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Reginaldo César Zanelato responde


Nos pacientes portadores da má oclusão de Classe II dentária,
além das opções tradicionais de tratamento, como as extrações
de pré-molares superiores e a distalização dos primeiros molares
superiores, existe a possibilidade de se extrair os segundos molares
superiores para facilitar a distalização dos primeiros molares.
Pergunta: Quais seriam as indicações das extrações dos segundos
molares superiores?
A melhor maneira que encontrei para responder à molar que apresentar forma e tamanho adequado é
esta pergunta foi discutindo as dúvidas que tive quando substituto ideal para o segundo molar. Atualmente,
decidi, pela primeira vez, indicar extrações de segundos encontramos dispositivos eficazes para distalizar o pri-
molares. Estas extrações não constituem um procedi- meiro molar, mas o que devemos entender é que toda
mento de rotina na prática ortodôntica, por esta razão distalização grande causa impactação do terceiro molar
causam muita insegurança e incerteza considerando-se e futura extração deste dente. Se necessário extrair um
o resultado final do tratamento, então, faz-se necessário dos molares nos casos de Classe II com distalização
seleção cuidadosa dos casos clínicos e, quando todos os do primeiro molar, por que não elegermos o segundo
requisitos de diagnóstico são devidamente observados, molar que facilitará o movimento distal do primeiro
tornam-se uma válida opção para o tratamento dento- molar e diminuirá o tempo de tratamento ortodôntico?
alveolar da má oclusão de Classe II1. Outro ponto importante é a manutenção dos pontos
de contato, que permanecem intactos no final do trata-
1) Por que extrair os segundos molares? mento, em virtude de ser uma extração posterior e não
Grande parte da prática diária de um ortodontista intermediária, como ocorre nos casos onde extraímos
consiste no tratamento das más oclusões sagitais, como os pré-molares. Ao fazer uma análise do arco dentário
a Classe II, que está presente na grande maioria dos dos casos onde foram extraídos os segundos molares,
pacientes que procuram o tratamento ortodôntico, não é encontrado nenhum sinal clínico de extração
devido ao comprometimento estético-facial desta má dentária, devido à irrupção do terceiro molar em ponto
oclusão. A melhor época para o tratamento da má de contato com o primeiro molar. Quando se extrai
oclusão de Classe II é a fase da dentição mista, mas os segundos molares o tratamento sempre é concluído
nem sempre os pacientes procuram o tratamento nesta com vinte e oitos dentes e isto parece ser conservador,
fase e muitos chegam à adolescência, onde diminui a então, quando avaliamos um paciente que apresenta
colaboração ao tratamento ortodôntico. As extrações apinhamento na região de pré-molares e molares,
de segundos molares são mais uma opção de trata- uma boa opção de tratamento seria a extração do se-
mento para as más oclusões de Classe II em pacientes gundo molar, pois conseguiríamos espaço suficiente
adolescentes10. Os objetivos principais do tratamento para corrigir o apinhamento na região intermediária
com extração de segundo molar é evitar a impactação e evitaríamos a impactação do terceiro molar. O que
do terceiro molar e facilitar a distalização do primeiro deve ficar bem claro é que as extrações dos segundos
molar. Esta extração cria espaço na região posterior molares não substituem as extrações de pré-molares,
e isola o terceiro molar do restante do arco dentário, sendo dois protocolos de tratamento totalmente
possibilitando seu movimento no sentido ântero-oclu- distintos. As extrações dos segundos molares estarão
sal e a irrupção em ponto de contato com o primeiro bem indicadas a pacientes com tendência vertical de
molar que foi distalizado. O que realmente ocorre é crescimento que apresentam má oclusão de Classe II,
uma substituição dos molares, ou seja, todo terceiro divisão 1ª; e as extrações de pré-molares estarão bem

