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Pós-Graduação em Ciência da Informação e Documentação – ECA/USP – 1º sem.

/2004

TEXTO ORIGINAL
BUCKLAND, M.K. Information as thing. Journal of the American Society for Information Science
(JASIS), v.45, n.5, p.351-360, 1991.
TRADUÇÃO LIVRE DE LUCIANE ARTÊNCIO
Informação como coisa

Michael K. Buckland aprendizado prático. Podemos visualizar um


School of Library and Information Studies, University panorama e procurar identificar grupos de
of Califórnia, Berkeley, CA 94720 usos do termo “informação”. As definições
podem não ser completamente
Três significados de “informação” são satisfatórias, os limites entre esses usos
distinguidos: “Informação-como-processo”;
podem ser confusos e ate uma abordagem
“informação-como-conhecimento”; e
“informação-como-coisa”, o uso atribuído a pode não satisfazer qualquer dos
“informação” para denotar coisas entendidas significados determinados como o correto
como informativas. A natureza e características sentido do termo “informação”. Mas os
da “informação-como-coisa” são discutidas, principais usos podem ser identificados,
utilizando uma aproximação indireta (“Que classificados e caracterizados, ai sim algum
coisas são informativas?”). Variedades de progresso poderá ser alcançado. Usando
“informação-como-coisa” incluem dados, textos, essa abordagem podemos identificar 3
documentos, objetos e eventos. Nesse ponto de principais usos da palavra “informação”
vista “informação” inclui comunicação mas (1) Informação-como-processo:
ainda vai além. Qualquer que seja o sistema de
Quando alguém é informado,
armazenamento e recuperação da informação
necessita da “informação-como-coisa”. Estes
aquilo que conhece é
três significados de “informação”, junto com o modificado. Nesse sentido
“processamento da informação”, oferece uma “informação” é “o ato de
base para a classificação de atividades de informar...; comunicação do
informação relacionadas com atividades conhecimento ou “novidade” de
diferentes (ex., retórica, recuperação algum fato ou ocorrência; a
bibliográfica, análise estatística) e, desse modo, ação de falar ou o fato de ter
define um campo para a “ciência da falado sobre alguma coisa”
informação”. (Oxford English Dictionary,
1989, v.7, p.944).
(2) Informação-como-
INTRODUÇÃO: A AMBIGUIDADE DO TERMO conhecimento: “Informação” é
“INFORMAÇÃO” também usado para denotar
aquilo que é percebido na
Uma exploração do termo “informação” “informação-como-processo”: o
leva a dificuldades imediatas. Desde que “conhecimento comunicado
informação seja entendida como estar referente a algum fato
informado, como a redução da ignorância e particular, assunto, ou evento;
da incerteza, é irônico que o termo aquilo que é transmitido,
“informação” seja ambíguo e usado de inteligência, noticias” (Oxford
diferentes maneiras. (Para uma concisa e English Dictionary, 1989, v.7,
conveniente introdução às variedades de p.944). A noção de que
sentido do termo “informação” e alguns informação é aquela que reduz
termos relativos (veja Machlup, 1983); a incerteza poderia ser
Schlader (1983); Wellisch (1972); Nato entendida como um caso
(1974, 1975, 1983), Wersig and Neveling especial de “informação-como-
(1975). Encarando a variedade de sentidos conhecimento”. Às vezes
que o termo “informação” carrega, informação aumenta a
podemos, no mínimo, ganhar um incerteza.
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(3) Informação-como-coisa: O dispensar o termo “informação-como-coisa”


termo “informação” é também até que seja usualmente compreendido
atribuído para objetos, assim como o significado de “informação”. De
como dados para documentos, fato, a linguagem evolui e com a expansão
que são considerados como da informação tecnológica, a prática de
“informação“, porque são relacionar comunicação a bases de dados,
relacionados como sendo livros, e a semelhança com “informação”
informativos, tendo a qualidade parece ter se transformado usual, e talvez,
de conhecimento comunicado uma fonte significante de símbolos e de
ou comunicação, informação, objetos simbólicos seja facilmente
algo informativo. (Oxford confundido com o significado de símbolo.
English Dictionary, 1989, v.7, Portanto, “informação-como-coisa”,
1946). qualquer que seja o nome, tem um
interesse especial relacionado a informação
Uma característica chave da “informação- de sistemas, porque sistemas de
como-conhecimento” é que é intangível: informação incluem “sistemas específicos” e
não se pode tocá-la ou medi-la, de modo sistemas de recuperação podem relacionar-
algum. Conhecimento, convicção e opinião se diretamente com informação nesse
são atributos individuais, subjetivos e sentido. O desenvolvimento de regras para
conceituais. Entretanto, para comunicá-los, esboçar inferências sobre informação
eles tem que ser expressos, descritos ou armazenada nessa área é de interesse
representados de alguma maneira física, prático e teórico. Mas essas regras operam
como um sinal, texto ou comunicação. sobre e somente em “informação-como-
Qualquer expressão, descrição ou coisa”.
representação seria “informação-como-
coisa”. Iremos discutir essas implicações a O propósito dessa avaliação de
seguir. “informação-como-coisa” é:
(1) Esclarecer seu significado em
Alguns teóricos têm desaprovado o uso do relação a outros usos do termo
termo “informação” para denotar uma coisa “informação”;
no terceiro sentido acima citado. Wiener (2) Estabelecer a regra fundamental
assegura que “Informação é informação, de “informação-como-coisa” no
não um material e nem energia.” Machlup sistema de informação; e
(1983, p.642), que restringiu informação ao (3) Especular o possível uso da
contexto da comunicação, rejeitou noção de “informação-como-
informação sob o terceiro sentido coisa” trazendo ordem teórica a
(informação-como-coisa): “O nome campos heterogêneos, mal-
‘informação’ tem essencialmente dois ordenados associados com a
tradicionais sentidos... Aquilo que (1) “ciência da informação”.
informe sobre algo ou (2) que esteja sendo
informado são também analogias e A distinção entre intangíveis (conhecimento
metáforas ou resultado de uma trama para e informação-como-conhecimento) e
a desculpa da apropriação de uma palavra tangíveis (informação-como-coisa) é
que não tem sentido para os novos fundamental para o que se segue. Se você
usuários.” Faithorne (1954) opôs-se pode tocar ou medi-lo, não é
desdenhosamente à informação como conhecimento, mas deve ser alguma coisa
“coisa”: “’informação’ é um atributo do física, possivelmente informação-como-
conhecimento recebido e interpretação do coisa. (Essa distinção pode estar superada.
sinal, não do remetente...” Conhecimento pode tranqüilamente ser
representado no cérebro como algo
Entretanto, a linguagem possui suas tangível, de modo físico. Entretanto, para
limitações e nós dificilmente podemos os presentes propósitos, diferenciar

