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A FESTA DE ANIVERSÁRIO
HAROLD PINTER
Tradução
BARBARA HELIODORA
**********************************
4 Homens – 2 Mulheres
Harold Pinter. A Festa de Aniversário - Cópia digitalizada pelo GETEB - Grupo de Estudos e Pesquisa em Teatro
Brasileiro / UFSJ – Janeiro/2012
GETEB – A Festa de Aniversário
PRIMEIRO ATO
(A sala de estar de uma casa a beira mar. À direita baixa está uma porta que dá para o vestíbulo
de entrada. Porta dos fundos e uma pequena janela à direita alta. Uma janela de comunicação
com a cozinha, no centro ao fundo. Porta da cozinha a esquerda alta. Mesa e cadeiras ao
centro. Petey entra pela porta à direita com um jornal e senta-se a mesa. Começa a ler. Ouve-se
a voz de Meg pela janela de comunicações com a cozinha).
Harold Pinter. A Festa de Aniversário - Cópia digitalizada pelo GETEB - Grupo de Estudos e Pesquisa em Teatro
Brasileiro / UFSJ – Janeiro/2012
GETEB – A Festa de Aniversário
Harold Pinter. A Festa de Aniversário - Cópia digitalizada pelo GETEB - Grupo de Estudos e Pesquisa em Teatro
Brasileiro / UFSJ – Janeiro/2012
GETEB – A Festa de Aniversário
MEG: Eu gosto é de ouvir tocar piano. Eu gostava de olhar o Stanley tocar, É verdade que ele
não cantava. (Olha em direção à porta) Eu vou acordar aquele menino.
PETEY: Você não levou o chá pra ele?
MEG: Eu sempre levo o chá para ele. Mas isso já foi há muito tempo.
PETEY: E ele bebeu?
MEG: Eu obriguei. Fiquei lá até ele tomar. Eu queria que ele levantasse naquela hora, mas o
diabinho nem por nada. Agora eu vou chamar ele. (Vai até a porta) Stan! Stanny! (Escuta)
Stan! Se você não descer já, eu vou até aí te pegar. Stan! Olha que eu subo. Vou contar até
três. 1, 2, 3. Vou te pegar. (Ela sai e sobe. Logo depois ouve-se gritos de stanley e riso
histérico de meg. Gritos. Risos. Petey senta-se junto à mesa, silêncio. Ela volta) Ele já vai
descer. (Ela está arfando e ajeita o cabelo) Eu disse que se ele se ele não descesse não
ganhava café.
PETEY: Assim ele desce.
MEG: Vou arrumar o cornflakes para ele. (Meg sai para a cozinha, Petey lê o jornal. Entra
Stanley. Está com a barba grande, traz paletó de pijama e usa óculos, senta-se à mesa).
PETEY: Bom dia, Stanley.
STANLEY: Bom dia. (Silêncio. Meg entra com a tijela de cornflakes, que coloca na mesa)
MEG: Até que enfim desceu, hein? Finalmente desceu para o café. Mas agora ele não merece
mais ganhar café, merece, Petey? (Stanley olha para o cornflakes) Dormiu bem?
STANLEY: Não dormi nada.
MEG: Não dormiu nada? Escutou só, Petey? Está cansado de mais para tomar café, não é? Pois
trate de comer o cornflakes como um bom menino. Anda, come. (Ele começa a comer)
STANLEY: Que tal o dia lá fora?
PETEY: Muito bom.
STANLEY: Quente?
PETEY: Bom, está ventando um bocado.
STANLEY: Vento frio?
PETEY: Não; frio não.
MEG: O cornflakes está bom, Stanley?
STANLEY: Péssimo.
MEG: Péssimo? Esse cornflakes delicioso? Você é um grandissíssimo mentiroso. Está escrito na
caixa que é muito bom, para quem acorda tarde.
STANLEY: O leite está estragado.
MEG: Está coisa nenhuma. O Petey tomou leite, não tomou, Petey?
PETEY: Tomei.
MEG: Pois então, viu?
STANLEY: Vá lá. Pode me dar mais.
MEG: Ainda nem acabou o primeiro prato e já quer o segundo.
STANLEY: Estou com vontade de comer alguma coisa quente.
MEG: Pois fique sabendo que não dou.
PETEY: Dá para ele.
MEG: (Sentando-se a E. Junto a mesa) Não dou. (Pausa)
STANLEY: Nada de café, não é? (Pausa) E eu que passei a noite to da sonhando com a hora do
café.
MEG: Você disse que não dormiu.
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Brasileiro / UFSJ – Janeiro/2012
GETEB – A Festa de Aniversário
STANLEY: Sonhando acordado. A noite inteira. Agora não querem me dar café. Nem ao menos
um pedaço de pão velho na mesa. (Pausa) É. Estou vendo que tenho de ir para a praia, para
aqueles hotéis de classe.
MEG: (Reagindo imediatamente) Pois não pense que vai conseguir tomar café melhor do que
aqui. (Ela vai em direção à cozinha, Stanley boceja, Meg aparece na janela que dá para a
cozinha com um prato) Toma. Aposto que vai gostar. (Petey levanta-se, vai pegar o prato que
traz para a mesa e coloca em frente a Stanley, e torna a sentar-se).
STANLEY: Que é isto?
PETEY: Pão com toucinho.
MEG: (Entrando) Aposto que você não sabe o que é.
STANLEY: Sei, sim.
MEG: O que é?
STANLEY: Pão com toucinho.
MEG: E não é que ele sabia?
STANLEY: Surpresa espetacular.
MEG: Por essa você não esperava, hein?
STANLEY: Nem de longe.
PETEY: (Levantando-se) Bem, já vou.
MEG: Vai voltar para o trabalho?
PETEY: Vou.
MEG: Seu chá. Você não tomou seu chá.
PETEY: Não faz mal, agora não dá mais tempo.
MEG: Mas já está pronto lá dentro.
PETEY: Não paga a pena. Até logo. Até logo, Stan.
STANLEY: Até logo. (Petey sai pela direita) Tch. Tch. Tch. Tch.
MEG: (Na defensiva) O que é que há?
STANLEY: Você é má esposa.
MEG: Sou nada. Quem foi que disse?
STANLEY: Não dá ao marido nem uma xícara de chá. Incrível. Incrível.
MEG: Ele sabe que não sou má esposa.
STANLEY: E ainda dá leite estragado para ele.
MEG: Não estava estragado.
STANLEY: É uma vergonha.
MEG: Meta-se com a sua vida, sabe? (Stanley come) E não pense que é fácil encontrar esposas
melhores do que eu por aí, não senhor. Trago a casa sempre limpa e arrumada.
STANLEY: Hummmm.
MEG: É sim. Minha casa é muito conhecida e tem as melhores referências como pensão de
primeira.
STANLEY: Pensão? Quantos hóspedes já apareceram aqui desde que eu cheguei?
MEG: Quantos?
STANLEY: Um.
MEG: Quem?
STANLEY: Eu. O hóspede sou eu.
MEG: Mentira. A casa está na lista.
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GETEB – A Festa de Aniversário
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STANLEY: Nem consigo beber esta porcaria. Será que nunca ninguém te ensinou ao menos a
esquentar o bule?
MEG: Meu pai nunca deixaria ninguém me insultar desse jeito.
STANLEY: Seu pai? E quem era seu pai, se é que algum dia ele deu as caras por aqui?
MEG: Ele dava parte de você.
STANLEY: (Sonolento) Ora Meg; e você acha que eu ia insultá-la? Então você acha que eu ia
fazer uma coisa horrível dessas?
MEG: Pois insultou.
STANLEY: (Deitando a cabeça sobre as mãos) Ai, meu Deus, como estou cansado: (Silêncio.
Meg vai ao aparador, pega um espanador e espana vagamente a sala, enquanto observa
Stanley; chegando até a mesa, espana-a também) O raio da mesa não.
MEG: (Pausa) Stan!
STANLEY: O que é?
MEG: (Encabulada) Eu sou mesmo... Suculenta?
STANLEY: Ora se é. Prefiro você a qualquer resfriado.
MEG: Ah! Você fala só por falar.
STANLEY: (Violentamente) Olha, por que é que você não limpa esta porcaria desta sala? Parece
um chiqueiro. Isso sem falar no seu quarto, que precisa varrer. E precisa de papel novo na
parede. Para falar a verdade o que eu preciso é de um quarto novo.
MEG: (Sensual, acariciando o braço de Stanley) Ora, Stanley, seu quarto é lindo. Eu tenho
passado tardes tão lindas naquele quarto: (Stanley retrai-se enjoado. Para momentaneamente,
depois sai rapidamente pela porta à direita; Ela pega a xícara e o bule e dirige-se para a
janela de comunicação entre a cozinha e a sala, para depositá-los sobre o peitoril. A porta da
frente bate, Stanley volta); Está fazendo sol? (Ele cruza a janela, pega um cigarro e fósforos
no bolso do casaco do pijama e acende o cigarro) O que ê que você está fumando, Stan?
STANLEY: Um cigarro.
MEG: E vai me dar um?
STANLEY: Não.
MEG: Eu gosto de cigarros. (Ele fica parado à janela, fumando. Ela cruza até chegar atrás dele
e faz cócegas em sua nuca) Bilu, bilú, bilú, bilú...
STANLEY: (Empurrando-a) Afaste-se de mim.
MEG: Você vai sair?
STANLEY: Com você é que não.
MEG: Mas eu vou sair para fazer compras, agorinha mesmo.
STANLEY: Pois então vá.
MEG: Você vai se sentir abandonado, aqui sozinho.
STANLEY: Vou mesmo?
MEG: Sem sua velha Meg. Eu tenho de sair para comprar tudo para os senhores. (pausa. Stanley
levanta vagarosamente a cabeça, mas fala sem se virar)
STANLEY: Que senhores?
MEG: Estou esperando visitas. (Ele se vira)
STANLEY: O quê?
MEG: Disso você não sabia, sabia?
STANLEY: De quem e que você está falando?
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MEG: Dois senhores perguntaram a Petey se nos podíamos hospedá-los por um ou dois dias.
