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AVALIAÇÃO SOMATIVA SUBJETIVA - ESTÁGIO DE APRENDIZAGEM

Disciplina: Fundamento do Direito Público e Privado

Aluno: 1º Sgt VIANA NETO – LAURO PICANÇO VIANA NETO


Grupo: H
Tutor: 2º Ten SOUZA - FERNANDO ANTONIO DE SOUZA TEIXEIRA

1. INTRODUÇÃO

O presente trabalho faz parte do Estágio de aprendizagem da Disciplina de Fundamentos do


Direito Público e Privado, do Curso de Habilitação ao Quadro Auxiliar de Oficiais, biênio 2020/21.
Nas linhas seguintes serão apresentados apontamentos a respeito do Projeto de Lei que amplia o
conceito de exclusão de ilicitude no Direito pátrio, enviado pelo Presidente da República em
novembro de 2019. A discussão gira em torno da constitucionalidade da lei, uma vez que aos olhos
mais desavisados seria uma “licença para matar” que o Estado conferiria aos agentes públicos em
operações GLO. Alguns temas serão abordados, mas o foco principal será na abordagem da Teoria
do Direito Penal do Inimigo, um dos fundamentos do projeto.

2. DESENVOLVIMENTO

Entre as várias ideias defendidas pelo Presidente da República para a área da segurança
pública, a mais polêmica é justamente a que trata sobre a ampliação da excludente de ilicitude em
Operações GLO.
Para compreendermos o que são as excludentes de ilicitude, faz se necessário discorrer
brevemente sobre o conceito de ilicitude. O Código Penal Brasileiro, Decreto-Lei nº 2.848, de 7 de
dezembro de 1940, traz no seu artigo 23 as possibilidades de excludentes de ilicitude: Não há crime
quando o fato é praticado : “I - em estado de necessidade; II - em legítima defesa; e III - em estrito
cumprimento de dever legal ou no exercício regular de direito.
Importante ressaltar que o parágrafo único desse mesmo artigo prevê a possibilidade de
responsabilização pelo excesso doloso ou culposo. Nota-se que a subjetividade encontra-se
justamente qual seria a justa medida da aplicação da Lei e qual o limite entre culposo e doloso.
Discussões acaloradas têm existido em tribunais do júri desde 1940.
O instituto da Garantia da Lei e da Ordem é previsto no artigo 142 da Constituição
Federal de 1988, e regulamentado no Decreto n° 3.897/01. Em poucas palavras acontece
quando os os instrumentos legais do artigo 144 da CF/88, que dispõe sobre a estrutura
da Segurança Pública, em que se objetiva a preservação da ordem pública, da
incolumidade das pessoas e do patrimônio de forma geral, falha, está inoperante ou sem
capacidade operacional de fazer frente ao quadro que se agrava e as forças armadas são
chamadas a intervir subsidiariamente ou assumindo a segurança pública., assim como
está expresso no art. 3° do referido Decreto. 
Mas há uma insegurança jurídica muito grande, na medida que se observa que se
as forças armadas são impelidas a intervir numa comoção intestina, por certo há de se
dizer que não há ambiente de normalidade e as instituições e institutos do direito estão
correndo perigo na sua integridade. Mas apesar dessa constatação, os institutos legais
que balizam as ações são os mesmos da normalidade. Essa é a principal argumentação
dos que defendem tal projeto de Lei. A base doutrinária encontrada para defender taol
projeto está no principio do Direito Penal do Inimigo, formulado por Günther Jakobs, em
1985.Segundo esse autor, deve existir uma separação do Direito Penal em dois grupos: o
Direito Penal do Cidadão e o Direito Penal do Inimigo. Segundo Hannun, Matheus

Jakobs afirma que, o “criminoso de fato” deve ser tido como inimigo do Estado, devendo
aplicar-se a ele um Direito Penal próprio, onde o “inimigo” não goza da plenitude de seus
direitos e garantias individuais, dado a seu grau de “afastabilidade” em relação à
sociedade e ao Estado Democrático de Direito, por se tratar de ser algo a ser combatido
ou exterminado. A teoria sustenta-se em três pilares estruturais, e são eles: a
antecipação da tutela punitiva, a supressão de direitos e garantias fundamentais, e a
promulgação de leis mais duras destinadas ao “inimigo”, tendo assim a formação da
máquina de controle social imaginada por Jakobs.

