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UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS

INSTITUTO DE FILOSOFIA E CIÊNCIAS HUMANAS

Projeto para Programa Institucional de Bolsas de Iniciação Científica

Quando ovelhas não seguem o pastor: Tensões na produção de fronteiras entre Religião
e Política numa igreja evangélica pentecostal

Candidato: Adriel Torres de Queiroz Ferreira


Orientador: Ronaldo Rômulo Machado de Almeida

Resumo
Este projeto de pesquisa tem como tema principal as produções de fronteiras entre religioso e político
no campo evangélico. Pretendo observar essa dinâmica a partir do acompanhamento do período
eleitoral por dentro de uma igreja evangélica pentecostal que pertence à denominação Assembléia de
Deus, em um de seus principais segmentos - o ministério Belém. Trata-se de um deslocamento da
investigação anterior (Bolsa Pibic 2018) cujo o enfoque analítico se concentrou em outros aspectos do
fenômeno: estratégia eleitoral, militância e voto. Esta nova investigação focaliza as tensões entre fiéis
e lideranças religiosas nesse processo de mobilização institucional do voto dos fiéis. A hipótese deste
estudo é a existência de uma contestação interna ao projeto político da igreja, a desobediência do baixo
clero e fiéis às candidaturas eleitorais de suas lideranças religiosas. Segundo Casanova (2009), novo
marco teórico, a abertura da religião à esfera pública é uma via de mão dupla que implica não apenas
atores religiosos impondo suas normas na esfera pública, mas também atores religiosos sendo
contestados por fiéis que se apropriam de normas seculares. Desta forma, este presente projeto
colabora com o reconhecimento da fragmentação interna de comunidades religiosas e um campo
evangélico dinâmico.