Estou à espera deles. (Ela pega o espanador e começa a limpar a toalha da mesa)
STANLEY: Não acredito.
MEG: Mas é verdade.
STANLEY: (Aproximando-se dela) Você está dizendo isto só de propósito.
MEG: Foi Petey quem me falou hoje de manhã.
STANLEY: (Amassando o cigarro) Quando foi? Quando é que ele falou com eles?
MEG: Ontem de noite.
STANLEY: Quem são eles?
MEG: Não sei.
STANLEY: Não deram o nome?
MEG: Não.
STANLEY: (andando para cima e para baixo) Aqui? Eles queriam vir para aqui?
MEG: É. (começa a tirar os rolos do cabelo)
STANLEY: Mas por quê?
MEG: A casa está na lista.
STANLEY: Mas quem são eles? Quero dizer... por quê?
MEG: Você vai ver quando eles chegarem.
STANLEY: Eles não vêm (Tomando uma decisão)
MEG: Por que é que não?
STANLEY: (Rapidamente) Estou dizendo que não vêm. Se era para vir, porque é que não
vieram ontem de noite?
MEG: Talvez não tenham conseguido encontrar a casa, no escuro. Não é fácil descobrir isto aqui
no escuro.
STANLEY: Eles não vêm. É alguma brincadeira. Nem pense nisto. Alarme falso. Alarme falso.
(Senta-se junto a mesa) Onde estã o meu chá?
MEG: Levei embora. Você não queria.
STANLEY: Levou embora por quê?
MEG: Você não queria.
STANLEY: E quem foi que disse que eu não queria?
MEG: Você mesmo.
STANLEY: E quem foi que te deu o direito de levar embora o meu chá?
MEG: Você não queria tomar.
STANLEY: (Encarando-a. Fala baixo) Com quem é que você pensa que está falando?
MEG: (insegura) O quê?
STANLEY: Venha cá.
MEG: O que é que você quer?
STANLEY: Venha já aqui.
MEG: Não.
STANLEY: Eu quero perguntar uma coisa. (Meg agita as mãos nervosamente, mas não se
aproxima) Venha. (Pausa) Muito bem, posso perguntar daqui. (Deliberadamente) Diga D.
Meg, quando a senhora se dirige a mim, será que alguma vez a senhora se perguntou
exatamente com quem está falando? Hein?!... (Silêncio. Ele geme. Seu tronco cai para a
frente, a cabeça cai entre as mãos)
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MEG: (Num tom humilde) Você não gostou do café, Stan? (Aproxima-se da mesa) Stan, quando
ê que voce vai tocar piano de novo? (Stanley grunhe) Como você costumava tocar... (Stanley
grunhe) Eu gostava de olhar você tocar piano. Quando é que você vai tocar de novo?
STANLEY: Eu não posso tocar, posso?
MEG: Por que é que não?
STANLEY: Porque não tenho piano , tenho?
MEG: Mas eu estava falando de quando você estava trabalhando. Naquele piano.
STANLEY: Anda, vai fazer suas compras.
MEG: Mas só por trabalhar não quer dizer que você tenha que ir embora. Você podia tocar piano
lá na praia.
STANLEY: (Olha para ela, depois fala despreocupado) Para falar a verdade, me ofereceram um
emprego.
MEG: O quê?
STANLEY: É. Estou com um emprego em vista.
MEG: Mentiroso.
STANLEY: Um emprego excelente. Numa boîte. Em Berlim.
MEG: Em Berlim?
STANLEY: Berlim.
MEG: Uma boîte. Para você tocar piano.
STANLEY: Salário fabuloso. E tudo pago.
MEG: Por quanto tempo?
STANLEY: A gente não vai ficar em Berlim. De lá vamos para Atenas.
MEG: Por quanto tempo?
STANLEY: É. E depois vamos dar uma chegada em... como é que se chama...
MEG: Onde?
STANLEY: Constantinopla; Zagreb. Vladivostock. Uma tournée em volta do mundo.
MEG: (Sentando-se junto à mesa) Você já tocou piano em algum desees lugares antes?
STANLEY: Quem, eu? Já toquei piano no mundo inteiro. No país inteiro. (Pausa) Uma vez eu
dei um concerto.
MEG: Um concerto?
STANLEY: (Pensativo) É. E foi um grande concerto. Todo mundo estava lá naquela noite. Todo
mundo. Foi um sucesso tremendo. De verdade. Um concerto. Em Lower Edmonton.
MEG: Como é que você estava vestido?
STANLEY: (Para si mesmo) Meu toque era incomparável. Absolutamente inimitável. Vieram
todos falar comigo, dizer que estavam profundamente agradecidos. Até champanhe nós
bebemos naquela noite. (Pausa) Quase que meu pai foi lá ouvir. Bom, eu mandei um cartão
para ele, avisando. Mas houve qualquer coisa de última hora. Não, foi isso, eu perdi o
endereço dele. (Pausa) Sim senhor! Em Lower Edmonton. Mas depois disto o que é que eles
fizeram? Me estraçalharam. E foi tudo plane jado. Planejado nos mínimos detalhes. No meu
concerto seguinte. Em outro lugar. Foi no inverno. Eu fui lá para tocar. E quando cheguei a
sala estava fecha da, com todas as janelas trancadas. Não tinha nem faxineiro. Tudo trancado.
(Tira os óculos e limpa-os com a barra do paletó) Uma sujeira. Eu só queria saber de quem
foi a ideia. (Amargamente) Está bem, está bem, velho, sei muito bem compreender uma
indireta. Eles queriam que eu rastejasse, que viesse de joelhos. Mas eu entendo uma indireta...
direitinho. (Repõe os óculos e olha para Meg) Olha só a cara dela! Você parece um pedaço de
pão-de-ló velho, sabe? (Levanta-se e inclina-se na direção de Meg) É isso que você é, não é?
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MEG: Não vai mais embora, Stan. Fica aqui; aqui é melhor para você. Fica com a sua velha
Meg. (Ele geme e reclina se sobre a mesa) Você não estã se sentindo bem, hoje , Stan? Você
já foi “lá dentro” hoje? (Ele fica rijo, depois levanta-se vagarosamente, volta-se para encará-
la e finalmente fala significativamente).
STANLEY: Meg, sabe de uma coisa?
MEG: O quê?
STANLEY: Sabe da última?
MEG: Não
STANLEY: Quer que eu conte?
MEG: Que última?
STANLEY: Você não ouviu falar?
MEG: Não.
STANLEY: (Avançando) Eles vão chegar hoje.
MEG: Quem?
STANLEY: Vão chegar de caminhão.
MEG: Quem?
STANLEY: E você sabe o que ê que eles vão trazer no caminhão?
MEG: O quê?
STANLEY: Um carrinho de mão.
MEG: (Perdendo o fôlego) Mentira.
STANLEY: Vão sim.
MEG: Mentiroso.
STANLEY: (Avançando para ela) Um carrinho enorme. E quando o caminhão chegar, eles
empurram o carrinho para a rua, e depois vem empurrando ele pelo jardim, e quando chegar
aqui, vão bater na porta da frente.
MEG: Não?
STANLEY: Estão a procura de alguém.
MEG: Estão a procura de alguém. De uma certa pessoa.
MEG: (Roucamente) Não!
STANLEY: Quer que eu diga quem é que eles estão procurando?
MEG: Não.
STANLEY: Então não quer que eu diga?
MEG: Você é um mentiroso. (Batida repentina na porta da frente. Meg, esgueirando-se passa
por Stanley e vai pegar sua sacola de compras. Nova batida na porta ; Meg sai. Stanley anda
silenciosamente até a porta e escuta)
VOZ: Olá, D.Meg. Já chegou.
MEG: Ah, chegou?
VOZ: Agora mesmo.
MEG: É isto?
VOZ: É. Achei melhor trazer.
MEG: É bom?
VOZ: Muito bom. O que é que eu faço?
MEG: Bom, eu não quero... (Sussurros)
VOZ: É claro que não ... (Sussurros)
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MC CANN: Não.
MEG: A que horas vai ser a festa?
GOLDBERG: Nove horas.
MC CANN: (PERTO DA PORTA) É por aqui.
MEG: (LEVANTANDO-SE) Eu mostro onde é. O senhor não se incômoda de subir?
GOLDBERG:: Com uma tulipa? Serã um prazer. (MEG É GOLDBERG SAEM RINDO,
SEGUIDOS POR MC CANN. STANLEY APARECE NA JANE LA. ABRE-A E ESCUTA.
SILÊNCIO. VAI ATÉ A MESA PARA SENTAR-SE QUANDO MEG ENTRA. ELA
ATRAVESSA A SALA E PENDURA A SACOLA DE COMPRAS NUM CABIDE. ELE
ACENDE UM CIGARRO E OBSERVA ENQUANTO QUEIMA)
STANLEY: Quem é?
MEG: Os dois cavalheiros.
STANLEY: Que dois cavalheiros?
MEG: Os dois cavalheiros que ficaram de vir. Levei-os para o quarto. Ficaram encantados.
STANLEY: Então vieram?
MEG: São muito bonzinhos , Stanley.
STANLEY: Porque não vieram ontem a noite?
MEG: Disseram que as camas são maravilhosas.
STANLEY: Quem são eles?
MEG: (SENTANDO) São muito bonzinhos, Stanley.
STANLEY: Perguntei quem são.
MEG: Eu já disse. Os dois cavalheiros.
STANLEY: Eu não sabia que eles tinham vindo.
(VAI ATÉ A JANELA)
MEG: Pois vieram. Estavam aqui quando eu cheguei.
STANLEY: O que é que eles querem?
MEG: Se hospedar.
STANLEY: Por quanto tempo?
MEG: Não disseram.
STANLEY: (VIRANDO-SE) Porque aqui? Porque não foram para outro lugar?
MEG: A casa está na lista
STANLEY: (AVANÇANDO) Como se chamam? Como são seus nomes?
MEG: Ora, Stanley, eu não me lembro.
STANLEY: Mas eles deram os nomes, não deram? Ou não deram?
MEG: Deram; eles ...
STANLEY: Então como se chamam? Vamos, tente lembrar-se.
MEG: Porque, Stanley? Você conhece eles?
