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SAÚDE E DOENÇA NO PROCESSO

DE ENVELHECIMENTO

Envelhecimento e sociedade – v. 2
Universidade Nove de Julho – UNINOVE
Rua Vergueiro, 235/249 – 12º andar
CEP: 01504-001 – Liberdade – São Paulo, SP – Brasil
Tel.: (11) 3385-9191 – editora@uninove.br
Beatriz Guimarães Ribeiro
Nadhia Helena Costa Souza
Natalie Souza de Andrade
Patrícia Lira dos Santos

SAÚDE E DOENÇA NO PROCESSO


DE ENVELHECIMENTO

Envelhecimento e sociedade – v. 2
Fernanda Ishida Corrêa
Andrezza Sossai Rodrigues de Carvalho
(Organizadoras)

São Paulo
2019
© 2019 UNINOVE
Todos os direitos reservados. A reprodução desta publicação, no todo ou em parte,
constitui violação do copyright (Lei nº 9.610/98). Nenhuma parte desta publicação
pode ser reproduzida por qualquer meio, sem a prévia autorização da UNINOVE.

Conselho Editorial: Eduardo Storópoli


Maria Cristina Barbosa Storópoli
Nadir da Silva Basílio
Cristiane dos Santos Monteiro
João Carlos Ferrari Corrêa
Cinthya Cosme Gutierrez Duran
Renata Mahfuz Daud Gallotti

Os conceitos emitidos neste livro são de inteira responsabilidade dos autores

Capa e Editoração eletrônica: Big Time Serviços Editoriais


Revisão: Antonio Marcos Cavalheiro
Sumário

Sobre a Coleção Envelhecimento e Sociedade............................................. 9


Apresentação................................................................................................ 10

Capítulo 1
ANATOMIA E FISIOLOGIA SOBRE O ENVELHECIMENTO:
DEFINIÇÃO E DIFERENCIAÇÃO ENTRE IDADE
BIOLÓGICA E CRONOLÓGICA, 11
Beatriz Guimarães Ribeiro
Patrícia Lira dos Santos
Introdução.....................................................................................................11
Objetivos........................................................................................................11
Composição corporal................................................................................... 13
Alterações celulares........................................................................................14
Alterações teciduais........................................................................................14
Modificações anatômicas e fisiológicas dos sistemas orgânicos
devido ao envelhecimento............................................................................ 15
Pele e seus anexos.......................................................................................... 15
Sistema ósseo..................................................................................................16
Sistema articular.............................................................................................17
Sistema muscular........................................................................................... 18
Sistema nervoso............................................................................................. 18
Sistema cardíaco............................................................................................ 19
Sistema respiratório....................................................................................... 21
Sistema urinário............................................................................................. 22
Rins........................................................................................................... 22
Bexiga Urinária e Uretra.......................................................................... 22
Sistema genital............................................................................................... 23
Feminino................................................................................................... 23
Masculino................................................................................................. 23
Sistema digestivo............................................................................................ 24
Sistema endócrino.......................................................................................... 24
Sistema hematopoiético................................................................................. 25
Sistema imunológico...................................................................................... 25
Mecanismo de homeostase............................................................................. 25
Conclusão...................................................................................................... 26
Exercícios...................................................................................................... 27
Bibliografia................................................................................................... 28
Capítulo 2
DADOS DEMOGRÁFICOS DO ENVELHECIMENTO
NO BRASIL E NO MUNDO, 30
Beatriz Guimarães Ribeiro
Introdução.................................................................................................... 30
Objetivos....................................................................................................... 30
Dados demográficos sobre o envelhecimento............................................ 30
Conclusão...................................................................................................... 35
Exercícios...................................................................................................... 36
Bibliografia................................................................................................... 37

Capítulo 3
POLÍTICAS PÚBLICAS E LEGISLAÇÃO
RELACIONADA AO ENVELHECIMENTO, 39
Beatriz Guimarães Ribeiro
Introdução.................................................................................................... 39
Objetivos....................................................................................................... 39
Políticas públicas nacionais......................................................................... 39
Política nacional do idoso............................................................................. 42
Estatuto do idoso........................................................................................... 42
Modalidades de atenção ao idoso............................................................... 44
Acessibilidade para os idosos........................................................................ 44
Casas de repouso e asilo............................................................................... 46
Centros-dia para idosos................................................................................. 47
Centros de Convivência para Idosos............................................................. 47
Assistência Domiciliar para Idosos............................................................... 47
Conclusão...................................................................................................... 48
Exercícios...................................................................................................... 49
Bibliografia................................................................................................... 50

Capítulo 4
COMPROMETIMENTO SISTÊMICO DO ENVELHECIMENTO.............52
Nadhia Helena Costa Souza
Natalie Souza de Andrade
Introdução.................................................................................................... 52
Objetivos....................................................................................................... 52
Comprometimento no envelhecimento...................................................... 53
Doença de Alzheimer .................................................................................... 54
Delirium......................................................................................................... 55
Doenças cardiovasculares............................................................................. 56
Doenças pulmonares...................................................................................... 59
Doenças ortopédicas e reumatológicas......................................................... 61
Instabilidade postural: equilíbrio, marcha, queda e fraturas....................... 62
Incontinência urinária e fecal........................................................................ 64
Fragilidade em idosos.................................................................................... 66
Conclusão...................................................................................................... 67
Exercícios...................................................................................................... 68
Bibliografia................................................................................................... 69

Capítulo 5
AVALIAÇÃO GERONTOLÓGICA E ESCALAS PADRONIZADAS
DE AVALIAÇÃO DE EQUILÍBRIO, MARCHA
E RASTREIO DE DEMÊNCIA, 71
Natalie Souza De Andrade
Introdução.................................................................................................... 71
Objetivos....................................................................................................... 71
Aspectos neurológicos relacionados à senescência.................................... 72
Teste de equilíbrio.......................................................................................... 86
Teste de marcha ............................................................................................ 88
Conclusão...................................................................................................... 91
Exercícios...................................................................................................... 92
Bibliografia................................................................................................... 93

Capítulo 6
REABILITAÇÃO E PREVENÇÃO DOS COMPROMETIMENTOS
DO ENVELHECIMENTO E QUALIDADE DE VIDA, 95
Natalie Souza de Andrade
Introdução.................................................................................................... 95
Objetivos....................................................................................................... 96
Envelhecimento e qualidade de vida.......................................................... 96
Conclusão.................................................................................................... 104
Exercícios.....................................................................................................105
Bibliografia................................................................................................. 106

Autores........................................................................................................ 108
Coleção Envelhecimento e Sociedade........................................................110
Gratidão aos professores colaboradores de cada capítulo
que, com muito empenho, desenvolveram este livro.
9 - Envelhecimento e Sociedade – v. 2

Sobre a Coleção Envelhecimento e Sociedade


A coleção a seguir foi estruturada de maneira que o leitor reforce
o seu conhecimento acerca do desenvolvimento e organização do indi-
víduo e da sociedade. Para tal, cada capítulo elaborado visa abranger de
maneira clara e objetiva esses pontos.
O primeiro volume descreve sobre a anatomia e fisiologia dos sis-
temas que formam o corpo humano, bem como as alterações possíveis
durante o envelhecimento, propiciando que o leitor associe os aspectos
normais e as mudanças em decorrência da idade.
O segundo e o terceiro volumes abordam conceitos antropológi-
cos e sociais, bem como as políticas públicas essenciais ao idoso e à re-
abilitação durante o envelhecimento.
Os demais volumes (quarto, quinto e sexto) estão direcionados à
abordagem da atuação do Fisioterapeuta nas principais doenças neuro-
lógicas do adulto, os recursos auxiliares disponíveis e o conhecimento
dos aspectos da dor.

Andrezza Sossai Rodrigues de Carvalho


10 - Envelhecimento e Sociedade – v. 2

Apresentação
Ao longo deste livro, o leitor aprofundará seu conhecimento so-
bre os aspectos do envelhecimento; políticas públicas; escalas avaliati-
vas e reabilitação.
O processo de envelhecimento é comum a todos os seres vivos,
sendo representado por um conjunto de modificações que acontecem no
organismo a partir do nascimento e como consequência de todo tempo
que foi vivido.
O aumento da expectativa de vida, associado à redução da taxa de
fecundidade, é um dos principais motivos para a mudança demográfi-
ca, social e epidemiológica na sociedade brasileira, alterando o perfil e
a necessidade da população idosa. Dessa forma, a busca por processos
educativos, atitudes e hábitos saudáveis que possibilitem envelhecer ati-
vamente, com saúde e dignidade; tem aumentado consideravelmente.
Ao profissional da saúde, faz-se necessário conhecer e compre-
ender as alterações anatômicas e fisiológicas presentes nos idosos, bem
como compreender as modalidades de atenção existentes como parte
da implantação das políticas públicas, sendo assim, aplicar avaliações
e escalas que identifiquem o que mais diretamente compromete a capa-
cidade funcional no envelhecimento; favorece o conhecimento de pos-
síveis soluções que possam colaborar para a melhoria da qualidade de
vida dos idosos.
Cada capítulo deste livro, discorre sobre os aspectos do envelhe-
cimento, bem como sobre as políticas públicas; visando o correto cui-
dado do indivíduo.

Andrezza Sossai Rodrigues de Carvalho


11 - Capítulo 1 | Envelhecimento e Sociedade – v. 2

Capítulo 1
ANATOMIA E FISIOLOGIA SOBRE
O ENVELHECIMENTO: DEFINIÇÃO
E DIFERENCIAÇÃO ENTRE IDADE
BIOLÓGICA E CRONOLÓGICA

Beatriz Guimarães Ribeiro


Patrícia Lira dos Santos

Introdução
O processo de envelhecimento abrange alterações em vários as-
pectos anatômicos e biológicos decorrentes ao uso natural das estruturas
do corpo humano. As alterações estruturais e fisiológicas são esperadas
para todos os indivíduos, devido o tempo vivido. Reconhecer estas alte-
rações é essencial para os profissionais que trabalham com este perfil de
paciente e também facilitará o entendimento das alterações na senilidade.

Objetivos
Ao concluir a leitura deste capítulo, o leitor será capaz de:
• Conhecer e compreender as alterações anatômicas e fisiológicas
presentes nos idosos;
• Diferenciar idade biológica e cronológica (alterações anatômi-
cas e fisiológicas);
• Distinguir as transformações ocorridas por senescência ou
senilidade.
O profissional da área da saúde que trabalha com idosos deve co-
nhecer e compreender as peculiaridades anatômicas e fisiológicas do en-
velhecimento. O processo de envelhecimento é comum a todos os seres
vivos, sendo representada por um conjunto de modificações que aconte-
12 - Capítulo 1 | Envelhecimento e Sociedade – v. 2

cem no organismo a partir do nascimento e como consequência de todo


tempo que foi vivido. Vale salientar que estas alterações podem ocorrer
de forma natural (senescência) ou forma patológica (senilidade), e cabe
ao profissional distinguir estes efeitos para facilitar o reconhecimento e
a compreensão das alterações presentes no idoso. O declínio das altera-
ções anatômicas e funções orgânicas, não ocorrem de forma simultânea;
tampouco em todos os órgãos e em todos os indivíduos da mesma forma.

Figura 1 – Processo de envelhecimento | Fonte: 123rf.

O envelhecimento pode variar de indivíduo para indivíduo,


podendo ser gradual para uns e mais rápido para outros. As variações são
dependentes de vários fatores, tais como: estilo de vida, hereditariedade,
condições socioeconômicas, psicológicas e presença de doenças crônicas.
Levando em consideração estes motivos, podemos afirmar que os declínios
funcionais e estruturais não acontecem sincronicamente para todos os
indivíduos. Os fatores apresentados acima podem interferir positivamente
ou negativamente na idade cronológica (data de nascimento) ou idade
biológica (idade que aparenta). A relação entre estes dois aspectos é
fundamental para categorizar os indivíduos. Um indivíduo na sociedade
que apresenta mais de 60 anos é considerado uma pessoa idosa, mas
dependendo do estilo de vida deste indivíduo ele pode apresentar uma
idade biológica bem mais jovem do que a cronológica.
13 - Capítulo 1 | Envelhecimento e Sociedade – v. 2

Os seres humanos apresentam queda das reservas fisiológicas com


o passar dos anos, o que os torna mais vulneráveis ao desenvolvimento
de doenças e pode aumentar o risco de mortalidade. Alterações
morfofuncionais renais são mais acentuadas durante o envelhecimento
quando comparadas, por exemplo, a alterações de condução nervosa que
são menos evidentes, mesmo em fases avançadas da vida. Acredita-se
que 1% da função é perdida a cada ano após os 30 anos de idade, e que
exista efeito cumulativo dessas alterações conforme os anos passam.
As alterações celulares, moleculares e enzimáticas ocorrem si-
multaneamente às alterações funcionais e anatômicas do organismo ao
longo dos anos.
Senescência são as modificações que ocorrem no idoso de forma
natural, um processo fisiológico.

Senilidade são as modificações que ocorrem no idoso devido um


processo patológico.

Composição corporal
Há modificações evidentes na composição do corpo do idoso, cau-
sadas pela redução da massa magra e densidade óssea, aumento do te-
cido adiposo e diminuição da água corporal total. Em relação à perda
da massa, os rins e fígado são os órgãos internos mais comprometidos.
Vale destacar que em longo prazo, os músculos em geral apresentam
perda funcional e, concomitantemente, limitam as atividades de vida
diária (AVD’s).
A altura atinge seu pico máximo em torno dos 40 anos, e dimi-
nui um centímetro por década até os 70 anos de idade. Essa redução de
estatura ocorre pelas alterações osteoarticulares da coluna devido acha-
tamento das vértebras, redução dos discos intervertebrais e hipercifose
dorsal; além de arqueamento dos membros inferiores e achatamento dos
arcos plantares dos pés. O nariz e orelhas podem ter um crescimento mí-
nimo, devido à flacidez que é gerada pela perda de colágeno e elastina,
causando a impressão do tamanho real. O peso reduz de forma discreta
a partir dos 60 anos, mas o acúmulo de gordura pode manter ou mesmo
elevar o peso corporal. Essa gordura se distribui no tecido subcutâneo
14 - Capítulo 1 | Envelhecimento e Sociedade – v. 2

do tronco, ao redor de vísceras e dentro de órgãos. Mesmo assim, tam-


bém há redução do peso da maioria dos órgãos, em ambos os sexos, por
conta do envelhecimento.
Há redução da quantidade de água, da massa celular e do conteú-
do mineral ósseo, enquanto se eleva a quantidade de tecido gorduroso,
alterando então a estatura e peso corporal desses idosos. Todas as modi-
ficações citadas não ocorrem de maneira uniforme entre os indivíduos.

Alterações celulares
As células de cada órgão envelhecem com velocidades diferentes.
As células basais da epiderme e as células hematopoiéticas (do sangue)
são passíveis de reparação por serem células relativamente indiferen-
ciadas. Já em células diferenciadas como do fígado e rim (que raramen-
te se dividem, somente se necessário) e em células que não se dividem
como os neurônios, as alterações devido ao envelhecimento são defini-
tivas e irreversíveis.
Durante o envelhecimento, o núcleo das células apresenta mudan-
ça no tamanho além de aumento no número e tamanho dos nucléolos.
Também ocorrem modificações na forma, fragmentação e encurtamen-
to dos cromossomos. Já a respeito das alterações citoplasmáticas, ob-
serva-se mudança no tamanho, forma e quantidade das mitocôndrias,
além de fragmentação do aparelho de Golgi, modificações do sistema
retículo-endoplasmático e ruptura de lisossomos. Além disso, pode
haver acúmulo de água intracelular nas mitocôndrias e no interior do
retículo endoplasmático, e decréscimo da capacidade celular em re-
ter potássio no interior e sódio em seu exterior. Também há acúmu-
lo de gordura seguida de alteração na estrutura celular. A membrana
pode sofrer alterações pela presença de componentes tóxicos que au-
mentam com o envelhecimento e degradam os lipídeos insaturados da
membrana celular.

Alterações teciduais
O tecido conjuntivo, formado por fibras elásticas e colágenas, está
distribuído por todo o organismo. Com o envelhecimento, os constituin-
tes desse tecido se modificam em quantidade e em qualidade. Um dos
15 - Capítulo 1 | Envelhecimento e Sociedade – v. 2

motivos é a alteração do funcionamento de células chamadas fibroblas-


tos, componente importante na formação do tecido conjuntivo.
O colágeno é a proteína mais abundante encontrada no organismo
humano e possui uma estrutura rígida e pouco elástica. O colágeno do
tipo I e III é mais encontrado em tecidos intersticiais, derme, tendões e
ossos. O tipo II está mais presente em cartilagem hialina e no olho. Já o
tipo IV se encontra na membrana basal. Por ser uma proteína estrutural,
a transformação metabólica do colágeno se torna lenta. Sua degradação
fisiológica é feita por enzimas específicas, como colagenases e metalo-
proteases. Mas com o envelhecimento, uma quantidade maior de colá-
geno é produzida, e a ação dessas enzimas que causam degradação vai
se tornando ineficiente. Dessa forma, há aumento da rigidez dos tecidos
corporais e redução da permeabilidade celular, impedindo uma nutrição
tecidual adequada e causando deterioração da função celular.
As fibras elásticas são responsáveis pela elasticidade do tecido con-
juntivo. São encontradas em grande quantidade nos tecidos e órgãos que
sofrem ação de tração e extensão como pele, músculo, vaso sanguíneo
arterial e pulmão. Devido ao envelhecimento, ocorre aumento na quan-
tidade dessas fibras elásticas, mas sua deposição e distribuição são ina-
dequadas. Além disso, há alteração na sua composição, fragmentação e
irregularidades em seu formato e deposição de cálcio. Essas alterações
causam mudanças na funcionalidade das fibras, reduzindo a capacidade
elástica dos tecidos. Um exemplo é a alteração na elasticidade da pele
em idosos causada por fragmentação das fibras elásticas, tendo como
consequência o aparecimento de rugas.

Modificações anatômicas e fisiológicas dos sistemas


orgânicos devido ao envelhecimento
As alterações funcionais ocorrem em todos os setores do organis-
mo, mas em grau variado quando comparação entre indivíduos e órgãos
distintos. Vejamos a seguir as principais alterações sistêmicas:

Pele e seus anexos


A epiderme e derme são as duas camadas da pele, sendo a epider-
me a camada mais externa e a derma mais interna. A epiderme é com-
16 - Capítulo 1 | Envelhecimento e Sociedade – v. 2

posta por células epiteliais de revestimento e a derme é constituída por


tecido conjuntivo, composta por fibras elásticas e de colágeno. Estes dois
componentes asseguram a elasticidade e estrutura normal da pele. Com
o envelhecimento, estas fibras sofrem modificações estruturais, ocasio-
nando a perda da elasticidade e gerando flacidez. A derme diminui de
espessura e estes fatores somados, juntamente com a desidratação pre-
sente no idoso, dão origem às rugas. A pele se torna mais seca e áspera
devido ao declínio funcional das glândulas sudoríparas e sebáceas, ge-
rando uma hipersensibilidade tegumentar que propicia uma menor tole-
rância às variações de temperatura e aumentando os riscos de infecções.
Ocorre diminuição de pelos em todo corpo, com exceções nas na-
rinas, orelhas e sobrancelhas. Há também mudança estrutural no fio de
cabelo como redução da densidade, diminuição da espessura e perda da
cor natural. A redução de lipídeos favorece a alteração da espessura do
fio, e a perda de melanina (pigmento que dá cor aos fios) contribui com
o aparecimento dos cabelos brancos, ou seja, alteração da cor.

