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Cosméticos Naturais,

Orgânicos e Veganos
Juliana Flor, Mariana Ruiz Mazin, Lara Arruda Ferreira
Chemspecs Comércio e Representações Ltda., São Paulo SP, Brasil

Conceitos e De¿nições
O aumento da demanda por produtos cosméticos naturais, orgânicos e veganos
demonstra que os consumidores estão cada vez mais conscientes com relação Cosméticos naturais e orgânicos
ao uso de matérias-primas sustentáveis cuja eficácia não é testada em animais. O No Brasil, bem como na maioria dos
presente trabalho tem como foco a abordagem dos principais conceitos envolvidos no
desenvolvimento de cosméticos naturais, orgânicos e veganos, de forma a fornecer, aos
paí ses, não há uma regulamentação
formuladores de cosméticos, as informações mais recentes adotadas sobre esse tema. o¿cial para produtos cosméticos naturais
e orgânicos. Isso ocorre porque o tema
El aumento de la demanda de productos cosméticos naturales, orgánicos y veganos
demuestra que los consumidores son cada vez más conscientes del uso de materias é relativamente novo e bastante contro-
primas sostenibles y cuya eficacia no se prueba en los animales. Para atender las verso, ou seja, a de¿nição de “cosmético
expectativas de los consumidores, los fabricantes de materias primas y de productos natural” é muito ampla e tem diversos
terminados necesitan buscar soluciones técnicas innovadoras. El presente trabajo tiene
entendimentos.
como objectivo el enfoque de los principales conceptos utilizados en el desarrollo de
cosméticos naturales, orgánicos y veganos, para proporcionar a los formuladores de Relativamente aos cosméticos natu-
cosméticos la información más reciente adoptada sobre el tema. rais, algumas empresas e alguns consumi-
The increasing demand for natural, organic and vegan cosmetic products demonstrates
dores consideram que, para sustentar esse
that consumers are increasingly aware of the use of sustainable raw materials and “claim”, os produtos devem ser compos-
whose efficacy is not tested on animals. To meet consumer expectations, manufacturers tos apenas de matérias-primas de origem
of raw materials and final products should be well prepared. The present study focuses natural, salvo raras exceções. Além da
on the main concepts involved in the development of natural, organic and vegan
cosmetics, in order to provide cosmetic formulators with the latest information about
origem desses insumos, são avaliados
the subject. seus processos produtivos. Diversos ti-
pos de processamento químico e físico
não são considerados sustentáveis para a
fabricação de produtos naturais.4,5
Há, no entanto, fabricantes que uti-

I
mpulsionados pelo mercado ali- desse mercado no Brasil. Mas estudos
lizam o apelo de “natural” em seus pro-
mentício de produtos naturais, apontam que, apesar de ainda ser con-
dutos, mesmo que estes tenham, em sua
orgânicos e veganos, alguns con- siderado um mercado pouco expres-
composição, concentrações mínimas de
sumidores estão optando cada vez mais sivo, seu potencial de crescimento é
matérias-primas de origem natural (mui-
por versões cosméticas que atendam aos surpreendente. 2 tas vezes, concentrações inferiores a 1%).
mesmos requisitos éticos do seu estilo de Segundo dados apontados pela con- Nesses casos, considera-se que o cosméti-
vida. Para essa classe de consumidores, sultoria norte-americana Grand View co apenas explora o “apelo verde”.
temas como saúde e sustentabilidade, Research, o tamanho do mercado global Buscando fazer uma padronização
juntamente com a conscientização sobre de cosméticos veganos foi estimado em de conceitos, diversas organizações na-
beleza livre de crueldade, são uma cres- US$ 12,9 bilhões no ano de 2017. 3 O cionais e internacionais de¿nem regras e
cente preocupação. mercado global de cosméticos naturais padrões próprios, emitindo certi¿cações
Conforme é mostrado nas Figuras 1 e e orgânicos deverá atingir US$ 25,11 para produtos cosméticos que atendam
2, as três principais características “ver- bilhões até 2025. No Brasil, estima-se aos conceitos estabelecidos. Essas regras
des” desejadas pelos consumidores na que haverá crescimento entre 5% e 10% levam em consideração desde a origem
categoria skin care são: ingredientes natu- dessa classe de produtos nos próximos das matérias-primas até sua toxicidade
rais, não testados em animais e ingredien- cinco anos.2 e sua biodegradabilidade, incluindo suas
tes orgânicos. Já para os consumidores da Para se preparar para o crescimento do reações de síntese e os processos de sua
categoria hair care, as características são: mercado de cosméticos naturais, orgâni- produção. Apesar de muitas exclusões se-
ingredientes naturais, ingredientes botâ- cos e veganos, as empresas de matérias- rem comuns à maioria das certi¿cadoras,
nicos e claims “free from”1 (sais, sulfatos, -primas e os formuladores de produtos por exemplo, restrições ao uso de determi-
silicones, parabenos etc.). ¿nais precisam padronizar os conceitos nados conservantes e produtos de origem
Até o momento, não existem re- envolvidos nas definições desses tipos petroquímica, cada organização tem seu
latórios que avaliem a real dimensão de produto. próprio conjunto de normas, que deve ser

