514, de
22.12.1977)
Parágrafo único - Caberá às Delegacias Regionais do Trabalho, comprovada a
insalubridade, notificar as empresas, estipulando prazos para sua eliminação ou
neutralização, na forma deste artigo. (Incluído pela Lei nº 6.514, de 22.12.1977)
Desfechando nossas impressões sobre as ilações constitucionais, nessa esteira, no rol de
direitos sociais elencados no Art. 7º de nossa Carta Política, não se estabelece um
patamar mínimo de quantificação do adicional de periculosidade ou de sua base de
cálculo, ao revés do ocorre com o percentual de horas extras, o acréscimo salarial das
férias e o montante do 13º salário.
Em suma, o que sustentamos é que, do ponto de vista técnico-jurídico, nem mesmo a
preexistência de trânsito em julgado de decisão, estabelecendo a base de cálculo do
adicional de periculosidade como sendo a totalidade das parcelas de natureza salarial para
dado trabalhador, tem o condão de lhe gerar direito adquirido a tal base de incidência. Até
porque, como visto, nem mesmo o principal, isto é, o adicional em si, pode se afigurar em
direito adquirido, podendo ser suprimido a qualquer hora, se cessadas as condições
outrora ensejadoras do pagamento do adicional, que dirá sua base de cálculo.
Quanto à última alínea, ou seja, em relação aos questionamentos advindos de previsões
contidas em normas coletivas, entendemos importante tecer algumas outras
considerações a respeito.
Até pouco tempo, o entendimento sumular e sedimentado pelo C. TST, em seu enunciado
277, era no sentido de que as normas coletivas somente teriam aplicabilidade dentro de
seu período de vigência, ou seja, o posicionamento era terminantemente contrário à
ultratividade das normas coletivas. Assim, cessada a vigência, somente novo instrumento
coletivo poderia voltar a assegurar os direitos estabelecidos no anterior e não decorrentes,
automaticamente, de disposição legal.
Numa inusitada e inesperada reversão, o TST, a partir de setembro/2012, alterou a súmula
em questão para dispor entendimento diametralmente oposto:
Súmula nº 277 do TST. CONVENÇÃO COLETIVA DE TRABALHO OU ACORDO
COLETIVO DE TRABALHO. EFICÁCIA. ULTRATIVIDADE (redação alterada na s na
sessão do Tribunal Pleno realizada em 14.09.2012) - Res. 185/2012, DEJT divulgado em
25, 26 e 27.09.2012
As cláusulas normativas dos acordos coletivos ou convenções coletivas integram
os contratos individuais de trabalho e somente poderão ser modificados ou
suprimidas mediante negociação coletiva de trabalho.
De plano, especialmente considerando que a hipótese era de existência de enunciado
anterior preconizando entendimento em sentido totalmente diverso, reputamos que não há
sequer como se tergiversar sobre eventual aplicação retroativa da exegese sumular em
questão.
Noutras palavras, as normas coletivas que já vigiam quando da alteração do texto sumular,
em setembro/2012, foram pactuadas pelas partes sob a ótica de limitação ao seu prazo de
vigência, o que era expressamente referendado pela redação anterior da mesma súmula.
Assim, não vemos como se entender que normas coletivas firmadas anteriormente à
alteração sumular já pudessem se considerar incorporadas aos contratos de trabalho dos
trabalhadores beneficiários do instrumento pactuado. No máximo, apenas se renovadas ou
pactuadas posteriormente ao novel texto sumular é que poderiam ser compreendidas
como incorporadas.
Outro aspecto é que entendemos, data máxima vênia, que o atual texto sumular é de
duvidosa e questionável legalidade e constitucionalidade.
Com efeito, na esfera infraconstitucional, o primeiro Diploma a ser frisado é a própria CLT,
que assim estabelece:
Art. 613 - As Convenções e os Acordos deverão conter obrigatoriamente: (Redação
dada pelo Decreto-lei nº 229, de 28.2.1967)
I - Designação dos Sindicatos convenentes ou dos Sindicatos e empresas acordantes;
(Incluído pelo Decreto-lei nº 229, de 28.2.1967)
II - Prazo de vigência; (Incluído pelo Decreto-lei nº 229, de 28.2.1967)
(...)
VI - Disposições sobre o processo de sua prorrogação e de revisão total ou parcial
de seus dispositivos; (Incluído pelo Decreto-lei nº 229, de 28.2.1967)
Art. 614 - Omissis
(...)
§ 3º Não será permitido estipular duração de Convenção ou Acordo superior a 2
(dois) anos. (Redação dada pelo Decreto-lei nº 229, de 28.2.1967)
Os supratranscritos preceitos encontram-se induvidosamente contrariados pela atual
redação da Súmula 277 do TST.
