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RESUMO
A relação língua e tecnologia é complexa, no sentido de que a própria língua é uma
tecnologia biológica e artefatual. Há muita fisiologia envolvida no desenvolvimento da
linguagem, o que possibilitou aos humanos desenvolverem poderosos dispositivos para a
comunicação, desde o alfabeto até os smartphones, língua e tecnologia desenvolvem-se com
o objetivo de construir, armazenar e comunicar o conhecimento e o produto da interação
social dos indivíduos. Nesta relação epistemológica, estão entrelaçados o ensino e os métodos
de ensino de línguas, que contam com as tecnologias de linguagem e comunicação, para
superar as limitações de tempo e espaço, permitindo que, em um ambiente de intersecção, tão
virtual quanto a própria linguagem, se façam os constructos de conhecimentos
multidisciplinares. Este projeto busca investigar esta relação (língua/tecnologia), na
perspectiva do ensino/aprendizagem de línguas em sua condição natural, virtual e artefatual.
Palavras-chave: Língua. Tecnologia. Ensino. Biologia. Artefato.
ABSTRACT
TECHNOLOGY AND LANGUAGE TEACHING
The relationship between language and technology is complex, in the sense that language
itself is a biological and artefactual technology. There is a lot of physiology involved in the
development of language, which has made it possible for humans to develop powerful
devices for communication, from the alphabet to smartphones, language and technology are
developed with the aim of building, storing and communicating knowledge and the product
of social interaction between individuals. In this epistemological relationship, language
teaching and teaching methods are intertwined and rely on language and communication
technologies to overcome the limits of time and space, allowing, in an intersection
environment, so virtual as the language itself, to make constructs of multidisciplinary
knowledge. This project aims to investigate this relationship (language/technology), from the
perspective of language teaching/learning in its natural, virtual and artifactual condition.
Keywords: Language. Technology. Teaching. Biology. Artifact. Complexity.
COMPLEXIDADE, SISTEMAS ADAPTATIVOS COMPLEXOS E LÍNGUAS
Para tanto, Morin (2005) revisita a teoria sistêmica, que considera como uma associação
combinatória de elementos diferentes, e explora as características dos sistemas abertos, que
são influenciados e se auto-organizam mediante o ambiente, e os sistemas fechados, que não
disporiam de fonte energética ou material externo a si próprios. Entretanto, propõe que os
sistemas abertos, em analogia com a cibernética, devem ser capazes do efeito de
auto-organização, pois, fundamentam-se em um desequilíbrio alimentador orientado pelo
ecossistema, ou ambiente, integrando a teoria dos sistemas (abertos ou fechados) com a
complexidade.
Dessa forma, a complexidade nos permite situar o universo físico e o universo biológico,
assegurando comunicação entre todas as partes do que chamamos de realidade, esgarçando o
conceito de informação comunicacional, para o conceito de informação organizacional e
organizadora, rompendo o paradigma disciplinar separatista, redutor e simplificador ao
trançar os elementos da informação e do conhecimento como fundamentais e comunicantes
entre si.
A noção de sistemas abertos e complexos reúne o mundo e o sujeito, que emergem juntos e
que, do ponto de vista sistêmico e cibernético, tem traços comuns, apenas, incluídos nas
máquinas: finalidade, programa, comunicação, etc, atribuindo aos sistemas dotados da
capacidade de auto-organização, a qualidade da consciência de si (MORIN, 2005).
Estabelece, assim, relação entre o sujeito e objeto; e, entre sistema auto-organizador e
ecossistema, paralelamente.
a. O ponto de vista que, nos situando no ecossistema natural, nos incita a examinar os
caracteres biológicos do conhecimento: esta biologia do conhecimento diz respeito
evidentemente às formas cerebrais a priori constitutivas do conhecimento humano, e
também seus modos de aprendizagem através do diálogo com o meio ambiente;
b. O ponto de vista que nos situa no nosso ecossistema social aqui e agora, o qual produz
determinações/condicionamentos ideológicos de nosso conhecimento.