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logicamente conhecimento de como-conhecimento). Mas o significado, no


armazenamento artificial de informação entanto, que é manipulado e
parece razoável e útil. Avaliações operacionalizado, que é armazenado e
acadêmicas testam habilidades individuais recuperado, é a informação física
de responder a perguntas ou resolver (informação-como-coisa). Nessas
problemas, o que se presume que produza definições, não pode existir algo como um
medidas indiretas do que eles sabem. Mas sistema específico de “conhecimento
essa não é a questão). Conhecimento, fundamentado” ou um sistema de “acesso
entretanto, pode ser representado, ao conhecimento”, somente sistemas
simplesmente como um evento que pode baseados em representações físicas de
ser filmado. Entretanto, a representação conhecimento.
nada mais é que conhecimento assim como
o filme é o evento. Qualquer outra Essa discussão introdutória pode
representação é necessária em sua forma compreender até quatro elementos:
tangível (código, sinal, dados, texto, filme, processo de informação, o manuseio, a
etc.) e somente representações do manipulação, e a derivação de várias
conhecimento (e de eventos) são formas de informação-como-coisa. (Poderia
necessariamente “informação-como-coisa”. se considerar o processo de se tornar
informado como um tipo de processo de
Informação-como-coisa é de interesse informação, mas, para diminuir a confusão,
especial no estudo de sistemas de preferimos separar e eliminar informação-
informação. É com informação nesse como-processo do alcance de
sentido que sistemas de informação lidam processamento da informação mental).
diretamente. Bibliotecas tratam com livros,
bases de computadores em sistemas de Desse modo nossa discussão poderia se
informação manipulam dados na forma resumir em termos de duas distinções: (1)
física de bits e bytes; museus trabalham entre entidades e processos; e (2) entre
diretamente com objetos. Pode ser que a intangíveis e tangíveis. Tomados em
intenção seja a de que usuários tornem-se combinação, esses dois campos diferentes
bem informados (informação-como- apresentariam 4 aspectos diferentes de
processo) e o resultado desse processo informação e sistemas de informação. Ver
poderia ser conhecimento (informação- Fig. 1.

INTANGIVEL TANGIVEL
Entidade 2. 3. Informação-como-coisa
Informação-como-conhecimento Dados, documentos
Conhecimento
Processo 1. 4. Processo da informação
Informação-como-processo Processamento de dados
Tornando-se informado
Fig1: Quatro aspectos da informação

por quais objetos as pessoas seriam


Um aprendizado oposto: O que é informadas. As pessoas dirão que são
informativo? informadas por uma imensidão de
variedades de coisas, como mensagens,
Ao invés da tarefa tediosa de rever objetos dados, documentos, objetos, eventos, uma
candidatos e perguntar se são ou não são vista pela janela, por qualquer tipo de
considerados exemplos de informação- evidencia. Esse fenômeno foi reconhecido
como-coisa, podemos reverter o processo e por Brookes (1979, p.14): “Nas ciências
pedir as pessoas para identificar ou calcular têm-se reconhecido que a fonte primária da

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informação não é a literatura das ciências, corretamente compreendido possa mudar


mas sim a observação relevante do um saber, uma crença, que diga respeito a
fenômeno natural”. Cientistas (e outros) algum assunto.
encontram “sermões nas pedras e livros
nas corredeiras de riachos.” Como Portanto, o termo “evidência” implica
poderíamos identificar esses candidatos a passividade. Evidência, assim como
serem considerados como informação? informação-como-coisa não faz nada
(Note que estamos restringindo nossa ativamente. Seres humanos fazem coisas
atenção a coisas físicas e eventos físicos. com a informação ou para a informação.
Algumas pessoas poderiam dizer que Examinam, descrevem, e categorizam.
alguns de seus conhecimentos vêm de Compreendem, interpretam bem ou mal,
buscas parafísicas, notadamente de resumem ou refutam. Podem até falsificá-
inspiração divina. Outras negariam la, alterá-la, escondê-la ou destruí-la. A
qualquer fonte não-física de informação, essência da evidência é precisamente o que
mas para que ela possa existir, a ciência da a percepção das pessoas pode alterar
informação seria incompleta se isso fosse aquilo que acreditam que sabem.
excluído. Não sabendo o que dizer sobre
esses assuntos notamos essa suposição Definições de “evidência” nos dicionários
como uma possível área de interesses incluem: “Uma aparência de que inferências
incomuns dentro da ciência da informação). podem ser esboçadas; uma indicação,
marca, sinal, fala, traço ... Base para a
Informação como evidência crença, teste ... ou fatos possíveis de
provar ou negar alguma conclusão ...
É possível aprender através do exame de Informação, quer na forma de testemunho
vários tipos de coisas. Na seqüência desse pessoal, na linguagem dos documentos, ou
aprendizado, textos são lidos, números são na produção de objetos materiais, que é
calculados, objetos e imagens são dada numa investigação legal.” (Oxford
examinados, tocados ou percebidos. Num English Dictionary, 1989, v.4, p.469). Se
determinado aspecto a informação é usada alguma coisa não pode ser vista como
como evidência do aprendizado – como evidência, então é difícil entender que
base para a compreensão. Conhecimento e possa ter alguma relação com a
opiniões são afetados pelo que se vê, lê, informação. Se tiver um valor no sentido de
ouve e experimenta. Livros de exercícios e informação, então poderia ser tomada
enciclopédias fornecem material para uma como evidência de alguma coisa.
introdução; textos literários e comentários “Evidência” parece ser próxima o bastante
são fonte para o estudo de língua e ao sentido de informação-como-coisa
literatura; séries de dados estatísticos considerando o seu uso como um sinônimo
fornecem dados para cálculo e inferência; quando, por exemplo, descreve objetos de
códigos de direito indicam a lei; fotografias museus como “evidências de peças
mostram pessoas, lugares e eventos; autênticas da história da natureza e
citações e fontes são verificadas. Em cada sociedade.” (Schreiner, 1985, p.27).
caso é razoável vislumbrar informação-
como-coisa como evidência, embora sem Uma área na qual o termo evidência é
implicar que o que foi lido, visto, ouvido ou muito usado é o Direito. Muito do que se
percebido ou observado tenha sido entende com por qual evidência – qual
necessariamente exato, útil ou pertinente informação – pode apropriadamente ser
aos propósitos do usuário. Não há garantias considerado num processo legal. Não é
de que o que o usuário acreditou (ou suficiente que a informação possa ser
deveria) ou concordou com o que foi pertinente. Deve também ser
observado. “Evidência” é um termo disponibilizada de forma socialmente aceita.
apropriado porque denota algo relacionado Entretanto, colocando a parte tais pontos
à compreensão, algo que, se encontrado e na explanação de evidência e perguntando