STANLEY: Como é que eu posso saber se conheço se não sei como se chamam?
MEG: Ora... Ele me disse; eu vou me lembrar.
STANLEY: Então?
MEG: (ELA PENSA) Gold... qualquer coisa.
STANLEY: Gold... qualquer coisa?
MEG: É. Gold...
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STANLEY: Gold...?
MEG: Gold... berg.
STANLEY: GOLDBERG?
MEG: Isso mesmo. Um deles se chama assim (STANLEY SENTA-SE VAGAROSAMENTE
JUNTO A MESA A DIREITA) Você conhece? (ELE NAO RESPONDE) Stanley, eles não
vão te acor dar de manhã. Eu prometo. Eu digo que eles não podem fazer barulho. (ELE
CONTINUA QUIETO) Eles não vão demorar, Stan. E eu continuo levando o seu chã de ma
nhã cedo. (STANLEY CONTINUA QUIETO) Não fica triste hoje. É seu aniversário.
(PAUSA)
STANLEY: (SEM ENTENDER) Hein?
MEG: É sim, Stanley. Eu ia guardar segredo ate logo mais.
STANLEY: Não é.
MEG: É sim. Eu comprei um presente para você. (ELA VAI ATÉ 0 APARADOR, PEGA UM
EMBRULHO E O COLOCA SOBRE A MESA) Estã aí. Anda, abre.
STANLEY: O que é isto?
MEG: É o seu presente.
STANLEY: Mas não é meu aniversario, Meg.
MEG: É sim, que eu sei. Abre o presente. (ELE OLHA FIXO PA RA 0 EMBRULHO, DEPOIS
VAGAROSAMENTE SE LEVANTA E 0 ABRE. TIRA DE DENTRO UM TAMBOR DE
BRINQUEDO)
STANLEY: (SEM EXPRESSÃO) Um tambor de brinquedo.
MEG: (COM TERNURA) É porque você não tem piano. (ELE A ENCARA E DEPOIS ANDA
ATÉ A PORTA A DIREITA) Você não vai me dar um beijo? (ELE SE VIRA
BRUSCAMENTE E PARA. ANDA ATÉ ELA VAGAROSAMENTE, PARA JUNTO A
CADEIRA DELA , OLHANDO PARA BAIXO EM DIREÇÃO DELA. PAUSA. SEUS OM
BROS CAEM. ELE SE INCLINA E BEIJA-A NA FACE) As baquetas estão no embrulho.
(STANLEY PROCURA-AS, PEGA OS DOIS PAUZINHOS DO TAMBOR E BATE UM
CONTRA O OUTRO. OLHA PARA ELA)
STANLEY: Quer que eu pendure no pescoço? (ELA OLHA PARA ELE IN SEGURA. ELE
PENDURA O TAMBOR NO PESCOÇO. E COMEÇA A TOCÁ-LO DE LEVE E ENTÃO
COMEÇA A MARCHAR EM TORNO DA MESA, BATENDO RITMAMENTE. MEG,
SATISFEITA, OBSERVA-0. SEMPRE BATENDO RITMAMENTE ELE COMEÇA A
DAR UMA SEGUN DA VOLTA EM TORNO DA MESA E EM MEIO A ESSA VOLTA, A
BATIDA TORNA-SE DESCONTROLADA, ERRÃTICA. MEG EXPRESSA
DESAPONTAMENTO. ELE CHEGA ATÉ A CADEIRA ONDE ELA ESTÃ, BATENDO O
TAMBOR. TANTO O SEU ROSTO, QUANTO AS BATIDAS AGORA SELVAGENS E
POSSESSOS).
FIM DO 1º ATO
SEGUNDO ATO
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STANLEY: Sabe de uma coisa? Quem olha para mim não diz que vivi sempre uma vida tão
pacata, não e? O rosto vincado... E a bebida. Desde que vim para cã tenho bebido um bocado.
Quero dizer... sabe como e... Longe de casa... está errado, é claro... mas quando eu voltar pa ra
casa, tudo vai endireitar... quero dizer, quando as pessoas me vêem, pensam que sou uma
pessoa inteiramente diferente. Na certa já mudei um pouco, quero dizer, mas no fundo sou
sempre o mesmo. Quero dizer, quem olha para mim não pode pensar mesmo, que eu se ja o
tipo que dava alteração, pode? (MC CANN OLHA PARA ELE) Percebeu o que quero dizer?
MC CANN: Não. (QUANDO STANLEY TOCA NUMA DAS TIRAS DE JORNAL) Cuidado
com isso.
STANLEY: (REPENTINAMENTE) 0 que é que você veio fazer aqui? Umas férias curtas.
STANLEY: Pois escolheu uma casa ridícula para ficar. (LEVANTA -SE)
MC CANN: Por que?
STANLEY: Porque isto não é pensão. Nunca foi.
MC CANN: É, sim.
STANLEY: Porque escolheu esta?
MC CANN: Sabe de uma coisa? Para aniversariante o senhor meio deprimido.
STANLEY: (VIVAMENTE) Porque me chamou de senhor?
MC CANN: Não gostou?
STANLEY: (VOLTANDO A MESA) Não me chame de senhor. Se não gosta não chamo.
STANLEY: (AFASTANDO-SE) De qualquer maneira, hoje não é meu aniversário.
MC CANN: Não?
STANLEY: Não. E no mês que vem.
MC CANN: Mas a senhora disse que é. Ela? Ela é doida. Está maluca. Isso é uma acusação
muito grave.
STANLEY: (VOLTANDO A MESA) Você ainda não deu por isso? Há muita coisa que você
não percebeu. Tenho a impressão que alguém estã te fazendo de bobo.
MC CANN: Quem faria uma coisa dessas?
STANLEY: (DEBRUÇANDO-SE SOBRE A MESA) A mulher está louca! Isso é difamação!
STANLEY: E você não sabe o que estã fazendo.
MC CANN: E o seu cigarro estã perto do meu papel. (OUVE-SE VOZES AO FUNDO)
STANLEY: Que diabo! Onde e que eles estão metidos? (AMASSA O CIGARRO) Porque é que
não entram? O que é que estão fazendo lá fora?
MC CANN: E melhor você se acalmar. (STANLEY CRUZA ATÉ ELE E AGARRA-LHE O
BRAÇO).
STANLEY: (INTENSAMENTE) Escuta...
MC CANN: Não me toque.
STANLEY: Escuta. Um minuto só.
MC CANN: Larga meu braço.
STANLY: Escuta. Senta um instante.
MC CANN: (ATINGINDO-O SELVAGEMENTE NO BRAÇO) Não faça isso! (STANLEY
RECUA PELO PALCO, SEGURANDO O BRAÇO).
STANLEY: Escuta. Você sabe o que e que eu queria dizer, não sabe?
MC CANN: Não tenho a menor ideia do que ê que você está querendo.
STANLEY:É tudo um engano! Compreendeu agora?
MC CANN: Você está meio ruim, hein?
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STANLEY: (SUSSURANDO E AVANÇANDO) Ele te disse alguma coisa? Você sabe para que
estã aqui? Responda. Não precisa ter medo. Ou ele não disse?
MC CANN: Disse o que?
STANLEY: (SIBILANDO) Eu jã expliquei, raios o partam, que durante todo o tempo que morei
em Basingstake não bo tei um pé fora de casa.
MC CANN: Sabe de uma coisa? Você está me deixando tonto.
STANLEY: (ARGUMENTANDO) Olha. Você parece ser um homem decente. Estão fazendo
você de bobo, é só isso. Compreendeu? De onde e que você é?
MC CANN: O que é que você acha?
STANLEY: Eu conheço a Irlanda muito bem. Tenho muitos amigos por lá. Gosto daquela terra e
admiro sua gente. Confio nela. Respeitam a verdade e têm senso de humor. Os policiais
irlandeses são maravilhosos. Eu já estive lá. Que tal sairmos para beber qualquer coisa? Tem
um bar ali adiante que tem um chope excelente. O que não é fácil de arranjar por aqui...
(INTERROMPE-SE. AS VOZES SE APROXIMAM. GOLDBERG E PETEY ENTRAM
PELA PORTA DOS FUNDOS).
STANLEY: (ENTRANDO) Uma mãe inigualável. (VÊ STANLEY) Ah!
PETEY: Olá Stanley. O senhor ainda não conhece Stanley, já , senhor Goldberg?
GOLDBERG: Ainda não tive o prazer.
PETEY: Pois este é o senhor Goldberg, e este e o senhor Webber Prazer em conhecê-lo.
PETEY: Estávamos tomando um pouco de ar no jardim.
GOLDBERG: Estava falando ao senhor Boles de minha velha mãe. Que recordações! (SENTA-
SE A MESA, A ESQUERDA) Sim,senhor. Quando era rapazola, ãs sextas-feiras costumava
dar um passeio ao longo do canal com uma moça que morava em nossa rua. Uma moça linda'.
Que voz! Palavra de hon ra, um rouxinol. E boa! E pura! Não é à toa que era professora na
escola dominical. De qualquer modo sem pre me despedia com um beijo na face. Nada de
familiaridades, não éramos como essa juventude de hoje. Sabia mos o que era respeito. Então
eu lhe dava um beijinho e corria para casa. Eu ia cantarolando e sempre passa va pela praça
onde brincavam as crianças. Erguia meu chapéu aos pequeninos, ajudava um ou dois
cachorros , perdidos, tudo era natural. Parece que foi ontem.O sol se pondo por trás da pista
de corridas de cachorro.Ai, ai! (RECOSTA-SE CONTENTE)
MC CANN Igual a detrás da Prefeitura?
GOLDBERG: Que prefeitura?
MC CANN: A de Carrikmacross.
GOLDBERG: Não há termo de comparação. Eu subia a rua, entrava pelo portão, depois pela
porta, e eis-me em casa. "Simey" minha velha mãe chamava: "depressa antes que esfrie". E
em cima da mesa, sabem o que eu encontrava? O pedaço mais bonito de "geffulte Fish" que
a1guém já viu num prato até hoje.
MC CANN: Eu pensava que o seu nome era Nat.
GOLDBERG: Ela me chamava Simey.
