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LÍNGUA PORTUGUESA

Leia as orientações e, em seguida, realize as atividades propostas que podem ser feitas
escrevendo apenas as respostas, numa folha de caderno ou de papel almaço, para que o
professor possa retomá-las oportunamente. Nestas atividades, você terá Atividade de Leitura
(textos para a realização das atividades propostas) e a Produção de Texto (proposta para a
construção de textos).

ATIVIDADES

1. A crônica Exigências Modernas aborda o excesso de tarefas que a vida moderna exige das
pessoas. O autor, Luís Fernando Veríssimo, cita como exemplo as obrigações relacionadas à
alimentação com o intuito de manter uma boa saúde. Os modismos e as dietas são citados
como regras para manter a saúde e a forma física. Afinal, ninguém quer ficar gordo e enrugado.
A crônica nos faz refletir até que ponto somos nós mesmos quando nos submetemos e nos
deixamos levar pelos modismos e regras ditadas por outros. Após a leitura, responda as
questões abaixo;
a) Justifique o título dado à crônica
b) Transcreva do texto uma passagem carregada de humor
c) Localize na crônica um trecho que revele um certo exagero
d) Qual o objetivo do autor ao comparar as amizades com plantinhas? Que efeito isso
causou?
e) Copie do texto uma passagem altamente irônica.
f) Qual o objetivo geral do texto? Comente.
g) Que mensagem o texto transmite? Que conselho o autor dá? O que você pensa em
relação a isso?

Exigências da vida moderna – Luís Fernando Veríssimo

Dizem que todos os dias você deve comer uma maçã por causa do ferro. E uma
banana pelo potássio. E também uma laranja pela vitamina C. Uma xícara de chá verde sem
açúcar para prevenir a diabetes.
Todos os dias deve-se tomar ao menos dois litros de água. E uriná-los, o que consome
o dobro do tempo. Todos os dias deve-se tomar um Yakult pelos lactobacilos (que ninguém
sabe bem o que é, mas que aos bilhões, ajudam a digestão). Cada dia uma Aspirina, previne
infarto.
Uma taça de vinho tinto também. Uma de vinho branco estabiliza o sistema nervoso.
Um copo de cerveja, para… não lembro bem para o que, mas faz bem. O benefício adicional é
que se você tomar tudo isso ao mesmo tempo e tiver um derrame, nem vai perceber.
Todos os dias deve-se comer fibra. Muita, muitíssima fibra. Fibra suficiente para fazer
um pulôver. Você deve fazer entre quatro e seis refeições leves diariamente. E nunca se
esqueça de mastigar pelo menos cem vezes cada garfada. Só para comer, serão cerca de
cinco horas do dia…
E não esqueça de escovar os dentes depois de comer. Ou seja, você tem que escovar
os dentes depois da maçã, da banana, da laranja, das seis refeições e enquanto tiver dentes,
passar fio dental, massagear a gengiva, escovar a língua e bochechar com Plax.
Melhor, inclusive, ampliar o banheiro e aproveitar para colocar um equipamento de
som, porque entre a água, a fibra e os dentes, você vai passar ali várias horas por dia. Há que
se dormir oito horas por noite e trabalhar outras oito por dia, mais as cinco comendo são vinte e
uma. Sobram três, desde que você não pegue trânsito.
As estatísticas comprovam que assistimos três horas de TV por dia. Menos você,
porque todos os dias você vai caminhar ao menos meia hora (por experiência própria, após
quinze minutos dê meia volta e comece a voltar, ou a meia hora vira uma). E você deve cuidar
das amizades, porque são como uma planta: devem ser regadas diariamente, o que me faz
pensar em quem vai cuidar delas quando eu estiver viajando.
Deve-se estar bem informado também, lendo dois ou três jornais por dia para comparar
as informações. Ah! E o sexo! Todos os dias, tomando o cuidado de não se cair na rotina. Há
que ser criativo, inovador para renovar a sedução. Isso leva tempo – e nem estou falando de
sexo tântrico.
Também precisa sobrar tempo para varrer, passar, lavar roupa, pratos e espero que
você não tenha um bichinho de estimação. Na minha conta são 29 horas por dia. A única
solução que me ocorre é fazer várias dessas coisas ao mesmo tempo! Por exemplo, tomar
banho frio com a boca aberta, assim você toma água e escova os dentes.
Chame os amigos junto com os seus pais. Beba o vinho, coma a maçã e a banana
junto com a sua mulher… na sua cama. Ainda bem que somos crescidinhos, senão ainda teria
um Danoninho, e se sobrarem 5 minutos, uma colherada de leite de magnésio.
Agora tenho que ir. É o meio do dia, e depois da cerveja, do vinho e da maçã, tenho
que ir ao banheiro. E já que vou, levo um jornal... Tchau! Viva a vida com bom humor!!!
http://static.recantodasletras.com.br/arquivos/4309074.pdf

