Você está na página 1de 40

DIREITO COMERCIAL

I. INTRODUÇÃO V. AS SOCIEDADES COMERCIAIS

1 Noção de Direito Comercial 1. Noção de sociedade


2. Evolução histórica 2. Caracterização geral dos tipos legais
3. A autonomia do Direito Comercial societários
4. Fontes do Direito Comercial 3.Atos de constituição das sociedades
5. Interpretação e Integração da Lei comerciais
Comercial

II. ATOS JURÍDICO-COMERCIAIS VI. OS CONTRATOS DE


DISTRIBUIÇÃO COMERCIAL
1. Noção de ato de comércio
1. Contrato de Agência
2. Classificações de atos de comércio
2. Contrato de Franquia
3. Regime Jurídico Especial dos Atos e
3. Contrato de Concessão Comercial
Obrigações Comerciais

III. COMERCIANTES VII. ALGUNS TÍTULOS DE CRÉDITO


MERCANTIS
1. Sujeitos qualificáveis como
comerciantes 1. Conceito, função e características
2. Sujeitos não qualificáveis como 2. Os principais títulos de crédito
comerciantes 2.1 A letra de câmbio
3. Sujeitos legalmente inibidos da 2.2 A livrança
profissão de comércio 2.3 O cheque
4. Estatuto dos comerciantes

IV. OS BENS JURÍDICO-COMERCIAIS:


ESTABELECIMENTO COMERCIAL

1. Noção, elementos e natureza jurídica


2. Negócios Jurídicos sobre o
Estabelecimento Comercial
2.1 Trespasse
2.2 Cessão de exploração

I. INTRODUÇÃO

1. Noção de Direito Comercial

Não existe uma noção satisfatória de Direito Comercial. À primeira vista, o Direito
Comercial seria o direito que regula as relações de comércio. Todavia, a palavra “comércio”
pode ser tomada, pelo menos, em dois sentidos distintos: económico ou jurídico. Assim, o
Direito Comercial pode ser o conjunto de normas que regula o comércio em sentido
económico ou o comércio em sentido jurídico, mas nenhuma das duas aceções está correta.
Comércio em sentido económico: conjunto de atividades económicas pertencentes ao setor
terciário da economia, relativo à circulação de bens, à intermediação entre a produção e o
consumo.

 O Direito Comercial não regula apenas o comércio em sentido económico. Por


exemplo, muitas atividades pertencentes aos mais variados setores são hoje
abrangidos pelo Direito Comercial (indústrias transformadoras, pesca…).
 O Direito Comercial não regula sequer todas as atividades económicas: a agricultura e
o artesanato estão excluídos dos domínios do comércio.

Comércio em sentido jurídico: conjunto de atividades económicas a que num país e


num determinado momento se aplicam as leis comerciais; por outras palavras todas as
atividades que o próprio Direito Comercial qualificar como tal… pertencem ao Direito
Comercial. Esta aceção não é correta: cria um conceito de Direito Comercial puramente formal
(cai num círculo vicioso) … enfim… ambos os sentidos são insuficientes:

 Não existe uma noção satisfatória de Direito Comercial;


 Por isso em alguns países aparecem diferentes designações (em França, temos o “Droit
des Affaires”;
 A noção será construída ao longo da unidade curricular.

De forma simplista, o Direito Comercial é o conjunto de normas jurídicas que regula


os atos e as atividades jurídico-mercantis. Estamos perante um ramo de direito privado:
regula as relações entre os particulares, bem como as relações entre os particulares e
entidades públicas, que atuam como particulares (critério da posição dos sujeitos). Dentro do
Direito Privado, e em face do Direito Civil (direito privado comum aplicável a todas as pessoas
e relações entre particulares), o Direito Comercial é um ramo de direito privado especial: com
regras diferentes das do direito comum, aplicáveis apenas a determinados sujeitos, objetos
ou relações.

Concluindo, o Direito Comercial abrange:

 comércio propriamente dito;


 outras atividades (indústrias transformadoras, transportes, seguros, hotelaria,

pesca).

Existem inúmeros “sub-ramos” do Direito Comercial com relevante autonomia, entre outros:

 Direito Marítimo; - Direito dos Seguros;


 Direito dos Transportes; - Direito da Concorrência
 Direito Bancário; - Direito dos Valores Mobiliários.
2. Evolução Histórica

O Direito Comercial, enquanto conjunto de normas jurídicas autónomas para regular a


atividade mercantil, é um ramo de formação medieval (séc. XII) e cresceu nos séculos
seguintes em cidades italianas. Assim, na Idade Média assistiu-se ao nascimento do Direito
Comercial como ramo autónomo, independente do Direito Civil.

Principal razão: explosão do comércio.

Surgiram as corporações profissionais de mercadores (associações de comerciantes


que se organizaram para defender os seus interesses e que aos poucos foram começando a
reger-se por normas próprias). Desta forma, o Direito Comercial italiano medieval era um
“direito de classe” criado pelos mercadores para regular a sua atividade profissional.

O Direito Comercial primitivo apresentava-se como:

 Um direito da classe dos mercadores/comerciantes;


 Autónomo face ao direito civil;
 De origem consuetudinária;
 De vocação internacional.

Com a Idade Moderna (Séc. XVI, XVII e XVIII):

O Direito Comercial deixou de ser o direito privativo de uma classe – a dos


comerciantes (conceção subjetiva) para passar a ser um direito geral dos atos de comércios,
fossem praticados por comerciantes ou por simples particulares (conceção objetiva). Vale a
natureza dos atos em si!

O Direito Comercial atual tem, entre outras, as seguintes características fundamentais:

 Progressiva intervenção dos poderes públicos na atividade económica;


 Generalização dos institutos jurídico-mercantis (por exemplo, as letras de câmbio são
de uso corrente entre comerciantes e particulares; as sociedades civis podem adotar a
forma de sociedades comerciais);
 Retorno do Direito Comercial à sua natureza profissional… como um direito das
empresas;
 Declínio da ideia da codificação do Direito Comercial.

Em Portugal:

 Na Idade Média não se formou um ramo jurídico autónomo regulador das relações
comerciais, uma vez que foram poucas e pouco significativas as regras jurídicas
especialmente destinadas ao comércio.
 Nem na Idade Moderna, “o desenvolvimento do comércio externo provocado pelas
descobertas marítimas e ultramarinas não foi acompanhado por significativo
movimento legislativo-comercial”.

O início da etapa contemporânea na evolução do Direito Comercial, no séc.XIX, foi marcado


pela aprovação dos seguintes códigos:

 Código Comercial de 1833 (redigido por Ferreira Borges);


 Código Comercial de 1888: iniciativa de Veiga Beirão, que hoje ainda se mantém em
vigor.
O Direito Comercial teve notáveis desenvolvimentos no séc. XX: tendência para a sua
internacionalização e uniformização (diversas convenções de âmbito universal unificam os
regimes jurídico-mercantis, em variados setores).

3. Autonomia do Direito Comercial

Quais as razões para que o Direito Civil se tornasse insuficiente para regular de modo eficaz os
atos da vida comercial? Por outras palavras, porquê a necessidade da autonomia do Direito
Comercial?

A função específica do comércio é a de intermediário nas trocas:

 O comerciante não adquire as mercadorias para si, mas para as colocar onde se
manifeste a sua necessidade, daí que seja indispensável a maior rapidez na conclusão
dos negócios;
 O comerciante não adquire as mercadorias para si, mas para terceiros; compra para
revenda, daí que seja indispensável a facilidade de crédito.

O Direito Civil não satisfazia estes dois requisitos.Assim, o Direito Comercial mereceu
autonomia, tendo em conta as características seguintes:

I. Simplicidade:

A necessidade de celeridade das transações comerciais implica uma simplicidade de


formas. (comparar o art.º 1143.º CC com o art.º 396.º C.Com.)

Art.º 1143.º CC: Sem prejuízo do disposto em lei especial, o contrato de mútuo de
valor superior a € 25 000 só é válido se for celebrado por escritura pública ou por documento
particular autenticado e o de valor superior a € 2500 se o for por documento assinado pelo
mutuário.

Art.º 396.º C. Com: O empréstimo mercantil entre comerciantes admite, seja qual for
o seu valor, todo o género de prova.

II. Defesa e facilidade do crédito:

O recurso ao crédito constitui um elemento fundamental da vida comercial, uma vez


que permite realizar o movimento contínuo de bens e serviços.O Direito Comercial tem a
função de proteger o crédito através dos títulos de crédito, bem como das operações
bancárias em geral.

III. Universalidade e uniformidade

A função primacial do comércio é a mesma em todo o mundo, assim sendo, o Direito


Comercial tem uma vocação universalista. Muitos setores do Direito Comercial são regulados
por convenções internacionais (matérias de direito bancário, propriedade industrial, títulos de
crédito, transportes, etc). Por isso, se encontram muitas semelhanças nas leis de vários países
– uniformidade.
4. Fontes do Direito Comercial

Fontes Internacionais (ou Externas):

A) Convenções Internacionais de que o Estado Português é signatário em matérias de


Direito Comercial.

De acordo com o art.º 8.º n.º 2 CRP: “As normas constantes de convenções
regularmente ratificadas ou aprovadas vigoram na ordem interna após a sua publicação oficial
e enquanto vincularem internacionalmente o Estado Português”. Exemplo: A Lei Uniforme
relativa às Letras e Livranças (LULL) foi estabelecida pela Convenção Internacional assinada em
Genebra em 7 de Junho de 1930, aprovada em Portugal pelo Decreto-Lei n.º 23 721, de 29 de
Março de 1934.

B) Costume Internacional

Nesta fonte estão em causa sobretudo as normas elaboradas pelas Associações


Internacionais de Comércio, se bem que se trata de direito dispositivo, para o qual as partes
podem remeter as suas relações. Ex: Código de Conduta.

C) Doutrina e Jurisprudência Internacional

D) Regulamentos e Diretivas (União Europeia)

Regulamentos: diretamente aplicáveis no ordenamento jurídico.

Diretivas: exigem a sua transposição para a ordem jurídica, dando ao legislador


português uma certa liberdade quantos aos meios e formas dessa transposição.

Note-se que a maioria da produção legislativa europeia versa sobre as relações económicas.

Fontes Internas:

A) Lei
B) Costume
C) Doutrina
D) Jurisprudência

A doutrina tem muito impacto quer nos tribunais, quer na construção do Direito Comercial.