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estritamente seguido pelos fabricantes co organismos de certificação – BDIH
candidatos à certi¿cação. (Alemanha), Cosmebio (França), Ecocert
Podemos comparar essa abrangência Greenlife SAS (França), ICEA (Itália),
de possíveis de¿nições a uma escala, na Soil Association (Grã-Bretanha) –, com o
qual em um dos extremos estão os produ- objetivo de de¿nir requisitos mínimos co-
tos com apelo verde e no outro os produtos muns e padronizar globalmente as regras
regulamentados por certificadoras. O para a certi¿cação de cosméticos naturais
meio dessa escala inclui formulações e orgânicos.7
que são compostas de altas porcentagens Para o desenvolvimento de produtos
de ingredientes naturais, mas que tam- de acordo com o padrão Cosmos, deve-se
bém possuem matérias-primas sintéticas atentar às diversas exigências relaciona-
e/ou de origem não renovável que não das à origem dos insumos, ao processo
têm substitutos equivalentes de origem produtivo, à sustentabilidade de toda a
natural. cadeia, entre outros fatores (Quadro 1).
As regras básicas das exigências quanto
Cosméticos veganos às matérias-primas, de modo geral, são
Da mesma forma que ocorre com os cos- mostradas no Quadro 2.
méticos naturais e orgânicos, não há um Para de¿nir se realmente é essa a cer-
órgão o¿cial que regulamente os cosméti- ti¿cação que o fabricante de cosmético
cos veganos. Entretanto, também existem busca, é importante que seja feita uma
organizações não governamentais que leitura minuciosa do conjunto de normas
certi¿cam e emitem selos para os produ- do referencial a ser adotado.
tos que são desenvolvidos respeitando Apesar de ainda ser relativamente
suas regras. pouco difundida no Brasil, a certi¿cação
Diferentemente das definições dos Cosmos é referência em diversos países,
cosméticos naturais, as definições de principalmente na Europa, e, por esse
cosméticos veganos, para as diversas motivo, é muito interessante para empre-
entidades certi¿cadoras, convergem para sas brasileiras focadas em exportação.
regras muito parecidas: são considerados No Brasil, o número de cosméticos com
cosméticos veganos os produtos que não certi¿cação Cosmos Natural e Cosmos
são testados em animais e cuja composi- Organic cresce a cada ano, sendo a Eco-
ção não inclui matérias-primas de origem cert a certi¿cadora que representa o re-
animal e/ou que tenham sido testadas em ferencial no país.
animais. - Natrue: é uma associação inter-
nacional sem ¿ns lucrativos, criada na
Em 30 de novembro de 2009, foi apro-
Europa em 2007 para promover e padro-
vado na Europa o Regulamento (CE) nº
nizar o desenvolvimento de cosméticos
1.223/2009 que, entre outras diretrizes,
naturais e orgânicos mundialmente.8
proíbe a comercialização de produtos cuja
Assim como o Cosmos, a Natrue
formulação ¿nal ou cujos ingredientes ou
estabelece diversas regras e padrões que
as combinações de ingredientes tenham
devem ser estritamente seguidos pelos
sido testados em animais.6
fabricantes de cosméticos ao desenvol-
A não realização de testes em animais
verem produtos candidatos à certi¿ca-
a partir dessa data costuma ser aceita
ção. Essas exigências tratam das maté-
pelas organizações não governamen-
rias-primas utilizadas até a fabricação
tais (ONGs) certi¿cadoras, mas algumas
do produto ¿nal. De maneira geral, os
regras mais críticas podem exigir que
insumos permitidos na composição são
as matérias-primas utilizadas na com-
classi¿cados de acordo com o Quadro 3.
posição das formulações nunca tenham
No Brasil, o selo Natrue normalmen-
passado por ensaios em animais. Nesse te é encontrado em produtos importados
caso, a gama de insumos disponíveis no e produzidos para exportação. Quando o
mercado se restringe a desenvolvimentos produto é desenvolvido para o mercado
mais recentes. brasileiro, geralmente é utilizado o selo
do Instituto Biodinâmico (IBD).
Principais Certi¿cadoras e - Instituto Biodinâmico (IBD):
Regras maior certificadora da América Lati-
Cosméticos naturais e orgânicos na para produtos orgânicos, o IBD tem
- Cosmetic Organic Standard (Cos- grande representatividade no mercado
mos): referencial europeu privado, que brasileiro e, desde 2014, segue as di-
foi desenvolvido conjuntamente por cin- retrizes estabelecidas pela Natrue para

