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SEGURANÇA EXECUTIVA E DE

AUTORIDADES
AULA 4

O trabalho operacional.

Prof. Claudionor Agibert


CONVERSA INICIAL
Nesta aula abordaremos o tema “Trabalho Operacional”, compreendendo
o perfil do agente de proteção, vestuários, armamentos e equipamentos e
procedimentos e normas.

TEMA 1 – O PERFIL DO AGENTE DE PROTEÇÃO


Ao agente de proteção é conferida uma missão de muita importância. Para
tanto, ele deve possuir certos atributos que são essenciais para atingir um
desempenho adequado. Ser profissional, dedicado, resistente física e
mentalmente, técnico, polido, culto, atento e disposto a dar a própria vida para
salvar o “protegido” são apenas alguns deles.
Vinicius Domingues Cavalcante apresenta as qualidades necessárias
para um agente de proteção:
1.1. O homem precisa ter um excepcional caráter. As pessoas que empregam um
segurança estão – quase literalmente – colocando suas vidas nas mãos do agente
ou guarda-costas. [...].
1.2. O homem de segurança não pode ter vícios em drogas, narcóticos ou álcool.
[...].
1.3. O profissional de proteção não pode apresentar registro de atividade criminosa
ou condenação por prática de delitos. [...].
1.4. Quem quer que se dedique às tarefas de segurança pessoal deve ser
disciplinado, paciente, observador minucioso e dotado de boa memória. Tais
características são importantíssimas, não menos que o bom condicionamento físico,
boa visão e audição apurada. [...].
1.5. Qualquer pessoa que se empregue como segurança pessoal deve ser capaz
de permanecer num pico de eficiência ao longo de um dia inteiro de atividades. [...].
1.6. O guarda-costas ideal, além de ser conhecedor de técnicas de combate
desarmado, estar familiarizado com armamentos de porte e perito em técnicas de
tiro em condições de extremo "stress", estar atualizado quanto aos equipamentos
de sensoreamento e alarme e circuito fechado de TV, também deve ter uma boa
formação. [...]. Formação e apresentação fazem-se necessárias porque o
segurança profissional circula com frequência em ambientes de bom nível,
comparece a festas e outros eventos com pessoas do mundo dos negócios, da
política e das colunas sociais e não "pega bem" para tais grupos virem-se
associados à companhia de guarda-costas que lhes prejudiquem a imagem.
Diversos artistas, executivos e pessoas de projeção tem agentes de segurança que
acumulam também as funções de secretário particular (ou que utilizam tal atividade
como "cobertura" para a atividade principal que é a de proteção pessoal) e tal
situação não comporta profissionais sem um mínimo de apresentação e cultura. Boa

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parte das situações que embaraçam a pessoa protegida são resolvidas com
diplomacia e ninguém de bom senso emprega um segurança que não sabe
conduzir-se e expressar-se.
1.7. O agente de segurança ou "guarda-costas" tem que penetrar, obrigatoriamente,
na intimidade dos segurados e deve manter uma postura crítica, se auto-policiando
de forma a não exceder às intromissões absolutamente necessárias. Da mesma
forma, deve resistir ao ímpeto de aparecer na mídia, posar para fotos expondo-se
em demasia. O profissional de segurança tem por obrigação ser discreto e
reservado. [...]. A “intimidade” com os segurados também tem seu lado
potencialmente negativo; por mais amigo que o segurança venha a se tornar, vale
lembrar que ele não deve divertir-se ou beber com seu protegido, pois tais situações
de relaxamento e descontração podem comprometer todo trabalho de proteção,
colocando a vida de ambos em risco.
1.8. O segurança pessoal é por excelência um planejador. Cabe a ele estudar a vida
do protegido, levantar previamente toda sorte de perigos ou ameaças que pesem
sobre aquele que estiver sob sua guarda e desenvolver procedimentos que
impeçam ou dificultem a materialização de tais adversidades. [...]. Essas tarefas
requerem um profissional meticuloso e acostumado a pensar. [...]..
1.9. O agente de segurança deve trabalhar bem em equipe. [...].
1.10. Existe, atualmente, uma forte tendência para avaliar-se o profissional de
segurança pelo tipo ou calibre da(s) arma(s) que ele porta. Embora tal fator tenha
importância em situações ou cenários específicos, ele não é determinante na
profissão de segurança pessoal. As armas existem "para serem mantidas no
coldre". O bom agente é um bom atirador, mas, conhecendo as implicações do uso
da arma, dificilmente a exibirá e apenas fará uso da mesma [sic] em último caso. Se
houver real necessidade de utilizar a arma, vai pesar muito sua perícia como atirador
e a sua capacidade sacar rapidamente e de efetuar disparos precisos contra seus
alvos. [...].

