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CIÊNCIAS HUMANAS
Campinas
2019
I. Introdução
Este relatório expõe as atividades realizadas durante a vigência, em especial ao 2º
período, do projeto Cidadania terrena e Cidadania divina: um estudo de caso de uma
campanha eleitoral evangélica pentecostal. O objeto de estudo compreendido é a campanha
eleitoral de uma candidatura pentecostal da Assembleia de Deus (AD), sendo o candidato
Paulo Costa Freire (PR), representante do Ministério Belém. O estudo de candidaturas em
período eleitorais nos permite compreender as singularidades da trajetória traçada pelas
mesmas, e entender uma candidatura pentecostal se faz importante devido ao sucesso que os
candidatos evangélicos que recebem apoio institucional tem se mostrado ao longo das
pesquisas (Freston, 1993, Oro 2003, Ronaldo 2004, Machado e Burity 2014, Lacerda 2017,
Tanaka 2018). A igreja que maior tem representado a candidatura corporativa pentecostal é a
Igreja Universal do Reino de Deus (IURD), para a qual há diversos estudos. No entanto,
Lacerda (2017) observa que outras denominações evangélicas passaram a incorporar o
modelo corporativo de candidatura da IURD de forma a lançar seus candidatos, um efeito de
profissionalização das candidaturas evangélicas. Assim, esse estudo busca contribuir para o
estudo da profissionalização das candidaturas eleitorais evangélicas, confirmando o efeito a
partir do estudo de outra denominação, sendo esta a Assembleia de Deus. Esta pesquisa
também busca responder à questão mais ampla: é determinante o apoio da igreja para o
sucesso eleitoral das candidaturas evangélicas? Para isso, há um foco também na análise da
distribuição dos votos recebidos pelo candidato estudado em Campinas – São Paulo, por ser a
cidade na qual Paulo Costa Freire é pastor da AD responsável desta cidade; e na análise do
financiamento de campanha. A primeira parte, da distribuição do voto tem como base
estudar o funcionamento da candidatura oficial evangélica a partir da transferência de carisma
observada por Oro (2003). Para última parte, tenho como base a tese defendida por Netto
(2016) de que os candidatos evangélicos possuem um efeito menor entre despesa de
campanha e sucesso eleitoral em relação aos outros candidatos, por contaram com o apoio de
lideranças religiosas e um eleitorado cativo. Assim, busca-se avaliar essa hipótese a partir dos
dados quantitativos e qualitativos.
A identificação evangélica, na América Latina, corresponde a um campo religioso
extenso, um campo que vai desde as Igrejas protestantes históricas até as Igrejas pentecostais
mais recentes, as chamadas “neopentecostais”, segundo Mariano (1999). De acordo com o
Censo Demográfico do IBGE de 2010, a população brasileira que se declara evangélica é
composta por: 60% de pentecostais; 8,5% de evangélicos de missão e 21,8% de não
determinados. Os evangélicos de missão são os chamados “protestantes históricos” oriundos
das Igrejas formadas na reforma protestante europeia do século XVI, Igrejas como Luterana,
Metodista, Batista, Anglicana e Presbiteriana. Os pentecostais podem ser divididos em dois
grupos, pentecostais tradicionais e neopentecostais. O primeiro grupo, pentecostais
tradicionais, segundo Freston (1993) é oriundo da primeira onda pentecostal no Brasil, na
qual missionários italianos fundaram a Congregação Cristã do Brasil e missionários suecos
fundaram a Assembleia de Deus no final da primeira década do século XX. Os
neopentecostais, por sua vez, são oriundos da terceira pentecostal no Brasil da década de
1970 que enfatiza a prosperidade material, enquanto a primeira onda, o batismo com o
espírito
santo e suas manifestações, como a glossolalia. Sendo a Igreja Universal do Reino de Deus e
a Igreja Mundial do Poder de Deus as maiores igrejas de terceira onda. Essa heterogeneidade
dos evangélicos se expressa, em certa proporção, na participação evangélica no legislativo.
Os protestantes históricos participam do legislativo desde 1930, como apontado por Freston
(1993), porém, sua participação ocorria sem mobilizar a identidade evangélica, ao contrário
dos evangélicos pentecostais que a mobilizam.
Já estes entram no legislativo depois da redemocratização, pós ditadura civil militar.