Lei:

I. Lei Constitucional:
 Art.º 61.º (iniciativa económica privada)
 Art.º 81.º f) (incumbência do Estado: assegurar o funcionamento eficiente dos
mercados, de modo a garantir a equilibrada concorrência entre as empresas, a
contrariar as formas de organização monopolistas e a reprimir os abusos de posição
dominante e outras práticas lesivas do interesse geral)
 Art.º 82.º (setores de propriedade dos meios de produção)
 Art.º 85.º (cooperativas)
 Art.º 86.º (empresas privadas)
 Art.º 99.º (objetivos da política comercial)
 Art.º 100.º (objetivos da política industrial)
II. Lei Ordinária (enumeração exemplificativa):

Código Comercial:

 de 1888, designado com frequência por Código de Veiga Beirão;


 grande parte das suas disposições estão alteradas ou revogadas;
 Está dividido em livros, cada um dos livros está dividido em capítulos, estes em
secções (não há subsecções); as secções em artigos. É frequente encontrarmos o
seguinte símbolo: § (significa parágrafo).

5. Interpretação e Integração da Lei Comercial

As regras de interpretação da lei comercial são as mesmas aplicáveis à interpretação


das leis em geral – cf. art.º 9.º CC e art.º 3.º CCom. No que respeita à integração do Direito
Comercial: cf. art.º 3.º CCom. Este artigo manda em 1.º lugar interpretar a lei; se não for
possível, recorre-se a casos análogos da lei comercial; só depois os casos omissos serão
colmatados pelo direito civil – cf. art.º 10.º C.C. A maioria da doutrina considera que se deverá
observar a ordem referida, não obstante existe uma doutrina minoritária que considera que
estas vias de integração estão em pé de igualdade.

Concluindo, o Direito Civil é subsidiário do Direito Comercial, preenchendo-lhe as


lacunas, o que se entende tendo em conta que o Direito Comercial “nasceu” do Direito Civil.

II. ATOS JURÍDICO-COMERCIAIS

1. Noção de ato de comércio


Art.º 1.º C.Com (Objeto da lei comercial). A lei comercial rege os atos de
comércio sejam ou não comerciantes as pessoas que neles intervém. Com esta regra
evita-se, assim, que duas leis diferentes regulem situações idênticas.
Art.º 2.º C.Com: a nossa lei não define o que é um ato de comércio (de facto
não existe um conceito universal e unitário de AC), apenas enumera taxativamente os
atos de comércio. A redação deste artigo é bastante confusa, tornando-o complexo.
Possui duas partes perfeitamente distintas, a que correspondem dois critérios básicos
para a qualificação de um AC.
Serão considerados atos de comércio todos aqueles que se acharem
especialmente regulados neste Código, e, além deles, todos os contratos e
obrigações dos comerciantes, que não forem de natureza exclusivamente civil, se o
contrário do próprio ato não resultar.
1ª parte: são atos de comércio todos aqueles que se acharem especialmente
regulados neste código (atos de comércio objetivos).
Exemplos: António passa um cheque a favor de Bernardo; António embora não
seja comerciante está a praticar um AC – o cheque está regulado na LUC – que é
legislação comercial; compra para revenda efetuada ocasionalmente por um particular
é um AC porque está regulado no Código Comercial - cf. artigo 463.º C.Com).
Quais são os atos especialmente regulados no C.Com?
1. atos exclusivamente regulados no C.Com
Ex: conta-corrente (art.º 344.º C.Com); transporte (art.º 366.º C.Com); reporte (art.º
477.º C.Com)…
2. atos simultaneamente regulados no C.Com e no CC
Ex: fiança (art.º 101.º C.Com); mandato (art.º 231.º C.Com); empréstimo (art.º 394.º
C.Com); penhor (art.º 397.º C.Com); depósito (art.º 403.º C.Com)…
3. atos regulados em toda a legislação comercial e não apenas no C.Com (a redação
do artigo é de 1888, como sabemos)… Ex: letras, livranças e cheques (LULL e LUC);
locação financeira (DL n.º 149/95, de 24 de junho); contrato de consórcio (DL n.º
231/81, de 28 de julho); contrato de agência (DL n.º 178/86, de 3 de julho), inter alia.
2ª parte: são atos de comércio todos os atos praticados pelos comerciantes
(atos de comércio subjetivos)…
A lei parte do princípio de que a profissão de comerciante é uma profissão
absorvente. Esta presunção é iuris tantum – os atos praticados por um comerciante
serão considerados AC se o contrário não for provado.
Duas circunstâncias que podem conduzir à ilação desta presunção:

 atos que têm natureza exclusivamente civil: por exemplo, o casamento, o


divórcio, a adoção, a perfilhação, testamento…
 ou atos que embora pudessem ser comerciais, nada têm a ver com o exercício
do comércio: por exemplo, se um comerciante pede um empréstimo para fazer
uma viagem de lazer, esse empréstimo não será considerado comercial, mas
civil, pois nada tem a ver com o exercício do comércio.
Os Atos Comerciais estão sujeitos a um regime jurídico especial: em matéria de
forma (arts. 96.º e 97.º C.Com); solidariedade passiva (art.º 100.º C.Com); juros legais
(art.º 102.º C.Com); prescrição das obrigações comerciais (art.º 309.º e 317.º b) CC);
responsabilidade dos bens do casal pelas dívidas contraídas pelo cônjuge
comerciante (art.º 15.º C.Com e 1690.º e ss CC).
A qualificação de um ato como AC é ainda importante:

 para efeitos da atribuição da natureza comercial a certos contratos de direito


civil (ex: o depósito será comercial quando a coisa depositada se destinar ao
comércio);
 para a atribuição da qualidade de comerciante: aquilo que atribui a um sujeito
a qualidade comerciante é a prática habitual, sistemática e reiterada de AC –
art.º 13.º C.Com.
2. Classificações de atos de comércio
I. AC OBJETIVOS/ II. AC SUBJETIVOS:
1. atos cuja relevância jurídico-comercial deriva do seu próprio conteúdo,
independentemente da pessoa que os pratica.
Ex: compra para revenda, efetuada ocasionalmente por um particular é um AC, uma
vez que está especialmente regulado no art.º 463.º C.Com.
2. atos cuja relevância jurídico-comercial deriva da própria pessoa que os pratica
– comerciante, independentemente do conteúdo do ato.
Ex: Todos os atos patrimoniais praticados por um comerciante presumem-se AC.
Esta classificação entre AC objetivos e AC subjetivos tem um valor
fundamentalmente teórico. Isto porque:

 existem AC objetivos cuja relevância jurídico-comercial depende ainda de


elementos subjetivos (ex: o contrato de transporte só é comercial se o
condutor for comerciante – cf. art.º 366.º C.Com);
 A relevância jurídico-comercial dos AC subjetivos depende ainda de certas
circunstâncias objetivas, tendo interesse a natureza do próprio ato em si – cf.
art.º 2. C.Com.
I. AC ABSOLUTOS/II. AC RELATIVOS
I. AC Absolutos: atos cuja relevância jurídico-comercial deriva da sua própria natureza
intrínseca; a “comercialidade” radica no próprio ato, que por si só, tem natureza
comercial.
Ex: conta-corrente (art.º 344.º C.Com), compra para revenda (art.º 463.º
C.Com), reporte (art.º 477.º C.Com).
II. AC Relativos: atos cuja relevância jurídico-comercial não deriva da sua própria
natureza, deriva de uma relação de conexão ou de acessoriedade que esse ato tem
com um AC absoluto, com uma atividade mercantil ou com o comércio em geral. Desta
forma, são também designados por AC acessórios ou AC por conexão.
Ex: a fiança, figura geral do direito civil, só será mercantil quando a dívida
afiançada derivar de um AC; o empréstimo só é comercial quando se destinar a um AC
(art.º 394.º C.Com).
I. AC FORMAIS/ II. AC MATERIAIS
I. AC Formais: atos cuja relevância jurídico-comercial resulta da sua simples realização,
qualquer que seja o objeto ou o fim subjacente a esse ato ou quaisquer que sejam os
sujeitos desse mesmo ato. Por outras palavras, preenchido um mecanismo formal,
está-se perante um AC, ainda que a operação nada tenha de mercantil e o seu sujeito
nada tenha a ver com o comércio.
Ex: subscrição de uma letra de câmbio… passar um cheque.
II. AC Materiais: atos cuja relevância jurídico-comercial reside na natureza
intrinsecamente material do objeto ou da finalidade subjacente ao ato ou da qualidade
de comerciante dos seus autores. Não é suficiente o preenchimento de uma
formalidade para ser um AC.
Relevância da distinção: constitui entendimento dominante que só adquire a
qualidade de comerciante quem realizar profissionalmente AC materiais. A prática
reiterada e sistemática de AC formais não atribui a qualidade comerciante (ex: António
passou hoje 20 cheques, praticou 20 AC, mas não lhe pode ser atribuída a qualidade de
comerciante).
I. AC PUROS/ II. AC MISTOS
I. AC Puros (ou bilateralmente comerciais): revestem uma natureza comercial
relativamente a qualquer um dos sujeitos intervenientes nesse ato.
II. AC Mistos (ou unilateralmente comerciais): reveste uma natureza comercial
relativamente apenas a um dos sujeitos. Ex: um professor vai a um stand de
automóveis e compra um carro. Estamos perante um AC misto: a venda do ponto de
vista do vendedor é um AC (art.º 463.º n.º 3 C.Com); do ponto de vista do professor, o
comprador, é um ato civil (art.º 464.º n.º 1 C.Com).
Os AC Puros estão sujeitos à lei comercial. E quanto aos AC Mistos? Estarão
sujeitos ao regime da lei comercial, da lei civil ou a ambos os regimes?
Solução do legislador português:
Art.º 99.º
Regime dos atos de comércio unilaterais
Embora o ato seja mercantil só com relação a uma das partes será regulado
pelas disposições da lei comercial quanto a todos os contratantes, salvo as que só
forem aplicáveis àquele ou àqueles por cujo respeito o ato é mercantil, ficando,
porém, todos sujeitos à jurisdição comercial.
“salvo as que só forem aplicáveis àquele ou àqueles por cujo respeito o ato é
mercantil”: por exemplo, normas que estão especificamente associadas ao estatuto
dos comerciantes (art.º 18.º C.Com); regime probatório especial (art.º 396.º C.Com);
regra da solidariedade passiva (art.º 100.º C.Com); normas relativas a juros, etc…
Artigo 230.º C.Com:
Este artigo diz-nos quais são no Direito Português as empresas que são
consideradas comerciais, o que significa que todas as outras seriam civis. Só que este
elenco, elaborado no séc. XIX, é demasiado restrito para os dias de hoje.
Nalguns casos bastará o recurso a uma interpretação extensiva: empresas de
distribuição de água, luz, gás, telefone, televisão por cabo, entre muitas outras, podem
considerar-se abrangidas pelo art.º 230.º n.º 2 C.Com.; empresas distribuidoras de
filmes, de software informático podem considerar-se abrangidas pelo art.º 230.º n.º 5
C.Com; transportes aéreos – 230.º n.º 7 C.Com. Noutros casos há que recorrer à
analogia. As empresas de prestação de serviços não se podem considerar abrangidas
por uma interpretação extensiva do art.º 230.º n.º 2 C.Com, uma vez que fornecem
serviços e este artigo fala em “géneros”. As empresas referidas no artigo desenvolvem
uma atividade económica que envolve um certo risco, que existe igualmente nas
empresas de prestações de serviços. Assim, serão de qualificar como comerciais as
agências de viagem, de publicidade, funerárias, entre outras.
3. Regime Jurídico Especial dos Atos e Obrigações Comerciais
Regime específico nos seguintes aspetos:
1)Forma
2)Solidariedade passiva
3)Prescrição
4)Juros
5)Responsabilidade dos bens do casal pelas dividas contraídas pelo cônjuge
comerciante
1) Forma
O Direito Comercial promove a celeridade das transações comerciais, enquanto
que o Direito Civil tem uma maior exigência na forma dos contratos. (Cf. art.º 1143.º
CC/art.º 396.º C. Com)
2) Solidariedade passiva
No caso de obrigações plurais (mais do que um devedor), às obrigações
comerciais aplica-se o regime da solidariedade – qualquer dos devedores responde
pela totalidade da dívida (regime consagrado no artigo 100.º C.Com); às obrigações
civis aplica-se o regime da conjunção – cada devedor responde apenas pela parte que
proporcionalmente lhe cabe – artigo 513.º CC.
Nas obrigações comerciais, o legislador protege o interesse dos credores dos
comerciantes (uma pessoa concede mais facilmente crédito se souber que, havendo
mais do que um devedor, pode exigir o crédito a qualquer um deles).
3) Prescrição
Varia consoante a contraparte do comerciante seja um comerciante ou um
particular ou um comerciante que atuou como particular.
Artigo 317 b) CC:
Prescrevem no prazo de dois anos:
b) Os créditos dos comerciantes pelos objetos vendidos a quem não seja comerciante
ou os não destine ao seu comércio, e bem assim os créditos daqueles que exerçam
profissionalmente uma indústria, pelo fornecimento de mercadorias ou produtos,
execução de trabalhos ou gestão de negócios alheios, incluindo as despesas que hajam
efetuado, a menos que a prestação se destine ao exercício industrial do devedor.
Por sua vez, os créditos dos comerciantes a devedores comerciantes
prescrevem no prazo ordinário de prescrição, consagrado no artigo 309.º CC: 20 anos.
Objetivo: o credor comerciante não tem “medo” de conceder crédito a um
comerciante, porque sabe que o poderá exigir durante 20 anos.
4) JUROS
Os juros podem ser:
→ Juros legais ou convencionais: Juros legais são os estabelecidos por lei; juros
convencionais resultam da estipulação das partes.
→ Juros compensatórios: constituem uma mera compensação pela fruição do
dinheiro.
→ Juros moratórios: visam indemnizar o credor pelo prejuízo causado pelo devedor
pela mora deste no cumprimento da obrigação.
Artigo 102.º C. Comercial
Os juros convencionais têm que ser reduzidos a escrito, por uma questão de segurança
nas transações comerciais – Artigo 102.º § 1.º CCom.
Aos juros comerciais aplica-se o que está consagrado nos artigos 559.º-A e 1146.º CC -
Artigo 102.º § 2.º CCom.
Se o credor for comerciante, temos que ter em conta as taxas de juro consagradas
neste e estar com muita atenção aos avisos da Direção-Geral do Tesouro e Finanças
em cada semestre.

Juros legais:
Artigo 102.º § 3, 4 e 5.º CCom
O DL n.º 62/2013, de 10 de maio, que entrou em vigor no dia 1 de julho de
2013, aplica-se a todas as transações comerciais, quer as estabelecidas entre
empresas, incluindo profissionais liberais, quer entre empresas e entidades públicas,
apenas não se aplicando às transações com os consumidores, aos juros relativos a
outros pagamentos (como os efetuados em matéria de cheques e letras, ou a título de
indemnização por perdas e danos efetuados ou não por seguradoras) e às operações
de crédito bancário.
De acordo com o Aviso nº 2553/2019, e em conformidade com o § 5º do artigo
102º do Código Comercial, a taxa supletiva de juros de mora relativamente a créditos
de que sejam titulares empresas comerciais, singulares ou coletivas, emergentes de
transações comerciais sujeitas ao Decreto-Lei 62/2013, de 10 de maio, é de 8,00%.
Relativamente à taxa supletiva de juros de mora relativamente a créditos de
que sejam titulares empresas comerciais, singulares ou coletivas, não emergentes de
transações comerciais sujeitas ao Decreto-Lei 62/2013, que foi fixada para o mesmo
período em 7,00%.
Se o credor for comerciante e se se tratar de uma transação comercial: neste
semestre mantém-se a taxa de 8,00% (ver a tabela de evolução da taxa de juros
comerciais);
Se o credor for comerciante e não se se tratar de uma transação comercial
(por exemplo entre comerciante e um consumidor): neste semestre mantém-se a taxa
de 7,00% (ver a tabela de evolução da taxa de juros comerciais);
Se o credor não for comerciante aplica-se a Portaria n.º 291/03, de 8 de abril,
que estabelece a taxa de juros civil em 4%. (cf. artigo 1146.º CC).
5) RESPONSABILIDADE DOS BENS DO CASAL PELAS DÍVIDAS CONTRAÍDAS PELO
CÔNJUGE COMERCIANTE
Art.1690º C.Com.
(Legitimidade para contrair dívidas)
1. Qualquer dos cônjuges tem legitimidade para contrair dívidas sem o consentimento
do outro.
2. Para a determinação da responsabilidade dos cônjuges, as dívidas por eles
contraídas têm a data do facto que lhes deu origem.
As questões a abordar não se põem quanto às dívidas comerciais contraídas
pelos dois cônjuges em conjunto ou por um deles com o consentimento do outro.
Nota sobre os regimes de bens de casamento:

 a comunhão de adquiridos;
 a comunhão geral;
 a separação;
 o ou ainda outro que os nubentes convencionem.

✓ Comunhão de adquiridos:
“O casamento será celebrado neste regime de bens se os noivos não
celebrarem convenção antenupcial. Fazem parte da comunhão o produto do trabalho
dos cônjuges e os bens adquiridos a título oneroso na constância do matrimónio que
não sejam excetuados por lei. São considerados bens próprios de cada um dos
cônjuges os bens que cada um deles tiver ao tempo da celebração do casamento, os
que vierem a receber por título gratuito, doação ou testamento, e os bens adquiridos
na constância do matrimónio por virtude de direito anterior.”

✓ Comunhão geral de bens:


Se estipularem este regime para o casamento, por convenção antenupcial, os
bens que levarem para o casamento, a título oneroso ou gratuito, ou que adquirirem
após o casamento, por compra, doação ou testamento, são dos dois membros do
casal.

✓ Separação de bens:
Neste regime de bens não há comunhão de nenhum bem quer o tenham
adquirido a título oneroso ou gratuito antes ou depois do casamento. Cada um
conserva o domínio de todos os seus bens quer presentes quer futuros. A lei impõe o
regime imperativo da separação de bens quando o casamento tenha sido celebrado
sem organização do processo preliminar de casamento, ou, quando um, ou ambos os
noivos, tenham 60 anos de idade.
dividas comuns
1691º e 1695º CC dividas próprias
1691º e 1695º CC

DÍVIDAS COMUNS: ART.ºS 1691.º E 1695.º CC


Dívidas que embora tenham sido contraídas pelo cônjuge comerciante,
consideram-se da responsabilidade de ambos os cônjuges. Este é o regime mais
favorável para o credor, uma vez que não lhe “escapa” nenhum bem.
Art.º 1691.º n.º 1 d) CC: São da responsabilidade de ambos os cônjuges “as
dívidas contraídas por qualquer dos cônjuges no exercício do comércio, salvo se se
provar que não foram contraídas em proveito comum do casal ou se vigorar entre os
cônjuges o regime de separação de bens”. O objetivo principal desta alínea é o da
tutela do crédito, mas os interesses da família não foram esquecidos, pois exige-se que
a dívida seja contraída em “proveito comum do casal”.
Desta forma, para que a dívida seja comum têm que se verificar 3
pressupostos:
a) que os cônjuges estejam casados num regime de comunhão geral ou de adquiridos;
b) que a dívida tenha sido contraída em proveito comum do casal;
c) que a dívida tenha sido contraída pelo cônjuge no exercício do comércio.
b) que a dívida tenha sido contraída em proveito comum do casal
O conceito de proveito comum é bastante amplo:
→ O proveito comum não se limita a interesses económicos ou materiais, abrange
também interesses morais, espirituais, intelectuais, estéticos, inter alia;
→ O proveito comum não se afere pelo resultado efetivo (lucro ou prejuízo), mas pelo
fim com que a dívida foi contraída;
→ O proveito comum aproveita não só ao casal, como abrange todo o agregado
familiar (ex: compra de de um carro para o filho);
→ Não basta a separação de facto para automaticamente afastar a ideia de proveito
comum, mas também não é suficiente a probabilidade teórica de um dos cônjuges vir
a beneficiar com os proveitos do outro, é necessário o benefício em concreto.
Contraída pelo cônjuge no exercício do comércio:
Art.º 15.º C.Com
Dívidas comerciais do cônjuge comerciante:
As dívidas comerciais do cônjuge comerciante presumem-se contraídas no exercício do
seu comércio.
Este artigo protege os interesses do credor. Ao credor basta provar que o
devedor é comerciante e que a dívida é comercial (que resulta da prática de atos de
comércio objetivos ou subjetivos); não tem que provar que a dívida foi contraída no
exercício do comércio. É mais fácil provar que o ato é comercial do que provar que
esse ato foi praticado no exercício do comércio. Senão vejamos:

 o A é comerciante de móveis, casado com B. A compra um louceiro a C e para o


pagar subscreve uma letra a favor de C. Este apenas terá que provar que a
dívida é comercial, bastando-lhe provar a existência da letra (não tem que
provar que o louceiro se destinava à revenda).
 o A, dono de um stand de automóveis, é casado com B. A compra um
automóvel para seu uso pessoal a C. O AC é subjetivo. C tem que provar o
estatuto de comerciante de A, logo que a dívida é comercial.
É ao cônjuge do comerciante ou ao comerciante que cabe ilidir a presunção do
artigo 15.º C.Com , provando que a dívida do comerciante não foi contraída no
exercício do comércio, afastando a aplicação do art.º 1691.º n.º 1 d) CC.
NB: Muitas vezes os factos alegados para ilidir a presunção do art.º 15.º C.Com servem
para provar que a dívida foi contraída em proveito comum do casal, “caindo” a dívida
na alínea b) ou c).