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2. A segunda crônica é do mesmo autor. Após a leitura, responda as questões abaixo:

O lixo
 
Encontram-se na área de serviço. Cada um com seu pacote de lixo. É a primeira vez que se
falam.
- Bom dia...
- Bom dia.
- A senhora é do 610.
- E o senhor do 612 
- É.
- Eu ainda não lhe conhecia pessoalmente...
- Pois é...
- Desculpe a minha indiscrição, mas tenho visto o seu lixo...
- O meu quê?
- O seu lixo.
- Ah...
- Reparei que nunca é muito. Sua família deve ser pequena...
- Na verdade sou só eu.
- Mmmm. Notei também que o senhor usa muito comida em lata.
- É que eu tenho que fazer minha própria comida. E como não sei cozinhar...
- Entendo.
- A senhora também...
- Me chame de você.
- Você também perdoe a minha indiscrição, mas tenho visto alguns restos de comida em seu
lixo. Champignons, coisas assim...
- É que eu gosto muito de cozinhar. Fazer pratos diferentes. Mas, como moro sozinha, às vezes
sobra...
- A senhora... Você não tem família?
- Tenho, mas não aqui.
- No Espírito Santo.
- Como é que você sabe?
- Vejo uns envelopes no seu lixo. Do Espírito Santo.
- É. Mamãe escreve todas as semanas.
- Ela é professora?
- Isso é incrível! Como foi que você adivinhou?
- Pela letra no envelope. Achei que era letra de professora.
- O senhor não recebe muitas cartas. A julgar pelo seu lixo.
- Pois é...
- No outro dia tinha um envelope de telegrama amassado.
- É.
- Más notícias?
- Meu pai. Morreu.
- Sinto muito.
- Ele já estava bem velhinho. Lá no Sul. Há tempos não nos víamos.
- Foi por isso que você recomeçou a fumar?
- Como é que você sabe?
- De um dia para o outro começaram a aparecer carteiras de cigarro amassadas no seu lixo.
- É verdade. Mas consegui parar outra vez.
- Eu, graças a Deus, nunca fumei.
- Eu sei. Mas tenho visto uns vidrinhos de comprimido no seu lixo...
- Tranquilizantes. Foi uma fase. Já passou. 
- Você brigou com o namorado, certo?
- Isso você também descobriu no lixo?
- Primeiro o buquê de flores, com o cartãozinho, jogado fora. Depois, muito lenço de papel.
- É, chorei bastante, mas já passou.
- Mas hoje ainda tem uns lencinhos...
- É que eu estou com um pouco de coriza.
- Ah.
- Vejo muita revista de palavras cruzadas no seu lixo.
- É. Sim. Bem. Eu fico muito em casa. Não saio muito. Sabe como é.
- Namorada?
- Não. 
- Mas há uns dias tinha uma fotografia de mulher no seu lixo. Até bonitinha.
- Eu estava limpando umas gavetas. Coisa antiga.
- Você não rasgou a fotografia. Isso significa que, no fundo, você quer que ela volte.
- Você já está analisando o meu lixo!
- Não posso negar que o seu lixo me interessou.
- Engraçado. Quando examinei o seu lixo, decidi que gostaria de conhecê-la. Acho que foi a
poesia.
- Não! Você viu meus poemas?
- Vi e gostei muito.
- Mas são muito ruins!
- Se você achasse eles ruins mesmo, teria rasgado. Eles só estavam dobrados.
- Se eu soubesse que você ia ler...
- Só não fiquei com eles porque, afinal, estaria roubando. Se bem que, não sei: o lixo da pessoa
ainda é propriedade dela?
- Acho que não. Lixo é domínio público.
- Você tem razão. Através do lixo, o particular se torna público. O que sobra da nossa vida
privada se integra com a sobra dos outros. O lixo é comunitário. É a nossa parte mais social.
Será isso?
- Bom, aí você já está indo fundo demais no lixo. Acho que...
- Ontem, no seu lixo...
- O quê?
- Me enganei, ou eram cascas de camarão?
- Acertou. Comprei uns camarões graúdos e descasquei.
- Eu adoro camarão.
- Descasquei, mas ainda não comi. Quem sabe a gente pode...
- Jantar juntos?
- É!
- Não quero dar trabalho.
- Trabalho nenhum.
- Vai sujar a sua cozinha?
- Nada. Num instante se limpa tudo e põe os restos fora.
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1. Onde aconteceu o primeiro encontro das personagens?
a) Dentro do apartamento b) Na área de serviço c) Na cozinha d) No quarto do
senhor do 612

2. No início do diálogo, os personagens se cumprimentam e, em seguida, iniciam uma conversa.


Qual é o nível de linguagem? Formal ou coloquial? Explique:
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3. Em “Você brigou com o namorado, certo”? O senhor do 612 conclui que a senhora do 610
havia terminado com namorado. Descreva os passos do raciocínio do homem para chegar a
essa conclusão. Começa em...................................................................................................... e
termina em.....................................................................................................................................