Palavra Chaves: Evangélicos, Política e Religiões Públicas

Introdução ao debate bibliográfico e Justificativa


O projeto aqui apresentado é continuação da pesquisa de iniciação científica “Cidadania
Terrena e Cidadania Divina: uma campanha eleitoral pentecostal” (Bolsa PIBIC 2018-19) que compôs
a pesquisa geral “A onda quebrada: evangélicos e conservadorismo” (Bolsa PQ-CNPQ, Nivel 2),
coordenado pelo Professor Doutor Ronaldo Rômulo Machado de Almeida. Este presente projeto
propõe uma observação participante na igreja evangélica Assembléia de Deus, em um de seus
principais segmentos - o ministério Belém. O acompanhamento da comunidade religiosa tem por
objetivo a investigação da participação evangélica com um novo foco: a produção de fronteira entre
religião e política. A atividade empírica será construída tendo em perspectiva duas generalizações: (i)
Estudo da atividade política evangélica; (ii) Estudo do movimento de desprivatização da religião. Para
apresentar esse projeto de pesquisa e defender sua relevância faz-se necessário explicitar a relação do
meu objeto de estudo com tais generalizações teóricas.
O protagonismo da participação política num campo heterogêneo e extremamente
fragmentado como é o evangélico corresponde a atores específicos. Dessa forma a atenção acadêmica
detêm-se a evangélicos, igrejas e estratégias de ação particulares que são também a delimitação desse
projeto. Segundo Freston (1993) e Pierucci (1989) o período da redemocratização brasileira foi o
marco da mudança evangélica em relação à política no país. Anteriormente com uma representação
marginal ou totalmente apolíticos, os evangélicos mobilizaram-se para a eleição de deputados
evangélicos da Constituinte de 1986, elegendo 33 parlamentares. Esse diferencial decorreu de uma
nova estratégia eleitoral e da agência de novas igrejas evangélicas. A partir desse marco, as
candidaturas eleitorais se tornaram empreendimentos próprios das igrejas, em específico das
pentecostais, que se tornaram protagonistas do cenário evangélico brasileiro no final do século XX.
O pentecostalismo, considerado uma fragmentação do mundo protestante, se diferencia pela
defesa de uma segunda obra da graça distinta da salvação, o “batismo no Espírito Santo” manifestado
pelo fenômeno glossolálico. Ele teve seu estopim no início do século XX no sul dos Estados Unidos e,
ainda no decorrer do mesmo século, diferentes de missões pentecostais chegaram ao Brasil, as quais
podem ser apreendidas em três ondas de implantação (Freston, 1994). A primeira onda é da década de
1910, com a chegada da Congregação Cristã do Brasil (1910) e da Assembléia de Deus (1911). A
segunda onda é da década dos anos 50, com a fragmentação do campo evangélico e surgimento de
três novos grande grupos: a Quadrangular (1951), Brasil para Cristo (1955) e Deus é Amor (1962). A
terceira onda tem seu início nos anos 70, fundamentalmente no estado Rio de Janeiro, com as
inovações litúrgicas, estéticas, teológicas e éticas dos Neopentecostais, representados principalmente
pela Igreja Universal do Reino de Deus (1977) e Igreja Internacional da Graça de Deus (1980).
Com as ondas de implantação e o crescimento demográfico dos pentecostais no Brasil, eles se
tornaram o principal setor dentre os evangélicos. De acordo com o Censo Demográfico do IBGE de
2010, dos que se declaram evangélicos 60% pertencem às igrejas pentecostais, 8,5% são protestantes
históricos e 21,8% não são determinados. Tal proporção também se expressa na Câmara Federal, na
qual dentre os 84 parlamentares evangélicos da atual legislatura 67 são ligados à igrejas pentecostais,
segundo dados do Departamento Intersindical de Assessoria Parlamentar (DIAP)1. Por isso, o
pentecostalismo é uma importante delimitação para o estudo da participação política evangélica com
foco na representação legislativa.
Ao observar os candidatos evangélicos eleitos na última eleição nota-se também o predomínio
de duas igrejas pentecostais que se estende para todo esse período de entrada evangélica na política
institucional. Em 2018, dos já citados 84 parlamentares evangélicos, mais da metade (47) está ligada a
Assembléia de Deus (AD) ou a Igreja Universal do Reino de Deus (IURD). Desde o início dessa nova
presença evangélica no legislativo, as duas igrejas apresentam quantidades significativas de
parlamentares decorrentes do sucesso eleitoral de suas novas estratégias de ação que constituem outro
ponto de estudo do fenômeno político evangélico. Logo em 1986, a AD realiza um esforço para
constituir um eleitorado evangélico com a publicação do “Irmão vota em Irmão” escrito pelo jornalista
e assessor parlamentar, membro da AD, Josué Sylvestre (Valle, 2013). Tal publicação da sinaliza uma
mudança do perfil dos candidatos evangélicos que passam a ser internos à comunidade religiosa, com
uma trajetória sólida dentro da igreja e, geralmente, com relações de cunho familiar com as lideranças
religiosas. Para Oro (2003) a combinação desses fatores colabora na mobilização intra-denominacional
uma vez que facilita a transferência de carisma do líder religioso para o candidato. Como exemplo, a
Igreja Universal do Reino de Deus passou de 9 para 35 deputados estaduais e federais eleitos a partir
da constituição de um modelo de representação corporativo, as candidaturas oficiais entre as eleições
de 1990 e 2002 (Oro, 2003).
A grande capacidade de coordenação do voto, como uma profissionalização eleitoral, é
creditada em muitos trabalhos à Igreja Universal do Reino de Deus e as influências neopentecostais no

