Você está na página 1de 35

Dados Internacionais de Catalogação na

Publicação (CIP) (Câmara Brasileira do Livro, SP, Brasil)


Lopes-Herrera, Simone Aparecida
10 passos para o sucesso da intervenção em linguagem infantil
[recurso eletrônico] / Simone Aparecida Lopes-Herrera. --
Bauru : Techknowledge Treinamentos, 2018. 33 p. : il. --
Como Fazer - Fonoaudiologia ; v. 1)

Modo de acesso:
https://site.tk-ead.com.br/wp-content/uploads/2018/10/10-passos.pdf

ISBN 978-85-80167-00-5

1. Fonoaudiologia. 2. Linguagem. 3. Infância. I. A. II. T. III. S. CDD 616.855


APRESENTAÇÃO

Olá, sou Simone Lopes-Herrera, fonoaudióloga e me dedico ao estudo da


Linguagem desde sempre! Na verdade, embora muitas questões tenham
influenciado minha escolha pela Fonoaudiologia, assim que entrei na
Graduação, a Linguagem me encantou!

Sou especialista em Linguagem,


Mestre e Doutora em Educação
Especial, Pós-Doutora em Clínica
Médica e Livre-Docente em
Linguagem Infantil e Fluência.
Atuo como docente e
pesquisadora, mas o trabalho
clínico me acompanha desde o
início. Pesquisar e divulgar o que
pode ser aplicado no dia-a-dia
de todos que atuam com a
Linguagem, produzindo ciência
de qualidade e atualizando os
profissionais com práticas
baseadas em evidências
científicas, é uma das coisas que
mais me encanta! Pois bem, aqui
vamos nós....

Dra. Simone Lopes-Herrera

1
10 Passos para o Sucesso da Intervenção em Linguagem Infantil
CONSIDERAÇÕES INICIAIS

Sempre me perguntam qual o segredo de uma boa intervenção na área da


Linguagem Oral, principalmente em se tratando da atuação com crianças, e foi
daí que nasceu a ideia deste e-book.

É claro que não há “mágica” nem


“livro de receitas”, nem este
e-book tem o intuito de esgotar
o assunto, mas elaborei o mesmo
com intuito de ser um guia
básico, uma forma de você lidar
com algumas questões que – se
seguidas e checadas desde o
início – aumentam as chances de
que o processo de intervenção
dê certo porque você estará
fazendo o seu melhor e o que
temos de mais recomendado na
área! Primeiramente, quero
ressaltar que a Fonoaudiologia é
uma profissão dinâmica e em
constante aperfeiçoamento,
além de que requer muitas
habilidades do profissional que a
exerce, como capacidade de
atuar com outras profissões na
área da Saúde e Educação e até
mesmo com outras áreas da
própria Fonoaudiologia, em
atividades colaborativas e
executando não só a intervenção
em si, mas a prevenção,
avaliação, diagnóstico, etc. Ufa!

2
10 Passos para o Sucesso da Intervenção em Linguagem Infantil
CONSIDERAÇÕES INICIAIS

São muitas tarefas a que temos que nos dedicar. Além disso, nossa sociedade
está se tornando cada vez mais interconectada, integrada e interdependente
com o uso de recursos tecnológicos e uma série de recursos até mesmo
inimagináveis para pessoas que se formaram há muitos anos (como eu).

Só que isso não deve ser visto como algo ruim, pois podemos atualizar nossos
conhecimentos usando as redes sociais, as ferramentas de busca na internet, os
cursos de atualização à distância. Ou seja, o ponto-chave não está no recurso
que utilizamos, mas sim no senso crítico para analisar a qualidade dos materiais
que caem em nossas mãos. Desta forma, ter um “guia” que oriente quais os
passos básicos de uma (boa) intervenção, auxiliará o fonoaudiólogo a julgar
artigos, notícias, livros, testes e protocolos a que ele possa vir a ter acesso para
saber se eles seguem essas premissas básicas de uma intervenção de qualidade,
pelo menos no que se refere à intervenção na linguagem oral infantil. É o que
me proponho aqui!

Agora, antes de abordarmos os “passos”, gostaria de comentar algumas


questões com vocês:

3
10 Passos para o Sucesso da Intervenção em Linguagem Infantil
QUESTÃO 1

POR QUE USO O TERMO “INTERVENÇÃO” E NÃO ”TERAPIA”?


Para mim, a semântica da palavra já faz uma diferença na hora de pautarmos
nosso trabalho e o valorizarmos junto às famílias e cuidadores das crianças que
atendemos e à sociedade. Veja bem:

Intervenção – ato de intervir, incluindo o planejar, organizar e manipular as


condições do ambiente para promover o aprendizado, considerando os três
aspectos mais importantes em se tratando da atuação com crianças:
linguagem/comunicação, comportamento e desenvolvimento. Ao usarmos esse
nome, por si só já damos a noção de que há um planejamento, um “início, meio
e fim” e o foco acaba sendo nas habilidades que precisam ser desenvolvidas.
Ainda, semanticamente, podemos pensar que todos precisamos “intervir” em
algo em nós mesmos, no sentido de nos aperfeiçoar ou melhorar alguma
habilidade [1-2].

Terapia – o termo terapia vem de “tratamento de doentes; terapêutica” e parece


(ao menos para mim) dar uma noção de algo que se estende, que se prolonga.
Não que a intervenção fonoaudiológica não seja um processo, de forma alguma:
pode e deve ser. Contudo, mesmo um processo é algo que deve ter uma
finalidade definida, um “lugar no qual deva chegar”. O termo “terapia” também
vem associado ao tratamento e todo tratamento visa a “cura” de algo. Nesse
caso, as condições com as quais lidamos – na área da linguagem
especificamente – são condições que permanecem de alguma forma, há
“melhora”, “desenvolvimento”, mas difícil sabermos os limites do impacto de
funcionalidade das alterações de linguagem, mesmo que precocemente
trabalhadas, ao longo da vida de um indivíduo [1-2].