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o que evidência realmente significa em em usar “dado” para denotar informação


Direito, entenderemos que corresponde numérica e usar texto para denotar
proximamente ao modo como a estamos linguagem natural em qualquer meio.
usando. No Direito inglês, evidência pode
incluir a realização de experiências e a Confusões a mais resultam da tentativa em
verificação de lugares e é definida como: distinguir dois tipos de recuperação
“Primeiro, o significado independentemente baseados em duas suposições sobre “dado”
de argumentos e inferências, pelo qual a e “documento” : (1) a “recuperação de
corte é informada quanto à versão do fato dado” deveria significar a recuperação de
assim como apurado pela defesa; segundo, registros que alguém deseja consultar e
o assunto de interesse de tais significados”. “recuperação de documento” deveria
denotar referências a registros que alguém
poderia desejar consultar; e (2) que
Tipos de informação “recuperação de dados” poderia ser a
busca de “item conhecido”, mas que
Perseguindo a noção de informação como “recuperação de documento” poderia ser
evidência, bem como de coisas que podem uma “busca” para um item desconhecido
ser informativas, podemos examinar mais (van Rijsbergen, 1979, p.2; Blair, 1984). A
especificamente que tipos de coisas podem suposição anterior impõe uma velha
ser incluídos. definição em ambos os termos. A segunda
é ilógica e contrária à experiência prática
Dados (Buckland, 1988b, pp. 85-87). É sensato
“Dados” na forma plural da palavra Latina não assumir nenhuma distinção definitiva
“datum”, significa “coisas que podem ser entre dados, documento e texto.
dadas”. Isso é, portanto, um termo
aceitável para o significado de informação-
como-coisa que tenha sido processada de Objetos
alguma forma para uso posterior. A literatura em ciência da informação tem
Comumente “dados” denotam qualquer se concentrado limitadamente em dados e
registro armazenado em computador (Veja documentos como fontes de informação.
Machlup (1983, p.646-649) para uma Mas isso não é contrário ao senso comum.
discussão do uso e desuso do termo Outros objetos são também potencialmente
“data”). informativos. Quanto saberíamos sobre
dinossauros se nenhum fóssil tivesse sido
Textos e documentos encontrado? (cf. Orna e Petit (1980, p. 9),
Arquivos, bibliotecas, e escritórios são escrevem sobre museus: “No primeiro
dominados por textos: artigos, cartas, estágio, os objetos são o único repositório
formulários, livros, periódicos, manuscritos, de informação.”) Porque centros de
e registros escritos de vários tipos, em pesquisa reúnem variados tipos de coleções
papel, em microfilmes, e no formato e objetos se não esperam que estudantes e
eletrônico. O termo “documento” é pesquisadores aprendam a partir deles?
normalmente usado para denotar textos Qualquer universidade confiável,
ou, mais exatamente, objetos textuais. provavelmente mantém uma coleção de
Pode parecer sem sentido incluir imagens, rochas, um herbário de plantas
e até sons passiveis de conduzir algum tipo preservadas, um museu de artefatos
de comunicação, estética, inspiradora, humanos, uma variedade de ossos, fósseis,
instrumental, o que for. Nesse sentido, uma e esqueletos, e muito mais que isso. A
tabela de números pode ser considerada resposta é, certamente, que objetos não
texto, assim como um documento, ou um são documentos no senso comum assim
dado. Um texto que deve ser analisado como textos e não podem jamais ser fontes
estatisticamente poderia também ser de informação, informação-como-coisa.
considerada como dado. Há uma tendência Objetos são coletados, armazenados,