Sistema ósseo
O tecido ósseo é constituído por dois tipos celulares: osteoblas-
tos e osteoclastos. Os osteoblastos produzem a matriz óssea e os oste-
oclastos realizam a reabsorção óssea. Os osteócitos (originados pelos
osteoblastos) diminuem em números apresentando declínio funcional
no metabolismo da matriz extracelular. Com isso, os idosos apresentam
maior perda de cálcio na matriz óssea. A perda acentuada de cálcio cau-
sa enfraquecimento dos ossos favorecendo o aparecimento de fraturas.
Além disso, este tecido possui dois aspectos ósseos: o compacto e
esponjoso. Ambos são alterados no processo de envelhecimento. A es-
pessura do componente compacto diminui por conta de reabsorção in-
terna óssea. No componente esponjoso, há perdas de laminas ósseas.
Na mulher, a perda óssea já ocorre antes da menopausa e, após
este período, o processo de perda é mais acelerado. Sendo assim, a alte-
ração do tecido ósseo é diferente entre homens e mulheres.
17 - Capítulo 1 | Envelhecimento e Sociedade – v. 2

Sistema articular
As articulações são estruturas ligadas aos ossos que participam
dos movimentos físicos e permitem a estática corporal. Todos os tipos
de articulações sofrem alterações com o envelhecimento: desgaste por
pressão, por desidratação e/ou atritos ósseos. Na coluna vertebral, o dis-
co intervertebral que está localizado entre os corpos vertebrais, permite
estabilidade e flexibilidade à coluna, a qual é necessária para movimen-
tação do tronco, promover equilíbrio, postura e suporte do peso corpo-
ral. Este disco é composto por um núcleo pulposo e um anel fibroso. O
núcleo pulposo é composto por grande quantidade de água e fibras de
colágeno, e o anel fibroso é uma fibrocartilagem espessa. No envelhe-
cimento, o núcleo pulposo desidrata (perda de água) e as fibras de co-
lágenos aumentam de número e espessura, diminuindo a capacidade do
disco intervertebral se moldar aos movimentos da coluna. No anel fibro-
so, ocorre acúmulo de cálcio e fibras colágenas mais delgadas. Devido
à desidratação do disco, a sua espessura diminui acentuando as curvas
da coluna, especialmente a torácica.
Nas articulações sinoviais (diartroses) ocorrem modificações im-
portantes com o envelhecimento. Esta articulação é composta por uma
capsula articular e possui a função de diminuir atritos entre as estruturas
rígidas. A cápsula articular é constituída por camadas de células chama-
das de condrócitos, e por uma matriz que contém água, fibras de colá-
geno e proteoglicanos.
As cartilagens articulares sofrem processo degenerativo com o
envelhecimento, o que causa redução da resistência elástica e da capa-
cidade para resistir à deformação. No idoso, a cartilagem se torna mais
delgada com presença de rachaduras e fendas na superfície. Essas al-
terações ocorrem devido diminuição dos condrócitos, água e proteo-
glicanos; ao mesmo tempo em que as fibras colágenas aumentam em
números e espessura.
Além disso, há redução de água nos tendões e ligamentos, aumen-
tando a rigidez dessas estruturas articulares. Também há alteração na
deposição de colágeno diminuindo o processo de reparo dos tendões e
ligamentos. Estas modificações articulares aumentam com a idade e po-
tencializam as alterações funcionais.
18 - Capítulo 1 | Envelhecimento e Sociedade – v. 2

Sistema muscular
O envelhecimento altera músculos e tendões. O tecido muscular
é responsável pelo movimento do corpo humano. Constituído por uma
parte vermelha – ventre muscular, e partes brancas – os tendões de ori-
gem e inserção. A contração muscular ocorre no ventre muscular e é
gerada pelas fibras musculares presentes neste local. Os tendões apenas
transmitem a força gerada no ventre para o osso. No idoso, há perda de
massa muscular com diminuição do peso deste tecido, da área de secção
transversa e do número de células. Diversas fibras musculares sofrem
mudanças estruturais, sendo substituídas por tecido adiposo ou conjun-
tivo, ocasionando o aumento de tecido adiposo e do colágeno intersticial
no músculo. A resistência do tendão diminui devido aumento do com-
primento e diminuição da área de secção dos tendões.
A perda muscular em idosos é progressiva. Há diminuição da quan-
tidade e do tamanho de fibras musculares, além de modificações da iner-
vação, sendo observadas fibras desnervadas e atrofiadas. Por conta da
perda da massa muscular, a força muscular diminui. Apesar das modi-
ficações estruturais e funcionais, o metabolismo energético das células
se altera pouco. O grau de atividade física e estado nutricional são in-
versamente proporcionais à perda de células musculares, ou seja, quan-
to menor atividade física e piora nutricional, maior a perda de células.
Os músculos sofrem atrofia desigual no mesmo indivíduo. É im-
portante destacar que o declínio funcional é maior nos membros infe-
riores, contribuindo para variação de marcha, equilíbrio e ortostatismo.
As placas motoras possuem maior número de pregas e fendas sinápticas
mais amplas, diminuindo o contato entre o axônio terminal e a placa mo-
tora da célula. Além da diminuição de acetilcolina liberadas durante as
sinapses, todos os aspectos citados colaboram com o declínio muscular.

Sistema nervoso
As principais modificações no sistema nervoso ocorrem no cére-
bro, onde o peso e volume cerebral diminui com a idade. Ocorre atrofia
no córtex cerebral e redução da massa nervosa encefálica, que está rela-
cionada com a perda de neurônios, fisiológica no envelhecimento. Essa
19 - Capítulo 1 | Envelhecimento e Sociedade – v. 2

redução da massa encefálica, leva ao aumento dos ventrículos encefáli-


cos. Os neurônios têm a capacidade de conduzir o potencial de ação por
meio das sinapses (vide Livro 1 Capítulo 7). No envelhecimento, estas
células apresentam modificações, tais como, redução nos números de si-
napses, perda de dendritos e formato alterados. Estas alterações contri-
buem para morte neural e prejuízo funcional.
No giro do hipocampo em idosos, área associada com a memória
para fatos recentes, se encontram placas neuríticas (placas de proteínas
amiloides entre os neurônios) e os emaranhados neurofibrilares (massa
de neurofibrilas) no interior do citoplasma neural. O que representa es-
tes elementos não é conhecido. No envelhecimento, o número deles é
pequeno quando comparados aos idosos com Parkinson ou Alzheimer,
que apresentam um grande número de placas e emaranhados. Após 60
anos de idade, começa a ocorrer morte celular, antes desta idade não há
perda. Alteração funcional devido perda neural varia entre pessoas, e de-
pende da região e área do sistema nervoso que foi afetada.
Portanto, com o envelhecimento, o peso do cérebro diminui de
forma significativa assim como a quantidade de neurônios. Essa dimi-
nuição de neurônios, assim como modificações nas células neurogliais
e no tecido conectivo, pode ter importante papel na diminuição da me-
mória e das funções cognitivas. Acreditava-se que a perda neuronal e a
atrofia cerebral (perda da massa cerebral) eram alterações inevitáveis ao
longo do envelhecimento, mas atualmente admite-se que essas modifi-
cações possam ocorrer quando relacionadas a algumas doenças e altera-
ções morfológicas específicas do sistema nervoso central.

Sistema cardíaco
Ao contrário dos demais órgãos, no coração há aumento do tama-
nho e peso, com a extensão da espessura da parede do ventrículo esquer-
do. Acredita-se que no envelhecimento haja perda de células musculares,
que são substituídas por tecido fibroso, e na superfície ocorre o depósi-
to de tecido adiposo.
Nas valvas, as principais alterações ocorrem na válvula atrioven-
tricular (VA) esquerda e na válvula da aorta, com a existência de placas
arterioscleróticas e espessamento das cordas tendíneas. Dessa forma, as
20 - Capítulo 1 | Envelhecimento e Sociedade – v. 2

válvulas aórticas ficam mais espessas, pelo aumento da fibrose e depó-


sitos de placas.
A geração e condução de estímulos elétricos se dá pelo Nodo
Sinoatrial (SA), constituídos também pelo nodo atrioventricular, fas-
cículo atrioventricular (antigo Feixe de Hiss), ramo esquerdo e direito,
juntamente com os ramos subendocárdicos (antiga rede de Purkinje).
Em indivíduos jovens, este complexo é formado por células de teci-
do conjuntivo em quantidade moderada, pequenas células musculares,
fibras elásticas e de colágeno em proporções adequadas para permitir
o bom funcionamento deste sistema. Devido o processo de envelheci-
mento, ocorre diminuição das células musculares, aumento da disposi-
ção de fibras elásticas e de colágeno, e do depósito de células adiposas.
Essas alterações anatômicas no tecido cardíaco, nas valvas e no sistema
de produção e condução de estímulo são acompanhadas de alterações
bioquímicas como diminuição da atividade da ATPase, da capacidade
de oxidação e de mobilização do cálcio.

Além disso, a função ventricular tanto diastólica como sistólica


sofrem alterações. Há aumento da fase de relaxamento cardíaco pela re-
dução da mobilização do cálcio entre as proteínas contráteis e o retículo
sarcotubular. Também há redução da complacência da parede ventricu-
lar por causa da hipertrofia muscular e modificações das fibras elásticas
e de colágeno. As modificações na fase de relaxamento e na compla-
cência alteram principalmente a função diastólica do ventrículo esquer-
do, aumentando a chance de insuficiência cardíaca diastólica em idosos.
Alterações do ritmo cardíaco também são observadas nos idosos,
normalmente, a função cardíaca é suficiente para as necessidades orgâ-
nicas em condições basais, mas pode descompensar quando há sobre-
carga cardíaca por esforço excessivo, emoções ou infecções.
Os vasos sanguíneos também sofrem modificações com o envelhe-
cimento, como ocorre com a aorta que se dilata e seu diâmetro interno
21 - Capítulo 1 | Envelhecimento e Sociedade – v. 2

aumenta. As fibras elásticas diminuem com o envelhecimento e ocorre


depósito de cálcio em toda parede dos vasos sanguíneos. Em indivídu-
os jovens, a parede da aorta possui grande densidade de fibras elásticas
e menor disposição de fibras de colágenos. Já nos idosos, essa propor-
ção é invertida contribuindo para diminuição da perda de densidade do
vaso. Os processos arterioscleróticos também atingem as menores arté-
rias e arteríolas, que associado ao depósito de cálcio e perda do compo-
nente elástico, a luz do vaso diminui.

Sistema respiratório
O sistema respiratório do idoso sofre diminuição progressiva do seu
desempenho devido alterações estruturais e funcionais. As mudanças es-
truturais acontecem nos pulmões, caixa torácica e musculatura respirató-
ria. Traqueia e brônquios são estruturas condutoras de ar que tem parede
formada por cartilagens e com o envelhecimento, a cartilagem sofre um
processo de calcificação e estas estruturas tornam-se mais rígidas. Além
disso, ocorre a diminuição da ação dos cílios das células da mucosa dos
brônquios, limitando a proteção contra corpos estranhos e a eliminação ade-
quada de muco. Dessa forma, o mecanismo de defesa do sistema pulmonar
também é comprometido, há alterações no reflexo de tosse, na produção
de muco e da atividade de células de defesa (neutrófilos e macrófagos).
A mobilidade da caixa torácica é essencial para a mecânica respi-
ratória. Para isso, a junção das costelas e osso esterno se dá pelas carti-
lagens presentes nesta articulação. No idoso, com o passar do tempo, os
elementos ósseos e cartilaginosos se fundem. Com a mobilidade dimi-
nuída e alterações estruturais, há diminuição da complacência pulmo-
nar e concomitantemente o prejuízo da respiração no idoso. As fibras
musculares dos músculos que auxiliam a respiração diminuem, e devi-
do à alteração da caixa torácica e dos pulmões, o idoso tende a solicitar
mais o músculo diafragma durante a inspiração, para compensar os dé-
ficits da mecânica respiratória.

Complacência Pulmonar: é a propriedade de distensibilidade


dos pulmões e da caixa torácica, ou seja, a capacidade que
os pulmões têm de se expandir.
22 - Capítulo 1 | Envelhecimento e Sociedade – v. 2

No pulmão, as fibras de colágenos aumentam em relação às fibras


elásticas, tornando os alvéolos menos complacentes. Há redução dos nú-
meros de septos alveolares, com diminuição da superfície total dos alvé-
olos, gerando uma menor área de troca gasosa. Por causa das alterações
nas fibras elásticas e de colágeno, as paredes das vias aéreas se tornam
menos resistentes, facilitando o colabamento precoce das vias aéreas de
pequeno calibre. Os volumes e as capacidades pulmonares, no geral, so-
frem modificações com o envelhecimento.

Sistema urinário
Rins
A massa renal está diminuída no idoso, tendo predomínio no cór-
tex renal, devido perda de glomérulos, ocasionando a perda do número
total de células nos rins. As principais alterações são: perda de gloméru-
los e substituição por tecido fibroso, espessamento dos túbulos renais,
por depósito de tecido adiposo, e espessamento da parede das arterío-
las renais, por depósitos de placas arterioscleróticas; além da presença
de estreitamento das arteríolas eferentes impedindo a comunicação com
os glomérulos. Essas alterações nos idosos causam maior dificuldade de
adaptação aos distúrbios eletrolíticos, e de controle do equilíbrio acido-
básico. Também tornam necessários maiores cuidados na administração
de medicamentos que são eliminados pelos rins por causa do risco au-
mentado em desenvolver insuficiência renal aguda.
Bexiga Urinária e Uretra
A musculatura destes órgãos, tornam-se mais fraca, há redução da
força de contração e dilatação durante a micção. Sendo assim, o idoso
diminui a capacidade de reter urina quando comparado ao indivíduo jo-
vem. Devido a menor contração por conta da musculatura fraca, mes-
mo após a micção; a bexiga retém cerca de 100 ml de urina, o que pode
propiciar a infecções urinárias recorrentes.
23 - Capítulo 1 | Envelhecimento e Sociedade – v. 2

Sistema genital
Feminino
Na mulher idosa, ocorre diminuição da produção de hormônios
(estrógenos e progesterona) pelos ovários. Consequentemente há atro-
fia do útero, vagina e órgãos genitais externos. Ocorre aumento do te-
cido fibroso na vagina, tornando-a menos elástica, além da diminuição
do comprimento e largura. As alterações presentes tornam as mulheres
idosas mais propensas a desenvolver infecções. Há diminuição dos ní-
veis de estrógenos, e esta alteração leva a cessação da menstruação e
início da menopausa.
O útero inicia as alterações aos 50 anos de idade, diminuindo o
peso, elasticidade e há substituição do tecido muscular por tecido colá-
geno fibroso. O endométrio atrofia, os ligamentos que sustentam estes
órgãos internos sofrem modificações, favorecendo a queda destes ór-
gãos. As glândulas mamárias atrofiam e o tecido é substituído por teci-
do adiposo, tornando-os mais flácidos.
Masculino
A alteração nos órgãos genitais do homem é menos evidente quan-
do comparados ao da mulher. Os testículos não diminuem com a idade,
permanecem com o mesmo tamanho e peso (exceto alterações patológi-
cas). Há redução gradual na produção de testosterona, que contribuem
para perda da força muscular. As células da parede do túbulo contorci-
do (nutrição e produção de gametas) se tornam menores e menos ativos.
Os números de espermatozoides caem, mas a fertilidade permanece ati-
va ao longo da vida. A próstata inicia suas modificações a partir dos 50
anos, sofrendo atrofia, substituição das fibras musculares por tecido fi-
broso, o que limita a capacidade deste órgão contrair e expandir. Além
disso, aos 70 anos a próstata aumenta em peso e tamanho, podendo in-
terferir na eliminação da urina, por compressão da uretra. A ereção pode
ser comprometida por alteração do pênis, o tecido erétil torna-se menos
elástico e as arteríolas da parede dos corpos cavernosos apresentam-se
mais rígidas, diminuindo o suprimento sanguíneo.
24 - Capítulo 1 | Envelhecimento e Sociedade – v. 2

Sistema digestivo
O idoso apresenta dificuldade de deglutição por alteração no sis-
tema nervoso intrínseco da parede do esôfago. A perda do paladar está
relacionada com a perda das papilas gustativas. Presença de secura dos
lábios, dificuldade de mastigação e processamento do bolo alimentar,
pode ocorrer devido diminuição da produção de saliva. Além disso, os
dentes ficam mais frágeis, gerando possíveis perdas, o que também di-
ficultará a mastigação.
O processo de envelhecimento contribui para menor produção de
ácido clorídrico, o qual dificulta o processo de digestão tornando-o mais
lento. No intestino, há atrofia de todas as túnicas da parede do colo, per-
da dos tônus da parede muscular, e redução do fluxo sanguíneo mesen-
térico, levando a um peristaltismo lento e maior chance de constipação.
Aos 65 anos ocorre a diminuição discreta no peso total do fígado, mas
não há relatos evidentes na literatura sobre a redução significativa dos
números de células. Há perda na quantidade de mitocôndrias nos hepa-
tócitos, mas sem interferir na respiração das células. Estas modificações
talvez contribuam com a dificuldade do fígado do idoso metabolizar cer-
tas drogas e nutrientes. No pâncreas, há redução de seu tamanho e peso,
assim como redução da produção hidroeletrolítica e pancreática que pode
interferir na absorção intestinal de gordura.

Sistema endócrino
O hormônio do crescimento (GH), da prolactina (PRL) e do hor-
mônio antidiurético, sofrem alterações de síntese pela hipófise. O GH é
um importante hormônio anabolizante e sua função é estimular o cresci-
mento tecidual, mas se encontra em nível reduzido no organismo após a
terceira década de vida. Já com relação à PRL, sua produção noturna cos-
tuma estar reduzida nesse período do envelhecimento. O hormônio anti-
diurético é importante para a manutenção do equilíbrio hidroeletrolítico e
acredita-se que sua produção pelo hipotálamo esteja aumentada em ido-
sos favorecendo a hiponatremia (redução do nível de sódio sanguíneo).
A função endócrina pancreática é responsável pelo metabolismo
da glicose e, em idosos, essa função está alterada, causando demora da
25 - Capítulo 1 | Envelhecimento e Sociedade – v. 2

normalidade da glicemia após ingestão oral ou parental de glicose. Isso


pode estar relacionado ao aumento da resistência à insulina por conta da
obesidade ou acúmulo de gordura corporal, diminuição da massa mus-
cular esquelética. Há também redução da produção de tiroxina (T4) e
triiodotironina (T3), devido à glândula tiroide diminuir de volume e se
tornar fibrótica. Não há alteração no nível basal do hormônio estimulan-
te da tiroide (TSH) durante o envelhecimento.
A melatonina, hormônio produzido pela glândula pineal, apresenta
nível reduzido de produção com o envelhecimento. Acredita-se que a re-
dução desse hormônio tenha relação com o aumento de danos cerebrais,
já que tem função de proteger as estruturas do sistema nervoso central.

Sistema hematopoiético
Em idosos, a massa celular da medula óssea diminui e é substitu-
ída por tecido gorduroso, mas mantém nível adequado de produção das
hemácias, glóbulos brancos e plaquetas para as necessidades básicas do
organismo. No geral, o nível de hemoglobina diminui. Já o nível de fer-
ritina e a velocidade de hemossedimentação aumentam. O tempo de vida
do glóbulo vermelho, a retroalimentação do ferro e o volume sanguíneo
circulante costumam não se alterar com o envelhecimento.

Sistema imunológico
O sistema imunológico é um importante fator regulador da ho-
meostase do organismo. A alta incidência de doenças infecciosas, ne-
oplásicas e autoimunes, em pessoas idosas, pode estar relacionada a
alterações da imunidade celular e humoral. Essas alterações imunoló-
gicas, em sua maioria, podem ser em decorrência da perda gradual da
massa do timo e de sua capacidade em produzir hormônios, levando à
sua involução e atrofia.

Mecanismo de homeostase
A homeostase mantém o equilíbrio do meio interno do organismo
e é controlada pelos mecanismos de retroalimentação e neuroendócrino.
Esses mecanismos sofrem alterações com o passar dos anos, levando à di-
26 - Capítulo 1 | Envelhecimento e Sociedade – v. 2

minuição da capacidade de adaptação às demandas celulares e do meio ex-


terno (fatores ambientais), principalmente quando há sobrecarga funcional.
Dessa forma, com o envelhecimento há alterações moleculares, ce-
lulares, teciduais e orgânicas que levam ao declínio da capacidade fun-
cional e, consequentemente, ao declínio da capacidade de manutenção
da homeostase sendo esse o principal fator que diferencia a pessoa ido-
sa da pessoa jovem.

Conclusão
Entender as principais alterações anatômicas e fisiológicas exclu-
sivas do processo de envelhecimento é de fundamental importância para
os profissionais da área da saúde, possibilitando uma abordagem tera-
pêutica mais eficaz e que respeite todas as mudanças estruturais e fun-
cionais no idoso.
27 - Capítulo 1 | Envelhecimento e Sociedade – v. 2

Exercícios
1) O idoso pode apresentar modificações estruturais e fisiológicas pelo
tempo vivido, podendo estas alterações serem mais evidentes e precoces
devido à somação de fatores patológicos. Quando as modificações não
ocorrem apenas devido ao envelhecimento, chamamos este processo de:
a) Processo patológico;
b) Processo fisiológico;
c) Senescência;
d) Processo natural;
e) Senilidade.
Resposta ao final do capítulo.

2) Nos pulmões, há alterações nas fibras elásticas e de colágeno, tornan-


do as paredes das vias aéreas menos resistentes. Por conta disso, as vias
aéreas de pequeno calibre:
a) Dilatam mais facilmente;
b) Atrofiam com mais facilidade;
c) Aumentam volume expiratório;
d) Colabam mais facilmente reduzindo volume expiratório no primei-
ro segundo;
e) Não alteram.
Resposta ao final do capítulo.

3) As modificações corporais podem ser definidas pela idade cronológi-


ca ou biológica. Um indivíduo que aparente ser mais velho (aspecto fi-
sico), quando comparado a sua real idade, pode-se dizer que:
a) Possui uma idade biológica maior do que a cronológica;
b) Possui uma idade cronológica maior que a biológica;
c) Possui uma idade cronológica igual a biológica;
d) Possui apenas uma idade cronológica reduzida;
e) Possui uma idade biológica aumentada.
Resposta ao final do capítulo.
28 - Capítulo 1 | Envelhecimento e Sociedade – v. 2

4) Por que o processo de digestão se torna mais lento com o


envelhecimento?
a) Pela menor produção de ácido clorídrico estomacal;
b) Pela redução da motilidade intestinal;
c) Pela redução de cálcio;
d) Pela manutenção do equilíbrio acidobásico;
e) Pela alteração pancreática.
Resposta ao final do capítulo.

5) Qual o principal fator que diferencia uma pessoa idosa de um adul-


to jovem?
a) Mecanismo de defesa;
b) Mecanismo de homeostase;
c) Alteração cardíaca;
d) Modificação no sistema pulmonar;
e) Alteração renal.
Resposta ao final do capítulo.

Bibliografia
CARVALHO FILHO E.; NETTO M. Geriatria: fundamentos, clínica
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ZIMERMAN, G. I. Velhice: aspectos biopsicossociais. Artmed, 2000.