1
Acessado em 20/04/2020:
<https://www.diap.org.br/index.php/noticias/noticias/28532-eleicoes-2018-bancada-evangelica-cresce-na-camara
-e-no-senado>.
pentecostalismo clássico (Almeida, 2004). Oro (2003) afirma que outras igrejas pentecostais passaram
a mimetizar o fazer eleitoral iurdiano, ou seja, o modelo das candidaturas oficiais - um centralismo de
igrejas na campanha eleitoral, realização de propaganda eleitoral nos templos e uma militância
eleitoral voluntária formada por fiéis. Portanto, é necessário uma incursão de verificação por essas
outras igrejas, como Assembléia de Deus.
O caso
Para retomar, o trabalho de campo aqui proposto se desenvolverá na intersecção dessas
delimitações que orientam as pesquisas sobre a participação política evangélica. A denominação
observada corresponde a igreja evangélica pentecostal Assembléia de Deus, que por sua vez apresenta
uma grande fragmentação ministerial (Freston, 1993; Alencar, 2010). Internamente a esta
fragmentação existem convenções nacionais, das quais a Convenção Geral das Assembléias de Deus
(CGADB) congrega um maior número de ministérios. Há 32 anos a CGADB é presidida pelo
ministério Belém sob o poder da mesma família, portanto, o ministério Belém é um dos principais
segmentos da Assembléia de Deus. Tal ministério é presidido pelo patriarca José Wellington Bezerra
da Costa e possui 4 candidaturas oficiais em São Paulo, sendo 3 destas de seus filhos. Eles se dividem
em dois centros de poder, capital paulista e Campinas. Em campinas o ministério Belém é presidido
pelo Paulo Roberto Freire da Costa, filho do patriarca, que também é deputado federal pelo PL desde
2010. Esta mesma igreja possui um representante municipal desde 2008, o Alberto Alves da Fonseca
(PL) que planeja sua reeleição. Dessa forma, meu trabalho de campo atende seguintes delimitações no
campo evangélico: Pentecostalismo, Assembléia de Deus e Ministério Belém em Campinas.
Os estudos sobre a atividade política evangélica colaboram como recorte temático e do
trabalho de campo, da mesma forma, os estudos sobre a desprivatização da religião e religiões públicas
colaboram como arcabouço teórico para discutir o objeto de pesquisa a partir de um novo foco. Os
antecedentes dessa pesquisa proposta abordaram uma dimensão micro da participação política
evangélica, focadas em estratégia eleitoral, militância e financiamento. A introdução ao campo deu-se
a partir da descoberta de um grau de profissionalização eleitoral com forte centralismo decisório da
instituição religiosa que mobiliza seu baixo clero como militância voluntária. Entretanto tensões
internas e externas apresentaram-se em campo que não eram apreendidas pela delimitação da pesquisa
e pelo marco teórico. Trata-se de tensões na produção de fronteiras entre religioso e político no
processo da religião assumir uma função pública. Dessa forma este projeto com um novo foco permite
a incorporação dessas tensões na construção de uma pesquisa de maior ambição teórica e inserção na
antropologia da religião.
A realização da primeira observação científica na comunidade assembleiana encontrou parte
do fiéis e do baixo clero críticos a participação política da igreja, em específico as candidaturas
eleitorais de suas lideranças eclesiásticas. Na primeira investigação essa resistência foi observada a
através de duas das hipóteses mas não pode ser teorizada e articulada. A primeira hipótese é que o
efeito entre despesa de campanha e sucesso eleitoral dessas candidaturas evangélicas oficiais são
menores em relação a outros candidatos evangélicos, uma vez que contam com um eleitorado cativo e
a possibilidade de fazer a campanha na comunidade religiosa a partir do apoio institucional das igrejas
(Netto, 2016). A segunda hipótese é a presença de uma militância voluntárias de fiéis da própria igreja
(Almeida e Peixoto, 2017). A relação entre financiamento e sucesso eleitoral foi investigada
pelo “custo do voto”, a divisão entre despesa e resultado eleitoral. Segundo a elaboração de