E, a partir dessa abertura epistemológica, a teoria dos sistemas abertos postula uma
hipercomplexidade que permite a superação de um sistema e constituição de um
1
N. Bohr. Luz e vida, Congresso Internacional de Terapia pela Luz. 1932.
metassistema, ele mesmo, superável, uma vez que não há a finalização do conhecimento nos
aspectos da complexidade. Essa ciência nova pressupõe uma unidade científica que relaciona
as áreas do saber, o sujeito e o objeto, mantendo e valorizando a unidade e a diversidade de
forma integrada. E por serem os sistemas abertos, a informação não é reduzida à matéria e a
energia, apenas, mas é um suporte para a organização, criatividade e inventividade, ou seja, o
ser sujeito dotado de capacidade de auto-organização implica na compreensão de que há
padrões, mas, que estes são constituídos de singularidades, e diante de singularidades
imprevisíveis, a autonomia do indivíduo é, de forma complexa, dependente de programas
culturais e sociais, como a linguagem, por exemplo.
Para o pensamento complexo de Morin, toda ação constitui-se em um desafio que requer
estratégias, porque toda intenção posta em andamento, entrará no campo das interações com
o meio ambiente em seu trajeto. A ação pressupõe complexidade, pois o desafio de pôr em
prática uma intenção requererá estratégias, e estas, estão ligadas às incertezas resultantes das
interações com o externo, e, ao acaso de forma diversa. Sistematicamente, no campo do
sujeito dotado de capacidade de auto-organização, o acaso poderá ser utilizado em seu favor.
Ou seja, no campo da estratégia/ação/desafio, não podemos reduzir o acaso apenas a o fator
negativo, é também a chance que se deve aproveitar.
Uma organização, uma empresa, a máquina social são sistemas abertos, mas, não estão
dispostos ao acaso. Eles são organizados em função de um roteiro, de uma unidade sintética
onde cada parte contribui para o conjunto.
Nesse sentido, a sociedade é produzida pelas interações dos indivíduos que a constituem.
A própria sociedade, como um todo organizado e organizador, retroage para produzir os
indivíduos pela educação, a linguagem e a escola. Assim, os indivíduos, em suas interações,
produzem a sociedade, que produz os indivíduos que a produzem, e a informação e o
conhecimento desempenham papel central na organização (auto-eco-organização) dos
sistemas chamados abertos, ou seja, os seres vivos.
Ao citar a famosa frase de Shakespeare: ”Há mais coisas no céu e na terra que em toda
vossa filosofia”, Morin (2005) trata do conhecimento científico como uma “aventura da
inteligência humana”, que trouxe o conhecimento; mas, critica as barreiras disciplinares e o
reducionismo que separaram (mutilaram) a ciência da filosofia, o sujeito do objeto e a ciência
da sociedade. A teoria dos sistemas complexos e o paradigma da complexidade borram as
fronteiras, integrando simplicidade e complexidade no sentido de que para esta teoria, a razão
evolui, enquanto parte constituinte dos sistemas adaptativos.
2
Tradução livre feita pelo autor.
desenvolvimento linguísticos surgem com as experiências adaptativas de uso da língua
(LARSEN-FREEMAN; CAMERON, 2008).
De acordo com Beckner et al. (2009), três fenômenos demonstram que mudanças
cognitivas ocorrem em resposta ao uso da língua e contribuem para a formação gramatical, a
saber:
A mudança nas línguas acontecem gradualmente via interações locais, porém, a trajetória
dessas mudanças obedecem a padrões similares, como o da gramaticalização. Esse processo
resulta da repetição em inúmeros eventos discursivos, nos quais, elementos ou sequências de
elementos passam a ser automatizados do ponto de vista neuromotor, redução fonética e
mudança no significado.