Entendeu? Fique a vontade, é claro, em utilizar o termo com o qual você mais de
identifica, mas não feche a sua mente a essa nova reflexão...

4
10 Passos para o Sucesso da Intervenção em Linguagem Infantil
QUESTÃO 2

QUAL A DIFERENÇA ENTRE “ESTIMULAÇÃO” E “INTERVENÇÃO”?


Aqui, a diferença não é só semântica, mas também conceitual. Vou colocar aqui,
bem basicamente, o que a literatura nos fala sobre esses dois termos, que
parecem similares, mas não são.

Estimulação – ato ou efeito de


estimular [1]. É indicado o uso
dessa terminologia ao trabalho
direcionado a uma habilidade
não emergente, isto é, quando
alguma habilidade que a criança
não tem será trabalhada para
que inicie e se desenvolva, até
dizermos que a criança a
adquiriu.

Intervenção – ato ou efeito de


intervir, interceder e mediar.
Envolve modificar as variáveis do
ambiente para que a habilidade
que a criança – embora tenha
iniciado sua aquisição – ainda
não usa espontânea, intencional,
funcional ou sistematicamente
(isto é, em todas as vezes que
seria adequada utilizá-la).

5
10 Passos para o Sucesso da Intervenção em Linguagem Infantil
QUESTÃO 3

DIFERENÇA ENTRE LINGUAGEM E FALA.


Muitas pessoas, inclusive as famílias e cuidadores das crianças que atendemos,
usam esses termos como sinônimos, mas não são e devemos deixar isso muito
claro! Segundo a ASHA (American Speech-Language and Hearing Association)
[3-4], a Linguagem inclui aspectos da compreensão e expressão da parte oral,
escrita, gráfica e de sinais (linguagem de sinais, como a LIBRAS), além do
processamento da mesma e das habilidades de pré-alfabetização (incluindo a
consciência fonológica). É composta dos chamados “componentes” como a
fonologia, morfologia, sintaxe, semântica e pragmática/aspectos sociais da
comunicação. Fala[4] engloba o funcionamento dos sistemas e mecanismos
respiratório, laríngeo, velofaríngeo e movimentos motores-orais para expressar
a linguagem. No entanto, sempre pensamos em como explicar isso para as
famílias e cuidadores, de forma um pouco mais simples? Fica aqui uma
sugestão: [4]

LINGUAGEM
Linguagem consiste nas habilidades que nos permitem compartilhar
socialmente e, portanto, voltado à comunicação, nossas ideias e pensamento
de forma estruturada, usando regras sociais convencionadas (como gramática e
regras da Língua em geral). Consiste em:
• Linguagem receptiva: o que podemos compreender, entender, decodificar.
• Linguagem expressiva: como podemos usar e combinar sons em palavras,
palavras em frases e narrativas para compartilhar nossos pensamentos e ideias,
comunicando o que pensamos, sentimos e o que queremos.

FALA
Fala é como usamos nossa voz, articulação para comunicar de forma fluente o
que pensamos e elaboramos com nossa linguagem. Consiste em:
• Articulação: habilidade em produzir sons específicos.
• Voz: qualidade do som que produzimos com a vibração de nossas pregas
vocais e com características específicas como frequência (tom), intensidade
(volume) e ressonância.
• Fluência: refere-se à suavidade e ritmo que empreendemos à nossa fala.

6
10 Passos para o Sucesso da Intervenção em Linguagem Infantil
QUESTÃO 4

DIFERENÇA ENTRE OBJETIVO, ESTRATÉGIA E RESULTADO.

Objetivo – é o comportamento ou habilidade que auxiliaremos a criança a


desenvolver. Pode ser compreendido também como “o que queremos que a
criança desenvolva” ou, levando em consideração o desenvolvimento típico de
linguagem, “qual o próximo passo/componente que temos que desenvolver com
a criança para ela progredir rumo ao próximo marco de desenvolvimento que ela
deve atingir”.
Ex: levar a criança a obedecer/seguir ordens pode ser um objetivo, mas antes
disso ela tem que compreender o vocabulário usado, então “compreender
vocabulário relativo a.... (categoria semântica)” pode ser o primeiro passo
(objetivo) para ser trabalhado antes do próximo objetivo que será “seguir
ordens/obedecer comandos”. Portanto, objetivos de intervenção são os
comportamentos-alvo específicos que você, fonoaudiólogo, deverá elencar para
a intervenção que desenvolverá com a criança e sua família/cuidadores.
Falaremos mais sobre isso no item relativo ao planejamento da intervenção!!!

Estratégia – é a adequada escolha de brinquedos, atividades e materiais que


serão apropriados para que se chegar a cumprir determinado objetivo de curto
prazo. A escolha de estratégias deverá considerar sempre o nível de
funcionamento da criança, isto é, como está a linguagem receptiva, expressiva,
aspectos cognitivos e demais aspectos desenvolvimentais da criança.

7
10 Passos para o Sucesso da Intervenção em Linguagem Infantil
QUESTÃO 4
DIFERENÇA ENTRE OBJETIVO, ESTRATÉGIA E RESULTADO.

Resultado – é o que se conseguiu de resposta da criança em cada uma das


estratégias de cada um dos objetivos de curto, médio e longo prazo no caminho
a se desenvolver e chegar ao objetivo principal da intervenção. Quando
propomos uma estratégia, ela deverá ser desenvolvida no intuito de levar a
criança a uma resposta, então eu – como fonoaudiólogo – tenho que saber qual
a resposta de desejo daquela criança para cada estratégia que eu vou propor.