dados da Bolsa PIBIC 2018, o custo do voto deputado federal da AD-Belém foi de 19 reais,
enquanto a média dos demais deputados federais evangélicos eleitos foi de 9,8 reais. Em
relação a militância da campanha da AD-Belém, ela não correspondeu à expectativa de fiéis
voluntários como militância, pois, seu corpo de militância voluntária era composta apenas
pelo baixo clero. Portanto, ambas hipóteses citadas acima não se realizaram na candidatura do Paulo
Freire da Costa (PL) em 2018. A observação de campo produziu dados descritivos nos quais as
coordenação da campanha eleitoral da AD-Belém dialogava com a existência dessa contestação
interna. Essa contra contestação durante a campanha eleitoral se deu através de reuniões de formação
política para a militância, nas quais as lideranças religiosas e políticas instruíam a observância de
normas seculares, a legislação eleitoral.
Em uma das reuniões observadas houve o momento educativo sobre a legislação eleitoral
apresentado pelo vereador oficial da denominação, Prof. Alberto. Com o apoio de um projeção
audiovisual com o título "pode e não pode" foi tratado sobre sobre a proibições em relação a
campanhas eleitorais em templos religiosos.
"Não pode meus irmãos, dizer:
- Vamos votar no candidato da igreja, pelo amor de Deus!
Mas podemos dizer:
- Nosso pastor presidente é o candidato da igreja para deputado federal, vamos
orar por ele.”
O vereador tratou também da importância da declaração de apoio por parte do pastor. Segundo
o que ele disse para os pastores ali presente, não adianta o pastor permitir a distribuição de material da
campanha mas não declarar publicamente seu voto no candidato da igreja.
“Pastores, vocês devem ser inteligentes. Não é para declarar o voto durante o culto
no púlpito, mas os irmãos da sua congregação verão o adesivo da campanha no vidro
do seu carro, verão sua capa do facebook declarando apoio ao pastor Paulo e podem
receber o material de campanha pelo seu contato no whatsapp através das listas de
transmissão que vamos ajudar vocês a criarem hoje”
Segundo o palestrante já houveram questionamentos e denúncias da campanha passadas por
fiéis que têm divergências políticas com o ministério, irmãos que ainda estão “presos” na cultura da
não participação cristã na política. Essa é a justificativa para tal observância da legislação eleitoral,
pois, a parte da membresia resistente estaria atenta para denunciar infrações da campanha da igreja
para impugná-la.
Em relação a membresia do templo observado foi identificado por meio de conversas uma
parte resistente à candidatura oficial. Devido a sua estadia em Brasília durante a semana o Paulo Freire
da Costa comparece apenas nos fins de semana em sua igreja igreja e, geralmente, apenas nos cultos
de domingo à noite. As ausências do pastor presidente na maioria dos cultos de sua própria igreja é
uma falta grave para esses fiéis resistentes. Essa parcela acusa Paulo Freire da Costa pela falta de
tempo e proximidade com os fiéis por sua função parlamentar. Para eles ou se é pastor ou se é político,
portanto, melhor seria que o pastor exercesse somente a função eclesiástica. Tal contestação de parte
dos fiéis mobiliza a duplicidade da figura do Paulo Freire da Costa na comunidade religiosa,
autoridade política e religiosa. Há em campo, portanto, a intersecção de comunidade religiosa e
sociedade civil em que tensões e desobediências se dão. É esse cenário que requer um novo arcabouço
teórico que contemple a relação da religião com a esfera pública.
Para apreender essas tensões e construir investigação empírica e teórica em volta delas
mobilizo inicialmente Casanova (1992) e (2009). A emergência do protestantismo fundamentalista
como fator eleitoral na América é um dos desenvolvimentos históricos que parecem refutar a tese da
secularização na qual a religião teria menor impacto no mundo, governos e domínios institucionais.
Em diálogo com a tese da secularização, Casanova (1992) reexamina distinções entre religiões
