Revista de Ciências
Farmacêuticas
Básica e Aplicada
Journal of Basic and Applied Pharmaceutical Sciences
Análise microbiológica de xampus e cremes
condicionadores para uso infantil
Aline Marques Rosa¹, Marilene Rodrigues Chang¹, Fernanda Luiza Espinosa Spositto¹, Camila Gonzalez da Silva¹,
Luciane Miyagusku¹, Rubia Adriele Sversut¹, Marcos Serrou do Amaral², Nájla Mohamad Kassab*¹
1
Universidade Federal do Mato Grosso do Sul, Centro de Ciências Biológicas e da Saúde, Campo Grande, MS, Brasil.
2
Universidade Federal do Mato Grosso do Sul, Instituto de Física, Campo Grande, MS, Brasil.
RESUMO
O Brasil é um dos maiores mercados mundiais
consumidores de cosméticos infantis. A utilização
de produtos de higiene pessoal, como xampus,
condicionadores e sabonetes infantis, e de produtos de
beleza já se incorporou ao dia a dia de muitas crianças.
Deste modo, é imprescindível que esses produtos
estejam em consonância com os limites microbianos
estabelecidos pela Farmacopeia Brasileira (2010) e pela
Resolução da Diretoria Colegiada/ANVISA Nº 481/99
para serem comercializados. Neste trabalho, foi avaliada
a qualidade microbiológica de amostras de 10 xampus
e 10 cremes condicionadores de cabelos destinados
à higiene infantil. Dentre as amostras analisadas,
verificou-se que, em 50% dos xampus e 30% dos cremes
condicionadores capilares, houve proliferação de micro-
organismos, tais como bactérias aeróbias e fungos,
acima dos limites máximos permitidos. Embora não se
tenha encontrado micro-organismos patogênicos, essas
percentagens indicam a necessidade do cumprimento
das Boas Práticas de Fabricação por parte das indústrias
farmacêuticas e cosméticas, para que os consumidores
possam adquirir produtos confiáveis, com qualidade
adequada para manutenção da saúde e do bem-estar.
Palavras-chave: Higiene infantil. Xampu. Creme
condicionador. Análise microbiológica. Controle de
qualidade.
Autor correspondente: Nájla Mohamad Kassab, Centro de Ciências
Biológicas e da Saúde, Universidade Federal do Mato Grosso do Sul. e-mail:
nmkassab@gmail.com
Rev Ciênc Farm Básica Apl., 2015;36(1):43-49
ISSN 1808-4532
INTRODUÇÃO
O Brasil é um dos maiores mercados mundiais
consumidores de cosméticos infantis. A utilização de
produtos de higiene pessoal, como xampus, condicionadores
e sabonetes infantis, e de produtos de beleza já se incorporou
ao dia a dia de muitas crianças. Esse crescente interesse
vem chamando a atenção de pais, médicos e autoridades
sanitárias quanto à segurança e qualidade desses produtos
(ANVISA, 2013).
A pele das crianças é mais fina do que a de adultos,
possui camada córnea reduzida, com menos pelos e,
consequentemente, é mais sensível a agentes físicos e
químicos (Bárbara et al., 2007; Lund et al., 1999). Xampus
são preparações químicas aquosas destinadas à higienização
do couro cabeludo e do cabelo, que agem removendo a
sujeira e retirando o excesso de oleosidade (Scacheti et
al., 2011). Alguns também podem conter fármacos na sua
composição e, assim, exercer função terapêutica (Bárbara
et al., 2007; Barbosa & Silva, 1995).
Os xampus de uso infantil, isto é, destinados a
crianças de 0 a 9 anos (Ministério da Saúde, 2010) reduzem
as tensões superficiais entre os cabelos e as sujidades, pois
contêm tensoativos catiônicos, aniônicos, anfóteros e não
iônicos. Entre os tensoativos utilizados nas preparações
cosméticas para esse público destaca-se o lauril éter
sulfo-succinato de sódio e coco II imidazolina, que são
componentes não irritantes para as mucosas (Corrêa, 2012).
Cremes condicionadores capilares são emulsões do
tipo óleo/água, que têm como agente emulsivo primário
um tensoativo catiônico. Sua principal função é corrigir
modificações ocasionadas pelo uso do xampu sobre os
cabelos, no que diz respeito à carga elétrica (Ferreira,
2002). Esses produtos, condicionadores para cabelo,
também devem apresentar constituintes que não agridam a
pele dos usuários e não sejam irritantes oculares (Bárbara
et al., 2007).
