Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
78
INFORMÁTICA NA EDUCAÇÃO:
teoria & prática
79
INFORMÁTICA NA EDUCAÇÃO:
teoria & prática
1 A traduÁ„o brasileira traz ìproibimosíí ao invÈs de ìdefendemosíí! (cf. PIAGET, 1995b, p.35).
2 A traduÁ„o brasileira n„o traz essa cl·usula de relativizaÁ„o (cf. PIAGET, 1995b, p.35).
80
INFORMÁTICA NA EDUCAÇÃO:
teoria & prática
Ou seja, a abstraÁ„o dos fatores so- volve para definir o conjunto de fatores
ciais no estudo do desenvolvimento da cri- interindividuais aos quais o desenvolvimen-
anÁa È uma quest„o de mÈtodo de pesqui- to da inteligÍncia e dos conhecimentos deve
sa, uma opÁ„o metodolÛgica durante o pro- ser relacionado.
cesso de investigaÁ„o, n„o uma quest„o de
Vamos apontar as principais noÁıes
fundamento ou de posicionamento teÛrico
sobre o papel da vida social naquele desen- dessa teoria sociolÛgica, enfatizando o seu
volvimento. Como tal, essa abstraÁ„o deve n˙cleo operatÛrio, o qual cremos poder usar
como base para fundamentar o trabalho re-
ser feita de modo a ter a menor influÍncia
possÌvel sobre os resultados obtidos. Assim, lativo aos aspectos morais das interaÁıes
logo que os resultados procurados forem en- em sistemas cooperativos de apoio ao ensi-
no-aprendizagem.
contrados, importa imediatamente reintegrar
os fatores sociais ‡ an·lise, para que aque- As trÍs noÁıes centrais s„o: a noÁ„o
les resultados possam ser retrabalhados ‡ de totalidade social, que orienta todo o pro-
luz dessa perspectiva ampliada: ìRenuncie- cesso de estruturaÁ„o da teoria; a noÁ„o de
mos agora ao artifÌcio que nos fez conside- valor de troca qualitativo, que permite cap-
rar como um sistema fechado o indivÌduo, tar nas trocas sociais os aspectos que n„o
assim como suas relaÁıes com o meio fÌsi- s„o estritamente econÙmicos; e a noÁ„o de
co, e perguntemos o que ser„o as relaÁıes equilÌbrio do sistema de trocas qualitativas,
de ordem intelectual com os outros indivÌdu- em funÁ„o do qual se constituem as normas
osî (PIAGET, 1973e, p.178). morais e jurÌdicas.
A quest„o da explicaÁ„o sociolÛgica 3.1 A noção piagetiana de totalidade social
do desenvolvimento cognitivo se impıe como
necess·ria, ent„o, para complementar a ex- Contrapondo-se ao atomismo e ao
plicaÁ„o biolÛgica e psicolÛgica: puro holismo, Piaget coloca no estruturalis-
mo relacional a soluÁ„o para o problema da
O problema È ent„o o seguinte: se a lÛgi-
ca consiste numa organizaÁ„o de opera- definiÁ„o da noÁ„o de totalidade social. A
Áıes que s„o definitivamente interiorizadas totalidade social n„o È um agregado de indi-
e tornadas reversÌveis, pode-se conceber vÌduos nem È uma realidade existente (ou
que o indivÌduo consegue atingir sozinho
esta organizaÁ„o, ou a intervenÁ„o de fa- prÈ-existente) num plano acima do plano dos
tores interindividuais È necess·ria para indivÌduos.
explicar o desenvolvimento que acabamos
de descrever? (PIAGET, 1973e, p. 178). Podem-se reduzir, parece, todos os ìfatos
sociaisî a interaÁıes entre indivÌduos e,
O resto do artigo, È claro, consiste na mais precisamente, ‡s interaÁıes que mo-
demonstraÁ„o positiva de que È a segunda dificam o indivÌduo de maneira dur·vel.
(PIAGET, 1973g, p.114)
alternativa que È v·lida.