 MUITO IMPORTANTE:
A alínea d) do n.º 1 do art.º 1691.º CC favorece o credor em termos probatórios
relativamente à alínea c):

 na alínea c) é o credor que tem que provar que a dívida foi contraída em
proveito comum do casal (a fim de provar que a dívida é comum);
 na alínea d) é ao cônjuge do comerciante ou ao próprio comerciante que
caberá provar que a dívida não foi contraída em proveito comum (a fim de
provar que a dívida não é comum, mas sim uma dívida própria).
Dívidas Comuns:
Artigo 1695.º + 1691º CC
(Bens que respondem pelas dívidas da responsabilidade de ambos os cônjuges)
1. Pelas dívidas que são da responsabilidade de ambos os cônjuges respondem os bens
comuns do casal, e, na falta ou insuficiência deles, solidariamente, os bens próprios de
qualquer dos cônjuges.
2. No regime da separação de bens, a responsabilidade dos cônjuges não é
Dívidas Próprias:
Artigo 1696.º + 1692º CC
(Bens que respondem pelas dívidas da exclusiva responsabilidade de um dos cônjuges)
1.Pelas dívidas da exclusiva responsabilidade de um dos cônjuges respondem os bens
próprios do cônjuge devedor e, subsidiariamente, a sua meação nos bens comuns.

III. COMERCIANTES

1. Sujeitos qualificáveis como comerciantes


O art.13º CCom estabelece duas categorias legais de comerciantes:
1. pessoas singulares: comerciantes em nome individual;
2. pessoas coletivas: sociedades comerciais.
I. Comerciantes em nome individual (também denominados de empresários
individuais)
Requisitos de que depende a aquisição da qualidade de comerciante:
a) Capacidade para praticar atos de comércio – artigo 7.º CCom.
A capacidade a que se refere este artigo é a capacidade de exercício de direitos.
Não se poderá concluir, por exemplo, que um menor não pode ser comerciante; uma
vez que representado pelos pais ou tutor e devidamente autorizado pelo Ministério
Público poderá ser comerciante – art.1889º nº 1 c) CC. Quem pratica os atos não são
eles diretamente.
b) Fazer do comércio profissão
Nem é necessário ser a única atividade exercida, nem sequer ser a atividade
principal; e, inclusive, não é necessário exercer a atividade o ano inteiro. Não precisa
de ser sempre.
c) Exercício do comércio em nome próprio
Por exemplo, um trabalhador de um café, cujo proprietário é uma pessoa
singular (comerciante individual), pratica atos de comércio em nome de outrem
(proprietário do café). – art.231º CCom. Os comerciantes em nome individual têm uma
responsabilidade ilimitada: se os bens afetos ao estabelecimento não forem
suficientes para satisfazer os créditos, os credores do comerciante poderão atacar os
seus bens pessoais – cf. art.º 601.º CC (princípio da unidade do património comercial).
Cfr. ainda os artigos 1691.º n.º 1 d) CC e 15.º C.Com. O Tribunal vai buscar qualquer do
bem, vai cair em desuso.
Em 1986, o legislador criou uma figura: ESTABELECIMENTO INDIVIDUAL DE
RESPONSABILIDADE LIMITADA (EIRL). O EIRL não pode ir ao património pessoal, mas
sim ao do Estabelecimento do Comércio.
O EIRL tem em si subjacente uma velha aspiração ou reivindicação dos
comerciantes em nome individual:

 a limitação da sua responsabilidade.


Decreto-Lei n.º 248/86, de 26 de agosto.
Razões da criação desta figura:

 dada a natureza aleatória do comércio, a atividade do comerciante individual


pode fazer impender sobre todo o seu património o risco de exploração
mercantil;
 a limitação da responsabilidade não implica necessariamente um prejuízo para
os credores: é certo que os credores só se podem fazer pagar com o património
mercantil do comerciante, mas também os bens que o comerciante afetou à
exploração do seu estabelecimento só poderão ser atacados pelos seus
credores comerciais (e não outros).
Razão mais significativa:

 Como se negava a possibilidade de limitação da responsabilidade do


comerciante em nome individual, na prática existiam sociedades por quotas em
que verdadeiramente apenas existia um sócio, já que o outro ou outros
subscreviam apenas “quotas simbólicas”, a fim de aquele ver a sua
responsabilidade limitada.
No EIRL consagra-se uma autonomia patrimonial perfeita: cf. Decreto-Lei n.º
248/86, de 26 de agosto:

 Art.º 10.º: os bens afetos ao EIRL respondem apenas pelas dívidas desse
estabelecimento (e não pelas dívidas pessoais);
 Art.º 11.º: pelas dívidas do estabelecimento respondem, apenas os bens afetos
ao EIRL.
O EIRL é constituído com autonomia patrimonial, mas depois esta autonomia
sofre várias exceções – daí que o EIRL não tivesse tido o sucesso que se esperava.

 Exceções ao art.º 10.º: cfr. art.º 7.º e art.º 11.º n.º 2 e n.º 3;
 Exceções ao art.º 11: cfr. art.º 22.º (o próprio EIRL está sujeito às vicissitudes da
vida privada do seu titular).
O Decreto-Lei n.º 257/96, de 31 de dezembro, introduziu alterações profundas
no CSC, e consagrou a possibilidade de constituição de sociedades unipessoais por
quotas (SUQ). O legislador veio constatar, pelo meio legislativo, que a obtenção da
limitação da responsabilidade por parte do comerciante em nome individual é melhor
conseguida através das SUQ do que através do EIRL.
II. Sociedades Comerciais
Artigo 1.º n.º 2 CSC consagra os seguintes tipos legais societários:
→ sociedades em nome coletivo;
→ sociedades por quotas e sociedades unipessoais por quotas;
→ sociedades anónimas;
→ sociedades em comandita (simples e por ações).
2. Sujeitos não qualificáveis como comerciantes
Existem determinados sujeitos que a lei exclui expressamente da qualidade de
comerciantes:
A) Agricultores
Não são qualificáveis como comerciantes as pessoas singulares ou coletivas que
exerçam atividade agrícola. Este conceito deverá ser entendido de modo amplo e
abranger a silvicultura, pecuária, criação de animais, etc. Cfr. artigos 230.º § 1.º, 230.º
§ 2.º e 464.º n.º 2 CCom.
B) Artesãos
Os produtores manuais, ditos artesãos, não são considerados comerciantes
(sapateiros, oleiros, ferreiros), bem como artistas tais como pintores e escultores. Cfr.
artigos 230.º § 1.º e 464.º n.º 3 CCom.
C) Profissionais liberais
São profissionais que exercem de modo habitual e independente uma
determinada atividade, que está sujeita a controlo deontológico de uma ordem
profissional. Ex: solicitador, advogado, médico, contabilista certificado, etc…
D) Artigo 17.º CCom
O Estado, o distrito, o município e a paróquia não podem ser comerciantes,
mas podem, nos limites das suas atribuições, praticar atos de comércio, e quanto a
estes ficam sujeitos às disposições deste Código.
§ único. A mesma disposição é aplicada às misericórdias, asilos, mais institutos de
beneficência e caridade.

Nota: O Estado exerce muitas vezes o comércio como profissão… Contradição?


A Caixa Geral de Depósitos não realiza o comércio bancário? Muitos municípios não
exploram certos serviços, como a água ou os transportes? A proibição do artigo 17.º
mantem-se em vigor, sendo a regra; as exceções são sempre introduzidas por via
legislativa…
3. Sujeitos legalmente inibidos da profissão de comércio
A) Proibições Absolutas: são as que impedem de exercer o comércio
Artigo 14.º CCom: “É proibida a profissão do comércio:
1. Às associações ou corporações que não tenham por objeto interesses materiais.”
Esta regra não significa que estas pessoas coletivas estejam impossibilitadas de
praticar AC. Na verdade, poderão praticar AC desde que respeitem os limites da sua
capacidade jurídica, de acordo com o artigo 160.º CC, mas não podem ser qualificadas
como comerciantes. Ex: Uma associação recreativa pode, por exemplo, explorar um
bar, uma vez que não contraria o princípio da especialidade do fim; contudo, não
adquire a qualidade de comerciante.
Questão: E se passarem a exercer a atividade comercial como a sua atividade
principal?
Nulidade dos atos sempre que haja divergência entre o objeto real e o
estatutário… A associação deverá ser judicialmente extinta, a pedido do Ministério
Público ou de qualquer interessado – artigo 182.º n.º2 b) CC.
Artigo 14.º CCom: “É proibida a profissão do comércio:
2. Aos que por lei ou disposições especiais não possam comerciar.”
Os magistrados judiciais, magistrados do Ministério Público, oficiais de justiça,
notários, conservadores, titulares de cargos políticos e de altos cargos públicos, entre
muitos outros… O seu fundamento reside na natureza das funções desempenhadas
por determinados indivíduos, que se considera incompatíveis com o exercício do
comércio (razões políticas, éticas e funcionais).
N.B.: Não podem ser comerciantes, mas podem praticar AC. (ex: um juiz não pode ser
comerciante, mas pode subscrever uma letra de câmbio, passar um cheque…).
B) Proibições relativas: são as que fazem depender o exercício do comércio da
autorização de certas entidades.
i) Sócios das sociedades em nome coletivo e das sociedades em comandita simples:
artigos 180.º e 474.º CSC;
ii) Gerentes das sociedades por quotas: artigo 254.º CSC;
iii) Administradores e administradores executivos: artigos 398.º n.º 3 e 428.º CSC,
respetivamente;
iv) Gerente de uma casa comercial: artigo 253.º CCom.
4. Estatuto dos Comerciantes
Artigo 18.º CCom - define os principais deveres do comerciante:
→ a. adotar uma firma;
→ b. ter escrituração mercantil;
→ c. registo comercial;
São fundamentalmente 3 objetivos que se pretendem atingir:

 Distinguir claramente os comerciantes uns dos outros;


 Dar a conhecer, em qualquer altura, a situação económica e financeira do
comerciante e fazer a prova das suas operações;
 Dar publicidade a determinados atos muito importantes da vida mercantil dos
comerciantes.
A) FIRMA
Noção: nome com que o comerciante singular ou coletivo exerce o seu
comércio. Embora seja uma obrigação para o comerciante, tem para este grande
interesse: individualiza a sua personalidade comercial.
3 tipos de firmas:

 firma-nome: constituída com o nome de uma ou mais pessoas; (Xavier e Isabel,


Lda.)
 firma-denominação: formada com uma expressão relativa ao ramo de
atividade; (X I , Materiais de Construção, Lda)
 firma-mista: formada com ambos os elementos anteriores. (Xavier e Isabel,
Materiais de Construção, Lda.)
Quem aprecia a admissibilidade das firmas é o REGISTO NACIONAL DE
PESSOAS COLETIVAS (RNPC) – cfr. Artigo 1.º RRNPC.
Nota muito importante:

 Firma: individualiza o comerciante (quem aprecia a sua admissibilidade é o


RNPC) - ( Livraria Bertrand S.A.)
 Logótipo: individualiza o estabelecimento… (quem aprecia a sua
admissibilidade é o INPI) - (B)
 Marca: individualiza o produto (quem aprecia a sua admissibilidade é o INPI). -
(Produto).
Composição das firmas:

 Comerciantes em nome individual: artigo 38.º RRNPC


 Titular de um EIRL: artigo 40.º RRNPC
Firmas das sociedades comerciais:

 Sociedade em nome coletivo: artigo 177.º CSC;


 Sociedade por quotas: artigo 200.º n.º 1 CSC;
 Sociedade unipessoal por quotas: 270.º B CSC
 Sociedade anónima: 275.º CSC;
 Sociedade em comandita: artigo 467.º CSC. (Comandita é nome coletivo;
Comandita S.A. é a sociedade anónima)
Princípios da constituição das firmas e denominações:
Princípio da verdade: artigo 32.º RRNPC; artigo 10.º n.º 1, n.º 4 e n.º 5 CSC; A
firma não pode se enganosa. A designação escolhida tem de corresponder à realidade.
Princípio da novidade: artigo 33.º RRNPC; artigo 10.º n.º 2 e n.º 3 CSC. O
princípio da novidade vale apenas para comerciantes concorrentes ou também para
comerciantes não concorrentes (que exercem atividades diferentes). A doutrina
diverge…vários autores consideram que o princípio não vale para comerciantes não
concorrentes, uma vez que o risco de confusão entre firmas é quase ou mesmo
inexistente. Para outros autores, o princípio vale também para comerciantes não
concorrentes.
Exemplo doutrinário (Coutinho de Abreu): Duas SQ em Coimbra na mesma rua:
SVP – Sociedade de Viaturas e Peças, L.da
SVP – Sociedade de Vinhos do Porto, L.da
Embora estejamos perante comerciantes não concorrentes, as firmas poderão
ser confundíveis e/ou induzirem em erro (o público pode tomar uma sociedade por
outras). Para todos os efeitos, o Registo Nacional de Pessoas Coletivas aprecia a
admissibilidade de uma firma tendo em conta o disposto no artigo 33.º n.º 2 RRNPC.
Princípio da unidade - consagrou-se a regra da unidade da firma:

 quer para os comerciantes individuais: artigo 38.º n.º 1 RRNPC;


 quer para as sociedades comerciais: artigo 9.º n.º 1 c) CSC.
O primeiro passo na constituição de uma sociedade comercial consiste em
definir a atividade a exercer e escolher um “nome” para a sociedade:

 Obtenção do certificado de admissibilidade da firma: preenchimento do


modelo 1 RNPC (a não ser que se constitua a sociedade na empresa na hora e
se opte por uma das firmas da lista de firmas pré-aprovadas).
 Validade do registo: artigo 53.º RRNPC.
 Aliás, podemos proceder a uma pesquisa prévia sobre a eventual
confundibilidade do nome escolhido.
B) Escrituração Mercantil-Artigo 18.º 2 C.Com
Princípio da liberdade de organização da escrituração mercantil – artigo 30.º
C.Com.
Livros obrigatórios: as sociedades comerciais têm de ter livros para atas (para
documentação das reuniões dos sócios e de outros órgãos sociais) – artigos 31.º, 37.º e
39.º C.Com e artigo 63.º CSC;
Conservação dos livros: 10 anos – artigo 40.º C.Com; artigo 118.º n.º 2 CIRS;
artigo 123.º n.º 4 CIRC. Este prazo conta-se a partir da data do último assento ou
lançamento. No caso de liquidação da sociedade, o prazo de conservação é de 5 anos –
cfr. artigo 157.º n.º 4 CSC.
Caráter (não) secreto da escrituração mercantil – artigo 41.º C.Com: a regra é o
seu caráter secreto (o segredo é a alma do negócio), mas sofre restrições. Art.42.º
C.Com.- Este artigo permite a exibição judicial da escrituração mercantil em diversas
situações:

 Sucessão universal: falecendo o comerciante, a exibição pode ser ordenada a


favor dos herdeiros, legatários e credores da herança;
 comunhão: o cônjuge casado com comerciante em regime de comunhão geral
ou de adquiridos pode exigir a exibição em caso de divórcio ou separação
judicial de pessoas e bens;
 dissolução da sociedade ou de saída de sócio;
 insolvência.
 Exame judicial limitado – artigo 43.º C.Com.
Para além do C.Com, existem regras noutros diplomas que consagram a
possibilidade da escrita dos comerciantes ser examinada, como por exemplo:

 Os funcionários da Autoridade Tributária poderão examinar os livros e


documentos contabilísticos dos comerciantes para apurar os respetivos
impostos – Cf. CIRC; CIVA.
 Direito de Informação dos sócios: artigos 181.º, 214.º, 288.º, 289.º n.º 1 e) CSC.
Caso seja recusado o exercício deste direito, os sócios poderão requerer
inquérito judicial à sociedade – cfr. 181.º n.º 6, 216.º, 292.º CSC.
 A prestação de contas das sociedades por quotas e anónimas, por exemplo,
deverão ser registados por depósito nas conservatórias de registo comercial
(cfr. artigos 3.º n.º1 n); 15.º n.º 1 e 53.º A n.º 5 a) CRC.
 Força probatória dos assentos dos livros de escrituração comercial – artigo 44.º
C.Com.
C) Registo Comercial – artigo 18.º 3 C.Com
Finalidade do Registo:
“O registo comercial destina-se a dar publicidade à situação jurídica dos
comerciantes individuais, das sociedades comerciais, das sociedades civis sob forma
comercial e dos estabelecimentos individuais de responsabilidade limitada, tendo em
vista a segurança do comércio jurídico” – cfr. artigo 1.º n.º 1 CRC.”
Vantagem do registo - caráter público:
“Qualquer pessoa pode pedir certidões dos atos de registo e dos documentos
arquivados, bem como obter informações verbais ou escritas sobre o conteúdo de uns
e outros” – cfr. artigo 73.º n.º 1 CRC.
Nem todos os factos previstos nas regras do CRC têm que ser registados, uma
vez que estão apenas sujeitos a registo obrigatório os factos referidos no artigo 15.º
CRC. E através da leitura deste artigo, conclui-se que os factos relativos aos
comerciantes individuais consagrados no artigo 2.º CRC estão sujeitos a registo
facultativo.
Formas de registo - Artigo 53.º-A CRC
1.Os registos são efetuados por transcrição ou depósito.
2.O registo por transcrição consiste na extratação dos elementos que definem a
situação
jurídica das entidades sujeitas a registo constantes dos documentos apresentados.
3.Sem prejuízo dos regimes especiais de depósito da prestação de contas, o registo por
depósito consiste no mero arquivamento dos documentos que titulam factos sujeitos a
registo.
5.São registados por depósito:
a) Os factos mencionados nas alíneas b) a l), n), p), q), u), v) e z) do n.º 1 do artigo 3.º,
salvo
o registo do projeto de constituição de sociedade anónima europeia gestora de
participações
sociais, bem como o da verificação das condições de que depende a sua constituição;
b) Os factos referidos nas alíneas b), c) e e) do n.º 2 do artigo 3.º;
c) Os factos constantes das alíneas b) e d) do artigo 5.º;
d) O facto mencionado na alínea b) do artigo 6.º (...)

E existem factos sujeitos a registo obrigatório que estão sujeitos a publicações


obrigatórias – cfr. artigo 70.º CRC. Artigo 70.º n.º 2 CRC: publicacoes.mj.pt
Princípio da Instância- o registo efetua-se, em regra, a pedido dos interessados, exceto
nos casos de oficiosidade previstos na lei – cfr. artigo 28.º CRC.
Legitimidade- artigos 29.º e ss CRC.
Princípio da legalidade, artigos 29.º e ss CRC- “a viabilidade do pedido de registo a
efetuar por transcrição deve ser apreciada em face das disposições legais aplicáveis,
dos documentos apresentados e dos registos anteriores, verificando-se especialmente
a legitimidade dos interessados, a regularidade formal dos títulos e a validade dos atos
neles contidos” – cfr. artigo 47.º CRC.
Efeitos do Registo:

 Artigo 11.º CRC – “o registo por transcrição definitivo constitui presunção de


que existe a situação jurídica, nos precisos termos em que é definida” –
presunção iuris tantum (cfr. artigo 350.º CC).
 O registo é um requisito de eficácia dos factos em relação a terceiros, uma vez
que “os factos sujeitos a registo, ainda que não registados, podem ser
invocados entre as próprias partes ou seus herdeiros” – artigo 13.º CRC.
 “os factos sujeitos a registo só produzem efeitos contra terceiros depois da
data do respetivo registo” – artigo 14.º n.º 1 CRC.
 “os factos sujeitos a registo e publicação obrigatória nos termos do n.º 2 do
artigo 70.º só produzem efeitos contra terceiros depois da data da publicação”
- artigo 14.º n.º 2 CRC.
Exemplo (Coutinho de Abreu):
Numa SQ o sócio-gerente António foi destituído. A destituição não foi
registada, nem publicada. Ernesto compra mercadorias à SQ representada por
António: a sociedade fica vinculada perante aquele. Enquanto a destituição não for
registada, nem publicada, é inoponível a Ernesto, que é um terceiro. Cfr. artigos 3.º n.º
1 m), 15.º n.º 1, 70.º n.º 1 a) CRC.