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recuperados, e examinados como escrita. O que então seria uma coleção de


informação, como princípio para se descrições de documentos ou
transformarem em informação. Alguém representações da pessoa, prédio, ou de
perguntaria sobre a completude de todo o outro objeto.
campo da informação, ciência da
informação, ou sistemas de informação que
não alcançou objetos bem como O que é um documento?
documentos ou dados. Ai nós, assim como
Wersig (1979), vamos além que Machlup Começamos usando uma classificação
(1983, p.645) quem, como Belkin e simples de fontes de informação: dado,
Robertson (1976), limitam informação documento, e objeto. Mas encontramos
àquilo que está intencionalmente dito: dificuldades se tentarmos ser rigorosos. O
“Informação compreende no mínimo duas que, por exemplo, é um documento? Um
pessoas: uma que fala (fala, escreve, livro impresso é um documento. Uma
imprime, assinala) e outra que escuta, lê, página manuscrita é um documento. Um
assiste.” Da mesma forma Heilprin (1974, mapa é um documento. Se um mapa é um
p.124) afirma que: “ciência da informação é documento, porque um mapa
a ciência da propagação do significado das tridimensional também não seria um
mensagens humanas”. Fox (1983) mantém documento. Porque um globo também não
uma visão especifica, examinando poderia ser considerado um documento já
informação e ruídos na informação que é, acima de tudo, a descrição física de
exclusivamente em termos de propostas. alguma coisa. Modelos antigos de
Brookes (1974), entretanto, foi menos locomotivas foram feitos com propósitos
restritivo: “Não vejo razão para que aquilo informacionais, não recreacionais. Se um
que é aprendido pela observação direta do globo, um modelo da terra, é um
desenvolvimento físico não deveria ser documento, porque não considerar também
considerada como informação assim como um modelo de locomotiva ou um navio
aquilo que é aprendido através da como um documento? O modelo é uma
observação de sinais num documento.” representação informativa do original. A
Wersig (1979) adotou uma visão mais locomotiva original ou navio, ou mesmo
limitada de informação como sendo uma réplica em tamanho real, deveria ser
derivada de três fontes: (1) “Gerada mais informativa que o modelo. “Alguns
internamente” pelo esforço mental; (2) manuscritos descrevem os três navios que
“Adquirida pela percepção pura” do trouxeram os colonos para a Virginia e não
fenômeno; e (3) “Adquirida pela tiveram o mesmo poder de representar
comunicação.” Entendemos “informação- aquela experiência que a reconstrução dos
como-coisa” como correspondente a duas navios tiveram.” (Washburn, 1964). Dessa
fontes apontadas por Wersig, ao fenômeno forma extrapolamos a habitual noção do
(2) e comunicações (3). que é um documento.

Alguns objetos informativos, assim como O significado apropriado de “documento”


pessoas e prédios históricos, simplesmente tem se relacionado com os cientistas da
não se destinam a serem colecionados, informação no movimento
armazenados, e recuperados. Mas a “documentalista”, buscando manter
locação física numa coleção não é sempre sistemas de fontes de informação desde o
necessária para o acesso continuado. começo deste século. O legado dos
Referência a objetos situados em seus documentalistas em usar “documento”
locais de origem criam, com efeito, uma como um termo genérico denota alguma
“coleção virtual”. Poderiam criar também fonte de informação física no lugar de
algumas descrições ou representações limitá-la a objeto-textual num específico
deles: um filme, uma fotografia, algumas meio físico como papel, papiro,
medidas, uma direção, ou uma descrição

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pergaminho, ou microforma. Otlet e outros phénomène ou physique ou


na documentação afirmam: intellectual” (Briet, 1951, p.7)). Nesse
(1) Aquela documentação (isto é, contexto objetos não são ordinariamente
informação armazenável e documentos mas se transformam em, se
recuperável) deveria ser processados com finalidades de fornecer
considerada como qualquer informação. Um antílope selvagem não
objeto potencialmente deveria ser considerado documento, mas
informativo; um novo espécime capturado que fosse
(2) nem todos os objetos estudado, descrito, e exibido num zoológico
potencialmente informativos não só se transformaria em documento,
seriam documentos no assim como “o antílope catalogado é um
tradicional senso de texto documento primário e outros documentos
impresso; e seriam secundários e dele derivados.
(3) todos os outros objetos (“L´antilope cataloguée est um document
informativos, tanto quanto initial et les autres documents sont
pessoas, produtos, eventos e secondsou dérivés”. (Briet, 1951, p.8).
objetos de museus, não Provavelmente só um documentalista
deveriam ser excluídos dedicado consideraria um antílope como
(Laisiepen, 1980). Ate aqui, um documento. Mas considerar qualquer
entretanto, exceto pela coisa tão informativa quanto o
contribuição de Wersig (Wersig, “documento” é consistir com as origens e o
1980), a ênfase é, na pratica, uso da palavra, que deriva do verbo Latim
nas formas de comunicação: docere, para aprender ou para informar,
dado, figuras, inscrições. com o sufixo “-ment” denotando
significado. Conseqüentemente
Otlet (1934, p.217), um dos fundadores da “documento” originalmente denota um
documentação, demonstrava a necessidade significado de aprendizagem ou
em definir “documento” e “documentação” informação, assim como uma lição, uma
(isto é, informação armazenável e experiência, ou um texto. Limitar a
recuperável) incluindo objetos naturais, compreensão de “documento” como
artefatos, objetos que denotassem objetos-texto é um entendimento posterior
atividades humanas, tanto objetos como (Oxford English Dicitionary, 1989, vol.4,
modelos construídos para representar p.916; Sagredo & Izquierdo, 1983, pp.173-
idéias, e trabalhos de arte, quanto textos. 178). Por conseguinte, até entre os
O termo “documento” (ou “unidade documentalistas, incluir qualquer outra
documentária”) foi usado tanto com o coisa que não seja objeto-texto na
sentido especializado quanto de termo recuperação da informação parece ocorrer
genérico para denotar coisas informativas. somente na discussão teórica, mas não na
Pollard (1944) observou que “Do ponto de prática (Rogalla von Bieberstein, 1975, p.
vista científico ou tecnológico o [museu] 12). Enquanto o problema semântico
objeto por si próprio tem um grande valor permanece: Qual termo genérico pode ser
assim como a sua descrição escrita e, utilizado para denotar coisas informativas,
portanto, do ponto de vista bibliográfico digamos, objetos de museu e outras
esse objeto deveria ser considerado como evidências, assim como os objetos-textos?
um documento.” Um documentalista Objetivando para o uso de “informação” ou
Francês definiu “documento” como de “documento” para esse propósito não
“qualquer indicação simbólica ou concreta, extingue a necessidade de um termo.
preservada ou gravada, para reconstrução
ou como prova de um fenômeno, seja ele Documentos mais representativos no uso
físico ou mental.” (“Tout índice concret ou convencional da palavra – cartas, livros,
symbholique, conservé ou enregistré, aux jornais, etc. – são compostos de texto.
fins de représenter ou de prouver un Poderiam incluir-se diagramas, mapas,

