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APOSTILA DE TÉCNICA

CIRÚRGICA VETERINÁRIA

Profa. Paula Diniz Galera


Universidade de Brasília

2021 – 2a Edição
APOSTILA DE TÉCNICA CIRÚRGICA VETERINÁRIA 1

Faculdade de Agronomia e Medicina Veterinária

APOSTILA DE TÉCNICA
CIRÚRGICA VETERINÁRIA
Profª. Drª. Paula Diniz Galera

Brasília
2021 – 2a Edição

Galera PD
APOSTILA DE TÉCNICA CIRÚRGICA VETERINÁRIA 2

Este trabalho foi o resultado da tentativa de tornar a técnica

cirúrgica mais didática e convidativa aos alunos, fonte de inspiração

da atividade docente. E como alunos e ex-alunos, a ajuda deles na

melhoria do ensino foi fundamental. Meus agradecimentos aos Médicos

Veterinários Laila Maftoum Proença, Mário Sérgio Almeida Falcão,

Ana Carolina V. Rodarte de Almeida, Giovana Fornazari di Rago Pires,

Patrícia Barbosa Rodrigues da Silva, Rosélia L.S Araújo, Clarissa

Machado de Carvalho e Ana Nira Nunes Junqueira. Eles também se

debruçaram em algum momento sobre este trabalho, para torná-lo

mais agradável à leitura de vocês!

Colaboração Dra. Rita de Cássia Campebel e Dr. Edvaldo Nunes

Martins, na elaboração do material de grandes animais.

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ÍNDICE

I. Introdução ao Estudo da Cirurgia Veterinária.........................................5


II. Infecção e Profilaxia da Infecção............................................................12
III. Tempos Fundamentais da Técnica Cirúrgica...........................................33
IV. Materiais de Sutura....................................................................39
V. Suturas e suas aplicações.....................................................................55
VI. Materiais Cirúrgicos.................................................................................75
VII. Paramentação...........................................................................................85
VIII. Cuidados Pré, Trans e Pós-operatórios..................................................90
IX. Técnicas Operatórias em cães e gatos........................................................96
1. Traqueotomia.....................................................................................97
2. Traqueostomia.......................................................................................99
3. Esofagotomia..................................................................................102
4. Celiotomia....................................................................................................106
5. Gastrotomia.................................................................................................109
6. Esplenectomia......................................................................................115
7. Enterotomia, Enterectomia e Enteroanastomose.................................119
8. Cistotomia............................................................................................123
9. Uretrotomia e Uretrostomia.....................................................................127
10. Nefrotomia e Nefrectomia...................................................................130
11. Orquiectomia em cães e gatos.................................................................132
12. Ovariossalpingohisterectomia em cadelas e gatas...........................135
13. Enucleação.........................................................................................140
14. Acesso aos ossos longos: abordagem cirúrgica..............................144
X. Técnicas operatórias em bovinos e equinos..................................150
1. Descorna cirúrgica.....................................................................151
2 . E so g af o t om ia . ... . . . . . . . .. . . . . .. . . . . .. . . . . .. . . . . . . . .. . . . . .. . . . . .. . . . . .. . . . . . . .1 5 2
3. Traqueostomia ......................................................................154
4. Laparotomia e celiotomia em equinos...........................................155
5. Laparotomia e celiotomia em ruminantes.....................................158
6. Rumenotomia.......................................................161
7 . O rqu ie ct om ia .. . .. . .. .. . .. .. . .. .. .. . .. .. . .. .. . .. .. . .. .. . .. .. .. . .. .. . .. .. . .. .. . .16 3

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8. Penectomia ou Falectomia...............................................................165
9. Deferentectomia (vasectomia)..............................................166
10. Desvio lateral do óstio prepucial (neoóstio).................................168
11. Desvio lateral do pênis e prepúcio........................................169
12. Epididimectomia da cauda...................................................171
13. Ressecção do ligamento apical dorsal do pênis.........................172
14. Telotomia e telorrafia..............................................................174
15. Neurectomia digital palmar...................................................176
1 6 . De sm o t om ia pa t e la r me d ia l. . .. . . . .. . . . . . .. . . . .. . . . .. . . . .. . . . .. . . . . . .. 1 78
17. Amputação de dígito e paradígito.........................................179
18. Amputação de metacarpianos e metatarsianos acessórios................182
XI. Bibliografia consultada................................................................184

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INTRODUÇÃO AO ESTUDO DA CIRURGIA


VETERINÁRIA

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I. INTRODUÇÃO AO ESTUDO DA CIRURGIA VETERINÁRIA


Etimologia: a palavra cirurgia origina-se do grego, onde: Cheir = mão; ergon =
trabalho, obra.
Definição: é o ramo da Medicina Veterinária que trata totalmente ou
parcialmente as diferentes moléstias por processos manuais com a finalidade de
produzir modificações úteis ao organismo animal.
Os procedimentos operatórios têm por objetivo restituir ao paciente as
qualidades úteis de produção e trabalho (animais de grande porte, de interesse
zootécnico). Nas espécies de pequeno porte (animais de companhia) predomina o
lado afetivo e, portanto, maior liberdade de ação é dada ao cirurgião veterinário.
Nos atos cirúrgicos deve sempre imperar o maior cuidado, atenção e
delicadeza possíveis.

DIVISÃO DA CIRURGIA
1. Técnica cirúrgica
Também denominada Técnica Operatória. Consiste no estudo particular das
operações, constituindo-se no ato mais impressionante e de maior significado no
tratamento cirúrgico, apesar de ser realizada em um breve espaço de tempo.
Subdivide-se em:
1.1. Técnica cirúrgica propriamente dita: é a execução dos tempos operatórios.
1.2 Tática cirúrgica: é a conduta adotada nas diferentes fases da intervenção
cirúrgica.

2. Patologia cirúrgica
Estuda as afecções localizadas nos diferentes órgãos, sistemas ou
aparelhos, onde pela natureza da afecção impõe-se um tratamento cirúrgico.
Subdivide-se em:
2.1 Patologia cirúrgica geral: estuda as doenças localizadas em tecidos ou órgãos
em geral. Ex: neoplasias, infecções cirúrgicas, etc.
2.2 Patologia cirúrgica especial: estuda as afecções localizadas em órgãos
isolados. Ex: afecções tendíneas.
2.3 Patologia cirúrgica sistemática: estuda as doenças localizadas em sistemas ou
aparelhos. Ex: afecções do sistema digestório.

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2.2 Patologia cirúrgica regional: estuda as afecções localizadas em uma


determinada região corporal. Ex: afecções cirúrgicas da região cervical.

3. Clínica cirúrgica
Estuda o paciente e a doença, onde a afecção adquire um caráter real e
verdadeiro. No caso específico da Medicina Veterinária o exercício da Clínica
Cirúrgica ainda possui mais um elo, representado pelo cliente ou proprietário do
animal, a quem devemos fornecer todas as informações relativas ao paciente. A
Clínica Cirúrgica é dividida em:
3.1. Propedêutica (Semiologia) cirúrgica: são os meios empregados para
estabelecer o diagnóstico.
3.2 Terapêutica cirúrgica: são os meios empregados no tratamento operatório, os
quais podem ser físicos, químicos ou cirúrgicos.

REQUISITOS EXIGIDOS DE UM CIRURGIÃO VETERINÁRIO


O cirurgião veterinário deve possuir certas características, qualidades,
conhecimentos e virtudes, entre elas:
a) Conhecimento das disciplinas básicas (anatomia, fisiologia, farmacologia,
semiologia, radiologia, etc.);
b) Deve também ser clínico;
c) Conhecimentos profundos da arte cirúrgica;
d) Deve ser hábil na execução dos atos operatórios;
e) Ser criativo e/ou dispor de espírito inventivo para lidar com imprevistos
durante a técnica cirúrgica;
f) Saber conduzir os períodos pré, trans e pós-operatórios, tanto em
condições fisiológicas como patológicas;
g) Deve conhecer o paciente no que concerne à sua espécie ou raça;
h) Possuir paciência em grau elevado.

CONJUNTO CIRÚRGICO
É o estudo das intervenções exigidas pelas afecções cirúrgicas, resultando,
fundamentalmente, no seu tratamento.

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Operação (Operatio): É o conjunto de manobras efetuadas com as mãos


armadas ou não de instrumentos que o cirurgião realiza sobre o paciente
penetrando por uma ferida pré-estabelecida ou por via natural.

CLASSIFICAÇÃO DAS OPERAÇÕES

1. Segundo a perda de sangue


1.1. Cruenta: há perda sanguínea.
1.2 Incruenta: praticamente sem perda de sangue.

2. Segundo a finalidade
2.1. Curativas ou de necessidade
2.1.1. Operações de extrema urgência (emergência): são aquelas em que o
cirurgião deve intervir imediatamente para salvar a vida do paciente. Ex:
desobstrução das vias aéreas (traqueotomia).
2.1.2. Operações de urgência relativa: são as que o cirurgião dispõe de certo tempo
para preparar o paciente, melhorando o seu estado geral para o ato operatório. Ex:
piometra (ovariosalpingohisterectomia).
2.1.3. Operações em pacientes com graves alterações funcionais: nesta situação o
cirurgião depara-se com dois tratamentos iminentes, o da afecção cirúrgica e o da
alteração funcional. Ex: hérnia inguinal encarcerada (celiotomia e tratamento médico
do desequilíbrio hidroeletrolítico e endotoxemia).
2.2. De conveniência ou eletivas: são realizadas em pacientes hígidos.
Normalmente são intervenções estéticas ou com finalidade preventiva, econômica
ou zootécnica. Ex: orquiectomia, ovariosalpingohisterectomia eletiva.
2.3. Experimentais: são aquelas realizadas com a finalidade de estudos (não
incentivadas atualmente). Ex: rumenostomia.

3. Segundo a técnica empregada


3.1. Conservadoras: quando conservamos o tecido ou órgão afetado.
3.2 Mutiladoras: quando há necessidade de retirar (exérese) o órgão ou membro,
total ou parcialmente. Ex: amputação de membros.
3.3 Reparadoras: quando fazemos a reparação do tecido ou órgão afetado. Ex:
dermorrafia, blefaroplastia.

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4. Segundo o resultado
4.1 Paliativa: quando não há cura total. Ex: remoção de um tumor em paciente com
metástase em outro órgão.
4.2 Radical: quando há resolução total da lesão.

5. Segundo o prognóstico
5.1 Leve: Ex: drenagem de abscessos.
5.2 Grave: Ex: peritonite (celiotomia exploratória).

DIVISÃO DAS OPERAÇÕES


1. Preparatórias: são aquelas que precedem o ato operatório propriamente dito,
como a contenção do paciente, a tricotomia, a anestesia e a profilaxia da
infecção.
2. Gerais: são as realizadas em qualquer região do corpo. Ex: diérese, hemostasia,
síntese e curativo.
3. Especiais: são realizadas em regiões específicas ou determinadas. Ex:
enucleação.

NOMENCLATURA OU TERMINOLOGIA CIRÚRGICA


Visa identificar corretamente as diferentes intervenções cirúrgicas realizadas.
A nomenclatura ou terminologia cirúrgica baseia-se em um radical ou prefixo que
se refere ao órgão que está sendo abordado e em um sufixo que indica a manobra
que está sendo executada.
SUFIXO MANOBRA EXEMPLOS
Tomia Incisão, corte, secção Esofagotomia, gastrotomia
Ectomia Ablação, exérese, retirada, Orquiectomia, histerectomia
extirpação
Stomia Boca, abertura para o exterior Rumenostomia, uretrostomia
Centese Punção Abdominocentese, artrocentese
Stasia Conter Hemostasia
Rafia União, sutura Tenorrafia, enterorrafia
Scopia Exploração, observação Laringoscopia, rinoscopia
Plastia Plástica, reparação Otoplastia, dermoplastia
Anastomose União de órgãos Enteroanastomose
Dese Imobilização Artrodese
Pexia Fixação Retopexia, gastropexia
Clasia Fratura Osteoclasia

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Apesar da existência da nomenclatura ou terminologia cirúrgica, devemos


lembrar que algumas operações recebem nomes particulares, por exemplo,
operação cesariana (histerotomia); operação de Williams (laringotomia).

1. Relação de radicais ou prefixos mais usados em cirurgia


- abdomino = abdome
- adeno = glândula
- blefaro = pálpebra
- cerato = córnea
- cisto = bexiga
- cole = vesícula
- colo = cólon
- colpo = vagina
- dermo = pele
- entero = intestino
- gastro = estômago
- histero = útero
- laringo = laringe
- mio = músculo
- nefro = rim
- neuro = nervo
- oftalmo = olho
- oofor = ovário
- orqui = testículo
- osteo = osso
- oto = orelha
- procto = reto
- rino = nariz
- salpinge = trompa ou tuba uterina
- teno = tendão
- toraco = tórax
- traqueo = traquéia

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2. Plano operatório: é o resultado de um exame minucioso da situação pelo


confronto da lesão e do paciente que a apresenta. É dividido em tempos
operatórios, que são as fases de uma operação durante a qual é realizada uma
parcela da técnica, que tem duração variável. Ex: diérese, hemostasia e síntese
dos tecidos.
3. Método operatório: é o plano principal da operação, segundo o qual esta será
executada.
4. Processo operatório: é uma variação do método.
5. Momento operatório: é a escolha do momento oportuno para a realização da
operação. Ex: em fazendas deve-se preferir o período matinal, evitando-se os
meses de verão.
6. Campo operatório: é a região do corpo que representa o local da intervenção
cirúrgica, sendo indicado por uma referência anatômica; também considerado
acesso cirúrgico. Ex: celiotomia mediana pré-umbilical (gastrotomia no cão).
7. Equipe cirúrgica: consta do cirurgião, auxiliar ou assistente, instrumentador,
anestesista e circulante (volante) de sala.

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INFECÇÃO E PROFILAXIA DA
INFECÇÃO

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II. INFECÇÃO E PROFILAXIA DA INFECÇÃO


Os registros da prática da cirurgia datam do século IV A.C. Hipócrates dá o
marco inicial da medicina racional, ressaltando a importância da observação clínica
para o diagnóstico e o prognóstico, estabelecendo normas para a anamnese e o
exame físico do paciente. Descreveu várias doenças e condições patológicas
baseadas unicamente na observação clínica.
No século XVII foi inventado o microscópio, cujo aumento óptico não
ultrapassava 32 vezes. Anton van Leeuwenhoek, um comerciante de tecidos, fez
observações que revelaram um mundo até então desconhecido de seres
microscópicos, invisíveis a olho nu, além de aspectos microscópicos insuspeitos de
tudo que examinava.
O conceito do controle da infecção de uma ferida cirúrgica tornou-se um
preceito dentro da cirurgia no final do século XIX, quando Lister descreveu o
“Princípio Anti-séptico da Prática Cirúrgica”. A introdução da utilização de luvas foi
feita por Halsted, em 1913, sendo incluída na prática rotineira da assepsia e da
técnica cirúrgica meticulosa (Hasteld’s Principles of Surgery).
Os Princípios Cirúrgicos de Hasteld incluem manipulação suave dos tecidos,
hemostasia acurada, preservação de irrigação sanguínea adequada, estrita
assepsia, ausência de tensão sobre os tecidos, cuidadosa aproximação dos tecidos
e redução de espaço morto. Neste período, diferenciou-se assepsia de antissepsia.
A assepsia impede a contaminação bacteriana na ferida e não causa a morte das
bactérias após seu ingresso. A compreensão das bactérias, bem como de seu papel
na ferida cirúrgica, associando-se ao desenvolvimento dos antibióticos contribuíram
significativamente para a redução da contaminação bacteriana. A despeito destes
avanços, entretanto, a infecção e a septicemia pós-operatórias continuam entre as
causas importantes de morbidade e de mortalidade em pacientes cirúrgicos.

INFECÇÃO DAS FERIDAS CIRÚRGICAS


Infecção cirúrgica pode ser definida como toda infecção que ocorre nas
feridas operatórias, sendo um problema que afeta a cura dos pacientes desde os
primórdios da cirurgia.
Todas as feridas são contaminadas, o índice de infecção para as feridas é de
aproximadamente 5%, mas se faz necessário um nível crítico de contaminação

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bacteriana para que se instale uma infecção no ferimento. Sabe-se que o nível
crítico de contaminação para a maioria das bactérias é de 105/grama de tecido.
Segue-se à invasão bacteriana a interação entre hospedeiro e bactérias, que
irá determinar se o tecido sofrerá infecção ou não. Os fatores determinantes para
uma infecção são os microrganismos, o ambiente tecidual local e os mecanismos de
defesa sistêmica e local. A redução da defesa do tecido hospedeiro, ou um maior
número de bactérias e maior virulência das mesmas, predispõem a infecção. A
contaminação bacteriana da ferida cirúrgica é o maior determinante da infecção.
O tempo de exposição tecidual também interfere na infecção cirúrgica. Para
uma cirurgia “limpa”, o risco de infecção dobra a cada hora em que a ferida fica
exposta na sala cirúrgica. Em seres humanos demonstrou-se que transcorreu um
período de 5,17 horas após a realização de uma ferida traumática para que
pudessem ser cultivados mais de 105 microrganismos/g tecido da ferida.
A partir daí, firmou-se o “período áureo” de cerca de 5 horas após a
produção da ferida, durante o qual o inóculo bacteriano é pequeno, e permite a
oclusão segura da mesma. Entretanto, a virulência bacteriana, o ambiente tecidual
local e os mecanismos de defesa do hospedeiro devem ser considerados.
A flora bacteriana normal ou endógena geralmente é menos virulenta, mas
tais bactérias podem causar infecção em local que não o de origem. Microrganismos
anaeróbios e entéricos gram-negativos são contaminantes comuns, quando ocorre
exposição ao trato gastrintestinal distal. Quase todas as membranas mucosas são
habitadas por bactérias anaeróbias. Infecções que as envolvem são severas, por
causa das exotoxinas. Infecções mistas (aeróbias e anaeróbias) podem
potencializar a virulência das bactérias.

FONTES DE CONTAMINAÇÃO DA FERIDA


Os microrganismos que invadem uma ferida cirúrgica podem ser
classificados como endógenos ou exógenos. Fontes exógenas incluem as bactérias
provenientes do ar, instrumentos cirúrgicos, fômites cirúrgicos e as pessoas que
transitam no ambiente operatório. Fontes endógenas são as bactérias presentes no
trato respiratório, trato gastrintestinal, trato urogenital, e microbiota presente na pele.
Estes microrganismos respondem pela maior parte das infecções pós-operatórias e
dos casos de septicemia.

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A disseminação hematógena ou linfática de local distinto de infecções no


paciente responde por outra fonte menos comumente observada de infecção
endógena. As bactérias endógenas podem colonizar o tecido através de contato
direto, também chamado de “instalação primária”.
A associação de microrganismos endógenos e exógenos responde pela
maioria das infecções nos procedimentos cirúrgicos simples. Deve-se lembrar que a
cada uma hora de ato operatório cerca de 35.000 a 60.000 bactérias penetram no
campo cirúrgico. Um único indivíduo numa sala cirúrgica expele cerca de 5.000 a
35.000 partículas por minuto, quantidade essa dependente de suas roupas e de seu
último banho.
Foi demonstrado que a cada hora de duração da cirurgia a porcentagem de
infecções dobra, frente ao número de bactérias exógenas e da microbiota endógena
que estão contaminando a ferida, juntamente com a diminuição das defesas
teciduais locais em decorrência de isquemia e do dessecamento dos tecidos.

ETIOLOGIA DAS INFECÇÕES


As bactérias endógenas são os principais microrganismos responsáveis pela
maioria das infecções em feridas cirúrgicas limpas, limpo-contaminadas,
contaminadas e sujas.
A flora bacteriana prevista na pele inclui estafilococos, corinebactérias e
estreptococos. Os microrganismos entéricos gram-negativos também podem se
tornar fonte de infecção.
O trato gastrintestinal possui grande quantidade e variedade de tipos de
bactérias. As regiões da boca e orofaringe são colonizadas por bactérias aeróbicas
e anaeróbias. No estômago a microbiota bacteriana aumenta após as refeições,
mas estes microrganismos são rapidamente eliminados pelo ácido gástrico. No
intestino delgado as bactérias têm seus números aumentados e assemelham-se à
microbiota do cólon com a presença de E.coli e Bacteroides spp.
A microbiota endógena do trato respiratório tem pouca influência sobre as
infecções pós-operatórias, exceto pelas bactérias presentes na cavidade nasal, que
pode abrigar quantidade significativa de estreptococos e estafilococos.
O trato urinário está normalmente estéril, mas o meato uretral distal, vulva e
prepúcio podem conter estafilococos, estreptococos, corinebactérias e coliformes.