Gabarito
1. e | 2. d | 3. a | 4. a | 5. b
30 - Capítulo 2 | Envelhecimento e Sociedade – v. 2

Capítulo 2
DADOS DEMOGRÁFICOS DO
ENVELHECIMENTO NO BRASIL
E NO MUNDO

Beatriz Guimarães Ribeiro

Introdução
O processo de envelhecimento populacional tem ocorrido pela re-
dução do coeficiente (taxa) de mortalidade e fecundidade. Dessa forma,
a população tem se tornado mais idosa, devido ao aumento da expecta-
tiva de vida e diminuição da proporção de indivíduos mais jovens. Este
fenômeno tem levado a uma reorganização do Sistema de Saúde, pois
essa população exige maiores cuidados principalmente pelo aumento da
prevalência de doenças crônicas.

Objetivos
Ao final deste capítulo, o leitor será capaz de:
• Entender o processo de envelhecimento no Brasil e no Mundo;
• Compreender como as taxas de fecundidade, natalidade, mor-
talidade e expectativa de vida tem alterado a estrutura etária
populacional;
• Diferenciar transição demográfica e epidemiológica.

Dados demográficos sobre o envelhecimento


A redução das taxas de mortalidade provoca aumento da expec-
tativa de vida da população, mas não necessariamente causa o envelhe-
cimento populacional. Esse envelhecimento só ocorre quando as taxas
de fecundidade e natalidade diminuem, favorecendo a redução da popu-
31 - Capítulo 2 | Envelhecimento e Sociedade – v. 2

lação mais jovem com relação à população idosa. Portanto, o aumento


contínuo da quantidade de idosos na sociedade, se deve ao fato das que-
das constantes das taxas de fecundidade e mortalidade.

Taxa de fecundidade: estimativa do número médio de filhos que


uma mulher teria até o final de seu período fértil. Quando essa
taxa se encontra abaixo de 2,1 indica um nível de fecundidade
insuficiente para repor a população.

Taxa de mortalidade: número de óbitos, a cada 1000 habitantes,


em um determinado período de tempo.

O processo gradual de altas taxas de mortalidade e fecundida-


de para baixas taxas desses indicadores de saúde, em uma sociedade,
chama-se transição demográfica. A transição demográfica começou na
Europa, durante a Revolução Industrial, com diminuição da taxa de fe-
cundidade e natalidade e aumento na expectativa de vida.

Figura 1 – Fecundidade e Natalidade. | Fonte: 123rf – Levente Janos.

As taxas de mortalidade começaram a diminuir a partir da Revolução


Industrial por elevação da qualidade de vida da população, por conta da
32 - Capítulo 2 | Envelhecimento e Sociedade – v. 2

urbanização, melhores condições sanitárias e nutricionais, aumento dos


níveis de higiene pessoal e melhoria das condições ambientais (moradia
e trabalho), além do uso de antibióticos e de vacinas. Já a diminuição
da taxa fecundidade, ocorreu inicialmente em países desenvolvidos
pelo processo de urbanização e industrialização, facilidade de acesso a
saúde e aos programas de planejamento familiar, melhora do nível de
escolaridade, incorporação da mulher no mercado de trabalho.
Nos países em desenvolvimento, as taxas de fecundidade e mor-
talidade se mantiveram altas até a metade do século XX. Mas entre os
anos de 1940 e 1950 as taxas de mortalidade começaram a reduzir de-
vido à melhora das condições socioeconômicas, consequência da in-
dustrialização, urbanização e dos avanços da medicina. Porém, a taxa
de fecundidade e natalidade permaneceu alta, causando um crescimen-
to exagerado da população jovem e aumento do risco de uma explosão
demográfica. Somente entre os anos de 1960 e 1970 a taxa de fecundi-
dade começou a cair. Dessa forma, observa-se o fenômeno de transição
demográfica nos países em desenvolvimento, como Brasil, semelhante
ao ocorrido na Europa, mas com alguns aspectos diferentes.

Taxa da natalidade: número de nascidos vivos, a cada 1000 habitantes,


em um determinado período de tempo.

Expectativa de vida: estimativa média da vida de uma população a


partir dos coeficientes de mortalidade.

O primeiro diferencial é o momento histórico no qual as transições


europeia e brasileira ocorreram. No modelo Europeu, o desenvolvimen-
to social e aumento de renda foi bem evidente. No Brasil, ocorreu um
processo de urbanização sem alteração da distribuição de renda. Além
disso, houve a diminuição da taxa de mortalidade com manutenção da
taxa de fecundidade em níveis altos, o que gerou uma população jovem
quase estável e com rápido crescimento. A partir dos anos 1960, a re-
dução da fecundidade passou a ser rápida e desencadeou um processo
de transição demográfica, não tão bem controlado e planejado como na
transição europeia, contudo, com a queda constante da taxa de fecundi-
dade, poderemos ter uma população brasileira cada vez mais idosa e com
33 - Capítulo 2 | Envelhecimento e Sociedade – v. 2

uma taxa de crescimento baixíssima ou talvez até negativa, insuficien-


te para repor a população do país. Em 2050, acredita-se que as crianças
entre cinco e nove anos deverão corresponder a 19% da população bra-
sileira, e os indivíduos acima de 80 anos corresponderão a aproximada-
mente 28% da população do país. Atualmente no estado de São Paulo,
a taxa de fecundidade já atinge níveis de reposição com 2,2 filhos por
mulher em idade fértil.
Assim, nas últimas três décadas, observam-se alterações eviden-
tes na estrutura etária nacional; pela expressiva queda da taxa de fecun-
didade associada à diminuição da taxa de mortalidade. Gradativamente,
a pirâmide etária brasileira vai assumindo a morfologia encontrada em
países desenvolvidos, com um estreitamento progressivo da sua base e
constante aumento de seu topo.
O segundo diferencial entre a transição demográfica europeia e
brasileira é a expectativa de vida, que dos brasileiros aumentou em qua-
se 25 anos nos últimos 50 anos, sem melhora evidente nas condições de
vida e de saúde da população. Esse rápido aumento da expectativa mé-
dia de vida dos brasileiros tem favorecido o envelhecimento da popu-
lação, sendo que há uma projeção que a população idosa feminina será
maior que a masculina em 2050. No ano de 2000, havia 81 homens ido-
sos para cada 100 mulheres idosas. Em 2050 haverá uma média de 76
idosos para cada 100 idosas. Portanto, a queda na taxa de fecundidade
simultaneamente ao aumento da expectativa de vida foi além do que se
poderia esperar. Assim, o ciclo de envelhecimento, que na Europa teve
a duração de quase dois séculos, no Brasil encerrará em meados do pró-
ximo século, ou seja, na metade do tempo da transição demográfica eu-
ropeia. O resultado desse fenômeno poderá ser observado na íntegra em
2025, quando o Brasil terá cerca de 32 milhões de pessoas com mais de
60 anos. Seremos, então, a sexta maior população de idosos no mundo.
A transição demográfica leva a uma transição epidemiológica, que
é a mudança do perfil de doenças da população. A transição epidemioló-
gica é caracterizada pela queda da taxa de incidência (número de novos
casos) de doenças infectocontagiosas e aumento da taxa de morbidade
e mortalidade por doenças crônico-degenerativas. Em um país jovem,
as doenças infectocontagiosas são mais incidentes, já em um país mais
34 - Capítulo 2 | Envelhecimento e Sociedade – v. 2

idoso, o perfil de doenças agudas muda para um perfil de doenças crôni-


cas. O aumento no número de doenças crônicas, leva os idosos a ingeri-
rem maior número de medicamentos, a realizarem exames de controles
com mais frequência e até ao aumento no número de internações, mas
essas condições não limitam a qualidade de vida desses indivíduos, já
que ao controlarem suas doenças, muitos idosos levam uma vida inde-
pendente e produtiva.

Transição demográfica: Mudança das taxas de fecundidade de


mortalidade em uma sociedade.

Transição epidemiológica: Mudança do perfil das


doenças em uma sociedade.

Este fenômeno tem levado a uma reorganização do Sistema de


Saúde, pois essa população exige maiores cuidados, principalmente pelo
aumento da prevalência de doenças crônicas. É importante que o país,
os órgãos públicos e a população tenha consciência dessa mudança de
perfil demográfico, para que a atenção primária à saúde seja o principal
fator a contribuir para a qualidade de vida da população.

Figura 2 – Atenção primária em Epidemiologia. | Fonte: 123rf - Irinar Qiwi.


35 - Capítulo 2 | Envelhecimento e Sociedade – v. 2

Conclusão
Atualmente, não só no Brasil, mas no mundo, os dados demográ-
ficos comprovam um aumento contínuo da quantidade de idosos na so-
ciedade. Este fato se deve à constante queda das taxas de fecundidade e
mortalidade, além de uma mudança no perfil epidemiológico, com au-
mento das doenças crônico-degenerativas sendo, portanto, primordial
que o país, órgãos público e a população, tenham consciência dessa mu-
dança de perfil demográfico; para que a atenção primária a saúde seja o
principal fator a contribuir para a qualidade de vida da população.
36 - Capítulo 2 | Envelhecimento e Sociedade – v. 2

Exercícios
1) Um indivíduo vive num país em desenvolvimento (como o Brasil) onde
as taxas de fecundidade e mortalidade estão em constante queda. Além
disso, também é evidente a redução da incidência das doenças agudas e
aumento da prevalência de doenças crônicas. O caso descrito refere-se
a transições que estão ocorrendo nesse país, são elas, respectivamente:
a) Transição de natalidade e transição de mortalidade;
b) Transição de mortalidade e transição de natalidade;
c) Transição epidemiológica e transição demográfica;
d) Transição demográfica e transição epidemiológica;
e) Transição da expectativa de vida e transição das doenças.
Resposta correta ao final do capítulo.

2) O que causa o aumento da expectativa media de vida da população?


a) Redução da taxa de fecundidade;
b) Redução da taxa de natalidade;
c) Redução da taxa de mortalidade;
d) Redução da taxa de envelhecimento;
e) Nenhuma das anteriores.
Resposta correta ao final do capítulo.

3) O envelhecimento da população ocorre quando:


a) Aumento das taxas de fecundidade e de mortalidade, com redução da
expectativa de vida;
b) Redução da taxa de fecundidade e aumento da taxa de mortalidade;
c) Aumento da taxa de natalidade e fecundidade, e aumento da expec-
tativa de vida;
d) Redução das taxas de fecundidade e mortalidade, com aumento da
expectativa de vida;
e) Somente redução das taxas de mortalidade com aumento da expec-
tativa de vida.
Resposta correta ao final do capítulo.
37 - Capítulo 3 | Envelhecimento e Sociedade – v. 2

4) O que é transição demográfica no processo de envelhecimento?


a) Mudança no perfil das doenças em uma sociedade;
b) Mudança das taxas de fecundidade e mortalidade, com aumento des-
sas taxas;
c) Mudança das taxas de fecundidade e mortalidade, com redução des-
sas taxas;
d) Aumento da taxa de natalidade;
e) Diminuição da expectativa de vida.
Resposta correta ao final do capítulo.

5) O que é transição epidemiológica no processo do envelhecimento?


a) Mudança no padrão etário numa sociedade;
b) Mudança no perfil das doenças, de agudas para crônicas;
c) Aumento da incidência de doenças infectocontagiosas;
d) Redução das doenças crônicas;
e) Todas as anteriores.
Resposta correta ao final do capítulo.

Bibliografia
CARVALHO FILHO, E. Netto M. Geriatria: fundamentos, clínica e te-
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38 - Capítulo 3 | Envelhecimento e Sociedade – v. 2

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PAPALÉO NETTO, M. Tratado de gerontologia. 2. ed., rev. e ampl. São


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ZIMERMAN, G. I. Velhice: aspectos biopsicossociais. Artmed, 2000.


Gabarito
1. c | 2. c | 3. d | 4. a | 5. b
39 - Capítulo 3 | Envelhecimento e Sociedade – v. 2

Capítulo 3
POLÍTICAS PÚBLICAS E LEGISLAÇÃO
RELACIONADA AO ENVELHECIMENTO

Beatriz Guimarães Ribeiro

Introdução
O aumento da expectativa de vida associado à redução da taxa de
fecundidade é um dos principais motivos para a mudança demográfi-
ca, social e epidemiológica na sociedade brasileira, alterando o perfil e
a necessidade da população idosa. Dessa forma, aumentou a busca por
processos educativos, atitudes e hábitos saudáveis que possibilitem en-
velhecer ativamente, com saúde e dignidade. Assim, houve a elabora-
ção da Política Nacional do Idoso (Lei 8.942-94) e do Estatuto do Idoso
(Lei 10.741) na qualidade das políticas públicas que visam o bem-estar
físico, mental e social do idoso, garantindo questões como distribuição
de renda, acesso aos bens de consumo e capital, acesso aos serviços de
saúde e educação.

Objetivos
Ao final deste capítulo, o leitor será capaz de:
• Entender a importância de leis como a Política Nacional do
Idoso e Estatuto do Idoso para a população da terceira idade;
• Compreender as modalidades de atenção existentes como par-
te da implantação das políticas públicas.

Políticas públicas nacionais


O entendimento do processo de construção e implantação da polí-
tica do idoso no Brasil é de extrema importância. Dessa forma, é impor-
tante conhecer as ações que ocorreram no âmbito estatal da sociedade e
dos movimentos sociais, para reivindicação e garantia dos direitos aos
40 - Capítulo 3 | Envelhecimento e Sociedade – v. 2

idosos por meio, principalmente, da Política Nacional do Idoso e do


Estatuto do Idoso.

Política Nacional do Idoso: Lei criada em 1994 para


assegurar os direitos de cidadania dos idosos.

Estatuto do Idoso: Lei criada em 2003 para regulamentar os


direitos dos idosos e estabelecer medidas que visam proporcionar o
bem-estar dessa população.

No ano de 1963, o Serviço Social do Comércio (SESC), ampliou


suas atividades de bem-estar aos idosos, sendo que, até então; se res-
tringia aos comerciários e suas famílias. Em 1973, houve a regulamen-
tação da aposentadoria pela Portaria nº 3.286. Já em 1976, através do
Ministério da Previdência e Assistência Social, foram realizados três
seminários regionais para identificação das condições de vida do idoso
brasileiro e do apoio assistencial para atender suas necessidades. Com as
conclusões desses seminários, foi realizado, ao final desse mesmo ano,
um seminário nacional sobre “Política Social da Velhice”, que originou
o documento “Política Social para o Idoso: Diretrizes Básicas”, editado
pelo Ministério da Previdência e Assistência Social. Nesse documento
foram propostos, resumidamente:
• Ações para manutenção do idoso na família;
• Criação de serviços médicos especializados aos idosos;
• Formação de recursos humanos;
• Coleta de dados sobre a situação do idoso na sociedade;
• Revisão dos critérios para os abrigos de idosos;
• Revisão do sistema previdenciário e preparação para a
aposentadoria.
O Brasil foi um dos pioneiros na América Latina na implantação
de uma política de garantia de renda, para a população trabalhadora, que
culminou com a universalização da seguridade social, pela Constituição
Federal, em 1988. Na década de 1980, também foi criada a Associação
Nacional de Gerontologia, uma instituição técnica e científica de âmbi-
to nacional. Foi surgindo, assim, o que pode ser definido como políticas
41 - Capítulo 3 | Envelhecimento e Sociedade – v. 2

públicas, ou seja, o conjunto de ações coletivas voltadas para a garan-


tia dos direitos sociais.
A Constituição de 1988, elaborada no processo de transição demo-
crática que rompeu com a ditadura militar, preconizou os direitos ao ido-
so, conforme capítulo da Seguridade Social em seus artigos 203 e 204,
garantindo um sistema de proteção social a este público, incorporando
orientações da Assembleia Mundial de Viena. Essa Assembleia Mundial,
que ocorreu em 1982, permitiu que, os países desenvolvidos e em de-
senvolvimento, firmassem um acordo para executar e implantar políti-
cas de atenção ao idoso. O caráter social e assistencial da Constituição
Federal de 1988, abriu caminho para a efetivação de avanços na assis-
tência social no Brasil, como a legislação aprovada nos anos seguintes,
conforme apresentado na tabela 1.
Tabela 1 – Sequência da legislação brasileira voltada ao idoso após a
Constituição Federal de 1988, entre os anos de 1989 e 2006

1989 Ministério da Saúde publica a Portaria Federal de nº 810/89,


que determina as normas de funcionamento das instituições ou
estabelecimentos de atendimento ao idoso.
1993 Lei Orgânica de Assistência Social (Lei nº 8.742/ 93),
responsável pela garantia de proteção social incluindo
benefícios, serviços, programas e projetos de atenção ao idoso
com a corresponsabilidade das três esferas do governo.
1994 Sancionada a Política Nacional do Idoso (Lei nº 8.842/ 94), que
assegurou os direitos sociais promovendo autonomia, integração
e participação efetiva do idoso na sociedade.
2003 Sancionado o Estatuto do Idoso, que passou a vigorar em 1 de
janeiro de 2004.
2004 Reformulação da Política Nacional de Assistência
Social (PNAS), pela Resolução nº 145 do Ministério do
Desenvolvimento Social, visando à proteção à população de
baixa renda e/ou estado de abuso ou violação dos direitos.
2005 Criação do Sistema Único de Assistência Social (SUAS),
responsável pelo pacto federativo de operacionalização
da política, através da Resolução nº 130 do Ministério do
Desenvolvimento Social.
42 - Capítulo 3 | Envelhecimento e Sociedade – v. 2

2006 Política Nacional de Saúde da Pessoa Idosa e instituição


do Pacto pela Saúde, pela Portaria do Ministério da Saúde
nº 399/06, que se constitui em um conjunto de reformas
institucionais do Sistema Único de Saúde (SUS), compartilhado
pela União, Estados e Municípios.
Fonte: Autores.

Fica evidente o crescimento da importância dada à saúde do idoso


nas políticas públicas, onde se destacam ações como: a promoção do
envelhecimento ativo e saudável e atenção integral à saúde do idoso.
A implantação dessas políticas públicas de saúde, e a instituição de
políticas de caráter etário, como a garantia de renda, contribuem para
uma percepção mais positiva da qualidade de vida nesse processo de
envelhecimento.

Política nacional do idoso


A Política Nacional do Idoso (Lei 8.842, 1994) foi a primeira lei
brasileira específica para assegurar os direitos da pessoa idosa. Essa po-
lítica consiste em um conjunto de ações governamentais que, têm por
objetivo, assegurar os direitos de cidadania dos idosos. Essa Lei apre-
senta em sua composição seis capítulos e 22 artigos. Nos seus artigos
destacam-se os direitos à cidadania, respeito à diversidade etária, não
discriminação, informações sobre o envelhecimento, participação, capa-
citação, atualização, cultura, esporte, lazer, saúde, educação, previdên-
cia, trabalho, habitação e assistência social. Com a Política Nacional do
Idoso, foram implementadas várias modalidades de atendimento à po-
pulação idosa, visando integrar o idoso com a sociedade, principalmen-
te nos grandes centros urbanos, onde é mais difícil estabelecer relações
sociais com inúmeras queixas de solidão e abandono feitas pelos idosos.

Estatuto do idoso
O Estatuto do Idoso foi sancionado pela Lei Federal nº 10.741
em 1º de outubro de 2003, após seis anos de tramitação no Congresso
Nacional, regulamentando os direitos dos indivíduos brasileiros com
idade igual ou superior a 60 anos e estabelecendo medidas que visam
43 - Capítulo 3 | Envelhecimento e Sociedade – v. 2

proporcionar o bem-estar físico, mental e social dos idosos. Entre suas


disposições, destacam-se os direitos fundamentais, as medidas de pro-
teção e a política de atendimento ao idoso, além de definir as condutas
que constituem crimes contra os idosos. O Estatuto assegura também
direitos prioritários dos idosos como o atendimento preferencial, des-
tinação privilegiada de recursos públicos nas áreas relacionadas com a
proteção ao idoso, priorização do atendimento do idoso por sua própria
família (exceto quando essa família não possua condições de manuten-
ção da própria sobrevivência), a capacitação e reciclagem dos recursos
humanos, nas áreas de geriatria, gerontologia e na prestação de serviços
aos idosos, estabelecimento de mecanismos que favoreçam a divulga-
ção de informações de caráter educativo sobre os aspectos biopsicos-
sociais de envelhecimento, e a garantia de acesso à rede de serviços de
saúde e de assistência social. No que se refere à saúde da pessoa ido-
sa, o Estatuto garante atenção integral por meio do Sistema Único de
Saúde (SUS), com acesso universal e igualitário para tratamentos pre-
ventivos ou corretivos. O atendimento deve ser feito por especialistas
da área geriátrica, podendo ser prestado, inclusive, em seu domicilio. É
dever do Estado, fornecer gratuitamente à pessoa idosa carente, medi-
camentos, entre eles, os de uso contínuo, bem como próteses, reabilita-
ção ou habilitação.
O Estatuto também garante o direito do idoso à educação, cultura,
esporte, lazer e diversão, estimulando dessa forma a inserção social e a
ativa participação na comunidade. Os artigos 26º e 28º resguardam ao
idoso o direito de ser admitido em qualquer emprego, ressalvando que
em caso de concurso público, é proibida a discriminação por idade, sal-
vo em casos de natureza específica do cargo a ser ocupado. O Estatuto
determina ainda critérios para o adequado funcionamento de entidades
de longa permanência ou casas-lares, de entidades filantrópicas, institui-
ções de atendimento ao idoso, e as entidades governamentais e não go-
vernamentais de assistência ao idoso. Esse registro deve discriminar os
regimes de atendimento, as instalações físicas onde funciona a institui-
ção, as normas de higiene, salubridade e segurança, além da obrigação
em preservar os vínculos familiares, a identidade do idoso e propiciem
um ambiente seguro, digno, com atendimento personalizado e em pe-
quenos grupos, visando uma permanência sem traumas na instituição.
44 - Capítulo 3 | Envelhecimento e Sociedade – v. 2

O Estatuto do Idoso é uma conquista da sociedade brasileira como


política pública de inserção social e, vem cumprindo com eficácia seu
papel em prol da população idosa, ao estabelecer direitos e deveres e de-
finir punições aos que os violarem.