Xampus e condicionadores capilares são cosméticos
de uso tópico não estéreis, que admitem limitado número de
micro-organismos viáveis não patogênicos e determinam
 Análise microbiológica de cremes infantis
ausência de micro-organismos patogênico em 1 g ou 1
ml do produto, segundo a legislação brasileira (ANVISA,
1999).
Cargas microbianas elevadas podem facilmente
alterar a estabilidade do produto, levando não somente a
sua deterioração, com mudanças físicas e químicas, mas
também aumentando o risco potencial de causar infecção no
usuário (ANVISA, 2010; Medeiros et al., 2007; Pinto et al.,
2003), além de prejuízos financeiros e comprometimento
da imagem da empresa (Blume et al., 2007).
Muitos trabalhos relativos à análise microbiológica
de produtos farmacêuticos, cosméticos, matérias-primas
e embalagens para acondicionamento foram descritos
na literatura (Andrade et al., 2005; Blume et al., 2007;
Medeiros et al., 2007; Siva & Silva, 2011). Porém, não foi
encontrado nenhum estudo específico sobre a qualidade
microbiológica de produtos cosméticos ou de higiene para
uso infantil.
Assim, este trabalho teve por objetivo avaliar
a qualidade microbiológica de produtos cosméticos
destinados à higiene infantil (xampus e condicionadores
capilares), comercializados na cidade de Campo Grande –
MS, com o intuito de verificar se os mesmos encontram-se
em consonância com os limites microbianos estabelecidos
pela 5ª edição da Farmacopeia Brasileira (F.Bras. 2010)
e pela RDC 481/99 (ANVISA, 1999) e, portanto, são
apropriados para o uso.
MATERIAL E MÉTODOS
Aquisição e processamento das amostras
Foram incluídos neste estudo 10 xampus e 10
condicionadores capilares, designados como X1, X2, …,
X10 e C1, C2, …, C10, respectivamente, de diferentes
marcas, adquiridos em lojas de cosméticos e drogarias da
cidade de Campo Grande – MS.
As amostras de xampus e condicionadores foram
limpas externamente com algodão embebido em álcool
70°GL e, em seguida, homogeneizadas. A preparação das
amostras para a pesquisa de micro-organismos foi realizada
de duas formas: a primeira com a inativação do conservante,
empregando-se polissorbato 80 (Teween® 80); e a segunda,
sem inativação do conservante. Todo procedimento foi
desenvolvido de forma asséptica em cabine de segurança
biológica Classe II B2 em duplicata.
Com inativação do conservante
Em balança analítica, foi pesado 1,0 g de cada
amostra (xampu e condicionador), e adicionado em
béqueres estéreis com capacidade volumétrica de 50 mL.
Em cada béquer foram adicionados 8,8 mL de solução
salina estéril e 0,2 mL de Tween® 80, o que resultou na
diluição 1:10 (ANVISA, 2010).
O conteúdo de cada béquer foi homogeneizado com
auxílio de um bastão de vidro estéril e transferido para tubos
de ensaio cônicos estéreis, que foram submetidos à agitação
mecânica (vortex®) por um minuto. A partir da diluição
44
acima descrita (10-1 g/mL de amostra), diluições sucessivas
foram realizadas, empregando a mistura de salina estéril
com Tween® 80 e obtendo-se, assim, as concentrações
de 10-2 e 10-3 g/mL. Essas soluções foram utilizadas para
avaliação microbiológica. A Figura 1 apresenta desenho
esquemático das diluições realizadas.
Figura 1- Desenho esquemático das diluições realizadas.
Sem inativação do conservante
O procedimento foi realizado conforme descrito
previamente (Blume et al., 2007; Sironi, 2009;Yamamoto
et al., 2004), com algumas modificações. Em balança
analítica, 1,0 g de cada amostra foi pesado e diluído com
9,0 mL de salina estéril. A partir da diluição 1:10 obteve-se
as diluições 1:100 e 1:1000. O esquema de preparação foi
semelhante ao ilustrado na Figura 1, à exceção do diluente,
o qual não continha o Tween® 80, mas apenas salina
estéril. As diluições obtidas foram utilizadas para avaliação
microbiológica.