Dessa forma, também tenho que planejar o que farei caso ela responda
adequadamente, responda parcialmente ou não responda. Que tipo de
pistas/dicas/reforços você dará para a criança em cada uma das situações? Caso a
estratégia esteja complexa demais, você tem um “plano B” de como reestruturar
a mesma? Ou uma segunda alternativa de estratégia para cada objetivo?
Tudo isso irá influenciar no resultado da sua intervenção. Então, o resultado de
cada sessão depende de você e da criança, sendo que o resultado final também
depende de vocês e da família/cuidadores!

8
10 Passos para o Sucesso da Intervenção em Linguagem Infantil
PASSOS - ENFIM CHEGAMOS AQUI!
PASSO 1

PASSO 1 - Conhecer a aquisição e desenvolvimento da linguagem, seus


marcadores e fatores de risco, assim como do desenvolvimento global
infantil.
Conhecer os marcos do desenvolvimento
da linguagem pode parecer fácil a um
fonoaudiólogo, mas será que todos nós
os conhecemos de fato no sentido de
observá-los na sequência do
desenvolvimento, analisando quais
etapas são necessárias para que as
demais ocorram? Analisando nossa
atuação como profissionais de saúde de
maneira mais abrangente possível, será
que estamos preparados para observar
outros aspectos do desenvolvimento
infantil, como desenvolvimento de
habilidades perceptivas e sensoriais
(visuais, auditivas, táteis-cinestésicas),
marcos motores, habilidades
psicolinguísticas, funções executivas?

Pois bem, conhecer esse desenvolvimento pode ser essencial para avaliarmos a
performance e funcionamento da criança em várias áreas [4]. Isto é, realizar não
só a avaliação específica que nos compete como fonoaudiólogos, mas também
orientar a família e os cuidadores a procurar profissionais de outras áreas caso
seja necessário, ressaltando que o desenvolvimento infantil deve ocorrer como
um todo, em conjunto e em plena integração de todos os aspectos. Recomendo
sempre a aplicação de algum inventário, teste, triagem ou protocolo de
desenvolvimento nas crianças, desde que o fonoaudiólogo se habilite e se
prepare para isso: muitos desses instrumentos exigem habilitações e
treinamentos específicos, mas muitos não precisam e estão disponíveis para
serem utilizados por todos os profissionais de saúde.

9
10 Passos para o Sucesso da Intervenção em Linguagem Infantil
PASSOS
PASSO 1 e PASSO 2

De preferência, escolha um que se encaixe na sua rotina de atendimento e que


englobe desenvolvimento motor, cognitivo, sensorial, auto-cuidados/
independência, além da linguagem em si. Desta forma, conhecer os marcos de
desenvolvimento da linguagem [4] auxilia o fonoaudiólogo a determinar os
objetivos da intervenção e os tipos de pistas, feedbacks e reforços mais
apropriados à criança em cada fase de seu desenvolvimento.

PASSO 2 - Realizar uma boa avaliação fonoaudiológica.

Esse assunto é muito extenso e complexo, porque realizar uma boa avaliação
fonoaudiológica inicial é importantíssimo, não só para chegarmos a um
diagnóstico, mas para termos parâmetros para organizar nosso planejamento
interventivo. Além de que também teremos uma “avaliação de base” que nos
auxiliará a acompanhar a evolução da criança, quando compararmos esta
avaliação com as reavaliações futuras, deste modo teremos não só o comparativo
do desenvolvimento da criança com os marcos do desenvolvimento típico, mas –
sobretudo – com ela mesma. Desta forma, farei aqui apenas algumas
considerações, sem grande aprofundamento no assunto!!!

10
10 Passos para o Sucesso da Intervenção em Linguagem Infantil
PASSOS
PASSO 2

Uma boa avaliação de linguagem deve responder às seguintes questões [4]:

• A criança apresenta um atraso ou alteração/desordem em relação aos marcos


de aquisição e desenvolvimento da linguagem?
• Como está a linguagem da criança em relação às outras áreas de
desenvolvimento e domínios comportamentais?
• Quais os potenciais fatores etiológicos (causas) ou que contribuíram para que
esse atraso/desordem ocorresse na linguagem?
• Qual o prognóstico (o que a criança ganharia) em relação ao seu
desenvolvimento ao começar a intervenção?
• Quais intervenções, além da fonoaudiológica, essa criança teria necessidade?
Antes, depois ou concomitantemente à sua intervenção? Você precisará
encaminhar essa criança a outros profissionais ou ela já frequenta intervenções
ou realizou avaliações nessas áreas com profissionais competentes?
• Quais os objetivos apropriados para a intervenção com essa criança?

Para responder a essas questões, precisamos realizar:

Anamnese completa – por que fazemos uma anamnese? Basicamente para


conhecer a criança e sua família/cuidadores! Afinal, essa família/cuidadores nos
procurou e quer nossa opinião profissional completa e temos o compromisso
ético de bem atendê-la. Portanto, esse momento inicial é aquele momento que
temos que dar atenção total à família e aos cuidadores, ouvir suas queixas e
angústias, respeitando-os, sem impor nossos “juízos morais” de qualquer espécie.
É também um momento de vital importância, no qual faremos um levantamento
minucioso do histórico daquela criança e de sua família/cuidadores quanto aos
fatores de risco e proteção ao desenvolvimento. Nesse momento, é bem
proveitoso solicitar que a família/cuidador traga todos os exames ou relatórios de
avaliações pelas quais a criança tenha passado, assim como relatórios da escola,
se houver.

11
10 Passos para o Sucesso da Intervenção em Linguagem Infantil
PASSOS
PASSO 2

Gosto muito também de solicitar que a família/cuidador me envie ou traga


pequenos vídeos familiares que tenha feito da criança em várias fases do
desenvolvimento porque nos ajuda a ter uma noção de como ele decorreu em
fases anteriores.