Modalidades de atenção ao idoso

Acessibilidade para os idosos


A idade biológica e a idade funcional são dois conceitos usados
para diferenciar uma velhice normal de uma patológica, lembrando que
envelhecimento não é doença. Uma velhice saudável depende de intera-
ção adequada com o meio ambiente. Essa interação pode sofrer altera-
ções por variáveis como saúde, condição socioeconômica, idade, raça,
situação conjugal, emprego, disponibilidade de transporte e residência,
atividades e integração social. Isso porque a qualidade de vida tem rela-
ção direta com bem-estar pessoal, satisfação com a situação financeira,
com as condições de habitação e de saúde.

Idade Biológica: refere-se à vulnerabilidade do corpo e os sinais


apresentados devido aos processos de mudanças celulares,
é um indicador de tempo.

Idade Funcional: tem relação com o envelhecimento biológico,


porém, visa indicar a capacidade funcional e competência
comportamental do indivíduo.

Figura 1 – Idade Biológica e funcional. | Fonte: 123rf – Domenico Condello.

Um ambiente com acessibilidade, atende uma variedade de


necessidades dos usuários, permitindo autonomia e independência. Para
45 - Capítulo 3 | Envelhecimento e Sociedade – v. 2

isso, é necessário considerar as diferenças existentes entre as pessoas,


iniciando pelo gênero (homens e mulheres), variações de peso e altura,
pessoas que caminham sozinhas ou necessitam de auxílio (muletas,
bengalas, cadeira de rodas), pessoas com pouca ou nenhuma visão,
indivíduos surdos ou que apresentem dificuldade de compreensão. Dessa
forma, para uma sociedade se tornar inclusiva e atingir acessibilidade
plena, é necessário que qualquer objeto ou espaço desenvolvido, contenha
o conceito de desenho universal para abranger o máximo de pessoas
possível.

Desenho Universal: visa a acessibilidade, ou seja, estruturas do meio


físico, objetos e equipamentos que possam ser utilizados por todos, com
o objetivo de simplificar a vida das pessoas. Sendo assim, qualquer
pessoa que tenha alguma necessidade especial, mesmo que temporária,
poderá se integrar totalmente ao ambiente.

A travessia das ruas pode ser facilitada com o rebaixamento das


guias, com implantação de rampas ou colocação de faixas elevadas que
unam uma calçada a outra, sem desnível. Todas as opções devem ser si-
nalizadas com piso tátil. Os ônibus, além dos assentos reservados, de-
veriam permitir o embarque em nível, facilitando o uso pelos idosos. As
travessias de pedestres devem ser bem iluminadas e pisos que refletem
luz solar deve ser evitado, já que os idosos costumam apresentar com-
prometimento visual; mas é importante que tenham superfície firme,
regular, estável e antiderrapante, já que os desníveis e buracos aumen-
tam o risco de quedas e entorses. A instalação de corrimão nas escadas,
rampas, corredores e elevadores são necessários, já que essa população
pode apresentar distúrbios de equilíbrio.
46 - Capítulo 3 | Envelhecimento e Sociedade – v. 2

Figura 2 – Acessibilidade. Fonte: 123rf – Cathy Yeulet.

Nas moradias, é indicada a instalação de corrimão em paredes,


corredores e degraus, associada à boa iluminação. A altura das janelas
deve ser acessível, e de fácil abertura e fechamento. As maçanetas das
portas devem ser do tipo alavanca por serem de fácil manuseio. No ba-
nheiro, onde as quedas são frequentes, devem-se ter barras de apoio no
vaso sanitário, lavatório e área do chuveiro. Também é indicada a re-
moção de tapetes e móveis que atrapalhem a circulação, para reduzir o
risco de quedas nessa população.

Casas de repouso e asilo


As casas de repouso e asilo são alternativas de cuidados para as
pessoas idosas mais frágeis e muito dependentes na execução de suas
AVD’s que, por variadas razões médicas e sociais não podem ser man-
tidas nas suas moradias. No entanto, em muitos casos, essas alternativas
podem levar os idosos ao isolamento e a inatividade física, pelo manejo
técnico inadequado e altos custos dos serviços de apoio. Por isso cons-
tituem a última alternativa a ser considerada entre os serviços sociais
oferecidos como atenção à saúde do idoso. No geral, essas instituições
acomodam idosos incapacitados com diferentes enfermidades, e também
os que vivem sozinhos, por seus familiares não conseguirem garantir os
cuidados necessários no interior de suas famílias.
47 - Capítulo 3 | Envelhecimento e Sociedade – v. 2

Centros-dia para idosos


Centro-Dia é a modalidade não asilar que estimula a socialização
do idoso, evitando seu isolamento e proporcionando sua permanência
na família. O Centro Dia atende durante o dia (em um período de 8 a 10
horas) os idosos que são parcialmente dependentes, possuem limitações
para o desenvolvimento das atividades da vida diária (AVD’s) e mas não
tem quem cuide deles no domicílio, durante o dia, já que os familiares
trabalham. Durante o período de permanência no Centro Dia, os idosos
devem ser atendidos por uma equipe multidisciplinar que realiza as mais
diversas atividades, tais como: avaliação de saúde, caminhadas, artesa-
nato, trabalhos terapêuticos e culturais, jogos, sessão de vídeo e televi-
são, Fisioterapia e devem receber, no mínimo, três refeições.

Centros de Convivência para Idosos


Os Centros de Convivência para Idosos, foram regulamentados
pelo Decreto de nº 1.948 em 1996 e são espaços que têm o objetivo de
integração social, oferecendo atividades físicas, laborativas, recreativas,
culturais, associativas e de educação para a cidadania. Esses Centros são
locais para o desenvolvimento, do que se convencionou chamar, enve-
lhecimento ativo, haja vista que, ao frequentá-lo, o idoso tem a possi-
bilidade de encontrar estímulo para uma vida social sadia, desenvolver
sua cultura e ter momentos de lazer, melhorando assim sua autoestima
e disposição física. Nestes locais devem também aprender noções de ci-
dadania, de participação e de como colaborar para o bem comum, apren-
dendo que, para exercê-las, não há limite de idade.

Assistência Domiciliar para Idosos


A Assistência Domiciliar compreende um conjunto de serviços
realizados no domicílio e destinados ao suporte terapêutico do paciente
idoso, que “vão desde cuidados pessoais (higiene íntima, alimentação,
banho, locomoção e vestuário), cuidados com a medicação e realiza-
ção de curativos de ferimentos, cuidados com escaras e ostomias, até o
uso de alta tecnologia hospitalar como; nutrição enteral/parenteral, di-
álise, transfusão de hemoderivados, quimioterapia e antibioticoterapia”
48 - Capítulo 3 | Envelhecimento e Sociedade – v. 2

(Floriani; Schramm, 2004, p. 987). Todos esses serviços são feitos por
equipe multidisciplinar incluindo serviço médico e de enfermagem 24
horas por dia, fisioterapêutico, assistência social, além de uma rede de
apoio para diagnóstico e para outras medidas terapêuticas. Também es-
tão incluídos neste conceito, o chamado suporte comunitário (voluntá-
rios, serviços de associações comunitárias, transporte) e realização de
tarefas externas, como ida a um banco ou a uma farmácia.
Segundo Floriani; Schramm, (2004, p. 987)
Os objetivos da Assistência Domiciliar são diminuir a ocu-
pação dos leitos hospitalares e a grande demanda do atendi-
mento ambulatorial, visando à redução de custos, reintegrar
o paciente em seu núcleo familiar, proporcionar assistência
humanizada e integral pela aproximação da equipe de saúde
com a família, estimular uma maior participação do paciente
e de sua família no tratamento proposto, promover educação
em saúde e ser um campo de ensino e pesquisa. Esse modelo
propõe à reinserção do idoso na comunidade, preservando
ao máximo sua autonomia e buscando a recuperação de
sua independência funcional, procurando mantê-lo “ativo,
participativo, produtivo e afetivo” (Sayeg, M. A. 1998 apud
Floriani; Schramm, 2004, p. 987)..

Conclusão
Ao longo dos anos, a característica demográfica da população
Brasileira vem passando por algumas modificações relacionadas ao au-
mento da expectativa de vida e a redução da taxa de fecundidade; o que
levou ao aumento da população idosa no País. Desta maneira, mudan-
ças públicas tronam-se importantes para atender as necessidades des-
te grupo populacional, por isso a importância da elaboração da Política
Nacional do Idoso (Lei 8.942-94) e do Estatuto do Idoso (Lei 10.741),
que visam o bem-estar físico, mental e social do mesmo, com o objeti-
vo de garantir melhor distribuição de renda, acesso aos bens de consu-
mo e capital e acesso aos serviços de saúde e educação.
49 - Capítulo 3 | Envelhecimento e Sociedade – v. 2

Exercícios
1) José, 71 anos, possui limitações para o desenvolvimento de suas ati-
vidades da vida diária. Convive com sua família, mas não tem quem cui-
de dele em casa ao longo do dia, pois, todos da família trabalham. Qual
modalidade de atenção à saúde seria mais indicada para esse idoso?
a) Asilo;
b) Assistência domiciliar;
c) Centro de Convivência para idosos;
d) Centro de repouso;
e) Centro dia para idosos.
Resposta correta ao final do capítulo.

2) A Lei 8.842, que regulamentou a Política Nacional do Idoso, visa:


a) Assegurar somente a aposentadoria;
b) Assegurar os direitos de cidadania dos idosos;
c) Assegurar que não sofram maus-tratos;
d) Garantir a renda dos idosos;
e) Garantir que os idosos não tenham cuidados diferenciados do restan-
te da população.
Resposta correta ao final do capítulo.

3) O Estatuto do Idoso foi criado com o intuito de:


a) Regulamentar que os idosos não precisam de assistência;
b) Assegurar que os idosos sejam institucionalizados;
c) Regulamentar os direitos dos idosos e estabelecer medidas que visam
proporcionar o bem-estar físico, mental e social dos mesmos;
d) Garantir que os idosos tenham bem-estar social;
e) As anteriores.
Resposta correta ao final do capítulo.
50 - Capítulo 3 | Envelhecimento e Sociedade – v. 2

4) A acessibilidade dos idosos visa sua autonomia e independência.


Nesse sentido, o que pode ser modificado nas moradias dos idosos para
sua melhor acessibilidade?
a) Reduzir a iluminação, manter os tapetes e colocar apoios nas paredes;
b) Retirar os tapetes, boa iluminação e pisos desnivelados;
c) Colocação de apoios no banheiro, boa iluminação, instalação de cor-
rimão nas paredes e escadas;
d) Manter as janelas de difícil abertura e maçanetas arredondadas;
e) Maçanetas arredondadas, piso antiderrapante e janelas altas para que
não haja risco de queda.
Resposta correta ao final do capítulo.

5) A Assistência Domiciliar tem como objetivos diminuir a ocupação


dos leitos hospitalares e a grande demanda do atendimento ambulato-
rial visando à redução de custos, reintegrar o paciente em seu núcleo fa-
miliar, proporcionar assistência humanizada e integral, estimular uma
maior participação do paciente e de sua família no tratamento proposto,
entre outros. Dessa forma, essa modalidade tem como proposta:
a) O isolamento do idoso em casa;
b) A reinserção do idoso na comunidade, preservando sua autonomia;
c) Afastar o idoso da família e da comunidade;
d) Tornar o idoso mais dependente;
e) As alternativas “a” e “d” estão corretas.
Resposta correta ao final do capítulo.

Bibliografia
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51 - Capítulo 3 | Envelhecimento e Sociedade – v. 2

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Gabarito
1. e | 2. b | 3. c | 4. c | 5. b
52 - Capítulo 4 | Envelhecimento e Sociedade – v. 2

Capítulo 4
COMPROMETIMENTO SISTÊMICO
DO ENVELHECIMENTO

Nadhia Helena Costa Souza


Natalie Souza de Andrade

Introdução
O processo natural do envelhecimento envolve inúmeras transfor-
mações biológicas inerentes aos organismos e que ocorrem de maneira
gradativa, podendo variar para cada indivíduo. O conhecimento dos as-
pectos no processo de alterações orgânicas, morfológicas e funcionais,
que ocorrem com o envelhecimento (senescência), bem como das mo-
dificações determinadas pelas afecções que frequentemente acometem
a pessoa idosa (senilidade); é fundamental para a prestação de uma as-
sistência de qualidade. Nesse sentido, as alterações que podem ocorrer
no organismo, em decorrência desse processo, juntamente com outras
que são patológicas, interferem nas atividades de vida diárias da pessoa
idosa. Com isso, se faz necessário conhecer as alterações comumente
desenvolvidas pelo idoso como incontinência urinária e fecal, a demên-
cia e o delirium, aspectos relacionados com sua fragilidade, comprome-
timento do equilíbrio, marcha e queda, assim como as doenças crônico
degenerativas, como as cardiovasculares, pulmonares, reumatológicas
e ortopédicas.

Objetivos
Ao final deste capítulo, o leitor será capaz de:
o Conhecer os comprometimentos do envelhecimento relacio-
nados às doenças crônicas degenerativas, tais como:
o Doenças cardiorrespiratórias;
o Doenças neurológicas (demência e delírio);
53 - Capítulo 4 | Envelhecimento e Sociedade – v. 2

o Doenças musculoesqueléticas (fraturas, equilíbrio, marcha e


queda);
o Incontinências urinaria e fecal desenvolvidas pelos idosos.

Comprometimento no envelhecimento
De acordo com Caberlon (2015, p. 3744)”O processo de envelhe-
cimento traz consigo, simultaneamente, aumento dos fatores de risco e de
comorbidades, especialmente como as doenças crônico-degenerativas”.
Com o avançar da idade e devido as alterações associadas a
morbidade, os sistemas que controlam a locomoção, o equilíbrio, a
marcha e a mobilidade podem ser prejudicados resultando no aumento
do risco de quedas em idosos com presença de fratura.
As doenças crônicas degenerativas não transmissíveis (pulmonares
e cardiovasculares) no Brasil, atingem em torno de um terço dos idosos
que chegam aos 70 anos, e 20% destes, desenvolvem algum grau de in-
capacidade que irá prejudicar a autonomia, independência além de re-
duzir a capacidade física.
Outro problema enfrentado pelos idosos é a incontinência urinária e
fecal, algumas alterações decorrentes do envelhecimento, como a atrofia
dos músculos e tecidos, o comprometimento funcional do sistema nervoso
e circulatório e a diminuição do volume vesical podem contribuir para
o surgimento da incontinência urinária, pois reduzem a elasticidade e a
contratilidade da bexiga. A incontinência fecal é caracterizada como perda
involuntária de fezes sólidas e/ou líquidas, enquanto o termo incontinência
anal inclui a perda involuntária de flatos, associada ou não a perda de
fezes. A incontinência fecal causa desconforto, constrangimento e perda
de autoconfiança, podendo interferir negativamente na qualidade de vida.
As manifestações neuropsiquiátricas também estão presentes e são
caracterizadas por sintomas comportamentais e psicológicos da demência,
que se definem por um conjunto de sintomas e sinais relacionados a
transtornos da percepção, do conteúdo do pensamento, do humor ou do
comportamento. Ocorrem em 80-90% dos pacientes durante o curso da
demência e variam de acordo com a gravidade e o subtipo da doença,
afetando regiões específicas do cérebro.
54 - Capítulo 4 | Envelhecimento e Sociedade – v. 2

Doença de Alzheimer
Os distúrbios neuropsiquiátricos são apontados como o maior pro-
blema dos pacientes com demência e estão associados ao maior grau de
comprometimento cognitivo e à rápida progressão da doença, diminuin-
do a qualidade de vida, aumentando a morbidade e aumentando o es-
tresse do cuidador e/ou familiar. Além disso, aumentam os custos dos
cuidados e, apesar de passíveis de intervenções terapêuticas, estão entre
os mais importantes fatores de institucionalização precoce.
Dentre as principais causas de demência, destaca-se a Doença de
Alzheimer, é considerada a principal entre 50% a 60% dos casos. Cerca
de mais de 35 milhões de indivíduos são acometidos em todo o mundo,
e estes números vem aumentando de forma significativa em diferentes
idades (prevalência). Nos EUA, tornou-se a quarta causa de óbito entre
os idosos de 75 a 84 anos e a terceira maior causa isolada de incapaci-
dade e mortalidade.
No Brasil, em torno de 700 mil pessoas são acometidas pela a
Doença de Alzheimer, tornando-se um importante problema de saúde
pública em todo o mundo, em conjunto com a demência vascular, de
acordo com os estudos epidemiológicos. No entanto, o mecanismo fi-
siopatológico da doença é desconhecido, pois na demência mista ocorre
simultaneamente a Doença de Alzheimer e a demência vascular, respec-
tivamente, apresentando alterações neurodegenerativas e cerebrovascu-
lares levando a um maior dano funcional, quando estão associadas.
Sendo assim, os idosos com demências apresentam alta prevalên-
cia de comorbidades, as quais podem comprometer a cognição e aumen-
tar o declínio funcional, necessitando de intervenções precoces visando
à melhora da qualidade de vida dessa população e de seus familiares,
considerando a melhora funcional e a manutenção da sua independên-
cia para as Atividades de Vida Diárias (AVD´s).
A Doença de Alzheimer portanto é considerada uma doença
neurológica, caracterizada, primeiramente, por um comprometimento de
memória para fatos recentes, sendo este comprometimento progressivo.
Em seguida há deterioração das funções cognitivas, apresentando um
quadro de: apraxias construtivas, agnosias e distúrbios afásicos e podendo
55 - Capítulo 4 | Envelhecimento e Sociedade – v. 2

evoluir lentamente para estados vegetativo, após 10 a 15 anos do início


dos sintomas, tornando-se variável e irreversível.
Os sintomas clássicos apresentam-se em três estágios: fase inicial,
intermediária e terminal. Sendo que a primeira fase é caracterizada por
dificuldade de linguagem, perda de memória recente, desorientação em
tempo e espaço, sinais de depressão, agressividade e perda de interesse
em atividades e pode durar em torno de 2 a 4 anos, a fase intermediária
é caracterizada por perda de memória crescente e início das alterações
na linguagem, raciocínio e dificuldades motoras podendo durar em tor-
no de 2 a 10 anos, e a última fase ou fase terminal é quando o paciente
já apresenta-se restrito ao leito, com a presença de mutismo, retenção
intestinal ou urinária e adoção da posição fetal, devido às contraturas
presentes. O conjunto das alterações comportamentais, cognitivas e mo-
toras, e os sinais e sintomas progressivos, influenciam diretamente e di-
ficultam a realização das AVD´s, tornando os idosos portadores desta
doença cada vez mais dependentes.

Delirium
O delirium, é descrito como uma perturbação aguda e flutuante da
consciência e da cognição, sendo considerado um distúrbio neurocompor-
tamental mais frequente em idosos hospitalizados, acometendo em torno de
56% a 72% dos idosos internados em unidade de terapia intensiva, tendo
um grande impacto na morbimortalidade, como a elevação de custos hos-
pitalares, os riscos de demência e institucionalização pós-alta hospitalar.
Os pacientes com delirium podem apresentar incapacidade de
colaboração, distúrbios do ciclo sono-vigília, perda da memória (prin-
cipalmente a recente), alterações emocionais e ilusões, geralmente há
exacerbação destes sinais ao final da tarde e período noturno, devido a
diminuição ou falta de estímulos de orientação, podendo este idoso ser
classificado como: hipoativo, hiperativo ou misto em relação ao nível
de atividade psicomotora.
Os mecanismos neurobiológicos envolvidos no delirium, podem
apresentar múltiplos fatores que levem a uma via final com excesso de
dopamina e depleção colinérgica. No entanto, a inflamação sistêmica
parece afetar o sistema nervoso central por meio de diversas vias, o que
56 - Capítulo 4 | Envelhecimento e Sociedade – v. 2

comprometeria seu funcionamento adequado e, de alguma forma, acar-


retaria uma depleção colinérgica, contribuindo para disfunção cognitiva.
Além disso, a relação entre processos inflamatórios e neurodegenerati-
vos tem um papel importante na associação entre delirium e demência,
a qual parece ser bidirecional. Estudos demonstraram maior risco de de-
lirium em pacientes com demência. Por outro lado, nos últimos anos, di-
versos estudos têm apontado também para o sentido inverso, de forma
que o estado confusional agudo também poderia ser um fator de risco
para o desenvolvimento de demência.
Sendo assim, existe uma clara associação entre o delirium X de-
mência X declínio cognitivo, seja o delirium agindo como fator de risco
para o desenvolvimento de um novo quadro de demência ou como fator
agravante, quando a demência já se encontra estabelecida.