 Nota Bem: Existem situações em que o registo tem efeito constitutivo (não
apenas declarativo)- artigo 13.º n.º 2 CRC; artigos 5.º, 112.º, 120.º, 160.º n.º 2
CSC, entre outros.

IV. OS BENS JURÍDICO-COMERCIAIS: ESTABELECIMENTO COMERCIAL

1. Noção
O Direito Comercial não se limita aos atos de comércio e aos comerciantes:
compreende determinados bens que constituem o património dos comerciantes!
Entre estes bens, o mais importante é o estabelecimento comercial (EC). O EC constitui
uma organização de bens corpóreos e incorpóreos, através dos quais o comerciante –
seja individual ou coletivo – realiza a sua atividade mercantil.
Existem três grupos de elementos do EC:

 Bens corpóreos: bens imóveis e bens móveis;


 Bens incorpóreos: direitos, obrigações e outros elementos;
 Pessoas.
2. Elementos
I)Bens corpóreos:
A) Bens imóveis: todos os prédios afetos à exploração do estabelecimento
comercial, não sendo relevante a que título o comerciante utiliza esses prédios
(proprietário ou arrendatário);
B) Bens móveis: conjunto de máquinas, equipamentos, etc… afetos à
exploração do estabelecimento comercial, bem como as mercadorias e as matérias-
primas (bens destinados à produção e/ou vendas).
II)Bens incorpóreos:
A) Direitos (são os mais importantes):
Direito de arrendamento: o imóvel onde “funciona” o estabelecimento
comercial poderá ser propriedade do comerciante… ou este poderá ser arrendatário. E
no caso de estarmos perante um contrato de arrendamento, o direito de
arrendamento é um direito fundamental, porque assegura a estabilidade da
exploração do EC. Daí que a lei estabeleça um regime jurídico especial para os casos de
arrendamento de imóveis destinados ao exercício de uma atividade comercial ou
industrial. Ao contrário do que acontece nos arrendamentos em geral, em que o
arrendatário apenas pode ceder a sua posição com autorização do senhorio; nos
arrendamentos para comércio e indústria, existe um regime especial: o arrendatário
pode transmitir livremente a sua posição sem autorização do senhorio, sempre que
pretenda negociar a transmissão do EC.
Direitos de crédito: podem decorrer de vendas, empréstimos, celebração de
contratos (agência, concessão, etc…);
Direitos de propriedade intelectual: direitos sobre marcas, logotipos, patentes,
etc;
Clientela: Constitui um elemento essencial do EC, pois sem ela o EC não poderá
escoar os seus produtos e/ou serviços. A doutrina portuguesa considera que a clientela
não pode ser objeto de direitos (não é algo que possa ser propriamente de alguém);
sobre a clientela existem meras expetativas jurídicas. Contudo, existem algumas
indicações contratuais e mesmo legais que nos podem levar a concluir que a clientela
pode, na verdade, ser objeto autónomo de direitos:

 convencional: por exemplo, no caso de o EC ter contratos de fornecimento;


 legal: artigo 33.º da Lei do Contrato de Agência (LCA).
B) Obrigações (dívidas aos fornecedores, ao fisco, à banca, etc…):
No nosso direito é muito duvidoso que as obrigações sejam consideradas como
elementos do próprio estabelecimento comercial, uma vez que, por exemplo, não se
transmitem com o trespasse do EC (tal só acontece se os credores o consentirem). Cf.
art.º 595.º CC, bem como o art.º 858.º CC.
C) Outros elementos incorpóreos: o EC engloba ainda licenças ou autorizações
administrativas.
III.Pessoas: cf. artigos 285.º a 287.º CT
Artigo 285.º CT - Efeitos de transmissão de empresa ou estabelecimento
1.Em caso de transmissão, por qualquer título, da titularidade de empresa, ou
estabelecimento ou ainda de parte de empresa ou estabelecimento que constitua uma
unidade económica, transmitem-se para o adquirente a posição do empregador nos
contratos de trabalho dos respetivos trabalhadores, bem como a responsabilidade
pelo pagamento de coima aplicada pela prática de contraordenação laboral.

 “por qualquer título”: é uma fórmula muito vaga, mas pretende-se abranger
inúmeros casos, entre os quais o trespasse e a locação do EC;
 os contratos de trabalho mantêm-se e transmitem-se os respetivos direitos;
por outras palavras, os contratos de trabalho não são afetados pela
“mudança”.

 NOTA BEM:Capacidade de Realização de Lucro (Aviamento):


Quando um EC é objeto de uma venda ou de qualquer outro contrato que o
visa como um todo (como é o caso do trespasse), o seu valor ultrapassa em muito o
valor da mera soma contabilística dos elementos que o compõem. Esta mais valia
(eficiência lucrativa do EC como um todo) dá-se o nome de aviamento ou “goodwill”,
que não é um elemento do EC, mas sim uma qualidade.

3. Natureza Jurídica
Quatro Teorias sobre a natureza jurídica do EC:

 Teoria do sujeito de direito: o EC constitui um novo sujeito de direitos, uma


nova pessoa jurídica, distinta do comerciante individual ou coletivo.
Crítica: se o EC fosse uma pessoa juridicamente distinta do seu titular, os bens afetos
ao EC deviam responder apenas pelas respetivas dívidas. Todavia, no caso do
comerciante em nome individual não é isso que acontece (responsabilidade ilimitada).
Mais ainda, o titular do EC pode, a qualquer momento, vender o EC; logo o EC não é
um sujeito de direitos.

 Teoria do património autónomo: o EC constitui um património autónomo.


Crítica: se o EC fosse um património autónomo, os bens afetos ao EC deviam
responder apenas pelas respetivas dívidas e que pelas dívidas contraídas por esse EC
respondessem apenas os bens do EC. Todavia, no caso do comerciante em nome
individual não é isso que se verifica (responsabilidade ilimitada).
 Teoria da Universalidade: o EC deve ser concebido como uma universalidade,
como um complexo de coisas jurídicas pertencentes a um mesmo sujeito,
tendentes a um mesmo fim, que a ordem jurídica reconhece e trata como uma
coisa só.

 Teoria do Bem Imaterial (Orlando de Carvalho): O EC é uma coisa unitária, de


natureza imaterial: o que caracteriza o EC não são os bens que o integram ou as
várias pessoas que aí trabalham, mas sim uma certa organização apta a criar
lucro.

 Posição adotada pela Prof. Susana Gil: Concorda com as duas últimas teorias:
o EC constituiu uma unidade jurídica objetiva, uma vez que representa algo
mais e algo diferente das coisas que o constituem. O legislador reconheceu o
EC como tal no trespasse e na locação do EC.

4. Negócios Jurídicos sobre o Estabelecimento Comercial


Negócios Júridicos sobre o EC:
I.Trespasse;
II. Locação (ou cessão de exploração).
I. TRESPASSE:
Não há nenhuma regra jurídica que defina trespasse, não obstante o objeto do
trespasse é o EC. Negócio jurídico pelo qual se realiza a transferência definitiva e por
ato entre vivos da titularidade de um EC: pode consistir numa venda (o mais comum),
doação, troca, dação em cumprimento. Assim sendo, a natureza onerosa ou gratuita
não é relevante; todavia, a natureza onerosa releva para o seguinte caso: direito de
preferência do senhorio (1112.º n.º 4 CC)
Dois sujeitos:

 Trespassante (aquele que transmite o estabelecimento comercial);


 Trespassário (a quem é trespassado o EC).
 O trespasse deve ser celebrado por escrito – 1112.º n.º 3 CC.

A transmissão deve ser comunicada ao senhorio. Com que antecedência? O


prazo previsto para a locação – um mês – cf. art.º 1109.º n.º 2 CC) ou o prazo
previsto no art.º 1038.º g) CC – 15 dias?
O trespasse consiste na transferência global e unitária do EC. Não há trespasse
se não for transmitido o conjunto de elementos que constituem o EC ou se lhes der
outro destino, por força com o disposto no artigo 1112.º n.º 2 a) e b) CC. Exige-se no
art.º 1112.º n.º 2 b) CC o conluio das partes, no sentido da mudança de ramo.
Existem variadas situações de “falso trespasse”; todavia a lei visa acautelar esta
situação por aqueles que pretendem fugir às regras gerais que exigem a autorização
do senhorio. Na verdade, não é necessário o consentimento do senhorio, ainda que
este tenha um direito de preferência – artigo 1112.º n.º 4 (se a transmissão for a título
oneroso).
N.B.: O trespasse tem servido de disfarce para transmissões não autorizadas da
posição do arrendatário: a renda baixa é o elemento preponderante.
Existe uma obrigação por parte dos trespassantes de não exercer uma atividade
comercial idêntica à que desenvolvia o EC transmitido. Trata-se de uma cláusula
contratual que consagra a obrigação de não concorrência – a sua violação acarreta
responsabilidade civil contratual.
Como refere o Prof. Coutinho de Abreu, no contrato de trespasse existe uma
obrigação implícita de não concorrência, “sem necessidade de qualquer estipulação
contratual”. O trespassante do estabelecimento fica, em princípio, obrigado a, num
certo espaço e durante certo tempo, não concorrer com o trespassário. Estas situações
têm que ser apreciadas caso a caso, pois poderá estar em causa, de igual modo, o
princípio da liberdade de iniciativa económica e das regras de defesa da concorrência.
II. LOCAÇÃO (do estabelecimento comercial: art.1109º CC)
Negócio jurídico através do qual o titular de um EC transmite a outrem a título
oneroso e temporário, a fruição de um EC.