Machado (2006) aponta que a partir da Constituinte de 1988 o número de representantes
evangélicos pentecostais no legislativo se torna mais relevante. Segundo Pierucci (1989) a
Constituinte de 1988 contou com uma participação de 33 deputados evangélicos, sendo 18
evangélicos pentecostais, em porcentagem, 6,4% de evangélicos e, entre eles, 54,5% de
pentecostais. Lacerda (2017) busca compreender o desempenho dos candidatos evangélicos
nas eleições legislativas brasileiras de 1998 a 2014, nestas identifica que entre este período
houve um aumento no número relativo de candidatos evangélicos, que passou de 1,6% para
2,6%, o qual permaneceu relativamente constante de 2002 a 2014.
Há diferentes formas de mobilização política dentre os candidatos evangélicos para se
inserirem na competição eleitoral. Uma das principais é a candidatura oficial, da qual sua
principal representante é a Igreja Universal do Reino de Deus (IURD). Essa grande
capacidade de coordenação do voto da IURD tornou-se objeto de investigações científicas
(Freston 1993, Oro 2003, Mariano 2004, Nascimento 2017). A explosão demográfica
evangélica e a maior participação política ocorrem na terceira onda do pentecostalismo no
Brasil, da qual a IURD faz parte (Freston, 1993). A IURD, em 1998, profissionalizou sua
participação política e seu fazer eleitoral, lançando as "candidaturas oficiais" (Oro, 2003;
Machado, 2006). Fabio Lacerda (2017) caracteriza as candidaturas oficiais para além do que
aponta Freston (1993), na qual seria uma troca de apoio institucional da igreja e do esperado
voto dos fiéis com o candidato eleito. Assim, coloca que as candidaturas oficiais não seriam
somente o apoio da igreja, mas também a seleção do candidato, interno da comunidade
religiosa; como disponibilização de pessoas para formação da militância eleitoral, serviços e a
estrutura eclesiástica em prol do candidato. Além disso, as candidaturas oficiais pentecostais
têm características que a diferenciam das demais, como a não necessidade de publicidade
para fora da comunidade religiosa específica, e a dispensa da utilização do nome de urna com
títulos eclesiásticos, tais como: Pastor, Apóstolo e Bispo, por já serem internos da
comunidade e não precisarem sinalizar para seu eleitorado, diferentemente dos candidatos
evangélicos não oficiais.
O sucesso eleitoral da IURD decorrente dessa profissionalização se observa na
comparação entre os anos 1990, em que ela contava com nove deputados federais e estaduais
eleitos e, em 2002, na qual elegeu 35 deputados federais e estaduais (Oro, 2003). Alguns
esforços qualitativos já foram realizados para entender as candidaturas oficiais, os
quais foram direcionados para a Igreja Universal do Reino de Deus (IURD). Mariano (2004)
descreve o modus operandi, ressaltando a centralização decisória da IURD. Oro (2003)
observou detalhadamente o funcionamento das candidaturas oficiais na mesma. A instituição
religiosa, IURD, realiza um recenseamento dos dados eleitorais dos membros e fiéis para
decidir quantos candidatos lançarão por município ou estado, sendo que o lançamento das
candidaturas selecionadas é deliberado pelos dirigentes regionais e nacionais. A forma
utilizada para divulgação enquanto um candidato oficial ocorre pela mídia da própria igreja,
bem como a divulgação em seus cultos. Estas candidaturas visam concentrar os votos dos
fiéis nos escolhidos para representar seus interesses no cenário legislativo (Oro, 2003).
Perante a explosão demográfica e a maior participação legislativa da IURD, o
pentecostalismo clássico, como a AD, passou a ser influenciado pelo neopentecostais, na
construção de grandes templos e na inserção no mercado, na mídia, e principalmente na
política institucional (Almeida 2004, Oro 2003, Tanaka 2017). Essa reorganização das igrejas
pentecostais, de primeira e segunda onda, causada pelo impacto da IURD, como a
participação da igreja na política institucional por meio de um modelo de representação
corporativa. Machado e Burity (2014) também atentam a influência dessa profissionalização
eleitoral em outras igrejas pentecostais como a Assembleia de Deus (AD) que adotou o
modelo de representação corporativa, criou espaços de debate, socialização e organização das
iniciativas políticas, como a realização de reuniões de orientação política para os candidatos e
militantes.