Precisamos também de dados sobre histórico geral da saúde da criança (aqui fica
também nossa responsabilidade como profissional de saúde em pedir para
conferir a carteira de vacinação nacional para verificar se está tudo em dia com a
imunização da criança e orientar a família e os cuidadores a procurar uma
unidade básica de saúde, se for necessário), assim como do histórico familiar de
qualquer alteração de fala/linguagem/fluência/comunicação, seja oral ou escrita
e aprendizagem.

12
10 Passos para o Sucesso da Intervenção em Linguagem Infantil
PASSOS
PASSO 2

Muitas famílias e cuidadores não têm muitos dados sobre isso e, então, sugiro
que eles conversem com os parentes mais velhos (pais, avós, tios, etc.) para
averiguar se há algum parente, mesmo que longínquo que tenha tido algum
“problema” nessa área, mesmo que não seja exatamente igual ao que a criança
está manifestando. Isso nos ajudará a compreender e levantar hipóteses sobre a
origem/etiologia do quadro que a criança está manifestando no momento.

Observações dos comportamentos gerais e comunicativos - Uma das


primeiras questões que devemos observar é como a criança se comunica: ela
olha? Ela aponta? Ela tenta compensar o déficit da linguagem verbal com meios
não-verbais? A compreensão (linguagem receptiva) dela e a expressão
(linguagem expressiva) são similares ou uma é melhor que a outra? O nível de
linguagem receptiva e expressiva que a criança demonstra no momento é
coerente com o restante do desenvolvimento? Como ela brinca? Como brincam
com ela? Como pais e escola reagem às solicitações da criança ou quando ela
responde ou não responde à algo ou quando ela fala “errado”?

Há vários protocolos e checklists de observação tanto do comportamento geral


quanto do comunicativo, assim como da interação pais-crianças, do brincar e da
linguagem receptiva e expressiva de crianças disponíveis na literatura, tanto
brasileira quanto internacional, disponibilizados em periódicos (revistas) em
artigos científicos quanto à venda em sites e livrarias especializadas. É
importante ter um roteiro de observação a seguir, porque isso deixa suas
observações mais direcionadas e rigorosas. Registre tudo em vídeo até mesmo
porque, se você ficar na dúvida, pode assistir ao mesmo quantas vezes forem
necessárias!

13
10 Passos para o Sucesso da Intervenção em Linguagem Infantil
PASSOS
PASSO 2

Avaliação da linguagem [4] inclui compreender a história do desenvolvimento


da criança e também comparar esse desenvolvimento ao que seria típico em sua
faixa etária, assim como observar a comunicação funcional da criança tanto
dentro de um contexto comunicativo, como também em protocolos e testes
formais, para analisar sua performance em todos os domínios linguísticos [5].
Uma avaliação completa deve identificar quando uma criança realmente
manifesta um atraso ou desordem de linguagem, assim como identificar se esse
atraso ou desordem decorre de um problema único e específico de linguagem
mesmo ou envolve múltiplas áreas de desenvolvimento (como cognição,
habilidades motoras, etc).

O profissional que realiza a avaliação


também deve analisar quais ganhos a
criança teria caso iniciasse a intervenção,
assim como os prejuízos que ela teria se
acaso não as iniciasse.

Portanto, é de grande responsabilidade


conduzirmos uma avaliação fonoaudiológica
e ainda é mais importante se prevermos que
prejuízos a criança poderia ter caso não
realizássemos essa avaliação incluindo todos
os aspectos necessários não somente para
chegarmos a uma hipótese diagnóstica, mas
para conduzirmos o processo de
intervenção.

14
10 Passos para o Sucesso da Intervenção em Linguagem Infantil
PASSOS
PASSO 2

Fatores a se considerar na avaliação da comunicação geral da criança e que


poderão influenciar no prognóstico são: [6]

• A severidade da alteração de linguagem e/ou fala da criança.


• O tipo de alteração de linguagem e/ou fala da criança.
• A capacidade cognitiva da criança.
• A presença de alterações concomitantes (comorbidades) como desordens
motoras, físicas, sensoriais (auditivas, visuais, etc.), sinais neurológicos, de
síndromes ou outras alterações de desenvolvimento (como autismo) que
possam afetar a comunicação.

Na dúvida sobre qualquer um dos itens


acima, realize o encaminhamento
necessário, sempre justificando à família
e aos cuidadores a importância de tais
avaliações complementares e a atuação
de todos esses profissionais em equipe,
caso a criança necessite de intervenções
em outras áreas, além da
Fonoaudiologia. Respeite e valorize às
demais áreas assim como você gosta e
exige que a sua área seja respeitada e
valorizada!

15
10 Passos para o Sucesso da Intervenção em Linguagem Infantil
PASSOS
PASSO 3

PASSO 3 – PARCERIA COM A FAMÍLIA / CUIDADORES

A parceria com a família/cuidadores começa antes mesmo de iniciarmos a


intervenção. Na verdade, começa desde que a família/cuidador te procurou no
momento da anamnese.

No entanto, analisando o período logo após a avaliação, antes de iniciar a


intervenção, pense que a “devolutiva” não deve só englobar passar o relatório de
avaliação para a família e cuidadores, mas consiste em fornecer uma devolutiva
constante.

A família/cuidador deve ser um agente ativo de todo o processo realizado com a


criança, desde a avaliação e, sobretudo, na intervenção. É em interação com a
família ou cuidador [5,7] que a criança irá assimilar, acomodar e generalizar os
aspectos linguísticos trabalhados na sua intervenção.

Mas como eles farão isso se eles não souberem o que você avaliou e o motivo de
ter abordado aquilo? Como querer que a família/cuidador valorize seu trabalho e
os resultados obtidos se eles não sabem o que você está trabalhando com a
criança?