4. De acordo com o texto, qual elemento que faz o senhor chegar à conclusão que a senhora
tinha brigado com o namorado?
a) Buquê de flores jogado no lixo b) Carteira de cigarros amassados no lixo
c) Fotografia rasgada d) Telegrama amassado no lixo

5. Qual a finalidade do texto?


a) Anunciar a importância do lixo b) Informar um fato acontecido na rua
c) Relatar conflitos entre vizinhos d) Relatar um início de um relacionamento
6. Releia a crônica “O lixo”. Escreva um pequeno diálogo dando continuidade deste encontro
entre o senhor do 612 e a senhora do 610.

7. Todo o diálogo revela uma característica muito comum entre os habitantes das grandes
cidades. Qual característica é essa?
a) Amor aos bens materiais b) Medo da violência
c) Poluição das grandes cidades d) Solidão e ausência da família

8. Qual foi o pretexto utilizado pelos personagens para o início da conversa?


a) A família b) O lixo c) O namorado d) O pai

9. Na oração “Na verdade sou só eu”, o “eu” se refere a quem?


a) Lixeiro b) Senhor c) Serviçal d) Senhora

10. Pelo texto, o que fez a mulher perceber que o homem recomeçou a fumar?
a) A distância do pai b) A morte do pai c) O fim do romance d) Os comprimidos

11. O diálogo introduz aos poucos, muitas informações sobre as personagens. Isso revela que:
a) Eles já se conheciam há muito tempo b) Eles não simpatizavam um com o outro
c) Eles possuíam hábitos em comum d) Eles sabiam muito da vida um do outro

12. O rompimento do namoro do homem foi revelado:


a) Pela fotografia b) Pelas cartas amassadas
c) Pelo buquê de flores d) Pelos poemas escritos
Luís Fernando Veríssimo. O Analista de Bagé. L&PM, 1981.
  https://www.tudonalingua.com/news/cronicas-de-humor-de-luis-fernando-verissimo/
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3.O poema de Solano Trindade denuncia a fome no país e as desigualdades sociais existentes
ainda nos dias atuais. O poema Tem gente com fome, de Solano Trindade, escritor negro,
nascido no início do século XX, e criador do Teatro Experimental do negro, é marcado pelo
rompimento da crença de que no Brasil há uma democracia racial e relata como o negro é
tratado na sociedade. Fala da violência que sofre por estar em uma cultura de valorização
do branco. No texto, a condição criminal se confunde com a cor da pele. Essa pele será a prova
para a condenação imediata. Nesse cenário, mais um homem negro é linchado. O poema
selecionado Tem gente com fome é o mais famoso de Solano Trindade. E também alcançou
sucesso imediato ao ser gravada como canção por Ney Matogrosso. Leia o poema e, a seguir,
responda o que se pede:
a) Como você vê a questão do negro no Brasil e as desigualdades sociais em virtude da cor?
Escreva a respeito.
b) Comente a respeito do cidadão americano, negro, chamado George Floyd, de Minneapolis,
assassinado por um policial branco já imobilizado no último dia 27.

TEM GENTE COM FOME

Trem sujo da Leopoldina


correndo, correndo,
parece dizer
tem gente com fome
tem gente com fome
tem gente com fome

Piiiiii

Estação de Caxias
de novo a dizer
de novo a correr
tem gente com fome
tem gente com fome
tem gente com fome

Vigário Geral
Lucas
Cordovil
Brás de Pina
Penha Circular
Estação da Penha
Olaria
Ramos
Bom Sucesso
Carlos Chagas
Triagem, Mauá
trem sujo da Leopoldina
correndo, correndo,
parece dizer
tem gente com fome
tem gente com fome
tem gente com fome

Tantas caras tristes


querendo chegar
em algum destino
em algum lugar

Trem sujo da Leopoldina


correndo, correndo,
parece dizer
tem gente com fome
tem gente com fome
tem gente com fome

Só nas estações
quando vai parando
lentamente começa a dizer
se tem gente com fome
dá de comer
se tem gente com fome
dá de comer
se tem gente com fome
dá de comer

Mas o freio de ar
todo autoritário
manda o trem calar
Psiuuuuuuuuuuu

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