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RESENHA

Referência: ​PARANHOS, J.; HASENCLEVER, L.; PERIN, F. S. Abordagens teóricas sobre


o relacionamento entre empresas e universidades e o cenário brasileiro. ​Revista Econômica​,
v. 2, n. 1, p. 9–29, 2018. Disponível em:
<​http://www.revistaeconomica.uff.br/index.php/revistaeconomica/article/view/387​>

Resenhado por: ​Rebecka Camondá Pereira- 2018.24.109

O artigo “Abordagens teóricas sobre o relacionamento entre empresas e universidades


e o cenário brasileiro”, publicado por Julia Paranhos, Lia Hasenclever e Fernanda Steiner
Perin, em 2018 na Revista Econômica, explica as características da relação empresa e
universidade, à partir de três pontos e discute a aplicação destes na realidade, com o foco em
identificar quais as principais ações das universidades em prol do desenvolvimento
econômico e social.
A autora Julia Paranhos é professora Adjunta da Universidade Federal do Rio de
Janeiro e coordenadora do Grupo de Economia da Inovação do Instituto de Economia da
UFRJ, além de ser Membro da Associação Brasileira de Economia Industrial e Inovação
(ABEIN). A autora Lia Hasenclever é professora Associada I da Universidade Federal do Rio
de Janeiro, tem experiência na área de Economia, com ênfase em Organização Industrial e
Estudos Industriais, atuando principalmente nos seguintes temas: desenvolvimento econômico
local, inovação, nova friburgo, indústria farmacêutica e competitividade. E a autora Fernanda
Steiner Perin é Pesquisadora do Grupo de Pesquisa Economia da Inovação (GEI), além de ter
experiência na área de Economia, com ênfase em Economia Industrial, Economia da Inovação
e negócios internacionais.
Levando em conta que as instituições de ensino e as empresas possuem papéis e
objetivos diferentes, busca-se entender como está sendo essa interação. Sendo assim, as
abordagens tratadas no artigo são: a universidade com a função de comercializar o
conhecimento, a universidade como formadora de recursos humanos e sua parceria com
empresas para gerar inovação e a universidade e sua função no desenvolvimento social.
Ao analisar a universidade com a função de comercializar o conhecimento, nota-se
que ela adquire o papel de desenvolvimento econômico, e, para explicar como isso se dá, as
autoras partem do modelo da hélice tríplice de Etzkowitz e Leydesdorff (2000). Relatando de

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uma forma simples, é como se cada hélice fosse uma instituição e a interação entre elas
representa o sistema de inovação e seu funcionamento. As instituições que são simbolizados
pelas hélices são: a universidade, a indústria e o governo. A interação entre elas passa por três
fases: uma mudança interna, um contato entre elas buscando a inovação e a criação de algo
que estabeleça uma ligação entre as hélices.
O processo do modelo está baseado na auto-organização da produção do
conhecimento e troca de informações e na seleção destas dentro do contexto que há em cada
hélice. Um dos principais resultados obtidos é a apresentação da universidade como o
principal gerador de inovação, além de atuar na “transferência dos recursos humanos
treinados para atuarem também em empreendimentos, não se limitando a ser uma simples
produtora de conhecimento”, como nas palavras das autoras. Segundo Etzkowitz, o principal
meio de contato para troca de conhecimento entre empresas e universidade são os escritórios
de transferências de tecnologia (ETT); entretanto, há uma dualidade que impede que essa
troca seja harmônica, a qual está ligada aos interesses de cada uma dessas. Ela se estabelece
da seguinte maneira: as empresas querem exclusividade, ou seja, todo o material obtido a
partir do seu investimento deve ser ofertado somente a ela e a mais ninguém, principalmente
as concorrentes; já as universidades querem difundir o conhecimento de modo que todos
possam ter acesso e o utilize da maneira que lhe for mais propícia.
Ao observar a universidade como formadora de recursos humanos e parceira da
empresa para inovação, nota-se que a indústria é a principal no ramo da inovação, visto que
na maioria das vezes é ela quem busca proporcioná-la, contudo a universidade também tem
uma função considerável neste meio, principalmente a partir do final do século XX e início do
século XXI. Baseados em dois autores neo-schumpeterianos, B-A. Lundvall e N. Rosenberg,
a universidade mostra sua importância para a questão do aprendizado e as alterações
percebidas na formação do estudante devido o contato empresarial, e na complementação da
pesquisa acadêmica com a pesquisa industrial.
Antes o que era ensinado na universidade era o que é observado nas empresas, agora a
proposta é ir além, ou seja, é ensinar a desenvolver habilidades que ainda não são encontradas
no mercado. Sendo assim, o principal desafio da universidade é se manter atualizada com o
mercado, a fim de cumprir com essa nova proposta. Olhando no campo das pesquisas, a
interação indústria e universidade traz benefícios para ambas, devido a complementação
destas. As pesquisas realizadas por empresas são na grande maioria básicas, estando mais