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figuras, e gravação de sons no sentido para uso futuro. Quanto diferente o estudo
amplo do termo “texto”. Talvez o melhor de história poderia ser! Eventos são (ou
termo para representar textos no senso podem ser) fenômenos informativos e
comum poderia ser “discurso”. Poderíamos assim deveriam ser incluídos em qualquer
também caracterizar esses textos como aprendizado completo em ciência da
“representações” de alguma coisa ou de informação. Na prática encontramos a
algo. Entretanto, dificilmente poderíamos evidência de eventos usados de três
considerar um antílope ou um carneiro diferentes maneiras:
como sendo “discurso”. Nem eles são (1) Objetos, que podem ser
representações no senso comum. Seus coletados ou representados,
valores como informação ou evidência podem existir como evidência
derivam daquilo que eles significam associada com eventos:
individualmente, ou talvez, sobre a classe mancha de sangue no carpete,
ou classes às quais pertencem. Nesse talvez, ou uma pegada na
sentido eles representam alguma coisa e, areia;
se não são uma representação, poderiam (2) Podem existir representações
ser considerados como representativos. Se do próprio evento: fotos,
um objeto não é representativo de alguma jornais, relatórios, memórias.
coisa, então não é correto afirmar que Tais documentos podem ser
possa significar alguma coisa, isto é, ser armazenados e recuperados; e,
informativo. também,
(3) Em alguns casos eventos
Alguém pode classificar objetos como podem ser criados ou re-
artefatos para constituir discurso (tais como criados. Nas ciências
livros), artefatos que não constituem experimentais, é de grande
discurso (assim como navios), e objetos importância que um
que não seriam objetos como tais (assim experimento – um evento –
como antílopes). Nada disso garante que seja designado e descrito de tal
qualquer um deles seja uma evidência, seja forma que possa ser
algo informativo. Nem garante que as reproduzido subseqüentemente
pessoas façam diferentes usos não por outros. Desde que um
previsíveis. Um livro pode ser utilizado evento não possa ser
como um peso para conter uma porta. armazenado e desde que a
Iluminuras podem funcionar como objetos avaliação dos resultados não
de decoração, mas têm sido consideradas seja mais do que rumores, a
como uma das maiores fontes de probabilidade de reprodução do
informação relativas a vestuário e utensílios experimento tanto quanto a
medievais. validade da evidência, da
informação, poder ser
“Signo natural” é o termo tecnicamente verificada é altamente
estabelecido em filosofia e semiótica para desejável.
coisas que são informativas, mas sem o
propósito comunicativo (Clarke, 1987; Eco, Considerando eventos como informativos e
1976). observando que, embora eventos não
possam ser recuperados, há algumas
chances de reproduzi-los, adicionando
Eventos outro elemento a completa extensão de
fontes de informação. Se a reprodução de
Também aprendemos com eventos, mas eventos é uma fonte de evidência, de
eventos prestam-se cada vez menos que informação, então não é irracional pensar
objetos para serem colecionados e em laboratório (ou outro) equipamento
armazenados em sistemas de informação usado para reproduzir um evento como

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sendo algo análogo aos objetos e língua inglesa de recuperação de


documentos que são usualmente informação favoráveis a uma aproximação
relacionados como fontes de informação. universal da informação e de sistemas de
Em quais sentidos interessa a resposta a informação (Bearman, 1989).
uma pesquisa obtida de um registro
armazenado em uma base de dados ou de
uma reprodução de um experimento? Qual Quando a informação não é
é a diferença significativa do uso de informação?
logaritmos entre o valor de logaritmo
extraído de uma tabela de logaritmos e o Mesmo se dispensássemos o argumento
valor do logaritmo calculado quando que informação falsa não é informação,
necessário? A questão pode ser a forma de poderíamos ainda perguntar o que não
comparação das duas, mas iria certamente poderia ser informação? Desde que seja
relacionar ambas como sendo igualmente evidência, seja informação, é uma
informação. Sem dúvida seria um qualidade atribuída a coisas, podemos
desenvolvimento lógico a tendência de uso perguntar que limites existem entre o que
de computadores e a expectativa da poderia ou o que não poderia ser
indefinição entre a distinção da informação. A questão deve ser refeita
recuperação de resultados de uma análise como “Que coisas não poderiam ser
antiga e a apresentação de resultados de atribuídas como informativas?” Já temos
uma análise atual. notado que uma grande variedade de
coisas poderiam ser consideradas como
Para incluir objetos e eventos, assim como informativas tanto que o limite é
dado e documentos como espécies de claramente extenso.
informação, adota-se um conceito mais
amplo do que é comum. Entretanto, se Podemos dizer que objetos que ninguém
estamos definindo informação em termos nota não podem ser informação, enquanto
do potencial para o processo de informar, nos apressamos em acrescentar que eles
isto é, como evidência, não haveria base podem vir a ser quando alguém os
adequada para restringir o que está transforma em algo notável. Não é
incluído nos dados e documentos como incomum inferir que alguns tipos de
alguns prefeririam, exemplo, definindo evidência, dos quais não notamos,
informação como “Dado processado e deveriam ou poderiam existir e, se
reunido em um formato significativo” encontrados, poderiam ser de particular
(Meadows, 1984, p.105). Há duas importância como evidência, tanto quanto
dificuldades para tão restrita definição: as investigações de detetives, mais ou
Primeiramente, deixa sem resposta a menos sistematicamente, para dar uma
questão do que chamar outras coisas dica.
informativas, assim como fósseis, pegadas,
e gritos de terror. Segundo, isso inclui uma Determinar o que pode ser informativo é
questão adicional de quanto processamento uma tarefa difícil. Árvores, por exemplo,
e/ou reunião de dado é necessária para em provem madeira, assim como lenha para
ser chamada informação. Em adição a construção e carvão para calefação.
essas duas específicas dificuldades há um Alguém naturalmente pensa em árvores
critério geral que, todas as coisas iguais, como informação, mas árvores são
uma simples solução é preferível em vez de informativas no mínimo de duas maneiras.
uma complicada. Portanto, conservamos Obviamente, assim como representativas as
nossa visão mais simples da “informação- árvores são informativas sobre elas
como-coisa” considerando-a idêntica à mesmas. Não tão óbvio assim, as
evidência física: Qualquer coisa da qual se diferenças na espessura das árvores são
possa aprender (Orna & Pettit, 1980, p.3). causadas por variações do tempo, e,
Felizmente há mudanças na literatura em portanto, são suas evidências. Padrões