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AMBIENTE TECIDUAL DA FERIDA


A quantidade de bactérias necessárias para a produção de infecção numa
ferida varia com o ambiente local. Há necessidade de tecido viável e sadio para que
se estabeleça uma defesa contra as bactérias invasoras. Fatores que contribuem
para o desenvolvimento da infecção:
 Lesão tecidual
- Redução da irrigação sanguínea local
- Presença de material estranho inibindo os mecanismos locais de defesa e são
fatores que contribuem para o desenvolvimento de uma infecção.
- Corpos estranhos como materiais de sutura, drenos e implantes ortopédicos
potencializam as infecções. Alguns materiais de sutura possuem capilaridade e
aderência bacteriana. Implantes metálicos facilitam o crescimento bacteriano
através da formação de uma biopelícula bacteriana (glicocálix) sobre os mesmos.
Esta película dificulta a ação dos anticorpos sobre as bactérias, inibe a fagocitose
dos leucócitos e reduz a eficácia dos antibióticos.
- A manipulação traumática dos tecidos e a tensão da sutura comprometem a
irrigação tecidual favorecendo a infecção. O hematoma libera íons férricos da
hemoglobina, que inibem o efeito bacteriostático do soro assim como a morte
intrafagocitária das bactérias. Traumatismos, espaços mortos e variações de
perfusão tecidual produzem hipóxia, reduzindo a ação leucocitária.
 Isquemia
- Alterações no fluxo sanguíneo tecidual, causado por bisturi elétrico ou laser,
tornam a ferida mais susceptível à infecção,
- Choque ou a ação da epinefrina levam a vasoconstrição.

Vascularização e a perfusão tecidual adequadas são necessárias para que


ocorra a migração e exsudação de leucócitos. A redução do oxigênio tecidual
interfere com a atividade dos leucócitos, porque estes capturam o oxigênio
molecular e o convertem em radicais de alta energia, que são tóxicos às bactérias.

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DEFESAS LOCAIS E SISTÊMICAS DO HOSPEDEIRO


Os componentes de defesa do hospedeiro promovem a mediação de suas
respostas de modo a conter e resolver o processo infeccioso através da resposta
inflamatória.
As alterações na permeabilidade vascular, o sistema fagocitário, o sistema
complemento, o componente humoral, e a imunidade celular-mediada interagem de
modo coordenado para o controle da infecção.

FATORES DE RISCO
Os fatores de risco inerentes à infecção cirúrgica estão relacionados a fatores
do hospedeiro, tais como:
 Imunocompetência (idade, condição física, estado nutricional, natureza do
ferimento),
 Fatores que impeçam ou desativem suas defesas (como coágulos
sanguíneos, tecido isquêmico, bolsas de fluidos ou material estranho), etc.

Assim como, fatores relacionados à cirurgia (falha de técnica asséptica,


tempo cirúrgico prolongado, etc).

CLASSIFICAÇÃO DAS FERIDAS CIRÚRGICAS


A classificação das feridas cirúrgicas foi estabelecida em 1964 com o intuito
de prevenir o nível de contaminação da cirurgia a ser realizada. Os ferimentos
cirúrgicos podem ser classificados como:
 Limpos: Aqueles provenientes de procedimentos tidos como eletivos,
não traumáticos, com cicatrização primária. São isentos de falhas na técnica
asséptica e sem penetração no trato alimentar, respiratório ou urogenital.
Normalmente a taxa de infecção neste tipo de ferida cirúrgica varia entre zero e
4,4%.
 Limpo-contaminados: são procedimentos não eletivos, com abertura
controlada de cavidade orgânica (trato gastrintestinal, respiratório, urinário,
orofaringe) e com falhas assépticas mínimas, ou ainda, nova intervenção cirúrgica
mediante incisão limpa. Nos ferimentos limpo-contaminados a antibioticoterapia

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profilática é indicada, uma vez que a taxa de infecção pode variar entre 4,5 a 9,3%.
A escolha do antibiótico deve se basear na microbiota prevista.
 Contaminados: apresentam falhas na assepsia ou resultam de um
traumatismo penetrante com até quatro horas de ocorrido, ferimento aberto crônico,
fraturas contaminadas de ossos longos e da pelve, procedimentos urogenitais e
inflamação não-purulenta aguda. As taxas de infecção neste tipo de ferida situam-se
entre 5,8 a 28,6%. Preconiza-se antibioticoterapia profilática.
 Sujos: são aqueles que apresentam purulência, secreção e geralmente
resultam de ferimento penetrante ocorrido há mais de quatro horas ou da ruptura de
vísceras colonizadas. Deve-se instituir antibioticoterapia terapêutica, que é baseada
inicialmente na microbiota prevista e depois modificada mediante resultado da
cultura e antibiograma.

INFECÇÃO DAS FERIDAS PÓS-OPERATÓRIAS


A infecção da ferida no pós-operatório pode ocorrer em decorrência de
diferentes situações, como por instalação primária, tendo como exemplos, casos de
fraturas abertas, piometra, abscessos e peritonites. Assim como, pela presença da
microbiota bacteriana endógena ou pela invasão de bactérias por diversas vias até a
ferida, colonizando-a por contato direto.
As infecções produzidas em operações limpo-contaminadas e contaminadas
comumente decorrem de invasão direta até o intestino, ou provêm do trato urinário
ou biliar infeccionado.
As bactérias endógenas também podem penetrar nas feridas por transporte
hematógeno ou linfático com origem em sítio remoto. As respostas vasculares e
linfáticas à inflamação podem promover a transferência de bactérias para ferida.

DIAGNÓSTICO DE INFECÇÃO CIRÚRGICA


Uma ferida cirúrgica infeccionada é definida como uma ferida que apresenta
corrimento ou secreção purulenta. A infecção potencializa lesões teciduais com
infiltração de eritrócitos, leucócitos, macrófagos e o aparecimento de sintomas
inflamatórios exacerbados e de supuração discernível. Os sinais clínicos
relacionados à inflamação incluem rubor (vermelhidão), tumor (inchaço), calor, dor e
perda da função.

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As infecções cirúrgicas podem ser classificadas como:


 Infecção cirúrgica incisional superficial (purulência da incisão superficial),
 Infecção cirúrgica incisional profunda (purulência do fundo da incisão
associada à deiscência, febre, sinais locais de inflamação e abscesso profundo),
 Infecção cirúrgica em órgão ou espaço (purulência do dreno colocado em
espaço ou órgão, isolamento microbiano e abscedação de órgão).
Os sinais clínicos de infecção incluem febre, depressão, inapetência,
disfunção orgânica ou de membro, associados a achados laboratoriais como
leucocitose, desvio degenerativo à esquerda, anemia, elevação do fibrinogênio e
culturas positivas. Alguns exames complementares através de diagnóstico por
imagem podem apresentar imagens de lise óssea, abscedação, falhas em
implantes, e aumento da densidade de líquidos.

PREVENÇÃO DA INFECÇÃO CIRÚRGICA


A prevenção das infecções em ferimentos cirúrgicos é o objetivo primário de
uma cirurgia asséptica e exige o conhecimento completo de todos os fatores
determinantes. O cirurgião pode controlar e ajustar muitos dos fatores envolvidos,
mas há ainda uma série de aspectos controversos e desconhecidos.
O cuidado meticuloso com o ambiente operatório, bem como a preparação do
paciente cirúrgico, do local da cirurgia e a escolha da técnica cirúrgica adequada
são essenciais. A necessidade de profilaxia adicional na forma de antibioticoterapia
sistêmica, tópica, ou pela utilização de antissépticos, deverá ser avaliada no pré e
no pós-operatório.
O ambiente operatório é importante fonte de bactérias exógenas, as quais
podem influenciar na porcentagem de infecções para operações classificadas como
limpas. O número e movimento de pessoas ligadas à sala de cirurgia afetam
diretamente a quantidade de partículas e bactérias circulantes no ar. Quando são
marcadas diversas cirurgias, a probabilidade de infecção é mais elevada nos últimos
procedimentos.
A preparação do paciente para prevenção da infecção da ferida cirúrgica
deve iniciar com a avaliação das defesas do hospedeiro. Alterações como caquexia,
desnutrição e deficiências metabólicas deverão ser corrigidas antes do ato cirúrgico.

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As infecções remotas como as otites, dermatites, infecções do trato


respiratório superior ou inferior, doença periodontal preexistente ou infecção do trato
geniturinário, possuem potencial para desencadear infecção cirúrgica e são razões
suficientes para adiar um procedimento cirúrgico não emergencial.
As internações hospitalares pré e pós-operatórias devem ser breves, visto
que há correlação direta entre o tempo de duração de estada hospitalar pré-
operatória com a taxa de infecção pós-operatória. Os banhos pré-operatórios um ou
dois dias antes da cirurgia, com ou sem a utilização de sabões antissépticos, devem
ser solicitados.
A tricotomia deverá ser realizada imediatamente antes da cirurgia, pois este
procedimento provoca múltiplas lesões superficiais que favorecerão o crescimento
bacteriano. Atualmente se prefere a utilização de máquinas de tosa à utilização de
lâminas de tricotomia a fim de evitar lesões que possam proporcionar maiores
chances de contaminação.
A desinfecção da pele pode ser feita com álcool etílico ou isopropílico (70 ou
95%), solução de clorexidina, tintura de iodo, degermante de clorexidina e soluções de
iodo-povidona, que são os antissépticos mais usados para desinfecção cirúrgica.
A técnica cirúrgica influencia as taxas de infecção onde a atenção aos fatores
locais da ferida, a presença de corpos estranhos, tecido morto, tecido isquêmico,
hematomas, espaço morto, sutura sob tensão e tempo operatório são importantes.
O traumatismo tecidual iatrogênico aumenta o risco de infecção, assim como a
eletrocoagulação.
Os corpos estranhos compreendem material introduzido de maneira
traumática, suturas e drenos. As propriedades dos fios de sutura e a sua
capacidade em induzir ou acentuar a infecção são bem documentadas. O uso de
drenos durante a cirurgia é controverso. Foi comprovado que eles aumentam a taxa
de infecção, principalmente quando introduzidos na incisão principal. Seu uso deve
ser restrito ao acúmulo de sangue, pus ou urina. Dependendo do sistema adotado, a
drenagem poderá resultar em infecções da ferida e na formação de abscessos.
Feridas contaminadas deverão ser tratadas por lavagem abundante,
produzida em jato, com solução salina e auxílio de uma seringa agulhada.

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ANTIBIOTICOTERAPIA
A antibioticoterapia exerceu impacto importante na prática da cirurgia,
promovendo uma redução nas taxas de infecção das feridas cirúrgicas. Entretanto,
a disseminação da utilização intensa de antibióticos com o objetivo de prevenir as
infecções após a cirurgia, algumas vezes de forma profilática inadequada e
inadvertida, pode implicar em falha do tratamento, predispondo à resistência
bacteriana.

ANTIBIOTICOTERAPIA PROFILÁTICA
Os benefícios da antibioticoterapia profilática pré-operatória estão bem
documentados em procedimentos operatórios limpo-contaminados e contaminados,
onde o risco de infecção é potencial, não possuindo indicação primária em cirurgias
limpas, exceto quando o risco de infecção, mesmo baixo, é devastador (ex: cirurgias
ortopédicas). Para que a antibioticoterapia seja adequada, os antibióticos profiláticos
devem estar disponíveis no local cirúrgico durante o período potencial de
contaminação para evitar o crescimento de patógenos contaminantes.
As bactérias que invadem os ferimentos cirúrgicos podem ser suprimidas por
antibióticos sistêmicos desde o momento da contaminação em até no máximo três
horas, daí a importância dos antibióticos estarem disponíveis no local cirúrgico no
momento da contaminação.
Os antibióticos profiláticos diminuem sua eficácia quando administrados após
a ocorrência da ferida, sendo ineficaz se aplicado três horas após o ferimento, pois
este tempo é suficiente para formação de coágulo na ferida, protegendo as
bactérias da ação do antibiótico. A aplicação dos antibióticos deve ser realizada no
momento da indução ou até uma hora antes do ato operatório e a sua continuidade
deve ser avaliada no período pós-operatório.
Entretanto, é sempre bom lembrar que a antibioticoterapia profilática não
substitui a técnica cirúrgica asséptica apropriada, manipulação tecidual meticulosa e
atraumática, hemostasia cuidadosa, uso criterioso de suturas, preservação de
suprimento sanguíneo, eliminação do espaço morto e aproximação anatômica dos
tecidos.
A escolha racional dos antibióticos profiláticos requer identificação dos
microrganismos contaminantes e que estes agentes sejam suscetíveis ao fármaco
usado. Para a profilaxia antimicrobiana, a escolha dos fármacos deve ser realizada

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de forma empírica, de acordo com o sistema envolvido e provável patógeno


esperado.
 Os antibióticos mais utilizados de forma profilática atualmente na cirurgia
veterinária são a cefazolina, uma cefalosporina de primeira geração, e antibióticos
beta-lactâmicos (ex. penicilinas), que interferem na síntese da parede celular do
peptidioglicano via inibição de enzimas envolvidas no processo de transpeptidação,
sendo efetivas contra algumas espécies de Staphylococcus e Streptococcus, e
também eficazes contra Escherichia coli, Klebsiella pneumoniae e Proteus mirabilis.
 A dose recomendada é de 25mg/Kg, realizada no momento da indução
anestésica, por via intravenosa, podendo ser repetida a cada 2 a 3 horas de cirurgia,
dependendo da duração da cirurgia, podendo ser interrompida após o fechamento
do ferimento cirúrgico. Geralmente a administração do antibiótico profilático não
precisa ter continuidade por mais de 24 horas após o procedimento cirúrgico.

ANTIBIOTICOTERAPIA TERAPÊUTICA
O uso terapêutico de antibióticos baseia-se no julgamento clínico,
conhecimento do mecanismo de ação do antibiótico e fatores microbiológicos.
Quando se opta por um determinado fármaco, o objetivo é que ele seja ativo contra
o microrganismo infectante de forma seletiva, com baixo poder de intoxicação, que
não influencie negativamente no sistema imunológico do hospedeiro e que elimine
as bactérias no local da infecção.
A antibioticoterapia terapêutica aplica-se aos casos de:
 Septicemia,
 Infecção no local cirúrgico e/ou cavidade corporal ou, ainda,
 Em qualquer procedimento cirúrgico contaminado ou sujo, onde se encontra
contaminação bacteriana elevada.
Em geral a terapia medicamentosa é estabelecida inicialmente por 7 - 10 dias
e é mantida por mais dois a três dias após a resolução de todos os sinais clínicos,
uma vez que a duração máxima de uma terapia dependerá da doença que está
sendo tratada e da toxidade do fármaco escolhido. A escolha do antibiótico deverá
ser feita mediante cultura e antibiograma, sempre que possível.
O sucesso de uma antibioticoterapia se dá pela melhora da condição inicial e
repousa no diagnóstico original correto, na cultura e antibiograma e posologia
adequada. A resposta do paciente e a avaliação do antibiótico são realizadas em no

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mínimo 3 dias, a fim de se determinar se há falha de algum desses fatores descritos


anteriormente.

PROFILAXIA DA INFECÇÃO
O rompimento da integridade dérmica, como acontece nas cirurgias, propicia
o acesso de microrganismos aos tecidos internos. As bactérias que contaminam
os ferimentos cirúrgicos originam-se geralmente da flora endógena do paciente,
da equipe, sala cirúrgica e do ambiente. Para evitar que a contaminação ocorra,
devem-se seguir regras de técnica asséptica, consideradas “leis” da sala de
cirurgia. O não cumprimento destas leis sujeita o paciente ao risco de uma
infecção cirúrgica.

A prevenção ou profilaxia da infecção baseia-se em dois grandes métodos:


 Antissepsia
 Conjunto de manobras que utilizamos para destruir ou impedir o
desenvolvimento de microrganismos saprófitas ou patogênicos existentes na
pele ou mucosa, bem como nos instrumentos e demais materiais necessários
à intervenção cirúrgica.
 Assepsia
Compreende as precauções que o cirurgião e seus auxiliares tomam com a
finalidade de permitir que tanto a ferida cirúrgica quanto o instrumental utilizado
permaneçam livres de microrganismos evitando, assim, qualquer contaminação.

Quando obedecemos aos métodos de assepsia e antissepsia,


estamos diante de uma condição asséptica.

Na prática, porém, existem situações em que um ato operatório não pode ser
asséptico. É o caso de algumas afecções que envolvam contaminação (ex:
piometra, drenagem de abscesso, cirurgias da cavidade oral) e algumas cirurgias
em grandes animais. Ainda, cirurgias realizadas em estábulos ou a campo não são
consideradas assépticas – mas podem minimizar a contaminação adotando-se
práticas de antissepsia.

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Métodos de antissepsia
1. Antissepsia prévia
Deve ser realizada na pele do paciente por um volante utilizando luvas e
compressas de gaze, não necessariamente estéreis. As gazes devem ser passadas
de forma a configurar na pele uma “espinha de peixe”. Tal procedimento deve ser
repetido de acordo com o protocolo antisséptico estabelecido. (Usando PVPI
degermante, PVPI tópico e álcool 70%, repetir 3 x cada ou como uso de clorexidine
degermante e clorexidine alcoólico, repetir 6 x cada)

2. Antissepsia definitiva
Esta é então realizada pelo auxiliar já paramentado utilizando uma pinça de
antissepsia e compressas de gaze estéreis. O procedimento é idêntico ao da
antissepsia prévia (A utilização do PVPI degermante é opcional, nas realizadas com
clorexidine faz-se necessário apenas o uso do alcoólico)
Após o término da antissepsia definitiva, a pinça utilizada é considerada
contaminada e deve ser descartada da mesa cirúrgica.
Se a área da antissepsia tiver uma região mais contaminada (nódulos ulcerados,
fístulas), esta região deve ser deixada por último em cada passagem da gaze, que
em seguida deve ser descartada.

Antissepsia prévia e definitiva: passe a gaze no sentido longitudinal (1), faça “espinha
de peixe” de um lado (2), repita o procedimento no outro lado utilizando o lado oposto
da gaze (3), por fim descarte a gaze.

ESTERILIZAÇÃO E DESINFECÇÃO
1. Esterilização: refere-se à destruição de todos os microrganismos (bactérias,
vírus, esporos) sobre alguma coisa. Ela se refere, geralmente, a objetos que entram

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em contato com tecidos estéreis ou no sistema vascular (ex: instrumentos, campos


estéreis, cateteres, agulhas).
2. Desinfecção: refere-se à destruição da maior parte de microrganismos
patogênicos presentes em objetos inanimados (não vivos).
3. Antissepsia: corresponde à destruição da maioria dos microrganismos
patogênicos em objetos animados (vivos). Usam-se antissépticos para matar
microrganismos presentes na pele do paciente, mas a pele não fica esterilizada.

ESTERILIZAÇÃO
Como os tecidos internos do corpo são estéreis, qualquer produto que entre em
contato com eles também deve ser.
Os métodos de esterilização de instrumentos cirúrgicos ou outros equipamentos
incluem:
 vapor,
 substâncias químicas,
 plasma e
 radiação ionizante.
A esterilização por vapor pressurizado consiste no método mais empregado
nos hospitais. O vapor destrói os microrganismos por coagulação e desnaturação de
proteínas celulares. Para destruir todos os microrganismos, deve-se estabelecer
uma relação correta entre temperatura, pressão e tempo de exposição.

1. Calor úmido
1.1 Ebulição ou fervura: é a utilização da água no seu ponto de ebulição pelo
período de 30 a 60 minutos. É um método precário e serve para a esterilização
de instrumental cirúrgico metálico e vidrarias.
1.2 Autoclavagem: é o uso da água em forma de vapor e sob pressão. A
temperatura deve atingir 120° a 130°C e a pressão de 1 a 1,5 atm durante 30 a
40 minutos. Serve para esterilizar panos de campo, aventais, instrumentos de
borracha, plásticos e compressas.
2. Calor seco
Realizado em estufas de ar quente (estufas de esterilização e secagem =
fornos Pasteur). A temperatura deve atingir 160° por 60 minutos. É mais adequado
para esterilizar o instrumental cirúrgico metálico.

