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Henrique Justos
A TEORIA ROGERIANA
O titulo talvez não seja totalmente exato. A teoria de Carl Rogers não é, na realidade, elaboração
exclusivamente sua,embora ele tenha sido e ainda seja a alma dessa concepção do homem.
Rogers, portanto, não tomou atitude sobre a teoria psicanalítica, mas posição franca e indagadora
em face da realidade humana. A essa atitude especulativa acrescentou a experimental, com iniciativas
pioneiras: “Rogers foi o primeiro a praticar, com sua escola, para verificação e controle, gravações
sistemáticas de terapias completas: não somente registros sonoros, mas também transcrições integrais e
documentação cinematográfica”.
I – CONFIANÇA NO INDIVÍDUO
Diremos que a terapia centrada no cliente procurará agir em consonância com a hipótese de que o
indivíduo possui capacidade suficiente para enfrentar de forma construtiva os aspectos da vida que podem
aflorar-lhe no campo da consciência.
Primeiramente, existe uma minoria incapaz de o fazer: são as vítimas de distúrbios estruturais
profundos; pessoas que têm capacidade de regular o funcionamento do psiquismo, mas não dispõe de
recursos para restaurar dificiências básicas; a pessoa somente chega a cultivar esta capacidade em potência
num clima de relações num clima de relações humanas favoráveis.
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É convicção profunda de Rogers de que a imensa maioria dos homens têm estrutura psíquica tal que
podem enfrentar (ou que pó) adequadamente a si mesmos, a vida social e profissional, se o ambiente for
suficientemente favorável.
II – TENDÊNCIA À ATUALIZAÇÃO
Se, num ambiente propício. A pessoa se desenvolve na direção positiva, isto é, da maturidade
psico-social, é que vem dotada de um dinamismo que a impele nessa linha.
“Todo organismo é animado de uma tendência inerente a desenvolver todas as suas potencialidades
e a desenvolvê-las de modo a favorecer-lhe à conservação e o enriquecimento”. (Rogers)
O termo “enriquecimento” envolve tudo o que a pessoa considera valiosa para ela: tanto o que
possui como o que é – bens materiais, habilidades, talentos, qualidades, satisfações. Isso supõe: (1) de um
lado, a tendência de auto-realização do organismo e (2) do outro lado, a regulação do organismo por si
mesmo (avaliação da experiência) a fim de se modificar em vista de assegurar a consecução de seus
objetivos.
A tendência à autorrealização, diz Rogers, tem como efeito dirigir o desenvolvimento do organismo
no sentido da unidade e da autonomia, isto é, num rumo oposto ao da heteronomia, resultante da
submissão às vicissitudes de forças externas.
Por que estaria a parte mais nobre do homem – o psiquismo – privado de uma tendência tão
maravilhosa com que a natureza favorece generosamente todos os seres vivos, até os mais rudimentares ?
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O movimento do psiquismo é análogo ao da vida orgânica. Em cada espírito existe um conceito de
finalidade ou ideal a atingir, , situado além das condições atuais, um desejo de vencer as deficiências e
dificuldades do presente, expressos na elaboração de um objeto concreto para o futuro.
“Todo organismo possui uma, e apenas uma necessidade central na vida: realizar suas
potencialidades”. (Rollo May)
III – O SELF
Segundo Rogers, “SELF, ideia ou imagem de si, estrutura do self, são termos que se servem para
designar a configuração experiencial composta de percepções:
- referindo-se ao indivíduo,
- as suas relações com o outro,
- com o ambiente,
- e a vida em geral,
- assim como aos valores por ele atribuídos a essas percepções”. (Rogers)
Apresenta o “self” duas características importantes: (1) encontra-se em fluxo contínuo, isto é, em
constante mudança, mas sempre organizado e coerente. “O self aparece como Gestalts a modificar-se,
essencialmente, não por via de adição ou subtração, mas através de um processo de organização e
reorganização”. (Rogers) e (2) esta configuração experiencial acha-se disponível à consciência, embora não
seja necessariamente consciente ou plenamente consciente.
Convém lembrar que, integrando o organismo o “self” também é abrangido pela tendência ao
desenvolvimento: é a tendência à atualização do “self”.
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3. COMPORTAMENTO – Esses dois elementos da teoria rogeriana explicam as ações e reações do
As reações do indivíduo são ditadas pelo modo como percebe a situação. E essa percepção depende
do “self”.