Dessa maneira, verifica-se facilmente que a função de agente de proteção


não é para qualquer um, no sentido de que o profissional deve congregar
inúmeras características, próprias de perfis relativamente distintos, o que torna
o processo seletivo muito criterioso, todavia necessário, porque, como dito
alhures, o maior bem jurídico existente – a vida – é o que está em jogo.

TEMA 2 – VESTUÁRIOS, ARMAMENTOS E EQUIPAMENTOS


Muitas pessoas podem pensar que um agente de proteção deve sempre
estar de passeio completo. Ledo engano. O vestuário dependerá de dois critérios
básicos: o estilo pessoal da autoridade e/ou executivo e o evento do qual ele/ela
participará. Dessa maneira, o agente de proteção deve ter noções razoáveis de
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etiqueta social, porque precisará saber se comportar em todas as ocasiões, das
mais simples às mais sofisticadas.
Portanto, o agente de proteção deverá se certificar previamente sobre a
natureza da ocasião e verificar como o protegido estará, a fim de que eles
possam estar compatíveis.
Nunca se pode esquecer que o vestuário do agente de proteção precisa
aliar adequação e conforto, por causa das várias horas em pé, da utilização de
armamentos e equipamentos, da necessidade de correr, pular, entre outras
atividades. Ter a sensibilidade e a perspicácia para processar essas variáveis
diferencia “o agente de proteção” de “um agente de proteção”.
Com relação aos armamentos e munições, deve-se entender que isto
dependerá da qualificação do protegido. Tratando-se de uma autoridade pública,
os agentes de proteção serão policiais federais, rodoviários federais, civis ou
militares que, por conseguinte, poderão portar armamento de uso restrito. Se o
protegido for um executivo, os agentes de proteção não serão policiais e,
portanto, somente poderão portar armamento de uso permitido.
Além das armas de porte, podem ser utilizadas armas portáteis (como
submetralhadoras) em pastas ou valises. Os espargidores com gás pimenta, as
armas de “choque” tipo taser e outras menos letais também podem ser restritas
a policiais na função de agentes de proteção. Verifica-se, então, uma maior
dificuldade para os agentes de proteção não policiais.
No que se refere aos equipamentos, pode-se ter mais opções, de acordo
com o orçamento disponível. O certo é que os agentes tenham consigo, pelo
menos, celulares smartphones, máquinas fotográficas, laptops, tablets, canetas,
blocos de anotação, kits de primeiros socorros, bandagens de emergência,
rádios comunicadores, guarda-chuvas, capas de chuva, além de certa quantia
de dinheiro em espécie e em cartão.
Como visto, portanto, a utilização do armamento/munição e equipamentos
adequados será fundamental para o melhor desempenho da missão,
minimizando significativamente os riscos.

TEMA 3 – PROCEDIMENTOS E NORMAS


Depois de realizado o devido planejamento, a equipe de proteção poderá
ser efetivamente empregada na missão. Geralmente se trabalha com perímetros
de segurança ou círculos de proteção.

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Jefferson Silva (2012) assim demonstra:
Devem ser delineadas áreas em torno da autoridade, definindo os perímetros de
proteção e de segurança, estabelecendo previamente quais pessoas poderão ter
acesso a cada nível pré-definido. Tais perímetros poderão ser definidos pela
presença física de agentes e/ou apoio, mas também por barreiras físicas que
auxiliem no sistema de proteção a autoridade, sendo que para isto devem ser
considerados alguns fatores:
1. número de participantes;
2. característica do compromisso;
3. local onde ocorrerá o evento;
4. conjunturas políticas;
5. possibilidades de atos de hostilidade;
6. período em que a autoridade permanecerá no evento;
7. demais autoridades participantes no evento.