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refletem um específico ciclo de anos coisa. Além do mais, é uma questão de


constituindo informações valiosas por julgamento individual, de opinião.
arqueólogos que pesquisam datar antigas
vigas (Ottaway, 1983). Mas se a lenha e o (1) se alguma coisa particular
carvão podem ser informação, alguém poderia ser pertinente, e,
hesita em afirmar categoricamente que (2) se usada como evidência
qualquer objeto que não possa, em poderia ser significante; e se
qualquer circunstância, ser informação ou sim,
evidência. Concluímos que somos incapazes (3) se seu uso como evidência seria
de classificar efetivamente qualquer coisa importante. (O item pode ser
que não possa ser informação. trivial ou, até importante, essa
particular evidência pode ser
Isso nos coloca numa conclusão indefinida: redundante, fidedigna, ou caso
Se qualquer coisa é ou pode ser contrário problemática.) E, se
informativa, então tudo é, ou sim;
provavelmente seja, informação. Em cada (4) se a importância desse item, a
caso que classifica alguma coisa como importância da evidência, e a
“informação” é pouco ou nada para defini- probabilidade de estar sendo
lo. Se qualquer coisa é informação, então usado – em combinação –
informação é algo banal. justificando a preservação dessa
particular evidência. Se tudo
isso é encarado positivamente,
Ser informação é circunstancial então alguém relacionaria a
coisa – evento, objeto, texto, ou
Informação-como-processo é circunstancial. documento – como informação
Embora evidência envolta em informação- utilizável e, presumivelmente,
como-processo seja bastante ocasional alcançaria níveis para preservá-
também. Portanto, qualquer objeto la ou, no mínimo, representá-la.
particular, documento, dado ou evento
pode ser considerado como informativo
dependendo das circunstâncias, assim Informação por consenso
como a “relevância” de um documento ou Temos mostrado que (1) a virtude de ser
um fato que é circunstancial dependendo informação-como-coisa é circunstancial e
da questão e da sagacidade do pesquisador que determinando se a coisa é utilizável ou
(Wilson, 1973). Se partirmos daí, a não depende de uma composição de
capacidade de “ser informativo”, a julgamentos subjetivos. Progressos por trás
característica essencial de informação- da anarquia de opiniões individuais
como-coisa, também pode ser situacional. relacionando o que é ou não é racional
Podemos dizer que alguns objetos ou tratar como informação depende de um
documentos que pouco-a-pouco combinam acordo, ou no mínimo de algum consenso.
algumas circunstâncias, situações, Podemos usar um exemplo histórico para
poderiam ser informativas, poderiam ser ilustrar esse ponto. Isso foi utilizado e
informação, isto é, informação-como-coisa. considerado importante para saber se uma
mulher era ou não uma feiticeira. A busca
Mas, como acima observado, poderíamos de evidência era provada pela água. A
em princípio dizer sobre qualquer objeto ou infeliz mulher seria ser colocada num
documento: Alguém bastante criativo em tanque. Se ela flutuasse seria uma
supor uma situação que poderia ser feiticeira. Se afundasse não seria uma
informativa. E se alguém pode descrever feiticeira. Esse evento, resultado do
qualquer coisa dessa forma, estamos experimento, foi, por consenso,
obtendo um pequeno progresso considerado como informação-como-coisa
distinguindo o que é informação-como- necessário para a identificação de uma

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feiticeira. Atualmente isso seria negado, por


consenso, que o mesmo evento que Cópias de informação e
constituiu a informação que já tinha sido Representações
previamente aceita, por consenso, como
tal. Cópias: impressas e representadas