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Figura 1. Principais atributos verdes desejados Figura 2. Principais atributos verdes desejados
pelos consumidores em produtos para os cuidados pelos consumidores em produtos para os cuidados
com a pele – 2018 com o cabelo – 2018

Ingredientes naturais
Ingredientes naturais

Ingredientes não testados


em animais
Ingredientes Botâmicos

Ingredientes orgânicos

Apelos “Free from”


0 20 40

0 1 2 %
%
Fonte: Referência 1

Fonte: Referência 1
- Sociedade Vegetariana Brasileira (SVB): o programa de
certi¿cação criado em 2013 pela SVB confere a diversos tipos
o desenvolvimento de cosméticos naturais e orgânicos. O de produto, como alimentos, cosméticos e itens de higiene, um
IBD e a Natrue estabeleceram um acordo de reconhecimento selo vegano que é bastante reconhecido nacionalmente. O selo
mútuo, ou seja, produtos brasileiros que são certi¿cados pelo vegano da SVB é atribuído a produtos isentos de ingredientes
IBD podem receber o selo Natrue quando são exportados e os de origem animal em sua composição e cuja empresa que o
produtos importados certi¿cados pela Natrue estão aptos a produziu e cujos fabricantes de seus ingredientes não realizam
utilizar o selo do IBD.9 testes em animais.12
- Departamento de Agricultura dos Estados Unidos - People for the Ethical Treatment of Animals (PETA):
(USDA): esse departamento não regulamenta o uso do termo fundada em 1980 e engajada na causa de proteção dos animais,
orgânico para cosméticos, só o regulamenta para alimentos. essa ONG é reconhecida em diversos países e tem dois selos
Porém, caso o cosmético tenha insumos oriundos da agricultura que podem ser atribuídos a produtos cosméticos: o Cruelty-free
orgânica em proporção de¿nida pelo departamento, além de e o Approved Vegan.13
ser produzido em instalações certi¿cadas pelo USDA, ele pode O selo Cruelty Free garante que os produtos com esse selo
receber o selo “orgânico”. não são testados em animais nem possuem, em sua composição,
- ISO 16128: em fevereiro de 2016, a Organização Interna- matérias-primas testadas em animais. Mas atenção: nem todo
cional de Normalização (ISO) lançou a norma ISO 16128, um produto com o selo Cruelty Free é necessariamente vegano,
guia de de¿nições técnicas e critérios para o desenvolvimento pois pode conter insumos de origem animal (por exemplo, mel
de cosméticos naturais e orgânicos, e que oferece um sistema e queratina) em sua composição, desde que sua obtenção não
para determinar o conteúdo de compostos naturais dentro de tenha causado sofrimento ao animal.
uma matéria-prima e do produto acabado.10 O selo Approved Vegan certi¿ca que, além de não ter sido
As de¿nições para ingredientes de acordo com a ISO 16128 testado em animais, o produto também não tem matérias-primas
são mostradas no Quadro 4. de origem animal. Nesse caso, o produto é considerado vegano.
Para alguns órgãos certi¿cadores, a ISO 16128 faz consi-
derações controversas, principalmente por não tratar alguns Principais Desa¿os no Desenvolvimento de
pontos com clareza e assim permitir que sejam feitas diversas Cosméticos Naturais
interpretações desses pontos. Por ter sido lançada recentemente, Ao desenvolver um produto cosmético natural, diferentes
é provável que, à medida que vá se tornando mais difundida, a tipos de desa¿o são encontrados. A seguir, abordaremos os
ISO 16128 passe por revisões e atualizações.11 principais desa¿os.