“O comportamento tem uma causa, e a causa psicológica é uma percepção ou certa forma de
perceber”. (Rogers)
A reação ou comportamento do indivíduo será adaptado na medida em que o “self for realista”, e
será inadequado na proporção em que o self se afastar da realidade.
4. CONGRUÊNCIA – INCONGRUÊNCIA
Quando o indivíduo age e reage de acordo com o que experimenta realmente seu organismo, então
existe harmonia entre o self e a experiência. Tal indivíduo encontra-se em estado de “congruência”.
Em linguagem mais familiar, escreve Rogers, diríamos haver integração, autenticidade ou harmonia.
Esses termos são aplicáveis quer a personalidade, quer ao seu comportamento.
Se, porém, não houver correspondência entre a minha experiência (o que sinto ou sei) e minha
reação, encontro-me numa situação de “incongruência”, que vem a ser a diferença entre o self e a
experiência. Provoca um estado de tensão e confusão. O comportamento neurótico é uma manifestação do
estado de incongruência: tal comportamento ora se conforma às exigências do “self”, ora às solicitações do
organismo. (Rogers)
Incongruente é quem afirma gostar disso ou daquilo, quando, de fato, não gosta; quem participa de
um ato de culto mas, no fundo, o qualifica de comédia.
É dupla a série de critérios para controlar o caráter realista ou fantasista do self: (1) de caráter
subjetivo, consistindo na auscultação direta das experiências: gostos, desejos, preferências, simpatias,
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antipatias, tendências, estados de ânimo, etc., em face de pessoas, situações e coisas e (2) de caráter
objetivo: baseia-se na reação dos outros.
Parece ter ficado claro não poder o self cumprir eficientemente sua missão de guia da personalidade
nem assegurar a eficácia do comportamento se não for realista, isto é, se não captar sem deformação (ao
menos sem acentuada deformações) ou filtragens o que realmente experiência.
IV – ABERTURA À EXPERIÊNCIA
Reagimos não à realidade objetiva, mas a nossa representação (correta ou errônea) da realidade.
Rogers refere-se, basicamente, à abertura da pessoa a si mesma. Esta atitude supõe a existência de
liberdade experiencial, isto é, a possibilidade de reconhecer a existência de nossas vivências interiores
(elogiáveis e desejáveis ou não).
Não se quer insinuar ser desejável que toda vivência interior nossa deva encontrar expressão verbal
ou comportamental. Não é esse o pensamento de Rogers. A liberdade experiencial ou abertura à realidade
consiste primordialmente na capacidade de reconhecer (o que não quer dizer necessariamente aprovar)
como nossas as vivências que dentro de nós se passam: imaginações, tendências, desejos, disposições, etc,
de qualquer natureza que forem.
Quanto à sua manifestação em palavras ou atos, depende. Ser livre também significa ser
responsável. E ainda: expressar comportalmente todos os sentimentos e impulsos nem sempre constitui
uma libertação. Casos há em que sua manifestação é limitada pela sociedade, e assim deve ser.
Abertura à experiência não significa dever o indivíduo ter consciência de tudo o que nele se passa.
Não: o mais importante é a ausência de barreiras que impeçam “a experienciação do que estiver
urbanisticamente presente”.
Em resumo: à medida em que o indivíduo avança para a adultez, tomará consciência da diversidade
e, mesmo, da divergência de suas necessidades fundamentais, biológicas, sociais e especificamente
humanas. Se lhe é permitido avaliar a medida de prazer e de proveito que lhe proporciona a satisfação –
não necessariamente completa, mas equilibrada – de suas necessidades, seu comportamento será, no
conjunto, adequado, racional. Social e moral. Em outros termos: se o indivíduo toma consciência dos dados
de sua experiência, poderá submetê-los a um processo – implícito ou explícito – de avaliação, de verificação
e, se necessário, de retificação. Então, tendo em conta a variedades das necessidades, tratará de
satisfazê-las todas, harmonizando o melhor que puder sua experiência com o comportamento; disso
resultará, portanto, certo equilíbrio. Em última análise é, como se vê, a capacidade do ser humano tomar
consciência de sua experiência, a avariá-la e a corrigi-la, que exprime sua tendência inerente ao
desenvolvimento para a maturidade, isto é, para a autonomia e a responsabilidade.