Frise-se que os benefícios pactuados em normas coletivas se apresentam num cenário de
natureza jurídica diversa do contrato individual de trabalho. Com efeito, apesar de, neste
último, prever a CLT a impossibilidade de alteração do pactuado de forma unilateral e/ou
em prejuízo do empregado (Art. 468, CLT), bem como que devem integrar a remuneração
as parcelas salariais pagas com habitualidade, ainda que por liberalidade (Art. 457, CLT),
aqui nos encontramos num campo de um pacto individual firmado entre empregador e
empregado para reger aquela relação em particular, donde, regra geral, o contrato é
firmado por prazo indeterminado. De sorte que, para as condições pactuadas, a vigência
de tais cláusulas deve observar igual perspectiva temporal, ou seja, acompanhar e serem
praticadas ao longo de toda a duração do liame empregatício.
Trata-se de situação diversa das normas coletivas. Primeiro, porque, a princípio, o que
intentam as categorias obreiras por meio destas é ampliar os benefícios já existentes ou
mesmo obter outros ainda não previstos/assegurados em lei. Segundo, porque, aqui, as
normas pactuadas se aplicam a toda categoria, de forma coletiva. Terceiro, em razão de
que, justamente diante de tais peculiaridades é que veio a lei a dispor um prazo máximo
de duração, bem como a vinculação das normas à vigência do instrumento coletivo, de
modo a permitir uma revisão ampla dos benefícios discutidos, após um período de
concessão destes ao longo de conjunturas diversas que podem ser vivenciadas ou
suportadas pelo empregador, durante sua existência.
Pensar diferentemente, permissa vênia, assim como o fez inesperadamente o C. TST ao
alterar o texto sumular, implicará o engessamento das tratativas negociais, certo de que o
empregador, sabendo agora que se conceder dado benefício não mais poderá revê-lo
quando exaurido o prazo de vigência da norma coletiva(já que sindicato obreiro algum
subscreverá norma que retroceda em benefícios anteriormente concedidos), será muito
mais conservador e comedido – para dizer o menos – para eventuais concessões de
avanços nessa seara.
Ainda no campo da duvidosa legalidade que aqui consignamos, é preciso se relembrar as
disposições civis sobre os contratos em geral, que estabelecem o respeito irrestrito às
manifestações de vontade das partes. Dentre elas, traz o Código Civil:
Art. 128. Sobrevindo a condição resolutiva, extingue-se, para todos os efeitos, o
direito a que ela se opõe; mas, se aposta a um negócio de execução continuada ou
periódica, a sua realização, salvo disposição em contrário, não tem eficácia quanto aos
atos já praticados, desde que compatíveis com a natureza da condição pendente e
conforme aos ditames de boa-fé.
Art. 135. Ao termo inicial e final aplicam-se, no que couber, as disposições relativas
à condição suspensiva e resolutiva.
Por fim, a Constituição da República em seu Art. 7º, inciso XXVI, estabelece a prevalência
das normas coletivas, nos termos pactuados, aí se incluindo o prazo de vigência
estabelecido entre as partes, o qual, por força de disposição expressa da CLT (acima
transcrita), não pode ultrapassar de 2 anos.
Logo, com a devida vênia, nem concordamos com a ultratividade (muito menos
incorporação ao contrato de trabalho) preconizada pela atual redação da Súmula 277 do
TST, mas, de todo modo, parece-nos inquestionável que tal entendimento, ainda que
mantido, não pode ser aplicado de forma retroativa, a normas coletivas que já haviam sido
firmadas quando da alteração do texto sumular.
Daí, ainda exsurge a necessidade de implementar análise apartada da questão, no que diz
respeito ao período entre setembro/2012, data da alteração sumular, e 08/12/2012, dia em
que foi publicada a Lei n.º 12.740/12.
É que, mesmo se considerando as normas coletivas firmadas pelas partes, sob o
entendimento de incorporação ao contrato de trabalho, assim pactuaram sob a premissa
de que, para os eletricitários, a base de cálculo do adicional de periculosidade já seria a
totalidade das parcelas de natureza salarial, já que este era o entendimento sustentado
pela Súmula 191 do TST, desde 2003 e até então (isto é, a quase 10 anos).
Com a superveniência da dita lei, surgiu no ordenamento pátrio preceito legal sepultando a
exegese anterior no sentido de que a Lei n.º 7.369/85 asseguraria esta maior base de
cálculo.Noutras palavras, o empregador pactuante entendia que estava a ratificar, por
norma coletiva, uma disposição legal cuja interpretação o TST já assegurava ao
trabalhador, cenário distinto do panorama atual.