Michele Maria Sagin da Silva (2011) apresenta os grupos que devem atuar
na proteção de autoridades e/ou executivos, sendo eles o grupo de preparação
e o grupo de execução.
O grupo de Preparação é assim constituído:
1) Equipe Planejamento
É aquela que coordena os trabalhos com outros órgãos (Ex.: Polícia Militar),
inspeciona os locais e itinerários da autoridade, levanta a vida pregressa do pessoal
que terá contato com a autoridade (Ex.: camareiras, garçons), e a necessidade de
pessoal, materiais e equipamentos para a operação (logística).
2) Equipe Precursora
É aquele grupo de policiais que antecede a visita da autoridade, percorrendo os
locais de eventos e hospedagem previsto no programa, com a finalidade de oferecer
subsídios ao planejamento da segurança.
3) Equipe Vistoria
É aquele grupo de policiais responsáveis pela varredura nos locais de eventos,
hospedagem, itinerário e outros, deslocando-se à frente da autoridade com tempo
variável, com a finalidade de identificar, neutralizar ou remover dispositivos que
ofereçam perigo.

O grupo de Execução é assim constituído:


1) Equipe Aproximada
É a equipe responsável pela proteção imediata da autoridade e por sua retirada
em caso de emergência.
a) Equipe Fixa
É a equipe permanente nos locais de eventos e repouso utilizados pelo dignitário,
incumbida também de fazer a preservação desses locais.

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b) Equipe Móvel
É a equipe que se desloca permanentemente com o dignitário, dedicando-lhe
atenção exclusiva e executando medidas que lhe garantam a integridade física.
2) Equipe Velada
Formado por policiais do serviço de inteligência que devem estar infiltrados na
população, com a finalidade de detectar qualquer movimento hostil. Devem estar
trajados de forma adequada e distribuídos nos locais dos eventos ou nos itinerários
da autoridade.
3) Equipe Avançada
É aquela responsável de chegar aos locais dos eventos com certa antecedência
(mínimo de 15 a 30 minutos antes), aguardando a chegada do dignitário e sua
comitiva para, então, deslocar-se ao local do próximo evento. É nessa atividade que
são observadas as condições de local e público, antes da passagem ou chegada
do comboio, alertando o chefe da equipe (carro-comando) para as anormalidades
observadas.
4) Equipe Ostensiva
Formada por conjuntos de pessoas de diversos órgãos (apoio) que executam
trabalhos ostensivos, com a finalidade de apoiar e facilitar os deslocamentos da
autoridade, anulando ou intimidando ações hostis e prevenindo acidentes.

Uma vez tendo sido compreendidas as diferentes equipes envolvidas na


proteção de autoridades e/ou executivos, aprenderemos as técnicas e
formações em diversos locais e momentos.
Uma autoridade ou executivo pode se fazer presente em locais diversos
e de acordo com esses locais, algumas medidas poderão ser adotadas.
Como exemplo de locais fixo permanentes, citam-se a residência e o local
de trabalho do protegido; e, de locais fixos temporários, mencionam-se centros
de convenções, feiras, museus, shopping centers, galpões, entre outros.
Por outro lado, nos locais fixos temporários, a equipe precursora fará o
levantamento dos pontos vulneráveis; a equipe vistoria realizará a varredura do
local e a equipe avançada chegará um pouco antes do protegido. A equipe
aproximada fixa será a responsável pela segurança do local onde o protegido
estiver.
Para os deslocamentos a pé, existem as formações com um, dois três e
quatro agentes. Os deslocamentos em veículos diversos igualmente implicam na
adoção de procedimentos específicos.