16
10 Passos para o Sucesso da Intervenção em Linguagem Infantil
PASSOS
PASSO 3

Pois bem, após terminar sua avaliação e


delinear seu planejamento da
intervenção, marque um horário com a
família/cuidador (sem a presença da
criança, de preferência, para terem
tranquilidade para conversar) e explique
a eles item a item do que foi avaliado, já
“amarrando” isso com o que você irá
trabalhar e com as avaliações
complementares que você irá solicitar.

Depois de iniciar a intervenção, organize


e planeje sessões em que os pais irão
participar; quando for explicar algo ou
uma atividade a ser realizada em casa, ou
procedimento de correção ou modelo,
não fale com a família/cuidador na porta
da sua sala ou na sala de espera,
programe-se para que o responsável pela
criança entre na sessão, demonstre como
tem que ser feito o que você está
pedindo: isso fará toda a diferença, posso
te garantir!

17
10 Passos para o Sucesso da Intervenção em Linguagem Infantil
PASSOS
PASSO 4

PASSO 4 – PARCERIA COM A ESCOLA

“Fazer contato com a escola” pode parecer um pouco óbvio, mas é essencial que
se reforce que – para que haja sucesso na intervenção – todos que se relacionam
aos meios sociais a que a criança é exposta, isto é, com as quais ela usa sua
comunicação, precisam estar “falando a mesma língua”.

De que adianta você abordar determinado vocabulário ou conceito que a criança


não usa na casa dela ou na escola que frequenta? Até mesmo porque as chances
dela usar aquela palavra/frase/gesto/conceito que você está trabalhando de
forma mais frequente e funcional aumentam progressivamente ao quanto essa
criança é exposta a ela. Se ela fala/usa/ouve/vê isso na escola, casa e também na
fono, ela com certeza passará a responder melhor em todos esses ambientes
tanto na linguagem receptiva quanto na linguagem expressiva.

É muito importante que o fonoaudiólogo


verifique com a escola quais as
exigências e conteúdos que estão sendo
desenvolvidos com a criança naquele
momento, assim como a forma de apoio
que a escola oferta e se está sendo
necessário realizar adaptações
curriculares [5].

18
10 Passos para o Sucesso da Intervenção em Linguagem Infantil
PASSOS
PASSO 5

PASSO 5 - Elaborar um bom planejamento da intervenção

Para que o processo de intervenção


tenha sucesso, esse passo é essencial.
Você, quando vai viajar para um local que
não conhece, não consulta um mapa,
GPS ou um aplicativo? Isso é planejar!
Pois bem, para saber “aonde você vai”
com essa criança, você também precisa
planejar!!!

Os planejamentos devem ser sim


realizados tendo como base a avaliação,
como afirmei no tópico referente à
avaliação. Afinal, se o objetivo da
avaliação vai muito além do diagnóstico,
sendo que o resultado dela é que pautará
a intervenção, nada mais natural que as
habilidades que eu vi que estão alteradas
na avaliação são as que eu precisarei
desenvolver na minha intervenção [5, 8].

Aí, entra também o primeiro item desses 10 passos, que é um bom conhecimento
do processo de aquisição e desenvolvimento da linguagem [4], pois – a partir
dele – também podemos verificar que habilidades a criança ainda não
desenvolveu, que ainda não emergiram e que seriam necessárias até mesmo
como habilidades anteriores a outras (pré-requisitos). Ex: a criança ainda não
solicita nada verbalmente, mas ela ainda nem aponta os objetos, ainda nem
apresenta os comportamentos comunicativos intencionais de um bebê.

19
10 Passos para o Sucesso da Intervenção em Linguagem Infantil
PASSOS
PASSO 6

PASSO 6 - Estipular objetivos de intervenção de curto, médio e longo prazo.

Os objetivos de intervenção – que devem constar no planejamento - são os


comportamentos-alvo específicos que você, fonoaudiólogo, deverá elencar para
a intervenção que desenvolverá com a criança e sua família/cuidador. Temos
objetivos que podem ser de longo prazo, médio prazo e curto prazo.

Objetivos de longo prazo: os objetivos de longo prazo estão relacionados às


áreas mais amplas de desenvolvimento ou ao produto final da terapia. Ex: “A
criança deverá demonstrar nível apropriado de habilidades de linguagem
receptiva e expressiva de forma a conseguir uma comunicação funcional em todos
os ambientes e de forma a dar suporte a habilidades acadêmicas e de interação
social”. Enfim, seria o que denominamos o “objetivo principal” da intervenção.

Objetivos de médio prazo: são decomposições do objetivo principal em


unidades menores por áreas de desenvolvimento. Por exemplo: “Desenvolver a
estrutura sintática de frases em termos de recepção e, posteriormente, de
expressão”. Na verdade, é como se estivéssemos decompondo uma coisa
complexa em pequenos passos mais simples, ou em escada, em que um degrau
leva a outro e, no topo dessa escada, estivesse o objetivo principal.

Objetivos de curto prazo: são aqueles desenvolvidos sessão a sessão, levando


em consideração a ordem que delineamos na nossa “escada” de objetivos de
médio prazo. Por exemplo, para o objetivo de médio prazo colocado acima seria
como se estipulássemos, como objetivos de curto prazo: (1) “Inicialmente, serão
utilizadas ordens simples com pistas contextuais e, em seguida, tais pistas serão
retiradas gradativamente, até que a criança compreenda e execute a ordem sem
pistas”; (2) “A partir desse momento, serão dadas ordens complexas com 2
elementos com pistas contextuais e, em seguida, tais pistas serão retiradas
gradativamente, até que a criança compreenda e execute a ordem sem pistas” e
assim por diante. Se os objetivos de médio prazo são a “escada”, os de curto prazo
seriam os “degraus”.

20
10 Passos para o Sucesso da Intervenção em Linguagem Infantil
PASSOS
PASSO 7

PASSO 7 - Estipular o tipo de intervenção que será realizada.

