Você está na página 1de 1

O presidente ouve a observação de Natália e responde: ― "Não se preocupe, Natália.

Conheço Alípio Duarte há 40 anos. Jogamos futebol e fomos parceiros de sinuca durante muito
tempo. Esses empréstimos são tão sólidos quanto as reservas internacionais do país."

Natália ouve, mas não se convence. Seu marido Arthur é o gerente da principal usina
de processamento de cana-de-açúcar dos Duarte. Durante o jantar daquele dia, Natália sabe
por Arthur que a Usina Zuza também estava passando por dificuldades financeiras, já que a
seca vinha alastrando-se, prejudicando a safra da cana, deixando a usina ociosa a maior parte
do tempo. Arthur comenta, então, com Natália: – "A situação da usina não está nada boa. Mas
acredito que agora vai melhorar. Temos, a meu ver, 90% de chance de sairmos do vermelho.
Tudo vai depender de seu Banco aprovar nosso pedido de empréstimo."

Hoje, terça-feira, é a reunião do Comitê de Crédito do Banco que vai discutir o


deferimento de novos pedidos de crédito. Natália, surpresa com o volume do empréstimo
solicitado pela Usina Zuza, salienta que aquela operação, se autorizada, elevará o percentual
de recursos comprometidos com um único tomador para 38%, contrariando a Circular do
Banco Central. Celidônio responde: – "Não se preocupe com formalidades, Natália. Você sabe
que o sobrinho de Alípio, Gustavo Duarte, trabalha no Banco Central. Espero que você
encontre uma solução contábil mágica que nos livre da fiscalização do Banco Central. Afinal,
você é pós-graduada, não é?

Natália raciocinava que, de fato, ela era doutora em Controladoria e Contabilidade,


mas todo seu aprendizado fora voltado para bem informar os usuários das informações
contábeis. Recentemente, ela fizera parte de uma pesquisa sobre Ética Profissional na
Contabilidade, na Escola, cujas conclusões iriam ser publicadas como livro didático. De uma
delas, Natália lembrava-se bem: era de que o profissional de contabilidade não deve, jamais,
informar indevidamente qualquer usuário da informação contábil, seja ele acionista da
empresa, credor ou órgãos do governo. Natália acreditava ainda que a informação era o
principal instrumento de trabalho do contador. Se a empresa quisesse fabricar números para
enganar órgãos fiscalizadores do governo, por que não utilizar simples escriturário para isso?
Sairia bem mais barato para a empresa do que seu salário de controller! Mas, ela, Natália,
pensava em registrar o empréstimo na rubrica contábil correta, fazer o sistema calcular as
medias estatísticas que informassem adequadamente ao Banco Central, sem qualquer
alteração. Ela não iria concordar com "mágicas contábeis" que implicassem a prestação de
informações distorcidas.

Você também pode gostar