 Nota bem:
 Transmissão temporária: locação do EC;
 Transmissão definitiva: trespasse.
A locação é sempre um negócio oneroso; já o trespasse poderá ser oneroso ou
gratuito.
Dois sujeitos:

 Locador/Cedente;
 Locatário/Cessionário.
O transmitente continua a ser o titular do EC – cedente/locador; à outra parte,
dá-se o nome de cessionário/locatário. Coutinho de Abreu não se refere a este negócio
jurídico como cessão de exploração, mas sim como locação do EC. Só haverá locação
do EC, se estivermos perante uma transmissão como um todo e não seja para exercer
um outro tipo de ramo. Pretende-se prevenir as “falsas locações do EC”; haverá um
contrato de arrendamento se apenas se colocar à disposição do locatário as “quatro
paredes”.
Também na locação, não é necessária a autorização do senhorio – artigo 1109.º
CC. Aplica-se, de igual modo, neste contexto, a obrigação de não concorrência.
Não é feita qualquer referência à forma deste contrato. Daí que alguns autores
entendam que vigora o princípio da liberdade de forma: o contrato será válido se
celebrado verbalmente. A Prof. Dra. Susana Gil não concorda com esta doutrina, pois
tendo em conta que se exige forma para o trespasse, também se deverá exigir para a
locação do EC.

V. AS SOCIEDADES COMERCIAIS

1. Noção de sociedade
Para termos uma noção completa de uma sociedade comercial, temos que
conjugar dois artigos:

 Artigo 980.º CC: dá-nos uma definição geral de um contrato de sociedade;

 Artigo 1.º n.º 2 CSC: diz-nos quais os requisitos para que uma sociedade seja
comercial
ARTIGO 980º CC
(Noção)
Contrato de sociedade é aquele em que duas ou mais pessoas se obrigam a contribuir
com bens ou serviços para o exercício em comum de certa atividade económica, que
não seja de mera fruição, a fim de repartirem os lucros resultantes dessa atividade.

1) Elemento Pessoal: “… entre 2 ou mais pessoas...” Até 1996 era pacífico que a
constituição de uma sociedade exigia no mínimo duas pessoas; daí a definição de
contrato de sociedade como um negócio jurídico bilateral (duas declarações de
vontade). Quando em 1996, o legislador português criou a figura de “sociedade
unipessoal por quotas”, parte da doutrina portuguesa criticou esta opção, afirmando
tratar-se de um paradoxo.
É crucial nesta matéria o artigo 7.º n.º 2 CSC: a regra é de dois, exceto:

 quando a lei exige um número superior: como é o caso das sociedades


anónimas - artigo 273.º n.º 1 CSC; assim como nas sociedades em comandita
por ações (mínimo 6 sócios: 5 comanditários e 1 comanditado) – artigos 465.º
n.º 1 e 479.º CSC.
 quando a lei permite que a sociedade seja constituída por uma única pessoa:
sociedades unipessoais por quotas (artigos 270.º A a 270.º G CSC); e ainda no
caso das sociedades unipessoais anónimas (artigo 488.º n.º 1 CSC).
2) Elemento patrimonial: “a contribuir com bens ou serviços”.

 os sócios têm que assumir uma obrigação de entrada (artigos 25.º e ss. CSC);
 é uma obrigação imperativa (artigo 20.º a) CSC).
Natureza das entradas:

 Em dinheiro (pecuniárias)

 Em espécie (bens): devem constar do contrato de sociedade (artigo 9.º n.º 1 g)


e h) CSC); avaliação do bem por um Revisor Oficial de Contas (artigo 28.º CSC);

 Em serviços (figura de sócio de indústria), mas não é admitida nas Sociedades


por Quotas (artigo 202.º n.º 1 CSC), nem nas Sociedades Anónimas (artigo 277.º
n.º 1 CSC). Assim sendo, podemos afirmar que só é permitido nas Sociedades
em Nome Coletivo e nas Sociedades em Comandita quanto aos sócios
comanditados (cf. artigo 468.º CSC).
As entradas dos sócios desempenham três funções muito importantes:

 formam no seu conjunto o património com o qual a sociedade vai iniciar a sua
atividade;

 definem a proporção da participação de cada sócio na sociedade;

 e fixam o capital social (cifra representativa da soma dos valores nominais das
participações sociais).
Momento de realização das entradas: artigo 26.º CSC
As entradas devem ser realizadas até ao momento da celebração do contrato.
De acordo com o n.º 3 do mesmo artigo, os sócios poderão estipular no contrato o
diferimento das entradas em dinheiro:

 Sociedade por Quotas: artigo 203.º CSC;


 Sociedade Anónima: artigos 277.º n.º 2 e 285.º n.º 1 CSC.

3) Elemento finalístico (objeto da sociedade): “… exercício de uma certa atividade


económica, que não seja de mera fruição”.

 O objeto social é a atividade que os sócios se propõem a desenvolver – artigo


11.º n.º 2 CSC. O objeto não poderá ser vago, nem geral.

 “… não seja de mera fruição”: as sociedades não podem ter por objeto
atividades de mera perceção dos frutos dos bens. Exemplo: António pretende
comprar um prédio para arrendar as várias frações autónomas. Para enquadrar
tais operações, propõe-se a constituir uma sociedade unipessoal por quotas.
Não o poderá fazer, pois essa atividade é de mera fruição.
4) Elemento teleológico (finalidade da sociedade): “… a fim de repartirem os lucros…”.
As sociedades comerciais propõem-se a obter lucros: esses lucros da sociedade,
destinando-se a ser distribuídos pelos sócios. É um dos direitos dos sócios: artigo 21.º
e 22.º CSC.
Artigo 1.º n.º 2 CSC:
1) Objeto comercial: prática de atos de comércio. Para que uma sociedade seja uma
sociedade comercial, é necessário que os atos previstos no objeto revistam natureza
comercial.
2) Forma comercial: para que uma sociedade seja comercial é necessário que revista
forma comercial: Só se podem constituir os tipos de sociedades previstos no artigo 1.º
n.º 2 CSC – princípio da tipicidade.
Artigo 1.º n.º 2 CSC: Princípio da Tipicidade

 Sociedades em Nome Coletivo (SNC)


 Sociedades por Quotas (SQ)
 Sociedades Unipessoais por Quotas (SUQ)
 Sociedades Anónimas (SA)
 Sociedades Unipessoais Anónimas (SUA)
 Sociedades em Comandita (simples e por ações)
Em Portugal os tipos legais societários mais comuns são: SQ, SUQ e SA.

Tipos de Sociedades:
I. legais comuns;
II. legais especiais.
Tipos legais especiais: visam responder a necessidades concretas, daí que
tenham uma regulamentação específica e diferente da contida no CSC. Por exemplo:

 as Instituições de Crédito com sede em Portugal devem adotar a forma de


sociedade anónima (por exemplo, bancos; caixas económicas; Caixa Central de
Crédito Agrícola Mútuo e as caixas de crédito agrícola mútuo; instituições
financeiras de crédito). Cf. Decreto-Lei n.º 298/92, de 31 de dezembro, que
aprovou o Regime Geral das Instituições de Crédito e Sociedades Financeiras
(última alteração introduzida pelo Decreto-Lei n.º 190/2015, de 10 de
setembro);

 as Sociedades Gestoras de Participações Sociais podem constituir-se segundo


o tipo de SQ ou SA – cf. artigo 3.º do Decreto-lei n.º 495/88, de 30 de
dezembro (última alteração introduzida pelo Lei n.º 109-B/2001, de 27 de
dezembro).
2. Caracterização geral dos tipos legais societários
1.Existem diferenças de ordem formal (respeita à própria regulamentação):
As SNC e as Scom são reguladas por poucas normas, enquanto que as SQ e as
SA são os tipos legais mais complexos (se bem que não existe comparação entre as
sociedades de pessoas e as sociedades de capitais).
2.E existem diferenças de ordem substancial:
A) Número mínimo de sócios;
B) Regime da responsabilidade dos sócios;
C) Capital social e partes sociais;
D) Organização social.
A) Número mínimo de sócios – cf. diapositivo n.º6
O número mínimo de sócios deverá ser respeitado durante a vida da sociedade,
sob pena de dissolução – artigos 142.º n.º 1 a) e n.º 3 CSC. O CSC não estabelece um
número máximo de sócios. (Em França e na Bélgica, as sociedades de responsabilidade
limitada (SQ) não podem ter mais de 50 sócios; no Luxemburgo, o máximo são 40).
B) Regime da responsabilidade dos sócios
SNC:

 Os sócios respondem perante a sociedade pela sua obrigação de entrada;


Perante os credores da sociedade, os sócios de uma SNC têm uma
responsabilidade ilimitada, subsidiária em relação à sociedade (os bens dos
sócios só respondem depois de excutido o património da sociedade) e solidária
com os outros sócios – artigo 175.º n.º 1 CSC

 … mesmo anteriores ao seu ingresso, mas não posteriores à saída do sócio –


artigo 175.º n.º 2 CSC);

 Autonomia patrimonial imperfeita: os bens da sociedade respondem pelas


dívidas da sociedade, mas pelas dívidas da sociedade não respondem apenas os
bens da sociedade, poderão também responder os bens pessoais dos sócios
(responsabilidade ilimitada).

 Artigo 178.º CSC: os sócios de indústria muito embora respondam pelas dívidas
sociais perante os credores, não respondem perante a sociedade… Assim, caso
aquele sócio pague alguma dívida da sociedade terá direito de regresso face
aos demais pelo total que tiver pago.
SQ:

 Em princípio cada sócio responde pela sua entrada – artigo 197.º n.º 1 CSC;
todavia a responsabilidade é solidária pela realização integral do capital social
– artigo 207.º n.º 1 CSC;
 “Os sócios são solidariamente responsáveis por todas as entradas
convencionadas no contrato social”; na verdade, se um sócio não pagar à
sociedade tempestivamente a sua entrada, poderá ser excluído, sendo os
demais solidariamente responsáveis perante a sociedade pelo pagamento da
parte da entrada do excluído que estiver em dívida;
 A responsabilidade é limitada, por outras palavras,estamos perante uma
autonomia patrimonial perfeita: os bens da sociedade respondem pelas
dívidas da sociedade; pelas dívidas da sociedade apenas respondem os bens da
sociedade.
 Os credores não podem executar o património pessoal dos sócios, de acordo
com o artigo 197.º n.º 3 CSC, a não ser que se verifique a situação estipulada
no artigo 198.º n.º 1 CSC (o que é raro acontecer).
SUQ:
 As sociedades unipessoais por quotas são, para todos os efeitos, sociedade por
quotas; logo têm todas as características destas, exceto as que pressuponham
uma pluralidade de sócios – artigo 270.º G CSC. Assim sendo, o sócio único de
uma SUQ tem responsabilidade limitada perante os credores sociais.
SA:

 A responsabilidade do sócio é individual e exclusivamente para com a


sociedade pelo valor da sua entrada;
 Só a sociedade é responsável com o seu património perante os credores
sociais - artigo 271.º CSC;
 Autonomia patrimonial perfeita.
SComandita: Responsabilidade mista ou híbrida, uma vez que se reúne na mesma
sociedade, sócios de responsabilidade ilimitada e limitada - artigo 465.º CSC

 Sócios comanditados: responsabilidade igual à dos sócios das SNC = ilimitada;


 Sócios comanditários: responsabilidade igual à dos sócios das SA = limitada.