As totalidades sociais oscilam entre dois
3 A sociologia de pequenos tipos: num dos extremos, as interaÁıes em
jogo s„o relativamente regulares, polari-
grupos de Piaget zadas por normas ou obrigaÁıes perma-
nentes, e constituem sistemas compostos
N„o È possÌvel resumir, aqui, a socio- dos quais pressentimos a analogia com os
logia de pequenos grupos que Piaget desen- agrupamentos operatÛrios no caso em que
81
INFORMÁTICA NA EDUCAÇÃO:
teoria & prática
estes se aplicariam ‡s trocas e ‡s aÁıes de ordem total, sem car·ter mÈtrico, que sa-
hierarquizadas inter-individuais e ‡s ope-
raÁıes intra-individuais. No outro extremo, tisfaÁa ‡ exigÍncia mÌnima de permitir que
a totalidade constitui uma associaÁ„o de seja definida uma relaÁ„o assimÈtrica de
interaÁıes interferindo entre elas e cujas maior ou menor ñ ver os conceitos de quan-
formas de composiÁ„o lembram as regu-
laÁıes ou os ritmos da aÁ„o individual. tidade, no livro Ensaio de Lógica Operató-
(PIAGET, 1973c, p.43) ria. (PIAGET, 1973d)
O primeiro tipo È o dos pequenos gru- Quanto ‡ noÁ„o de troca, para simpli-
pos, no qual as contribuiÁıes dos indivÌduos ficar o problema e permitir-lhe uma
ao grupo podem ser plenamente iden- formalizaÁ„o operatÛria, Piaget restringiu-se
tificadas e as regras permanecem est·veis ‡ quest„o (na verdade, bastante geral) da
durante o processo de interaÁ„o. O segun- troca de serviços entre sujeitos. Assim,
do caso È o das massas sociais. Os ambi- Piaget define troca como qualquer seq¸Ín-
entes de ensino-aprendizagem nos quais cia de aÁıes entre dois sujeitos, tal que um
estamos interessados s„o, evidentemente, deles, pela realizaÁ„o de suas aÁıes, pres-
do primeiro tipo.3 te um serviço ao outro.
3 Note-se que Piaget (1973g) se atÈm ‡ sociologia îsincrÙnicaíí, isto È, n„o trata da evoluÁ„o das estruturas sociais.
82
INFORMÁTICA NA EDUCAÇÃO:
teoria & prática
83
INFORMÁTICA NA EDUCAÇÃO:
teoria & prática
Uma troca que se d· entre dois agen- vel definir um modo de aplicaÁ„o de sua no-
tes (usu·rios ou programas) em um sistema Á„o de troca ‡s que ocorrem em ambientes
computacional, seguindo o modelo cliente- computacionais, e mesmo estendÍ-la a ca-
servidor, ocorre conforme mostrado no dia- sos importantes n„o considerados explicita-
grama de seq¸Íncia do tipo Cl-Srv, na Figura mente por Piaget. Para tanto, faz-se uma
1. Nesse modelo, Cl È o agente cliente, Srv combinaÁ„o dos conceitos presentes nos
È o agente servidor, req È a aÁ„o de requisi- modelos b·sicos de troca computacional, de-
Á„o de serviÁo que Cl faz a Srv, serv È a finidos na seÁ„o 4.1, com os conceitos ex-
execuÁ„o do serviÁo por parte de Srv, útil È traÌdos da an·lise dos processos de trocas
a aÁ„o de Cl de utilizar os resultados do ser- em pequenos grupos (PIAGET, 1973b).
viÁo prestado por Srv, e o processo de troca
È essa seq¸Íncia de operaÁıes. TambÈm se Assim, define-se troca em ambiente
trata de um modelo simples, porÈm com utili- computacional como qualquer seq¸Íncia de
zaÁ„o mais especÌfica em funÁ„o de seu maior operaÁıes realizada por dois agentes, que
detalhamento. tenha uma das formas b·sicas mostradas
nos diagramas de seq¸Íncias da Figura 2.