Doenças cardiovasculares
Nas últimas décadas, as doenças crônicas degenerativas
não transmissíveis têm sido a maior causa de óbitos no
país, superando as taxas de mortalidade por doenças
infectocontagiosas. Observa-se uma alteração no perfil
de mortalidade da população, com aumento expressivo
na ocorrência de doenças cardiovasculares e doenças
respiratórias, o que tem onerado os sistemas da Saúde
e da Previdência Social, com uma alta carga de custos
financeiros decorrente de mortalidade e de invalidez
precoces. Esse contexto incide na sociedade geral, nas
famílias e nas pessoas portadoras dessas doenças, cujo
tratamento demanda duração prolongada (CARVALHO
et al., 2014, p. 348).
Nesse sentido, as doenças cardiovasculares constituem a principal
causa de morbimortalidade na população brasileira. Não há uma causa
única para essas doenças, mas, há vários fatores de risco que aumentam
a probabilidade de sua ocorrência. A Hipertensão Arterial e o Diabetes
Mellitus, representam dois dos principais fatores de risco, contribuindo
decisivamente para o agravamento desse cenário.
Entre as pessoas idosas, a hipertensão é uma doença altamente pre-
valente, acometendo cerca de 50% a 70% das pessoas nessa faixa etá-
57 - Capítulo 4 | Envelhecimento e Sociedade – v. 2

ria. É um fator determinante de morbidade e mortalidade, mas, quando


adequadamente controlada, reduz significativamente as limitações fun-
cionais e a incapacidade nos idosos. A hipertensão não deve ser consi-
derada uma consequência normal do envelhecimento. Sendo assim, a
Hipertensão Arterial é definida como pressão arterial sistólica maior ou
igual a 140 mmHg e uma pressão arterial diastólica maior ou igual a 90
mmHg, em indivíduos que não estão fazendo uso de medicação anti-hi-
pertensiva. Portanto, deve-se considerar no diagnóstico da Hipertensão
Arterial Sistêmica, além dos níveis tensionais, o risco cardiovascular
global, estimado pela presença dos fatores de risco, a presença de lesões
nos órgãos-alvo e as comorbidades associadas.
Diante do exposto, o tratamento da hipertensão e a prevenção
das complicações crônicas exigem uma abordagem multiprofissional.
Assim como todas as doenças crônicas, a hipertensão arterial necessi-
ta de um processo contínuo de motivação para que a pessoa não aban-
done o tratamento.
Em algumas pessoas muito idosas é difícil reduzir a pressão abaixo
de 140 mmHg, mesmo com boa adesão e múltiplos agentes. Nesses ca-
sos, afastada causas secundárias, pode-se aceitar reduções menos acen-
tuadas de pressão arterial sistólica. Os estudos mostram que o tratamento
da hipertensão no idoso reduz a incidência de déficit cognitivo.
Considerando o Diabetes Mellitus, o mesmo é uma doença comum
e de incidência crescente que aumenta com a idade. O diabetes apresen-
ta alta morbimortalidade, com perda importante na qualidade de vida. É
uma das principais causas de mortalidade, insuficiência renal, amputa-
ção de membros inferiores, cegueira e doença cardiovascular.
Sendo assim, o Diabetes Mellitus é uma doença metabólica
caracterizada por hiperglicemia associada a complicações, disfunções e
insuficiência de vários órgãos, especialmente: olhos, rins, nervos, cérebro,
coração e vasos sanguíneos. Pode resultar de defeitos de secreção e/ou ação
da insulina, envolvendo processos patogênicos específicos, por exemplo,
destruição das células beta do pâncreas (produtoras de insulina), resistência
à ação da insulina, distúrbios da secreção da insulina, entre outros.
Os tipos de diabetes mais frequentes são o diabetes tipo 1, que
compreende cerca de 10% do total de casos, e o diabetes tipo 2, que
58 - Capítulo 4 | Envelhecimento e Sociedade – v. 2

compreende cerca de 90% do total de casos. Na pessoa idosa, a forma


clínica mais frequente é o tipo 2.
No idoso, frequentemente a apresentação do Diabetes Mellitus é
um achado casual devido a uma doença intercorrente (habitualmente in-
fecções), uma manifestação de complicação típica do diabetes a longo
prazo (doença cerebrovascular, infarto do miocárdio, arteriopatia peri-
férica), um exame de saúde ou um exame de glicemia, não diretamente
relacionados com a suspeita de diabetes. Outras formas de apresenta-
ção são: aumento da sede (polidipsia), aumento da micção (poliúria),
aumento do apetite, fadiga, visão turva, infecções que curam lentamen-
te e impotência em homens.
Portanto, o idoso apresenta particularidades que o profissional de
saúde deve levar em conta para proporcionar-lhe a melhor assistência
possível. A história clínica convencional não é o bastante, é necessá-
rio indagar sobre, seus hábitos de vida e seu ambiente familiar e social.

Figura 1 – Alterações decorrentes da Diabetesn | Fonte: 123rf – guniita.


59 - Capítulo 4 | Envelhecimento e Sociedade – v. 2

Doenças pulmonares
Dentre as doenças que mais comprometem a população idosa re-
lacionadas as internações hospitalares, as afecções do trato respiratório
tem destaque. As vacinas que são desenvolvidas contra o vírus influen-
za são responsáveis por diminuir o numero de hospitalizações e óbitos
em 25 a 39%. Dentre as afecções mais importantes relacionadas ao ví-
rus influenza podemos citar: pneumonia, bronquite, asma exacerbada e
doenças crônicas obstrutivas.
Muitos são os estudos que evidenciam a importância dos programas
de vacinação em idosos a fim de prevenir as infecções do trato respiratório
e manter a população saudável. Estudos com DPOC (Doença Pulmonar
Obstrutiva Crônica) e idosos tem demonstrado a grande relevância da
educação em saúde relacionados aos cuidados específicos, na prevenção
e promoção relacionadas as infecções do trato respiratório. Pois, o quanto
antes este idoso aderir ao tratamento, melhor será a qualidade de vida
frente ao impacto que a doença ocasionará em sua vida.
Nesse sentido, de acordo com a Organização Mundial de Saúde
(OMS) os idosos devem tomar três vacinas básicas e de extrema impor-
tância, são elas: Influenza, Pneumonia Pneumocócica e Tétano-Difteria,
devido ao fato de que o vírus da influenza (gripe) é transmitido por ina-
lação de gotículas de saliva que estão suspensas no ar, podendo perma-
necer incubado em torno de 1 a 4 dias, além disso, estas vacinas são
extremamente importantes pois apresentam grande especificidade para
o tipo de vírus existente, de acordo com as características do nosso he-
misfério, sendo atualizadas anualmente no Brasil.
Dentre as populações mais indicadas para tomar a vacina contra
o vírus influenza, primeiramente destacam-se os idosos com idade su-
perior a 60 anos, segundo os portadores de doenças crônicas pulmona-
res (enfisema e asma), e cardiopatas, diabéticos e hipertensos; terceiro
pessoas idosas que apresentam doenças renais, pessoas que apresentam
a imunidade deprimida (ex:AIDS) ou pessoas dependentes de medica-
mentos que diminuem a imunidade (uso de quimioterápicos e tratamen-
to para o câncer), e pessoas que estão em contato direto com indivíduos
que apresentem risco para complicações da gripe (cuidadores de pesso-
as idosas, profissionais da área da saúde e familiares).
60 - Capítulo 4 | Envelhecimento e Sociedade – v. 2

Figura 2 – Vacinação dos Idosos | Fonte: 123rf - auremar.

Em relação aos efeitos colaterais apresentados após a adminis-


tração das vacinas, são considerados leves e tendem a desaparecer em
24 a 48 horas, são eles: mialgias, mal estar geral, cefaléia, febre baixa
iniciando após 6 horas da vacina geralmente e apresentando regressão
em torno de no máximo dois dias, além de apresentar vermelhidão, dor
e prurido no local da administração da vacina com pouca probabilida-
de de surgirem alergias. A vacina está contra-indicada sempre que hou-
ver história de reação alérgica grave, ou a algum de seus componentes.
Deverá ser adiada nas pessoas idosas com doenças ainda sem diagnós-
tico, assim como nas doenças crônicas não controladas.
A transmissão da Pneumonia Pneumocócica acontece por inalação
de pessoa para pessoa sendo considerada a mais comum na comunida-
de. Os moradores de casa de repouso e de asilos, portadores de diabetes,
cirrose, enfisema, insuficiência cardíaca, insuficiência renal, AIDS, al-
coolismo, leucemia e com infecções e internações repetidas são os mais
indicados a receber a vacina assim como pessoas acima dos 60 anos.
A incidência de tétano entre os idosos acima de 65 anos ainda é
constante, e aumentam o numero de casos durante os meses mais quen-
tes. Todos estes dados juntos mostram que a prevenção não está sen-
do totalmente atingida nesta faixa de idade, evidenciando a importância
da vacinação na tentativa de reduzir a alta mortalidade entre os idosos,
onde a combinação de vacinas como difteria e tétano, previne em torno
de 85% a difteria e 95% o tétano, e as únicas contra-indicações para a
61 - Capítulo 4 | Envelhecimento e Sociedade – v. 2

vacinação seriam as reações alérgicas (à 1ª dose), a febre elevada e in-


fecções graves.

Doenças ortopédicas e reumatológicas


O envelhecimento normal é caracterizado por uma redução da fun-
cionalidade de tecidos e órgãos gerando um aumento dos fatores de ris-
co para as doenças crônico-degenerativas. A osteoartrite é um exemplo
de doença articular crônico-degenerativa, que aparece com o avançar
da idade, mais prevalente acima dos 60 anos. É caracterizada por alte-
rações no osso subcondral e na cartilagem articular, resultando na for-
mação de osteófitos, presença de dor e edema além de rigidez articular
e crepitações, evidenciando o aparecimento de lesão na cartilagem que
pode evoluir ao longo do tempo.
Dentre os fatores de risco que merecem destaque na predisposição
a osteoartrite, além do envelhecimento, podemos citar: a obesidade,
desequilíbrio hormonal, traumas, cirurgias articulares, hereditariedade,
densidade óssea e nutrição, onde 85 % das pessoas acima dos 75 anos,
já apresentam alterações clínicas ou radiológicas, com 13,8% para
alterações nos joelhos.
A maioria dos indivíduos são assintomáticos, mas quando os sinto-
mas aparecem incluem: rigidez matinal, presença de dor nas articulações,
crepitações, edema, disfunção física, redução ou perda de movimentação,
frouxidão ligamentar, fraqueza muscular, espasmos, contraturas capsula-
res, fibrose, propriocepção e equilíbrio alterados e a marcha prejudicada
levando a incapacidade funcional, definida como dificuldade para reali-
zar as atividades de vida diária ( marcha usual, subir e descer escadas),
importantes para a manutenção da independência do idoso.
Dentre os métodos utilizados para avaliar as alterações funcionais
podemos citar os testes de velocidade, que são muito eficazes e de bai-
xo custo, e os estudos que avaliam o estado de saúde do idoso, que con-
tribuem como um indicador importante para o processo saúde-doença.
62 - Capítulo 4 | Envelhecimento e Sociedade – v. 2

Instabilidade postural: equilíbrio, marcha, queda e fraturas


As funções cognitivas podem ser comprometidas pela idade, como
a lentificação global na alocação de recursos cognitivos. O cérebro é
sensível a inúmeros fatores que resultam em danos às redes neurais,
mas possui a capacidade de autoreparação/autoadaptação. Nesse senti-
do, quando ocorre um desequilíbrio entre lesão neuronal e reparação, a
capacidade neuronal é prejudicada, estabelecendo-se o envelhecimento
cerebral e em alguns casos a demência.
Durante o processo de envelhecimento, o sistema nervoso não é
o único a apresentar declínio de suas funções. O equilíbrio postural é
o resultado da interação harmônica entre os sistemas vestibular, visual,
somatossensorial (musculoesquelético), e qualquer alteração nesses sis-
temas ou na interação entre eles propicia as quedas.
Portanto, a manutenção do equilíbrio postural não depende ape-
nas da integridade desses sistemas, mas também da interação sensorial
pelo sistema nervoso central, que envolve a percepção visual e espacial;
de um tônus muscular efetivo, que se adapte rapidamente a alterações;
e da força muscular e da flexibilidade articular. A organização sensorial
consiste na capacidade do SNC em selecionar, suprir e combinar os es-
tímulos dos três sistemas.
Nesse contexto, com o aumento da idade cronológica, o corpo
humano passa por um período de transformações que geram declínio
em algumas capacidades físicas, como diminuição da flexibilidade,
agilidade, coordenação, mobilidade articular e, principalmente, o
equilíbrio. Devido ao processo de envelhecimento, os componentes
do controle postural são afetados pela senilidade, diminuindo a
capacidade compensatória do sistema, levando a um aumento da
instabilidade, aumentando assim, o risco de quedas. As quedas são
um importante fator causal para a dependência dos idosos, pois,
estão relacionadas a um índice elevado de incapacidade funcional e
de morbimortalidade.
A incidência das quedas está relacionada a falha do sistema de
controle postural e a perturbação do equilíbrio, sendo mais evidente em
pacientes mais frágeis que apresentam maior probabilidade a fraturas.
63 - Capítulo 4 | Envelhecimento e Sociedade – v. 2

Os fatores de risco para a incidência de quedas podem estar


relacionados a idade, raça e gênero (fatores biológicos), as mudanças
que ocorrem no envelhecimento, as ações humanas, escolhas diárias e
emoções (fatores de risco comportamentais), ao ambiente e as condições
físicas (fatores ambientais), as desigualdades de trabalho e renda, moradia
sem condições de saneamento básico, educação, acesso limitado a saúde,
deficiência de recursos, acesso limitado a assistência social (fatores de
riso socioeconômicos).
É importante evidenciar que as quedas podem gerar fraturas,
principalmente em idosos, cuja as fraturas mais comuns são a de fêmur
em primeiro lugar, rádio e clavícula, e consequentemente acabam gerando
incapacidade e medo no idoso de novas quedas e fraturas, comprometendo
suas atividades de vida diárias, além de levá-lo ao isolamento social e
possível institucionalização.
A etiologia das quedas é multifatorial, e pode estar relacionada a
fatores intrínsecos e extrínsecos. Onde idosos que são mais independen-
tes, estão mais suscetíveis aos fatores extrínsecos relacionados ao am-
biente (iluminação deficiente; tapetes no meio do caminho; degraus altos
ou estreitos; cama e cadeira com altura inadequada; ausência de corri-
mão em corredores e banheiros; uso de chinelos ou sapatos mal ajus-
tados, etc...), já idosos que são mais dependentes, como por exemplo
idosos com demência mais graves, podem sofrer menos quedas devido
o fato de serem supervisionados constantemente por seus cuidadores/
familiares e também na maioria dos casos pela restrição de mobilidade.
A instabilidade postural e as quedas, são importantes marcadores
de diminuição de capacidade funcional e fragilidade, por isso, devemos
sempre valorizar os relatos sobre queda. As principais complicações das
quedas são lesões de partes moles, restrição prolongada ao leito, hos-
pitalização, institucionalização, risco de doenças iatrogênicas, fraturas,
hematoma subdural, incapacidade e morte.
Devido a todos estes fatores juntos e a alta incidência que gera alta
morbidade e mortalidade, é importante evidenciar as quedas em idosos
como um dos principais problemas de saúde pública, gerando ao idoso
perda da autonomia e consequentemente perda da qualidade de vida du-
rante o envelhecimento.
64 - Capítulo 4 | Envelhecimento e Sociedade – v. 2

Incontinência urinária e fecal


Incontinência urinária é a incapacidade de controlar a eliminação
da urina da bexiga, não se trata de uma doença, mas sim de um sintoma.
Em adultos sadios a bexiga tem a capacidade de reter um volume de 250
a 400 ml. Quando esse volume é atingido, o reflexo da micção faz com
que a bexiga se contraia. Nas pessoas idosas, a capacidade da bexiga di-
minui, assim como o tônus muscular, fatores que fazem com que haja
uma maior dificuldade de retardar a micção. Além disso, a incontinên-
cia urinária pode ocorrer se houver também fraqueza do esfíncter ure-
tral, ou uso de certos medicamentos com ação relaxante da musculatura
lisa do esfíncter (como por exemplo, os betabloqueadores). As causas
da incontinência urinária são várias, e variam de acordo com o gênero;
as mais frequentes são: instabilidade do músculo detrusor (camada mus-
cular da bexiga), fraqueza do assoalho pélvico, hiperplasia prostática be-
nigna, infecção urinária, impactação fecal, neuropatia diabética, doença
neurogênica adquirida, cistocele, retocele, prolapso uterino, sequelas pós
operatórias (lesão do esfíncter) e alterações cognitivas.

Figura 3 – Sistema urinárion | Fonte: 123rf – Sebastian Kaulitzki.


65 - Capítulo 4 | Envelhecimento e Sociedade – v. 2

Sendo assim, os efeitos psicológicos da incontinência urinária


podem levar a pessoa idosa a isolar-se socialmente, a sentir-se
constrangido e até a um quadro de depressão. Pode também ocasionar
erupções cutâneas na região do períneo, úlceras de decúbito e também
fraturas consequentes às quedas por acidente.
A incontinência urinária é erroneamente considerada como uma
consequência normal do envelhecimento, mas em muitos casos ela é re-
versível. Por isso, é importante identificar as causas e instituir alguma
modalidade de tratamento.
Nesse sentido, o tratamento da incontinência urinária inclui
estratégias comportamentais, uso de medicamentos e também
procedimentos cirúrgicos.
Considerando a incontinência fecal e/ou anal, a sua prevalência
mostra resultados conflitantes na literatura, com estimativas que vão de
1,4% em adultos com mais de 40 anos, até 62% em idosos, sob cuidados
domiciliares, sendo mais prevalente no sexo feminino, e apresentando
uma queixa principal de perda involuntária de quantidade de fezes (in-
continência fecal) ou flatos (incontinência de flatos ou gases).
Mesmo os estudos sendo considerados muito conflitantes para os
fatores de risco que levam a incontinência fecal e/ou anal, eles apontam
que esta disfunção pode estar associada a idade materna, a incontinên-
cia fecal e/ou anal prévia ou na gestação, ao parto instrumental e lesão
do esfíncter anal.
Além de afetar a saúde física, os dois tipos de incontinência, uri-
nária e fecal/anal, produzem repercussões na saúde sexual, psicológica e
social, interferindo de modo negativo na qualidade de vida. No entanto,
poucas mulheres procuram ajuda profissional e recebem tratamento apesar
da disponibilidade de métodos que promovem a melhora e a cura dessas
disfunções. Dentre os métodos que merecem atenção, podemos destacar
a avaliação funcional da musculatura do assoalho pélvico e a avaliação
do impacto na qualidade de vida que deveriam se tornar rotina nos ser-
viços de saúde como forma de prevenção e tratamento destes pacientes.
66 - Capítulo 4 | Envelhecimento e Sociedade – v. 2

Fragilidade em idosos
Devido o rápido e expressivo envelhecimento da população, é cres-
cente o interesse pelos profissionais da saúde sobre este tema, que ante-
riormente era pouco discutido, e atualmente, passam a ocupar lugar de
destaque com o seguinte assunto a fragilidade ou fragilização no proces-
so de envelhecimento, que surgiram com grande ênfase.
Assim a palavra fragilidade, não apresenta uma definição consensual.
É considerada uma síndrome multidimensional que culmina em estado de
maior vulnerabilidade, que pode estar associada a desfechos clínicos ad-
versos (quedas, hospitalizações, declínio funcional e morte), e pode envol-
ver uma interação complexa dos fatores biológicos, psicológicos e sociais.
Para isso, é necessário que haja critérios que identifiquem as pes-
soas idosas que apresentem condições subclínicas da síndrome e para
que ocorra a prevenção de maneira a evitar ou postergar as respostas ad-
versas à mesma. Se já houver a instalação da síndrome, o ideal é adotar
critérios de avaliação específicos que irão contribuir para o adiamento
ou a amenização de tais respostas, colaborando para a autonomia e in-
dependência funcional dos idosos.
Deste modo, são considerados frágeis, aqueles idosos acima dos
65 anos (10 a 25%) e acima dos 85 anos (46%) que vivem na comuni-
dade, que são considerados idosos de alto risco para aqueles desfechos
adversos, são mais susceptíveis.
No entanto, a fragilidade é considerada um fenômeno clínico dis-
tinto do envelhecimento, e este quadro pode ser revertido através de
intervenções clínicas: Nos anos 90, houve o questionamento entre inca-
pacidade e fragilidade com base em três fatores:
• Nem todas as pessoas com declínio funcional são frágeis;
• Nem todas as pessoas frágeis apresentam declínio funcional;
• Medidas preventivas parecem interferir na instalação dessa
síndrome.
E a partir destas premissas, o que anteriormente era considerado
“ser frágil” passou a ser substituído por uma condição de “tornar-se frá-
gil’ onde o termo “fragilidade” passa a ser considerada como síndrome
clínica relacionada pela diminuição da reserva energética e resistência
67 - Capítulo 4 | Envelhecimento e Sociedade – v. 2

reduzida aos estressores, resultando no declínio cumulativo dos siste-


mas fisiológicos e aumentando os fatores de risco para às condições ad-
versas, prejudicando a homeostase do organismo.
São três as principais mudanças relacionadas à idade e a síndrome:
alterações neuromusculares (principalmente sarcopenia); desregulação
do sistema neuroendócrino e disfunção do sistema imunológico. E mes-
mo que possam ocorrer simultaneamente, a fragilidade, comorbidade e
incapacidade são consideradas condições clínicas distintas.
A síndrome da fragilidade pode gerar, como consequencia, a
comorbidade; que é a presença simultânea de duas ou mais doenças de
acordo com o diagnóstico médico e a incapacidade, e está relacionada a
dificuldade e consequente necessidade de auxílio para realizar as AVD´s.
Os principais mecanismos que levam a esta condição frágil são as alterações
relacionadas à senescência e as comorbidade, sendo assim, a síndrome,
segundo os pesquisadores, é considerada um fator preditor independente
para quedas, dependente para as atividades de vida diária, hospitalização
e morte.