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Relembremos, para concluir, que esse processo favorável – e os processos de autoavaliação e de
autorrealização que supõem – dependem antes de tudo, da medida em que a experiência é disponível à
consciência.
V – DEFESAS
1. Situação de defesa
Por exemplo: uma pessoa que sofre de pressão alta, mas a meses que não media sua pressão
receosa do impacto que possível tensão elevada lhe causaria. Tinha extrema dificuldade em sair de casa
sozinha, pois temia ser vítima de um ataque.
Essa pessoa não apresenta condições de abertura a um setor de experiência. Encontra-se numa
atitude, numa situação de defesa. Portanto num estado de incongruência.
Se me julgo bom motorista, tento atribuir a outrem, a deficiências mecânicas, às condições da rua
ou da estrada, eventual imperícia (provocado por outrem) na direção quando, de fato, foi inabilidade
minha. Se o prego se entorta ao fixar uma tabua, um martelaço acompanhado de um palavrão evidencia
como o indivíduo deforma a realidade a fim de salvaguardar o autoconceito de bom marceneiro.
Exemplo: o caso clássico da criança primogênita rejeitando o bebê que vem aumentar a família e
manifesta sentimentos de hostilidade contra o intruso: “Vou matar o neném”, “Vamos vender o nenén”,
ficando a criança com a impressão de ser má, portanto, menos apreciada dos pais.
Ela, porém, já se formata a imagem de ser benquista: é um dos elementos vitais do self. Inicia-se,
então, um mecanismo de falsificação da representação da experiência, precedida, aliás, pela falta de
coerência entre as vivências e a expressão verbal: “O neném é bonito, gosto tanto dele”.
Ideal seria pudesse o homem ser educado, desde a infância, sem ameaça alguma, o que é
praticamente impossível.
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Se, porém, tais “atentados” à liberdade experiencial forem relativamente raros e, sobretudo,
situados numa atmosfera de aceitação, não deixarão, aparentemente, marcas negativas mais profundas no
psiquismo.
É preciso que o indivíduo sinta ocorrer a divergência no plano das opiniões, das ideias; que a
desaprovação se refere a uma atitude ou modo de comportamento, e não à sua pessoa. Muitas vezes
deveríamos dizer “Não gosto do seu modo de falar, agressivo ou meloso” e não “Não gosto de você!”. “A
mim não me agrada seu vestido”, e não “Você não tem gosto”. Esta distinção é fundamental.
Se, porém, as ameaças forem mais ou menos constantes ou, mesmo raras, caso o indivíduo viver
num clima de não aceitação, então podem ocorrer perturbações na comunicação interna.
Postula a teoria rogeriana ser não só conveniente, mas necessário chegar o indivíduo a reconhecer e
identificar a natureza de suas vivências a fim de poder assumir posição consciente em face delas, em vez de
se converter, eventualmente, em seu joguete.
A probabilidade de um ato, de uma reação agressiva, por exemplo, é proporcional ao grau de tensão
experimentado. Portanto, tudo o que reduz a tensão – como a expressão verbal – diminui a probabilidade
da ação.
A manifestação geral de tendências negativas constituiria incentivo à ação tão somente no caso de a
pessoa encontrar aprovação em vez de simples constatação de uma realidade da parte do interlocutor.
Tanto a intensificação, resultante da aprovação, como a repressão, impedem a correta simbolização da
experiência.
1. O SELF emerge pouco a pouco do campo experiencial: a criança se percebe como ser à parte,
autônoma; percebe igualmente, suas relações com as coisas e com as outras pessoas; e forma
uma ideia de si a partir dessas relações. Lentamente, vai o self se enriquecendo e diferenciando.
Para Rogers e outros, o SELF é adquirido. Maslow acha que é constitucional.
2. Da relação com os outros – inicialmente com os pais – nasce um elemento fundamental ao sadio
do desenvolvimento do self: a necessidade de consideração positiva. “A medida que a noção de
self se desenvolve, desenvolve-se também o que chamamos de necessidade de consideração
positiva. É necessidade universal e aparece de maneira contínua e penetrante.”
Possui o homem a necessidade de ser apreciado pelos outros. É maior essa necessidade na
proporção em que os outros são importantes para um indivíduo.
A consciência positiva incondicional consiste numa atitude, num “interessar-se pelo outro,
mas num interessar-se não positivo: numa aceitação do outro como pessoa autônoma, numa
confiança básica – convicção dele ser merecedor de confiança”.