Tanaka (2018) traz esta tabela da porcentagem dos votos para deputados estaduais na
ALESP por denominação evangélica em sua dissertação de mestrado que nos possibilita
visualizar o pioneirismo da organização do voto evangélico pela IURD e o posterior
empreendimento sendo realizados pela AD. Um indicativo da tese da profissionalização das
campanhas eleitorais evangélicas pentecostais, o efeito Universal.
Portanto se faz necessária a pesquisa acerca dessas candidaturas oficiais lançadas por
outras igrejas que não a IURD, que já possui seu sucesso reconhecido. Nesse sentido que o
presente trabalho possui como objetivo contribuir para a discussão, a partir do estudo de caso
de uma candidatura oficial em uma das maiores divisões da AD - Ministério Belém. Além
disso, visamos também preencher a lacuna aberta por Netto (2016) para o estudo acerca do
financiamento de campanha em relação aos candidatos evangélicos. A autora ao defender que
o financiamento possui um menor impacto nestas candidaturas em relação as demais, coloca
que uma futura agenda de pesquisa que vise uma análise quantitativa e qualitativa
possibilitaria compreender o porquê o dinheiro importa menos para alguns candidatos
evangélicos, na qual nossa pesquisa se insere. Uma das causas para esse efeito é que a
instituição religiosa que lança seu candidato pode utilizar o espaço dos templos como local de
divulgação das candidaturas (Valle, 2013), pois com alta fidelidade ligada à líderes
religiosos, estes podem funcionar como mobilizadores políticos desse eleitorado, ou seja
brokers, indivíduos que dispõe de redes interpessoais em nível local (Nascimento, 2017),
além de ter um alto número de cabos eleitorais voluntários (Almeida e Peixoto, 2017).
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O
Chamado à Antropologia: Memórias de Trabalhos de Campo (15m45s). Direção:
Diana D. Gómez Maters. Produção: Ana Letícia Fiori, Cleto Junior Pinto de Abreu. Denise
Moraes Pimenta, Jacqueline Teixeira, José Agnello Andrade, Lucas Lopes de Moraes,
Leonardo Fuzer e Rodrigo Valentim Chiquetto. Apoio: Pró-Reitoria de Cultura e Extensão
Universitária da USP. Realização: LISA/USP e NAU/USP. Brasil, Colorido, 18min, 2013.
Segundo Oro (2003) a estratégia eleitoral das candidaturas oficiais envolvem uma
transferência de carisma, que com a utilização da teoria weberiana pertence a instituição e
está centralizado na figura do fundador ou patriarca, no nosso caso, para a candidatura
escolhida para representação a igreja. Dessa forma as candidaturas da AD Belém se
apresentaram como ideias para o estudo do funcionamento das candidaturas oficiais.
A Marta Costa eclesiasticamente ocupa o cargo de líder do departamento infantil no
templo Sede do ministério Belém na capital paulista, pastoreado pelo pai José Wellington.
Enquanto, o Paulo Freire da Costa ocupa o cargo de pastor presidente da AD Belém em
Campinas. Pela proximidade e pela minha inserção no templo pastoreado pelo Paulo esta foi
a escolha para o estudo de caso.
Já a delimitação na cidade de Campinas para a observação de campo e o
georreferenciamento se deu pelo reconhecimento do funcionamento do cargo eclesiástico do
Paulo. Ele como pastor presidente é o responsável por todos os templos da AD Belém em
Campinas, por isso também, seu comitê político e eleitoral atua nestas igreja, em seu
território de responsabilidade.
III. Resultados
Financiamento de campanha
Com o objetivo de compreender de maneira mais complexa a estruturação da
candidatura oficial de Paulo Costa Freire (PR) analisaremos seu financiamento de campanha.
Para essa parte esperamos que possua um maior gasto com campanhas impressa e carro de
som (Netto, 2016). E que sua média de gastos totais seja menor em relação aos demais
candidatos, de forma a sustentar o argumento de que candidatos evangélicos gastam menos,
como também verificar que a relação do gasto sobre o voto, denominado como custo do voto,
seja menor em relação aos demais candidatos, pois o fato de ser um candidato evangélico
oficial seria mais importante que seu financiamento no sucesso eleitoral, aqui entendido em
ser eleito (Netto 2016, Lacerda 2017).
