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orientando as suas pesquisas, viagens nacionais e internacionais no sentido de
“encontrar a genuína expressão artística, portadora do carácter da alma portuguesa.”
(Rodrigues, 2003, p.47).
Torna pública a sua oposição às medidas da comissão governamental de 1875
para reformar as belas-artes e, sempre com papel muito ativo na publicação de artigos
nos periódicos da época, desde cedo manifesta as suas preocupações em relação às
estratégias do ensino artístico e as suas conexões com a produção industrial. Refletindo
sobre a tradição e a modernidade, teorizou sobre a reforma do ensino artístico nacional
em toda a sua amplitude, desde do ensino secundário até às escolas profissionais de
artes e ofícios, passando pelas Academias de Belas-Artes de Lisboa e Porto, focando a
componente do ensino das artes aplicado às indústrias (Henriques, 2016). Sempre
preocupado, defendeu a organização de um museu central de arte e indústria e a
adoção de medidas para conservação de monumentos. Todas estas teses estão
espelhadas nos 3 volumes da obra A Reforma do Ensino de Belas-Artes, cujo o último
volume data de 1879.
Dedica-se intensamente ao seu estudo intelectual e erudito como investigador,
refletindo sobe o atraso industrial crónico de Portugal à época. Teoriza e torna-se um
grande defensor das artes industriais e dos museus industriais como veículos para
revitalização económica e cultural do país (Leandro, 2018). É o tema das indústrias
artísticas de caracter tradicional e o problema do ensino do desenho aplicado à indústria
que passam a ser o seu foco de interesse a partir de 1885. Esta posição faz com que
seja designado conservador, e posteriormente, diretor do Museu Industrial e Comercial
do Porto. Apesar da sua valiosa contribuição científica e capacidade de trabalho, o
museu não vingou por ausência de valorização e “inépcia nacional” (Rodrigues, 2003,
p.53) do ensino industrial aplicado à produção artística.
Entusiasmado pela procura de um estilo original Português na arte nacional,
recorre às suas valências multifacetadas em diversas áreas do conhecimento,
estendendo a sua atividade ao estudo e valorização de especificidades da produção
artística associada à identidade nacional como “prova da nacionalidade portuguesa”
(Vasconcelos,1929, p.16), que se reflete na produção de “mais de seis dezenas de
livros” (Henriques, 2016), onde se destacam a publicação das obras Arqueologia
Artística, A reforma Geral do Ensino das Belas-Artes e Arte Românica em Portugal,
entre outras, e a sua intervenção nas pesquisas sobre a cerâmica e faianças, onde se
destaca a grande Exposição de Cerâmica no Palácio de Cristal do Porto, organizada
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A destacar, tal como esclarece Sandra Leandro, a notável descoberta científica
dos painéis de S. Vicente que se deve a Joaquim de Vasconcelos, que no dia 20 de
julho de 1895 visitou aquele mosteiro acompanhado por Ramalho Ortigão, José Queiroz
e o arcebispo de Mytilene.
Numa linha temporal que perdura até à sua morte em março de 1936, este
pioneiro investigador, sempre defensor do princípio de “Argumentar com factos, e não
com hipóteses” (Vasconcelos, 1929, p. 17), pode ser caracterizado pela produção de
múltiplos estudos de grande rigor científico sobre as várias indústrias Portuguesas,
incluindo artes decorativas artesanais ou artes caseiras, abrangendo a elaboração de
estudos sobre pintura1, ourivesaria e joalharia (1881-84), pintura em têxteis (1900),
metais (1901), arquitetura2, etnografia3, arqueologia, o ensino4, cerâmica, elaboração de
catálogos e guias de museu5.
Fica assim patente pelo o seu legado, tal como José-Augusto França menciona,
“o real fundador da História da Arte em Portugal”.
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“A pintura portuguesa nos séculos XV e XVI (Segundo ensaio). Grão-Vasco”, 1879.
2
“Da Arquitetura Manuelina. Conferência realizada na Exposição Distrital de Coimbra, Coimbra,
Imprensa da Universidade”, 1885.
3
“Portugal Antigo e Moderno: Dicionário geográfico, estatístico, corográfico, heráldico,
arqueológico, histórico, biográfico e etimológico de todas as cidades, vilas e freguesias de
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Portugal e de grande número de aldeias…,” Volume XII, Lisboa, Livraria Editora de Tavares
Cardoso & Irmão, 1890.
4
“O Ensino da História da Arte nos Liceus e as Excursões Escolares”, Porto, Tipografia de A. J.
da Silva Teixeira, 1908.
5
“Guia do Museu Municipal do Porto”, Porto, Tipografia Central, 1902.
3
Bibliografia
Câmara, Maria Alexandra Gago da (2008). Joaquim de Vasconcelos e o estudo das
Artes Decorativas em Portugal: a cerâmica e o azulejo (1849-1936).
França, José-Augusto (1990). A arte em Portugal no século XIX. (3ª ed, Vol. II). Venda
Nova: Bertrand Editora.
Rodrigues, Sofia Leal (2013). A génese dos museus de artes industriais e decorativas.
In Revista Vox Musei arte e património. (Vol. 1) Lisboa. pp. 389-402.
Rosmaninho, Nuno (2018). A Deriva Nacional da Artes: Portugal, Séculos XIX-XXI. V.N.
Famalicão: Edição Húmus.