O tipo de intervenção que você irá utilizar também é algo a se planejar desde o
início. Por isso, vamos analisar as opções:

Tipos de intervenção [6]

INDIVIDUAL X GRUPO
Podemos ter a intervenção individual,
muito útil nos estágios iniciais da
intervenção de crianças com alterações
de linguagem, nos quais os objetivos
específicos são estabelecer empatia e
interação inicial, assim como pode e
deve ser utilizada em qualquer estágio
da intervenção para trabalhar técnicas
ou estratégias específicas para aquela
criança em particular.

A intervenção individual acaba sendo a


mais tradicionalmente adotada pelos
fonoaudiólogos, mas em muitos casos,
dependendo do local de atendimento,
poderia ser também uma alternativa
interessante à realização de
atendimentos em grupo.

21
10 Passos para o Sucesso da Intervenção em Linguagem Infantil
PASSOS
PASSO 7

Intervenções em grupo podem ser de


variados tipos: desde um fonoaudiólogo
que possa atender duas ou mais crianças
com alterações de linguagem até mesmo
quando um fonoaudiólogo e outro
profissional que atendam as mesmas
crianças (Ex: o terapeuta ocupacional,
psicólogo, psicopedagogo, etc)
organizam atendimentos em conjunto
para trabalhar habilidades específicas
cada um em sua área, mas de forma que
ambos os profissionais possam inserir em
atividades amplas no contexto interativo
e lúdico com um pequeno grupo de
crianças.

É claro que para um grupo ser efetivo


muitos fatores devem ser considerados
[6, 9], como número de participantes,
faixa etária, habilidades a serem
trabalhadas, objetivos da intervenção,
local de atendimento e até mesmo se os
pais autorizam esse tipo de abordagem
com os filhos.

22
10 Passos para o Sucesso da Intervenção em Linguagem Infantil
PASSOS
PASSO 7

Se pensarmos que nenhuma habilidade de comunicação, fala ou linguagem é


usada num contexto isolado e que a relação adulto-criança acaba por priorizar
situações comunicativas mais controladas e em menor grau de “igualdade”
comunicativa, nada mais natural do que – após trabalharmos determinadas
habilidades de comunicação ou os aspectos da linguagem em um “setting
fechado” (contexto fechado, como o ambiente clinica de sala de atendimento na
situação um para um), essas mesmas habilidades sejam trabalhadas em
contextos mais naturais, em que as situações comunicativas sejam mais
“equilibradas” entre os interlocutores (não mais adulto-criança, mas também a
situação criança-criança) num “setting aberto”, isto é, num contexto mais aberto,
dinâmico e espontâneo, sem tanta diretividade por parte do adulto (no caso, o
fonoaudiólogo).

Por isso, fica aqui a dica para que você planeje, sempre que possível, algumas
sessões de intervenção em grupo; as crianças irão gostar e você também vai se
divertir.

Se você achar difícil conseguir juntar duas ou mais crianças que atende, planeje
situações com irmãos das crianças, amigos, primos, vale tudo, crie “o dia do
irmão”, “dia do amigo” na fono.... deixe sua imaginação variar as situações
comunicativas a que a criança será submetida: assim você verá o resultado de seu
trabalho ali, na prática, com as crianças usando e praticando o que foi trabalhado
nas sessões com você!!!

23
10 Passos para o Sucesso da Intervenção em Linguagem Infantil
PASSOS
PASSO 7

DIRETIVAS X NATURALÍSTICAS [1, 6]

Em relação às técnicas de intervenções específicas em linguagem com crianças


ou tipos de abordagens específicas, temos várias maneiras de classificar essas
técnicas. Um planejamento de intervenção para uma criança geralmente
incorpora uma série de técnicas específicas.

Quanto ao que chamam abordagens diretivas ou formais x abordagens


naturalísticas ou funcionais, uma das principais distinções é o tipo de contexto
em que a intervenção ocorre em termos de ser mais ou menos direcionadas, ter
planejamento ou não de pistas e dicas, assim como de comandos e reforços que
serão fornecidos à criança.

No contexto clínico, abordagens de


intervenção geralmente não são limitadas a
apenas uma das formas, mas incluem uma
mistura de ambas, geralmente iniciando
com uma abordagem mais direta e
mudando para uma abordagem
naturalística, a medida que a criança adquire
maior domínio no uso de habilidades.

24
10 Passos para o Sucesso da Intervenção em Linguagem Infantil
PASSOS
PASSO 7

• Intervenções com uso de abordagens naturalísticas - As abordagens naturalísticas


geralmente incluem as seguintes características:

• Proporcionar oportunidades de aprendizado no ambiente cotidiano da


criança, em vez de sessões estruturadas de aprendizagem, seguindo o foco
de atenção ou interesse da criança, e usando um incentivo e um reforço
naturalmente associados à comunicação.

• Intervenções naturalísticas usam técnicas específicas que criam


oportunidades para a criança aprender e usar a linguagem.

• Em uma intervenção naturalística, o profissional organiza materiais no


ambiente para obter respostas específicas da criança. Ex: se o profissional
quer que a criança aprenda a pedir um objeto, ele deixa brinquedos ao redor
da criança, numa situação de interação lúdica, tendo entre os objetos
preferidos da criança próximos ao profissional e longe da criança, para que
ela seja levada á solicitar, numa situação natural, o objeto desejado ao
fonoaudiólogo.

Decidir qual abordagem usar com uma


criança requer que o profissional busque
conhecimento sobre o processo típico de
aquisição e desenvolvimento da
linguagem, esteja ciente das
necessidades da criança em particular,
considerando as características
individuais da criança e da
família/cuidador, assim como dos
ambientes que a criança convive e a
alteração de linguagem ou o diagnóstico
geral da criança.

25
10 Passos para o Sucesso da Intervenção em Linguagem Infantil
PASSOS
PASSO 7

Técnicas específicas que se revelarão mais eficazes para uma criança individual
dependerão de muitos fatores, incluindo o tipo de distúrbio de comunicação, a
personalidade da criança e se a criança tem ou não outros problemas de
desenvolvimento.