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Entretanto, a simples colocação de um material num esterilizador não


assegura que o processo seja efetivo. Para se verificar a efetividade da esterilização
existem os indicadores de esterilização, que sofrem mudança química ou biológica
em resposta a alguma combinação de tempo e temperatura. Os indicadores
químicos geralmente são esparadrapos ou fitas de papel impregnadas com material
que muda de coloração quando atinge determinada temperatura. Estes indicadores,
porém, não asseguram esterilidade, uma vez que não sofrem influência do tempo de
exposição. Mas indicam que algumas condições (como temperatura, por ex.) foram
seguidas.

DESINFECÇÃO
Realizada por meio de agentes químicos como desinfetantes e antissépticos.

1. Desinfetantes: são agentes químicos que destroem microrganismos;


- Os desinfetantes são escolhidos de acordo com a sua finalidade;
- geralmente são germicidas (exterminam microrganismos patogênicos);
- alguns desinfetantes são eficazes na destruição de um número limitado de
microrganismos; outros, na destruição de todos os microrganismos, incluindo
esporos;
- são usados em objetos, materiais e instalações.

2. Antissépticos: são agentes químicos que inibem ou impedem o crescimento


de germes. Geralmente são bacteriostáticos e preparados para uso em tecido vivo.
Os desinfetantes e os antissépticos devem apresentar algumas propriedades
para serem efetivos:
- boa ação antimicrobiana ou germicida;
- umectantes;
- boa capacidade de penetrar nos tecidos;
- boa atividade na presença de pus, sangue ou tecidos necrosados;
- não interferir no processo normal de cicatrização;
- coloridos (assinalar a área aplicada);
- não corrosivos (aos metais) e não cáusticos;
- econômicos e de fácil aquisição.

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DESINFETANTES COMUNS USADOS EM MEDICINA VETERINÁRIA


1. Álcoois: isopropílico (50-70%) e etílico (70%).
 Uso prático: limpeza de manchas; preparação do local de injeção;
 Propriedades desinfetantes: boas;
 Propriedades antissépticas: muito boas;
 Mecanismos de ação: desnaturação proteica, interrupção metabólica e lise
celular;
 Precauções: corrosivo para o aço inoxidável; voláteis; endurecimento de
borrachas e plásticos;
 Limitações: atividade de solvente e rápida evaporação;
 Mais usados: etanol (potente viricida) e álcool isopropílico (incapaz de inativar
agentes virais encapsulados).

2. Aldeídos: glutaraldeído e formaldeído


2.1 Glutaraldeído: solução aquosa a 2%. A solução pode ser aquosa (ácida) e
não esporicida. Para tornar-se esporicida deve ser alcalinizada (pH 7,5 a 8,5).
 Uso prático: desinfecção de lentes e instrumentos delicados como
endoscópios e sondas (inclusive as de anestesia);
 Propriedades desinfetantes: boas, esterilizam;
 Não possui propriedades antissépticas.
 Mecanismos de ação: alquilação de proteínas e ácidos nucléicos;
 Precauções: reação tecidual, odor (enxágue bem o instrumento antes de
usá-lo);
 Limitações: toxicidade, agressão ao meio ambiente, atividade de solvente
e rápida evaporação.

2.2 Formaldeído: gás incolor de cheiro característico e irritante.


 Uso prático: fumigação (fácil uso, barato, eficiente); desinfecção de
ambientes.
 Propriedades desinfetantes: boas (sol. a 20% de formalina)
 Não possui propriedades antissépticas
 Mecanismos de ação: alcilação de proteínas e ácidos nucléicos

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 Precauções: o ambiente deve estar fechado e sem animais; instalações


vedadas por 24 horas.
 Limitações: vapor irritante, odor ofensivo, evidências de
carcinogenicidade.

3. Compostos clorados: hipoclorito de sódio (diluído em 1:10 é usado como água


sanitária caseira).
 Uso prático: limpeza de pisos e tampos
 Propriedades desinfetantes: boas
 Propriedades antissépticas: boas
 Mecanismos de ação: liberação de cloro e oxigênio
 Precauções: inativados por resíduos orgânicos; corrosivos para metais;
quando misturado ao formaldeído resulta em produto carcinogênico.

4. Compostos iodados: iodóforos (7,5%); sol. de escarificação.


 Uso prático: limpeza de pisos e tampos de coloração escura
 Propriedades desinfetantes: boas
 Propriedades antissépticas: boas
 Mecanismos de ação: iodação e oxigenação de moléculas essenciais
(interfere com o sistema enzimático e desnatura proteínas).
 Precauções: coram tecidos sintéticos e vivos.
 Limitações de uso: não é esporicida e é corrosivo para metais.
Para ser germicida o iodo exige contato prolongado com a superfície e se a
solução ficar incolor, não existe mais atividade antimicrobiana. Os mais usados são
o Iodophor (Biocid, Lasocid = 2,6% de iodo) e o PVPI (Lorasol = 1,6% de iodo e
Riodeína = 1% de iodo).

5. Outros compostos:
Cal:
Óxido de cálcio (cal virgem) e hidróxido de cálcio (cal extinta ou apagada);
utilizada na pulverização de ambientes, é um produto barato e de fácil aquisição.

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Ácido Peracético:
Proporciona a desinfecção e a esterilização química. Vem sendo utilizado em
substituição ao Glutaraldeído. É biodegradável, sendo que os produtos de sua
decomposição (ácido acético, água, oxigênio e peróxido de hidrogênio) não são
tóxicos ou prejudiciais aos equipamentos e não deixam resíduos. No entanto,
possui custo superior ao Glutaraldeído.

ANTISSÉPTICOS MAIS COMUNS USADOS EM MEDICINA VETERINÁRIA


1. Álcoois: álcool etílico (70% em peso = 78% em volume).
Usado na desinfecção da pele, sendo eficaz contra formas vegetativas,
embora ineficaz contra esporos.

2. Compostos halogenados: iodo, iodóforo, álcool iodado, glicerina iodada.


O iodo é um dos antissépticos mais usados em Medicina Veterinária por ser
eficaz, econômico e de baixa toxicidade para os tecidos. Tem amplo espectro de
ação contra bactérias gram-negativas, gram-positivas, micobactérias, alguns vírus
revestidos e não-revestidos, protozoários, fungos e leveduras. Pode ser usado como
tintura de iodo (solução alcoólica contendo 2% I2 e 2% NaI) e solução concentrada
de iodo. Esta última solução é usada em Medicina Veterinária com finalidade
revulsiva ou vesicatória, uma vez que é tóxica para os tecidos.
Iodóforo é uma combinação de iodo com um agente transportador que liberta
o iodo livre na circulação. Comercialmente é encontrado como Povidona-iodo
(betadina ou isodina), que é um complexo de Iodo com Polivinilpirrolidona. Tem a
vantagem de causar menor reação tecidual (é menos irritante), mas não é mais
eficaz que a Tintura de Iodo.
O álcool iodado é utilizado na antissepsia da pele e previamente à aplicação
de injeções. Trata-se de uma solução contendo 10% de Tintura de Iodo comercial
em álcool etílico a 96° GL.
Por fim, a glicerina iodada é glicerina contendo 5 a 10% de Tintura de Iodo.
Deve-se lembrar que os compostos iodados são corrosivos ao instrumental
metálico.

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3. Gluconato de clorexidina
A clorexidina é amplamente usada na Medicina Veterinária para antissepsia
da pele pela sua eficiente e rápida ação antimicrobiana. Age principalmente contra
bactérias gram-positivas, gram-negativas e possui atividade variável contra fungos.
Apresenta atividade residual e baixo potencial de toxicidade para a pele. É
encontrada nas soluções degermante a 2 ou 4%; solução alcoólica a 0,5% e
solução aquosa a 2,0%, 0,2% e 0,12%. Não deve ser aplicado em tecidos oculares,
ouvidos, sistema nervoso central e cavidades corpóreas.

4. Compostos oxidantes: libertam oxigênio.


Em Medicina Veterinária são usados na profilaxia do tétano. São os
peróxidos e o permanganato de potássio (KmnO4). Dos peróxidos, a água
oxigenada (H2O2) em solução aquosa a 3% é o mais usado. É instável e tem breve
ação germicida. O permanganato de potássio apresenta-se na forma de cristais de
cor púrpura escura e é utilizado em feridas e infecções do trato genital feminino nas
grandes espécies, em infusões. É corrosivo para o instrumental metálico e mancha
a roupa.

5. Agentes tensoativos e detergentes: sabões.


Possuem a capacidade de diminuir a tensão superficial dos líquidos. Tem
boa solubilização, dispersão e emulsificação. Usados em processos supurativos em
geral e nas metrites, tornam o pus fluido e facilitam sua eliminação.

MATERIAIS CIRÚRGICOS
1. Preparação de kits cirúrgicos (instrumental, panos de campo, aventais,
compressas...):
Os instrumentos e os tecidos a serem usados em cirurgia devem ser limpos
de contaminação grosseira.
A limpeza pode ser manual ou com equipamentos de limpeza ultrassônica e
detergente enzimático logo após terem sido usados. Depois de lavados, devem ser
secos, montados em caixas ou embalados individualmente, e esterilizados. A
esterilização pode ser com vapor ou gás e a embalagem deve ser escolhida de
acordo com o método de esterilização, pois ela irá potencializar o método

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empregado e preservar o material estéril. Desta forma, a embalagem deve ser


impermeável a micróbios e durável.
Os kits de instrumentos, as dobraduras dos aventais e dos campos cirúrgicos
devem ser embaladas de maneira que possam ser facilmente desembalados sem
quebrar a técnica estéril.

2. Manipulação e armazenamento de instrumentos/ equipamentos


esterilizados:
Deve-se deixar que os kits resfriem e sequem individualmente depois de
removidos da autoclave. Se forem colocados uns sobre os outros (ex: uma caixa em
cima da outra), pode haver condensação de umidade, resultando em contaminação.
Uma vez secos tais kits devem ser armazenados em coberturas contra poeiras,
impermeáveis e em armários fechados. Evitar manipulação excessiva para não
romper a embalagem. Guardar estes kits longe de ductos de ventilação, borrifadores
e lâmpadas produtoras de calor. As condições ambientais incluem baixa umidade,
baixa turbulência aérea (sem vento) e temperatura ambiente constante.
Há controvérsias quanto ao prazo de expiração da esterilização. Isto porque
eventos, e não o tempo, contaminam os materiais. Demonstrou-se que se os itens
forem embalados, esterilizados e manipulados adequadamente, permanecerão
esterilizados. Ocorrerá contaminação se o pacote for aberto, molhado ou rasgado.

Autoclave (A) e armazenamento de materiais não estéreis (B) e estéreis.

EQUIPE CIRÚRGICA
O número de pessoas dentro do centro cirúrgico deve ser limitado, como
meio de reduzir a fonte de contaminação. Toda a equipe cirúrgica deve estar com
vestimenta adequada e exclusiva ao centro cirúrgico. A equipe envolvida na cirurgia
propriamente dita (cirurgião, auxiliar e instrumentador) submete-se à paramentação,
colocando vestimenta (avental cirúrgico) estéril, e deve ficar todo o tempo de frente
para o paciente.

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AMBIENTE CIRÚRGICO
Devido ao constante perigo de contaminação do paciente cirúrgico, a área
cirúrgica deve ser dividida em “limpa”, “mista” e “contaminada”.

1. Áreas limpas
 Sala cirúrgica,
 Áreas de pias de antissepsia e
 Salas de suprimentos esterilizados.
2. Áreas mistas
 Corredores entre as salas cirúrgicas e
 Áreas de enfermeiros e de processamento de instrumentos.
3. Áreas contaminadas
 Salas de preparação anestésica, vestiários e consultórios.
As áreas limpas devem ter um acesso limpo e limitado. Por isso, pessoas que
entrem nestas áreas devem vestir trajes cirúrgicos apropriados e o número de
pessoas deve ser reduzido. As portas devem ser mantidas fechadas o tempo todo.
Os tecidos sujos e o lixo devem ser mantidos na área contaminada. Os pacientes
devem ser submetidos à tricotomia na área contaminada antes do transporte para a
área limpa.
A sala cirúrgica deve ser de design simples, de fácil limpeza, com pisos, teto
e paredes de superfície lisa (exemplo abaixo). O material das superfícies deve
suportar lavagens frequentes. No final do dia deve-se limpar todo o recinto e os
materiais cirúrgicos. O lixo deve ser devidamente recolhido e descartado. Resíduos
orgânicos (secreções, sangue) devem ser removidos tão logo se encerre o
procedimento cirúrgico.

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TEMPOS FUNDAMENTAIS DA TÉCNICA


CIRÚRGICA

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III. TEMPOS FUNDAMENTAIS DA TÉCNICA CIRÚRGICA

DIÉRESE

1. Definição
São manobras manuais e instrumentais que visam afastar (separar) os
tecidos com finalidade terapêutica.

2. Classificação
2.1 Diérese cruenta: divisão dos tecidos com perda de sangue.
2.1.1 Arrancamento: manobra manual feita por rompimento. Feita em nervos,
vasos, orquiectomia de bezerros.
2.1.2 Curetagem: utiliza a cureta e tem por finalidade eliminar tecidos superficiais
neoformados indesejáveis. Ativa a cicatrização em feridas ulceradas.
2.1.3 Debridamento: utiliza a tesoura ou bisturi para eliminar bridas (aderências).
Bridas são tecidos neoformados resultantes da cicatrização; circundam
tumores, dificultando a sua retirada.
2.1.4 Divulsão ou descolamento: manobra manual ou com tesoura romba fechada,
que visa promover uma cicatrização mais rápida e menos volumosa. É
realizada para liberação de saco herniário, tumores, etc.
2.1.5 Escarificação: raspado mais superficial do tecido. Utiliza-se cureta ou lâmina
de bisturi.
2.1.6 Exérese ou ressecção: eliminação de determinada estrutura anatômica.
Ressecção de tumores, de saco herniário. Realizado com bisturi, tesoura,
serra, etc.
2.1.7 Formação de fístula: exteriorização de um órgão oco. Realizado com tesoura
ou bisturi.
2.1.8 Fratura: realizada com fio serra, serra, etc.
2.1.9 Liberação de aderências: técnica manual ou realizada com a tesoura romba
fechada.
2.1.10 Punção: realizada com agulha ou trocáter. Ex: cistocentese, ruminocentese.
2.1.11 Divulsão: técnica que afasta o tecido sem secção. Pode ser manual ou
instrumental.

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2.1.12 Punço-incisão: técnica realizada com bisturi para drenagem de abscesso.


2.1.13 Incisão: realizada com bisturi ou tesoura. Deve seguir os seguintes princípios:
- evitar corte biselado (lâmina do bisturi deve estar perpendicular ao corte);
- evitar incisão em tecidos fora do plano cirúrgico;
- realizar a incisão em um só tempo (“única e magistral”);
- não trocar a direção do corte;
- o bisturi deve ser utilizado para a incisão da pele. Depois, deve-se utilizar
a tesoura.

1 2

Técnicas de incisão. Figura 1. Uso de bisturi. Figura 2. Uso de tesoura

2.1.13.1 Classificação da incisão:


- simples: em um único sentido, uma só manobra ou movimento.
- combinada: 2 sentidos. Ex: uma reta e uma curva, cruz para atresia
anal, trepanação.
2.1.13.2 Eixo da incisão:
- longitudinal
- transversal
- oblíquo
2.1.13.3 Direção da incisão:
- crânio-caudal
- dorso-ventral
- latero-lateral
2.1.13.4 Incisão nos tecidos moles:
- Pele; órgãos
- outros tecidos
2.1.13.5 Incisão nos tecidos duros:
- ossos (amputação, consolidação defeituosa)

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- tecidos córneos
2.2 Diérese incruenta: não há perda significativa de sangue.
2.2.1 Bisturi elétrico: secção por passagem de corrente elétrica de alta frequência,
causando desnaturação proteica (colágeno). O bisturi elétrico monopolar é
usado para diérese e hemostasia, reduzindo o tempo cirúrgico. Entretanto, se
usado extensivamente, aumenta a susceptibilidade à infecção e seroma. O
cautério bipolar possui via de condução de energia menos extensa entre os
tecidos, é mais preciso e o dano tecidual é restrito à área próxima à ponta do
cautério. Não pode ser utilizado em meio líquido, por causar dispersão da
corrente, diferente do bipolar.
2.2.2 Raio laser: usado em cirurgia oftálmica (refrativa).
2.2.3 Criobisturi.

HEMOSTASIA
1. Definição
São manobras manuais e instrumentais que visam evitar, prevenir ou deter a
hemorragia ou impedir a circulação temporária em determinada área.
O controle da hemorragia deve ser feito plano a plano e tem por finalidade:
- limpeza da área operatória, pois o sangue dificulta a visualização;
- evitar o choque e hipóxia tecidual;
- evitar coágulos nas bordas das feridas, pois estes são meio de cultura para
bactérias, podendo retardar a cicatrização.

2. Classificação das hemorragias


2.2 Externa: o sangue flui para o exterior
2.3 Interna: o sangue tende a se acumular no interstício dos tecidos (equimoses)
em cavidades neoformadas (hematomas), ou não (hemotórax, hemoperitônio).

3. Tipos de hemostasia
3.1 Preventiva
- torniquete
- faixa de Esmarch

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3.2 Temporária
- tamponamento com gaze
- compressão digital ou instrumental
- pinça hemostática

3.3 Definitiva
- ligadura ou transfixação com fios de sutura (evitar englobamento de tecidos
em torno dos vasos)

4. Métodos de hemostasia
4.1 Físicos:
4.1.1 Compressão circular: torniquete, faixa de Esmarch. Não usar em regiões
infectadas. O garrote ou torniquete não deve permanecer no membro do animal por
mais de uma hora.
4.1.2 Compressão digital: preventiva.
4.1.3 Compressão indireta: temporária. Para hemorragias capilares ou
subcutâneas, feitas com algodão ou gaze.
4.1.4 Pinças hemostáticas: temporária ou definitiva.
4.1.5 Ligadura por laçada ou transfixação.

1 2 3 4
Ligadura por laçada: faça um nó duplo e 3 ou mais simples (fios com alta memória exigem mais nós).
Cerre o nó com os dois dedos próximos a ele, como mostra a figura 3.

A B
Ligadura por transfixação: com um nó duplo e 3 ou mais simples do lado oposto ao da
transfixação (A) ou com um nó duplo após a transfixação e um nó duplo e 3 ou mais simples do lado
oposto ao da transfixação (B).

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4.1.6 Ligadura em massa: quando é impossível a individualização de um vaso.


4.1.7 Torção (do vaso)
4.1.8 Eletrocoagulação: eletrobisturi, que aproveita o calor pela passagem da
corrente elétrica de alta frequência. Utiliza 2 eletrodos: o negativo fica sob o dorso
do paciente e o positivo é o bisturi.
4.1.9 Termocauterização

4.2 Químicos: perclorato de ferro; alúmen de potássio.


4.3 Biológicos: veneno de cobra (Bothrops jararaca); fibrina esponjosa (hemorragia
capilar em órgãos parenquimatosos); fibrinogênio.

SÍNTESE
1. Definição
É o conjunto de manobras manuais e instrumentais através do uso de fios e
outros materiais, que visa restabelecer a condição anatômica funcional dos tecidos.

2. Condições para se estabelecer uma boa cicatrização


- Antissepsia e assepsia
- Hemostasia perfeita
- Abolição do “espaço morto”
- Bordas das feridas limpas e regulares
- Ausência de corpo estranho e tecido morto
- Posição anatômica correta
- Tração moderada dos nós
- Escolha correta dos instrumentais e materiais de sutura

3. Tipos de cicatrização
3.1 Primeira intenção
3.2 Segunda intenção

4. Materiais de sutura

- Fios; Grampos; Grampeadores; Adesivos sintéticos e biológicos.

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MATERIAIS DE SUTURA

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IV. MATERIAIS DE SUTURA


PROPRIEDADES DOS FIOS DE SUTURA
O fio de sutura é uma porção de material sintético ou derivado de fibras
vegetais ou estruturas orgânicas, flexível, de secção circular e com diâmetro muito
reduzido em relação ao comprimento.
Características do fio ideal:
- boa segurança no nó;
- adequada resistência tênsil;
- fácil manuseio;
- baixa reação tecidual;
- não possuir ação carcinogênica;
- não provocar ou manter infecção;
- manter as bordas da ferida aproximadas até a fase proliferativa da
cicatrização;
- ser resistente ao meio no qual atua;
- esterilização fácil;
- calibre fino e regular;
- baixo custo.