À necessidade de consideração positiva dos outros acrescenta-se à necessidade de
consideração positiva de si mesmo. É um sentimento de consideração experimentado com
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relação a certas experiências do self, independente da avaliação de outras pessoas. Vem a ser
uma necessidade adquirida, estreitamente relacionada com a exigência de apreciação da parte
dos outros. Caso chegar a perceber todas as suas experiências como dignas de apreço, terá a
pessoa consideração positiva incondicional de si.
3. SADIO DESENVOLVIMENTO DO SELF realizar-se-á num clima em que a criança puder, sem receio,
viver aberta à experiência, em que puder aceitar-se a si mesma, em que for aceita pelos pais,
embora estes lhe condenem certas reações ou modos de agir.
A necessidade de conservar ou reconquistar o amor dos pais – para defender a autoimagem
de criança amável e amada – levá-la-á a negar ou distorcer a representação das experiências
condenadas.
O comportamento deixa de ser autentico. Fala e age o indivíduo como se as próprias
vivencias, falseadas em sua representação, correspondessem à tendência atualizante. A
construção da personalidade, em tais casos, será feita com número maior ou menor de
elementos postiços, portanto, sem a consistência desejável.
Quando uma criança está para receber um irmãozinho ficará enciumado e poderá dizer
coisas como: “quando vocês forem para o trabalho vou jogar o nenê pela janela”. O menino foi
severamente repreendido e proibido de assistir os desenhos na TV naquele dia. A ameaça da
criança não se repetiu, conseguindo reprimir os sentimentos de hostilidade em relação ao bebê,
mas passou a comportar-se agressivamente com os coleguinhas.
O tipo de avaliação dos filhos da parte dos pais parece refletir, em grau elevado, a medida em
que estes se aceitam a si mesmos. Mães que se aceitam a si mesmas, tendem a possuir atitudes
de aceitação também com relação aos filhos.
1. Todo indivíduo vive num mundo de experiências em mutação contínua, mundo de que
ele é o centro.
- O homem vive essencialmente num mundo subjetivo e pessoal. Suas atividades, até as
mais objetivas – seus esforços científicos, quantitativos, matemáticos, etc. – representam
a expressão de finalidades e escolhas subjetivas. Este mundo privado do indivíduo
somente pode ser conhecido, de forma genuína e completa, por ele mesmo.
2. O organismo reage ao campo dos estímulos como o experiencia e percebe. Este campo
perceptual é a realidade para o indivíduo.
- Ninguém reage a uma realidade totalmente objetiva, mas à sua percepção da realidade.
- “Não vejo a realidade como ela é; ela é como a vejo” . – Pablo Picasso
- O que a pessoa percebe como realidade é, de fato, realidade para ela, e se comportará
de acordo com essa experiência interior.
- O determinante específico do comportamento é o campo perceptual do indivíduo.
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- Em vez de avaliarmos uma pessoa, deveríamos tentar ver como ela o faz!
- Para sabermos se as percepções corespondem ou não à realidade objetiva, devemos
recorrer a outras fontes de informações. Por exemplo, se uma pessoa tem a impressão de
que uma tábua colocada sobre um canal é suficientemente forte para lhe dar passagem.
O melhor é avançar cautelosamente, observando a reação da madeira.
- Ao lado das experiências assim verificadas, há muitíssimas outras não conferidas. Estas
percepções não testadas também fazem parte da nossa realidade pessoal, podendo
possuir tanta autoridade quanto as que foram controladas.
- Seria, portam, errôneo pensar que esse crescimento se opera de modo fácil e suave,
como que automaticamente. Rogers compara-o às tentativas penosas da criança que aprende a
caminhar.
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- A proposição anterior explicou a primeira parte do enunciado acima: a tendência à
atualização, à realização pessoal, como motivação essencial que é, por assim dizer
enfeixa ou orienta todas as necessidades a fim de assegurar a consecução, desse grande
objetivo do organismo.
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- Uma experiência ou objeto é considerado parte do self na medida em que for
controlado por ele. Assim, um membro anestesiado, olho-o mais como objeto.
- Também há fatos psicológicos que, por assim dizer, se subtraem ao nosso controle.
- As partes do próprio corpo da criança formam o núcleo inicial do self. Ela percebe
vagarosamente, por exemplo, que o pezinho ou a perninha com que brinca é dela. Vai
diferenciando, pouco a pouco, o que pertence a ela e o que é dos outros.