Muitas vezes, é útil considerar as habilidades de conversação e o estilo verbal da


criança e dos pais ao decidir usar uma diretriz ou uma intervenção mais
naturalística.

Para algumas crianças, intervenções mais diretivas podem ser mais apropriadas,
particularmente nos estágios iniciais de intervenção ou para crianças cuja
organização do ambiente costuma ser essencial para o direcionamento da
atenção (Ex: crianças com transtorno do espectro autístico ou com déficit de
atenção, entre outros exemplos).

Intervenções diretivas podem ser muito eficazes no desenvolvimento de


estruturas iniciais de fala ou gestos. Intervenções naturalísticas podem ser mais
úteis no aumento dos contextos de tratamento espontâneo de linguagem e
generalização, pode ajudar a facilitar objetivos de longo prazo para as
intervenções de fala / linguagem, como expressar necessidades básicas,
estabelecer o uso funcional da linguagem e interagir socialmente (aspectos
pragmáticos e narrativos, por exemplo).

É importante que o fonoaudiólogo planeje uma progressão de estratégias de


intervenção de abordagens mais diretivas para abordagens mais naturalísticas.

26
10 Passos para o Sucesso da Intervenção em Linguagem Infantil
PASSOS
PASSO 8

PASSO 8 - Monitorar os resultados da intervenção.

Recomenda-se que os objetivos da intervenção para cada criança sejam


claramente identificados e definidos com critérios claros para o sucesso.

É importante avaliar a eficácia das intervenções de fala / linguagem


regularmente. Quando uma criança recebe a terapia de fala / linguagem, é
importante avaliar as habilidades comportamentais e de comunicação no início
do tratamento e documentar o progresso ao final de cada sessão de intervenção.

Registrar os resultados de cada estratégia em separado pode ser uma boa


alternativa, pois se você controla quais pistas usa, o número de vezes que deixará
a criança tentar a execução de cada estratégia, de cada etapa da estratégia ou até
mesmo o tempo que você realizará cada atividade com a criança, fica mais fácil
você saber e analisar qual atividade está sendo mais efetiva, o que pode favorecer
os resultados da intervenção. Por exemplo: determinada estratégia é para
trabalhar a produção do fonema /b/, então monitore quantas vezes esse fonema
será apresentado à criança, quantas oportunidades de produzi-lo a criança terá,
em quantas ela foi bem-sucedida. Se ela produzir menos que 50% das vezes em
que teve chance de produzir, talvez você tenha que aumentar a intensidade ou o
número de pistas para facilitar a produção desse fonema pela criança.

Fica a sugestão de você criar uma ficha


de anotação de cada estratégia em que
todos esses dados serão anotados por
você, ali mesma, quando você está
aplicando a estratégia com a criança.

Em tópico anterior, também já abordei


que a avaliação inicial que se faz com a
criança também servirá de base para
reavaliar a criança de tempos de tempos
para comparar os resultados dela com
ela mesma.

27
10 Passos para o Sucesso da Intervenção em Linguagem Infantil
PASSOS
PASSO 8

Estipule, para cada criança, a frequência que fará essas reavaliações, pode ser
por número de meses ou sessões. Ex: a cada 4 ou 6 meses ou a cada 20 ou 30
sessões. Isso te auxilia a planejar e replanejar melhor sua intervenção.

A cada reavaliação, marque um horário com a família/cuidadores e mostre os


resultados comparativos. Eu sugiro inclusive que, para cada teste, protocolo ou
item de sua avaliação e reavaliação, você faça pequenos quadros, tabelas ou
gráficos comparativos da primeira avaliação com as demais avaliações, para que
a família/cuidador acompanhe visualmente a melhora da criança e valorize
ainda mais o seu trabalho.

Esse monitoramento faz parte de seu


trabalho e pense na felicidade e
satisfação sua e da família/cuidador ao
ver as melhoras ali bem na frente de
vocês. Vou te dizer que – pode dar
trabalho – mas vale a pena!

28
10 Passos para o Sucesso da Intervenção em Linguagem Infantil
PASSOS
PASSO 9

PASSO 9 - Adequar as estratégias à


faixa etária.

Selecionar estímulos (número de


palavras, quantidade de sílabas nas
palavras e quantidade de elementos nas
frases) de acordo com a compreensão da
criança e seu perfil de processamento da
linguagem.

Muitas vezes uma tarefa não é realizada


pela criança porque a demanda da tarefa
está sendo muito além do que essa
criança pode processar de informação.

Entra aqui agora uma habilidade que o


fonoaudiólogo deve ter em decompor as
atividades ou isolar as habilidades que
uma atividade exige para transformar um
estímulo ou comando/ordem complexo
em um mais simples (ou em pequenos
pedaços de coisas simples gerando uma
coisa complexa).

Tente fazer isso da próxima vez que você não conseguir resposta de uma
criança: analise se a ordem que você deu não estava complexa demais, ou
usando muitos elementos, com palavras de grande carga fonológica ou
semântica. Ex: ao invés de falar “olhe as figuras e diga o nome de todas as que
são frutas”, fale “olhe as figuras”, espere a criança olhar ou até mesmo a ajude a
fixar a atenção uma a uma, depois fale “agora, separe as que são frutas”, espere
ela separar e, em seguida, “Nomeie as frutas”.

29
10 Passos para o Sucesso da Intervenção em Linguagem Infantil
PASSOS
PASSO 9

Ainda no exemplo anterior, para facilitar a classificação por parte da criança,


primeiro misture as frutas a objetos de classe semântica diferente (Ex: frutas e
brinquedos) e somente depois que ela conseguir completar essa classificação
sem auxílio de sua parte, passe a pedir que ela selecione as frutas de outros
elementos de classes semânticas semelhantes (Ex: frutas e vegetais).