CLASSIFICAÇÃO DOS FIOS


Fios absorvíveis são aqueles que sofrem degradação e perdem sua força
tênsil em menos de 60 dias.
Fios inabsorvíveis mantém a força tênsil por mais de 60 dias. Alguns fios
classificados como inabsorvíveis são biodegradáveis
Subclassificações podem ser baseadas na origem da matéria prima (animal,
mineral, vegetal ou sintético), no número de filamentos (mono/multifilamentado) ou
ainda, no tratamento superficial e tingimento na degradação enzimática.

1. Materiais inabsorvíveis
1.1 Origem animal, vegetal ou mineral
Seda, linho e algodão e aço, são fios de origem animal, vegetal e mineral,
respectivamente. À exceção do aço, são de ótimo manuseio. Todos podem produzir
reação tipo corpo estranho. O fio de seda é um dos mais antigos usados em

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cirurgia, sendo de fácil manipulação com boa conservação do nó. Apresenta pouca
reação tecidual. O fio de algodão é muito difundido pelo baixo custo e fácil
manuseio, porém, causa maior reação tecidual. Os fios de origem vegetal são
fabricados por torção ou trançados das fibras que os compõem. Por serem
multifilamentados mostram tendência maior para o desenvolvimento de abscessos
quando usados na presença de processos infecciosos.

2.2 Sintéticos
Náilon, perlon, poliéster e polipropileno adaptados como fios inabsorvíveis
apresentam reação tecidual menor; oferecem alguma dificuldade quanto ao
manuseio e mostram facilidade em desatar o nó (por isto exigem superposição de
seminós de segurança). São os mais inertes de todos os fios. Os fios inabsorvíveis
sintéticos multifilamentados são fabricados a partir de fibras que são trançadas, o
que torna o manuseio mais fácil.
Os fios metálicos podem ser trançados ou monofilamentados. São de mais
difícil manuseio, mas possuem enorme resistência, sendo utilizados em síntese
óssea. Não provocam reação tecidual. Os nós comuns são impraticáveis, sendo
fixados por meio de torção de suas extremidades com alicate ou pinça hemostática.
Todos os fios sintéticos são mais resistentes que a seda ou o algodão.
Causam pouca reação tecidual com formação de uma cápsula delgada de tecido
conjuntivo em volta do fio.

2. Materiais absorvíveis
1.1 De origem animal ou orgânico
Categute. Cat gut significa intestino de gato, pois era inicialmente obtido a
partir dele. Atualmente é fabricado a partir do intestino do carneiro, boi ou porco,
podendo ser simples ou cromado. Introduzido no organismo, instala-se elevada
reação inflamatória que leva à degradação e absorção do fio, sempre acompanhada
de reação tecidual e rápida absorção. A absorção do categute simples leva à perda
de sua capacidade tensiva em 1-2 semanas, variando com o local da sutura,
podendo ser absorvido em 24-48hs quando usado no estomago canino. A adição de
sais de cromo diminui o grau de absorção inicial. Atualmente está em desuso.

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2.2 Sintéticos
São copolímeros derivados de açúcares, lentamente reabsorvidos por
hidrólise (60 a 180 dias); podem ser multi ou monofilamentados.
Exemplos:
a) Multifilamentados
- Ácido poliglicólico: tem ótima resistência tênsil, mínima reação inflamatória.
Perde 50% da resistência em 14 dias, e é completamente reabsorvível em 90 dias.
- Poliglactina 910: é um copolímero de ácido glicólico e glicolático, totalmente
absorvível por hidrólise em 60-90 dias.
b) Monofilamentados
- Poligliconato: é um copolímero de ácido glicólico e carbono de metileno, é
totalmente reabsorvido em 180 dias. Em um mês, 60% da força tênsil ainda é
preservada. Mantém as mesmas características dos sintéticos absorvíveis, com a
vantagem de que em 14 dias sua força tênsil está íntegra.
- Poliglecaprone 25: possui alta força tênsil inicial, excelente flexibilidade e
perda relativamente rápida da força tênsil (cerca de 75% após 14 dias). Causa
mínima reação tecidual e é complemente reabsorvido em cerca de 120 dias.

FIOS DE SUTURA
Absorvíveis
Orgânicos: Categute simples / cromado
Sintéticos: Monofilamentados: Polidioxanone ou PDS
Poligliconato ou Maxon
Glicomero 631 ou Biosyn
Poliglitone 6211 ou Carprosin
Multifilamentados: Ác. poliglicólico ou Dexon (II ou S) (verde/ branco)
Poliglactina 910 ou Vicryl (violeta/ branco)
Poligrecaprone 25 ou Caprofyl, Monocryl
Inabsorvíveis
Orgânicos: Seda, Algodão (branco / preto)
Sintéticos: Náilon monofilamentado / multifilamentado
Mistos (poliéster polipropileno/ algodão encapado com poliéster)
Minerais (aço)

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APRESENTAÇÃO DOS FIOS


Os fios são encontrados em comprimentos padronizados, que variam entre si.
Podem ser fornecidos agulhados (denominados “atraumáticos”) ou não. Quando
fornecidos sem agulhas, podem ser usados para ligaduras ou para sutura montados
em agulhas de fundo falso.
Os fios com agulhas podem conter uma ou duas agulhas. As embalagens
podem conter um único fio ou várias unidades, de acordo com a quantidade usada
num mesmo ato operatório.

CALIBRE DOS FIOS


O calibre dos fios é designado por codificação que tem sua origem na época
em que eram comercializados exclusivamente para fabricação de vestuário.
O maior calibre é designado número 5, chegando a 12.0. A numeração é
progressivamente decrescente até o número 1, a partir do qual o fio é designado por
0, 2.0, 3.0, e assim sucessivamente até 12.0, que é o mais fino e corresponde a um
diâmetro que oscila entre 0,001 e 0,01 mm.

PROPRIEDADES DOS FIOS DE SUTURA


1. Características físicas
1.1 Configuração física: composição dos fios quanto aos seus filamentos:
monofilamentados ou multifilamentados (este, trançado ou torcido). Os
multifilamentados aumentam chances de infecção.
1.2 Capilaridade: capacidade de absorver fluidos e transferir ao longo da sutura,
mesmo que apenas uma extremidade do fio esteja em contato com os líquidos.
1.3 Absorção de fluidos: é o poder que o fio tem de captar fluido quando está
totalmente imerso. A capilaridade e absorção de fluidos estão intimamente
relacionados à capacidade que o fio tem de captar, transportar e reter
bactérias. Os multifilamentados têm maior capacidade de absorção.
1.4 Aderência bacteriana: propriedade relacionada às três anteriores. É a
capacidade que o fio possui de fazer as bactérias aderirem à sua superfície
e/ou interstício. Portanto fios monofilamentados têm indicação em ferida
contaminada.
1.5 Diâmetro: é o calibre do fio, determinado em milímetros e expresso em zeros.
Quanto menor o diâmetro da secção transversal do fio, maior o número de

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zeros. Porém, nem todos os fios com o mesmo número de zeros têm o mesmo
diâmetro, pois o número de zeros corresponde a um diâmetro capaz de
determinar a resistência tênsil. O diâmetro varia com a qualidade do material
que compõe o fio.
1.6 Força tênsil: é a somatória das forças necessárias para quebrar o fio, dividido
pela área de secção transversal do diâmetro do fio. Portanto, esta força
quadruplica quando dobra o diâmetro do fio. A força tênsil deve ser
diferenciada no fio em repouso e em utilização (com o nó). Esta é a força tênsil
efetiva.
1.7 Força do nó: é a força necessária para um determinado tipo de nó escorregar
ou desfazer.
1.8 Elasticidade: é a capacidade que o fio tem de retomar sua forma e tamanho
original após tracionado.
1.9 Plasticidade: expressa a capacidade que o fio tem de manter-se sob a nova
forma após ter sido tracionado.
A elasticidade e a plasticidade são importantes quando ocorre edema da ferida.
Se o fio possui grande plasticidade, após a redução do edema não retornará à
forma original (pouca tendência a cortar as bordas da ferida); e se possui
grande elasticidade, não se romperá dentro da ferida.
1.10 Memória: é a propriedade relacionada à elasticidade e plasticidade após ter
sido dado o nó. Fios com alta memória tendem a desatar o nó, e retornar à sua
forma original, como o nylon (náilon). A memória influencia no manuseio; sendo
assim, fios com alta memória são mais difíceis de manusear. Fios com alta
memória, que são pouco elásticos e possuem grande força tênsil, têm
tendência a cortar tecidos.

2. Características de manuseio
2.1. Pliabilidade: é a facilidade que o cirurgião encontra no fio para cerrar o nó, para
dobrar o fio. Os fios de maior pliabilidade são os multifilamentados, principalmente
os trançados, como a seda.
2.2 Coeficiente de atrito: é a capacidade do fio de deslizar pelos tecidos e desatar
o nó. Fios com elevado coeficiente de atrito chegam a “raspar” nos tecidos
dificultando, portanto, sua retirada. Fios monofilamentados são utilizados em suturas

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cutâneas por possuírem baixo coeficiente de atrito. Quanto menor o coeficiente,


mais fácil reposicionar o nó, entretanto, mais fácil de ele escapar.

3. Características de reação tecidual


Todo fio de sutura é um corpo estranho ao tecido vivo, portanto, quanto maior
o fio, maior a reação. Por isto deve-se utilizar o fio mais fino possível. A reação
tecidual inicia-se no ato da passagem da agulha com o fio. A reação ao fio
propriamente dita aparece entre o segundo e o sétimo dia após o implante do
mesmo. Reações intensas e prolongadas provocam infecção e deiscência.
Reação tecidual ao fio:
- 1 a 4 dias: infiltrado celular (polimorfonucleados, leucócitos, linfócitos e
monócitos);
- 4 a 7 dias: macrófagos e fibroblastos;
- Após 7 dias: tecidos fibrosos com inflamação crônica. Com os fios
inabsorvíveis persiste uma resposta inflamatória mínima;
- Em torno do 28o dia: cápsula fibrosa em torno do fio.
Logo após a passagem do fio pela superfície cutânea ocorre um crescimento
em direção à epiderme, estendendo-se ao longo do fio, formando uma bainha ao
redor da sutura que é responsável por 70 a 85% do trabalho utilizado para retirada
do fio.
Em suturas absorvíveis a reação inflamatória é mais acentuada, persistindo
até absorção ou eliminação do fio. A absorção ocorre com a grande maioria dos
fios, mesmo naqueles considerados inabsorvíveis. Essa classificação baseia-se na
persistência do fio durante um determinado período. Fios sintéticos de absorção
rápida são ácido poliglicólico (Dexon), poliglactina 910 (Vicryl), poliglecaprone 25
(Carprofil) e poliglitone 6211 (Carprosin). Os de absorção lenta são polidioxanone
(PDS II), poligliconato (Maxon), glicomero 631 (Biosin).
A alergia a alguns fios tem sido relatada, como antígenos circulantes
anticategute. A cobertura de bicromato de potássio no categute cromado leva à
reação alérgica em pacientes alérgicos a este sal.

REAÇÃO INFLAMATÓRIA A FIOS DE SUTURA


Para melhor avaliação da reação da ferida cirúrgica ao fio, deve-se
considerar:

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- O trauma da incisão (diérese) e da passagem da agulha (síntese);


- O efeito isquêmico do nó;
- A natureza do fio utilizado.
Nos 3 ou 4 dias iniciais decorridos da sutura, a reação tecidual é da mesma
natureza (inflamação exsudativa inespecífica) independentemente da natureza do
fio, pois se deve ao trauma causado pela passagem da agulha.
A reação aos fios absorvíveis é do tipo reação inflamatória exsudativa, que
compromete sua resistência tênsil. A reação tecidual termina com absorção
completa do fio. O categute simples determina maior reação inflamatória
(exsudação precoce, intensa e prolongada, com fragmentação progressiva do fio). A
invasão inflamatória entre os fragmentos propicia substituição gradual do fio por
tecido fibroso neoformado.
Fios absorvíveis sintéticos causam reação ainda menos intensa que os
naturais. Sua absorção ocorre em 60 dias e deve-se à hidrólise do fio em CO2 e
água, face à liberação de enzimas por macrófagos e outras células inflamatórias.
Já os fios inabsorvíveis possuem resistência tênsil menos comprometida pela
exsudação inicial e causam reação inflamatória crônica, com formação de
granuloma de tipo corpo estranho, onde o fio é envolto por tecido fibroso contendo
linfócitos, histiócitos e células gigantes, de tipo corpo estranho.
Fios constituídos de proteína natural causam maior reação comparativamente
àqueles de fibras sintéticas, assim como os multifilamentados são mais reativos que
os monofilamentados.

CONSEQUÊNCIAS DA REAÇÃO TECIDUAL EXCESSIVA


1. Fenômenos precoces
- cutting out: é o corte do tecido excessivamente inflamado, pelo próprio fio;
- retardo na cicatrização da ferida;
- formação de bridas interperitoniais (aderências);
- predisposição à infecção.

2. Fenômenos tardios
- abscesso local;
- formação de cavidades (fístulas);
- eliminação periódica e espontânea dos fios.

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CARACTERIZAÇÃO DOS FIOS DE SUTURA


1. Fios absorvíveis naturais ou orgânicos
São fios de origem animal, com a vantagem de poderem ser absorvidos pelo
organismo a partir do início do processo de cicatrização, em um tempo variável. São
indicados em suturas internas.

1.1 Categute
Atualmente é obtido da submucosa do intestino delgado de carneiros ou de
bovinos. Composto em sua maior parte por colágeno puro tratado com formaldeído.
É absorvido por fagocitose (macrófagos). Inicialmente, as ligações
moleculares são clivadas por ácido hidrolítico e atividade colagenolítica. Segue-se,
então, a digestão e absorção por enzimas proteolíticas. Devido à sua composição
de colágeno, este fio estimula uma significativa reação de corpo estranho no tecido
implantado, mais exacerbada em felinos.
Usado inicialmente em suturas de órgãos cavitários em geral, suturas de
músculos e fáscias musculares e na redução de espaço morto. Atualmente seu
emprego é desencorajado por ser um fio de alta capilaridade e multifilamentado,
além de causar rejeição tecidual.
Ocorre absorção prematura quando exposto a secreções de pepsina ácida do
estômago, a ambientes infectados e a tecido altamente vascularizado. Deve ser
evitado também em pacientes com depleção proteica.
a) Simples
- Absorção entre nove e 14 dias (variável conforme o local);
- Alta reação tecidual.
b) Cromado
- Sais de cromo;
- Maior resistência e maior tempo de absorção;
- Diminui a reatividade tecidual;
- Absorção em aproximadamente 28 dias.
O categute cromado causa reação menos intensa devido aos sais de cromo.
Porém, perde sua cobertura em 30-60 dias e a reação assemelha-se ao categute
simples (fagocitose).
Vantagens:
- Fácil de manusear;

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- Absorvível pelos tecidos;


- Relativamente forte.
Desvantagens:
- Impróprio para suturas externas;
- Capilaridade;
- Perda da força tênsil;
- Quando úmido se dilata, enfraquece e diminui a segurança do nó;
- Reação inflamatória e ocasional reação de sensibilidade.

2. Fios absorvíveis sintéticos ou inorgânicos


Os fios absorvíveis sintéticos são hidrolisados e por isso têm a presença de
um éster de cadeia alifática que os torna hidroliticamente instáveis. São, portanto,
absorvidos por hidrólise num período de 60 a 90 dias.
Os fios absorvíveis sintéticos devem ser evitados em locais onde haja
amônia, pois esta acelera sua degradação. Sendo assim esses fios não são
utilizados no sistema urinário em presença de infecções.

2.1 Ácido poliglicólico (Dexon)


É um polímero do ácido glicólico, multifilamentar, nas cores branco e
verde. Há uma variação, o Dexon Plus, que é recoberto por triclosan, o Dexon II
que é revestido, e o Dexon S, não revestido. Absorvido completamente em 60-90
dias. Há mínima absorção nos primeiros 14 dias.
Vantagens:
- Bom manuseio;
- Ampla aplicação;
- Suturas bem toleradas em feridas infectadas.
Desvantagem:
- Alto custo.

2.2 Poliglactina 910 (Vicryl)


Trata-se de um polímero contendo ácido glicólico e ácido lático na proporção
de 9:1, prensado na forma de filamentos e na cor violeta. É mais hidrofóbico e mais
resistente à hidrólise do que o ácido poliglicólico. Pode ser revestido com triclosan

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(Vicryl Plus). Similar ao ácido poliglicólico quanto às características mecânicas e de


absorção. Perde 50% de sua força tensil em 2-3 semanas.
Vantagens:
- Baixa reação tecidual;
- Ampla aplicação;
- Estabilidade em feridas contaminadas.
Desvantagem:
- Alto custo.

2.3 Poliglecaprone 25 (Caprofyl, Monocryl):


É um fio de sutura sintético monofilamentar que tem alta força tênsil inicial. Sua
reação tecidual é mínima. Também pode ser recoberto com triclosan (Monocryl
Plus). Completamente absorvido em 90-120 dias.
Vantagens:
- Alta força tênsil;
- Excelente flexibilidade;
- Pouca reação tecidual
Desvantagem:
- Perda relativamente rápida da força tênsil (cerca de 75% após 14 dias).

2.4 Polidioxanona (PDS)


É um polímero recoberto (PDS Plus) ou não (PDS II) com triclosan,
monofilamentado com maior flexibilidade que o ácido poliglicólico, poliglactina 910 e
o polipropilene. Sofre degradação por hidrólise, mas em maior tempo. Mantém
aproximadamente 50% de sua força tensil após 5-6 semanas. Possui segurança no
nó intermediária.
Vantagens:
- Perde 86% de sua força tênsil após 56 dias;
- Absorção em 180 dias;
- Resistência tênsil maior que Dexon® e Vicryl®;
- Maior flexibilidade que os anteriores.
Desvantagens:
- Alto custo.

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2.5 Poligliconato (Maxon)


É um copolímero monofilamentado de ácido glicólico e carbonato de
trimetilene, com características (vantagens e desvantagens) semelhantes às do
PDS. Entretanto, possui excelente segurança no nó. Apresenta-se nas cores branco
ou verde.
Vantagens:
- Boa força tênsil;
- Pouca ou nenhuma absorção durante o período crítico de cicatrização;
- Absorção entre seis e sete meses após sua implantação.
Desvantagem: alto custo.

2.6 Glicômero 631 (Biosin)


É um composto monofilamentado com absorção em 90-110 dias.
Comparativamente à poliglactina 910, é mais resistente.

2.7. Poliglitone 6211 (Caprosyn)


É um polímero monofilamentar rapidamente absorvível.

3. Fios inabsorvíveis naturais ou orgânicos


São fios de sutura de origem animal ou vegetal, mais usados em suturas
externas (pele). Entretanto, também podem ser usados em suturas internas, pois
são encapsulados pelo organismo.
3.1 Fio de seda
É um fio obtido da seda natural, com resistência à tração e boa capacidade
de aplicação do nó cirúrgico. Apresenta-se de forma multifilamentada, torcido ou
trançado. Pode ser tratado com óleo, cera ou silicone para diminuir a capilaridade
natural. Embora classificado como inabsorvível, perde gradativamente sua força
tênsil e é absorvido em dois anos. Tem poucas indicações na cirurgia de pequenos
animais.
Vantagens:
- Baixo custo, fácil aquisição;
- Bom manejo.
Desvantagens:

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- Alta capilaridade;
- Produz ulceração gastrintestinal;
- No trato urinário pode dar origem a litíases;
- Evitar mucosa de vísceras ocas e feridas contaminadas;
- Elevada reação tecidual.

3.2 Fio de algodão


Este fio foi usado inicialmente em 1939, durante a Segunda Guerra, frente às
suas vantagens para a época. Trata-se de um fio resistente à tração, com boa
capacidade de aplicação do nó cirúrgico, que se apresenta na forma
multifilamentada torcida ou trançada. Embora de baixo custo, fácil aquisição, bom
manejo, facilidade no nó, não é mais utilizado. Possui alta capilaridade e causa
reação tecidual (fístulas e granulomas).

4. Fios inabsorvíveis sintéticos ou inorgânicos


São obtidos a partir de materiais sintéticos ou de metais.
4.1 Sintéticos
4.1.1 Náilon (nylon)
É um polímero de cadeia longa, disponível na forma monofilamentada e
multifilamentada. Após sua implantação tecidual, a forma monofilamentada perde
30% de sua força tênsil original em dois anos, devido à degradação química; e a
forma multifilamentada, 100% após 6 meses de implantação tecidual.
Vantagens:
- Baixa reação tecidual, inclusive em tendão de cães;
- Ampla aplicação;
- Baixa incidência de infecção;
- Sem capilaridade e inerte;
- Baixo custo;
- Alta resistência.
Desvantagens:
- Não deve ser usado em cavidades serosas ou sinoviais (fricção);
- Manuseio difícil;
- Baixa segurança do nó (mediante pouca habilidade);
- Escorregadio;

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- Memória;
- Necessários no mínimo cinco nós (um duplo, três simples).