PETEY: Todos nós nos lembramos dos tempos de criança.
GOLDBERG: E como! E o senhor, senhor Webber, não diz nada? A infância, sacos de água
quente, leite morno, panque-ca, espuma de sabão, que vida! (PAUSA)
PETEY: (LEVANTANDO-SE DA MESA) Bom, tenho de ir.
GOLDBERG: Ir?
PETEY: E meu dia de jogar xadrez.
GOLDBERG: Não vai ficar para a festa?
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PETEY: Não. Desculpe, Stan, mas eu so soube agora, e o jogo já estava combinado. Vou ver se
volto cedo.
GOLDBERG: Guardamos umas bebidas para a sua volta, está bem? E por falar nisso, está na
hora de você ir buscar as bebidas.
MC CANN: Agora?
GOLDBERG: E claro que agora. Está ficando tarde. E logo ali na esquina, lembra? Basta dar o
meu nome.
PETEY: Eu passo por lá.
GOLDBERG: Ganhe e volte logo, senhor Boles.
PETEY: Vou fazer força; até logo Stan.
(PETEY E MC CANN SAEM PELA DIREITA. STAN CHEGA PARA O CENTRO)
GOLDBERG: A noite está quente.
STANLEY: (VIRANDO) Me deixe em paz!
GOLDBERG: Como disse?
STANLEY: (AVANÇANDO PARA A FRENTE DO PALCO) Creio que houve um engano.
Estamos com a casa toda ocupada. Seu quarto jã havia sido cedido. A dona Meg se esqueceu
de avisá-los. Os senhores terão de buscar outra pensão.
GOLDBERG O senhor é o gerente?
STANLEY: Exato.
GOLDBERG: Bom negócio?
STANLEY: Eu administro a casa. E peço desculpas mas o senhor e o seu amigo terão de
procurar acomodações em outro lugar.
GOLDBERG: (LEVANTANDO-SE) Ia-me esquecendo devo apresentar- lhe as minhas
congratulações pelo seu aniversário. (OFERECE-LHE A MÃO) Parabéns.
STANLEY: (IGNORANDO A MÃO) Talvez o senhor seja surdo.
GOLDBERG: Porque diz isso? Muito pelo contrário, todos os meus sentidos estão no ãpice do
seu rendimento. 0 que não é mau, hein...? Para um homem que já passou dos cin quenta. Mas
um aniversário para mim, é sempre uma grande ocasião, que hoje em dia muitos deixam
ppssar despercebidos. Que coisa maravilhosa para se comemo-rar - o nascimento - Há gente
que não gosta de se levantar de manhã. Conheço muitos. Levantar de manhã, dizem, que
prazer hã nisso? A pele está grossa, a bar ba por fazer, os olhos cheios de remela, a boca fêti
da, as palmas das mãos suarentas, o nariz entupido,os pés fedendo, a gente não passa de um
cadáver â espera de alguém que o lave. Mas quando ouço dizerem isso, sinto-me
reconfortado, porque sei o que é o despertar com o sol brilhando, ouvindo alguém podando o
jardim, e os passarinhos, e o perfume da grama, os sinos de uma igreja, um suco de tomate...
STANLEY: Saia (ENTRA MC CANN CARREGANDO ALGUMAS GARRAFAS) Le vem
embora essas garrafas. Não temos licença para servir bebidas alcoólicas.
GOLDBERG: Senhor Webber, o senhor estã hoje de péssimo humor. E logo no dia do seu
aniversario, e com sua bondosa amiga esforçando-se para lhe dar uma festa (MC CANN
DEPOSITA AS GARRAFAS EM CIMA DO APARADOR).
STANLEY: Eu já disse para levar essas bebidas embora.
GOLDBERG: Senhor Webber, sente-se um momento.
STANLEY: Permitam-me deixar tudo bem claro. A mim os senhores não importam. Para mim
os senhores não passam de uma brincadeira de mau gosto. Mas mesmo assim, tenho certas
responsabilidades com os donos desta casa. Eles estão vivendo aqui hã tanto tempo que jã
perderam o faro. Mas eu, não. Ninguém vai aproveitar se deles , enquanto eu estiver aqui
(COM MENOS CON VICÇÃO) Seja como for, esta casa não é do seu tipo. Aqui não
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conseguem nada, de modo que não lhes pare ce que seria melhor que fossem embora, sem
mais complicações?
GOLDBERG: Senhor Webber, sente-se.
STANLEY: Não adianta recomeçar com encrencas.
GOLDBERG: Sente-se.
STANLEY: Porque havia de sentar?
GOLDBERG: Para dizer a verdade, Webber, você esta começando a me encher.
STANLEY: Não diga. Pois então...
GOLDBERG: Sente-se.
STANLEY: Não.
GOLDBERG: (SUSPIRA E SENTA-SE A ESQUERDA DA MESA) Mc Cann.
MC CANN: O que é?
GOLDBERG: Peça-lhe que se sente
MC CANN: Pois não, Nat. (MC CANN APROXIMA-SE DE STANLEY) O senhor se importa
de se sentar?
STANLEY: Me importo, sim.
MC CANN: Sim, eu sei, ... mas seria melhor que se sentasse.
STANLEY: Porque não senta você?
MC CANN: Eu não, você.
STANLEY: Não, obrigado. (PAUSA)
MC CANN: Nat.
GOLDBERG: O que é?
MC CANN :Ele não quer sentar.
GOLDBERG: Pois peça que se sente.
MC CANN: Já pedi.
GOLDBERG: Peça mais uma vez. (PARA STANLEY) Sente-se. Por que?
MC CANN: Ficaria mais à vontade.
STANLEY: Você também. (PAUSA)
MC CANN: Está bem. Se você sentar, eu sento.
STANLEY: Primeiro você.
MC CANN: (SENTA-SE LENTAMENTE) Então?
STANLEY: Pronto. Agora que vocês dois já descansaram um pouco, podem dar o fora.
MC CANN: (LEVANTANDO-SE) Isso foi sujeira. Dou-lhe um coice que...
GOLDBERG: Não. Já me levantei.
MC CANN: Pois sente-se novamente'.
GOLDBERG: Não. Uma vez que me levanto, fico de pé.
STANLEY: Eu também.
MC CANN: (APROXIMANDO-SE DE STANLEY) Você fez o senhor Goldberg levantar.
MC CANN: (LEVANTANDO A VOZ) Faz bem a saúde. Sente-se ali. Mc Cann. Sente-se ali.
GOLDBERG: (CRUZANDO ATÉ ELE) Webber. (TRANQUILAMENTE) Sente-se...
STANLEY: (COMEÇA A ASSOVIAR "THE MOUNTAINS OF MORNE": DIRIGE SE
CALMAMENTE PARA A CADEIRA PERTO DA MESA. OS DOIS O OBSERVAM.
SILÊNCIO: ELE SE SENTA)
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GOLDBERG: Você não sabe. Que fim levou a sua memória .Webber? Quando foi a ultima vez
que você tomou banho?
STANLEY: Eu tomo todos os ...
GOLDBERG: Não minta.
MC CANN: Você traiu a organização. Eu te conheço!
STANLEY: Não conhecei
GOLDBERG: Você vê sem óculos?
STANLEY: Veio.
GOLDBERG: Tira-lhe os óculos. (MC CANN ARRANCA OS ÓCULOS DE STANLEY E
QUANDO SE LEVANTA, TENTANDO RECUPERA-LOS,MC CANN PUXA A
CADEIRA PARA 0 CENTRO DO PALCO E NELA STANLEY TROPEÇA QUANDO
TENTA ANDAR, STANLEY AGARRA-SE A CADEI¬RA E PERMANECE
DEBRUÇADO SOBRE ELA. OS DOIS FICAM DE CADA LADO DA CADEIRA) Webber,
você e um vigarista.Quan do foi a última vez que você lavou pratos?
STANLEY: No penúltimo Natal.
GOLDBERG: Onde?
STANLEY: Num restaurante Lyons.
GOLDBERG: Onde?
STANLEY: Em Londres.
GOLDBERG: Onde estava a sua mulher?
STANLEY: Em...
GOLDBERG: Responda.
STANLEY: (VIRANDO-SE ENCOLHIDO) Que mulher?
GOLDBERG: O que é que você fez de sua mulher?
MC CANN: Ele matou a mulher.
GOLDBERG: Porque e que você matou a sua mulher?
STANLEY: (SENTANDO-SE DE COSTAS PARA 0 PUBLICO) Que mulher?
MC CANN: Como é que ele a matou?
GOLDBERG: Como ê que você a matou?
MC CANN: Estrangulou-a?
GOLDBERG: Com arsénico.
MC CANN: E esse o homeml
GOLDBERG: Onde está a sua velha mãe?
STANLEY: No hospício.
MC CANN: Isso.
GOLDBERG: Porque e que você nunca se casou?
MC CANN: Ela estava te esperando na varanda.
GOLDBERG: E você fugiu na hora da cerimônia.
MC CANN: Você deu o fora nela.
GOLDBERG: Você deixou-a para tia.
MC CANN: Ela ficou te esperando na igreja.
GOLDBERG: Webber! Porque é que você mudou de nome?
STANLEY: Porque esqueci o outro.
GOLDBERG: Como é o seu nome agora?
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STANLEY: UUuuuuuuuuuuuhhhhhhh1
MC CANN: Ele estã suando.
GOLDBERG: Calma Mc Cann.
MC CANN: Esse porco filho da mãe estã suando. (OUVE-SE FORA DE CENA UM FORTE
BATIDO DE TAMBOR. DESCENDO AS ESCADAS, GOLDBERG TOMA A CADEIRA
DE STANLEY. AS DUAS CADEIRAS -SÃO POUSADAS NO CHÃO. FICAM TODOS
QUIETOS. ENTRA MEG, DE VESTIDO DE NOITE, COM O TAMBOR E AS
BAQUETAS).
MEG: Trouxe para baixo o tambor. Já estou pronta para a festa.
GOLDBERG: Que ótimo.
MEG: Gosta do meu vestido?
GOLDBERG: Lindo. Deslumbrante.