Cosméticos veganos De¿nir o que a empresa considera “natural”


Para esse segmento, algumas empresas optam por desenvolver Por causa da falta de legislação no Brasil para produtos cosmé-
sua própria sinalização para identi¿car os cosméticos que são ticos naturais, no mercado brasileiro, é possível encontrar desde
livres de testes em animais e/ou de matérias-primas de origem produtos com apelo verde até produtos certi¿cados.
animal. Esses produtos costumam ser identi¿cados pela pre- Por essa razão, o primeiro desa¿o é de¿nir o posicionamento
sença de um selo com a letra V, pelo desenho de um coelho, pela que a empresa vai adotar. Fazendo novamente a analogia com
inscrição cruelty-free, ou por qualquer outro símbolo de¿nido uma escala, na qual há os produtos com apelo verde no início
pela empresa. e os produtos com certi¿cação no ¿nal, a empresa precisa de-
Ainda assim, existem diversas certi¿cadoras que regula- ¿nir em qual posição da escala vai se colocar. Dependendo do
mentam cosméticos com esse apelo. A seguir, estão destacadas posicionamento escolhido, diferentes caminhos deverão ser
duas certi¿cadoras que têm grande representatividade no Brasil: seguidos no desenvolvimento do produto.

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É importante que toda a companhia, principalmente suas
áreas de P&D e marketing, esteja alinhada em relação ao po-
sicionamento que for adotado, uma vez que isso inÀuenciará o
custo, a complexidade de desenvolvimento, a performance e a
comercialização do produto ¿nal.

Restrição de ingredientes
Ao optar pelo desenvolvimento de um produto que seja de fato
natural, a restrição de ingredientes é o próximo desa¿o a ser
superado.
Corantes sintéticos, fragrâncias sintéticas, polietileno-
glicóis (PEGs), quaternários de amônio, silicones, conser-
vantes sintéticos, dietanolamidas e derivados de petróleo
são ingredientes cujo uso em produtos naturais é proibido
pelos principais órgãos certificadores, por exemplo, pelo
Cosmos, pela Natrue e pelo IBD. 4,5,9 Dessa forma, a lista
de ingredientes permitidos para uso em produtos naturais é
mais limitada, dificultando o processo de desenvolvimento
de formulações. As principais dificuldades encontradas por
causa da proibição de ingredientes são a estabilização e o
desempenho dos produtos.

Conservação microbiológica
O uso dos conservantes sintéticos usados tradicionalmente no
mercado de cosméticos, como fenoxietanol (Phenoxyethanol),
DMDM hidantoína (DMDM Hydantoin), metilcloroisotiazo-
linona (Methylchloroisothiazolinone) e metilisotiazolinona
(Methylisothiazolinone), é proibido em produtos naturais.
Para fazer a conservação desse tipo de produto, podem
ser utilizados os seguintes compostos: ácido benzoico (Ben-
zoic acid), ácido deidroacético (Dehydroacetic acid), álcool
benzílico (Benzyl alcohol), benzoato de potássio (Potassium
benzoate), benzoato de sódio (Sodium benzoate), sorbato de
potássio (Potassium sorbate) e ácido sórbico (Sorbic acid).
As especi¿cidades a seguir devem ser consideradas para
a utilização desses conservantes. A grande maioria desses
conservantes é dependente do pH do meio, ou seja, sua e¿cá-
cia depende do pH ¿nal do produto. A mistura de sorbato de
potássio e benzoato de sódio, muito utilizada para a conserva-
ção de produtos cosméticos naturais, exige que o pH ¿nal da
formulação esteja na faixa de 5,0–5,5. Dar atenção especial
à qualidade da água utilizada no processo de fabricação dos
produtos e ter rigor na aplicação das boas práticas de fabricação
são fundamentais quando se trabalha com esses conservantes.
O tipo de embalagem também deve ser um ponto de atenção.
Quanto menor for o contato do produto com o meio externo,
mais protegido ele estará de contaminação microbiológica.
Embalagens em potes devem ser evitadas, pois possibilitam
maior superfície de contato do produto com o meio externo.