públicas e privadas como ferramenta conceitual para interpretar o papel da religião na construção do
mundo moderno.
A avaliação da tese da secularização por Casanova (1992) é que esta precisa ser emancipada
da ideologia anti religiosa iluminista na qual se espera a religião restringida à esfera privada. Não se
trata de enquadrar a religião como um antiga força que decai perante a sociedade moderna ou uma
antiga força que retorna e a ameaça. As paredes modernas entre Igreja e Estado estão rachando sendo
que ambas são capazes de penetrar uma a outra. Religião e Política permanecem se misturando em
todos os tipos de arranjos (Casanova, 1992). Para Monteiro (2006), que observou a institucionalização
das religiões no Brasil, a Religião não some e reaparece na esfera pública, ela se reconfigura. Tal
imagens relacionam e afirmam várias fronteiras possíveis entre Religião e Política. Uma delas é a
religião pública no contexto das igrejas pentecostais.
Religião Pública é aquela que tem, assume ou tenta assumir um caráter, função ou papel
público (Casanova, 2009). Com o caso das candidaturas oficiais, essas igrejas evangélicas são
enquadradas como religião pública ligada ao Estado, aquela que é capaz de mobilizar seus recursos
institucionais para competições políticas como as eleições. Em uma lógica secularista, essa
configuração de religião pública é considerada uma ameaça à democracia pela tendência a Teocracia.
Contra essa interpretação, Casanova (2009) afirma que as normas seculares que já observam excessos
de poder de todas as naturezas bastam para o controle da religião pública institucionalizada.
Quando a Religião faz-se pública ela também abre espaço para a legitimação social. A
desprivatização é uma rota de mão dupla (Casanova, 2009). Tanto atores religiosos afetam a esfera
pública como as normas seculares, como de laicidade do Estado e equidade de gênero, afetam a esfera
religiosa. A comunidade religiosa também incorpora as normas seculares, dessa forma, os fiéis podem
exercer uma contestação interna na reprodução das tradições religiosas e publicização delas. Casanova
(2009) afirma a importância do estudo desse movimento de contra-contestação interno. Por exemplo, é
a agência de mulheres e o papel que desempenham em suas tradições religiosas que em última análise
decidiram o destino das tradições religiosas patriarcais.
Através desse arcabouço teórico e do enquadramento do objeto de pesquisa a continuidade do
acompanhamento da comunidade religiosa da AD-Belém mostra-se relevante e com uma nova
ambição teórica, o estudo das religiões públicas e das configurações entre Religião e Política. Os
elementos descobertos na iniciação científica passam agora a compor uma pesquisa de maior ambição
teórica, o estudo das religiões públicas e das configurações entre Religião e Política. A observância da
legislação eleitoral por parte dos atores religiosos e a resistência de parte dos fiéis à candidatura do
pastor passam a ser tratadas como consequências da abertura religiosa ao espaço público por meio das
atividade legislativa e eleitoral. O contexto eleitoral no interior comunidade religiosa é um momento
de intensa produção de fronteiras entre Religião e Política para análise teórica.
É importante afirmar a possibilidade de execução dessa pesquisa tendo vista a atual pandemia
do novo coronavírus que pode alterar a data das eleições municipais de 2020. Ainda não está definido
a manutenção da data (4 de Outubro de 2020) ou seu adiamento. Porém a comissão política da igreja
AD-Belém Campinas já se organiza desde o dia 5 de março com a execução de reuniões de formação
para pastores e palestras sobre “Política e a Igreja”. E durante a medida de isolamento já ocorreu uma
palestra política transmitida ao vivo e os cultos religiosos estão sendo transmitidos diariamente. Dessa
forma afirmo a existência de material para ser observado mesmo durante o isolamento social e
respeitando tais medidas.

