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AULA 2.

EXECUÇÃO DAS OBRIGAÇÕES PARA A ENTREGA DE COISA CERTA


OU INCERTA

1. OBJETIVOS DA AULA

 Reforçar a distinção do regramento do cumprimento de sentença/títulos judiciais e


execução de título extrajudicial;

 Avaliar o procedimento da execução da obrigação de dar coisa e suas particularidades,


com destaque para os problemas advindos da fraude à execução e da destruição da
coisa, exercitando o manejo das possibilidades oferecidas pelo sistema processual.

2. MODALIDADES DE EXECUÇÃO DE OBRIGAÇÃO DE ENTREGAR COISA

2.1. Quanto à natureza do título

Como visto anteriormente, em virtude da natureza do título executivo, o Código de


Processo Civil traz regras distintas para a fase executiva. No que toca à execução de obrigação
de entregar coisa (certa ou incerta), a dualidade se mantém, de acordo com o seguinte quadro:

Natureza do título Regramento legal


Execução de obrigação de dar coisa fundada em
Artigo 461-A, caput, CPC (coisa certa)
título executivo judicial/sentença que reconhece
Artigo 461-A, § 1º, CPC (coisa incerta)
obrigação de dar coisa
Execução de obrigação de dar coisa fundada em Artigos 621 a 628, CPC (coisa certa)
título extrajudicial Artigos 629 a 631, CPC (coisa incerta)

2.2.1. EXECUÇÃO DA OBRIGAÇÃO DE ENTREGAR COISA CERTA

(i) Cumprimento da sentença condenatória

Na própria sentença de procedência do pedido proferida no processo de conhecimento,


o juiz, com base nos artigos 461-A, e seus parágrafos, do CPC:
 Deve condenar o réu a entregar a coisa certa;
 Deve fixar o prazo para cumprimento da obrigação;
 Pode estabelecer multa (astreintes) pelo atraso no cumprimento da obrigação
(mediante provocação ou ex officio) – art. 461-A, §3º c/c art. 461, §§ 5º e 6º,
CPC1.
Ademais, caso a obrigação não seja cumprida, deve o juiz determinar a expedição de
mandado de busca e apreensão (coisa móvel) ou de imissão na posse (coisa imóvel), conforme
determina o artigo 461-A, § 2º, CPC.

(ii) Execução fundada em título executivo extrajudicial

Ajuizada a execução fundada em título executivo extrajudicial, o juiz, no recebimento


da petição inicial:
 Deve determinar a citação do réu para, no prazo de dez dias, entregar a coisa
(artigo 621, CPC);
 Pode estabelecer multa (astreintes) pelo atraso no cumprimento da obrigação
(mediante provocação ou ex officio) - art. 621, § único, CPC.
Do mesmo modo, caso a obrigação não seja cumprida, deve o juiz determinar a
expedição de mandado de busca e apreensão (coisa móvel) ou de imissão na posse (coisa
imóvel), com fundamento no artigo 625, CPC.
As notas distintivas dos procedimentos (cumprimento de sentença e execução de título
extrajudicial) são as seguintes:
(a) No cumprimento de sentença, não há um processo autônomo, o que dispensa a
(nova) citação do executado;
(b) O cumprimento da sentença é uma fase do processo cognitivo, podendo ser iniciada
por provocação da parte, ou ex officio pelo juiz;
(c) O magistrado, na sentença 2, deve fixar a data para cumprimento da obrigação; de
modo diverso, na execução de título extrajudicial, a própria lei fixa o prazo para a
entrega da coisa (10 dias, artigo 621, caput, CPC);
(d) Em se tratando de execução de título extrajudicial, são cabíveis os embargos do
devedor (Livro II); no caso de título judicial, não há que se falar em embargos, mas em
impugnação, prevista no artigo 475-L, CPC.