Exemplos variados podem também conter a questão da memória de trabalho da


criança, que – se for rebaixada na avaliação – deve ser considerada na seleção de
estímulos para intervenção. Ex: se ela, na avaliação, consegue reter somente dois
dissílabos, você deve planejar as estratégias que irão requerer o uso da memória
de trabalho, inicialmente, para que o número de elementos não ultrapasse ao
que a memória de trabalho inicial da criança comporta (Ex: começar com
monossílabos, depois passar para dissílabos, etc).

Selecionar – antes mesmo de começar a intervenção – quais dicas você vai usar e
como você irá inseri-las e, depois, retirá-las.

Escolher os tipos de reforços que usará com a criança e, inclusive, para cada
atividade, estipular que tipo de resposta você dará para a criança caso ela realize
a atividade, caso não realize a atividade ou caso ela realize parcialmente.

30
10 Passos para o Sucesso da Intervenção em Linguagem Infantil
PASSOS
PASSO 10

PASSO 10 - Manter arquivos clínicos de todos os momentos desse processo


(avaliação, devolutiva, intervenção) de cada criança – você mantém registros
clínicos de todas as suas sessões? Pois saiba que manter esses registros de forma
clara e organizada é importantíssimo por razões clínicas e legais.

O nosso Código de Ética da Fonoaudiologia no Brasil (artigo 10, Capítulo V)


preconiza a necessidade de manter esses registros [10], inclusive para serem
consultados e disponibilizados para as famílias/cuidadores (no caso de crianças)
quando elas solicitarem.

Associações Internacionais como a ASHA [11] inclusive colocam que esses


documentos são necessários para justificar a necessidade da intervenção, assim
como para documentar a efetividade da mesma.

Por isso, em um dos tópicos anteriores,


abordei a importância de monitorar os
resultados de sua intervenção.

31
10 Passos para o Sucesso da Intervenção em Linguagem Infantil
CONSIDERAÇÕES FINAIS

Espero ter, nesses 10 passos, colaborado de alguma forma com a sua prática e
trazido novos tópicos para sua reflexão profissional.

É claro que - quando falamos em intervenção, principalmente na área da


Linguagem - muitas questões ficam em aberto e tenho, em tudo que escrevo
(seja um capítulo de livro, um artigo, um livro inteiro, um relatório ou até mesmo
um post nas redes sociais), me empenhado em levar aos fonoaudiólogos e às
fonoaudiólogas de todos os cantos do Brasil uma forma mais direcionada e direta
de ver e entender a Linguagem e a intervenção com a Linguagem.

Tenho trabalhado junto a uma equipe


realmente empenhada e competente na
realização de um curso específico em
intervenção nas alterações de linguagem
oral infantil e que possa ser realizado por
todos!!! Por isso, optamos pela proposta de
um curso a distância nessa temática, mas
com a qualidade de como se você estivesse
ali, na nossa frente, tirando todas as suas
dúvidas!

Fica aqui o convite a todos para que me


sigam nas redes sociais, assim como para
conhecerem a proposta de nosso curso no
Facebook e Instagram.

 /tk.ead.br
 /tk.ead.br

32
10 Passos para o Sucesso da Intervenção em Linguagem Infantil
REFERÊNCIAS

[1] - LOPES-HERRERA, S.; GUARNIERI, C. Estimulação x Intervenção. In: GUARNIERI,


C.; LOPES-HERRERA, S. DICAS E ESTRATÉGIAS para intervenção fonoaudiológica
em Linguagem Infantil. 1. ed. Ribeirão Preto: Booktoy, 2016. p. 23-30.
[2] - MCCORMICK, L.; SCHIEFELBUSCH, R. An introduction to language
intervention. In: MCCORMICK, L.; SCHIEFELBUSCH, R. Early language intervention.
Columbus: Charles E. Merril, 1984.
[3] - ASHA. Scope of Practice in Speech-Language Pathology. [s.l.] Ad Hoc
Committee on the Scope of Practice in Speech-Language Pathology, 2010.
[4] - CAPONE, N C. Language assessment and intervention: A developmental
approach. Language development foundations, processes and clinical
applications, p. 1-33, 2010.
[5] - GUARNIERI, C. Planejamento Terapêutico em Linguagem Infantil. In:
GUARNIERI, C.; LOPES-HERRERA, S. DICAS E ESTRATÉGIAS para intervenção
fonoaudiológica em Linguagem Infantil. 1. ed. Ribeirão Preto: Booktoy, 2016. p.
17-22
[6] - NEW YORK STATE DEPARTMENT OF HEALTH. CLINICAL PRACTICE GUIDELINE
- Quick Reference Guide for Parents and Professionals. New York.
[7] - GONÇALVES, B. Programa de acompanhamento a pais na intervenção
fonoaudiológica em linguagem infantil. Dissertação de Mestrado. Faculdade de
Odontologia de Bauru - Universidade de São Paulo, 2012.
[8] - GUARNIERI, C.; LOPES-HERRERA, S. A. Intervention Program for Brazilian
Children with Language Delay. In: Advances in Speech-language Pathology.
InTech, 2017.
[9] - LOPES-HERRERA, S. A. Intervenção em grupo para crianças com alterações de
linguagem. In: LOPES-HERRERA, S. A.; MAXIMINO, L. A. Fonoaudiologia:
Intervenções e alterações da linguagem oral infantil. 1. ed. Ribeirão Preto: Editora
Novo Conceito. p. 179-194.
[10] - CONSELHO FEDERAL DE FONOAUDIOLOGIA. Resolução CFFa nº 490/2016.
Brasília. p. 196-198.
[11] - ASHA. Scope of practice in speech-language pathology. 2016.

33
10 Passos para o Sucesso da Intervenção em Linguagem Infantil

Você também pode gostar