MEG: Eu sei. Foi meu pai quem me deu. (COLOCA O TAMBOR SOBRE A MESA) Não tem
um som excelente?
GOLDBERG: Um instrumento de primeira. Talvez Stanley pudesse to car alguma coisa para nos
mais tarde...
MEG: Boa ideia. Você toca Stan?
STANLEY: Quer me dar meus óculos?
GOLDBERG: Naturalmente. (ESTENDE A MÃO PARA MC CANN QUE LHE DÂ OS
ÓCULOS) Aqui estão. (ESTENDE-OS PARA STANLEY QUE ES TICA 0 BRAÇO PARA
APANHA-LOS) Bom, e agora o que ê que hã para beber? 0 bastante para afundar um
couraçado. Quatro garrafas de uisque escocês e um do irlandês.
MEG: Senhor Goldberg, o que é que eu devo beber?
GOLDBERG: Primeiro os copos. Abre um uisque escocês, Mc Cann.
MEG: (JUNTO DO APARADOR) Os copos mais bonitos estão aqui.
MC CANN: Eu não bebo do escocês.
GOLDBERG: Deste aqui , bebe.
MEG: (TRAZENDO OS COPOS) Aqui estão.
GOLDBERG: Ótimo. A senhora não acha que Stanley é que devia ser vir a rodada de brinde?
MEG: É claro. Vamos, Stanley. (STANLEY DIRIGE-SE VAGAROSAMENTE A MESA) O
senhor gosta de meu vestido, senhor Goldberg?
GOLDBERG: É de chamar a atenção. Dê uma volta. Já trabalhei no ramo. Vamos, vamos, ande
ate ali. Ah, não.
GOLDBERG: Não fique encabulada. (DÁ-LHE UMA PALMADA NO TRAZEIRO). MEG:
Ohhhl
GOLDBERG: Desfile na passarela. Deixe que a vejamos. Que andar! Que lhe pareça, hein,
Mc Cann? Pelo menos uma condessa! Madame agora dê uma volta e caminhe ate a cozinha.
Que postura!
MC CANN: (PARA STANLEY) Pode servir um irlandês para mim.
GOLDBERG: A senhora parece um lírio.
MEG: Stan, que tal o meu vestido?
MC CANN: E um para a senhora, um para a senhora. Aqui está, madame, seu copo.
MEG: Obrigada.
GOLDBERG: Ergam seus copos, senhores. Façamos o brinde.
MEG: Lulu ainda não chegou?
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GOLDBERG: Já passou da hora. E agora, quem farã o brinde? Dona Meg? não poderia ser mais
ninguém aqui.
MEG: Eu?
GOLDBERG: E quem mais?
MEG: Mas o que é que eu digo?
GOLDBERG: Diga o que sente. 0 que sente sinceramente. (MEG PARE CE HESITANTE) E o
aniversario de Stanley. Do seu Stan ley, olhe para ele. Basta olhar para ele e alguma coisa que
ocorrera. Espere um minuto; a luz está muito forte. Vamos usar a luz adequada. Mc Cann, tem
aí sua lanterna?
MC CANN: (TIRANDO UMA LANTERNA DO BOLSO) Aqui está.
GOLDBERG: Apague as luzes e acenda a lanterna. (MC CANN VAI ATÉ A PORTA. APAGA
AS LUZES E POE 0 FOCO DA LANTERNA EM MEG. PELA JANELA VE-SE UMA.
LUZ MORTIÇA) Não na senhora! No cavalheiro. É preciso que o aniversariante seja o foco
das atenções. . (MC CANN PÕE O FOCO DA LANTERNA NO ROSTO DE STANLEY)
Pronto dona Meg, pode começar. (PAUSA)
GOLDBERG: Olhe para ele, basta olhar para ele.
MEG: Essa luz não estã nos olhos dele?
GOLDBERG: Não, não. Pode começar.
MEG: Pois bem... estou muito contente de estar aqui, esta noite, na minha casa, e quero propor
um brinde ao Stanley, porque é aniversário dele, e porque agora jã faz muito tempo que ele
mora aqui, e agora ele ê o meu Stanley. Eu acho que êle é um bom rapaz, embo ra as vezes
seja mau. (UM RISO DE APOIO DE GOLDBERG) E ele e o único Stanley que eu conheço,
e eu o conhe ço melhor do que qualquer outra pessoa no mundo, mui to embora ele pense que
não. (GOLDBERG DIZ: "ORA VE JA") Eu podia chorar de felicidade, porque ele estã aqui e
não foi embora, no dia do seu aniversário, e não hã nada que eu não faça por ele, e todos os
que aqui estão presentes... (ELA SOLUÇA).
GOLDBERG: Lindo! Uma beleza! Acende a luz Mc Cann. (MC CANN VAI ATE A
PORTA. STANLEY CONTINUA IMÓVEL) Um brinde primoroso. (A LUZ ACENDE.
ENTRA LULU PELA PORTA DA DIREITA. GOLDBERG CONSOLA MEG) Coragem,
vamos; é pre ciso sorrir. Olha o passarinho! Assim, assim. Ainda nem bebemos a saúde dele.
Olha quem estã aqui.
MEG Lulu
GOLDBERG: Como está, Lulu? Sou Nat Goldberg. Stanley, um drinque para a
convidada. Infelizmente chegou atrasada para ouvir o brinde. E que brinde.
LULU: Cheguei?
GOLDBERG: Stanley. Um drinque para a convidada, Stanley.( STAN LEY ENTREGA UM
COPO A LULU) Ótimo, agora todos le vantem seus copos. Todos de pê. Não; você não, Stan
ley. Você tem de ficar sentado.
MC CANN: Isso mesmo. Você fica sentado.
GOLDBERG: Você não se importa de ficar sentado um instante, pois não? Vamos só beber a sua
saúde.
MEG: Anda. (STANLEY SENTA-SE JUNTO A MESA)
Goldberg: Ótimo (TOMANDO O COPO PARA SI) Bom, em primeiro lugar eu quero dizer que
nunca fiquei tão profundamente co movido, como com o brinde que acabei de ouvir.Quantas
vezes hoje em dia, encontramos uma afeição genuína? Uma vez na vida e outra na morte. Ate
hã poucos minu tos atras, senhores e senhoras, eu - como todos vos -me fazia sempre a mesma
pergunta: Que fim levaram o amor, a bondade, a deslavada expressão de afeto de an tanho,
que nossas mães nos ensinavam no berço?
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MC CANN: Aí mesmo?
MEG: E.
MC CANN: Estã acostumada a misturar?
MEG: Não.
MC CANN: Sente aí. Dã aqui o copo (MEG SENTA-SE NUM CAIXOTE , NA ESQUERDA
BAIXA, LULU A MESA SERVE MIS BEBIDA PARA GOLDBERG E PARA SI MESMA,
DANDO A ESTE ÚLTIMO 0 SEU COPO).
GOLDBERG: Obrigado.
MEG: (PARA MC CANN) Acha que deve?
GOLDBERG: Lulu, você é uma garota e tanto. Vem sentar no meu colo.
MC CANN: Porque ê que não?
LULU:Acha que devo?
GOLDBERG: Só para experimentar.
MEG: (PROVANDO) Muito gostoso.
LULU:Eu vou subir aos ceus.
MC CANN: Não sei como e que você consegue misturar essa droga.
GOLDBERG: Arrisca.
MEG: (PARA MC CANN) Sente aqui neste banquinho. (LULU SENTA-SE NO COLO DE
GOLDBERG)
MC CANN: Aqui.
GOLDBERG: Está bom?
LULU: Ótimo.
MC CANN: (SENTANDO-SE) Até que é confortável.
GOLDBERG: Sabe, seus olhos são muito interessantes.
LULU: Os seus também.
GOLDBERG: Você acha?
LULU: (DANDO UMA RISADINHA) Ora, deixa disso.
MC CANN: (PARA MEG) Onde é que você arranjou?
MEG: Meu pai me deu.
LULU: Eu não sabia que ia encontrã-lo aqui hoje.
MC CANN: (PARA MEG) Você jã foi a Carrikmcross?
MEG: (BEBENDO) Já fui à estação de King's Cross.
LULU: Você apareceu do nada, não é?
GOLDBERG: (ENQUANTO ELA SE MEXE) Cuidado aí. Você estã me partin do uma costela.
MEG: (LEVANTANDO-SE) Eu quero dançar. (LULU E GOLDBERG MIRAM-SE NOS
OLHOS. MC CANN BEBE. MEG VAI ATE STANLEY) - Stanley, vamos dançar.
(STANLEY FICA IMÕVEL. MEG DAN ÇA PELA SALA SOZINHA, DEPOIS VOLTA
ATÉ MC CANN, QUE TORNA A ENCHER-LHE 0 COPO. ELA SENTA-SE)
LULU: (PARA GOLDBERG) Quer saber de uma coisa?
GOLDBERG: O que?
LULU: Você inspira confiança.
GOLDBERG: (LEVANTANDO A TAÇA) Gesundheit.
LULU: Você é casado?
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GOLDBERG: Já fui. E que mulher. Escute sé: todas as sextas- fei ras ã tarde eu saia para fazer
um exercíciozinho, an dando pelo parque. Por favor, quer sentar um pouco na mesa. (LULU
SENTA-SE NA MESA) (ELE SE ESPREGUIÇA E CON TINUA) Um exercíciozinho.
Cumprimentava as crianças meninos e meninas, sem distinção - e depois voltava pa ra casa,
para o nosso bangalô, de teto baixo. E minha mulher gritava "SIMEY", entra logo antes que
esfrie. E o que é que você acha que estava sempre a minha espera, na mesa? 0 melhor pedaço
arenque recheado com pepino em conserva que se possa imaginar.
LULU: Eu pensava que o seu nome era Nat.
GOLDBERG: Ela me chamava "Simey".
LULU: Aposto que você era bom marido.
GOLDBERG: Você devia ter visto o enterro dela.
LULU: Por que?
GOLDBERG: (TOMA FÔLEGO E SACODE A CABEÇA) Que enterro.
MEG: (PARA MC CANN) Uma vez meu pai ia me levar a Irlanda. Mas acabou indo sozinho.