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indicadas a pacientes que apresentam, também, padrão devem se submeter a tais extrações. Faz-se necessário
vertical de crescimento, conhecer algumas características comuns destes pa-
apinhamento anterior significativo, protrusão dos cientes, a fim de que possamos indicar as extrações
incisivos e falta de selamento labial2, 6. com segurança. Graber5 constatou que a remoção dos
segundos molares superiores acelerava o tratamento
2) Quando se devem extrair os segundos das más oclusões de Classe II, divisão 1ª de Angle, e
molares? descreveu algumas das características que deveriam
Para realizar a extração do segundo molar é neces- ser observadas antes de se executar as extrações dos
sário avaliarmos a qualidade anatômica e o grau de segundos molares: mínima sobremordida profunda;
desenvolvimento do germe do terceiro molar. Segun- inclinação vestibular excessiva dos incisivos superio-
do Mollin (1984), a radiografia panorâmica oferece res e terceiros molares presentes e em boa posição,
bastante segurança para analisar a região posterior dos apresentando forma e tamanho adequados. Nos dias
arcos dentários, pois mostra imagem satisfatória do atuais, é imperativo individualizarmos o tratamento
tamanho da coroa do terceiro molar, bem como o grau ortodôntico de acordo com as características faciais
de calcificação radicular e a relação do germe com a dos pacientes, por esta razão, a definição do padrão
raiz do segundo molar. Quando a imagem obtida na muscular dos pacientes é de suma importância na
radiografia panorâmica estiver distorcida, falhando na decisão da conduta terapêutica. Sendo assim, as extra-
definição do tamanho germe do terceiro molar, faz-se ções dos segundos molares estão mais bem indicadas a
necessária a radiografia periapical para complementar pacientes mesofaciais e dolicofaciais, que constituem
a avaliação radiográfica, pois a anatomia do terceiro a grande maioria dos pacientes que se submetem às
molar é decisiva neste diagnóstico. A melhor fase para extrações dentárias. Nos pacientes com tendência
se extrair o segundo molar é quando a coroa do terceiro horizontal de crescimento, com sobremordida pro-
molar já se encontra formada e a raiz estiver iniciando funda, estas extrações devem ser evitadas, pois o efeito
a formação, pois desta maneira o germe do terceiro dentoalveolar da mecânica aplicada é a rotação horária
molar se movimentará para anterior, irrompendo no do arco dentário superior4, que causará aumento na
espaço do segundo molar e em ponto de contato com sobremordida profunda. Outra característica que
o primeiro molar distalizado. Os terceiros molares devemos observar é a estabilidade do arco dentário
irrompem em condições boas ou aceitáveis em mais inferior, ou seja, ao analisarmos este arco dentário
de 90% dos casos após as extrações dos segundos mo- devemos encontrar ausência ou apinhamento suave
lares8, entretanto, poderá ocorrer em alguns pacientes, na região anterior com os incisivos relativamente
suave ou moderada inclinação mesioaxial dos terceiros bem posicionados, pois, se encontrarmos grandes
molares, causando pequena impactação. Quando isto apinhamentos e incisivos vestibularizados, estarão
ocorrer, devemos verticalizar os molares utilizando-se indicadas extrações de pré-molares para harmonizar
técnicas apropriadas para executar este procedimento. o arco inferior. Considerando-se a relação interarcos,
Não é aconselhado extrair os segundos molares depois devemos indicar as extrações dos segundos molares a
que a bifurcação radicular dos terceiros molares estiver pacientes que apresentam más oclusões significativas
formada9, pois, nestas condições, estes dentes perdem a de Classe II (mais que 50%), pois a pacientes que
capacidade de se movimentar para anterior e irrompem apresentam pequenas discrepâncias sagitais, deve-se
com diastema, sendo proporcional ao grau de formação escolher propostas convencionais de tratamento para
radicular, ou seja, quanto mais calcificada estiver a raiz, distalizar os molares. Para ficar mais claro, faremos
maior será o diastema. agora um resumo das características dos pacientes
(Fig. 1-11) que se submetem às extrações de segundos
3) Quais são os pacientes que devem se subme- molares:
ter às extrações dos segundos molares ? • Adolescentes;
As extrações dos segundos molares representam • Padrão mesofacial ou dolicofacial;
mais uma possibilidade de tratamento das más oclu- • Terceiros molares presentes, apresentando forma
sões de Classe II em pacientes adolescentes, tendo em e tamanho adequados;
vista que o diagnóstico ortodôntico é morfológico e • Relação interarcos de Classe II significativa;
que deve-se fazer seleção cuidadosa dos pacientes que • Arco dentário mandibular estável.