Meios de cultura
Foram utilizados para avaliação de possíveis
contaminantes microbiológicos os seguintes meios de
cultura: ágar sangue, ágar sabouraud-dextrose 4%, ágar
batata, ágar MacConkey, ágar manitol e ágar DNase. O
ágar sangue oferece ótimas condições de crescimento para
a maioria dos micro-organismos, além de ser um meio que
permite detectar a presença de hemólise por Streptococcus
spp e Staphylococcus spp.
Já o ágar sabouraud-dextrose, é um meio com
nutrientes que favorecem o crescimento de diversos fungos
leveduriformes e filamentosos, enquanto o ágar batata
é útil para desenvolvimento do microcultivo de fungos
objetivando identificá-los através da morfologia. O cristal
violeta do ágar MacConkey inibe o crescimento de micro-
organismos Gram positivos, o que justifica o emprego deste
ágar no isolamento de cocos e bacilos Gram negativos e
na verificação da fermentação da lactose (ANVISA, 2004;
Silva & Neufeld, 2006; Winn et al., 2008).
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Os ágares manitol e DNase são empregados para a
identificação de espécies de Staphylococcus e outros micro-
organismos de importância clínica (ANVISA, 2004; Silva
& Neufeld, 2006; Winn et al., 2008).
A preparação dos meios de cultura foi realizada
segundo recomendação sugerida pelos fabricantes e, antes
do uso, cada meio foi esterilizado em autoclave e transferido
para placas de petri estéreis com 90 x 15 mm. Para todos os
testes, foi realizado o controle de qualidade negativo, com
uma placa contendo cada meio isoladamente e uma placa
contendo apenas os diluentes, Teween®80 e solução salina
estéril, foi incubada a 35°C para pesquisa de bactérias e 25
+ 1°C por 14 dias para pesquisa de fungos e leveduras. A
viabilidade dos ágares empregados no estudo foi verificada
previamente com micro-organismos adequados, com o
intuito de estabelecer o controle positivo.
Avaliação microbiológica
As análises microbiológicas foram realizadas
segundo metodologia recomendada na F. Bras. (2010),
com pequenas modificações. Todo procedimento foi
desenvolvido de forma asséptica em cabine de segurança
biológica Classe II B2, em duplicata.
Para o isolamento de possíveis contaminantes
bacterianos as amostras de xampus e condicionadores
foram semeadas em placas de ágar sangue base (Oxoid,
Hampshire, England) e ágar MacConkey (Oxoid,
Hampshire, England) com alças calibradas (10 µL)
descartáveis estéreis e incubadas a 32,5 ºC ± 2,5 °C durante
3-5 dias. A identificação dos micro-organismos foi feita
por métodos convencionais padronizados (Koneman et al.,
2008).
O isolamento de fungos (filamentosos e leveduras)
foi feito pela semeadura em superfície das amostras com
alças calibradas (10 µL) em placa de ágar Sabouraud
Dextrose (Oxoid, Inglaterra), incubadas por até 15 dias a
23ºC ± 2,5 °C. A identificação desses micro-organismos
foi feita segundo técnicas convencionais. Para leveduras:
produção de tubo germinativo, microcultivo em ágar fubá
suplementado com 1% de Tween® 80, teste de assimilação
de carboidrato (auxanograma) e crescimento a 42°C.
Para fungos filamentosos, a identificação foi feita pela
observação dos aspectos macroscópicos e microscópicos
(microcultivo em ágar batata), conforme previamente
descrito (Larone, 2011).
A contagem das unidades formadoras de colônias
(UFC) foi feita por meio de um contador eletrônico, modelo
Q295B (Quimis, Brasil). As contagens foram realizadas em
duplicata para cada diluição semeada (10-1, 10-2 e 10-3 g/
mL). Para o cálculo das UFC por grama (UFC/g) para cada
diluição, utilizou-se a seguinte fórmula:
UFC/g = N / (D.V), onde: N = média aritmética das
contagens de colônias na placa; D = diluição utilizada; e, V
= volume da alça calibrada (10 µL). Dessa forma, obteve-
se para cada diluição um valor de UFC/g. E, na sequência,
calculou-se a média aritmética das UFC/g obtidas nas
placas que apresentaram crescimento.