LULU: (PARA GOLDBERG) Será que você me conheceu quando eu era pequena?
GOLDBERG: Você foi uma nenina boazinha?
LULU: Fui.
MEG: Eu não sei nem se ele foi para a Irlanda.
GOLDBERG: Vai ver que brinquei de carregar você na "carcunda".
LULU: Vai ver que sin.
MEG: Ele não me levou.
GOLDBERG: Ou de cirandinha.
LULU: Isso é brincadeira?
GOLDBERG: Claro que é.
MC CANN: Porque é que ele não te levou para a Irlanda? Você está me fazendo cócegas. E daí?
LULU: Sempre gostei de homens maduros. São repousantes. (ABRAÇAM-SE)
MC CANN: Eu conheço um lugar. Roserea. A casa da Velha Nolan.
MEG: Quando eu era pequena tinha uma luz no meu quarto que ficava acesa a noite inteira.
MC CANN: Uma vez fiquei na farra com a rapaziada. Cantando e bebendo a noite inteira.
MEG: A minha babá ficava sentada perto de mim cantarolando.
MC CANN: E de manhã fomos todos comer peixe. E hoje em dia veja só onde estou.
MEG: Meu quartinho era cor de rosa. Tinha um tapete cor de rosa e cortinas cor de rosa, e havia
uma porção de caixinhas de musica pelo quarto. E elas tocavam para eu dormir. E meu pai era
um medico muito importante. E por isso que eu nunca fiquei doente. Cuidavam muito de
mim. Eu tinha irmãzinhas e irmãozinhos em outros quartos de cores diferentes.
MC CANN: Tuilamore, onde estás?
MEG: (PARA MC CANN) Me dá mais um golinho?
MC CANN: (ENCHENDO-LHE O COPO E CANTAROLANDO) Gloria, glória , aos bravos
fenianos.
MEG: Que linda voz.
GOLDBERG: Mc Cann, canta qualquer coisa. Uma canção de amor.
MC CANN: (DECLAMANDO) Na noite em que Paddy foi morto, a turma foi toda lá vê-lo.
GOLDBERG: Uma canção de amor.
MC CANN: (CANTANDO A PLENOS PULMÕES)
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MEG: Peguei.
LULU: Tira o lenço.
MEG: Que cabelo bonito.
LULU: (TIRANDO A ECHARPE) Pronto.
MEG: É você.
GOLDBERG: Põe o lenço, Mc Cann.
LULU: (AMARRANDO-O EM MC CANN) Pronto. Dá uma volta. Quantos dedos você está
vendo?
MC CANN: Não sei.
GOLDBERG: Pronto. Todos mudem de lugar. Agora, parem. (MC CANN COMEÇA A
MOVER-SE)
MEG: Que bom.
GOLDBERG: Quieta. Assim, não. Todos mudem de lugar novamente. Pronto. Agora. (MC
CANN COMEÇA A ANDAR PELA SALA. GOLDBERG ACARICIA LULU A
DISTÂNCIA DE UM BRAÇO. MC CANN APROXIMA-SE DE STANLEY E TOCA-LHE
NOS ÓCULOS)
MEG: Pegou Stanley.
GOLDBERG: (PARA LULU) Está gostando da brincadeira? Agora é você Stanley.
MC CANN (RETIRANDO A VENDA) Deixe que eu guardo os seus óculos.
(TIRA OS ÓCULOS DE STANLEY)
MEG: Dá aqui o lenço.
GOLDBERG: (SEGURANDO LULU) Amarra o lenço dona Meg.
MEG: Já estou amarrando.
LULU: (PARA GOLDBERG) Me beija. (BEIJAM-SE)
MEG: (PARA STANLEY) Está vendo o meu nariz?
GOLDBERG: Ele não vê nada, tudo pronto? Ótimo. Todos mudem de lugar. Parem. Fiquem
quietos. (STANLEY ESTÃ VENDADO. MC CANN RECUA VAGAROSAMENTE
CRUZANDO O PALCO. ELE QUEBRA OS ÓCULOS DE STANLEY, ESTALANDO A
ARMAÇÃO AO MEIO. MEG ESTÁ A ESQUERDA BAIXA. LULU E GOLDBERG NO
CENTRO AO AL TO, BEM JUNTOS. STANLEY COMEÇA A MOVER-SE MUITO
VAGAROSAMENTE, CRUZANDO O PALCO PARA A DIREITA, MC CANN PEGA O
TAMBOR E COLOCA-O SOBRE O LADO, NO CAMINHO DE STANLEY STANLEY
CAMINHA EM DIREÇÃO AO TAMBOR). (STANLEY CAI SOBRE ELE, FICANDO
COM O PÉ PRESO NO MESMO)
MEG: Ohhh. . .
GOLDBERG: Ohhh...
(STANLEY LEVANTA-SE E COMEÇA A ANDAR EM DIREÇÃO A M ARRASTANDO O
TAMBOR PRESO NO PÉ. ALCANÇA-A E PÁRA.SUAS MÃOS MOVEM-SE NA DIREÇÃO
DELA E FINALMENTE ALCANÇAM SUA GARGANTA. ELE COMEÇA A
ESTRANGULÁ-LA.MC CANN E GOLDBERG PRECIPITAM-SE PARA A FRENTE E
FAZEM-NO SOLTA-LA ) (AS LUZES SE APAGAM. ESCURIDÃO COMPLETA, JÁ
DESAPARECEU COMPLETAMENTE A LUZ QUE VINHA DA JANELA).
LULU: A luz.
GOLDBERG: O que é que aconteceu? A luz.
MC CANN: Espera um instante.
GOLDBERG: Onde está ele?
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MC CANN: Me larga!
LULU: Alguém está me tocando.
GOLDBERG: Quem é este?
MEG: Sou eu.
MC CANN: Onde está ele?
MEG: Porque é que a luz apagou?
GOLDBERG: Onde estã sua lanterna? (MC CANN ACENDE A LANTERNA NO ROSTO DE
GOLDBERG) Em mim não! (MC CANN VIRA A LANTER NA QUE RECEBE UMA
PANCADA E E JOGADA NO CHÃO: APAGA-SE)
MC CANN: Minha lanterna!
LULU:Meu Deus.
GOLDBERG: Onde estã sua lanterna? Apanhe a lanterna.
LULU:Me abraça, me abraça.
GOLDBERG: Ajoelha aqui, ajude a procurar a lanterna.
LULU:Não posso.
MC CANN: Desapareceu.
MEG: Porque ê que a luz apagou?
GOLDBERG: Todos quietos. Ajudem a procurar a lanterna. (SILÊNCIO GRUNHIDOS DE MC
CANN E GOLDBERG, QUE ESTÃO DE JOE LHOS. REPENTINAMENTE OUVE-SE UM
RUFAR INCISIVO E CONTÍNUO DOS PAUS DO TAMBOR, SOBRE 0 LADO DO
MESMO. NO FUNDO DA SALA. LULU CHORAMINGA).
GOLDBERG: Está aqui. Mc Cann.
MC CANN: Aqui.
GOLDBERG: Vem cá, vem cá. Com calma. Aqui. (GOLDBERG E MC CANN
AVANÇAM PARA O FUNDO DO PALCO PELA DIREITA DA MESA. STANLEY
DESCE PELA ESQUERDA DA MESA. LULU DE REPENTE, SENTE SUA
PROXIMIDADE, DÃ UM GRITO E DESMAIA. MC CANN E GOLDBERG VIRAM-SE E
TROPEÇAM UM NO OUTRO) Que foi.
MC CANN: Quem foi?
GOLDBERG: O que foi? (NO ESCURO STANLEY PEGA LULU DO CHÃO E COLOCA-A
EM CIMA DA MESA)
MEG: E lulu! (GOLDBERG E MC CANN DESCEM PELA DIREITA)
GOLDBERG: nnde estã ela?
MC CANN: Ela caiu.
GOLDBERG: Onde?
MC CANN: Por aqui.
GOLDBERG: Me ajuda a carregá-la.
MC CANN: (DESCENDO MAIS PELA DIREITA) Não encontro.
GOLDBERG: Tem de estar em algum lugar.
MC CANN: Mas aqui não estã.
GOLDBERG: (DESCENDO PELA DIREITA) Tem de estar.
MC CANN: Ela sumiu. (MC CANN ENCONTRA. A LANTERNA NO CHÃO E
ACENDE-A, ILUMINANDO A MESA E STANLEY, LULU ESTÃ DEI_ TADA NA MESA,
ESTIRADA, DE BPAÇOS E PERNAS ABERTOS E STANLEY DEBRUÇA-SE SOBRE
ELA. ASSIM QUE A LUZ 0 ILU¬MINA STANLEY COMEÇA A RIR, UM RISO
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TERCEIRO ATO
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PETEY: Já vi.
MEG: Mas ontem ele não estava ai. Você... você espiou lá dentro?
PETEY: Só dei uma olhada.
MEG: (APROXIMANDO-SE, TENSA E SUSSURANDO) Tem alguma coisa lá dentro?
PETEY: Dentro?
MEG: É.
PETEY: Dentre de que?
MEG: Dentro do carro.
PETEY: Que espécie de coisa?
MEG: Bem...quero dizer... tem... um carrinho de mão?
PETEY: Um carrinho de mão?
MEG: E.
PETEY: Eu não vi.
MEG: Não? Tem certeza?
PETEY: E para que e que o senhor Goldberg havia de querer um
carrinho de mão?
MEG: O senhor Goldberg?
PETEY: O carro ê dele.
MEG: (ALARMADA) E dele? Ah, eu não sabia que era dele.
PETEY: E claro que é dele.
MEG: Que alívio.
PETEY: O que e que você estã falando?
MEG: Nada, estou aliviada.
PETEY: E melhor você tomar um pouco de ar.
MEG: E. Já vou. Vou fazer minhas compras (DIRIGE-SE À PORTA DOS FUNDOS; UMA
PORTA BATE NO ANDAR DE CIMA. ELA VOLTA) É o Stanley. Ele vai descer - e o que
é que eu vou dar a ele para o cafê? (CORRE PARA A COZINHA) Petey, o que é que eu vou
fazer para o cafê? (ELA ESPIA PELA JANELA DE COMUNICAÇÃO) Não tem cornflakes
(AMBOS OLHAM EM DIREÇÃO A PORTA. ENTRA GOLDBERG. ELE PARA JUNTO
À PORTA QUANDO VÊ OS DOIS OLHARES, E LOGO SORRI)
GOLDBERG: Um comité de recepção?