Conclusão
O processo de envelhecimento e seus comprometimentos são com-
plexos, exigindo assim uma abordagem holística para com o processo
saúde e doença do idoso. É importante o controle da Hipertensão Arterial,
do Diabetes Mellitus, a vacinação, entre outras, e o constante aprimora-
mento dos conhecimentos que envolve a pessoa idosa.
Com o aumento da expectativa de vida e a ampliação de idosos em
número no Brasil e no mundo, espera-se que as pesquisas sobre promo-
ção e prevenção da saúde e de doenças crônicas instigue a sensibilidade
dos profissionais de saúde para que estes discutam mais sobre o assunto.
68 - Capítulo 4 | Envelhecimento e Sociedade – v. 2

Exercícios
1) Sobre a hipertensão arterial sistêmica, marque a alternativa correta:
a) A hipertensão arterial sistêmica (HAS) é típica do idoso;
b) É caracterizada por níveis elevados de glicose;
c) A hipertensão é uma doença que não apresenta sintomas, porém se
não for tratada pode gerar uma crise hipertensiva;
d) Doença do sistema respiratório com comprometimento neurológico.
e) Disfunção neurológica parcial.
Resposta correta ao final do capítulo.

2) O delirium é definido como:


a) Doença neurológica, que se caracteriza por quadro demencial pro-
gressivo com comprometimento inicial da memória para fatos recentes;
b) Distúrbio neurocomportamental;
c) Como uma perturbação aguda e flutuante da consciência e da cognição;
d) Doença cardiorrespiratória grave;
e) Afecção da pele com destruição da camada do tecido conjuntivo.
Resposta correta ao final do capítulo.

3) Quais são as doenças respiratórias que acometem o idoso?


a) Bronquite, pneumonia, exacerbação da asma e de doenças obstruti-
vas crônicas de vias aéreas;
b) Incontinência urinária;
c) Influenza;
d) Delirium, Parkinson e Alzheimer;
e) Osteoatrose, osteoporose e dores musculares.
Resposta correta ao final do capítulo.

4) A Incontinência urinária é:
a) Perda involuntária de urina;
b) Predominante no sexo masculino;
c) Predominante no idoso;
d) Perda involuntária das fezes;
e) Perda da memória.
Resposta correta ao final do capítulo.
69 - Capítulo 4 | Envelhecimento e Sociedade – v. 2

5) Qual doença neurológica comum do envelhecimento?


a) Doença de Alzheimer;
b) Hipertensão Arterial e Diabetes Mellitus;
c) Incontinência fecal;
d) Celulite;
e) Comedões abertos e fechados.
Resposta correta ao final do capítulo.

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Gabarito
1. c | 2. c | 3. a | 4. a | 5. a
71 - Capítulo 5 | Envelhecimento e Sociedade – v. 2

Capítulo 5
AVALIAÇÃO GERONTOLÓGICA
E ESCALAS PADRONIZADAS DE
AVALIAÇÃO DE EQUILÍBRIO, MARCHA E
RASTREIO DE DEMÊNCIA

Natalie Souza De Andrade

Introdução
O processo de envelhecimento vem normalmente acompanhado de
um declínio das funções gerais, sendo as funções motora, como o equilí-
brio e a marcha, certamente comprometida nos indivíduos idosos, além
de possíveis alterações cognitivas, como as demências. A participação,
a integração e a sincronia dos sistemas osteomuscular, neuroendócrino,
nervoso, cardiovascular e sensorial; são necessárias para que o ato motor
se realize de maneira desejável. Para identificar essas alterações, o pro-
fissional da saúde, que atua com idosos, conta com a existência de ins-
trumentos avaliativos, como as diversas escaladas de avaliação. Cabe,
portanto, ao profissional, conhecer e selecionar a mais adequada para
cada resposta que queira obter no processo de avaliação.

Objetivos
Ao final deste capítulo, o leitor será capaz de:
• Identificar, caracterizar e classificar os principais instrumentos
e escalas para a análise da marcha e rastreio de demência;
• Correlacionar a gravidade da demência com a intensidade da
apraxia da marcha, função cognitiva, capacidade funcional e
equilíbrio estático e dinâmico dos pacientes com demência e
apraxia da marcha.
72 - Capítulo 5 | Envelhecimento e Sociedade – v. 2

Aspectos neurológicos relacionados à senescência


De acordo com estimativas da Organização das Nações Unidas
(ONU), os idosos representavam, em 2005, 10,4% da população mun-
dial, e projeções revelam que, até 2050, esse valor será superior a 20%.
No Brasil, o envelhecimento populacional é uma realidade, assim como
no mundo todo. A conceituação do índice de envelhecimento, em países
em desenvolvimento, de acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia
e Estatística (IBGE), é indicada pelo número de pessoas com 60 anos de
idade ou mais. O novo padrão demográfico apresentado pelo Brasil, nos
últimos anos, é caracterizado pelas transformações profundas na compo-
sição de sua estrutura etária, com um significativo aumento do contingen-
te de idosos em condições sócio econômicas e culturais desfavoráveis.
Até 2050, o Brasil aumentará de 14,5 milhões para mais de 64 milhões
de idosos e será o sexto país do mundo com o maior número de pesso-
as idosas, segundo dados da Organização Mundial de Saúde (OMS).
Muitas são as alterações decorrentes do processo de envelhecimen-
to, sendo essencial o conhecimento dessas alterações e dos instrumentos
avaliativos que possam indicar as melhores estratégias de tratamento.
Dentre as alterações mais frequentes no idoso, destacam-se as demên-
cias, alterações no equilíbrio, postura e marcha.
A característica essencial de uma demência é o desenvolvimento
de múltiplos déficits cognitivos, que incluem comprometimento da me-
mória, afasia, apraxia, agnosia ou uma perturbação do funcionamento
executivo, esses déficits cognitivos devem ser suficientemente severos
para comprometer o funcionamento ocupacional ou social e represen-
tar um declínio em relação a um nível anteriormente superior de funcio-
namento. Um diagnóstico de demência não deve ser feito se os déficits
cognitivos ocorrem exclusivamente durante o curso de um delirium.
Entretanto, demência e delirium podem ambos ser diagnosticados, se a
demência está presente em períodos de ausência de delirium.
A demência pode estar etiologicamente relacionada a uma condi-
ção médica geral, aos efeitos persistentes do uso de uma substância (in-
cluindo exposição a toxinas) ou a uma combinação desses fatores. Um
comprometimento da memória é necessário para fazer um diagnóstico
de demência, sendo um sintoma inicial proeminente. Os indivíduos com
73 - Capítulo 5 | Envelhecimento e Sociedade – v. 2

demência ficam comprometidos em sua capacidade de aprender coisas


novas, ou esquecem de coisas que anteriormente sabiam.
A maioria dos indivíduos com demência tem ambas as formas de
comprometimento da memória, embora às vezes seja difícil demonstrar
a perda de coisas sabidas anteriormente logo no início do curso do trans-
torno. Eles podem perder objetos importantes como carteiras e chaves,
esquecer alimentos cozinhando no fogão e se perder em locais que não
lhes são familiares. Em estágios avançados de demência, o comprome-
timento da memória é tão severo que a pessoa se esquece de sua própria
profissão, escolaridade, aniversário, membros da família e, às vezes, até
mesmo seu próprio nome.
O indivíduo é solicitado a repetir as palavras (registro), recordar a
informação após alguns minutos (retenção, recordação) e reconhecer as
palavras a partir de uma lista múltipla (reconhecimento). Os indivíduos
com dificuldade para aprender novas informações não obtêm auxílio a
partir de indicadores ou sugestões (por ex., questões de múltipla escolha),
uma vez que não aprenderam o material inicialmente. Em comparação,
indivíduos com déficits primários na recuperação podem ser auxiliados
por sugestões e indicadores, uma vez que seu comprometimento reside
na capacidade de acessar as recordações.
Segundo Caixeta (2016), a memória remota pode ser testada pe-
dindo ao indivíduo que recorde informações pessoais ou coisas do passa-
do que ele achava interessantes (por ex., política, esportes, variedades).
Também é importante determinar (a partir do indivíduo e informantes)
o impacto das perturbações da memória sobre o funcionamento do indi-
víduo (por ex., capacidade de trabalhar, ir às compras, cozinhar, pagar
contas, voltar para casa sem se perder).
A deterioração das funções da linguagem (afasia) pode manifes-
tar-se por dificuldade na evocação de nomes de pessoas e objetos. O dis-
curso dos indivíduos com afasia pode tornar-se digressivo ou vazio, com
longos circunlóquios e uso excessivo de termos indefinidos de referên-
cia tais como “coisa” e “aquilo”. A compreensão da linguagem falada e
escrita e a produção da linguagem também podem estar comprometidas.
Em estágios avançados de demência, os indivíduos podem ficar
mudos ou ter um padrão deteriorado de linguagem, caracterizado por
74 - Capítulo 5 | Envelhecimento e Sociedade – v. 2

fazer eco ao que é ouvido) ou repetir os próprios sons ou palavras inde-


finidamente. Normalmente a linguagem é testada solicitando-se ao in-
divíduo que nomeie objetos (por ex., gravata, vestido, mesa, lâmpada)
ou partes do corpo (por ex., nariz, queixo, ombro), obedeça a comandos
(“Aponte para a porta e depois para a mesa”) ou repita frases simples.
Os indivíduos com demência podem apresentar prejuízo
na capacidade de executar atividades motoras, apesar de
as capacidades motoras, função sensorial e compreensão
estarem intactas para a tarefa exigida. A apraxia pode con-
tribuir para déficits nos atos de cozinhar, vestir-se e desenhar
(TINETTI et al., 2014, p. 260).

Tabela 1 – Mini Exame do Estado Mental

Fonte: Tinetti, et al. (2014).

O Mini Exame do Estado Mental (MEEM) é constituído de duas


partes, uma que abrange orientação, memória e atenção, com pontuação
75 - Capítulo 5 | Envelhecimento e Sociedade – v. 2

máxima de 21 pontos e, outra que aborda habilidades específicas como


nomear e compreender, com pontuação máxima de 9 pontos, totalizando
um escore de 30 pontos, os valores mais altos do escore indicam maior
desempenho cognitivo. Aborda questões referentes à memória recente
e registro da memória imediata, orientação temporal e espacial, atenção
e cálculo e linguagem – afasia, apraxia e habilidade construcional.
Devido à conhecida influência do nível de escolaridade sobre os
escores totais do MEEM, são adotadas notas de corte diferentes para pes-
soas com distintos graus de instrução sendo assim, sugerimos a nota de
corte, ou seja, 20 pontos para analfabetos; 25 pontos para pessoas com
escolaridade de 1 a 4 anos; 26,5 para 5 a 8 anos; 28 para aqueles com 9
a 11 anos e 29 para mais de 11 anos, considerando a recomendação de
utilização dos escores de cortes mais elevados.
As perturbações na habilidade motora podem ser testadas pedin-
do que o indivíduo execute funções motoras (por ex., mostrar como se
escova os dentes, copiar pentágonos que se intercruzam, montar blocos,
ou arranjar varetas em desenhos específicos), além de demostrar a ca-
pacidade de ajustar seu corpo no espaço, como nos testes de equilíbrio.
Os seres humanos são bípedes e se locomovem com fases de apoio
unipodal, isto cria um desafio adaptativo aos sistemas que controlam o
equilíbrio, tornando-se necessárias informações contínuas sobre a posi-
ção e o movimento de todas as partes do corpo. O padrão de marcha bí-
pede do ser humano é adquirido na infância por volta dos 7 ou 8 anos,
onde o sistema sensório motor torna-se muito adaptado a gerar automa-
ticamente um conjunto repetitivo de comandos de controle motor, per-
mitindo a uma pessoa caminhar sem esforço consciente. Para que haja
um controle postural, o centro de massa do corpo deve estar projetado
dentro dos limites da base de apoio e torna-se fundamental a integração
das informações sensoriais com os sistemas neuromusculares.
Segundo Melo, Barbosa, Caramelli (2017), “dado o contexto das
quedas e suas consequências na qualidade de vida dos indivíduos, muitos
esforços têm sido conduzidos para avaliar o controle do equilíbrio em
idosos”. Através dos instrumentos de avaliação é possível identificar quais
sujeitos estão mais propensos às quedas, a maior causa de perda funcional
e independência nesta população.
76 - Capítulo 5 | Envelhecimento e Sociedade – v. 2

Além disso, os resultados fornecem informações referentes ao nível


de desempenho do sujeito em relação ao padrão estabelecido por pessoas
saudáveis da mesma faixa etária, a necessidade de intervenção e também
podem servir de parâmetro para avaliar as mudanças de estado funcional
no decorrer de um tratamento ou programa de atividade física.
Todavia, não podemos esquecer que os termos equilíbrio, marcha
e demência, estão associados, vale lembrar que para conceituar o me-
canismo pelo qual o corpo humano protege-se de quedas e afins. Desta
forma, uma definição de equilíbrio é sugerida como sendo na base de
sustentação, deslocando o peso do corpo, rapidamente e precisamente,
em diferentes direções a partir do seu centro, locomover-se com segu-
rança e velocidade e de maneira coordenada e, ajustando-se a perturba-
ções externas.
O processamento motor, incluindo ambos os componentes mus-
culoesquelético e neuromuscular, é essencial para a geração e coorde-
nação de forças que controlam a posição do corpo no espaço. Aspectos
sensoriais envolvem processamento de informações visuais, vestibula-
res e somatossensoriais, influenciando a posição do corpo em relação à
gravidade e ao ambiente.
Um alto nível cognitivo é essencial para aspectos adaptativos e an-
tecipatórios do controle postural, isto é, sabendo-se que para o contro-
le do equilíbrio corporal é fundamental a integração de vários sistemas
corporais sobre o comando central, e que o desempenho desses siste-
mas reflete diretamente nas habilidades do indivíduo de realizar tarefas
cotidianas, ou seja, na capacidade funcional do indivíduo. Avaliação
funcional tem por objetivo avaliar o desempenho em várias tarefas que
requerem controle do equilíbrio a fim de identificar uma possível limi-
tação funcional.
77 - Capítulo 5 | Envelhecimento e Sociedade – v. 2

Tabela 2 – Modelo de avaliação funcional em idosos para


registro de situação de risco

Fonte: Lopes; Passarini; Travensolo (2016).

Avaliação por sistemas tem por objetivo, identificar alterações


primárias, anatômicas, físicas ou cognitivas, através da observação de
estratégias compensatórias, as quais o indivíduo adota devido a um
prejuízo existente.
A última forma de avaliação, a posturografia, dispõe de tecnologia
para medir resultantes de forças na superfície de apoio, analisar padrões
eletromiográficos, cinemáticos e biomecânicos de movimentos articu-
lares em inúmeros tipos de tarefas posturais. A escolha do método de
avaliação depende do objetivo do avaliador, sendo o método funcional,
juntamente com a posturografia, usados para avaliar os problemas do
equilíbrio a fim de predizer riscos de quedas.
No entanto, esta última e a avaliação por sistemas são usadas para
determinar causas primárias a fim de tratá-las, neste método de avalia-
ção funcional é um preditor mais forte de risco de quedas que o méto-
do laboratorial. Além disso, é usado em muitos estudos por ser também
um meio de avaliação fácil e de baixo custo, além de ser útil para do-
cumentar o estado de equilíbrio e mudanças com uma intervenção, há
inúmeros instrumentos utilizados atualmente para avaliação de equilí-
brio funcional em idosos.
78 - Capítulo 5 | Envelhecimento e Sociedade – v. 2

Conforme Gomes (2013), “Muitos destes instrumentos foram de-


senvolvidos como teste de rastreio rápido para identificar risco de que-
das em idosos”. Berg Balance Scale (BERG), é um dos instrumentos
de avaliação funcional do equilíbrio mais usado em pesquisa. A escala
apresentou satisfatória correlação com medidas laboratoriais de oscila-
ção na plataforma de equilíbrio. Também mostrou boa correlação com
Barthel Mobility Subscale e Timed Up and Go Test (TUG), este teste
visa avaliar mobilidade, equilíbrio, capacidade de andar e risco de que-
da em adultos mais velhos.
Entretanto, Gomes (2013) comenta que não podemos esquecer da
escala de equilíbrio de Berg que têm tido larga utilização para avaliar o
equilíbrio na população acima dos 60 anos, sendo este, um instrumento
confiável para ser usado na avaliação do equilíbrio da população idosa.
Sendo composta por 14 itens envolvendo tarefas funcionais específicas
em diferentes bases de apoio, as tarefas envolvem o equilíbrio estático
e dinâmico tal como, alcançar, girar, transferir-se, permanecer de pé e
levantar-se. Cada item apresenta uma escala ordinal de 5 alternativas
que recebem uma pontuação entre 0 e 4, em função do desempenho do
utente, obtendo um escore total de 56 pontos.
O score desta escala é baseado na habilidade para executar
as tarefas em tempo e de forma independente e engloba
três dimensões: manutenção da posição, ajuste postural e
movimentos voluntários, já uma pontuação entre 0 a 20
indica mau equilíbrio, e entre 40 a 56 pontos indica bom
equilíbrio. (ARUKA; SILVA; CAMPACCI, 2014, p. 5).
Estes pontos devem ser subtraídos, caso o tempo ou a distância
não sejam atingidos ou o sujeito necessite de supervisão para a execu-
ção da tarefa ou de suporte no esterno.
O teste de POMA é dividido em duas partes, uma avalia o equilí-
brio, e a outra, a marcha. Composto por 22 tarefas, sendo que 13 delas
fazem parte da escala de equilíbrio, e as outras nove, da parte de ava-
liação da marcha.
Semelhantemente ao teste de Escala de equilíbrio de Berg (EEB),
a Escala de Equilíbrio de Tinetti e o Teste de Alcance Funcional (TAF),
ambos consistem em Instrumentos de avaliação do equilíbrio e marcha,
79 - Capítulo 5 | Envelhecimento e Sociedade – v. 2

onde contém diversas tarefas representativas das atividades de vida diá-


ria, as quais são avaliadas por meio da observação do examinador.
A Avaliação do Equilíbrio Orientada pelo Desempenho
pode ser classificada em três categorias: normal, adaptativa
e anormal, sendo as pontuações correspondentes a 3, 2 e
1, respectivamente, a Avaliação da Marcha Orientada pelo
Desempenho pode ser classificada em duas categorias:
normal e anormal, correspondendo a pontuações 2 e 1,
respectivamente (GOMES, 2013, p. 15-16).