Onde há um consenso de julgamento, o Ao prover acesso à informação através de


consenso é algumas vezes tão forte que o um tradicional sistema de informação,
status dos objetos, especialmente reconhecer se duas partes de informação
documentos, transformam a informação em são ou não são a mesma (ou, no mínimo,
inquestionável, exemplo, lista telefônica, equivalentes) é importante. Quando cópias
painel de horário de vôo e livros de são idênticas alguém diria que poderiam
exercício. Nesses casos são argumentos tão ser formalmente classificadas como
confortáveis quanto exatos, de uso comum, impressas e representativas. Exemplos de
completos, e caros. Mesmo como assunto cópias que não são exatamente iguais são
prático alguns consensos necessitam de identificados como dois tipos diferentes;
acordo para decidir em qual tipo de sistema cópias idênticas são consideradas como
de informação e recuperação de dados representativas. Se existir somente um
devem ser colecionados e estocados, em exemplo, então se diria que há somente
arquivos, base de dados, bibliotecas, uma “representação” daquele “tipo”.
museus, e fichas de escritório. Pelo fato
dessas decisões serem baseadas num A criação de idênticas, cópias igualmente
conjunto de diferentes critérios, assim autênticas é o resultado de tecnologias de
como observado acima, não é produção de massa, assim como a
surpreendente que devem existir impressão. Se você quer reler um título
desacordos. Contudo, é nesse princípio que específico (tipo), você estaria buscando
dados são colecionados e alimentam as uma copia (representação) dele, mas não
bases de dados, bibliotecários selecionam insistiria em obter exatamente a copia
livros, museus colecionam objetos, e anteriormente consultada. Similarmente se
editores publicam livros. Esse é motivo houver lido um livro sobre algum assunto e
capaz de predizer que as cópias da lista de quiser saber mais sobre ele, simplesmente
telefones de São Francisco serão buscaria uma cópia de um título diferente
informativas, embora não exista garantia em vez de ler uma cópia diferente do
de que cada cópia será necessariamente mesmo título.
utilizada.
Essa característica de cópias igualmente
“Informação-como-coisa”, então, tem aceitáveis podem ser encontradas em
significado em dois sentidos: (1) Em outros exemplos de sistemas de
situações específicas e em determinado informação. Alguns tipos de objetos de
momento um objeto ou evento pode ser museus são produzidos em massa, como os
informativo, isto é, constituir evidencia que telefones. Tanto telefones quanto livros,
é utilizada de modo que interfere nas um de seus exemplares é aceitável desde
crenças de alguém; e (2) Desde que o uso que faça parte da mesma produção seriada.
da evidencia seja previsível, embora Existe, entretanto, uma qualificação maior.
imperfeitamente, o termo “informação” é Na prática de arquivos, assim como em
comumente usado para denotar uma classe museus, dois documentos fisicamente
de objetos que provavelmente são idênticos são identificados como diferentes
considerados úteis o bastante para serem se ocorrerem em diferentes lugares por
informativos no futuro. Nesse sentido o causa do contexto do acervo no qual foram
desenvolvimento de coleção tem a ver com arquivados. A razão é que sua posição
coleções de informação. única em relação a outros documentos os

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faz únicos por associação, e portanto, menos em parte, na evidência primitiva,


diferentes. ambos são textuais e trazem outras formas
de informação. Tradicionalmente o livro é
Nas bases de dados eletrônicas a situação é permeado com descrições e sumários, ou,
um pouco menos clara. Pode haver copias como preferirmos chamá-los,
de dois tipos: cópias temporárias, virtuais representações.
carregadas no monitor; ou a possibilidade
de reprodução dessas cópias de modo mais Representações têm importantes
perene, em papel ou em outro meio características:
armazenável. Essas cópias podem não ser (1) Toda representação
idênticas ao original, se decorrentes de um possivelmente é mais ou
erro mecânico. Entretanto, é comumente menos incompleta em alguns
assumido que ou a cópia é autêntica ou os aspectos. Uma fotografia não
seus erros são tão aparentes que se indica movimento e pode não
tornarão muito evidentes. Há muitas retratar a cor. Até uma
dificuldades em reconhecer a origem de fotografia colorida mostrará
uma cópia, se é de uma última versão cores imperfeitamente – o
oficial da base de dados, mas isso é uma que se apaga com o tempo.
outra questão. Nos textos manuscritos há a Uma narrativa escrita refletirá
probabilidade de que cada um tenha pelo o ponto de vista do autor e as
menos mínimas diferenças, mesmo se seu limitações da linguagem.
propósito seja obter uma cópia. Quem Filmes e fotografias
copia provavelmente omite, acrescenta, e usualmente mostram somente
altera partes do texto. Uma característica uma perspectiva. Algo do
significante dos estudos medievais é a original é sempre perdido. Há
necessidade de examinar atentamente sempre alguma distorção,
todas as copias de uma série de uma inexatidão.
manuscritos não somente para identificar (2) Representações são
as diferenças, mas também para inferir construídas por conveniência,
qual das versões poderia ser a mais correta que nesse contexto tende a
de acordo com as suas diferenças. facilitar o armazenamento, a
compreensão, e/ou a busca.
Em geral, a existência de copias idênticas, (3) Por causa da questão da
igualmente informativas, igualmente conveniência, representações
autorizadas é rara. Materiais impressos em são normalmente
bibliotecas são notáveis exceções. Mais substituições do evento ou do
comum é o caso das cópias não totalmente objeto do texto, de um texto
idênticas, embora possam ser a outro, ou de objetos e
aceitavelmente idênticas para muitos textos a dados. Exceções a
propósitos. isso, tais como de objeto a
objeto ou de documento
relacionado ao objeto
Interpretações e conclusões de evidências (replicas físicas e modelos)
podem ser também
O progresso em tecnologia da informação encontradas (Schlebecker,
altera o processo de criar e utilizar 1977).
informação-como-coisa. Muitas informações (4) Detalhes adicionais
em sistemas de informação têm sido relacionam-se ao objeto mas
processadas, codificadas, interpretadas, não às evidencias que podem
resumidas, por fim, transformadas. Livros ser próximas às
são um bom exemplo. Virtualmente todos representações, tanto para
os livros coligidos são baseados, pelo

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informar quanto para informar Informação, Sistemas de Informação,