MEG: Eu pensei que era o Stanley?
GOLDBERG: E encontra alguma semelhança?
GOLDBERG: (AVANÇANDO) Não temos o mesmo tipo, e claro.
MEG: (ENTRANDO. VINDA DA COZINHA) Eu pensei que ele estava
descendo para o café. Ele ainda não tomou café.
GOLDBERG: A sua senhora faz um chá excelente, senhor Boles; sa bia disso?
PETEY: E. As vezes faz. Mas as vezes esquece.
MEG: Ele vai descer?
GOLDBERG: E claro que ele vai descer. Num dia lindo destes quem não desceria? Vai levantar
já já. (SENTA-SE A MESA) E o que é que ele vai ganhar para o café?
MEG: Senhor Goldberg.
GOLDBERG: O que é?
MEG: Eu não sabia que aquele carro lã fora era seu.
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GOLDBERG: Gostou?
MEG: 0 senhor vai passear?
GOLDBERG: Um carro e tanto, heim...?
PETEY: Levou um bom polimento.
GOLDBERG: Escute o que lhe digo: o que é velho é que é bom.Aqui lo é que é carro espaçoso.
Tem espaço na frente e atrás. (PASSA A MÃO NO BULE) O bule estã quente. Mais chã,
senhoi Boles?
PETEY: Não, obrigada.
GOLDBERG: (SERVINDO-SE) Carro é aquilo. Nunca falhou.
MEG: O senhor vai passear?
GOLDBERG: (RUMINANDO) Sem falar na mala. Que mala explendida. Com o justo
espaço... para aquele tamanho.
MEG: Bom, ê melhor eu ir andando. (DI RI GE-SE À PORTA DOS FUNDOS) Petey, se o
Stanley descer...
MEG: Diz para ele que eu não demoro.
PETEY: Eu digo.
MEG: (VAGAMENTE) Eu não demoro. (SAI)
GOLDBERG: (PROVANDO O CHÁ) Boa mulher. Encantadora. Minha mãe era assim mesmo.
E minha mulher a mesma coisa.
PETEY: Que tal está ele agora?
GOLDBERG: Quem?
PETEY: Stanley. Está melhor?
GOLDBERG: (HESITANDO UM POUCO) Ora... um pouco melhor, creio; um pouco melhor.
Naturalmente não sou eu quem pode dizê-lo, senhor Boles, quero dizer, não tenho as devidas
creden ciais. 0 melhor seria que alguém...devidamente... ummm ... credenciado... o
examinasse. Alguém com meia dúzia de diplomas. 0 caso é esse.
PETEY: É.
GOLDBERG: De qualquer modo Dermot estã com ele agora, Está fazendo... companhia.
PETEY: Dermot?
GOLDBERG: É.
PETEY: É horrível.
GOLDBERG: É. A comemoração do aniversario foi demais para ele. (SUSPIRA)
PETEY: O que é que deu nele?
GOLDBERG: (CORTANDO) 0 que é que deu nele? Um colapso, senhor Boles. Pura e
simplesmente. Um colapso nervoso.
PETEY: Mas o que será que provocou isso assim, tão de repente?
GOLDBERG: (LEVANTANDO E CRUZANDO PARA O ALTO) Ora, senhor Boles, essas
coisas acontecem das maneiras mais inesperadas. Ainda no outro dia um amigo meu me
falava disso. Estávamos preocupados com um outro caso... não inteiramente semelhante, é
claro. mas... bastante parecido. (PAUSA)
De qualquer modo, ele estava dizendo, esse meu amigo que às vezes a coisa aparece aos
poucos... dia a dia, vai crescendo, crescendo, crescendo... dia a dia. E hã outras vezes que
acontece assim de repente. PUFF'.'. Assim'. Os nervos estalam. Ninguém pode saber como' ê
que vai acontecer, mas em alguns casos... é inevitável .
PETEY: Verdade?
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GOLDBERG: E. Esse meu amigo... estava falando nisso... ainda no outro dia. (PARA UM
MOMENTO, INSEGURO, DEPOIS TIRA DO BOLSO UMA CIGARREIRA E PEGA UM
CIGARRO) Quer um Abdulah?
PETEY: Não, obrigado. Não gosto.
GOLDBERG: De raro em raro permito-me o luxo de um cigarro. Ãs vezes um cigarro. As
vezes um... (ESTALA OS DEDOS)
PETEY: Que noite. (GOLDBERG ACENDE O CIGARRO COM UM ISQUEIRO) Entrei
pela porta da frente e estava tudo escuro. Meti um xelim no medidor, entrei, e a festa tinha aca
bado.
GOLDBERG: Meteu um xelim no medidor?
PETEY: E.
GOLDBERG: E as luzes acenderam.
PETEY: E. E aí eu entrei.
GOLDBERG: (COM UM RISO CURTO) Pois eu estava certo de que era um fuzível.
PETEY: (CONTINUANDO) Estava um silêncio de morte. Não se escutava nada. Então eu
subi e encontrei o seu amigo Dermot... no patamar e ele me contou.
GOLDBERG: Quem?
PETEY: Seu amigo - o Dermot.
GOLDBERG: (PESADAMENTE) Dermot. Ah, sim. (SENTA-SE)
PETEY: Às vezes eles ficam bons, não ficam? Quer dizer; é possível ficar bom, não ê?
GOLDBERG: Ficar bom? Sim, hã casos que se recuperam de uma maneira ou outra.
PETEY: Quer dizer; pode ser que ele já tenha ficado bom, não é?
GOLDBERG: É possível, é possível.
PETEY: (LEVANTA E LARGA O BULE E A XÍCARA) Bom, se até a hora do almoço
ele não estiver melhor, eu chamo um médico.
GOLDBERG: (PRONTAMENTE) Já está tudo providenciado, senhor Boles. Não é preciso
o senhor se preocupar.
PETEY: (DESCONFIADO) Que é que o senhor quer dizer com isso?
GOLDBERG: MC CANN: GOLDBERG:
MC CANN:
GOLDBERG:
(BATE UMA PORTA NO ANDAR DE CIMA. OS DOIS VIRAM-SE PA RA A PORTA„
ENTRA MC CANN CARREGANDO DUAS MALAS) Ah , é você? De malas prontas? (VAI
PARA A COZINHA COM 0 BU LE E A XÍCARA) (MC CANN CRUZA PARA A
DIREITA E POUSA AS MALAS NO CHÃO. VAI ATE A JANELA E OLHA PARA
FORA)
GOLDBERG: Então? (MC CANN NAO RESPONDE) Mc Cann, eu disse,então?
MC CANN: Então o que? (SEM SE VIRAR)
GOLDBERG: O que é que há. (MC CANN NÃO RESPONDE) O que é que há?
MC CANN: (VIRANDO-SE PARA GOLDBERG, SINISTRAMENTE) Eu não subo mais lá.
GOLDBERG: Por que?
MC CANN: Eu não subo mais lá.
GOLDBERG: O que é que está acontecendo?
MC CANN: (AVANÇANDO) Agora ele está quieto. Já parou com aquela... falação há algum
tempo.
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GOLDBERG: (PARA PETEY) Isso mesmo. Sabe como é que estas moças ás vezes cantarolam.
Estava cantando.
MC CAN: E aí?
GOLDBERG: Cantei também. Só umas canções. Umas poucas canções. Umas canções velhas.
E, de repente, ela apagou.
PETEY: (LEVANTANDO-SE) Enquanto isso, acho que vou dar uma olhada no jardim.
GOLDBERG: Enquanto o que?
PETEY: Enquanto esperamos.
GOLDBERG: Esperamos o que? (PETEY ENCAMINHA-SE PARA A PORTA DOS
FUNDOS) O senhor vai para a praia?
PETEY: Ainda é cedo. Não deixe de me chamar, quando ele descer, sim?
GOLDBERG: (EMPENHADO) Olhe que a praia vai estar apinhada...num dia assim. Vai ter
gente tomando sol e nadando. Isso ê que é vida! E as cadeiras! As cadeiras já estão pre
paradas?
PETEY: Eu jã arrumei todas hoje cedinho.
GOLDBERG: Mas os bilhetes? Quem vai se encarregar dos bilhetes?
PETEY: Pode deixar. Pode deixar, senhor Goldberg. Não precisa se preocupar. Eu volto já.
(SAI. GOLDBERG LEVANTA-SE. VAI ATE A JANELA E FICA OBSERVANDO-O. MC
CANN ES TA A MESA. A DIREITA, SENTA-SE PEGA O JORNAL E COMEÇA A
CORTÁ-LO EM TIRAS IGUAIS).
GOLDBERG: Estã tudo pronto?
MC CANN: Tudo.
GOLDBERG: (ANDA PENSATIVO ATÉ A MESA. SENTA-SE A ESQUERDA,
OBSERVANDO QUE MC CANN ESTA FAZENDO) Para com isso!
MC CANN: O que?
GOLDBERG: Por que e que você fica sempre fazendo isso? É infan¬til. Inteiramente gratuito,
não significa nada.
MC CANN: O que é que há com você hoje?
GOLDBERG: Perguntas, perguntas. Para que perguntar tanta coisa? Quem é que você pensa
que eu sou?
MC CANN: (ESTUDA-O. DEPOIS DOBRA O JORNAL DEIXANDO DENTRO AS TIRAS)
Então? (PAUSA. GOLDBERG ENCOSTA-SE NA CADEIRA COM OS OLHOS
FECHADOS) Então?
GOLDBERG: (CANSADO) Então o que?
MC CANN: O que ê que hã?
GOLDBERG: Ora, o que é que há?
MC CANN: Vamos esperar ou vamos buscar ele?
GOLDBERG: Você quer ir buscá-lo? (VAGAROSAMENTE)
MC CANN: O que quero ê acabar com isso.