O resultado foi é que em relação aos demais candidatos eleitos o custo do voto do
Paulo Costa Freire foi menor, no entanto seu custo foi consideravelmente maior em relação
aos candidatos evangélicos. Assim, a hipótese para se comprovar quando comparamos a
todos os candidatos eleitos às cadeiras paulistas na Câmara dos Deputados, no entanto, o que
difere é que a diferença é baixa, pois o custo do voto do Paulo foi de R$ 18,98 e o dos
candidatos a deputado federal foi de R$21,51. Outro ponto que não esperávamos é que o
resultado do custo do voto do Paulo foi bem maior em comparação aos outros candidatos
evangélicos, sendo maior que a mediana da IURD, denominação que elegeu cinco candidatos,
e maior que a própria denominação. De acordo com a literatura (Lacerda, 2017), o esperado
seria de que os candidatos que possuem uma candidatura oficial teriam um impacto do
financiamento menor do que aqueles que não possuem apoio institucional da igreja,
precisando mobilizar outros métodos para a obtenção de votos do eleitorado evangélico,
como por exemplo o nome de urna com título religioso.
Geografia eleitoral
Outro eixo que envolve nossa pesquisa é verificar a relação entre o eleitorado e o retorno de
votos obtidos pelo candidato investigado. Assim, partimos da literatura acerca do
comportamento eleitoral da Escola Sociológica do voto e da Geografia eleitoral. Foi realizado
o georreferenciamento dos templos da AD em Campinas-SP, juntamente com a distribuição
dos votos do candidato no município, colaborando para compreensão do fenômeno político
(Terron, 2012) ao esperar a sobreposição da base eclesiástica e da eleitoral como encontrado
por Tanaka (2018). O mapa do georreferenciamento foi elaborado e discutido em conjunto
com a pesquisadora Gabriella Gontijo2
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Graduando em Ciências Sociais com ênfase em Ciência Política (IFCH/Unicamp). Pesquisadora da Iniciação
Científica intitulada: Os evangélicos nas eleições de 2018 em São Paulo: recrutamento de candidatos e
financiamento de campanha. Iniciação Científica, também, realizada pelo Programas de Iniciação Científica e
Tecnológica da Unicamp, pelo Instituto de Filosofia e Ciências Humanas, sob a orientação do Prof. Dr. Ronaldo
Rômulo Machado Almeida, com financiamento do Conselho Nacional de desenvolvimento Científico e
Tecnológico (CNPQ) articuladas em torno de seu projeto “A onda quebrada: evangélicos e conservadorismo”
(Bolsa PQ-CNPq, Nível 2).
É observado neste mapa do georreferenciamento que houve sobreposição dos votos do paulo
com os templos, ou seja, a base social da denominação Assembleia de Deus - ministério
Belém. Com o georreferenciamento comprovamos uma maior votação do candidato oficial
em questão nos locais em que há mais templos e membros da Igreja. A partir da
generalização deste estudo de caso fortalecemos a tese de que o apoio institucional da igreja é
determinante para alcançar o sucesso eleitoral, ou seja, ser eleito.
IV. Discussão
V. Conclusões
VII. Agradecimentos
Agradeço ao CNPq pelo fomento da bolsa durante o período de agosto de 2018 a julho
de 2019. Ao orientador da pesquisa, Professor Dr. Ronaldo Rômulo Machado de Almeida
pela oportunidade de realizar a pesquisa. Agradeço também a Ms. Marcela Tanaka pela
participação no processo de elaboração do projeto e pela leitura crítica do trabalho "Estudo de
caso de uma candidatura evangélica oficial: Georreferenciamento eleitoral e financiamento de
campanha" no VIFBCP. Agradeço também aos orientandos Gabriel Kikumoto e a Gabriella
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Graduando em Ciências Sociais com ênfase em Ciência Política (IFCH/Unicamp). Pesquisadora da Iniciação
Científica intitulada: Os evangélicos nas eleições de 2018 em São Paulo: recrutamento de candidatos e
financiamento de campanha. I niciação Científica, também, realizada pelo Programas de Iniciação Científica e
Tecnológica da Unicamp, pelo Instituto de Filosofia e Ciências Humanas, sob a orientação do Prof. Dr. Ronaldo
Rômulo Machado Almeida, com financiamento do Conselho Nacional de desenvolvimento Científico e
Tecnológico (CNPQ) articuladas em torno de seu projeto “A onda quebrada: evangélicos e conservadorismo”
(Bolsa PQ-CNPq, Nível 2).
Gontijo pelas contribuições nas reuniões de orientação, pelos trabalhos elaborados
conjuntamente e pela elaboração dos dados quantitativos.
VIII. Bibliografia