Esse processo se complexifica quando há interação entre uma primeira e uma segunda
língua, uma vez que:
a) O uso leva à mudança: o uso de alta frequência de itens gramaticais leva à sua fusão
fonológica;
d) Aprendizagem afeta o uso: (i) quando uma língua é aprendida de forma naturalística
por adultos, o resultado geralmente é uma variação básica de interlinguagem, de baixa
complexidade gramatical, mas, alta efetividade comunicativa; (ii) quando há esforços
para promover correção gramatical, o estado de atractor da variação muda a dinâmica
de elementos do sistema, resultando na mudança no uso da língua.
Dessa forma, as pesquisas sobre língua como sistema adaptativo complexo consistem de
estudos sobre a mudança das línguas, o uso das línguas, a aquisição das línguas e a
modelagem computacional desses aspectos.
A língua existe tanto no nível individual, como idioleto, quanto no nível social de forma
interdependente, portanto não há um falante ideal de uma língua e a diversidade das línguas
numa perspectiva complexa é intrínseca, exercendo papel dinâmico e adaptativo no sistema
de forma contínua. Esse processo não é linear e apresenta fases de transição no
comportamento do sistema que depende de uma estrutura em redes de interação social,
partindo do nível local (LARSEN-FREEMAN; CAMERON, 2008).
CONSIDERAÇÕES FINAIS
línguas e a prática linguística social. Ou, ainda, a concepção equivocada de que não
há coexistência no campo das variações linguísticas, nem que possa haver switch
entre variantes, ao mesmo tempo que não é fator componente no ensino de línguas
em que se dá a comunicação.
linguagem. Da escrita a caneta até a digitação por voz, com auto preenchimento e
do sujeito não tem como cenário um meio ambiente estável. De acordo com Morin
comportamentos, pois a vida social exige que nos comportemos como máquinas
triviais. Nossas sociedades são máquinas não triviais no sentido de que é preciso
inventar estratégias para crises, isso envolve abandonar soluções que resolviam
CAMERON, 2008).
século 18, vimos sua descrição se expandir durante a pandemia para incluir ainda
criativa dos professores. Ainda que com a infraestrutura deficiente do setor público,
se sentem seguros de que cabe a eles gerenciar a integração e que a mesma não
representa ameaça aos seus postos de trabalho. Antes disso, representam uma tão
culturais.
de aula exercem para dar acessibilidade aos participantes com algum tipo de
deficiência.
que todo e qualquer conteúdo de ensino passará pelo tratamento do texto, com
pilares estabelecidos pela UNESCO para a educação do século 21: aprender a ser,
como ser social e individual que está em constante aprendizagem e que além do
função organizadora.
em cada indivíduo” na sua linguagem, seu saber e seus costumes. (MORIN, 1999).
evolução biológica.
Para demonstrar o caráter efêmero da informação e do conhecimento, Morin
da ética, uma vez que não desconsideramos que toda prática social envolve seres
dessa máquina biológica, devemos estar atentos para lidar com as incertezas
humanidade.
REFERÊNCIAS
BECKNER, C.; BLYTHE, R.; BYBEE, J.; CHRISTIANSEN, M.; CROFT, W.; ELLIS, N.;
HOLLAND,J.; KE, J.; LARSEN-FREEMAN, D.; SCHOENEMANN, T. Language is a
Complex Adaptive System: Position Paper. Language Learning, Michigan, v. 59, n. 1, p.
1-26, Dec. 2009.
PAIVA, Vera Lúcia Menezes de Oliveira. Aquisição de Segunda Língua. São Paulo:
Parábola, 2014. ISBN 978-85- 7934-093-2.
LEFFA, V.J. Gamificação adaptativa para o ensino de línguas. In: Congresso Ibero-
Americano de Ciência, Tecnologia, Inovação e Educação. Buenos Aires. Anais, 2014, p.
1-12.