Deste modo, ao nosso sentir, é certo que, para as normas coletivas firmadas
anteriormente à publicação da Lei n.º 12.740/12, igualmente entendemos não haver como
se compelir o empregador a ter esta específica pactuação coletiva (referente à base de
cálculo do adicional de periculosidade) incorporada aos contratos individuais de trabalho
de seus empregados, já que seu ato volitivo partiu de premissa jurídica diversa, num
cenário em que o C. TST mantinha entendimento sumular que estaria ele, empregador,
apenas a ratificar em norma coletiva (e, repita-se, quando até pouco tempo, o
entendimento expresso era de limitação das normas coletivas ao prazo de vigência do
instrumento).
Como corolário lógico das digressões acima, concluímos que somente as normas coletivas
firmadas após o advento da Lei n.º 12.740/12 (e, portanto, também posteriores à alteração
da Súmula 277 do TST), ressalvadas as ponderações de legalidade e constitucionalidade
já aludidas, é que poderiam ter o seu conteúdo visto como incorporado aos contratos
individuais de emprego vigentes.
Finalmente, também é nosso entendimento que, como dito na parte final do parágrafo
anterior, as normas coletivas, mesmo pelo entendimento sumular atual, somente se
incorporariam aos contratos de trabalho vigentes à época de seu firmamento, não se
aplicando automaticamente, de modo algum, aos contratos individuais que vierem a ser
celebrados após o momento da assinatura do instrumento coletivo, ainda que no curso da
vigência deste, dentre outros fundamentos, pelo princípio sob que “o tempo rege o ato”.
4.3. Um derradeiro aspecto relevante: sobrevive o Decreto n.º 93.412/86?
Um último aspecto da Lei n.º 12.740/12 diz respeito a uma fundada dúvida sobre se o
Decreto n.º 93.412/12 persiste válido e vigente no ordenamento pátrio!
É que, como sabido, o referido decreto surgiu no mundo jurídico para regulamentar
especificamente a Lei n.º 7.369/85. Daí, com a revogação desta, inevitável se discutir se
houve igualmente a revogação da tabela do Regulamento aprovado pelo Decreto n.º
93.412/86, que especifica as hipóteses de direito ao pagamento do adicional de
periculosidade aos trabalhadores no setor de energia elétrica.
Isso porque, como regra geral, não sendo os decretos fontes autônomas de direitos, mas
sim tendo como função precípua regulamentar disposições legais existentes, a revogação
destas implicaria a mesma sorte para os decretos correlatos.
Mas um primeiro aspecto que deve ser pontuado é que o risco de exposição à energia
elétrica persiste como agente caracterizador de operação ou atividade perigosa, em
decorrência da inserção desta hipótese no inciso I do Art. 193 da CLT.
Já por força de tal constatação, entendemos que a regulamentação esculpida no Decreto
n.º 93.412/86 é compatível com o supracitado dispositivo celetizado, cabendo ser aplicado
este decreto regulamentador àquele preceito legal.
Ao buscar analisar a jurisprudência, tivemos a grata surpresa de encontrar aresto de nosso
saudoso conterrâneo alagoano, Ministro Humberto Gomes de Barros, do Superior Tribunal
de Justiça sobre a matéria:
EMENTA: ADMINISTRATIVO – INTERTEMPORAL – LEI NOVA – REGULAMENTO –
RECEPÇÃO.A revogação expressa de uma lei nova, nem sempre acarreta a
derrogação do regulamento. Se os dispositivos do regulamento são compatíveis
com os novos preceitos, o regulamento é recebido pelo diploma superveniente.
VOTO
Transcrevo, a propósito, a feliz observação lançada no Parecer do Ministério Público
Federal (fls. 281⁄2), nestes termos:
‘O Decreto n. º 2.722⁄84 (fls. 101), aprovou “o Regulamento que especifica e define as
condições para o aproveitamento de áreas e locais considerados de interesse turístico, de
que trata o artigo Io da Lei Estadual n. ° 7.389, d e 12 de novembro de 198.”. A Lei n. °
12.243⁄98 (fls. 97⁄100), em seu artigo 5o, revogou expressamente a Lei n.° 7.389⁄80,
entretanto, reproduziu o artigo 1o desta lei, e acrescentou-lhe, apenas, a alínea “j”,
considerando, também, como Zona de Proteção Ambiental 'os habitats de espécies
ameaçados de extinção’.
Ora, cumpre esclarecer que quando a lei superveniente trata da matéria disciplinada
pelo diploma legal revogado, sem inovações relevantes, preserva-se o decreto,
norma administrativa, que fora editado com a finalidade de operar sua
regulamentação. Nesse passo, não merece reparo o posicionamento do Tribunal a quo.