4.1.2 Polipropileno (Prolene)


É um polímero monofilamentar de propileno, derivado do gás propano,
bastante forte e resistente à degradação. Sua manipulação é mais fácil, sendo
indicado para tendão, ligamento, capsula articular. Pode ser azul ou rosa.
Vantagens:
- Força tênsil inferior ao náilon;
- Maior segurança do nó que o náilon;
- Inerte;
- Boa retenção da força;
- Resistência à contaminação bacteriana.
Desvantagens:
- Alto custo;
- Manuseio escorregadio.

4.1.3 Caprolactam polimerizado (Supramid, Vetafil)


É um fio multifilamentar, revestido (para minimizar a capilaridade) e
recomendado para uso em suturas externas (pele).
Vantagens:
- Força tênsil superior ao náilon;
- Alta resistência;
- Pouca reação tecidual.
Desvantagens:
- Alto custo.

4.1.4 Poliéster
É um polímero sintético, multifilamentado e trançado, simples ou revestido
(lubrifica o fio). Quando revestido, inclui o silicone, (Tycron), o teflon (Ethiflex) –
cirurgia cardiovascular e plástica e o dacron (Mersilene) – cirurgia cardiovascular.
Vantagens:
- Mais forte dos não metálicos;

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- Pouca perda da força tênsil.


Desvantagens:
- Maior reação tecidual entre os sintéticos (não usar em feridas
contaminadas);
- Pobre segurança dos nós (mínimo cinco laçadas).

4.2 Metálicos
O material metálico mais usado na atualidade como material de sutura em
Medicina Veterinária é o aço inoxidável, na forma de fios de aço ou agrafes.
4.2.1 Fio de aço inoxidável
Empregado na redução de fraturas.
Vantagens:
- Resistentes;
- Inertes;
- Fácil esterilização;
- Baixo coeficiente de fricção;
- Não capilares;
- Cicatriz mínima.
Desvantagens:
- Manuseio delicado;
- Permanente;
- Nós de difícil aplicação;
- Tendência a cortar tecidos;
- Extremidades dos fios são pontos de irritação;
- Instrumentos especiais para o corte.
4.2.2 Agrafes
Vantagem: Aplicação rápida.
Desvantagens:
- Necessita pinça de Michel (para colocação e retirada);
- Tendência a enrugar as bordas.

SELEÇÃO DO MATERIAL DE SUTURA


A seleção do material de sutura é baseada nas propriedades biológicas do
fio, e na situação clínica do animal.

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1. Princípios da seleção do fio de sutura


A resistência deve ser pelo menos igual à resistência do tecido a ser suturado
(pele e fáscia > estômago e intestino delgado > bexiga). A velocidade em que a
sutura perde força e a ferida adquire força devem ser compatíveis. Deve-se sempre
levar em consideração alterações biológicas provocadas pela sutura e as
propriedades mecânicas do fio, que devem ser semelhantes às do tecido.
1.1 Pele
- Náilon monofilamentado e polipropileno são mais indicados;
- Evitar: fios com capilaridade ou reativos.
1.2 Subcutâneo
- Absorvíveis sintéticos são preferíveis devido à baixa reatividade.
1.3 Fáscia
- Fios inabsorvíveis: necessidade de prolongada resistência;
- Absorvíveis sintéticos (preferível)
1.4 Músculo
- Absorvíveis sintéticos ou inabsorvíveis;
- Miocárdio: náilon ou polipropileno.
1.5 Vísceras ocas
- Absorvíveis sintéticos e inabsorvíveis monofilamentados;
- Evitar: inabsorvíveis multifilamentados; seda na vesícula urinária.
1.6 Tendão
- Náilon e aço inoxidável são os mais utilizados;
- Polidioxanona e poligliconato também são usados.
1.7 Vaso sanguíneo
- Polipropileno;
- Náilon, poliéster revestido, outros.
1.8 Nervo
- Náilon e polipropileno (baixa reatividade).

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SUTURAS E SUAS APLICAÇÕES

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V. SUTURAS E SUAS APLICAÇÕES

DEFINIÇÃO DE SUTURA
Manobra cirúrgica que tem por finalidade manter coaptadas as bordas e
superfície das feridas, permitindo a efetivação do processo de cicatrização. É a
união ou aproximação de estruturas por meio de um ou mais pontos. Visto por este
prisma, amplia-se o sentido do termo para grampos metálicos ou absorvíveis
(denominadas suturas mecânicas), anéis para anastomoses, adesivos biológicos,
etc.

É utilizada para reconstruir os diferentes planos que tenham sido incisados


durante a diérese ou para reparar tecidos dilacerados em traumatismos. As suturas
proporcionam condições para que a cicatrização ocorra por primeira intenção.

PRINCÍPIOS FUNDAMENTAIS
Para que uma sutura seja perfeita e proporcione cicatrização adequada, ela
deverá reunir as seguintes condições:
1. Antissepsia e assepsia rigorosas;
2. Hemostasia perfeita;
3. Abolição dos espaços mortos (aproximação do tecido celular subcutâneo);
4. Bordas de feridas limpas e sem anfractuosidades (regulares);
5. Ausência de corpos estranhos e tecidos mortos (tecido necrosado ou
gangrenado, pus, etc);
6. Posição anatômica correta, com sutura feita plano a plano;
7. Tração moderada sobre o fio de sutura e os nós, permitindo adequada
justaposição das bordas, sem submeter os tecidos a tensão excessiva;
8. Escolha correta dos instrumentais e materiais de sutura.

MATERIAIS DE SUTURA
São usados porta-agulhas, agulhas, fios, grampos metálicos e grampeadores
(staples), pinças anatômicas ou com dentes, e tesouras.

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1. Porta-agulhas
São instrumentos especiais usados para prender as agulhas, facilitando a
introdução destas nos tecidos durante a execução das suturas. Os modelos mais
utilizados em medicina veterinária são os porta-agulhas de Mayo-Hegar e Mathieu.
O porta-agulha de Mayo-Hegar tem argolas na extremidade das hastes,
tendo empunhadura e manuseio como das pinças hemostáticas. Ideal para suturas
em profundidade devido às hastes longas e estreitas. Para transfixação de
estruturas rígidas como osso e pele, é aconselhado manuseá-lo espalmado, porque
o excesso de pressão das argolas na pele da mão do cirurgião poderá ocasionar-lhe
ferimentos. O porta-agulha de Mathieu tem as duas hastes curvas com cremalheira
na extremidade livre e mola entre elas para mantê-lo aberto. É ideal para trabalho
em superfície, sendo manipulado em posição espalmada.
Existem porta-agulhas especiais com encaixe para agulhas, como os de
Hermolds e Richter. O porta-agulha de Gillies tem uma tesoura incorporada, que
permite seccionar a ligadura sem a necessidade de troca de materiais.

2. Agulhas cirúrgicas
São instrumentos de sutura nos quais os fios são acoplados ou montados, a
fim de serem introduzidos nas bordas das feridas. Podem variar sua conformação
de acordo com as necessidades dos tecidos a suturar, tipo de fio e localização da
área a suturar. Em geral são medidas em milímetros de comprimento.
As agulhas possuem três partes distintas:
a) Fundo: parte em que fica o orifício no qual passará o fio (traumáticas) ou
onde o fio se encontra fixado em agulhas traumáticas. O fundo pode ser:
- Cego, fechado ou rombo: semelhante à agulha de costureira;
- Falso, aberto ou francês: o fio é colocado sobre pressão;
- Benjamin: fundo cego com prolongamento de abertura que oferece
maior fixação do fio.
b) Corpo: é a maior parte da agulha, situando-se entre o fundo e a ponta,
dando sustentação ao manuseio com o porta-agulhas. Pode ser:
- Cilíndrico: comum às agulhas atraumáticas;
- Achatado:
 Dorso-ventralmente (mais comum);

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 Latero-lateralmente.
- Em forma de trapézio;
- Em forma triangular.
c) Ponta: parte mais anterior da agulha com características próprias e
variáveis adequadas à penetração nos tecidos que serão suturados. Os
tipos são:
- Cônica ou cilíndrica: sutura de subcutâneo e fáscia;
- Triangular ou bifacetada: mais usada em suturas cutâneas;
- Espatulada: suturas usadas em procedimentos oftalmológicos;
- Cega: ponta arredondada, sem corte, pode ser usada para dissecar
tecido friável sem cortá-lo. Usadas ocasionalmente na sutura de
órgãos parenquimatosos como fígado e rins.

CLASSIFICAÇÃO DAS AGULHAS


1. Em relação ao trauma ocasionado nos tecidos
a) Traumáticas: agulha que ocasiona trauma tecidual devido à diferença entre o
diâmetro da agulha e fio. Não tem o fio acoplado. São utilizadas em tecidos
resistentes como aponeurose e pele.
b) Atraumáticas: os fios já vêm montados (encastoados) no fundo da agulha,
não havendo diferença entre o diâmetro do fio e do fundo da agulha. São
utilizadas em tecidos mais delicados. Os fios com agulha encastoada podem
ter uma ou duas agulhas montadas, sendo este último tipo mais utilizado em
suturas cardiovasculares.

2. Em relação à curvatura
a) Retas: são usadas para suturar sem ajuda do porta-agulhas, geralmente
usadas em locais acessíveis. Ex.: suturas de bolsa de fumo no ânus;
b) Curvas: a curvatura é variável, podendo ser de ¼, ⅜, ½ ou ⅝ de círculo.
Utilizadas em campos cirúrgicos pequenos ou profundos, onde o tamanho do
campo cirúrgico e a área de trabalho são limitados.
- Sempre manipuladas com porta-agulhas;
- A escolha da agulha depende da profundidade da região a ser suturada:
 ¼: procedimentos oftálmicos;

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 ⅜ e ½: mais comumente utilizadas. Ex.: fechamento de parede


abdominal. As agulhas de ⅜ são mais facilmente manipuladas,
mas difíceis de se utilizar em estruturas profundas ou inacessíveis.
Agulhas de ½ ou ⅝ requerem maior pronação e supinação de
punho, mas permitem suturas de estruturas profundas.
c) Especiais
- Reverdin: agulha que permite inserção e fixação facilitada do fio de sutura
por possuir uma cânula em seu interior;
- Guerlach: utilizada para sutura de Bünner, aplicada na correção de
prolapso vaginal ou uterino em vacas.

A B
Imagens de agulhas de Reverdin (A) e Guerlach (B).

CLASSIFICAÇÃO DAS SUTURAS


1. Profundidade
- Superficial: suturas de pele e subcutâneo;
- Profundas: abaixo do plano aponeurótico.

2. Planos anatômicos
- Por planos: quando os pontos abrangem camada por camada de tecido,
tendo a vantagem de eliminar espaços mortos, sendo a técnica ideal;
- Em massa: inclui todos os planos em um único ponto, servindo como ponto
de sustentação dos tecidos;
- Mista: combinação de ambas as técnicas.

3. Fio usado
- Absorvível;
- Inabsorvível.

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4. Tipo de ponto
- Simples: alças dos fios no interior dos tecidos;
- Especial: pontos especiais aplicados para determinada finalidade.

5. Finalidade
- Hemostática: visa coibir ou prevenir a hemorragia;
- Aproximação ou união: finalidade de reestabelecer a integridade anatômica e
funcional das estruturas;
- Sustentação: pontos de apoio para auxiliar na manutenção de determinada
estrutura em posição;
- Estética: técnicas para se obter ótimo confrontamento entre os planos e
mínimo traumatismo, conseguindo cicatrizes perfeitas, aplicada
principalmente na pele.

6. Espessura do tecido
- Perfurante total: atravessa toda a parede do órgão;
- Perfurante parcial: atravessa somente uma parte da espessura da parede.

7. Sequência dos pontos


- Pontos separados ou interrompidos:
 Para cada alça de fio corresponde um nó, não havendo continuidade do fio
entre as alças;
 São de mais lenta elaboração, porém, mais seguras, já que na eventualidade
da soltura de um ponto não haverá prejuízo importante para o conjunto;
 Não diminuem o diâmetro ou comprimento das estruturas, sendo indicado
para sutura de órgãos em animais jovens, pois permitem o crescimento do
tecido entre os pontos.
- Pontos contínuos:
 Existe a continuidade do fio entre as alças, tendo somente um nó inicial e um
nó final;
 São de rápida elaboração, porém, se houver soltura de um ponto ou ruptura
do fio, pode haver afrouxamento do conjunto da sutura;

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 Tendem a estreitar o calibre da estrutura nas suturas circulares e diminuir o


comprimento nas suturas lineares pelo fenômeno de enrugamento;
 Exigem técnica perfeita de elaboração, sendo usados em suturas gástricas,
cardiovasculares e estéticas de pele.

8. Posição das bordas


Após a sutura, as bordas da estrutura podem ter sua posição mantida ou
alterada, dependendo do tipo de sutura utilizada.
8.1. Confrontamento ou aproximação ou aposicional:
 Se executada adequadamente, deve justapor as bordas da ferida, não
deixando desnível entre as mesmas;
 Indicada quando há necessidade de perfeita integridade anatômica e
funcional, como nas suturas de pele, nervos, etc;
8.2. Invaginante ou de inversão:
 Desloca as bordas para o interior do órgão;
 Usualmente aplicada em vísceras ocas, com a finalidade de justapor as
paredes pela sua face externa de modo a isolar a parte interna (geralmente
séptica);
8.3. Eversão:
 As bordas ficam voltadas para fora, ficando em contato pela sua parte
interna;
 Aplicada em suturas vasculares ou na pele de animais que possuem
escamas, como répteis e peixes, visando justaposição dos endotélios. Podem
ser usadas na pele de mamíferos.

CONCEITOS GERAIS
A eficiência, a segurança e a rapidez com que se executa a sutura são
aspectos fundamentais para um bom resultado da síntese das estruturas. Estas
características são obtidas por meio de vários procedimentos:
1. Manipulação e apresentação das bordas da ferida
- Devem ser manuseadas delicadamente, pois o processo de cicatrização se
desenvolverá a partir delas;

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- As bordas devem ser bem expostas para permitir a entrada e saída da agulha
sem maior dificuldade;
- A apresentação deve ser feita com pinças apropriadas em função da
resistência e da nobreza dos tecidos: pinças anatômicas, delicadas, para os
elementos muito friáveis; pinças com dentes (dente-de-rato), para os tecidos
mais resistentes;
- A apresentação pode ser feita por pontos previamente aplicados e
tracionados.

2. Colocação da agulha no porta-agulha


A agulha deverá estar sempre presa pela parte média do corpo, próxima à
ponta do porta-agulha. A posição habitual de empunhadura é aquela em que ponta
da agulha fica voltada para cima e para o lado da pontas dos dedos. Caso a ponta
da agulha fique voltada para o lado oposto ao das pontas dos dedos, esta é
chamada de posição contrária ou inversa.

3. Montagem do fio na agulha


No caso de uso de fios não agulhados, podemos montá-los nas agulhas de
fundo falso para pontos separados ou para suturas contínuas.

4. Sentido da sutura
- Em geral, as suturas contínuas retilíneas se realizam da direita para a
esquerda, para facilitar a apresentação das bordas da ferida, que é realizada
com auxílio de pinça na mão esquerda;
- Nas suturas circulares (bolsa), se inicia na parte proximal ao cirurgião para
facilitar posteriormente o ajuste do nó. Após o ponto inicial, a progressão da
sutura pode ser em sentido anti-horário, visto que o ponto mais distal e os
pontos da metade esquerda são mais facilmente realizados com a agulha em
posição habitual;
- Suturas contínuas de incisões transversais são feitas preferencialmente da
parte proximal para a distal;
- Nas suturas de pontos separados, geralmente se inicia o fechamento com
ponto inicial na região central da incisão e os demais de maneira alternada

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até a síntese completa, de modo a distribuir uniformemente dos pontos de


sutura ao longo da incisão.

5. Transfixação das bordas da ferida


- Pode ser feita em um tempo quando as bordas das feridas estão próximas e
o tecido é macio, sendo a sutura de mais rápida confecção;
- Quando as bordas estão afastadas ou os tecidos são rígidos, é realizada em
dois tempos.

6. Confecção do nó
- A sutura contínua se inicia com um nó inicial entre as pontas do fio.
- Ao término da sutura de estruturas comuns, o nó final é feito entre a
ponta e a última laçada;
- Em suturas contínuas de estruturas especiais, como vasos
sanguíneos, é preferível o uso de dois fios, sendo o nó final dado entre
a ponta de um e uma das pontas do outro;
- Em pontos separados, o nó é dado após o término de cada ponto;
- Quando a aproximação progressiva dos tecidos decorrente dos pontos dados
prejudicar a colocação do próximo ponto, os nós não são dados até que o
último ponto esteja pronto. Coloca-se uma pinça hemostática (reparo)
prendendo entre si as pontas de cada fio, chamando de pontos com nós
diferidos ou adiados.

7. Secção do fio
- Pontas de fio em pontos abaixo da pele devem ser cortados juntas dos nós,
devendo-se deixar pontas de pelo menos 2 mm para prevenir a soltura do nó.
Em pontos de pele, deve-se deixar pontas mais longas, facilitando a remoção
após a cicatrização;
- A secção é feita com a tesoura reta, sendo a mesma colocada junto ao nó
com as pontas entreabertas abrangendo o fio. Em seguida, inclina-se
lateralmente a tesoura na extensão em que se quer deixar o comprimento
das pontas e faz-se o corte.

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PADRONIZAÇÃO DA SUTURA
Na sutura em pontos simples é importante determinar a distância ideal entre
o local de entrada e saída do fio e o espaço entre um ponto e outro. A distância A-B
deve manter proporção com a espessura do tecido que será aproximado e com sua
capacidade resistir a tensão da sutura. A distância entre um ponto e outro (A-A) não
deverá ser maior que o próprio ponto (A-B).

A A A A

B B B B

Sutura em órgãos ocos:

a) seromucosa; b) seromuscular; c) seroserosa

SUTURAS EM PONTOS SEPARADOS


1. Sutura em ponto simples separado ou interrompido
- É um dos mais usados e é a sutura mais antiga. É fácil e relativamente rápida
de realizar;
- Proporciona oclusão anatômica segura e tensão precisa da sutura;
- A agulha é inserida em distância variável de um lado da incisão, cruza a
incisão em ângulo reto e é inserida através do tecido no outro lado;
- Para o cirurgião destro, a agulha é inserida da direita para a esquerda, e o
contrário para o cirurgião canhoto;
- A separação dos pontos em relação às bordas da ferida dependerá da
espessura do tecido que se vai suturar;

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- Utilizada em qualquer tecido onde não haja muita tensão: pele, subcutâneo,
fáscia, vasos sanguíneos, nervos, trato gastrintestinal;
- O nó deve estar ao lado da linha de incisão, para que não comprometa a
cicatrização;
- É uma sutura aposicional.

2. Sutura de relaxamento
- Executada de maneira idêntica à sutura em ponto simples separado, porém,
a cada dois ou três pontos, faz-se um ponto cuja distância da borda da ferida
é maior;
- Utilizada em feridas onde há possibilidade de acúmulo de líquidos, pois
permite que ocorra drenagem, e para reduzir a tensão.

3. Sutura em U deitado ou Wolff ou ponto de colchoeiro


- Realização similar com o ponto simples, mas ao atravessar as bordas da
ferida, a agulha volta, com uma separação aproximada de 1 cm em sentido
inverso ao anterior, unindo-se as pontas;
- Provoca a eversão das bordas da ferida;
- Produz pontos mais fortes que a simples separada, gerando cicatriz maior;
- Usada para produzir hemostasia, em suturas com tensão (cirurgias de
hérnias, suturas de aponeuroses) ou em ferimentos extensos de pele em
grandes animais;

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- Em pequenos animais não deve ser utilizada para suturar a pele pela
possibilidade de diminuir a irrigação local e retardar a cicatrização, ou até
provocar necrose tissular. Neste caso, pode ser utilizada com modificação,
sem comprimir os vasos subdérmicos.