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As varreduras e inspeções são muito importantes, em trabalho da equipe
precursora, na fase prévia da realização do evento. Elas podem ser efetivadas
pelos próprios agentes ou por profissionais especialmente contratados.
Os principais perigos a que estão sujeitas as autoridades/executivos são
as escutas telefônicas clandestinas bem como os artefatos explosivos. Um dos
meios de comunicação mais utilizados e também mais vulneráveis, o telefone
pode esconder uma escuta clandestina que permita a audição e gravação de
conversas, o que pode obviamente expor a autoridade/executivo.
Mesmo não sendo uma situação rotineira no Brasil, deve-se estar
preocupado com a possibilidade de artefatos explosivos serem utilizados contra
o dignitário.
Assim, “os agentes de segurança que, vez por outra, podem ser
confrontados com ocorrências de bomba, precisam ser melhor informados sobre
os artefatos, como preveni-los e detectá-los. A tarefa dos agentes de segurança
é ‘apenas’ a de detectar o objeto suspeito e salvaguardar seu protegido do
contato com ele”. (CAVALCANTE).
Os agentes de proteção precisam ter consciência que os artefatos
explosivos utilizados contra autoridades e executivos poderão não se parecer
com o conceito de bomba tradicional, como bananas de dinamite.

NA PRÁTICA
Um dos temas mais interessantes na proteção de executivos é a carta-
bomba. Não se parece em nada com os explosivos mais tradicionais, todavia é
tão ou muito mais destrutiva. Uma matéria publicada pelo jornal The New York
Times, de 17 de dezembro de 1989, relata como o juiz federal americano Robert
S. Vance morreu por causa da explosão de uma carta-bomba enviada à sua
residência às 15h de 16 de dezembro de 1989, na cidade de Mountain Brook,
Alabama:
Um juiz federal foi morto e sua esposa ficou gravemente ferida esta tarde por uma
carta-bomba que explodiu na casa deles no subúrbio de Birmingham, disseram
autoridades.
O juiz, Robert S. Vance da Corte de Apelações dos Estados Unidos para o 11.º
Distrito morreu instantaneamente quando um pacote entregue em sua casa explodiu
por volta das 15h, de acordo com o porta-voz do FBI, Chuck Steinmetz. A esposa
do juiz, Helen, deu entrada no Hospital Birmingham em graves condições e lesões
internas.

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As autoridades disseram que não tinham motivo ou suspeito. Tom Moore, agente
do F.B.I. em Birmingham, disse que a agência estava investigando a possibilidade
de alguma conexão com o tráfico de drogas colombiano. O juiz Vance ''lidou com
grande volume de casos de drogas da Flórida,'' ele disse, mas enfatizou que as
drogas eram apenas um dos possíveis motivos.

O assassinato do juiz teve relação com a sua profissão. Então, deve-se


considerar que pessoas muito importantes, executivos e autoridades podem sim
estar sujeitos ao recebimento de cartas-bomba.
Portanto, elas não podem ser desconsideradas e qualquer seção de
proteção de autoridades e executivos deve se preparar para a análise e triagem
de correspondências enviadas, minimizando os riscos.

FINALIZANDO
Aprendemos nesta aula sobre o Trabalho Operacional, compreendendo o
perfil do agente de proteção, vestuários, armamentos e equipamentos, e
procedimentos e normas.

REFERÊNCIAS
Associated Press. Letter bomb kills U.S. appeals judge. The New York Times,
17 dez. 989. Disponível em: <http://www.nytimes.com/1989/12/17/us/letter-
bomb-kills-us-appeals-judge.html>. Acesso em: 27 mar. 2017.

CAVALCANTE, V. D. Segurança de dignitários: protegendo pessoas muito


importantes. UNIVERSIDADE FEDERAL DE JUIZ DE FORA. Disponível em:
<http://www.ecsbdefesa.com.br/defesa/fts/SDVC.pdf>. Acesso em: 27 mar.
2017.

SILVA, J. Planejamento Estratégico de Segurança e Proteção de Dignitários


da Governadoria do Paraná. Monografia (Curso de Aperfeiçoamento de
Oficiais) – Academia Policial Militar do Guatupê. São José dos Pinhais-PR, 2012.

SILVA, M. M. S. da. Segurança de dignitário. Disponível em:


<http://cetecportoalegre.tempsite.ws/michele_seg_dignitario_1_e_2.pdf>.
Acesso em: 27 mar. 2017.

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