10. Os valores ligados às experiências e os que formam parte da estrutura do self são: (1)
ora vivenciados diretamente pelo organismo e (2) ora introjetados ou tomados de
outras pessoas, mas percebida de maneira distorcida, como se tivessem sido
experienciados diretamente.
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a) Parte das nossas experiências é aceita e incorporada ao self. São as experiências que
harmonizam com ele ou com o self-ideal. Caso ache bom ter atitude autoritária em
face dos outros, experimento satisfação após tal comportamento.
d) Fatos inaceitáveis pelo indivíduo são a tal ponto evidente que sua negação se torna
impossível. Nesse caso, o self recorrerá a distorções: “as uvas estão verdes”
12. A maior parte das formas de comportamento adotadas pelo organismo é coerente com
o conceito de self.
- Quem se julga um bom aluno, terá dificuldade em comportar-se de outra maneira.
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15. Existe ajustamento psicológico quando o conceito do self é tal que todas as
experiências significativas do organismo são ou podem ser simbolizadas numa relação
coerente com o conceito de self.
- Quando ocorre este tipo de integração, então pode a tendência ao crescimento
expandir-se ao máximo, e o indivíduo se move na direção normal própria da vida
orgânica.
- EXEMPLO: A pessoa que percebe e aceita às próprias necessidades sexuais, e também
percebe como parte de sua realidade o valor moral dado à repressão desses desejos,
aceitará e assimilará todas as sensações do organismo nesta área. Mas isso somente é
possível quando seu conceito neste setor é suficientemente amplo a fim de nele incluir
seus desejos sexuais e o desejo de viver em harmonia com a moral aceita no ambiente.
16. Qualquer experiência incoerente com a estrutura do self pode ser percebida como
ameaça e quanto maior o número dessas percepções tanto mais rijamente se organiza
a estrutura do self a fim de se manter.
- Experiências percebidas como incongruentes com a estrutura do self geram ameaça.
- EX: O filho que se julga modelar e o fato de experimentar raiva com relação ao pai.
- Levado pela ação da ansiedade, procura o self organizar a defesa contra a ameaça
(negação, distorção da experiência) para reduzir a incongruência entre a experiência e a
estrutura do self.
- Ameaça e defesas tendem a repetir-se em cadeia, ampliando-se o campo dos fatos
distorcidos. Essa cadeia defensiva não pode alastrar-se indefinidamente: é limitada pela
necessidade de aceitar a realidade.
18. Quando o indivíduo percebe e aceita num sistema consistente e integrado todas as
experiências, será necessariamente mais compreensível para com os outros e os
aceitará melhor como indivíduos separados, diferentes.
- Não havendo necessidade de se defender, não existe necessidade de atacar. O outro é
percebido como realmente é: indivíduo separado, agindo na linha de seu pensar,
baseado no próprio campo perceptivo.
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19. À medida em que a pessoa percebe e aceita em sua auto-estrutura mais experiências,
verifica estar substituindo seu sistema atual de valores – baseado amplamente em
introjeções deformadamente simbolizadas – por um contínuo processo organísmico de
avaliação.
- Os maiores valores para o enriquecimento do indivíduo aparecem quando a todas as
experiências e atitudes é permitida simbolização, e quando o comportamento vem a ser
a significativa e equilibrada satisfação de todas as necessidades acessíveis à consciência.
CAPÍTULO III
A experiência clínica obrigou Rogers a rejeitar a ideia de igualar vida plena com satisfação, espécie
de nirvana ou realização. Consiste tampouco na redução das tensões, numa situação homeostática.
Sugerem estes termos haver-se alcançado o objetivo, a meta da existência. Ora, a meta nunca PE
atingida;
Vida plena, para Rogers é o processo, o movimento numa sireção escolhida pelo organismo humano
quando interiormente livre de se mover em qualquer rumo.
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I. CARACTERÍSTICA DA PESSOA DE FUNCIONAMENTO PLENO
A pessoa é capaz de escutar-se, de tomar consciência de seus estados psíquicos, quer negativos:
desânimo, irritabilidade, inveja, ânsia ... quer positivos: ternura, admiração, otimismo, satisfação, alegria,
entusiasmo. É livre de viver subjetivamente os sentimentos como nela aparecem, e também livre de ser
consciente de tais sentimentos.