mal. Ciência da Informação
(5)Representações podem ser
repetidas Começamos com dois respeitáveis usos
indefinidamente. Pode acadêmicos do termo “informação”
haver representações de (“informação-como-conhecimento” e
representações de “informação-como-processo”) e notamos
representações. que sistemas de informação relacionam-se
(6)Por razões práticas diretamente e somente com “informação-
representações são como-coisa”. Colocando tal paradoxo
comumente (mas não diferentemente, sistemas de informação
necessariamente) mais manuseiam informação somente num
breves ou diminutas que sentido de informação rejeitado por uma
do o que esteja sendo legião de teóricos da informação. Também,
efetivamente concluímos que qualquer coisa possa ser
representado, informação-como-coisa. Não é surpresa que
concentrando-se o progresso no desenvolvimento de
naquelas características paradigmas para descrever e explicar os
mais significantes. Um fenômenos, nos limites mais definidos da
resumo, também por Ciência da Informação tenham sido lentos.
definição, é um Mas, talvez, “informação-como-coisa”
descrição incompleta. poderia ser usada para trazer alguma
ordem ou arranjo com respeito a atividades
O progresso contínuo na tecnologia da de informação-relacionada, juntamente
informação permite melhoria em nossa com as outras duas respeitáveis definições.
habilidade de fazer descrições físicas,
exemplos de informação-como-coisa. Primeiro, embora todo sistema de
Fotografias aperfeiçoam desenhos; imagens informação funcione diretamente com
digitais aperfeiçoam fotografias. A voz do “informação-como-coisa”, poderíamos criar
século dezenove, o cantor Jenny Lind, foi alguma ordem dentro da área se
descrito pela Rainha Victoria como “a mais pudéssemos identificar um subconjunto de
estranha, poderosa e peculiar voz, tão atividades de informação-manual que se
sonora, tão macia e flexível...” (Sadie, relacione com informação só nesse aspecto.
1980, v.10, p.865). Embora essa descrição Como exemplos podemos escolher teoria
seja melhor que nenhuma, poderíamos da informação (no sentido da teoria
obter muitas outras informações ouvindo matemática de transmissão de sinal
uma gravação sonora. associada com Shanon e Weaver e que não
tivesse nada a ver com o conteúdo
Reproduções de trabalhos de arte e semântico) (Bar-Hillel, 1964); bibliografia
artefatos de museus podem ser suficientes histórica (o estudo de livros como objetos
para alguns propósitos e têm a vantagem físicos); e análise estatística (identificando e
de prover muito mais acesso físico sem ter definindo padrões de população de objetos
que desgastar os originais. Em tempo, e/ou de eventos). Cada um desses campos
como representações dos originais, eles redefiniu técnicas para o desenvolvimento e
sempre serão deficientes, a não ser que, no formalizou modos de descrição e de
caso de trabalhos de arte e objetos de representação efetiva de seus particulares
museus, as representações sejam tão tipos de informação-como-coisa. As
fidedignas que os especialistas não possam respostas dessa arte utilitária certamente
identificar qual é o original e qual é a cópia possam ser de grande significado, mas seu
(Mills & Mansfield, 1979). relacionamento é primeiramente com a sua
própria evidencia. Uma análise do canal, do
livro, ou de uma população deixaria de ser

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válida se as características físicas do canal, imensa variedade de textos poderia ser


livro, ou população estivessem mudado. mais ou menos substituível – em Inglês ou
em Francês, enfadonho ou conciso, recente
Segundo, armazenamento e recuperação ou antigo – se representassem o mesmo
de sistemas de informação podem conhecimento para um determinado grau.
relacionar-se diretamente com “informação-
como-coisa”, mas as coisas que podem ser Quarto, informação-como-processo poderia
armazenadas para recuperação real ou também ser a base para definir uma classe
coleções virtuais variam expressivamente. de estudos de informação-relatada. Aqui
Prédios históricos, filmes, livros impressos, novamente, informação-como-coisa não
e dados codificados impõe diferentes deve ser ignorada, mas é, novamente, de
obstáculos às tarefas associadas com interesse secundário. Psicologia cognitiva,
sistemas de recuperação de informação: retórica, e outros estudos de comunicação
seleção, reunião, armazenamento, interpessoal e persuasão seriam exemplos.
representação, identificação, localização, e Sentidos alternativos, isto é, meios físicos
acesso físico. Colocar, simplesmente, um alternativos, poderiam ser igualmente
museu, um arquivo, biblioteca ou livros aceitáveis. Certamente, a razão do
impressos, numa base bibliográfica de interesse primeiro está no cognitivismo e
dados on-line, e um sistema corporativo da persuasão, a real informação-como-
informação de dados numéricos, podem ser conhecimento, também um ingrediente
validamente considerados como espécies necessário, pode ser de interesse direto. O
de sistemas de recuperação da informação. foco certamente poderia ser mais em como
Mas diferenças em seus atributos físicos mudar crenças ou quais conhecimentos
afetam como os itens armazenados podem representar.
ser manipulados (Buckland, 1988a). Essas
diferenças produzem princípios para a Não se pode afirmar que classificar as áreas
análise comparativa do armazenamento da da ciência da informação com respeito ao
informação e de recuperação da seu relacionamento com informação-como-
informação. coisa produziria populações claramente
distintas. É mais provável que o exame da
Terceiro, representações de formas de “informação-como-coisa” traga forma a
conhecimento num subconjunto distinto de esse campo amorfo e evite limitações
informação-como-coisa poderiam, em baseadas nas tradições acadêmicas
principio, ser usadas para identificar e passadas.
definir outra classe de sistemas de
informação nos quais o principio de relação
é baseado no conhecimento representado. Sumário
Essa é a área convencional do
armazenamento e recuperação e da Muitas definições têm sido propostas para
informação, bibliografias, e “bases de “informação”. Um importante uso de
conhecimento” para sistemas específicos. informação é denotar conhecimento
Nesses casos a informação-como-coisa tem comunicado; outro é denotar o processo de
inevitável interesse, mas só num sentido informação. Algumas teorias importantes
para relacionar com informação-como- têm dispensado o atributivo uso de
conhecimento e, sendo meramente um “informação” para fazer referência a coisas
sentido, supostamente de notável que são informativas. Entretanto,
extensão. Oferecer um serviço de “informação-como-coisa” merece uma
informação de diferentes formas físicas de análise cuidadosa, parcialmente porque
informação e diferentes meios textuais essa é a única forma de informação que é
(textos em papel, em microforma, ou diretamente tratada pelos sistemas de
acessada por um terminal) pode ser informação. Pessoas são informadas não
igualmente aceitável. Entretanto, uma somente através de comunicados

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intencionais, mas devido a uma extensa diferem em suas características físicas e


variedade de objetos e eventos. Ser assim não são igualmente processadas para
“informativo” é circunstancial e seria armazenamento e recuperação. Há,
imprudente afirmar que alguma coisa não entretanto, considerável chance em
pode ser informativa, e conseqüentemente substituí-las por representações.
informação, em uma situação concebível.
Variedades de “informação-como-coisa”

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