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Critérios para interpretação de dados
Para a interpretação dos resultados obtidos
na avaliação microbiológica, foram utilizados os
parâmetros estabelecidos pela F. Bras. (2010) e pela
RDC 481/99, bem como o critério de ausência de micro-
organismos patogênicos, como Pseudomonas aeruginosa,
Staphylococcus aureus, coliformes totais e fecais por
grama ou mililitro de amostra. Os limites máximos
recomendados pela F. Bras.(2010) para bactérias aeróbias
e fungos (leveduras e/ou fungos filamentosos) devem ser
200 UFC/g e 20 UFC/g, respectivamente. Enquanto que,
pela RDC 481/99, a contagem de micro-organismos totais
aeróbios, incluindo bactérias e fungos, não podem ser
superior a 500 UFC/g.
RESULTADOS
Os micro-organismos isolados nas amostras de
xampu e creme condicionador de uso infantil e suas
unidades formadoras de colônia estão relacionados na
Tabela 1.
DISCUSSÃO
Neste trabalho, as amostras foram preparadas com
e sem inativação dos conservantes. Conforme sugere a
literatura (F. Bras., 2010), na elaboração de amostras não
estéreis para ensaios microbiológicos, deve-se proceder
com inativação do sistema conservante. A fim de verificar
se seria possível observar crescimento microbiano, mesmo
na presença de conservantes, foram realizadas análises em
amostras de xampus e condicionadores capilares também
sem a inativação.
Segundo a F. Bras. (2010), o Tween®80 pode ser
utilizado para facilitar a dispersão de produtos pouco
solúveis em água e também como inativante de conservantes,
tais como sais de amônio quaternário, fenóis e derivados e
tensoativos anfóteros, comumente empregados em diversas
formulações farmacêuticas, incluindo cosméticos (Pinto
et al., 2000). A solução de salina estéril é um diluente
utilizado nos preparos dos inóculos, com o intuito de
recolher o crescimento de bactérias e leveduras, mantendo
a viabilidade do micro-organismo por curto período de
tempo (ANVISA, 2010).
Apesar de a literatura recomendar a utilização do
ágar caseína-soja, para isolamento de micro-organismos
viáveis em produtos não estéreis (F. Bras.,2010), no presente
estudo foi utilizado o ágar sangue para a semeadura das
amostras porque este meio é mais rico e oferece ótimas
condições de crescimento para a maioria dos micro-
organismos, tanto bactérias quanto leveduras (ANVISA,
2004). Foi utilizado ainda o ágar MacConkey, por ser um
ágar seletivo para bactérias Gram negativas, como E. coli e
Salmonella, investigadas (Konemann et al., 2008).
Nenhuma das amostras analisadas, com ou sem
inativação de conservantes, apresentou crescimento de
micro-organismos patogênicos. Todas cumpriram às
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 Análise microbiológica de cremes infantis

Tabela 1: Identificação microbiana e unidades formadoras de colônia presentes nas amostras de xampu e creme condicionador
de uso infantil.
Amostra Sem Inativação de conservantes Com Inativação de conservantes

Total Total
M.O. UFC/g M.O. UFC/g
(UFC/g) (UFC/g)
X3 SCN 100 100 SCN 1000 1000
-- -- -- SCN 5000 5200a
X4 Bacillus sp 100
Corynebacterium sp 100
X5 Penicillium sp 100 100 Penicillium sp 1000 1000
200a
Cladosporium sp 100 100 SCN 100 400b
X6 100
Bacillus sp
Cladosporium sp 400
3000a
SCN 200 300 SCN 1000 400b

X8 Bacillus sp 1000
Bacillus sp 100 Rhodococcus sp 1000
Cladosporium sp 400
200a 2100a
SCN 200 SCN 2000
200b 1200b

C3 -- -- Corynebacterium sp 100
Cladosporium sp 100 Cladosporium sp 200
Acremonium sp 100 Acremonium sp 1000
C5 SCN 5000 5000 SCN 9000 9000
3000a
-- -- -- SCN 1000 100b
C7 100 100 2000
Bacillus sp Bacillus sp
Cladosporium sp 100
M.O.: micro-organismo; X: amostra de xampu; C: amostra de creme condicionador capilar; UFC: unidades formadoras de colônias; SCN: Staphylococcus coagulase negativa;
(--) ausente em 1,0 g de amostra; aContagem total de bactérias aeróbias; bContagem total de fungos filamentosos.

