Você está na página 1de 4

Quando ocorre insalubridade por exposição a umidade?

Nesse artigo vamos entender quando ocorre a insalubridade por exposição a umidade,
uma dúvida muito comum.

 LEGISLAÇÃO 

A Portaria nº 3214, de 08/06/1978 que aprovou as Normas Regulamentadoras, em sua


NR-15, anexo nº 10, item 1, assim registra: 

UMIDADE 

“As atividades ou operações executadas em locais alagados ou encharcados, com


umidade excessiva, capazes de produzir danos à saúde dos trabalhadores, serão
consideradas insalubres em decorrência de laudo de inspeção realizada no local de
trabalho”. 

No caso de sua caracterização, a insalubridade considerada será de grau médio. 

O item 15.1 e subitem 15.1.4 da NR-15 – Atividades e Operações Insalubres, registra: 

“15.1. São consideradas atividades ou operações insalubres as que se desenvolvem:


15.1.4. Comprovadas através de laudo de inspeção do local de trabalho, constantes


dos anexos números 7, 8, 9 e 10”.

 AGENTE FÍSICO OU CONDIÇÃO AMBIENTAL 

Segundo o disposto no item 9.1.5.1 da NR-9 – Programa de Prevenção de Riscos


Ambientais – PPRA “Consideram-se agentes físicos diversas formas de energia a que
possam estar expostos os trabalhadores, tais como ruído, vibrações, pressões
anormais, temperaturas extremas, radiações ionizantes, radiações não ionizantes, bem
como o infrassom e o ultrassom”.

Pelo exposto, pode-se concluir que a umidade não é um agente físico, mas sim uma
condição ambiental.

 UMIDADE COMO CONCEITO TÉCNICO 

Tecnicamente falando, dispomos de dois conceitos de umidade: a absoluta e a relativa


(sempre ligados a umidade do ar).

 umidade absoluta é a quantidade de vapor d’água contida na unidade de


volume do espaço ocupado, podendo ser expressa em kg/m³, g/l, lb/ft³, etc.
 umidade relativa é a relação entre a quantidade de vapor d’água existente num
determinado volume de ar e a que existiria se esse mesmo momento volume de
ar estivesse saturado a uma dada temperatura. É um valor adimensional,
variando apenas com a temperatura e a pressão barométrica.

Sendo a umidade função da temperatura (quanto mais quente, maior é a evaporação,


ou seja, mais vapor d’água se mistura ao ar); haverá para cada temperatura uma
quantidade máxima de água que poderá ser absorvida no ar. Quando esse ponto é
atingido, dizemos que chegamos à saturação.

Tanto a baixa umidade relativa, como a alta constituem-se em situações de


desconforto ao trabalhador e prejuízo à sua saúde. Em certas condições, o trabalho
fica prejudicado sem ter como ser executado.

A título de exemplificação podemos citar o disposto no item 17.5.2, alínea “d” da NR-
17 – ERGONOMIA que recomenda como condição de conforto nos locais de trabalho
onde são executadas atividades que exijam solicitações intelectual e atenção constantes,
tais como: salas de controle, laboratórios, escritórios, salas de desenvolvimento ou
análise de projetos, dentre outros, “a umidade relativa do ar não inferior a 40%
(quarenta por cento)”. 

A umidade relativa aumenta, portanto, com o conteúdo de água no ar e com a


diminuição da temperatura ambiente. Quanto maior a umidade relativa do ar, mais lento
se torna o processo de evaporação e, portanto, menos será a taxa com o qual o suor
evapora do corpo, e chegando à saturação, o ar não terá mais condições de possibilitar a
evaporação do suor.

Considera-se como faixa de conforto a que corresponde a temperatura entre 22 e


26°C e umidades relativas entre 45 e 50%.

Segundo W.N. Whiteridge, em seu trabalho “Environmental Factors in Fatigue and


Competence” (capitulo 5 do livro “Industrial Hygiene and Toxicology”, vol. I) a
umidade relativa deve se situar entre 30% e 70% para que as condições de
trabalho sejam favoráveis.

 ASPECTOS LEXICOLÓGICOS LIGADOS À EXPRESSÃO UMIDADE E


DEMAIS TERMOS CONSTANTES DO TEXTO DO ANEXO N° 10, DA
NR-15.

Segundo Aurélio Buarque de Holanda Ferreira:

 umidade: significa “qualidade ou estado de úmido ou ligeiramente molhado”;


 úmido: é o mesmo que “levemente molhado; Impregnado de água, de líquido ou
de vapor”;
 alagado: “cheio de água; encharcado”;
 encharcar: “encher de água; molhar muito”.

Como o anexo n° 10 da NR-15 refere-se a “umidade excessiva”, deve-se depreender


que o diploma legal não está utilizando o termo umidade em seu sentido comum, porque
de outra forma deveríamos aceitar como entendimento da expressão UMIDADE
EXCESSIVA a qualidade ou estado de úmido ou ligeiramente molhado, porém
excessivo. Além disso, tanto as expressões alagado como encharcado nos trazem o
entendimento de áreas com excessiva quantidade de água. Portanto, não se trata de
UMIDADE e sim de situação onde exista uma quantidade expressiva de água.

 LAUDO DE INSPEÇÃO 

A caracterização da insalubridade, segundo o disposto na legislação somente deve


ocorrer se o laudo de inspeção realizada no local de trabalho constatar
concomitantemente: 

1. LOCAL ALAGADO OU ENCHARCADO; 


2. UMIDADE EXCESSIVA;
3. UMIDADE CAPAZ DE PRODUZIR DANOS À SAÚDE. 

 LOCAIS MOLHADOS E UMIDADE EXCESSIVA 


Deve-se ter atenção na elaboração do laudo de inspeção, para não se adotar uma
interpretação subjetiva sobre o assunto, como por exemplo considerar a presença de
água em atividades como lavar louças, veículos, professor de natação, salva-vidas, etc.,
como INSALUBRE POR EXPOSIÇÃO A UMIDADE.

Como condição de umidade excessiva podemos citar os trabalhos em locais confinados


como túneis e galerias, onde comumente a umidade do ar é elevada. Esta condição traz
como consequência a dificuldade do organismo para evaporar o suor, que é o
mecanismo natural do corpo humano para perda de calor por evaporação e manter,
assim, o equilíbrio térmico. 

Na prática, uma temperatura de 40ºC pode ser tolerada se a umidade do ar é


baixa, no entanto, uma temperatura de 30ºC pode ser intolerável com uma
umidade relativa em torno de 90%. Isto é fácil de se explicar, considerando que a
troca de calor entre a superfície do corpo e o meio ambiente está condicionada
principalmente a quatro fatores físicos externos: 

1. Temperatura do ar;
2. Velocidade do ar;
3. Umidade do ar;
4. Calor radiante.

Nos locais confinados, normalmente não se tem fontes de calor radiante, tornando-se
importantes somente os três primeiros fatores, e pelas mesmas características destes
locais a umidade do ar pode atingir níveis altos com uma movimentação de ar precário,
originando, às vezes, condições já definidas como extremas, e produzindo diversos
sintomas nos trabalhadores, tais como desânimo, irritabilidade, ansiedade, falta de
concentração e moral baixa. 

Quando a sudorese é intensa são perdidas grandes quantidades de cloreto de sódio e o


trabalhador pode sofrer câimbras pelo calor, provocando cólicas e dores nos músculos, e
em casos extremos pode-se chegar à perda da consciência.

Você também pode gostar