GOLDBERG: Comnreendo.
MC CANN: E então, vamos esperar, ou...
GOLDBERG: (INTERROMPENDO) Não sei por que, mas estou exausto. Sinto-me um pouco...
e comigo isso não é comum.
MC CANN: Não diga!
GOLDBERG: É muito raro.
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pai de seu pai! Sua tataravó! (SILÊNCIO. LEVANTA-SE VAGAROSAMENTE) E é por isso
que alcancei esta posição, Mc Cann. Porque sempre me mantive em forma. Meu lema e
trabalhar muito e divertir-me muito. Nunca tive a menor doença. (EMITE UM GUINCHO
ESTRIDENTE E FINO) O que foi isso?
MC CANN: O que?
GOLDBERG: Eu escutei uma coisa.
MC CANN: O que?
GOLDBERG: Um barulho. Um barulho esquisito.
MC CANN: Foi você.
GOLDBERG: Eu?
MC CANN: É.
GOLDBERG: (INTERESSADO) Quer dizer que você também escutou?
MC CANN: Escutei.
GOLDBERG: Então fui eu, hein... (DÁ UMA RISADINHA) Veja só. 0 que e que eu fiz?
MC CANN: Seu... uma espécie de guincho.
GOLDBERG: Deixa de história. (RI. AMBOS RIEM, DE REPENTE, RAPIDAMENTE E
ANSIOSAMENTE) Onde estã sua colher? Está aí?
MC CANN: (MOSTRANDO) Está.
GOLDBERG: Me examina. (ABRE A BOCA E PÕE A LÍNGUA DE FORA) Anda. (MC
CANN COLOCA A COLHER SOBRE A LÍNGUA DE GOLDBERG) Aaa, aa,
Aaaaaaa!
MC CANN: Perfeito.
GOLDBERG: De verdade?
MC CANN: Palavra de honra.
GOLDBERG: Quer dizer que você entende como atingi esta situação, heim?
MC CANN: Claro que entendo (GOLDBERG RI. AMBOS RIEM)
GOLDBERG: Mas por via das duvidas, me dã uma soprada. (PAUSA) Uma soprada na
boca. (MC CANN FICA DE PÉ, COLOCA AS MIOS NOS JOELHOS, INCLINA-SE E DÁ
UMA SOPRADA NA BOCA DE GOLDBERG) Dá outra, oor garantia. (NOVAMENTE MC
CANN SOPRA-LHE A BOCA. GOLDBERG RESPIRA FUNDO, SACODE A CABE ÇA E
LEVANTA-SE DE UM SALTO) Pronto, tudo em ordem. Um momento, um momento. As
malas estão prontas?
MC CANN: Estão.
GOLDBERG: O Expansor estã na mala? MC CANN: Também. GOLDBERG: Da aqui.
MC CANN: Agora?
GOLDBERG: Agorinha mesmo. (MC CANN VAI ATÉ AS MALAS E TIRA UM APARELHO
DE GINASTICA EQUIPADO COM CORRENTES USADO PARA EXPANDIR O PEITO.
DA A GOLDBERG QUE COMEÇA A BRINCAR COM ELE, ESTICANDO-0 COM
MUITA DESTRESA, E EMPURRANDO MC CANN COM 0 APARELHO. SORRI.) O que
foi que eu disse?(JO GA O APARELHO PARA MC CANN. ENTRA LULU A DIREITA)
Vejam só quem está aqui.
MC CANN: (OLHA OS DOIS E DIRIGE-SE A PORTA, NA PORTA) Vocês tem cinco
minutos. (SAI MC CANN, LEVANDO O EXPANSOR.)
GOLDBERG: Vem cá.
LULU:O que é que vai acontecer?
GOLDBERG: Vem cã.
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LULU:Não obrigada.
GOLDBERG: O que ê que hã? Estã zangada com o tio Natey?
LULU:Eu vou embora.
GOLDBERG: Não quer brincar um pouquinho antes?
LULU: Chega de brincadeiras.
GOLDBERG: Uma moça como você, com a sua idade e com a sua saúde não gosta de brincar?
LULU: Você é muito sabido.
GOLDBERG: E alem disso, quem é que disse que você não gosta?
LULU: Você pensa que eu sou igual as outras , não é?
GOLDBERG: Todas as outras também são assim?
LULU: Eu sei lá como é que as outras são.
GOLDBERG: Nem eu tão pouco. Nunca toquei em outra mulher.
LULU: (AFLITA) O que diria meu pai, se soubesse? E o que diria Eddie?
GOLDBERG: Eddie?
LULU: Eddie foi o meu primeiro amor. E apesar de tudo, tudo o que aconteceu era puro. Como
ele. Ele não entrou pelo meu quarto a dentro, de noite, carregando uma pasta!
GOLDBERG: Mas quem é que abriu a pasta? Foi você, ou fui eu?
LULU: Você se aproveitou de mim. Mas foi so porque estava atordoada com tudo o que
aconteceu ontem à noite.
GOLDBERG: Lulu, Luluzinha. O que passou, passou. Dá cá uma beijoca para fazermos as
pazes.
LULU: Não me toques.
GOLDBERG: Eu vou embora hoje.
LULU: Vai embora?
GOLDBERG: Hoje.
LULU: (COM RAIVA CRESCENTE) Você me usou para uma noite. Um divertimento.
GOLDBERG: Quem é que te usou?
LULU: Você se aproveitou de mim, astuciosamente, quando eu estava com a resistência baixa.
GOLDBERG: Quem é que abaixou ela?
LULU: Foi você. Para matar sua sede horrenda. Se aproveitou de mim quando eu estava
atordoada. Eu nunca mais farei nada daquilo, nem que seja para um sultão.
GOLDBERG: Não é numa noite que se faz um harém.
LULU: Você me ensinou coisas que uma moça não deve saber an tes de ter sido casada pelo
menos três vezes.
GOLDBERG: Assim também, você estã exagerando. De que é que você esta se queixando?
(ENTRA MC CANN RAPIDAMENTE)
LULU: Não era em mim que você estava pensando. Você fez tudo aquilo só para satisfazer seu
apetite.
GOLDBERG: Mas agora você já está me dando indigestão.
LULU: E depois de acontecer tudo aquilo: uma velha quase assassinada, um homem louco. -
Como é que eu vou voltar para o meu trabalho agora? Puxa, Nat, como é que você me fez
isso?
GOLDBERG: Ora Lulu, você estava querendo; ê por isso que eu fiz o que fiz.
MC CANN: Então estão quites.
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GOLDBERG: Muletas.
MC CANN: Serviço de 24 horas.
GOLDBERG: Por conta da firma.
MC CANN: Exato.
GOLDBERG: Serás um homem.
MC CANN: E uma mulher.
GOLDBERG: Serás reorientado.
MC CANN: Serás rico.
GCLDBERG: Serás ajustado.
MC CANN: Serás nosso orgulho.
GOLDBERG: Serás uma persona.
MC CANN: Serás um sucesso.
GOLDBERG: Serás integrado.
MC CANN: Darás ordens.
GOLDBERG: Tomarás decisões.
MC CANN: Serás um magnata.
GOLDBERG: Um estadista.
MC CANN: Terás iates,
GOLDBERG: Animais.
MC CANN: Animais.
GOLDBERG: (OLHA PARA MC CANN) Eu já disse animais. (VIRA-SE NOVAMENTE
PARA STANLEY) Terás o poder de criar e destruir, juro (SILÊNCIO. STANLEY
CONTINUA IMÓVEL) Como é? Que tal? (A CABEÇA DE STANLEY ERGUE-SE MUITO
VAGAROSAMENTE E VIRA-SE PARA GOLDBERG) Como é, rapaz, o que é que acha?
(STANLEY COMEÇA A ABRIR E FECHAR OS OLHOS COM FORÇA)
MC CANN: O que é que o senhor acha dessas perspectivas?
GOLDBERG: Perspectivas. Isso mesmo. Grandes perspectivas. (AS MÃOS DE STANLEY
QUE AGARRAVAM OS ÓCULOS, COMEÇAM A TREMER) O que pensa dessas
perspectivas, Stanley?
STANLEY: (CONCENTRA-SE. SUA BOCA ABRE, TENTA FALAR. NÃO CONSEGUE E
EMITE SOM QUE SAI DA GARGANTA) Uhgug... Uggug, eeeehhhhgug.,. (COM
ASPIRAÇÃO) Caaaahhh... caaaaahhh. ... (OS OUTROS O OBSERVAM. STANLEY
INSPIRA PROFUNDAMENTE, O QUE O FAZ ESTREMECER DA CABEÇA AOS PÉS ,
CONCENTRA-SE)
GOLDBERG: Como é Stanley? Como vão as coisas? (OBSERVAM-NO. ELE SE
CONCENTRA. SEU QUEIXO BAIXA EM DIREÇÃO AO PEITO. ELE SE ENCOLHE)
STANLEY: Ug-gughhhh....guh... gughhhhh....
MC CANN: Senhor Webber? Qual é a sua opinião?
GOLDBERG: Vamos Stan, diga'. O que é que acha dessas perspecti -vas?
MC CANN: Qual é a sua opinião dessas perspectivas? (O CORPO DE STANLEY E
CORRIDO POR UM ARREPIO, RELAXA-SE, A CABEÇA CAI E ELE FICA
NOVAMENTE IMÓVEL, RECURVADO. PETEY ENTRA PELA PORTA À DIREITA)
GOLDBERG: Sempre o mesmo Stan. Vamos embora, vamos, rapaz; estã na hora.
MC CANN: Vem conosco.
PETEY: Para onde e que os senhores vão levã-lo? (VIRAM- SE. SILÊNCIO)
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MEG: Ah. (PAUSA) Foi uma festa linda. Faz tempo que eu não ria tanto. Dançamos e cantamos
e fizemos brincadeiras. Você devia ter aparecido.
PETEY: Estava bom, hein?
MEG: Eu fui a rainha da festa.
PETEY: Deverás?
MEG: Fui sim; todos disseram que fui. E aposto que foi mesmo.
MEG: De verdade. Eu sei. (PAUSA) Eu sei que fui.
CORTINA
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