recomendações da F. Bras. (2010) e RDC 481/99. Entretanto,
50% dos xampus e 30% dos cremes condicionadores
capilares apresentaram crescimento de micro-organismos
não patogênicos, tais como bactérias aeróbias e fungos
filamentos/leveduras (Tabela 1).
Nas amostras de xampu em condições normais (sem
inativação) foram isolados dois gêneros de bactérias –
Staphylococcus coagulase negativa (SCN) e Bacillus sp – e
dois gêneros de fungos – Penicillium sp e Cladosporium
sp. Nas amostras inativadas, seis gêneros distintos: quatro
de bactérias (SCN, Bacillus sp, Corynebacterium sp e
Rhodococcus sp) e dois fungos filamentosos (Penicillium
sp e Cladosporium sp).
Nas amostras de cremes condicionadores capilares
sem inativação do conservante foram isolados dois gêneros
de bactérias (SCN e Bacillus sp) e dois gêneros de fungos
(Cladosporium sp e Acremonium sp). Nas amostras
inativadas, cinco gêneros distintos: três de bactérias
(SCN, Bacillus sp e Corynebacterium sp) e dois de fungos
filamentosos (Cladosporium sp e Acremonium sp).
Entre as bactérias encontradas, observou-se
predomínio de SCN. Nas amostras que acusaram a
presença de bactéria: X3, X4, X8, C3, C5 e C7, analisadas
com inativação de conservantes, a contagem foi superior
aos limites permitidos pela F. Bras. (2010) e pela RDC
481/99. Na amostra X4, observou-se eficiência total do
sistema conservante na análise direta, isto é, sem inativação
de conservantes. Nas demais amostras a eficiência dos
conservantes foi parcial ou praticamente nula, como
observado na C5 para SCN.
As bactérias do gênero Rhodococcus sp, encontradas
na amostra X8, com a inativação do conservante, são
capazes de degradar alcanos a partir de solos contaminados
com petróleo (Brito et al., 2010). Nesse caso, infere-se a
hipótese de que esse micro-organismo seja contaminante
da embalagem plástica, que advém do petróleo.
Entre os fungos encontrados, observou-se
predomínio de Cladosporium sp. Em todas as amostras
que apresentaram contaminação por fungos (X5, X6, X8,
C3 e C7), as contagens ficaram acima dos limites máximos
recomendados pela F. BRAS. (2010). Entretanto, pela RDC
481/99, apenas as amostras X5 e C3 apresentaram contagem
de Penicillium sp e Acremonium sp, respectivamente, acima
do permitido quando na inativação de conservantes.
Todos os fungos isolados são ubiquitários, isto é,
contaminantes de ambiente que, em condições favoráveis,
como pele não íntegra, indivíduos com baixa imunidade e
carga microbiana elevada, podem originar uma variedade

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 Análise microbiológica de cremes infantis
de doenças com significância etiológica incerta. O fungo
Cladosporium sp é filamentoso oportunista, que pode
causar lesões purpúreas e cistos subcutâneos (Winn et al.,
2008). Além disso, pode também causar infecções oculares
e dérmicas (Brooks et al., 2012). Já o Penicillium sp, foi
descrito como agente de ceratite, infecção de ouvido e
doenças disseminadas em pacientes com leucemia (Larone,
2011).
No caso das amostras de xampus e de cremes
condicionadores capilares que não apresentaram
crescimento microbiano, isso pode ocorrer devido a duas
possibilidades: 1) os produtos foram elaborados sob
rigoroso controle de qualidade, tanto na seleção da matéria-
prima, quanto no controle do processo; 2) a quantidade
de conservante na formulação está além do permitido. O
mesmo pode-se dizer com relação às amostras de cremes
condicionadores capilares, considerando que 70% delas
não apontaram qualquer crescimento microbiano.
Segundo a ANVISA (2001), a função do conservante
não se estende a compensar as más práticas de fabricação.
Muitos fabricantes o utilizam em excesso na tentativa de
manter a carga microbiana dentro do limite estipulado,
desconsiderando a toxicidade decorrente dessa prática.
Entretanto, a comprovação deste fato só pode ser feita
mediante a identificação e o doseamento das substâncias
empregadas como conservante nessas formulações, que
não foram objetivos deste trabalho.