4. Sutura em U em pé ou Donatti
- As quatro perfurações se encontram na mesma linha;
- Os primeiros pontos de implantação da agulha se localizam a 1,5 cm das
bordas da ferida e os de volta se localizam o mais próximo possível das
bordas da ferida;
- É usada na pele junto ao tecido subcutâneo. O ponto maior tem a finalidade
de sustentação da pele e o ponto menor produz excelente confrontamento
das bordas da ferida, evitando sua inversão;
- Usada em lacerações traumáticas em membros dos equinos, onde o
suprimento de sangue pode estar comprometido;
- Tem a vantagem de assegurar uma perfeita vascularização na zona da
ferida, diminuindo o perigo de necrose tissular das margens;
- Tem como desvantagem maior uso de material e necessidade de mais tempo
para ser realizada.

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5. Wolff captonado
- Sutura de Wolff realizada com tubos de borracha, silicone ou gaze;
- Execução idêntica à Wolff, porém, um pouco mais afastada da borda da
ferida;
- Utilizada para diminuir a distensão dos tecidos, evitando que a alça do fio
seccione a pele nas suturas com tensão.

6. Sutura encavilhada
- Apoio de todas as alças da sutura em um cilindro colocado de cada lado da
ferida, tendo a mesma aplicação da sutura anterior;
- Vantagem: permite suprimento sanguíneo adequado das bordas da ferida em
suturas com tensão.

7. Sutura em X ou Sultan
- Para sua realização, introduz-se a agulha de um lado para outro como se
fosse executar uma sutura interrompida. Faz-se uma segunda passagem de
igual maneira, a 1 cm da primeira, seguindo o mesmo sentido, unindo-se as
pontas livres;
- Utilizada em regiões com resistência e submetidas a grandes tensões;
- Pode ser utilizada para fechar pequenas perfurações feitas por agulha
hipodérmica, procedimento realizado para esvaziar um intestino distendido
por gases;

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- Também utilizada como ponto de apoio de uma sutura para hemostasia ou


aproximação.

8. Sutura de Lembert
- Considerada a sutura clássica para a cirurgia gastrintestinal, é invaginante,
usada como segunda camada de sutura (oclusão) para vísceras ocas;
- A sutura é conduzida através do tecido da parte externa em direção à borda
incisada. Ela penetra 0,5 a 1,0 cm através da serosa, muscular e submucosa,
sem atravessar a mucosa (TOBIAS & JOHNSTON, 2015) ou atravessando-a
(FOSSUM, 2002). A agulha sai do mesmo lado e emerge próxima à borda da
ferida. Ela é novamente inserida junto à outra borda da incisão, passando em
direção lateral através da serosa, muscular e submucosa;
- O espaço entre os pontos deve ser de 0,5 cm;
- Utilizam-se agulhas finas e semicirculares;
- A parede da víscera será automaticamente invertida conforme for dado o nó,
que não deve ser muito apertado;
- É utilizada em órgão gastrintestinais, útero e rúmen de animais de grande
porte. Pode ser interrompida ou contínua.

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9. Sutura Swift
- É uma sutura simples separada invertida, em que as pontas ficam voltadas
para dentro, e o nó fica voltado para o lado da mucosa em órgãos ocos;
- O nó voltado para dentro da mucosa impede a aderência da sutura com
outras vísceras;
- Utilizada para suturas de esôfago.

10. Sutura de Jaquetão ou técnica de sobreposição de Mayo


- Suturas de sobreposição, utilizadas para correção de hérnias. Em estruturas
circulares, todos os pontos devem ser feitos antes de se executar os nós;
- Jaquetão: a agulha deve ser inserida de fora para dentro em uma das bordas,
um pouco mais distante da ferida e sair de dentro para fora próxima à borda
do outro lado. O ponto deve retornar de maneira similar, sendo a agulha
introduzida distante à borda e saindo na outra, resultando em sobreposição
ao se fechar o nó.
- Mayo: a agulha deve ser inserida de fora para dentro em uma das bordas em
direção ao outro lado da ferida. A seguir, a agulha deve ser introduzida
paralelamente à ferida e, após, retornar à borda original, com a agulha sendo
inserida de dentro para fora. Ao realizar o nó, proporciona-se a sobreposição.

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SUTURAS CONTÍNUAS
1. Sutura simples contínua
- Sutura de fácil e rápida execução, utilizada em tecidos elásticos que não
serão submetidos a uma tensão considerável;
- As perfurações podem ser executadas de modo que a parte exposta
atravesse a incisão diagonalmente ou em ângulo reto;
- Em cada ponto se procura aproximar bem as bordas da ferida sem tensionar
demasiadamente o fio para não formar pregas;
- É usada em vasos, músculos, aponeuroses, tecido subcutânea e pele.

2. Sutura festonada ou Reverdin (Ford interlocking)


- Modificação da sutura simples contínua;
- Após a passagem da agulha através dos tecidos, ela é passada por dentro do
laço pré-formado e este é apertado;
- Utilizada para dar firmeza à sutura, principalmente nas suturas longas, dando
maior fixação nas bordas da ferida;
- Usada para suturas de pele e musculatura do flanco de bovinos.

3. Sutura intradérmica (em zigue-zague)


- Sutura na qual a agulha atravessa a incisão no tecido intradérmico;
- Aproxima o tecido e resulta em excelente confrontamento anatômico.

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Sutura intradérmica em zigue-zague

4. Sutura de Schimieden
- Sutura seromucosa, evita a inversão da mucosa;
- Agulha passada de dentro para fora, repetindo-se a manobra do outro lado;
- As bordas ficam bem confrontadas anatomicamente;
- Geralmente utilizada como primeira sutura de órgãos ocos (ex. útero).

5. Sutura de Cushing
- Sutura invaginante, não perfurante total, não contaminada, utilizada em
órgãos ocos;
- Inverte a mucosa e aproxima a serosa;
- Primeiro ponto de fechamento de órgãos em dois planos;
- As perfurações são feitas paralelamente às bordas do ferimento;
- A sutura cruza a incisão em ângulo reto.

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6. Connell
- Semelhante à sutura de Cushing, mas é seromucosa;
- Utilizada em órgãos ocos, inverte os tecidos.

7. Parker-Kerr
- Aplicada para fechar o coto de uma víscera oca;
- É a sutura de Cushing realizada sobre uma pinça posicionada na
extremidade do coto;
- A pinça é retirada vagarosamente, invertendo as bordas do ferimento sem
que o lúmen seja aberto;
- Utiliza-se em seguida uma sutura de Lembert contínua;
- Usada em anastomose jejuno-cecal e íleo terminal no cavalo.

8. Sutura em Bolsa de fumo ou bolsa de tabaco


- Sutura contínua posicionada em círculo ao redor de uma abertura. É
amarrada quando concluída toda a circunferência do círculo;
- Não penetra na mucosa;
- Usada para fechar uma abertura do trato gastrintestinal produzido por
trocáter, apertar canais ou orifícios existentes como efeito hemostático, isolar
cavidades do exterior e fixar tubos e cateteres de lavagem.

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SUTURAS TENDÍNEAS
1. Bunnell modificada
- Utilizada para justapor tendões rompidos. Pouco utilizada por ser difícil e
poder danificar a microcirculação do tendão;
- Resistente e expõe pouco o material de sutura;
- Fio a ser utilizado: náilon ou polipropileno;
- A agulha é inserida de um lado da extremidade proximal do tendão rompido e
cruzada em diagonal ao longo do tendão, até sair do lado oposto. A sutura
continua com a reinserção da agulha distalmente e com 1mm de distância do
ponto de saída e cruzada diagonalmente ao outro lado do tendão, saindo
pela extremidade rompida. Então, ela é introduzida na porção distal do
tendão rompido, fazendo-se duas suturas cruzadas e retornando à
extremidade rompida, devendo ser reintroduzida na porção proximal. O
padrão se repete, de modo que a sutura termine próxima ao ponto original de
entrada. O nó é feito neste ponto, promovendo justaposição das
extremidades do tendão.
-
2. Distal-proximal-proximal-distal
- Sutura para tendões planos;
- Mínima interrupção de fluxo sanguíneo;
- A agulha deve ser passada em orientação perpendicular através do tendão, a
5 mm da extremidade rompida, na porção distal em direção à proximal.
Então, a agulha deve ser inserida na seção proximal do tendão no mesmo
plano vertical, a 2 mm da extremidade. Ela retorna para a parte distal do
tendão, onde entra a 2 mm da extremidade lesionada. Deve-se, então, voltar
com a sutura novamente para a seção proximal do tendão, saindo a 5 mm de

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distância da porção rompida. As extremidades do fio são puxadas,


tensionadas e amarradas.

COMPLICAÇÕES
1. Deiscência
- Ocorre quando a sutura não é capaz de manter unidas as bordas da ferida
até que estas adquiram resistência suficiente para que a ferida não se abra;
- Causas atribuídas ao material de sutura: pouca resistência ou diminuição
rápida da resistência;
- As suturas têm resistência adequada por si só, mas é necessário ter cuidado
na execução do nó e na escolha do calibre do fio.

2. Infecção
- A frequência de infecção é diferente segundo a classe da intervenção e a
área operatória;
- Em geral ocorre em 2 a 5% de todas as feridas cirúrgicas;
- A porcentagem aumenta em laparotomia, tratamento cirúrgico de processos
infecciosos, com o uso de material inadequado, fios trançados ou
multifilamentados.

3. Granulomas
- Encistamento sólido, dolorido e palpável ao redor da ligadura;
- Processo inflamatório, podendo haver presença de componente infeccioso;

4. Aderências
- Aderências peritoneais pós-celiotomia constituem sequela importante da
cirurgia abdominal e são produzidas por perda da lubrificação na serosa nos
pontos de sutura, que originam uma reação inflamatória;
- Pode ocorrer em todos os tipos de tecidos suturados, produzindo uma fusão
de planos por aderência, ainda que não apresentem alterações.

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MATERIAIS CIRÚRGICOS

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VI. MATERIAIS CIRÚRGICOS

1. Definição
É todo o conjunto de objetos, instrumentos e equipamentos que entram em
contato direto ou indireto com a região operatória, utilizados para a execução de
determinado procedimento cirúrgico. Cada tipo de instrumento tem sua função,
devendo ser utilizado somente para este propósito, visando sua conservação.
2. Classificação
Em virtude da grande quantidade de instrumentos, eles são agrupados de
acordo com a sua função. A ordem dessas funções segue, de maneira geral, a
mesma ordem de utilização do material do campo operatório: inicia-se pela diérese
da pele, seguida de preensão das estruturas e hemostasia. Após o término da
abertura, promove-se a exposição do órgão ou cavidade, seguida do ato operatório
principal com instrumento especial, finalizando com a síntese dos tecidos.

CLASSIFICAÇÃO DO MATERIAL CIRÚRGICO


TIPO FUNÇÃO EXEMPLOS
Diérese Corte, divulsão Bisturi, tesouras
Preensão Apanhar estruturas Pinças anatômica e dente-de-rato
Pinças hemostáticas (Halsted,
Hemostasia Pinçamento de vasos
Kelly)
Exposição Afastamento de tecidos Afastadores (Farabeuf, Gosset)
Especial Própria Pinça Babcock
Síntese União de tecidos Porta-agulhas, agulhas
(Fonte: Magalhães, 1989)

3. Disposição do Instrumental na Mesa


A colocação dos instrumentos na mesa de instrumentação deve seguir a
mesma ordem usada na classificação dos mesmos:
1) Diérese;
2) Preensão;
3) Hemostasia;
4) Exposição;

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5) Especial;
6) Síntese.

Esquema de disposição do instrumental na mesa cirúrgica:

4) Exposição 5) Especial: Babcock 6) Síntese


Afastadores / Allis Campo: compressas, Agulhas, Fio, porta-
panos de campo e agulhas (Mathieu/Mayo-
Backaus Hegar)
3) Hemostasia: Pinças 2) Preensão 1) Diérese
Kocher/ Rochester/ Crile/ Pinça anatômica e dente- Tesoura / bisturi
Kelly/ Halsted de-rato

Observe a orientação das setas. Além de indicar a ordem de disposição dos


instrumentos ela também indica que o instrumental cirúrgico é disposto de
instrumentos atraumáticos para os mais traumáticos entre as diferentes
classificações e mesmo dentro de uma mesma categoria. As pinças anatômicas são
menos traumáticas que as pinças dente-de-rato, as pinças hemostáticas Halsted
(mosquito) são menos traumáticas que as pinças Kelly e assim sucessivamente.
O esquema apresentado acima é o mais utilizado. Há, entretanto, outras
formas de dispor o material cirúrgico dentro de cada classificação maior e isto
dependerá do tipo de cirurgia e da preferência do cirurgião. Outra maneira de se
dividir a mesa do instrumentador é a seguinte:

3) Auxiliar 4) Síntese
Panos de campo/ Backaus e Allis Agulhas e fios
Compressas/ Gaze/ Afastadores Pinça anatômica e dente-de-rato
Porta-agulhas
2) Hemostasia 1) Diérese
Pinças Tesouras (Mayo/ Metzebaum)
(Kocher/ Rochester/ Crile/ Kelly/ Haslted) Bisturi

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Observação: o material é distribuído da direita para a esquerda, primeiro o


curvo depois o reto. A ponta do material fica voltada para a parte superior da mesa e
a curvatura voltada para a superfície da mesa. Ao organizar as pinças, dispor o
material de modo que o instrumento da direita fique sobre o da esquerda. Se não
houver instrumentador, a ponta do material é voltada para a parte inferior da mesa.

MATERIAIS DE DIÉRESE
1. Bisturi
Principal instrumento de corte. É constituído por um cabo reto com encaixe
em uma das extremidades para uma lâmina desmontável e descartável. O cabo n° 3
é destinado para lâminas pequenas (de números 9 a 17) em cirurgias mais
delicadas. Seus formatos são variáveis e adaptados para determinada função,
sendo as mais usadas as de n° 11 e 15. O cabo n° 4 é usado habitualmente e se
destina a lâminas maiores (de nº 18 a 50) e as mais empregadas são as de nº 22 e
23. O bisturi é empunhado de duas maneiras principais:
- Posição sob a mão, semelhante à empunhadura do arco de violino. É
usada para incisões longas, retilíneas ou de curvas suaves, principalmente em
cirurgia de grandes animais;

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- Posição sobre a mão, como se segura um lápis. É usada para manter


uma maior delicadeza e precisão nas incisões pequenas.

Empunhadura tipo lápis (A). Empunhadura correta para passar o bisturi (B).
Colocação ou retirada da lâmina com auxílio do porta-agulhas (C).

A retirada e a colocação das lâminas no cabo devem ser feitas com muito
cuidado, de preferência com o porta-agulhas (pinças hemostáticas são
indevidamente utilizadas, visto que com tal movimentação podem perder mais
rapidamente sua vida útil), para evitar ferimentos acidentais ou a perfuração da luva
de borracha. A ponta romba do cabo de bisturi não deve ser usada para a divulsão
ou descolamento de aponeuroses ou músculos, pelo risco de perfurações na mão
dos operadores.

2. Tesoura
Sua função principal é a de cortar tecidos orgânicos e materiais como gaze,
fios, borrachas, e promover a dissecção e divulsão dos tecidos. Seu comprimento é
variável em função da profundidade do campo de ação, tipo de estrutura (se mais
delicada ou mais robusta), e de acordo com o tecido a ser seccionado. A ponta da
tesoura pode ser reta ou curva para acompanhar a forma da incisão, e rombas ou
afiadas para facilitar a penetração ou o tipo de corte.
As tesouras de dissecção mais utilizadas são a de Metzenbaum (estruturas
delicadas, dissecção rápida) e a de Mayo (tecidos mais resistentes).

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Empunhadura correta para corte com a tesoura (A) e modo de empalmar a tesoura:
entre os dedos (B) e sob o dedo mínimo (C). Passagem da tesoura empalmada (D)
para a posição de uso (F) por movimento circular da mão e ajuda com o dedo
mínimo (E).

MATERIAIS DE PREENSÃO
São aqueles destinados a agarrar (segurar, apreender) tecidos, chamados de
pinças de dissecção. A pinça de dissecção é um instrumento auxiliar, portanto,
geralmente utilizada na mão esquerda (para o cirurgião destro) sendo empunhada
como se fosse um lápis. Os dedos polegar e médio servem de apoio e o dedo
indicador é o que executa o movimento de fechamento da pinça, sendo o
movimento de abertura determinado por flexibilidade própria. Esta técnica de
empunhadura deve ser a única usada, porque é extremamente firme e estável, além
de permitir movimentos precisos.

Empunhaduras tipo lápis

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Pinças dente-de-rato devem ser utilizadas somente na confecção de pontos


na pele ou em outros materiais como campos, borrachas, etc. A pinça anatômica
possui estrias transversais nas faces internas das pontas. As pinças têm
comprimentos variáveis, pontas de espessuras diferentes, podendo ser retas,
angulares ou curvas.

MATERIAIS DE HEMOSTASIA
São chamados de pinças hemostáticas, destinadas ao pinçamento de
pequenos vasos sanguíneos pela ligadura e também para pinçar fios de sutura e
tecidos orgânicos como aponeuroses, peritônio, etc.
Possuem argola e cremalheira para manter as pontas fechadas em vários
graus de pressão. São empunhadas da mesma forma que as tesouras, e os dentes
da cremalheira se engatam automaticamente pelo fechamento da pinça pela
aproximação das argolas entre si. Após executar a sua função, a pinça deve ser
retirada e para tanto se executa movimento inverso ao de pinçamento.
Existem quatro modelos básicos principais:
1. Pinça Halsted (mosquito): de tamanho pequeno e delicado, com pontas
finas. É usada para vasos pequenos, estruturas orgânicas nobres e
pinçamento de fios finos para sutura;
2. Pinça Kelly: suas pontas são menores que as da pinça Kocher. É usada
para vasos, fios grossos e pinçamento de tecidos pela ponta. Suas pontas
possuem ranhuras horizontais em dois terços de sua extensão;
3. Pinça Rochester: é uma pinça hemostática robusta usada para pinçamento
de pedículos e órgãos circundados por vasos. Suas pontas possuem
ranhuras horizontais ao longo de toda sua extensão;
4. Pinça Kocher: suas pontas são mais longas e robustas e possui dentes-de-
rato, o que as tornam mais traumáticas que as demais. São usadas para
pinçamentos transversais em tecidos ou pinçamento pela ponta para a tração
de aponeuroses.
5. Pinça Crile: possui ranhuras verticais em toda a sua extensão.
Todas as pinças podem ser curvas ou retas e possuem tamanhos variados.

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MATERIAIS DE EXPOSIÇÃO
Constituem-se de afastadores, ou seja, elementos mecânicos para afastar os
tecidos seccionados ou separados, expondo planos anatômicos ou órgãos
subjacentes. O afastamento bem realizado facilita muito o ato operatório. Existem
dois tipos principais: afastadores dinâmicos (Farabeuf) e afastadores auto-estáticos
(Finoqueto, Balfour, Gelpi, Weitlaner).

MATERIAL ESPECIAL BÁSICO


1. Pinças ou clampes intestinais: pinças longas usadas aos pares. Promovem
hemostasia, evitam a saída de conteúdo intestinal e apresentam as bordas para
a sutura.
2. Pinças de preensão atraumáticas (Babcock, Duval): servem para a preensão
de tecidos delicados ou vísceras. Possuem ampla superfície de contato,
causando trauma mínimo aos tecidos.
3. Pinça de preensão traumática (Allis): possui maior poder de preensão por
denteamento fino nas superfícies de contato.
4. Pinças vasculares para hemostasia temporária (Porrs, “bulldog”): são
pinças atraumáticas e possuem denteamento especial que permite realizar a
hemostasia sem lesionar os vasos.
5. Pinças de campo (Backaus): têm pontas agudas ou dentes para fixar os panos
de campo à pele, prender os campos entre si ou fixar objetos nos campos.

MATERIAIS DE SÍNTESE
São destinados a realizar as manobras necessárias para a reunião dos
tecidos entre si: porta-agulhas e agulhas, principalmente.
Existem dois modelos principais de porta-agulhas:
1) Porta-agulha de Hegar (Mayo-Hegar): possui argolas na extremidade
das hastes e possui a mesma empunhadura e mesmo manuseio da pinça
hemostática. É ideal para suturas em profundidade devido às suas hastes
longas e estreitas. É usado também para transfixação de estruturas
rígidas como osso e pele.
2) Porta-agulha de Mathieu: as duas hastes são curvas, com cremalheira
nas extremidades livres e mola entre elas para mantê-lo aberto. É ideal
para trabalho em superfície e é manipulado em posição empalmada.

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A B
Movimento de pronação-supinação para introdução (A) e retirada (B) da agulha.