O Direito Penal do Inimigo considera que o criminoso contumaz, terrorista, integrante de


grupo terrorista, com potencial poder lesivo ao Estado já recebe a reprimenda estatal
antecipadamente pelo fato de colocar-se como inimigo do Estado, em oposição ao
cidadão comum. Exemplificando, um integrante de facção criminosa que porta
ostensivamente uma arma longa de grosso calibre, ao fazê-lo já é em sim uma ameaça
ao Estado e por esse fato, pela possibilidade de vir a cometer um ato tipificado como
crime, terá certos direitos mitigados. Esses indivíduos, segundo a teoria do DPI, já se
afastaram totalmente do convívio social que não podem estar no mesmo pé de
garantismo do indivíduo comum.
É nesse sentido que os especialistas em segurança pública tem apontado o
projeto de lei da excludente de ilicitude, que as ameaças ao Estado de Direito e ao
cidadão comum tem evoluído e o atual código penal em vigor não tem acompanhado essa
evolução no sentido de garantir ao agentes da Lei a devida proteção frente a ameaças
não lineares. Os críticos do projeto dizem que é uma verdadeira licença para matar. Só
que se esquecem que quando uma Operação de GLO está em curso é porque a
normalidade já se foi a tempos, logo o tipo de excludente de ilicitude que se busca é a
exceção para a regra e não a regra da exceção.

3. CONCLUSÃO

O fato é que não há uma licença para matar. O que acontece é que, de acordo com o
projeto, estando todos os elementos tipificados no artigo 23 do Código Penal, há uma investigação
e sendo comprovada a inevitabilidade do ato do agente de segurança, não haverá a persecução
penal. Isso autoriza o Ministério Público de pronto possa pedir o arquivamento da investigação. No
Direito comparado há países que aplicam tal instituto. No caso de comprovado excesso, responderá
o agente por esse dolo ou culpa.
Pelo que já fora exposto, verificamos que haveria um avanço no sentido de promover a
segurança jurídica dos agentes da Lei em operações GLO, em que o inimigo do Estado ao ameaçar
a integridade física do militar ou policial terá a pronta e eficaz resposta para que a violência cesse.
Em muitos casos, o agente se antecipando à iminente agressão é a atitude mais eficaz e talvez a
única para resguarda a sua vida, de terceiros inocente e garantir a aplicação da Lei.

4. BIBLIOGRAFIA

CONSULTOR JURÍDICO. Boletim de \notícias. Disponível em: <https://www.conjur.com.br/2019


-nov-25/pl-amplia-excludente-ilicitude-estimular-violencia>. Acesso em: 12 nov. 2020.

PORTAL DA EDUCAÇÃO. CHQAO FDPP - Unidade 5 - Volume 5 - Direito Penal Militar – Parte
Geral . Disponível em: <https://ebaula.eb.mil.br/mod/folder/view.php?id=98482>. Acesso em: 17
nov. 2020.

BRASIL. Decreto Nº 3.897, de 24 de agosto de 2001. Fixa as diretrizes para o emprego das Forças
Armadas na garantia da lei e da ordem, e dá outras providências. Disponível em: <http://www.plan
alto.gov.br/ccivil_03/decreto/2001/d3897.htm>. Acesso em: 9 nov. 2020.

________. Projeto de Lei N.º 9.064, DE 2017. Altera a redação do art. 292 do Decreto-Lei nº 3.689,
de 3 de outubro de 1941 - Código de Processo Penal, e do art. 234 do Decreto-Lei nº 1.002, de 21
de outubro de 1969 - Código de Processo Penal Militar, para instituir a excludente de ilicitude nas
ações de agentes públicos em operação policial. Disponível em: <https://www.camara.leg.br/propo
sicoesWeb/prop_mostrarintegra?codteor=1625390>. Acesso em: 9 nov. 2020.
Hannun, Matheus. Garantia da Lei e da Ordem: O projeto de excludente de ilicitude de
Bolsonaro
  https://www.justificando.com/2019/11/29/garantia-da-lei-e-da-ordem-o-projeto-de-excludente-de-
ilicitude-de-bolsonaro/ <acesso em 29/11/2020>.

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