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4) Como acontece a formação radicular do melhora geral na angulação mesiodistal dos terceiros
terceiro molar após a extração do segundo molares. De acordo com a metodologia aplicada nesse
molar? estudo, os segundos molares foram extraídos antes da
Como é observado clinicamente, os terceiros mo- formação radicular dos terceiros molares, concluindo-
lares apresentam grande instabilidade anatômica, nor- se que, estas extrações, quando criteriosamente indica-
malmente as raízes são anguladas ou fusionadas. Sendo das, são a melhor opção para muitos pacientes, sendo
assim, é importante saber como ocorre a formação das um procedimento razoavelmente seguro e conservador.
raízes dos terceiros molares, pois, como discutido an- A principal causa da impactação do terceiro molar é
teriormente, as extrações dos segundos molares devem a falta de espaço na região posterior do arco dentário,
ser realizadas antes da formação radicular dos terceiros sendo a extração do segundo molar o melhor método
molares. Cavanaugh3 realizou uma avaliação clínica para criar espaço e evitar a impactação do terceiro
e radiográfica em 25 pacientes, avaliando o processo molar. Esta extração isola o terceiro molar do restante
de irrupção do terceiro molar seguido da extração do do arco dentário e este fato parece ser responsável pela
segundo molar. O autor não observou impactações, a formação radicular satisfatória dos terceiros molares na
incidência de raízes fusionadas foi baixa e houve uma maioria dos casos clínicos.

Figura 1-5 - Modelos iniciais de estudo.

Figura 6-8 - Radiografias panorâmicas: inicial, intermediária e final.

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Figura 9-11 - Modelos finais.

REFERÊNCIAS 6. JANSON, G. Influência do padrão facial na decisão de extrações. R


1. BASDRA, K. E.; STELLZIG, A.; KOMPOSH, G. Extraction of Dental Press Ortodon Ortop Facial, Maringá, v. 7, n. 2, p. 41-47,
maxillary second molar in the treatment of Class II malocclusion. 2002.
Angle Orthod, Appleton, v. 66, p. 287-292, 1996. 7. ROSÉ, M. M.; VÉRDON, P. Ortodoncia de Mollin. [S.l.: s. n.],
2. BENNETT, J. C.; MCLAUGHLIN, R. P. Orthodontic 1994.
management of dentition with the preajusted appliance. [S. l.]: 8. RICHARDSON, M. E.; RICHARDSON, A. Lower third
Isis Medical Media, 1997. molar development subsequent to second molar extraction. Am
3. CAVANAUGH, J. J. Third molar changes following second molar J Orthod Dentofacial Orthod, St. Louis, v. 104, p. 566-574,
extractions. Angle Orthod, v. 55, no. 1, p. 70-76, 1985. 1993.
4. CREPALDI, A. Avaliação das medidas cefalométricas 9. RICHARDSON, M. E. O terceiro molar: uma perspectiva
verticais, padrão Trevisi, dos pacientes tratados com extração ortodôntica. R Dental Press Ortodon Ortop Facial, Maringá, v. 3,
dos segundos molares superiores permanentes. 1999. 58 f. n. 3, p. 103-117, 1998.
Monografia (Especialização em Ortodontia)–Universidade de 10. ZANELATO, R. C.; TREVISI, H. J.; ZANELATO, A. C. T. Extração
Cuiabá, Cuiabá, 1999. dos segundos molares superiores. Uma nova abordagem para os
5. GRABER, T. M. Maxillary second molar extraction in Class II tratamentos da Classe II, em pacientes adolescentes. R Dental Press
malocclusion. Am J Orthod, St. Louis, v. 56, p. 331-353, 1969. Ortodon Ortop Facial, Maringá, v. 5, n. 2, p. 64-75, mar./abr. 2000.

Reginaldo César Zanelato


- Especialista em Ortodontia - Sociedade Paulista de Ortodontia (SPO).
- Aluno do Programa de Pós-Graduação em Odontologia – Área
de Concentração Ortodontia – da Universidade Metodista de
São Paulo (UMESP).
- Professor do Curso de Especialização de Ortodontia da APCD de
Presidente Prudente.

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