INSTRUMENTAL CIRÚRGICO BÁSICO


Tesouras e cabos de bisturi

Tesouras Romba-romba (A), Romba-reta (B), Reta-reta (C), Metzenbaum (D) e Mayo
(E). Cabos de bisturi (F).

Pinças de preensão Afastadores

Anatômica e dente-de-rato Farabeuf

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Pinças de hemostasia

Halsted Kelly Crile Kocher


Pinça de exposição Pinça especial Pinça de campo

Allis Babcock Backaus


Porta-agulhas

Hegar Mathieu

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PARAMENTAÇÃO

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VII. PARAMENTAÇÃO

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Técnica de escovação (desinquinação). Deve iniciar-se pelas pontas dos dedos (1),
seguindo pela mão nos espaços interdigitais (2,3,4,5), face palmar (6) e face dorsal
da mão (7), face anterior (8) e face posterior do antebraço (9). A escova deve ser
passada de forma unidirecional, 50 vezes em cada local. A torneira é aberta com o
cotovelo ou por um auxiliar não paramentado e o enxague se inicia com as pontas
dos dedos, passando para a mão e o antebraço, sempre em sentido unidirecional.

Após o enxague mantenha os braços para cima (1). Secagem dos membros
superiores: utilize uma compressa aberta ou com dobra simples. Após enxugar as
mãos (2), passa-se para o antebraço (3) e o cotovelo do mesmo lado (4). Dobra-se
a compressa deixando a face usada no cotovelo para dentro (5) e com a compressa
dobrada enxugue a outra mão (6), o antebraço (7), deixando o cotovelo por último
(8).

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1 2 3 4
Ato de vestir o avental esterilizado. Após a secagem dos membros superiores, o
avental deve ser segurado com ambas as mãos (1,2), as quais a seguir são
introduzidas ao mesmo tempo nas respectivas mangas (3). O auxiliar de sala
traciona o avental por trás e promove as amarrações (4).

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Calçamento das luvas estéreis pelo método aberto: o envelope é aberto por um
auxiliar de sala, devendo o papel ser desdobrado de modo a expor o par de luvas.
Com uma das mãos segure a parte dobrada da luva e introduza a outra mão com o
cuidado de não tocar na face externa da luva, calçando-a, mas deixe para arrumá-la
no final. Coloque os dedos da mão enluvada sob a dobra da outra luva e ao mesmo
tempo introduza a outra mão com cuidado. Calce a luva de modo que fique sobre a
manga do avental. Arrume a luva da outra mão com o cuidado de não tocar na face
interna da luva. Por fim, mantenha as mãos junto ao corpo e não toque em nada
que não tenha passado por esterilização.

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CUIDADOS PRÉ, TRANS


E PÓS-OPERATÓRIOS

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VIII. CUIDADOS PRÉ, TRANS E PÓS-OPERATÓRIOS

PERÍODO PRÉ-OPERATÓRIO
Avaliação do paciente
Antes de se realizar uma cirurgia, é necessário conhecer o paciente e suas
condições pré-existentes. Para tal, uma anamnese bem-feita é essencial, obtendo-
se dados gerais (espécie, raça, sexo, idade, peso...) e a história clínica do paciente,
informações sobre dieta e o ambiente em que vive, estado geral de saúde, se está
em tratamento atualmente ou recentemente e se utiliza medicamentos de uso
contínuo (corticosteroides, anticonvulsivantes, ácido acetilsalicílico...) para controle
de doenças crônicas (glaucoma, hipotireoidismo, cardiopatias, epilepsia...). Além
disso, é importante saber se o paciente já foi submetido a outras cirurgias
anteriormente, bem como se já recebeu transfusões sanguíneas ou apresentou
reações medicamentosas.
As perguntas não devem se restringir ao sistema ou trato que está
acometido, devendo-se inquerir sobre possíveis alterações gerais:
 Trato gastrointestinal: vômitos, diarreia, presença de sangue nas fezes,
hiporrexia ou anorexia, normodipsia;
 Trato urogenital: aparência da urina, frequência de micção, alterações na
região genital, cio;
 Trato respiratório: tosse, secreção nasal, respiração dificultosa, alterações
na postura habitual em repouso;
 Sistema circulatório: edemas, extremidades cianóticas, tosse, resistência
a exercício;
 Sistema musculoesquelético: claudicação, se algum membro é poupado
em esforço ou repouso, dor à manipulação de algum dos membros ou da
coluna;
 Sistema nervoso: convulsões, desmaios, perda de consciência, mudanças
repentinas de comportamento, perda de propriocepção ou sensibilidade
em algum membro.

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Comunicação com o cliente


Após avaliação do paciente, é necessário explicar sua situação ao tutor,
expondo as opções de tratamento possíveis e respectivos prognósticos, incluindo as
possibilidades de complicações. Além disso, deve-se ser claro sobre os cuidados
pós-operatórios e os custos do tratamento. A decisão é sempre do cliente, sendo
sua função expor as opções e ser imparcial quanto à tomada de decisão.

Determinação do prognóstico cirúrgico


Excelente Cirurgia eletiva, pouco efeito sobre o paciente, mínima possibilidade
de complicações.
Bom Alguma possibilidade de complicação em decorrência do
procedimento, probabilidade elevada de desfecho bem-sucedido.
Razoável Possibilidade moderada de complicação, recuperação demorada,
possibilidade de alteração permanente na condição geral do
paciente.
Ruim Chances significativas de complicações durante a cirurgia, alta
probabilidade de alterações permanentes na condição geral, a
cirurgia se faz necessária para a preservação da vida do paciente.
Reservado Não é possível prever o desfecho do quadro.

Exames complementares
É essencial realizar exames complementares, visando estabelecer o estado
físico do paciente, mas também diagnosticar possíveis insuficiências, aferir o risco
cirúrgico e anestésico, elaborar o melhor protocolo anestésico para o paciente e
melhorar a monitoração trans e pós-anestésica.
 Exames complementares
- Hematológicos: eritrograma, leucograma, contagem de plaquetas,
proteína total;
- Bioquímicos: ureia, creatinina, FA, ALT, CK, proteína, albumina;
 Para aves e répteis: ácido úrico ao invés de ureia, creatinina
não possui valor diagnóstico;
 ALT é a enzima de eleição para carnívoros e onívoros, para
animais herbívoros, preferir AST.

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- Urinálise;
- ECG e ecodoppler: para cães e gatos acima de cinco anos de
idade ou pacientes que apresentem alteração cardíaca à
auscultação;
- Radiografia: investigação de metástases.

Preparação geral do paciente


É recomendado dar banho 24 horas antes da cirurgia, visando deixar o pelo
do animal limpo e desembaraçado, facilitando a tricotomia. Além disso, no período
pós-operatório não é recomendado dar banhos. O jejum sólido deve ser de 6 a 12
horas, mas o jejum líquido deve ser de aproximadamente duas horas. É
recomendado passear com o paciente anteriormente para estimular micção e
defecação. Caso seja necessário, pode ser realizada sondagem uretral.

Preparação do local da cirurgia


A tricotomia deve ser realizada no local da incisão, devendo ser ampla o
suficiente para permitir incisões adicionais, se necessárias, e evitar que haja
contaminação acidental da ferida, caso os panos de campo se movimentem durante
o procedimento. Pode ser realizada com lâmina de tricotomia ou máquinas de tosa.
O posicionamento do paciente deve ser feito após a indução anestésica, de
modo que a região a ser operada fique acessível ao cirurgião. Pode-se utilizar
calhas, cordas, almofadas, etc., para que fique estável. Utiliza-se colchões térmicos
sob o paciente para manter sua temperatura no trans e pós-cirúrgico. Os
dispositivos de monitoramento devem ser conectados após o posicionamento do
paciente.
A limpeza geral da pele é realizada após o posicionamento do paciente, para
remoção de pelos soltos, sujidades e óleos naturais, bem como redução de
populações bacterianas. Comumente se utiliza soluções degermantes de iodo ou
clorexidina, seguidas de soluções de PVPI ou clorexidina alcoólica, aplicados com
auxílio de gaze, com mãos calçadas com luvas de procedimento.
A preparação cutânea estéril vem a seguir e, apesar do nome do preparo, a
pele do paciente não se torna estéril. O objetivo é diminuir a carga bacteriana a
curto prazo e inibir a recolonização. Deve ser realizada pelo cirurgião ou auxiliar
após paramentação, com utilização de gaze estéril e pinça estéril própria para este

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fim. As soluções (PVPI ou clorexidina alcoólica) devem ser dispensadas sobre a


pele por um auxiliar não paramentado. As técnicas recomendadas para a limpeza
são:
 Círculos concêntricos: iniciar pelo local onde será feita a incisão, geralmente
no centro da área tricotomizada. Esfregar e realizar movimentos circulares,
do centro para a periferia, descartando a gaze ao atingir o final da região
tricotomizada, sem nunca retornar com a mesma gaze para evitar
contaminação;
 Espinha de peixe: iniciar na região medial da área tricotomizada, sobre a
região da incisão, em linha reta. A seguir, fazer padrão de espinha de peixe
em um dos lados, virar a gaze e repetir o padrão do outro lado. Descartar a
gaze ao final do procedimento. Caso pelo seja atingido no processo,
descartar a gaze imediatamente.
Realizar seis repetições de qualquer um dos métodos. Ao final, remover o
excesso das soluções com auxílio de gaze estéril seca.
Após, segue-se para a colocação dos panos de campo. O objetivo é criar um
campo estéril a ser mantido durante o procedimento cirúrgico, isolando a região não
preparada. Os panos devem ser posicionados por pessoas paramentadas, um de
cada vez, não devendo ser torcidos, agitados ou sacudidos. Uma vez posicionados,
os campos não devem ser reajustados, visando evitar contaminação. Os campos
são presos com auxílio de pinças Backhaus estéreis. O uso de compressas estéreis
sobre os panos de campo é recomendado, podendo ser utilizadas para isolar
estruturas do interior da cavidade abdominal após sua exposição.

Planejamento
É essencial que a equipe cirúrgica conheça os papéis a serem
desempenhados e colabore entre si, de modo que o procedimento aconteça sem
intercorrências. O foco cirúrgico deve ser posicionado de modo a iluminar a região
da cirurgia, promovendo boa visualização para o cirurgião e o auxiliar. Deve-se
evitar movimentos bruscos e com força excessiva quando dentro do centro cirúrgico
para evitar acidentes. Todo o material cirúrgico deve ser conferido previamente,
tanto quanto à sua disponibilidade quanto a estar esterilizado previamente.
O cirurgião e o auxiliar devem estar tranquilos e ter domínio da anatomia
topográfica e da técnica cirúrgica a ser executada. Deve-se realizar manipulação

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suave e expor minimamente os tecidos, dissecando somente o necessário. Deve-se


conhecer o instrumental e utilizá-lo corretamente. Encontrar um ponto de apoio para
as mãos ajuda, principalmente em cirurgias delicadas, como as microcirurgias.
Deve-se realizar a intervenção no menor tempo possível, mas sempre com calma.

PERÍODO TRANS-OPERATÓRIO
O paciente deve ser mantido em plano anestésico adequado ao longo do
procedimento, com fluidoterapia intravenosa. Caso necessário, o paciente deve ser
ventilado. A região cirúrgica deve ser protegida para não haver contaminação e os
tecidos expostos devem ser hidratados e minimamente manipulados. O material e o
padrão de sutura devem ser escolhidos de acordo com o caso.

PERÍODO PÓS-OPERATÓRIO
Após a cirurgia, os pacientes devem ser levados para uma sala de
recuperação, onde podem ser monitorados. A temperatura, frequências cardíaca e
respiratória devem ser observadas até que o paciente esteja alerta. Caso o paciente
esteja hipotérmico, deve-se aquecê-lo com cobertores térmicos e luvas com água
quente.
O paciente deve ser encaminhado para casa com prescrições de medicação
analgésicas e anti-inflamatórias, para que a recuperação seja a melhor possível.
Deve-se sempre orientar o proprietário para que seja feito período de repouso e uso
de roupa cirúrgica ou colar elisabetano para evitar o animal tenha acesso ao local
de incisão e possa lamber ou morder a ferida cirúrgica. Deve ser feito curativo diário
para manter a ferida limpa e evitar infecção local.
O uso de antibióticos profiláticos no pós-operatório só deve ser utilizado em
caso de cirurgias contaminadas. No caso de infecções no pós-cirúrgico, se
observam sinais sistêmicos (hipertermia, prostração, anorexia, polidipsia,
leucocitose, icterícia, uremia) e locais (edema de bordas, pontos apertados, eritema,
sensibilidade exacerbada, drenagem de secreção serosa ou serossanguinolenta,
seroma, supuração).

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TÉCNICAS OPERATÓRIAS
EM CÃES E GATOS

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IX. TÉCNICAS OPERATÓRIAS EM CÃES E GATOS


1. TRAQUEOTOMIA

Conceito
Traqueotomia: incisão na parede traqueal.

Indicações
 Remover obstrução
 Coletar amostras
 Facilitar fluxo aéreo

Considerações gerais
Os animais com desconforto respiratório devem ser examinados e
submetidos a tratamento clínico (caso necessário) previamente à cirurgia. Pode-se
administrar oxigenioterapia, corticosteróides ou até mesmo a sedação, lembrando
sempre de avaliar cada caso particularmente e utilizar somente o tratamento
adequado a cada situação.
O diagnóstico de uma doença respiratória superior embasa-se na anamnese
e sinais clínicos, achados do exame físico, parâmetros hematológicos e bioquímicos
séricos, radiografia, endoscopia, citologia, cultura e/ou biópsia.
Doses antiinflamatórias pré-operatórias de corticosteróides podem reduzir
edema nasofaríngeo e/ou em via aérea superior secundário à manipulação cirúrgica
ou diagnóstica. Para tanto a Dexametasona na dose de 0,5 - 2 mg/kg IV, IM, SC é
recomendada.

Antibioticoterapia
O trato respiratório possui uma flora bacteriana endógena. Portanto,
administram-se frequentemente antibióticos profiláticos antes da cirurgia. A maior
parte das infecções deve-se a microorganismos gram-negativos. A escolha do
fármaco a ser utilizado deve ser embasada em cultura e antibiograma prévios.
Antibioticoterapia indicada para tratamento de infecção respiratória superior:

 Ampicilina – 22 mg/kg, IV, IM, SC, VO tid (a cada 8 horas)


 Cefazolina – 20 mg/kg, IV, IM tid

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 Trimetoprim – sulfadiazina – 15 mg/kg IM, VO bid (a cada 12 horas)


 Amicacina 10 mg/kg, IV, IM, SC tid
 Enrofloxacina 5-10 mg/kg VO, IV bid

Anatomia cirúrgica
A traqueia é um tubo flexível e semirrígido, que se estende desde a
cartilagem cricóide até os brônquios principais, aproximadamente na quarta ou na
quinta vértebras torácicas. Trinta e cinco a quarenta e cinco cartilagens hialinas em
forma de C, reunidas por ligamentos anulares ventral e lateralmente e pelo músculo
traqueal (membrana traqueal dorsal) dorsalmente, formam a traqueia. Os vasos e os
nervos traqueais encontram-se nos pedículos laterais e suprem a traqueia em
segmentos. Tecido conjuntivo areolar frouxo circunda a traquéia e forma os
pedículos laterais. Os ramos vasculares para a traqueia são supridos pelas artérias
e veias tireóideas craniais e caudais, pelas artérias e veias broncoesofágicas e
veias jugulares internas. A inervação ocorre pelo sistema nervoso autônomo.

Técnica operatória
Aborde a traqueia cervical por incisão na linha média cervical ventral.
Prolongue a incisão desde a laringe até o esterno, conforme necessário, para
permitir a exposição adequada. Separe os músculos esterno-hióideos ao longo da

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sua linha média, e retraia-os lateralmente. Disseque o tecido conjuntivo peritraqueal


a partir da superfície ventral da traqueia, no local proposto para a traqueotomia.
Tenha cuidado para evitar traumatizar os nervos laríngeos recorrentes, as artérias
carótidas, a veia jugular, os vasos tireóideos ou o esôfago. Imobilize a traqueia entre
o polegar e o dedo indicador. Faça uma incisão horizontal ou vertical pela parede da
traqueia. Coloque suturas que envolvam a cartilagem ao redor das cartilagens
adjacentes para separar as bordas e permitir inspeção luminal ou inserção da
sonda. Aspire sangue, secreções e resíduos do lúmen traqueal. Após terminar o
procedimento, aproxime as bordas traqueais com suturas interrompidas simples
com fio polipropileno 3-0 ou 4-0. Para fechar a incisão traqueal, coloque suturas nos
ligamentos anulares que circundam as cartilagens adjacentes ou somente nos
ligamentos anulares. Lave o local com solução salina. Aproxime os músculos
esterno-hióideos com um padrão de sutura contínuo simples com fio absorvível
sintético 3-0 ou 4-0. Aproxime o tecido subcutâneo com sutura simples contínua e a
pele, rotineiramente (sutura intradérmica e simples interrompida, respectivamente).

2. TRAQUEOSTOMIA
Conceito
Criação de uma abertura temporária ou permanente no interior da traqueia
para facilitar o fluxo aéreo. Ela permite que o ar entre na traqueia distal ao nariz,
boca, nasofaringe e laringe. Deve-se realizar uma traqueotomia e em seguida inserir
uma sonda (traqueostomia temporária) ou criar um estoma (traqueostomia
permanente) para facilitar o fluxo aéreo. Deve-se escolher uma sonda não-reativa
que não seja maior que metade do tamanho (diâmetro) da traqueia.

Indicação
- Traqueostomia temporária
É realizada mais comumente para proporcionar uma via de fluxo aéreo
alternativa durante uma cirurgia ou como procedimento de emergência em
pacientes gravemente dispneicos. A traqueostomia com sonda deve ser mantida
geralmente por período curto.
- Traqueostomia permanente
Recomenda-se para animais com obstruções respiratórias superiores que
causam desconforto respiratório moderado a intenso, as quais não podem ser

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tratadas com êxito por meio de outros métodos (por exemplo: neoplasia nasal).
Deve-se orientar os tutores que esses animais devem ser restringidos de nadar, que
necessitarão de cuidados estomatosos diários, e ainda os advertir de que a
vocalização ficará diminuída ou ausente após esse procedimento. Os
traqueostomas devem ser mantidos pela vida inteira ou até serem fechados
cirurgicamente.

Técnica operatória
- Traqueostomia temporária
Faça uma incisão na linha média ventral a partir da cartilagem cricóide,
prolongando-a 2 a 3 cm caudalmente. Separe os músculos esterno-hióideos e faça
uma traqueotomia horizontal (transversal) pelo ligamento anular, entre a terceira e a
quarta ou a quarta e a quinta cartilagens traqueais. Não estenda a incisão ao redor
mais do que a metade da circunferência traqueal. Aspire sangue e muco do lúmen,
alargue a incisão e insira a sonda de traqueostomia. Facilite a colocação da sonda
envolvendo a cartilagem, distal ou lateralmente à incisão, com uma sutura de
fixação longa. Aplique tensão nessa sutura para abrir a incisão. Alternativamente,
abra uma pinça hemostática na incisão ou abaixe as cartilagens cranialmente à
incisão horizontal. Se a inserção da sonda for difícil, resseccione uma elipse
pequena de cartilagem. Aproxime os músculos esterno-hióideos, o tecido
subcutâneo e a pele cranial e caudal à sonda. Fixe a sonda suturando-a na pele ou
amarrando-a em gaze presa ao redor do pescoço.
- Traqueostomia permanente
Exponha a traqueia cervical proximal com uma incisão na linha média cervical
ventral. Crie um túnel dorsalmente à traqueia na área da terceira à sexta cartilagem
traqueal. Usando esse túnel, aproxime os músculos esterno-hióideos dorsalmente à
traqueia, com suturas de colchoeiro horizontais para criar uma tipóia muscular a fim
de reduzir a tensão nas suturas de mucosa com pele. Começando com a segunda
ou a terceira cartilagem traqueal, esboce um segmento retangular da parede
traqueal, com um comprimento da largura de 3 a 4 cartilagens e um terço da
circunferência da traqueia em largura. Incise a cartilagem e os ligamentos anulares
até a profundidade da mucosa traqueal. Levante a borda da cartilagem com uma
pinça e disseque o segmento da cartilagem a partir da mucosa. Se as cartilagens
traqueais mostrarem qualquer fraqueza ou tendência a colabar, coloque um ou dois

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anéis protéticos cranial e caudalmente ao estoma. Excise um segmento de pele de


tamanho semelhante, adjacente ao estoma (excise segmentos de pele maiores se o
animal apresentar dobras cutâneas soltas ou gordura subcutânea abundante).
Suture a pele diretamente na fáscia peritraqueal em sentido lateral, e os ligamentos
anulares proximal e distalmente ao estoma com uma série de suturas intradérmicas
interrompidas (polidioxanona ou polipropileno 3-0 ou 4-0). Faça uma incisão em
forma de I ou H na mucosa. Dobre a mucosa sobre as bordas cartilaginosas e
suture-as nas bordas da pele com suturas de aposição para terminar o
traqueostoma. Use suturas interrompidas simples para aproximar adicionalmente a
pele e a mucosa (polipropileno 4-0).