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relacionadas ao mercado captando o consumidor e seus interesses; já a pesquisa acadêmica
está mais ligada a iniciar processos de desenvolvimento e geração de inovações, como
invenções originais e versões piloto. Visto isto, é possível entender como essa parceria pode
ocorrer: as empresas fornecem seus dados básicos em relação ao funcionamento do mercado e
a universidade vem à partir desses desenvolvendo projetos para o setor industrial, os quais
posteriormente podem ser comercializados. Ademais, esse contato possibilita que os
estudantes em formação saim mais capacitados e mais cientes das necessidades do mercado.
Ao ver a universidade como ator do desenvolvimento social, parte-se do ponto de vista
da América Latina, segundo Arocena e Sutz (2003 a, 2005) e Dagnino (2003), conforme
citado pelos autores do artigo, “o entendimento do contexto socioeconômico destes países é o
primeiro passo para a análise do papel que a universidade pode ter dentro do sistema nacional
de inovação. Os altos níveis de desigualdade social e de renda são fortes fatores de influência
nesta abordagem, que possui uma grande preocupação com o tema da inclusão social.”
A falta do conhecimento técnico-científico, intensifica a desigualdade já existente, em
outras palavras a ausência deste impede o desenvolvimento econômico. Sendo assim, há um
distanciamento de países que fazem investimento nessa área, na maioria desenvolvidos, dos
que não fazem ou o fazem pouco, que na maioria são subdesenvolvidos, criando uma relação
de dependência deste com aquele. De acordo com um quadro baseado em Arocena,
Bortagaray e Sutz (2008), a escassez de ações inovativas no setor industrial, proporciona uma
baixa demanda de conhecimento, assim não estimulando o relação empresa e universidade.
Em contraponta, o setor acadêmico não valoriza a interação com o setor empresarial,
voltando-se para a carga horária dos docentes, além da infraestrutura dos laboratórios e
elementos de pesquisa serem inadequados. Dessa maneira, o contato dessas intuições acaba
sendo somente em alguns momentos, como consultorias.
Por conta desse cenário, a proposta feita as universidades latino-americanas é de que
em vez de se tornarem universidades empresariais, com o foco no desenvolvimento
econômico, elas se voltem para o desenvolvimento social. A partir disso elas assumem um
papel muito maior do que o proposto pelos neo-schumpeterianos, assim podem combater o
subdesenvolvimento, a pobreza e a miséria em seus países.
Após a apresentação das três abordagens feitas pelas autoras, identificou-se seis ações
da universidade que pode gerar benefícios para a sociedade, sendo no âmbito da inovação ou
no âmbito social, entretanto é válido ressaltar que essas ações dependem do contexto em que

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as universidades estão inseridas. São elas: formação e treinamento de recursos humanos,
melhoria da compreensão de tecnologias e avanço do conhecimento, estímulo ao
desenvolvimento da PD industrial, desenvolvimento de teorias e métodos para uso uso
posterior pelas empresas, criação de empresas e atuação social em áreas básicas como saúde,
educação, saneamento, inclusão social, etc.
Os papéis um e dois, dependem da interpretação sobre a missão da universidade, por
isso elas estão mais presentes na maioria das universidades, variando somente com o seu
contexto. As atuações três, quatro, cinco e seis, só são consideradas missões da universidade
após a segunda revolução acadêmica, em meados do século XX, elas são muito mais
dependentes do contexto da universidade do que as demais.
Olhando o cenário brasileiro, percebe-se uma grande semelhança com o contexto
apresentado na América Latina, ou seja, a interação empresa e universidade, é pontual,
esporádica, como consultorias. Para os autores isso ocorre pois há um “perfil pouco inovativo
do setor empresarial brasileiro, no qual empresas nacionais realizam baixos esforços
inovativos, e empresas multinacionais não veem o Brasil como um centro de desenvolvimento
de inovação.” Frente a esse cenário, as universidades brasileiras têm em sua maioria o foco no
desenvolvimento social, o qual é formalizado pela lei no Plano Nacional de Educação (Lei nº
10.172/2001), a qual definiu como obrigatório que 10% dos créditos exigidos em nível
superior, sejam direcionados para atividades de extensão.
Entretanto, apesar da medida, muitas universidades ainda não conseguiram promover
essa aproximação com as instituições industriais. Isso ocorre, pois o meio de cada uma é
diferente, alguns proporcionam uma maior facilidade para isso, outros não. Dessa forma, não
tem como forçar a instituição de ensino a uma determinada atitude sem antes conhecer e
entender o cenário em que ela se encontra.
Em suma, conclui-se que a partir dessas abordagens, percebe-se que as universidades
têm uma nova missão, que é o desenvolvimento econômico e social. Para isso, ela interage
com outras duas instituições, o governo e o setor industrial, os quais podem proporcionar
medidas e auxílio para que esse foco seja atingido. Contudo, antes de tudo é necessário
entender o contexto em que a universidade está inserida, pois é ele que irá conduzir qual a
melhor maneira de ação e sem a análise dele há grandes chances do que é proposto não dar
certo.

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O artigo propõe apresentar três abordagens sobre a interação universidade-empresa
com o foco na inovação, além de discutir como isso se aplica na realidade nacional. Tendo
isso em mente, o texto o faz de uma maneira muito simples e clara, com uma boa explicação e
argumentação. É um ótimo material, principalmente para quem é leigo no assunto e busca
uma introdução à temática. Entretanto para quem deseja algo mais profundo, talvez não se
satisfaça com o material, visto que ele analisa somente alguns ângulos dessa interação.

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