Tanto as amostras de xampus quanto as amostras
de condicionadores capilares analisados sem inativação
do sistema conservante, e que apresentaram resultados
positivos para o crescimento microbiano, seja dentro ou
acima dos limites máximos de aceitabilidade, sugerem a
existência de biocarga acima do ideal e/ou falha do sistema
conservante. Este fato pode abreviar a vida útil do produto
e torná-lo impróprio para utilização, mesmo dentro do
prazo de validade rotulado.
Matérias-primas em geral empregadas nas
formulações cosméticas são importantes fontes de
contaminação microbiana e por isso devem ser controladas
(Pinto et al., 2003). Considerando que as formulações
cosméticas analisadas eram aquosas e que produtos
com maior atividade de água favorecem o crescimento
microbiano, pode-se presumir que a água utilizada nas
formulações ou as condições de higiene do local da
produção ou do operário constituíram prováveis fontes de
contaminação. Segundo Andrade e colaboradores (2005),
os limites de aceitação para bactérias heterotróficas para
água com fins farmacêuticos não devem ser maiores que
102 UFC/mL.
Outra possível causa para a contaminação
microbiana encontrada nas amostras positivas seria
a forma de comercialização dos produtos, que,
colocados em prateleiras, estão expostos à poeira e a
outros contaminantes ambientais. Um agravante é que,
diferente dos medicamentos, as embalagens de xampus e
condicionadores capilares normalmente não são lacradas.
É prática comum de pais ou responsáveis por crianças ou
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bebês abrirem os produtos de uso infantil para verificar a
textura ou aroma antes de comprá-los, fato este que pode
aumentar a probabilidade de contaminação, tanto do
conteúdo quanto da embalagem do produto. Vale ainda
ressaltar que a incorporação de proteínas ou carboidratos
em formulações cosméticas também pode estar relacionada
com o aumento da carga microbiana (Pinto et al., 2003).
Neste trabalho, as médias dos valores de UFC/g
de bactérias e fungos foram comparadas com os limites
máximos estabelecidos pela F. Bras. (2010) e RDC 481/99.
Porém, alguns autores não recomendam trabalhar com o
limite máximo de micro-organismos permitidos, pois a
quantidade de UFC, oriundas das embalagens somadas
àquelas relativas ao conteúdo, poderiam em curto período
de tempo ultrapassar o limite permitido e, deste modo,
colocar em risco a qualidade final do produto (Fiorentino
et al., 2008).
O presente estudo demonstrou que há necessidade de
intensificar a fiscalização quanto à qualidade microbiológica
de produtos destinados ao uso infantil, visto que 40% das
amostras analisadas foram reprovadas pelas F. Bras. (2010)
e/ou pela RDC 481/99.
Dessa forma, é necessário que as empresas de
cosméticos e indústrias farmacêuticas cumpram com
rigor as Boas Práticas de Fabricação, para que fabriquem
produtos com qualidade que satisfaçam as exigências
das legislações vigentes no país e resguardem a saúde do
consumidor.
AGRADECIMENTOS
Agradecemos à FUNDECT-MS e ao Laboratório
de Pesquisas Microbiológicas do Centro de Ciências
Biológicas e da Saúde da UFMS.
ABSTRACT
Microbiological Analysis of Children’s Shampoos and
Conditioners
Brazil is one of the largest commercial markets for
children’s cosmetics. Personal-care products such as
shampoos, conditioners and soaps for infants use, as
well as beauty products are used daily by many children.
Therefore, it is essential that these products are within
microbial limits established by the most recent Brazilian
Pharmacopoeia and the Brazilian Health Surveillance
Agency Collegiate Board of Directors Resolution Nº
481/99. This study evaluated the microbiological quality
of samples of 10 shampoos and 10 conditioners intended
for infant hygiene. Of the samples analyzed, 50% of
shampoos and 30% of conditioners showed microbial
growth, such as aerobic bacteria and molds/yeasts,
over the limits allowed. Although pathogenic micro-
organisms were not found, these proportions indicate
the need for pharmaceutical and cosmetic companies
and businesses to comply with Good Manufacturing
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 Análise microbiológica de cremes infantis
Practices, so that consumers are able to purchase
reliable products with appropriate quality to maintain
their health and well-being.
Keywords: Infant hygiene. Shampoo. Conditioner cream.
Microbiological analysis. Quality control.
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 Análise microbiológica de cremes infantis

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Recebido em 17 de fevereiro de 2014

Aceito em 6 de novembro de 2014

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