A pessoa é capaz de avaliar, por exemplo, um livro ou um discurso pelo que é, sem deixar-se influenciar
(ao menos notavelmente) pelo fato de o orador ou o escritos ser ou não de sua religião. Partido político,
etc.
Tal pessoa enfrenta as situações da vida como o bom motorista à estrada: atento as condições do
terreno, reage a cada instante de modo a assegurar a melhor viagem ou passeio possível; isto acontecerá
ma medida em que for capaz de tomar a opção mais acertada a cada momento, consequência do grau de
atenção, do grau de abertura à realidade.
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Perfeitamente aberta a sua experiência, teria a pessoa acesso a todos os dados da situação: as
exigências sociais, suas próprias necessidades – complexas e, por vezes, antagônicas – a lembranã de
situações similares, a percepção do caráter único e novo da siyuação, etc. A “gestal” total de cada situação
seria, é obvio, extremamente complexa. Entretanto, esta pessoa poderia permitir a seu organismo total –
com a participação de sua percepção consciente – de se abrir a qualquer estímulo, a toda necessidade e a
qualquer exigência. Poderia avaliar a intensidade e a impoetância de cada um desses fatores e, sobre a base
de todos estes elementos, poderia determinar a linha de comportamento mais apta a satisfazer todas as
necessidades numa situação dada.
Na prática, porém, não atingimos esse grau de perfeição, e isso por três razões:
1º Devido a inclusão de dados inexistentes na realidade: se, ao somar meus depósitos bancários,
não me lembrar de um cheque passado dias atrás, terei uma ideia errada sobre as minhas disponibilidades
financeiras por haver incluído na soma um elemento que na realidade não existe mais.
2º O organismo às vezes se engana por excluir ou, simplesmente, por omitir algum dado: caso
esquecesse, ao somar meus depósitos bancários, à inclusão de um deles.
Se o organismo aberto à realidade não deixa de estar exposto a tais falhas, prontamente, contudo,as
poderá corrigir, justamente devido à atitude amplamente receptiva.
Pessoa aberta à experiência toma consciência gradativamente mais clara de ser ela a fonte de suas
decisões, apreciações e escolhas.
Orientar-se-á progressivamente mais por si mesmo e menos pelos outros, pelo que pensarão, pelo
que dirão ou a fim de lhes agradar.
Existe uma energia especial por alguém sentir-se pessoa única, responsável por si mesma e, ao mesmo
tempo, o mal estar que acompanha esta aceitação de responsabilidade. Reconhecer que “eu sou o único
que escolhe” e “sou o único que determina o valor de uma experiência para mim – é a um tempo, uma
verificação revigoradora e temível.
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Roger supõe ser a vida psíquica equilibrada precisamente uma vida na qual não há fixação em nenhum
momento. Nossa personalidade é estruturação suficientemente maleável para se decompor e reconstituir
dee acordo com novas necessidades.
Como se pode ver, a teoria rogeriana não propõe como ideal a vida plácida, Acomodada. Esta não
corresponde ao dinamismo organísmico. O ideal é a “pessoa em mudança”.
A pessoa empenhada em “tornar-se ela mesma”, atravessa neste processo, certo numero de fases em
que, em seus altos e baixos vão de maior rigidez a maior flexibilidade,do imobilismo à mudança. A este
processo Rogers chama de “continuum”.
Em cada etapa do processo examina o autor sete elementos ou, aspectos organímicos:
1 - O grau de relacionamento com os sentimentos: Uma pessoa em que se verifica sério bloqueio
na comunicação entre o self e a experiência.
Nestas condições psicológicas, o individuo se recusa a estabelecer relações profundas com o outro, pois
este lhe aparece como ameaça.
2 - o grau de incongruência: Se, porém, experimentar um clima de aceitação, kA lhe será possível
matizar a situação psicológica e os problemas
Nesta segunda etapa, o problema é localizado fora do indivíduo, que recusa assumir-lhe a
responsabilidade.
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Rogers chama a atenção sobre o fato de “a pessoa nunca se encontrar totalmente numa ou noutra
fase do progresso”. No decorrer de uma entrevista, oscilará de um nível para outro, embora seja possível
situá-la predominantemente nesta ou naquela.
a) Fora as máscaras: o indivíduo se despeja, em meio a dúvidas e lutas, do que realmente não é.