Performance
A performance é outro grande desa¿o encontrado no desen-
volvimento de produtos cosméticos naturais. A restrição de
ingredientes limita as opções de matérias-primas existentes
no mercado e, assim, a e¿cácia dos produtos ¿nais pode ser
prejudicada.
Em relação às formulações para a pele, há várias opções
de matérias-primas aprovadas, com diferentes funções, como:
emulsionantes, emolientes, doadores de viscosidade, ativos etc.
Dessa forma, com as diversas opções disponíveis no mercado e

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Quadro 1. De¿nições Cosmos para cosméticos naturais e orgânicos

São compostos, em grande parte, de ingredientes de origem natural


Cosméticos naturais Não é obrigatória a presença de ingredientes orgânicos
O percentual de ingredientes naturais deve ser indicado na parte frontal do rótulo
É exigido o mínimo de 10% de ingredientes orgânicos para produtos enxaguáveis, aquosos ou com alto teor
(•80%) de conteúdo mineral
É exigido o mínimo de 20% de ingredientes orgânicos para os demais produtos
Cosméticos orgânicos
95% dos ingredientes ¿sicamente processados devem ser de origem orgânica
O percentual de ingredientes orgânicos deve ser indicado na parte frontal do rótulo

Fonte: Referência 4

Quadro 2. De¿nições Cosmos para matérias-primas

Água Não pode ser contabilizada como ingrediente orgânico


São permitidos apenas minerais puros e naturais que tenham sido submetidos apenas a
Minerais
processos físicos
São ingredientes de origem vegetal, animal ou microbiológica que passaram por processos
Ingredientes ¿sicamente processados
físicos permitidos pela certi¿cadora
Ingredientes quimicamente São ingredientes de origem vegetal, animal ou microbiológica que passaram por processos
processados químicos permitidos pela certi¿cadora
Demais ingredientes Só são permitidos se não houver alternativa natural disponível
Fonte: Referência 4

Quadro 4. De¿nições ISO 16128 para ingredientes

São obtidos de plantas, animais, minerais (exceto os de origem fóssil) ou


microrganismos, incluindo os derivados desses materiais que são obtidos por meio
Ingredientes naturais
de processos físicos ou de outros processos que não resultem em modi¿cações
químicas intencionais
São obtidos por processos químicos ou biológicos com modi¿cações químicas
Ingredientes naturais derivados intencionais, desde que contenham mais de 50% de sua composição proveniente de
origem natural
São 100% obtidos por meio de métodos de agricultura orgânica ou de colheita
Ingredientes orgânicos
silvestre
A porção natural da molécula deve ter origem totalmente orgânica ou em uma
Ingredientes orgânicos derivados
mistura de origem orgânica e natural
Possuem 50% ou mais de sua composição proveniente de combustíveis fósseis ou
Ingredientes não naturais
de outros ingredientes que não se enquadram nas de¿nições anteriores
Fonte: Referência 10

Quadro 3. De¿nições Natrue para ingredientes

São ingredientes de origem vegetal, inorgânico-mineral ou animal (com exceção dos


Ingredientes naturais que causam sofrimento) e suas misturas, processados ¿sicamente, de acordo com as
de¿nições no referencial
Seu uso é permitido somente quando o ingrediente natural não puder ser extraído da
Ingredientes idênticos aos naturais natureza com rendimento e técnicas coerentes
São permitidos apenas os processos produtivos descritos no referencial
Seu uso é permitido somente quando não existem substitutos naturais equivalentes a esses
Ingredientes derivados de naturais ingredientes
São permitidos apenas os processos produtivos descritos no referencial
São permitidos apenas conservantes idênticos aos naturais e derivados de naturais que
Conservantes
estão listados no referencial
Deve-se garantir que nenhuma substância indesejada, proveniente dos processos de
Processos de fabricação e envase
fabricação, envase e estoque, contamine o produto
Fonte: Referência 5