Objetivos
● Realizar um levantamento bibliográfico para aprofundamento na temática e fundamentação
teórica da observação de campo.
● Dar continuidade a observação da comunidade religiosa da AD-Belém e de seus parlamentares
oficiais.
● Compreender as produções de fronteiras entre Religião e Política no templo em contexto
eleitoral, a campanha eleitoral do Alberto Alves da Fonseca (PL) à câmara municipal de
Campinas, candidato oficial da AD-Belém. E encontrar, acessar e entrevistar os fiéis que não
votam nas candidaturas oficiais da igreja.

Metodologia
Visto que essa investigação proposta objetiva a participação nas tramas da vida cotidiana de
um grupo social e a entrada no fluxo dos acontecimentos a metodologia será qualitativa, mais
especificamente a observação participante, entrevistas semi estruturadas e análise dos materiais de
campanha. Uma comunidade religiosa durante o período eleitoral representa particulares desafios a
pesquisa de campo. Desafios estes que não dizem respeito ao acesso ao campo, a dificuldade de
encontrar material ou nativos para se relacionar. Igrejas evangélicas como a Assembléia de
Deus-Belém realiza diversos cultos durante a semana, eventos festivos ou formativos, reuniões e
encontros. Também distribuí e circula pela comunidade inúmeros materiais escritos ou audiovisuais.
Portanto, o pesquisador deve reconhecer a estrutura eclesiástica para traçar uma rotina de trabalho
neste campo. Porém, certos encontros e materiais não são direcionados para todos os frequentadores
daquela comunidade, principalmente as atividades de formação política na Assembléia de
Deus-Belém. Além de suas lideranças políticas negarem constantemente entrevistas para
pesquisadores. Diante disso, faz-se necessário o reconhecimento dentre os nativos para adquirir a
concordância de sua presença (Eckert & Rocha, 2008).
Minha condição em relação ao campo de observação é de nativo. Devido a isso reconheço a
rotina de encontros da comunidade religiosa e possuo uma facilidade de contato com fiéis e lideranças
religiosas. Tanaka (2018) e Valle (2013) na tentativa de entrar em contato com as lideranças religiosas
da AD-Belém encontraram a barreira de comunicação com estes. Segundo Lacerda (2017) o contato
direto com igrejas é uma estratégia para superação de tal dificuldade. Na pesquisa antecedente tive
acesso ao coordenador da campanha do Paulo Freire da Costa, pastor Daniel Bueno, chefe do meu pai
administrativo da igreja. Me aproximei do presidente nacional da comissão política da AD - Belém,
pastor Eliazar Ceccon, que me levou ao deputado federal oficial da AD - Belém, Paulo Freire da
Costa, e ao vereador oficial da AD - Belém em Campinas, Professor Alberto. Porém devo reconhecer
minha posição nesse cenário de pesquisa. A observação de campo atrelada ao método etnográfico
necessita que o próprio pesquisador passe a ser objeto de pesquisa (Levi-Strauss, 1974 apud Eckert &
Rocha, 2008). Essa metodologia, portanto, permite que o pesquisador-nativo estranhe o familiar,
superando suas representações fundamentadas na experiência agora substituídas por questões
relacionais sobre o universo investigado (Velho, 1978).
Será realizado também entrevistas dentro do recorte qualitativo de pesquisa, ou seja,
estruturação mínima, uso de roteiro de entrevista de forma mais livre, perguntas abertas e adaptáveis,
formulações hipotéticas, respostas espontâneas, aplicadas de forma presencial. Entrevistas mais
estruturadas acerca da legislação eleitoral, das candidaturas oficiais da AD-Belém, e da participação
evangélica pentecostal na política serão realizadas com fiéis e pastores posteriormente a constituição
de uma nova rede de relações em campo.

Cronograma de Atividades
1° semestre: Realizar o levantamento bibliográfico e a observação participante da
comunidade e da campanha eleitoral do vereador oficial. Realizar a escrita do caderno de campo e do
relatório parcial.
2° semestre: Analisar a observação de campo e escrever o Relatório Final. Disseminar a
versão final para pares. Além de pesquisar possíveis revistas para publicação e colaboradores para
coautoria.

Período (meses)
Atividades
1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12
Levantamento bibliográfico X X X
Observação participante X X X X X X X
Análise do material coletado X X X X
Escrita do relatório parcial X
Entrega do relatório parcial X
Discussão X X
Elaboração do relatório final X X
Participação no Congresso PIBICXXVIII X
Entrega do relatório final X

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