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Caso se trate de execução de títulos judiciais diversos da sentença civil, como a sentença penal
condenatória ou sentença arbitral, na petição inicial é recomendável que se requeira ao juiz a fixação do
prazo e da multa para cumprimento da obrigação. Depois de apreciada e recebida a inicial, e fixada data
para entrega da coisa e a multa para caso de descumprimento, o procedimento observa as regras do
cumprimento de sentença.
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Ou no recebimento da inicial, no caso de execução de título judicial diverso da sentença civil.
2.2.2. EXECUÇÃO DA OBRIGAÇÃO DE ENTREGAR COISA INCERTA

Os procedimentos da execução de entregar coisa certa e coisa incerta não guardam


diferenças substanciais, com exceção de que a coisa incerta precisa ser especificada para que
ocorra a execução, havendo, assim, a possibilidade de haver incidente da impugnação da
escolha feita pela parte contrária.

3. ANÁLISE DE CASO

PAULO SOUZA DA ROCHA CABRAL, membro de uma tradicional família carioca


decadente, foi condenado a restituir o quadro que havia adquirido do marchand FERNANDO
AROUCHE, do famoso pintor JONAS RENAULT, avaliado em R$ 500.000,00 (quinhentos mil
reais), pois não efetuou o pagamento na data aprazada.
Considerando que o bem estava na casa de PAULO CABRAL situada em Saint Tropez,
na França, na sentença condenatória de obrigação de dar coisa certa, proferida em 20 de maio
de 2008, em audiência, o juiz estabeleceu que o quadro fosse entregue a FERNANDO
AROUCHE no dia 1º de julho de 2008, sob pena de incorrer em multa diária de R$ 10.000,00
(dez mil reais) por dia de atraso no cumprimento da obrigação. A sentença transitou em julgado
em 04 de junho de 2008 sem que houvesse apelação.
Considerando que receberia o quadro em breve, o marchand FERNANDO AROUCHE
vendeu-o a um cliente admirador das obras de JONAS RENAULT por R$ 600.000,00
(seiscentos mil reais), prometendo entregá-lo no dia 02 de julho de 2008, data em que o quadro
seria pago pelo cliente.
Contudo, no dia 25 de junho de 2008, PAULO SOUZA DA ROCHA CABRAL alienou
o quadro a PEDRO SILVA, terceiro de boa-fé, que, desconhecendo a decisão judicial, pagou, à
vista, R$ 450.000,00 (quatrocentos e cinqüenta mil reais) pela obra, da qual se apossou na
mesma data.
No dia 1º de junho, PAULO SOUZA DA ROCHA CABRAL descumpriu a ordem
judicial de dar coisa certa, qual seja, de entregar o quadro a FERNANDO AROUCHE.
1. Quais os dispositivos do CPC aplicáveis ao caso em questão? Fundamente.
2. Que medidas podem ser adotadas pelo advogado de FERNANDO AROUCHE em
favor de seu cliente?
3. PEDRO SILVA, terceiro de boa-fé adquirente, pode ser prejudicado neste caso?
4. Considerando que se trata de cumprimento de sentença, é correto afirmar que houve
fraude à execução? Com que fundamento legal?
5. Caso se caracterize a fraude à execução, pode ser imposta alguma sanção a PAULO
CABRAL? De que tipo? Qual o fundamento legal?
6. FERNANDO AROUCHE pode requerer indenização por danos materiais sofridos
em virtude da não concretização da venda do quadro ao seu cliente? Qual seria o
valor dessa indenização?
7. Supondo que o quadro seja encontrado em posse de PEDRO SILVA com avarias
profundas, perdendo praticamente todo o seu valor, que medidas judiciais podem
ser tomadas em favor de FERNANDO AROUCHE?
8. Faça um fluxograma demonstrando as possíveis soluções ao caso descritas nas
respostas anteriores.

Bibliografia Obrigatória:

 CPC, arts. 461-A e 621-631.


 TALAMINI, Eduardo. Tutela jurisdicional para entrega de coisa (CPC, art. 461-
A). In: CIANCI, Mirna; QUARTIERI, Rita (coord.). Temas atuais da execução
civil: estudos em homenagem ao professor Donaldo Armelin. São Paulo:
Saraiva, 2007, p. 199-222 (23 p.)

Bibliografia complementar:

 NEVES, Celso. Classificação das ações. In: Estrutura fundamental do processo civil.
Rio de Janeiro: Forense, 1997, p. 135-147.

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