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aprovadas pelos órgãos certi¿cadores, é possível desenvolver Soluções para o Desenvolvimento
produtos naturais para a pele que são tão e¿cientes quanto os Para que os desa¿os anteriormente mencionados sejam atin-
produtos obtidos com matérias-primas de origem sintética. gidos, os fabricantes de matérias-primas buscam a adequação
No caso dos produtos capilares, a maioria das matérias- de seus portfólios, por meio da introdução de um maior número
-primas usuais e e¿cazes que proporcionam condicionamento de matérias-primas de origem natural aprovadas pelos órgãos
e desembaraço é de origem sintética, portanto, essas matérias- certi¿cadores.
-primas não são aprovadas pelos órgãos certi¿cadores. Por- Para veri¿car se uma matéria-prima é ou não aprovada, de-
tanto, o desempenho das formulações de produtos capilares vem ser realizadas pesquisas nos sites das certi¿cadoras. Vale
naturais será prejudicado quanto a esses requisitos. Produtos salientar que, para certi¿car um produto cosmético, deve-se
de limpeza capilar (shampoos) podem ter formulações e¿- informar ao órgão certi¿cador quais são as matérias-primas
cazes, pois há diversas opções de matérias-primas que são utilizadas pelo nome comercial, pois a aprovação desse produto
aprovadas. depende de diversos fatores, como origem das matérias-primas,
Uma reÀexão importante a ser feita no desenvolvimento de processo de fabricação e cadeia produtiva.
produtos capilares naturais é se o consumidor está interessado em Existem diversos fabricantes de matérias-primas que têm
adquirir produtos naturais que apresentem menor performance amplo portfólio de matérias-primas naturais certi¿cadas, pro-
em relação aos produtos tradicionalmente conhecidos. Nesse porcionando aos formuladores Àexibilidade no desenvolvimen-
caso, talvez a melhor opção seja utilizar o maior número possível to de formulações naturais. Na lista desses produtos aprovados,
de matérias-primas de origem natural, adicionando à formulação encontram-se: emolientes, emulsionantes, doadores de visco-
algum percentual de matérias-primas sintéticas para melhorar a sidade, tensoativos, agentes condicionadores, proteínas etc.
e¿cácia do produto. Referindo-se novamente à analogia com a Emolientes são fundamentais em formulações cosméticas
escala, esses produtos estariam posicionados do meio para o ¿nal para o tratamento da pele e dos cabelos, pois conferem emoli-
da escala, sem a possibilidade de serem certi¿cados. ência e são responsáveis pelo toque e pela espalhabilidade dos
produtos. Quando se utiliza uma combinação de emolientes de
Custos baixa, média e alta espalhabilidade, obtém-se o efeito denomi-
Os custos das matérias-primas de origem natural normalmente nado “cascata de emolientes”, que proporciona sensação mais
são maiores que os das sintéticas. Estima-se que ocorra aumento prazerosa ao consumidor durante a aplicação do produto.15
de 50% ou mais no custo de fabricação de produtos naturais Listamos a seguir alguns emolientes aprovados pelos principais
ou orgânicos.14 órgãos certi¿cadores e que correspondem a ótimas opções de
Propomos aqui outra reÀexão: O consumidor está disposto escolha para o desenvolvimento de formulações naturais.
a pagar mais caro por produtos naturais e/ou orgânicos? - Emolientes de baixa espalhabilidade: Cegesoft PS6

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1200 UP (Lauryl Glucoside).
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tes, Cosm & Toil (Brasil) 26(5):46-51, 2017
a oferta de matérias-primas é ampla. É possível desenvolver
produtos veganos a custos equivalentes aos de produtos tradi-
cionais não veganos e com a mesma e¿cácia destes.

Considerações Finais
Conforme foi apresentado neste artigo, a demanda por cos-
Para anunciar
méticos naturais, orgânicos e veganos apresenta forte tendência
de crescimento. Para que os fabricantes de matérias-primas e
de produtos acabados estejam aptos a atender às expectativas
desse mercado emergente, é importante, primeiramente, que
entendam os principais conceitos envolvidos nesses produtos
e as regras que deverão ser cumpridas para suas possíveis
certi¿cações. Existem ainda muitos desa¿os a ser enfrentados
no desenvolvimento de produtos que sejam de fato naturais e
orgânicos (certi¿cados), porém os fornecedores de matérias-
FONE: (11) 3884-8756
-primas e os formuladores cosméticos devem estar sintonizados
em uma busca conjunta das soluções tecnológicas que atendam anuncios@tecnopress-editora.com.br
às expectativas dessa classe especial de consumidores.

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