Você está na página 1de 2

Em atenção aos fatos veiculados em sites de notícias, veículos de comunicação e

grupos de aplicativos de mensagens, segue abaixo a “Nota de Esclarecimento” da


Promotora de Justiça de Igarapé-Açu, Marcela Christine Ferreira de Melo, sobre as
providências adotadas quanto a evento programado no Município sobre o Dia
Internacional da Mulher.

NOTA DE ESCLARECIMENTO

Em face da repercussão do ofício da lavra da Promotoria de Justiça em que


atuo, e da necessidade de prestar esclarecimento à população de Igarapé-açu, a qual,
nestes quase 3(três) anos me foi atribuído o dever de resguardar os direitos, me sinto
também no dever de informar que na data de ontem 02/03/2021, realizei atendimento
presencial na Promotoria de Justiça de Igarapé-açu, da Secretária de Assistência Social de
Igarapé-açu, ROSILDA MENEZES DE SOUZA, recém empossada no cargo, e sua
assessora, onde me comunicaram a agenda da semana dos eventos em alusão ao Dia
Internacional da Mulher.

Verifiquei, logo de início que, o material de propaganda do evento trazia o


símbolo do braço levantado e punho cerrado, vinculado ao município de Igarapé-açu - ao
lado do símbolo do município e com o nome da cidade bem acima do punho cerrado. De
imediato informei que pelos princípios constantes no art. 37, caput e ss da Constituição
Federal, quais sejam o da Impessoalidade na Administração Pública, mais especificamente,
e o Princípio da Igualdade e da Moralidade, não era permitido vincular ao município
símbolos de movimentos sociais, partidos políticos ou movimentos ativistas, visto que a
administração de Igarapé-açu deveria, segundo a Lei, ter caráter universal, ser para todas
as pessoas, de modo inclusivo, abrangendo todos os cidadãos independente de raça, credo,
partido, etc…e com a adoção do citado símbolo, estaria adotando postura excludente, visto
que tal fato poderia constranger partidos de oposição, ou grande parte da população que
não é vinculada a nenhum destes movimentos políticos ou sociais.

Após termos suscitado e explicado a finalidade do princípio da


igualdade/impessoalidade na Administração, a Secretária e sua assessora, concordaram
com as justificativas, mas informaram que já haviam comprado vasto material de
propaganda do evento, como camisas, máscaras e alcóol em gel, que já traziam o dito
símbolo vinculado ao município. Neste momento, passamos ao segundo questionamento,
acerca da necessidade de tais gastos, em um período crítico, de Pandemia, em que a
necessidade seria evitar gastos despiciendos, que não fossem essenciais, concentrando-os
na área da saúde e em salvar a vida dos munícipes, que sequer possuem atendimento
adequado, muitas vezes por falta de recursos públicos, de modo que afirmamos que
improbidade não abrangia somente atos de corrupção propriamente ditos, mas também atos
de má gestão de recursos, o que deveria demandar ainda mais atenção em razão da
situação da doença COVID-19 em nosso Estado.

Em razão dos fatos narrados, requisitamos informações tanto ao Prefeito


Municipal, quanto à própria Secretária, para que informassem e justificassem a utilização do
símbolo – que é de conhecimento público e notório, vinculado a partidos de esquerda, ideias
marxistas, comunistas, etc…, e ainda movimentos sociais, bastando uma simples
1

Ministério Público do Estado 4006-3400 (Geral)


Rua João Diogo, 100] atendimento@mppa.mp.br
66.015-165 www.mppa.mp.br
navegação no google para verificar – violando princípios da Igualdade e da Impessoalidade,
que devem nortear a administração pública, no prazo de 48 (quarenta e oito) horas,
considerando a proximidade do evento alusivo ao Dia Internacional da Mulher, em que
seriam distribuídos diversos “brindes” à população, e ainda foi requerida cópia do
procedimento administrativo da aquisição destes diversos produtos, que estão e seriam
entregues a título de brindes, para acompanhar a legalidade, e principalmente a moralidade
da compra, realizada em momento de Pandemia.

Entretanto, infelizmente, os fatos que ensejaram a atuação desta Promotora


de Justiça, que no uso de suas atribuições visa atender indistintamente aos preceitos
constitucionais, e ainda resguardar recursos necessários à saúde neste momento crítico,
foram mal interpretados por algumas pessoas, desagradando parcela da sociedade
integrante dos ditos partidos e movimentos, aos quais o símbolo representa. Neste aspecto,
com tranquilidade de consciência e atuação, afirmo que o exercício da atribuição ministerial
não é agradar a grupos ou parcelas da sociedade, descumprindo a lei, mas está previsto de
forma expressa no art. 127, caput, da Constituição Federal que é nosso papel, enquanto
Ministério Público, a defesa da ordem jurídica, do regime democrático e dos interesses
sociais e individuais indisponíveis, garantindo os direitos da Sociedade, como um todo.

Certamente, a reação de tais defensores do questionado símbolo, seria


diversa se ao invés deste slogan a Prefeitura tivesse adotado como símbolo uma “arminha
feita com as mãos”, ou quaisquer exemplos alusivos a partidos ou movimentos de oposição.
Não seria sem razão a sua indignação, e do mesmo modo tais símbolos são vedados a
estarem vinculados à administração pública. Neste raciocínio, o símbolo vinculado à
Prefeitura de Igarapé-açu por ocasião do ato em alusão ao Dia Internacional da Mulher, na
compreensão desta Promotora de Justiça, do mesmo modo, viola princípios constitucionais
da impessoalidade, da igualdade e da moralidade.

Ressalta-se que tal discussão, não é única em nosso Estado, já que em


alguns outros Estados do país, a exemplo, no Estado de São Paulo, já existem diversas
ações contra a adoção, do mesmo símbolo da mão estendida, e punho cerrado, em vários
semáforos pela cidade, sob a justa alegação de que também viola os princípios da
Legalidade e da Impessoalidade. Lá, como aqui, criou-se grande discussão acerca do
assunto, e o debate sadio, construtivo, em torno de ideias, é sempre bem-vindo, entretanto
reputo inadimísseis, no Estado Democrático de Direito, que tanto afirmam defender, as
agressões pessoais, argumentos parciais, e de autoridade, isto não contribui em nada para
o debate jurídico-científico, e para a evolução do país.

Por fim, declaro que cumpri os princípios constitucionais conforme estão


dispostos, primando pelo direito de todos, de toda a Sociedade, e não de classes, partidos,
ou movimentos. Honrei, como de costume, a Sociedade de Igarapé-açu, sem intenção
alguma de ofender quem quer que fosse, e encerro esta resposta com uma pergunta, que
infelizmente tem sido recorrente em nossos dias: “que tempos são esses em que temos que
defender o óbvio?” Vale a pena a reflexão.

Marcela Christine Ferreira de Melo


Promotora de Justiça de Igarapé-açu
2

Ministério Público do Estado 4006-3400 (Geral)


Rua João Diogo, 100] atendimento@mppa.mp.br
66.015-165 www.mppa.mp.br

Você também pode gostar