4.2 Um modo de aplicar os valores de tro-
Denomina-se de troca do tipo produtor-con-
ca qualitativos às trocas em ambientes
sumidor qualquer troca que siga o padr„o
computacionais
Prd-Cns da Figura 2, porque a seguinte in-
A partir da descriÁ„o dos tipos de tro- terpretaÁ„o È possÌvel para a sua seq¸Ín-
cas analisados por Piaget (1973b), È possÌ- cia de operaÁıes:
84
INFORMÁTICA NA EDUCAÇÃO:
teoria & prática
85
INFORMÁTICA NA EDUCAÇÃO:
teoria & prática
4 Note-se que È possÌvel que uma troca inicie pelo ciclo II, quando ent„o o agente A, que a inicia no papel de cliente,
adquire uma dÌvida em relaÁ„o ao agente B que lhe atende a requisiÁ„o, dÌvida que ser· paga atravÈs de um clico I,
iniciado pelo prÛprio A, ou por um ciclo II, iniciado por B.
86
INFORMÁTICA NA EDUCAÇÃO:
teoria & prática
87
INFORMÁTICA NA EDUCAÇÃO:
teoria & prática
88
INFORMÁTICA NA EDUCAÇÃO:
teoria & prática
ReferÍncias
BEHAR, P. Análise Operatória de Ferramentas Computacionais de Uso Individual e Coletivo.
Porto Alegre: CPGCC/UFRGS, 1998. (Tese. Doutorado).
COSTA, A. C. da R.; DIMURO, G. P. Uma Estrutura Formal Normativa para Sistemas Computacionais.
In: Oficina de InteligÍncia Artificial, 6., Pelotas. Anais... Pelotas: UCPel, 2002, p.77-83. DisponÌvel em:
< http://gmc.ucpel.tche.br/valores >
PIAGET, J. Ensaio sobre a Teoria das Valores Qualitativos em Sociologia Est·tica (ìSincrÙnicaî).
PIAGET, J. In: Estudos Sociológicos. S.l : s.e., 1973a. P.114-163.
___. Études Sociologiques. GenËve: Droz, 1965.
___. Estudos Sociológicos. Rio de Janeiro: Forense, 1973b.
___. A explicaÁ„o em sociologia. PIAGET, J. Estudos Sociológicos. 1973c. P.17-113.
___. Genetic logic and sociology. PIAGET, J. Sociological Studies. 1995. P.184-214.
___. Introduction a l’Épistémolgie Génétique. Paris: Presses Universitaires de France, 1950.
___. Ensaio de Lógica Operatória. Porto Alegre: Globo, 1973d.
___. As operaÁıes lÛgicas e a vida social. PIAGET, J. Estudos Sociológicos. 1973e. P.164-196.
___. As relaÁıes entre a moral e o direito. PIAGET, J. Estudos Sociológicos. 1973f. P.197-231.
___. Sociological Studies. London: Routlege, 1995.
___. Ensaio sobre a teoria dos valores qualitativos em sociologia est·tica (ìSincrÙnicaî). PIAGET, J. In:
Estudos Sociológicos. Rio de Janeiro: Forense, 1973b P.114-163.
RIBEIRO, L. O. Evidências de Reciprocidade Normativa num Ambiente Virtual de Aprendizagem
na Formação de Professores para EAD. Porto Alegre: PGIE/UFRGS, 2003. (Trabalho da Disciplina
de InteligÍncia Artificial Construtivista 2002/2) DisponÌvel em:< http://gmc.ucpel.tche.br/valores>.
RODRIGUES, M. R.: COSTA, A . C. da R.; BORDINI, R. H. A system of eschange values to support
social interactions in artificial societies. In: Autonomous Agentes and Multiagent Systems –
AAMAS 2003, Melbourne, July 2003a.
RODRIGUES, M. R.; COSTA, A . C. da R. Using qualitative exchange values to improve the modelling
of social interactions. In: Multiagent Based Simulation – MABS 2003, Melbourne, July 2003b.
89
INFORMÁTICA NA EDUCAÇÃO:
teoria & prática
90