Tabela 3 – Escala de equilíbrio de Berg

1) Posição sentada para (4) capaz de levantar-se sem


posição em pé utilizar as mãos e estabilizar-se
independentemente
Instrução: Por favor, levante-
se. Tente não usar suas mãos (3) capaz de levantar-se
para se apoiar. independentemente utilizando as
mãos

(2) capaz de levantar-se utilizando


as mãos após diversas tentativas

(1) necessita de ajuda mínima para


levantar-se ou estabilizar-se

(0) necessita de ajuda moderada ou


máxima para levantar-se
80 - Capítulo 5 | Envelhecimento e Sociedade – v. 2

2) Permanecer em pé sem (4) capaz de permanecer em pé com


apoio segurança por 2 minutos

Instrução: Por favor, fique (3) capaz de permanecer em pé por


em pé por 2 minutos sem 2 minutos com supervisão
se apoiar. Se o paciente for
capaz de permanecer em pé (2) capaz de permanecer em pé por
por 2 minutos sem apoio, dê o 30 segundos sem apoio
número total de pontos o item
Nº 3. Continue com o item
N°4. (1) necessita de várias tentativas
para permanecer em pé por 30
segundos sem apoio

(0) incapaz de permanecer em pé


por 30 segundos sem apoio
3) Permanecer sentado sem (4) capaz de permanecer sentado
apoio nas costas, mas com os com segurança e com firmeza por 2
pés apoiados no chão ou num minutos
banquinho
(3) capaz de permanecer sentado
Instrução: Por favor, fique por 2 minutos sob supervisão
sentado sem apoiar as costas
com os braços cruzados por 2 (2) capaz de permanecer sentado
minutos. por 30 segundos

(1) capaz de permanecer sentado


por 10 segundos

(0) incapaz de permanecer sentado


sem apoio durante 10 segundos
81 - Capítulo 5 | Envelhecimento e Sociedade – v. 2

4) Posição em pé para posição (4) senta-se com segurança com uso


sentada mínimo das mãos

Instrução: Por favor, sente-se. (3) controla a descida utilizando as


mãos

(2) utiliza a parte posterior das


pernas contra a cadeira para
controlar a descida

(1) senta-se independentemente,


mas tem descida sem controle

(0) necessita de ajuda para sentar-se


5) Transferências (4) capaz de transferir-se com
segurança com uso mínimo das
Instrução: Arrume as mãos
cadeiras perpendicularmente
ou uma de frente para a outra (3) capaz de transferir-se com
para uma transferência em segurança com o uso das mãos
pivô. Peça ao paciente para
transferir-se de uma cadeira (2) capaz de transferir-se seguindo
com apoio de braço para uma orientações verbais e/ou supervisão
cadeira sem apoio de braço, e
vice-versa.
(1) necessita de uma pessoa para
ajudar

(0) necessita de duas pessoas para


ajudar ou supervisionar para realizar
a tarefa com segurança
82 - Capítulo 5 | Envelhecimento e Sociedade – v. 2

6) Permanecer em pé sem (4) capaz de permanecer em pé por


apoio com os olhos fechados 10 segundos com segurança

Instrução: Por favor, fique (3) capaz de permanecer em pé por


em pé e feche os olhos por 10 10 segundos com supervisão
segundos.
(2) capaz de permanecer em pé por
3 segundos

(1) incapaz de permanecer com os


olhos fechados durante 3 segundos,
mas mantém-se em pé

(0) necessita de ajuda para não cair


7) Permanecer em pé sem (4) capaz de posicionar os pés juntos
apoio com os pés juntos independentemente e permanecer
por 1 minuto com segurança
Instrução: Junte seus pés e
fique em pé sem se apoiar. (3) capaz de posicionar os pés juntos
independentemente e permanecer
por 1 minuto com supervisão

(2) capaz de posicionar os pés juntos


independentemente e permanecer
por 30 segundos

(1) necessita de ajuda para


posicionar-se, mas é capaz de
permanecer com os pés juntos
durante 15 segundos

(0) necessita de ajuda para


posicionar-se e é incapaz de
permanecer nessa posição por 15
segundos
83 - Capítulo 5 | Envelhecimento e Sociedade – v. 2

8) Alcançar a frente (4) pode avançar a frente >25 cm


com o braço estendido com segurança
permanecendo em pé
(3) pode avançar a frente >12,5 cm
Instrução: Levante o braço a com segurança
90º. Estique os dedos e tente
alcançar a frente o mais longe (2) pode avançar a frente >5 cm com
possível. segurança

(1) pode avançar a frente, mas


necessita de supervisão

(0) perde o equilíbrio na tentativa,


ou necessita de apoio externo
9. Apanhar um objeto do chão ( ) 4 capaz de apanhar o chinelo
a partir da posição em pé facilmente e com segurança

( ) 3 capaz de apanhar o chinelo mas


necessita supervisão
Instrução: Pegar um sapato/
chinelo localizado a frente de ( ) 2 incapaz de apanhar o chinelo
seus pés mas alcança 2-5cm

( ) 1 incapaz de apanhar e necessita


supervisão enquanto tenta

( ) 0 incapaz de tentar / necessita


assistência para evitar perda de
equilíbrio ou queda
84 - Capítulo 5 | Envelhecimento e Sociedade – v. 2

10) Virar-se e olhar para trás (4) olha para trás de ambos os lados
por cima dos ombros direito e com uma boa distribuição do peso
esquerdo enquanto permanece
em pé (3) olha para trás somente de um
lado, o lado contrário demonstra
Instrução: Vire-se para olhar menor distribuição do peso
diretamente atrás de você por
cima do seu ombro esquerdo (2) vira somente para os lados, mas
sem tirar os pés do chão. Faça mantém o equilíbrio
o mesmo por cima do ombro
direito.
(1) necessita de supervisão para
virar

(0) necessita de ajuda para não


perder o equilíbrio ou cair
11) Girar 360 graus (4) capaz de girar 360 graus com
segurança em 4 segundos ou menos
Instrução: Gire-se
completamente ao redor de (3) capaz de girar 360 graus com
si mesmo. Pausa. Gire-se segurança somente para um lado em
completamente ao redor de si 4 segundos ou menos
mesmo em sentido contrário.
(2) capaz de girar 360 graus com
segurança, mas lentamente

(1) necessita de supervisão próxima


ou orientações verbais

(0) necessita de ajuda enquanto gira


85 - Capítulo 5 | Envelhecimento e Sociedade – v. 2

12) Posicionar os pés (4) capaz de permanecer em


alternadamente no degrau pé independentemente e com
ou banquinho enquanto segurança, completando 8
permanece em pé sem apoio movimentos em 20 segundos
(3) capaz de permanecer em pé
Instrução: Toque cada pé independentemente e completar 8
alternadamente no degrau/ movimentos em >20 segundos
banquinho. Continue até
que cada pé tenha tocado o (2) capaz de completar 4
degrau/ banquinho quatro movimentos sem ajuda
vezes.
(1) capaz de completar >2
movimentos com o mínimo de ajuda

(0) incapaz de tentar, ou necessita


de ajuda para não cair
13) Permanecer em pé sem (4) capaz de colocar um pé
apoio com um pé à frente imediatamente à frente do outro,
independentemente, e permanecer
Instrução: Coloque um pé por 30 segundos
diretamente à frente do outro
na mesma linha, se você achar (3) capaz de colocar um pé
que não irá conseguir, coloque um pouco mais à frente do
o pé um pouco mais à frente outro e levemente para o lado,
do outro pé e levemente para independentemente, e permanecer
o lado. por 30 segundos

(2) capaz de dar um pequeno passo,


independentemente, e permanecer
por 30 segundos

(1) necessita de ajuda para dar o


passo, porém permanece por 15
segundos

(0) perde o equilíbrio ao tentar dar


um passo ou ficar de pé
86 - Capítulo 5 | Envelhecimento e Sociedade – v. 2

14) Permanecer em pé sobre (4) capaz de levantar uma perna


uma perna independentemente e permanecer
por >10 segundos
Instrução: Fique em pé sobre
uma perna o máximo que você (3) capaz de levantar uma perna
puder sem se segurar. independentemente e permanecer
por 5-10 segundos

(2) capaz de levantar uma perna


independentemente e permanecer
por ≥ 3 segundos

(1) tenta levantar uma perna, mas


é incapaz de permanecer por 3
segundos, embora permaneça em pé
independentemente

(0) incapaz de tentar, ou necessita de


ajuda para não cair
( ) PONTUAÇÃO TOTAL (máximo = 56) | Fonte: Miyamoto (2004); Berg ( 1992).

Teste de equilíbrio
(Instruções: Sujeito sentado em uma cadeira rígida, sem braços)
Tabela 4 – Teste de Tinetti

1) Equilíbrio sentado (0) Inclina-se ou desliza na cadeira

(1) Estável, seguro


2) Levanta-se da cadeira: (0) Incapaz sem ajuda

(1) Capaz, usa membros superiores


para auxiliar

(2) Capaz sem usar membros


superiores
87 - Capítulo 5 | Envelhecimento e Sociedade – v. 2

3) Tentativas para se (0) Incapaz sem ajuda


levantar:
(1) Capaz, requer mais de uma
tentativa

(2) Capaz de se levantar, uma


tentativa
4) Equilíbrio de pé imediato (0) Instável (cambaleia, move os
(primeiros 5 segundos) pés, oscila o tronco)

(1) Estável, mas usa dispositivo de


auxílio à marcha

(2) Estável sem dispositivo de


auxílio
5) Equilíbrio de pé: (0) Instável

(1) Instável, mas aumenta a base


de suporte (entre os calcanhares
> 10 cm de afastamento) e usa
dispositivo de auxílio

(2) Diminuição da base sem


dispositivo de auxílio
6) Desequilíbrio no esterno (0) Começa a cair
(sujeito na posição de pé
com os pés o mais próximo (1) Cambelaia, se agarra e se
possível, o examinador segura em si mesmo
empurra suavemente o
sujeito na altura do esterno
(2) Estável
com a palma da mão 3
vezes seguidas:
7) Olhos fechados: 0) Instável

(1) Estável
88 - Capítulo 5 | Envelhecimento e Sociedade – v. 2

8) Girar 360°: (0) Instabilidade (se agarra,


cambaleia)

(1) Passos descontinuados

(2) Continuidade
9) Sentar-se: (0) Inseguro (não avalia bem a
distância, cai na cadeira)

(1) Usa os braços ou não tem


movimentos suaves

(2) Seguro, movimentos suave


Escore de equilíbrio: ______/16
Fonte: Shumway-cook (1997).

Teste de marcha
(Instruções: Sujeito de pé com o examinador, caminha num corre-
dor ou na sala, primeiro no seu ritmo usual e, em seguida, rápido, porém
muito seguro, com os dispositivos de auxílio à marcha usuais):

1) Iniciação da marcha: (0) Imediato e após o comando Vá


(qualquer hesitação ou múltiplas
tentativas para iniciar)

(1) Sem hesitação


89 - Capítulo 5 | Envelhecimento e Sociedade – v. 2

2) Comprimento e altura a) Perna D em balanceio:


do passo:
(0) Não passa o membro E

(1) Passa o membro E

(0) Pé D não se afasta completamente


do solo com o passo

(1) Pé D se afasta completamente do


solo

b) Perna E em balanceio:

(0) Não passa o membro D

(1) Passa o membro D

(0) Pé E não se afasta completamente


do solo com o passo

(1) Pé E se afasta completamente do


solo
3) Simetria do passo 0) Passos D e E desiguais

(1) Passos D e E parecem iguais


4) Continuidade do passo: 0) Parada ou descontinuidade entre os
passos

(1) Passos parecem contínuos


90 - Capítulo 5 | Envelhecimento e Sociedade – v. 2

5) Desvio da linha reta (0) Desvio marcado


(distância aproximada de 3
m X 30 cm): (1) Desvio leve e moderado ou usa
dispositivo de auxílio à marcha

(2) Caminha em linha reta sem


dispositivo de auxílio
6) Tronco: (0) Oscilação marcada ou usa
dispositivo de auxílio à marcha

(1) Sem oscilação, mas com flexão


de joelhos ou dor lombar ou afasta os
braços enquanto anda

(2) Sem oscilação, sem flexão, sem


uso dos braços ou de dispositivo de
auxílio à marcha
7) Base de apoio: 0) Calcanhares afastados

(1) Calcanhares quase se tocando


durante a marcha
Escore de marcha: ______/12
Escore Total ______/28 | Fonte: Shumway-cook (1997).

As Avaliações do Equilíbrio e da Marcha Orientada totalizam, por-


tanto, no máximo 38 e 18 pontos, respectivamente (máximo de 56 pontos
na soma das escalas). Ainda não foram descritas, na literatura, as pon-
tuações de corte que representam riscos de queda para a POMA-Brasil.
Os escores atualmente relatados correspondem à Escala de Tinetti, que
originalmente possui 16 tarefas (nove na escala de equilíbrio e sete para
avaliação da marcha), e cuja pontuação varia de 0 a 28 pontos no má-
ximo. Escores abaixo de 19 pontos e entre 19 e 24 pontos representam,
respectivamente, um alto e moderado risco de quedas.
A atenção integral à saúde do idoso tem como objetivos a pro-
moção do envelhecimento saudável, a manutenção da capacidade fun-
cional, a assistência às necessidades de saúde do idoso e a reabilitação
funcional comprometida. A maioria dos idosos apresenta alguma doen-
91 - Capítulo 5 | Envelhecimento e Sociedade – v. 2

ça crônica decorrente da perda contínua da função de órgãos e sistemas


biológicos. Essa perda de função pode ou não levar a limitações funcio-
nais e consequentemente e a incapacidades.
Dentre os instrumentos de avaliação do equilíbrio utilizados, res-
salta-se a vantagem da EEB e da POMA em relação às demais, visto
que elas avaliam muitos aspectos diferentes do equilíbrio e necessitam
de poucos equipamentos para serem administradas. No entanto, o tempo
necessário para administrar esses testes são mais longos em compara-
ção ao TUG e ao TAF. Referentemente às características psicométricas
das escalas, cabe ressaltar que tanto a EEB quanto a POMA avaliam o
equilíbrio do indivíduo em situações representativas de atividades do
dia a dia, tais como ficar de pé, levantar-se, inclinar-se à frente, virar-
-se, dentre outras.
No entanto, a EEB apresenta melhor detalhamento para descrever
e classificar o desempenho em cada tarefa proposta, pois cada ativida-
de pode ser pontuada em cinco níveis qualitativos, já a POMA permite
pontuação em três subníveis para cada tarefa. Uma desvantagem apre-
sentada por ambas as escalas é a baixa especificidade no que se refere
aos idosos com melhor capacidade funcional, há limitações na pontuação
quanto a mudanças de equilíbrio mais sutis, o que leva ao efeito teto de
pontuação a partir deste estudo, pode-se dizer que a POMA é ainda mais
suscetível a esse efeito do que a outros, pois apresenta melhor efeito.

Conclusão
Biologicamente, o envelhecimento é um processo natural, dinâ-
mico, progressivo e irreversível, que se instala em cada indivíduo, des-
de o nascimento, e o acompanha por todo o tempo de vida, terminando
com a morte. Fisiologicamente, o organismo torna-se fragilizado por
esse processo gerando assim modificações funcionais e estruturais que
diminuem a vitalidade, favorecendo o aparecimento de doenças crôni-
cas, sendo fundamental para o profissional da saúde, conhecer a fisiopa-
tologia dessas modificações e as melhores ferramentas avaliativas para
elaborar as estratégias de tratamento.
92 - Capítulo 5 | Envelhecimento e Sociedade – v. 2

Exercícios
1) De acordo com as estimativas da ONU (Organização das Nações
Unidas), assinale a alternativa correspondente a porcentagem mundial
de idosos em 2050:
a) Menos de 10% da população mundial;
b) Mais que 20% da população mundial;
c) 50% da população mundial;
d) 80% da população mundial;
e) 97% da população mundial.
Resposta correta ao final do capítulo.

2) Instrumento confiável para ser usado na avaliação do equilíbrio da popula-


ção idosa, sendo composto por 14 itens, assinale a alternativa correspondente:
a) Escala de TINETTI;
b) Escala de GDS;
c) Escala de BRADEN;
d) Escala de BERG;
e) Escala de POMA.
Resposta correta ao final do capítulo.

3) Assinale a alternativa que melhor caracteriza um quadro de demencial:


a) Múltiplos déficits cognitivos, incluindo comprometimento da memória e
afasia, apraxia, agnosia ou uma perturbação do funcionamento executivo;
b) Moderado déficits cognitivos, incluindo comprometimento de memó-
ria, marcha e equilíbrio;
c) Pouco déficits motores e cognitivos, incluindo afasia, apraxia e dis-
túrbios de equilíbrio;
d) Nenhum déficit motor e múltiplos déficits cognitivos, com compro-
metimento apenas da marcha e da afasia;
e) Nenhum déficit cognitivo e múltiplos déficits motores, com compro-
metimentos do equilíbrio e da agnosia.
Resposta correta ao final do capítulo.
93 - Capítulo 5 | Envelhecimento e Sociedade – v. 2

4) Qual melhor instrumento para auxiliar nos déficits de orientação, me-


mória e atenção?
a) Berg Balance Scale;
b) TUGT;
c) Time Up and Go;
d) POMA;
e) MEEM.
Resposta correta ao final do capítulo.

5) Assinale a alternativa que melhor define o termo equilíbrio?


a) Habilidade de manter o excesso do corpo na base de fixação com di-
versos eixos, com movimentos lentos e precisos, sendo ajustado a per-
turbações internas;
b) Habilidade de sustentação, deslocando o peso do corpo, rapidamente
e precisamente, em diferentes direções a partir do seu centro, locomo-
ver-se com segurança e velocidade e de maneira coordenada e, ajustan-
do-se a perturbações externas;
c) Habilidade de fixar a massa do corpo em relação ao eixo da terra, com
grandes deslocamentos internos e externos, locomovendo se com falta
de segurança e com lenta velocidade;
d) Deslocamento rápido e contínuo das informações visuais, com equi-
líbrio contínuo e larga segurança;
e) Habilidade de manter o centro da massa do corpo na base de sustenta-
ção alargada e com insegurança constante e velocidade não coordenada.
Resposta correta ao final do capítulo.

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94 - Capítulo 5 | Envelhecimento e Sociedade – v. 2

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Gabarito
1. b | 2. d | 3. a | 4. e | 5. b
95 - Capítulo 6 | Envelhecimento e Sociedade – v. 2

Capítulo 6
REABILITAÇÃO E PREVENÇÃO
DOS COMPROMETIMENTOS DO
ENVELHECIMENTO E QUALIDADE DE VIDA

Natalie Souza de Andrade

Introdução
O crescimento da população de idosos, em números relativos e
absolutos, é um fenômeno mundial e está ocorrendo em um nível sem
precedentes, segundo o que as projeções indicam, em 2050, a população
idosa será de 1.900 milhões de pessoa. O processo de envelhecimento
transforma o organismo ao longo do ciclo vital de forma progressiva e
universal, podendo ser um processo multifatorial que sofre influências in-
trínsecas e extrínsecas, fazendo com que se manifeste de maneira peculiar
e individual. Mediante essas influências, torna- se necessário o conheci-
mento das diversas patologias inerentes no processo de envelhecimen-
to e principalmente a reabilitação e prevenção dos comprometimentos
que o envelhecimento pode levar, afetando a qualidade de vida do idoso.
Atualmente, no Brasil, os idosos representam cerca de 10% da po-
pulação geral, o censo demográfico brasileiro de 2000 evidenciou que
15,5 milhões de pessoas têm 60 anos ou mais, projetando um crescimen-
to para 18 milhões até 2010 e 25 milhões até 2025. Esse aumento no nú-
mero de idosos, dentre outros fatores, suscita a necessidade de retomar
as discussões que permeiam a crise no setor saúde.
Segundo dados do IBGE, enquanto, em 1950, somente 4% da po-
pulação tinham mais de 60 anos, em 1980, 6,4%, e que a projeção para
o ano de 2025, é de 15%. Sendo assim, é possível afirmar que a socie-
dade está sendo colhida de surpresa frente ao envelhecimento popula-
cional. O envelhecimento populacional deve-se ao avanço da promoção
de saúde nas últimas décadas, na qual se obtiveram o controle das do-
96 - Capítulo 6 | Envelhecimento e Sociedade – v. 2

enças infectocontagiosas e a diminuição da taxa de mortalidade infantil


e da taxa de natalidade.
Em decorrência disso, ocasionou-se uma mudança no perfil demo-
gráfico e epidemiológico da população. Entretanto, é interessante obser-
var o envelhecimento dentro da própria população idosa, pois podemos
observar que, enquanto 17% dos idosos de ambos os sexos tinham 80
anos ou mais de idade, em 2050 corresponderão, provavelmente, a apro-
ximadamente 28%.
Outro diferencial provém do fato de que a expectativa de vida mé-
dia dos brasileiros aumentou em quase 25 anos, nos últimos 50 anos,
sem que tenhamos observado melhoras significativas nas condições de
vida e de saúde da população. Devido a esse importante fator, torna-se
necessário o amplo conhecimento sobre possíveis prevenções e reabilita-
ções voltadas para o comprometimento do processo de envelhecimento,
promovendo assim uma melhora da qualidade de vida e independência
funcional.

Objetivos
Ao final deste capítulo, o leitor será capaz de:
• Identificar quais as dimensões que mais diretamente comprome-
tem a capacidade funcional no envelhecimento;
• Conhecer possíveis soluções que possam colaborar na melhoria
da qualidade de vida dos idosos;
• Verificar a influência da reabilitação no envelhecimento e a pre-
servação da capacidade funcional do idoso.