Descobrindo, paulatinamente, sua verdadeira imagem.
b) Para longe o “você deve”: A sociedade costuma reforçar os estribilhos dos pais como:”a criança
deve”, “menino faz ou não faz”, “sente direito”, “deves ser sempre gentil”, “o mais importante é
ter uma profissão”, etc.
Chega um momento em que o indivíduo se dá conta de ser, muitas vezes, espécie de teleguiado.
Procurará, então, comportar-se cada vez mais de acordo com suas próprias necessidades e
pontos de vista. Tornar-se-á progressivamente mais ele mesmo.
c) Para além do que os outros esperam de mim: Outra forma de viver teleguiadamente consiste
em tomar como bússola do comportamento as expectativas dos outros a nosso respeito.
d) Livre de agradar os outros: Existem muitos indivíduos que procuram agradar aos outros mas,
quando livres, desistem de serem tais pessoas.
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e) A caminho da aceitação dos demais: Estreitamente ligada a esta abertura feral à experiência
interna e externa é a abertura a outros indivíduos e sua aceitação. A aceitação do outro é
consequência da auto-aceitação. “Ninguém se queixa da dureza da rocha”. Aceitamos estas
realidades, tomando-as na devida consideração e utilizando-as na vida prática. Quem tiver
ampla abertura à realidade experiencial, estenderá esta atitude de aceitação a si mesmo e,
progressivamente, aos demais homens.
f) Relacionamento profundo com os outros: Constitui uma necessidade íntima de toda pessoa
estabelecer elos de comunicação real e profunda com outros indivíduos.
g) O fato de ser real, congruente, é positivamente avaliado: A pessoa tende a ir à direção de ser
ela mesma, sendo seus sentimentos reais, sendo o que é.
h) A caminho da confiança erm si mesmo: A congruência desenvolve o sentimento de
autoconfiança. A medida que a pessoa consegue desenvolvere a confiança em si mesma,
tornar=se=á original, criativa em sua esfera: será capaz de cultivar seus valores e aceitar
calmamente eventuais discordâncias.
Em resumo: O indivíduo parece mover-se, com conhecimento e atitude de aceitação, na linha de ser
o processo que internamente e atualmente é. Afasta-se de ser o que não é... É gradativamente mais
atento à profundezas do seu ser fisiológico e emocional, com desejo sempre maior e em maior
profundidade de ser aquele self que realmente é.
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d) Tem confiança no organismo e não por considerá-lo infalível, mas por estar bem
informada, graças à abertura à experiência: esta atitude de abertura
possibilitar-lhe-á a pronta correção de eventuais erros de avaliação da realidade.
e) Está inteiramente empenhada no processo de ser e de se tornar ela mesma, e
isto mostra de que é sadia e realisticamente social; vive mais completamente
neste momento e descobre ser esta a melhor maneira de viver. Está se tornando
uma pessoa que funciona plenamente.
O núcleo mais íntimo da natureza do homem, a camada mais profunda de sua personalidade, a base
de sua natureza animal tem características positivas. Esse núcleo é fundamentalmente socializado,
orientado para frente e realista. Ao contrário de Freud, Rogers é um otimista em relação ao ser humano. O
comportamento do ser humano é admiravelmente racional, e se orienta, com uma complexidade sutil e
ordenada, para os fins propostos pelo organismo. O que é trágico para a maioria de nós é que uma atitude
de defesa nos impede de nos dar plenamente conta dessa racionalidade. De conseguinte, os dados de
nossa consciência nos orienta em uma direção determinada enquanto nosso organismo nos impele na
direção oposta. A pessoa que vive plenamente a vida, não é vítima de tais conflitos, e participa da
racionalidade fundamental de seu organismo.
Rogers insiste, porém, em não ser mal compreendido: “Não possuo visão ingênua da natureza
humana. Tenho bem consciência de que, para se defender e movido por medos intensos, indivíduos se
podem comportar e, de fato, se comportam de modo incrivelmente destrutível, imaturo, regressivo,
antissocial e nocivo. Porém, um dos aspectos mais agradáveis e animadores de minha experiencia consiste
em trabalhar com tais indivíduos e descobrir a vigorosa tendência positiva que neles existe, como em todos
nós, nos níveis mais profundos”.
Nem só os impulsos “maus”, socialmente proibidos, são objetos de repressão. A clínica nos mostra
que, muitas vezes, os sentimentos mais profundamente recalcados são de natureza positiva: amor,
bondade, confiança.
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