C) Capital Social e partes sociais


SNC:

 As participações dos sócios denominam-se “partes sociais”;


 Não há um valor mínimo, nem para o capital social, nem para a parte social;
 Entradas: dinheiro, bens ou serviços – artigo 178.º CSC;
 As entradas podem ter um valor desigual, mas não podem ser emitidos títulos
representativos – artigo 176.º n.º 2 CSC;
 A parte de um sócio só poderá ser transmitida por ato entre vivos, com o
consentimento dos restantes sócios – artigo 182.º CSC.
SQ:

 As participações dos sócios denominam-se “quotas”;


 Aos sócios podemos chamar-lhes quotistas;
 Vigora o princípio do capital social livre, de acordo com o artigo 201.º CSC;
todavia a quota terá que ter o valor mínimo de € 1, por força do artigo 219.º n.º
3 CSC.
 Entradas: dinheiro e bens, todavia não são permitidas contribuições de
indústria (202.º n.º 1 CSC).
 As entradas podem ter um valor desigual;
 Não podem ser emitidos títulos representativos de quotas – artigo 219.º n.º 7
CSC.
 Transmissão de quotas: cf. artigo 228.º e 229.º CSC;
 Não podemos atacar os bens.
SA:

 As participações dos sócios denominam-se “ações”;


 Aos sócios podemos chamar-lhes acionistas;
 Valor mínimo para o capital social - € 50.000 – artigo 276.º n.º 5 CSC;
 Valor mínimo para a ação – não pode ser inferior a 1 cêntimo – artigo 276.º n.º
3 CSC.
 As ações devem ter o mesmo valor nominal – artigo 276.º n.º 4 CSC;
 Entradas: dinheiro e bens (o artigo 277.º n.º 1 CSC não permite contribuições
de indústria);
 Momento da realização das entradas: 277.º n.º 2 e 285 n.º 1 CSC;
 As ações podem ser nominativas: artigo 299.º CSC;
 As ações poderão ser representadas por títulos livremente transmissíveis;
 Responsabilidade limitada.
SComandita:

 SCom simples: as participações de ambas as espécies de sócios denominam-se


partes sociais; não está fixado qualquer valor mínimo do capital social e as
partes sociais não são representadas por quaisquer títulos;
 SCom ações: as participações dos sócios comanditados denominam-se partes
sociais e as dos sócios comanditários chamam-se ações.

D) Quanto à organização social:


“Órgãos sociais são centros institucionalizados de poderes funcionais a exercer
por pessoa ou pessoas com o objetivo de formar e/ou exprimir a vontade
juridicamente imputável à sociedade” (Coutinho de Abreu). É necessário que a pessoa
coletiva forme, manifeste e execute uma vontade” (Miguel Pupo Correia). Daí a
necessidade dos órgãos sociais… Para a sociedade a governação vai variando. As
anónimas são as mais complicadas, pelos órgãos que a governam.
SNC: estrutura muito simples (sociedades familiares).
Os sócios têm um papel fundamental: desempenham todas as competências:

 Poder deliberativo: Assembleia Geral (todos sócios): artigo 189.º CSC ,por voto
cada sócio tem direito a um voto; ( Sócios ( Assembleia Geral) );
 Poder executivo: salvo estipulação em contrário, todos os sócios são gerentes
(artigo 191.º n.º 1 CSC); todos os gerentes devem ser sócios, salvo deliberação
unânime em contrário (artigo 191.º n.º 2 CSC); aos gerentes cabe a
administração e representação da sociedade – artigo 192.º CSC; ( Executivo =
Sócios);
 Poder fiscalizador*: as sociedades em nome coletivo não têm órgão de
fiscalização, esta função é exercida diretamente pelos sócios, através do direito
à informação previsto no artigo 181.º CSC. ( Fiscalizador = Sócios );
 Cada sócio tem direito a um voto – vigora o princípio democrático, previsto no
artigo 190.º CSC.
*verifica a conformidade da atividade dos outros órgãos com a lei e os estatutos,
denunciando as irregularidades que descubram.
SQ: estrutura mais complexa, em comparação com a da SNC, emque o papel do sócio
continua a ser fundamental.

 Poder deliberativo: compete à Assembleia Geral, constituída pelo conjunto de


sócios, dotada de competências genéricas – artigo 246.º CSC, tem de ser a
sociedade a decidir.
- n.º 1: conjunto imperativo de competências (não podem ser remetidas para
outro órgão); não depende da vontade dos seus sócios de mudar é
competência da Assembleia;
- n.º 2: conjunto supletivo de competências (só não caberão aos sócios, caso o
contrato as transfira para outro órgão); não é necessariamente
obrigação/competência da Assembleia. Só a Assembleia Geral podemos
designar gerentes. Pode ser de competência da Assembleia ou não.

 Poder executivo: gerência (gerentes) , com competências gerais de


administração e representação – artigos 252.º e ss. CSC, com especial destaque
para o artigo 259.º CSC.

 Poder fiscalizador:
- O contrato de sociedade pode prever um Conselho Fiscal (artigo 413.º e ss.
CSC);
- A sociedade pode ser obrigada a ter um ROC (Revisor Oficial de Contas)- art.
262.º, n.º 2 CSC;
* Se não se verificar nenhuma das duas hipóteses: teremos o direito à informação, que
apenas poderá ser exigido por sócio não gerente – artigo 214.º CSC.
Nas sociedades por quotas, vigora o princípio censitário: o grau de participação e
intervenção depende do valor da respetiva quota – cf. artigo 250.º CSC- deliberações:
cf. 250 n.º 3 e 265.º CSC.
Exemplo:
Sócio A: 30.000 – 30%
Sócio B: 70.000 – 70%
Capital social: 100.000
SA:

 Sociedades de capitais, com uma estrutura de organização mais complexa;


 Desvalorização do papel do sócio e da Assembleia Geral, que tem competências
mais reduzidas (em comparação com a Assembleia Geral de uma Sociedade por
Quotas);
 Gestão da SA cabe exclusivamente aos seus órgãos de administração –
administradores ou administradores executivos, restando à Assembleia Geral
algumas matérias, ainda que fundamentais, da sociedade – artigo 373.º e ss
CSC.
 Deliberações: cf. 383.º e 386.º CSC (quórum constitutivo* e quórum
deliberativo);
 Vigora o princípio de que a cada ação corresponde um voto – artigo 384.º CSC
(o que traduz a pouca força do sócio minoritário).
Exemplo:
Capital Social: € 100.000
Cada ação vale € 2.
Sócio A- 10.000 ações – €20.000 – 20%
Sócio B – 15.000 ações – €30.000 – 30%
Sócio C: 25.000 – €50.000 – 50%

* Quórum – Artº 383 CSC- Número suficientes de sócios presentes num


Assembleia para votar/decidir. Assembleia Geral só pode-se considerar se
estiverem + 50% dos Sócios.
* Quórum Constitutivo – Não se pode iniciar uma reunião se não estiverem
todos ou metade das pessoas.
Três Estruturas Alternativas – Artº 278 CSC :

Liberdade de escolha

 Modelo “latino”/clássico: 278.º n.º 1 a) CSC: Modelo clássico simplificado (art.º


278.º, 2) que não pode ser escolhido por sociedades cotadas ou por sociedades
de grande dimensão (art.º 413.º, 2)

 Modelo anglo-saxónico/monístico: 278.º n.º 1 b) CSC

 Modelo dualista/germânico: 278.º n.º 1 c) CSC


Dever de escolha

 Não há um modelo supletivo

 Consagração da escolha nos estatutos (art.º 272.º, g) do CSC)

 Possibilidade de mudança de modelo (art.º 278.º, n.º 6)


Tipologia taxativa

 Proibida a adoção de modelos não previstos no art.º 278.º do CSC

 Possibilidade de criação de estruturas orgânicas atípicas sem competência


decisória.
Artigo 278.º n.º 1 a) CSC: modelo clássico - o mais comum em Portugal.

 Assembleia Geral: art.ºs 373.º e ss. CSC;


 Conselho de Administração: art.ºs 390.º e ss. CSC;
 Conselho Fiscal: art.ºs 413.º e ss. CSC.

Artigo 278.º n.º 1 b) CSC - modelo anglo-saxónico.

 Assembleia Geral: art.ºs 373.º e ss. CSC;


 Conselho de Administração: art.ºs 390.º e ss. CSC;
 Comissão de Auditoria: art.ºs 423.º-B a 423.º-H CSC;
 Revisor Oficial de Contas: art.º 446.º CSC.

Artigo 278.º n.º 1 c) CSC - modelo germânico

 Assembleia Geral: artigos 373.º e ss. CSC;


 Conselho de Administração Executivo: artigos 424.º a 433.º CSC;
 Conselho Geral e de Supervisão: artigos 434.º a 445.º CSC;
 Revisor Oficial de Contas: artigo 446.º CSC.
Secretário da Sociedade
Esta figura foi criada pelo Decreto-Lei n.º 257/96, de 31 de dezembro, que
introduziu os artigos 446.º-A a 446.º-F no Código das Sociedades Comerciais Na
competência do secretário destacam-se, entre outras, as funções de secretariado dos
órgãos sociais, de redação das atas, de certificação de certos eventos sociais, de
garantia do exercício do direito de informação dos acionistas, de contactos com as
conservatórias do registo comercial, inter alia.
O cargo é obrigatório nas sociedades anónimas emitentes de ações admitidas à
negociação em mercado regulamentado. E é facultativo nas demais sociedades
anónimas e sociedades por quotas.

Você também pode gostar