Entendimento aliás, que deflui das lições do sempre lembrado administrativista Hely
Lopes Meirelles:
'Decreto regulamentar ou de execução: é o que visa explicar a lei e facilitar sua execução,
aclarando seus mandamentos e orientando sua aplicação. Tal decreto comumente aprova,
em texto à parte, o regulamento a que se refere. Questiona-se se esse decreto continuaem
vigor quando a lei regulamentada é revogada e substituída por outra. Entendemos que
sim, desde que a nova lei contenha a mesma matéria regulamentada.’.
Em verdade, a Lei nova recepcionou o anterior regulamento.
Nego provimento ao recurso.
(RMS 14219 / PR – RECURSO ORDINÁRIO EM MANDADO DE SEGURANÇA
2002/000322-0 – Relator Min. HUMBERTO GOMES DE BARROS – Primeira Turma –
Data do Julgamento 16/04/2020 – DJ 24/06/2002, p. 187 – RSTJ vol. 157, p. 80)
Assim sendo, reputamos, ao menos até ulterior aprofundamento, que as hipóteses
detalhadas previstas no Decreto n.º 93.412/86 se mantêm válidas e vigentes em nosso
ordenamento, mesmo após o advento da Lei n.º 12.740/12, passando a regulamentar o
direito ao pagamento do adicional de periculosidade em razão da previsão, no inciso I do
Art. 193 da CLT (fine), da exposição permanente ao risco acentuado à energia elétrica, o
que, entretanto, não obsta que o Ministério do Trabalho e Emprego, no uso de suas
atribuições, aprove novo anexo à Norma Regulamentadora n.º 16 para tratar da matéria.
4.4. Outros aspectos da Lei n.º 12.740/12, relativos à novel hipótese ensejadora
do adicional de periculosidade.
Por razões didáticas, deixaremos para analisar as particularidades da inserção, na CLT,
das atividades profissionais de segurança pessoal ou patrimonial com exposição a roubos
ou outras espécies de violência física, como nova hipótese legal ensejadora do direito ao
adicional de periculosidade, em estudo apartado futuro.

5. Conclusão
Ante os fundamentos esposados neste estudo, chegamos pelo menos às seguintes
conclusões sobre o presente tema:
a) A alteração do caput do Art. 193 da CLT, que trocou a expressão anterior –
”contato” – pela atual – “exposição”, aparenta-nos como propósito legislativo de explicitar
que o risco qualificador de operação ou atividade perigosa, sob o ponto de vista
empregatício, não é apenas aquele verificado na execução detarefas relacionadas
diretamente, mas também indiretamente, com os agentes periculosos, podendo-se concluir
que a proximidade do local de trabalho, por exemplo, com setores tidos como periculosos,
pode igualmente gerar o risco ensejador do pagamento do correspondente adicional;
b) Apesar de que, ao nosso ver, a Lei n.º 7.369/85 jamais teve o condão de
assegurar a “remuneração” como base de cálculo para o adicional de periculosidade,
mesmo que para os eletricitários, com o advento da Lei n.º 12.740/12 cessou qualquer
dúvida – se havia – a este respeito e sepultou-se irrestritamente a exegese jurisprudencial
contida na Súmula 191 do TST;
c) Não há direito adquirido sequer ao adicional de periculosidade em si, muito
menos a uma base de cálculo deste adicional, como sendo a totalidade das verbas de
natureza salarial, por se traduzir em “salário-condição”, nos termos dos Arts. 191 e 194 da
CLT, igualmente não se aplicando à hipótese o princípio constitucional de irredutibilidade
salarial;
d) As normas coletivas não poderão assegurar o direito do empregado a ver
calculado seu adicional de periculosidade sobre a totalidade das parcelas de natureza
salarial, salvo se pactuadas posteriormente ao advento da Lei n.º 12.740/12 e à alteração
da Súmula 277 do TST, porém ainda com grandes ressalvas à legalidade e
constitucionalidade deste entendimento sumular, e ressaltando a impossibilidade de
aplicação automática desta norma coletiva a contratos de trabalho firmados após sua
assinatura, mesmo que ainda na vigência do instrumento coletivo;
e) A ab-rogação da Lei n.º 7.369/85 não acarretou a revogação do respectivo
Regulamento contido no Decreto n.º 93.412/86, haja vista o risco de exposição à energia
elétrica persistir como agente caracterizador de operação ou atividade perigosa, em
decorrência da inserção desta hipótese ao inciso I do Art. 193 da CLT, e, portanto, aquela
regulamentação ser compatível com o novel texto consolidado, não havendo óbice,
entretanto, a que o Ministério do Trabalho e Emprego aprove novo anexo à Norma
Regulamentadora n.º 16 para tratar da matéria, em consonância com o disposto no caput
do Art. 193 da CLT.

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