Envelhecimento e qualidade de vida


Um estilo de vida ativo tem sido amplamente valorizado pela mídia
e sociedade em geral como uma forma de melhorar a qualidade de vida
dos indivíduos, premissa que continuamente tem servido como estímu-
lo para a prática de atividade física. O lazer, os momentos de descontra-
ção e a prática de atividades físicas podem proporcionar o relaxamento
do corpo e da mente, melhora do aspecto biológico, fisiológico, a me-
lhora do estresse e as tensões vívidas no dia-a-dia.
97 - Capítulo 6 | Envelhecimento e Sociedade – v. 2

Envelhecer é um processo natural que implica mudanças gradu-


ais e inevitáveis relacionadas à idade e sucede a despeito de o indivíduo
gozar de boa saúde e ter um estilo de vida ativo e saudável. Conforme
Bueno et al, (2008) “No ser humano, esse fenômeno progressivo, além
de desencadear o desgaste orgânico, provoca alterações nos aspectos
culturais, sociais e emocionais, que contribuem para que se instale em
diferentes idades cronológicas. ”
A Organização Mundial da Saúde (OMS) considera o enve-
lhecer como um processo sequencial, individual, cumulati-
vo, irreversível, universal, não patológico de deterioração
de um organismo maduro, próprio a todos os membros de
uma espécie, de maneira que o tempo o torne menos capaz
de fazer frente ao estresse do meio ambiente e, portanto, au-
mente sua possibilidade de morte (VERAS, 2012, p. 1835).
Ainda para a OMS, o limite de idade entre o indivíduo adulto e
o idoso é 65 anos em nações desenvolvidas e 60 anos nos países emer-
gentes. Logo, o envelhecimento populacional é uma consequência do
desenvolvimento.
O aumento proporcional de indivíduos idosos, adicionado ao de-
clínio das taxas de fecundidade e ao desenvolvimento tecnológico e tera-
pêutico no tratamento de doenças, especialmente as crônicas, influencia
a tendência de alteração da estrutura etária da população, especialmen-
te no Brasil, com o consequente aumento do contingente de indivídu-
os com mais de 60 anos, resultado do envelhecimento populacional que
ocorreu em um curto período, trazendo importante impacto para o sis-
tema de saúde.
O envelhecimento é algo que ocorre paulatinamente, uma vez que
o indivíduo começa a envelhecer ao nascer. De acordo com Abrisqueta-
Gomes (2016) “Entretanto, considerando os aspectos biofuncionais, co-
meça na segunda década de vida, embora de forma imperceptível”. No
final da terceira década surgem as primeiras alterações funcionais e es-
truturais e, a partir da quarta, há uma perda de aproximadamente 1% da
função/ano, nos diferentes sistemas orgânicos.
Assim, cada sujeito envelhece a seu modo, dependendo de variá-
veis como o sexo, origem, lugar em que vive, tamanho da família, apti-
98 - Capítulo 6 | Envelhecimento e Sociedade – v. 2

dões para a vida e as experiências vivenciadas. A exposição ao estresse


ou ao tabagismo, a falta de exercícios ou a nutrição inadequada são outros
fatores que contribuem para determinar a qualidade do envelhecimento.
O envelhecimento e a doença não podem ser tratados como fato-
res intimamente dependentes ou interligados, porém existe maior vul-
nerabilidade a adoecer, ou seja, uma predisposição à doença. A saúde e
a qualidade de vida dos idosos, mais que em outros grupos etários, so-
frem influência de múltiplos fatores: físicos, psicológicos, sociais e cul-
turais, de tal forma que avaliar e promover a saúde do idoso significa
considerar variáveis de distintos campos do saber, numa atuação inter-
disciplinar e multidimensional.
Conforme Barbosa, Antônio e Bankoff (2008), “A assistência ao
idoso deve prezar pela manutenção da qualidade de vida, consideran-
do os processos de perdas próprias do envelhecimento e as possibilida-
des de prevenção, manutenção e reabilitação do seu estado de saúde”.
Considerando que o processo saúde doença é um fenômeno complexo,
socialmente determinado e modulado por condicionantes biológicos, psi-
cológicos, culturais, econômicos e políticos, as necessidades de saúde
dos idosos referem-se a múltiplas dimensões do real e dizem respeito à
singularidade dos fenômenos de saúde ou doença que afetam os indiví-
duos e suas famílias.
Tal como as demais necessidades humanas, as necessidades de
saúde são social e historicamente determinadas e situam-se entre natu-
reza e cultura, ou seja, não dizem respeito tão somente à conservação da
vida, mas à realização de um projeto em que o indivíduo, situado entre
o particular e o genérico, progressivamente se humaniza.
Apesar dessas colocações, na sociedade ocidental a preocupa-
ção com o envelhecimento das populações e suas consequências psico-
lógicas, sociais e econômicas é recente e a atenção tem sido orientada
e limitada a certos auxílios às necessidades biológicas de alimentação,
saúde física e asilo.
Como prática social, o cuidado organiza-se para atender necessi-
dades de saúde; entretanto, pode ou não corresponder às necessidades
concretas dos grupos sociais, visto que as relações entre as necessidades
de saúde e as práticas de cuidado podem estar dissociadas, apreendidas
99 - Capítulo 6 | Envelhecimento e Sociedade – v. 2

a partir dos significados econômicos, políticos e ideológicos, captados


em sua historicidade e em sociedades concretas.
Essa segunda perspectiva remete à compreensão e avaliação
das características e dos resultados das práticas em saúde
em função de sua utilidade, viabilidade, exatidão e ética,
é função das políticas de saúde contribuir para que mais
pessoas atinjam idades mais avançadas com o melhor
estado de saúde possível, ou seja, o envelhecimento
ativo e saudável é o grande objetivo nesse processo
(CANDELORO; CAROMONO, 2007, p. 305).
O reconhecimento e o enfrentamento das necessidades de saúde
estão estreitamente vinculados a princípios básicos do Sistema Único
de Saúde (SUS), em especial aos conceitos de integralidade e equidade,
na medida em que exigem por parte das equipes de saúde o esforço de
tradução e atendimento dessas necessidades, exigindo ações articuladas
e complementares, no cuidado de cada profissional, de cada equipe e da
rede de serviços de saúde, que, por sua vez, dependem de informações atu-
alizadas, concretas e específicas dos diversos segmentos da comunidade.
Bueno et al, (2008), comentam que a ideia de que a velhice é do-
minada pela doença nem sempre se mostra como realidade, pois, mes-
mo existindo perdas, tanto no nível biológico como econômico, social e
psicológico, a manutenção das atividades e do engajamento social e fa-
miliar favorece o envelhecimento saudável.
Na busca de oferecer melhores condições de assistir o idoso
e preocupado com a projeção de aumento dessa população
na sociedade brasileira, o Estatuto do Idoso (Lei nº 10.741,
de outubro de 2003) representa um grande avanço na legis-
lação, embora ainda exista uma grande lacuna entre desejo
e realidade. (POMPEO; ROSSI; GALVÃO, 2009, p. 18).
Entretanto, esses mesmos autores comentam que para facilitar o
acesso da população idosa aos serviços de saúde, principalmente tendo
como porta de entrada a Atenção Básica, considerando suas limitações,
deve ser a preocupação dos profissionais de saúde. Em relação à saú-
de do idoso, vários são os aspectos que inquietam. Conforme Greguol e
Costa (2013), “De um lado, o envelhecer como um processo progressivo
100 - Capítulo 6 | Envelhecimento e Sociedade – v. 2

de diminuição de reserva funcional a senescência e, do outro, o desen-


volvimento de uma condição patológica por estresse emocional, aciden-
te ou doenças a senilidade”.
Ambos exigem intervenções dos profissionais de saúde, com atu-
ações focadas nesse segmento populacional. O maior desafio na atenção
à pessoa idosa é contribuir para que, apesar das progressivas limitações
que possam ocorrer, ela possa redescobrir possibilidades de viver sua
própria vida com a máxima qualidade possível. Essa possibilidade au-
menta à medida que a sociedade considera o contexto familiar e social
e consegue reconhecer as potencialidades e o valor das pessoas idosas,
pois parte das suas dificuldades está mais relacionada a uma cultura que
as desvaloriza e limita. Assim, vários temas têm sido eleitos como obje-
to de pesquisa, dos quais podemos destacar a integralidade na assistên-
cia à saúde do idoso, os agravos à sua saúde, o enfrentamento da doença
crônica e o cuidado no domicílio.
Com vistas a compreender essa dinâmica e os mecanismos envol-
vidos nos processos de atenção ao idoso, é importante conhecer o fun-
cionamento de sistemas locais de saúde, as experiências concretas de
gestores, gerentes e trabalhadores das Equipes Saúde da Família (ESF),
especialmente naquelas em que o crescimento dessa população vem cha-
mando a atenção, como é o caso do Município de Santos, SP, através do
viés da integralidade.
O aumento de traumas nos idosos é outro aspecto que tem cha-
mado a atenção dos gestores em saúde, visto que, além dos agravos de-
correntes desse incidente, se somam as doenças degenerativas, comuns
nessa faixa etária e que comprometem a recuperação e a reinserção des-
se segmento na comunidade.
Buscar indicadores para a prevenção do trauma, principalmente
aqueles provocados por quedas, que é o mais comum entre os idosos, foi
objetivo de outra investigação que sinalizou para a questão de gênero,
as medicações de uso contínuo, problemas de audição e visão, presença
de cuidador, como pontos a serem apontados para o risco de quedas. O
conceito de qualidade de vida está relacionado à autoestima e ao bem-
-estar pessoal e abrange uma série de aspectos como a capacidade fun-
cional, o nível socioeconômico, o estado emocional, a interação social,
101 - Capítulo 6 | Envelhecimento e Sociedade – v. 2

a atividade intelectual, o autocuidado, o suporte familiar, o próprio es-


tado de saúde, os valores culturais, éticos e a religiosidade, o estilo de
vida, a satisfação com o emprego e/ou com atividades diárias e o am-
biente em que se vive.
É um conceito subjetivo, dependente do nível sociocultural, da fai-
xa etária e das aspirações pessoais do indivíduo, alguns autores explicam
que a assistência ao idoso deve prezar pela manutenção da qualidade de
vida, considerando os processos de perdas próprias do envelhecimento
e as possibilidades de prevenção, manutenção e reabilitação do seu es-
tado de saúde”. Os autores afirmam ainda, que a ideia de que a velhice
é dominada pela doença nem sempre se mostra como realidade, pois,
mesmo existindo perdas, tanto no nível biológico como econômico, so-
cial e psicológico, a manutenção das atividades e do engajamento social
e familiar favorece o envelhecimento saudável.
O estilo de vida fisicamente ativo permite uma maior interação do
idoso com a família e amigos, ter uma vida mais independente e geral-
mente resulta em menores gastos relacionados à saúde do indivíduo. De
acordo com o conhecimento científico atual, as cinco grandes catego-
rias de fatores de risco que retiram qualidade e anos de vida são álcool,
tabaco, estresse, atividade física inadequada e alimentação inadequada.
A prática de atividades físicas entre os idosos favorece a intera-
ção social, melhora a auto eficácia e proporciona uma maior sensação
de controle sobre os eventos e demandas do meio. Além disso, influen-
cia na melhora do humor, redução das respostas fisiológicas ao estres-
se, efeitos positivos na imagem corporal, no funcionamento cognitivo
e na autoestima, além de melhora na qualidade do sono e maior satisfa-
ção com a vida. Assim, é possível que o envelhecimento saudável seja
conquistado por indivíduos que desde a juventude, ou antes, tenham se
preocupado em fazer uso de uma dieta adequada e de práticas esporti-
vas, não se tornar dependente químico ou de fatores debilitantes, como
alto nível de estresse físico e mental.
102 - Capítulo 6 | Envelhecimento e Sociedade – v. 2

Figura 1 – O idoso e a atividade física | Fonte: 123rf – Wavebreak Media Ltd.

É fundamental que haja investigação diagnóstica o mais precoce-


mente possível para que sejam implantadas medidas capazes de minimi-
zar, temporariamente estabilizar ou postergar a progressão deste processo
degenerativo, como o tratamento medicamentoso e o neuropsicológico.
A recuperação de funções cognitivas depende tanto da plasticidade neu-
ral, que é a habilidade do cérebro em recuperar uma função através de
proliferação neural, migração e interações sinápticas, quanto de plasti-
cidade funcional, isto é, o grau de recuperação possível de uma função
por meio de estratégias de comportamento alteradas.
Tal recuperação é primeiramente determinada pela idade, localiza-
ção neural e função envolvida, mas também por fatores como comprome-
timento cerebral bilateral, presença de comorbidades, níveis pré-mórbidos
de funcionamento cognitivo, entre outros. Igualmente importantes são
os fatores sociais, econômicos e culturais.
A reabilitação cognitiva objetiva e o restauro funcional, isto é, o
fortalecimento de padrões de comportamento cognitivo aprendido e es-
tratégias compensatórias, representados pelo aprendizado de novos pa-
drões que permitam ao paciente lidar com as disfunções persistentes.
De acordo com Dias (2010) “A estratégia de reverberação da informa-
ção por intervalos de tempo tem se mostrado efetiva em pacientes com
mobilidade prejudicada”.
103 - Capítulo 6 | Envelhecimento e Sociedade – v. 2

O exercício físico é uma forma de lazer e de restaurar a saúde dos


efeitos nocivos que a rotina estressante do trabalho e do estudo traz. O
ato de exercitar-se precisa estar incorporado não somente ao cotidiano
das pessoas, mas também à cultura popular, aos tratamentos médicos,
ao planejamento da família e à educação infantil. Essa necessidade se
dá por diferentes fatores: do fator social, quando se proporciona ao ho-
mem o direito de estar ativo fisicamente em grupo, ao fator econômico,
quando se constata que os custos com saúde individual e coletiva caem
em populações fisicamente ativas.
O tratamento fisioterapêutico permite um contato próximo entre
profissional e paciente, pois habitualmente são realizadas várias sessões
entre eles, quando certos procedimentos são aplicados até atingir-se a
recuperação física. No entanto, ao se pensar em quedas de idosos, esses
mesmos indivíduos já reabilitados voltam para casa e continuam a se ex-
por aos riscos domésticos que, em geral, são imperceptíveis aos olhos de
quem habita aquele lar há tantos anos. Contudo, basta uma desatenção,
ou, num plano mais sério, um pequeno rebaixamento da percepção de
perigo, para que se produza a queda, ou as condições para que ela acon-
teça. Sendo assim, o efetivo tratamento deve basear-se não somente no
prontuário de técnicas aplicáveis à reabilitação, mas numa adequada in-
formação a esses indivíduos para o conhecimento dos riscos e cuidados
preventivos após o término da Fisioterapia.

Figura 2 – Fisioterapia em gerontologia | Fonte: 123rf – rido.


104 - Capítulo 6 | Envelhecimento e Sociedade – v. 2

É possível observar como este processo pode ser complexo, sub-


jetivo, difícil de mensurar e dependente de muitos fatores individuais do
paciente, da equipe de atendimento e das condições ambientais e psicos-
sociais. É sabido dizer que, hipoteticamente impossível tornar as pessoas
com déficits cognitivos exatamente como eram antes do acometimen-
to neurológico. O retorno às atividades realizadas antes da doença nem
sempre se faz possível principalmente pelas limitações físicas, cognitivas
e emocionais experimentadas pelo paciente. De acordo com a literatura,
os exercícios fisioterapêuticos influenciam na manutenção da memória e
da capacidade funcional dos indivíduos, em virtude da melhora da am-
plitude de movimento, do equilíbrio e força muscular.

Conclusão
A expectativa de vida média dos brasileiros aumentou em quase
25 anos, nos últimos 50 anos, sem que tenhamos observado melhoras
significativas nas condições de vida e de saúde da população, portanto,
é necessário cada vez mais se investir em métodos de prevenção e rea-
bilitação das funções executivas e da comunicação. Independentemente
da técnica a ser escolhida, deve-se possuir como meta o restabelecimen-
to máximo possível da independência do paciente. Ademais, as técnicas
podem ser combinadas entre si, potencializando seus benefícios, no en-
tanto, não é apenas a escolha da técnica que determinará se a interven-
ção será ou não eficaz, aspectos formais do tratamento, como frequência
e duração das sessões e se o programa proposto poderia manter as con-
dições cognitiva e motora, proporcionando ganho de força, melhora do
equilíbrio e da função cognitiva; também são importantes para o prog-
nóstico a favor da independência do paciente, bem como da redução da
incapacidade funcional.
105 - Capítulo 6 | Envelhecimento e Sociedade – v. 2

Exercícios
1) Nas últimas décadas, o Brasil evidenciou uma mudança no perfil de-
mográfico da população, sobretudo, em razão do aumento do número de
pessoas com mais de 60 anos. Diante desse cenário, destacam-se alguns
fatores que contribuem para o envelhecimento populacional, exceto:
a) Promoção na área da saúde;
b) Maior controle das doenças infectocontagiosas;
c) Redução das taxas de mortalidade infantil e natalidade;
d) Aumento da expectativa média de vida;
e) Piora da qualidade de vida dentro do envelhecimento.
Resposta correta ao final do capítulo.

2) Assinale a alternativa incorreta:


a) A projeção para o ano de 2025, segundo dados do IBGE, é de um de-
créscimo do número de idosos no Brasil;
b) Os fatores físicos, psicológicos, sociais e culturais, influenciam a saú-
de e a qualidade de vida dos idosos;
c) O estresse e o tabagismo contribuem para a piora na qualidade do
envelhecimento;
d) O envelhecimento populacional é uma consequência do desenvolvimento;
e) O engajamento social e familiar favorece o envelhecimento saudável.
Resposta correta ao final do capítulo.

3) Qual dos elementos abaixo destacados não está associado ao concei-


to de qualidade de vida da população idosa?
a) Autoestima;
b) Bem-estar pessoal;
c) Utilização de medicamentos de uso contínuo;
d) Capacidade funcional;
e) Suporte familiar.
Resposta correta ao final do capítulo.
106 - Capítulo 6 | Envelhecimento e Sociedade – v. 2

4) Dentre as alternativas abaixo, assinale aquela que não se relaciona com


as categorias de fatores de risco que retiram qualidade e anos de vida:
a) Estresse;
b) Tabaco;
c) Alimentação inadequada;
d) Engajamento social e familiar;
e) Álcool.
Resposta correta ao final do capítulo.

5) Assinale a alternativa que não se relaciona aos benefícios proporcio-


nados com a prática de atividades físicas entre os idosos:
a) Decréscimo das funções cognitivas;
b) Melhora no humor;
c) Interação Social;
d) Maior qualidade de sono;
e) Efeito positivo na imagem corporal.
Resposta correta ao final do capítulo.

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POMPEO, D. A.; ROSSI, L. A.; GALVAO, C.M. Revisão integrativa:


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ais modelos. Cadernos de Saúde Pública, Rio de Janeiro, v. 28, n. 10,
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Gabarito
1. e | 2. a | 3. c | 4. d | 5. a
108 - Envelhecimento e Sociedade – v. 2

AUTORES

Andrezza Sossai Rodrigues de Carvalho


Ingressou na Universidade Nove de Julho (UNINOVE), como docente,
desde 2008 até a data atual. Desempenhou também a função de super-
visora do Estágio em Neurologia Adulto na Clínica Integrada de Saúde
desta instituição. É Fisioterapeuta, formada na Universidade Santa Cecília
em 2004. Especialista em Doenças Neuromusculares pela UNIFESP, for-
mada em 2005, local onde também concluiu o Mestrado em Ciências,
no ano de 2007.

Beatriz Guimarães Ribeiro


Docente da Universidade Nove de Julho (UNINOVE) nos cursos
de Fisioterapia e Medicina. Foi bolsista no curso de Fisioterapia da
UNINOVE, sendo graduada em 2011. Em 2012 Pós-Graduação Latu
Sensu em Traumato-ortopedia e Desportiva pela Universidade Nove de
Julho (UNINOVE). No ano seguinte, defesa dissertação para conclusão
do Mestrado em Ciências da Reabilitação pela Universidade Nove de
Julho (UNINOVE) tendo como linha de pesquisa a fototerapia no repa-
ro muscular. Doutorado em Ciências da Reabilitação pela mesma insti-
tuição, defendendo a tese em 2017.

Fernanda Ishida Corrêa


Professora do programa de Mestrado e Doutorado em Ciências da reabilita-
ção da Universidade Nove de Julho (UNINOVE) e Professora do curso de
graduação em Fisioterapia. Graduada em Fisioterapia pela Universidade
do estado de São Paulo – UNESP. Mestrado e Doutorado em engenharia
Biomédica pela Universidade do vale do Paraíba – UNIVAP.

Nadhia Helena Costa Souza


Docente dos cursos de: Medicina, Fisioterapia e Tecnologia em Estética
e Cosmética da Universidade Nove de Julho (UNINOVE). Graduada em
109 - Envelhecimento e Sociedade – v. 2

Fisioterapia pela Universidade Nove de Julho (UNINOVE) (2007-2010),


Especialista em Fisioterapia Traumato-Ortopedia e Desportiva pela
Universidade Nove de Julho (UNINOVE) (2011), Mestre em Ciências
da Reabilitação pela Universidade Nove de Julho (UNINOVE) (2011-
2012), Doutora em Ciências da Reabilitação pela Universidade Nove de
Julho (UNINOVE) (2013-2016).

Natalie de Sousa Andrade


Docente dos cursos de fisioterapia e estética da Universidade Nove de
Julho (UNINOVE). Fisioterapeuta formada desde 2006, Pós-Graduada
em geriatria e gerontologia, Pós-Graduada em dermatofuncional, Pós-
Graduada em acupuntura, mestre em terapia intensiva, mestre em ciên-
cias do envelhecimento e doutoranda em educação física. Atua na área
de fisioterapia geriátrica e gerontológica há mais de 10 anos.

Patrícia Lira dos Santos


Docente do curso de Fisioterapia e Medicina da Universidade Nove de
Julho (UNINOVE). Sua trajetória na universidade iniciou-se em 2007
como aluna do curso de Fisioterapia e desde então, segue sua carreira
na universidade. É especialista em Terapia Intensiva pela Associação de
Medicina Intensiva (AMIB) e pela UNIFESP, atuou por alguns anos em
Unidade de Terapia Intensiva e Emergência em diversos hospitais de re-
ferências em São Paulo. É pesquisadora no laboratório de reabilitação
cardiopulmonar, doutoranda e mestre em Ciências da Reabilitação pela
Universidade Nove de Julho (UNINOVE).
.
110 - Envelhecimento e Sociedade – v. 2

Coleção Envelhecimento e Sociedade


Fernanda Ishida Corrêa; Andrezza Sossai Rodrigues de Carvalho
(Organizadoras)

v. 1 – Anatomia e fisiologia do envelhecimento humano


Andrezza Sossai Rodrigues de Carvalho; Débora Bachin Carvalho;
Jessica Julioti Urbano; Luciana Rodrigues Barcala; Nadhia Helena Costa
Souza; Patrícia Lira dos Santos; Vanessa dos Santos Grandinetti

v. 2 – Saúde e doença no processo de envelhecimento


Beatriz Guimarães Ribeiro; Nadhia Helena Costa Souza; Natalie
Souza de Andrade; Patrícia Lira dos Santos

v. 3 – Aspectos antropológicos e sociológicos em saúde


Andreia Martinelli de Siqueira Araújo; Ivan Peres Costa; Jacira Souza
Ribeiro; Raquel Agnelli Mesquita Ferrari

v. 4 – Tecnologia e qualidade de vida


Aline Marina Alves Fruhauf; Fernanda Ishida Corrêa; Gláucio Carneiro
Costa; Juliana Barbosa Goulardins; Letizzia Dall’Agnol; Luciana
Rodrigues Barcala; Soraia Micaela Silva

v. 5 – Próteses e órteses
Aline Marina Alves Fruhauf; Juliana Barbosa Goulardins; Pamella
Ramona Moraes de Souza; Vanessa dos Santos Grandinetti

v. 6 – Avaliação e manejo da dor


Letizzia Dall’Agnol

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