Cuidados e avaliação pós-operatórios


 Monitoramento durante a recuperação anestésica (secreção, tosse, engasgo,
aspiração), mantendo o animal intubado enquanto for possível;
 Caso ocorra desconforto respiratório após a retirada da sonda o animal deve
ser reintubado;
 Fornecer oxigênio suplementar;
 Fornecer analgésicos;
 Oferecer água após 6 a 12 h da cirurgia;
 Oferecer alimento pastoso após 18 a 24 h caso não ocorra vômito ou
engasgo;
 Evitar o uso de coleira cervical;
 Terapia clínica contínua;
 Após traqueostomia observar se ocorre asfixia ou desalojamento da sonda;
 Limpeza e remoção de muco da sonda a cada 15 min, inicialmente;
 Em traqueostomia permanente inspecionar o traqueostoma quanto ao
acúmulo de muco a cada 1 a 3 h; com 7 dias o intervalo aumenta para 4 a 6 h
e depois de 30 dias, limpeza do estoma duas vezes ao dia;
 Manter a tricotomia ao redor do estoma.

Complicações
 Obstrução respiratória devido ao inchaço, edema e irritação de mucosa com
aumento na produção de muco e/ou colabamento laríngeo ou traqueal;
 Infecção;

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 Espasmo, paralisia ou paresia laríngea após lesão no nervo laríngeo


recorrente;
 Em traqueostomia pode ocorrer desalojamento da sonda, engasgo, vômito,
tosse, enfisema, obstrução da sonda, estenose traqueal, fístulas
traqueoesofágicas.

3. ESOFAGOTOMIA
Conceito: incisão no lúmen esofágico.

Indicações
 Remover obstrução (corpos estranhos, estenoses, massas, etc.)
 Perfuração
 Fístulas
 Hérnia hiatal
 Intussuscepção gastroesofágica
 Divertículos
 Acalasia cricofaríngea (interrupção de passagem de alimentos através do
esfíncter esofágico cranial)

Cuidados pré-operatórios
O diagnóstico de esofagopatia baseia-se na anamnese, sinais clínicos e em
endoscopia e/ou radiografias (simples e contrastadas; com suspeita de perfuração
utilizar contraste iodado e não de bário). Os sinais clínicos predominantes de
afecção esofágica são regurgitação e disfagia.
Pode ocorrer pneumonia por aspiração, que deve ser tratada agressivamente
antes da cirurgia. Esofagite e debilidade nutricional também devem ser tratadas
previamente à cirurgia.
Terapia com corticosteróides intercorrentes (prednisolona a 0,5 mg/kg, VO
BID) pode diminuir o risco de estenose em animais com esofagopatia grave.

Antibioticoterapia
A escolha do fármaco a ser utilizado deve se basear em cultura e
antibiograma prévio.

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Antibioticoterapia indicada para tratamento de infecção respiratória superior:

 Ampicilina – 22 mg/kg, IV, IM, SC, VO TID a QID


 Cefazolina – 20 mg/kg, IV, IM TID
 Clindamicina – 11 mg/kg, VO, IV BID
 Trimetoprim-sulfadiazina – 15 mg/kg IM, VO BID
 Amicacina 10 mg/kg, IV, IM, SC TID
 Enrofloxacina 5-10 mg/kg VO, IV BID

Anatomia cirúrgica

As porções cervical e proximal do esôfago situam-se à esquerda da linha


média. No entanto, o esôfago está ligeiramente à direita da linha média desde a
bifurcação traqueal até o estômago. As camadas da parede esofágica incluem
mucosa, submucosa, muscular e adventícia. No tórax e no abdômen a adventícia é
recoberta com pleura e peritônio, respectivamente. O esôfago não possui serosa.
Portanto a selagem com fibrina inicial dos locais de esofagotomia pode ser mais
lenta que em outras áreas do trato gastrintestinal. A submucosa é a camada de
sustentação do esôfago e deve ser incorporada em todas as suturas. O esôfago

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canino normal possui estriações mucosas lineares por toda sua extensão. A porção
distal do esôfago felino possui geralmente dobras de mucosa circulares, que
formam um padrão em zigue-zague com contraste positivo.
O suprimento vascular do esôfago cervical deriva de ramos das artérias
tireóidea e subclávia. As artérias broncoesofágicas e os ramos segmentares da
aorta suprem o esôfago torácico. O esôfago abdominal é suprido por ramos
oriundos da artéria gástrica esquerda e da artéria frênica esquerda. Os ramos
intramurais se ramificam e anastomosam dentro da camada submucosa. O fluxo
sanguíneo colateral das porções cervical e abdominal do esôfago pode proporcionar
ao esôfago torácico um fluxo sanguíneo adequado contanto que o sistema vascular
esofágico intramural se encontre intacto.

Técnica operatória
- Abordagem do esôfago cervical
Posicione o paciente em decúbito dorsal. Incise a pele na linha média,
começando na laringe, estendendo-se caudalmente até o manúbrio. Incise e retraia
o tecido subcutâneo. Separe os músculos esternoióideos pareados ao longo da
linha média para expor a traqueia subjacente. Retraia a veia tireóidea média com o
músculo esternoióideo. Se for necessário acesso ao esôfago cervical caudal, separe
e retraia os músculos esternocefálicos. Retraia a traqueia para a direita para expor
as estruturas anatômicas adjacentes, incluindo o esôfago, a glândula tireóidea, os
vasos tireóideos craniais e caudais, o nervo laríngeo recorrente e a bainha
carotídea. Introduza uma sonda gástrica ou um estetoscópio esofágico para facilitar
a identificação do esôfago e da lesão.
- Esofagotomia
Separe o esôfago do restante do campo com compressas. Aspire material do
esôfago antes de fazer a incisão. Oclua o lúmen cranial e caudalmente ao local
proposto da esofagotomia com os dedos ou pinças atraumáticas. Coloque suturas
de fixação adjacentes ao local da incisão para estabilizar, auxiliar a manipulação e
evitar traumatismos nas bordas esofágicas.
Faça incisão em estocada no lúmen esofágico e prolongue a incisão
longitudinalmente, conforme necessário, para remover o corpo estranho ou observar
o lúmen. Se a parede esofágica tiver aparência normal, faça incisão sobre o corpo
estranho. Se a parede parecer comprometida, faça a incisão caudalmente à lesão

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ou ao corpo estranho. Remova cuidadosamente com uma pinça os corpos


estranhos, evitando traumatismo esofágico adicional (laceração ou perfuração).
Examine o lúmen esofágico e obtenha amostras de cultura de áreas necrosadas e
perfuradas. Debride e feche as perfurações circundadas por tecido saudável que
envolvam menos de um quarto da circunferência do esôfago. Identifique as áreas
necrosadas grandes ou as perfurações extensas e realize ressecção e anastomose.
A esofagorrafia pode ser realizada por uma ou duas camadas. Um
fechamento simples interrompido em duas camadas resulta em força de ferimento
imediata maior, aproximação tecidual melhor, melhora na cicatrização, mas leva
mais tempo para sua realização que as técnicas de camada única.
Coloque cada sutura a aproximadamente 2 mm da borda e em intervalos de 2
mm. Incorpore a mucosa e a submucosa na primeira camada de fechamento
simples interrompido em duas camadas. Coloque os fios de sutura de maneira
que os nós fiquem dentro do lúmen esofágico (Swift). Incorpore as camadas
adventícia, muscular e submucosa na segunda camada de suturas, com os nós
cerrados extraluminalmente. Confira a integridade do fechamento por oclusão do
lúmen, injeção de solução salina, aplicação de pressão e observação de
vazamento entre as suturas.
Para sutura do esôfago recomenda-se fio de sutura monofilamentar
absorvível (polidiaxona, poligliconato) e não absorvível (polipropileno, náilon), 3-0 ou
4-0.

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Cuidados e avaliação pós-operatórios

 O esôfago não tolera bem um esticamento longitudinal e poderá sofrer


deiscência se for empregada alta tensão à sutura;
 Analgesia adequada;
 Jejum pós-cirúrgico de 24 a 48 h;
 Alimentação parenteral;
 Água pode ser oferecida após 24 h;
 Administrar alimento fluidificado durante 5 a 7 dias após o jejum alimentar
(observar êmese ou regurgitação);
 Monitorar febre e neutrofilia;
 Observar e tratar esofagites ou pneumonia por aspiração;
 Pode ocorrer recidiva da patologia;
 Pode ocorrer deiscência, estenose e fistulação.

4. CELIOTOMIA EM PEQUENOS ANIMAIS


A maioria das cirurgias realizadas em pequenos animais requer acesso
cirúrgico abdominal. O acesso ao abdômen pode ser necessário para propostas
diagnósticas, terapêuticas ou mesmo para prognósticos.
Alguns profissionais preferem não realizar a incisão na linha alba de fêmeas
lactantes, embora a incisão mediana realizada em casos de cesariana não
interfira com a amamentação dos filhotes.

Definição
Embora se utilize amplamente o termo laparotomia, este termo refere-se
exclusivamente à abertura do flanco. A abertura da cavidade abdominal denomina-
se celiotomia.

Anatomia
Na linha média ventral há uma fina, branca e fibrosa área, denominada linha
alba. Em cães, ela possui entre 2 e 3 mm de largura; em gatos, ao redor de 4 mm.
As fibras das aponeuroses tendinosas dos músculos oblíquo abdominal externo,
oblíquo abdominal interno e reto abdominal convergem sobre a linha média,

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formando a linha alba. Desta forma, eles passam externa ou internamente ao


músculo reto abdominal, o qual se estende em uma direção cranial a caudal ao
longo da parede abdominal.

Classificação
 Celiotomia mediana*: incisão sobre a linha média (linha alba).
 Celiotomia paramediana*: incisão paralela à linha média (linha alba).
*As celiotomias mediana/ paramediana podem ainda ser classificadas em
pré-umbilical, retro-umbilical, ou pré-retro-umbilical, conforme sua extensão.
 Laparotomia: incisão na área paracostal do flanco.

Indicações
 Diagnóstica
 Curativa (que permita acesso a outras técnicas)
 Prognóstica

Técnica operatória
Pré-operatório: jejum prévio, técnicas de antissepsia, colocação de panos de
campo, decúbito dorsal.
Trans-operatório:
 incisão cutânea, com o bisturi, na linha média ventral (extensão e
localização conforme o procedimento desejado), podendo ter início
próximo ao processo xifóide e estendendo-se caudalmente até o púbis;
 incise o tecido subcutâneo (se houver necessidade, divulsione-o sobre a
linha média), exponha a fáscia externa do m. reto abdominal;
 identifique a linha alba; realize hemostasia, se necessário;
 sustente a parede abdominal com pinças Allis ou, preferencialmente,
pinça anatômica, e realize uma incisão em estocada com o bisturi;
 verifique a presença de órgãos e aderências próximas à incisão;
 amplie a incisão com a tesoura (cranial e caudalmente);
 rompa ou retire, realizando hemostasia, o ligamento falciforme. (opcional)

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 Em cães machos, pince o prepúcio e prenda-o lateralmente, e coloque


uma sonda uretral. A incisão de pele torna-se paramediana na região do
prepúcio. Incise a musculatura na linha alba, como descrito anteriormente.

Seta menor: incisão pré-umbilical; seta maior: incisão retro-umbilical; união das duas
setas: incisão pré-retro-umbilical.

 diérese: realizada plano a plano. Sutura da musculatura com pontos


simples interrompidos, fio absorvível sintético (2-0 a 3-0); sutura do
subcutâneo com ponto simples contínuo, e intradérmica em zigue-zague,
ambas com fio absorvível sintético (3-0 a 4-0). Para finalizar, sutura da
pele com ponto simples interrompidos, fio inabsorvível sintético (2-0 a 3-
0). Outros padrões de sutura também são referidos na literatura, como o
Donatti e o Wolff.
Pós- operatório: curativos locais, utilização de analgésicos, anti-inflamatórios
e antibióticos conforme o procedimento realizado e o estado geral do paciente.

Complicações
 infecção cirúrgica, se não forem seguidos os padrões de antissepsia e
assepsia;
 deiscência de sutura (falhas técnicas, escolha errada do material de síntese,
infecção, falhas nas recomendações e/ou realização do pós-operatório).

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A B C
Figura – A. Colocação dos panos de campo. B Incisão por estocada e C.Sutura da musculatura
abdominal em padrão simples interrompido.

5. GASTROTOMIA EM PEQUENOS ANIMAIS


Anatomia funcional
A capacidade média do estômago de um cão é bastante variável, sendo de
400-500mL em um cão de raça beagle, 700mL em cães de porte médio, podendo
alcançar 3,7 a 8 litros em raças grandes, estes, sob condições não fisiológicas. Já o
estômago de gatos não sofre tanta variação quanto à sua capacidade, que se situa
entre 300-350mL.

Regiões do estômago: cárdia, fundo, corpo, piloro (antro, canal e esfíncter


pilórico).
 Fundo: sua superfície cranial empurra o lado esquerdo do diafragma; embora
relativamente pequeno em carnívoros, o fundo é de fácil identificação à
radiografia no animal em estação (principalmente em gatos), pois é
tipicamente preenchido por gás. Em outra postura, o gás borbulha para a
nova parte elevada do estômago, onde pode realçar a mucosa. O fundo é

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relativamente maior no estômago vazio. Um plano horizontal passando


através da cárdia marca o limite ventral do fundo e frequentemente
corresponde à superfície de conteúdo líquido. O fundo deve ser uma divisão
funcional verdadeira do estômago; ele deve controlar o enchimento de
líquidos, enquanto a parte mais distal tritura a ingesta, mistura o suco gástrico
e retém sólidos.
 Corpo: é empurrado contra o lobo esquerdo do fígado e perfaz o terço médio
do estômago. É sucedido pela parte pilórica, da qual é arbitrariamente
distinguido por um plano passando através do chanfro angular (dobra aguda
no limite ventral da superfície ventral da curvatura menor).
 Piloro: compõe um pouco menos que um terço do estômago. É encontrado
ventralmente e, na maioria das vezes, à direita e ao redor do antro pilórico
tipo funil, o qual se abre dentro de um canal pilórico mais estreito que termina
no óstio pilórico, o orifício dentro do duodeno. O próprio piloro consiste em
um esfíncter, associando túnicas mucosa e serosa. O piloro deita-se à direita,
empurrado contra o fígado, mais cranial que a cárdia.

Movimentos do estômago: o estômago cheio e vazio difere quanto à forma.


Quando vazio, adota vários tipos de “J”, quando cheio, apresenta-se em forma de
“C”. Quando o estômago se enche, a curvatura maior torna-se de duas e meio a
quatro vezes maior em comprimento que a curvatura menor e se move
caudoventralmente; a curvatura menor permanece relativamente fixa. Formas são
adicionalmente modificadas por várias atividades musculares, como contrações
sistólicas do canal pilórico, contrações gerais do corpo todo e peristalse, ondas que
criam constrições anulares, particularmente sobre a metade distal. Um ciclo típico
de motilidade gástrica dura 10-12 segundos. O óstio pilórico está aberto, exceto no
quinto final do ciclo. Fluídos passam rapidamente, enquanto alimentos sólidos ou
pastosos são retidos por mais tempo.
Fixação do estômago: a motilidade do órgão e sua necessidade em encher-
se e esvaziar-se não permite que ele se fixe firmemente. Entretanto, a cárdia é
“sustentado” pelo esôfago relativamente imóvel, e o piloro e duodeno são ligados ao
fígado de forma que o estômago fique frouxamente ancorado à linha média. A
cárdia e o piloro formam um eixo sobre o qual o estômago rotaciona quando ele se

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enche. A curvatura maior desliza caudalmente junto à parede abdominal esquerda


enquanto a cárdia e o piloro permanecem estacionados. A curvatura menor liga-se
ao fígado através do omento menor.
O omento maior se origina da curvatura maior do estômago e seu tamanho
varia. Possui várias funções, mas nenhuma delas é vital: aumenta a área de
superfície serosa para produção e absorção de fluidos e previne que os intestinos
se prendam entre o estômago e o fígado.

A parede do estômago consiste em túnicas mucosa, submucosa, muscular e


serosa, além de vasos e nervos.
 Túnica mucosa: perfaz metade do peso do estômago canino; é totalmente
glandular, e a natureza das glândulas varia de uma região à outra.
 Túnica submucosa: bem desenvolvida e bastante vascularizada.
 Túnica muscular: compõe um terço do peso do estômago. É composta de
três camadas, o que a difere da maioria das outras partes do trato alimentar.
Além disto varia em espessura nas diferentes regiões do estômago.
 Túnica serosa: recoberta de peritônio visceral.
As pregas gástricas são encontradas em toda a superfície mucosa do
estômago, sendo mais proeminentes no órgão vazio. São particularmente bem
desenvolvidas no corpo, menos numerosas na parte pilórica e menos salientes ao
redor da cárdia e sulco gástrico. Tais pregas assumem outras formas com a
inflamação; porém como elas são variáveis, deve-se ter cautela ao lhes atribuir
um aumento aparente. A parede do estômago mede entre 3-5 mm de espessura.
Ao ultrassom, distinguem-se 5 leitos ecogênicos: superfície mucosa, a mucosa
propriamente dita, a submucosa, a muscular e a serosa.

 Vasos e nervos: as artérias que irrigam o estômago derivam da artéria


celíaca e cursam ao longo dos ligamentos do omento. As artérias gástricas
esquerda e direita correm ao longo da curvatura menor e a artéria
gastroepiplóica direita e esquerda, ao longo da curvatura maior, com ramos
da artéria esplênica suprindo o fundo. Próximo à metade das superfícies
parietal e visceral há uma delgada faixa aproximadamente equidistante das
duas curvaturas que é relativamente livre de grandes vasos sanguíneos e é o
sítio de escolha para gastrotomias. 80% do fluxo sanguíneo arterial são
encontrados na mucosa e o restante na submucosa e muscular. As artérias

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são acompanhadas por veias satélites. Nervos parassimpáticos são


derivados do tronco vagal dorsal e ventral. Nervos simpáticos são derivados
dos nervos esplâncnicos; estes, primeiro cursam o gânglio celíaco-
mesentérico e depois, o estômago, acompanhando ramos da artéria celíaca.
Linfonodos estão dispersos por toda a mucosa e os vasos linfáticos gástricos
drenam para o linfonodo hepático.

Conceito
Gastrotomia é a abertura do estômago e deve ser distinguida da
gastrostomia, que é o estabelecimento de uma abertura artificial (comunicação com
o meio externo) do estômago.

Indicações
 Retirada de corpos estranhos;
 Inspeção da mucosa gástrica para verificação de presença de úlceras,
neoplasias ou hipertrofias;
 Obtenção de material para biópsia;
 Esvaziamento gástrico.

Considerações pré-operatórias
Antes do ato cirúrgico deve-se examinar todo o trato gastrointestinal por meio
de exame físico, exame radiológico e gastroscopia, para determinar se outras
lesões estão presentes. Deve-se avaliar se há desequilíbrio hidroeletrolítico no
paciente, o qual deve ser corrigido antes da cirurgia. O histórico deve ser
considerado. Uma celiotomia exploratória pode indicar uma gastrotomia.
Antibioticoterapia profilática pode ser instaurada.

Considerações quanto à presença de corpos estranhos no estômago


Incidência: relativamente alta, acometendo cães e gatos em diferentes
idades.
Sinais clínicos: vômito reflexo é desencadeado apenas quando o corpo
estranho se localiza no antro pilórico; quando localizado no fundo, geralmente não
produz sinais clínicos. Se o corpo estranho se deposita na porção pilórica do

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estômago o esvaziamento gástrico tende a diminuir. Corpos estranhos geralmente


não são detectáveis à palpação abdominal.
Achados laboratoriais: variam com a severidade e duração do vômito e
devem incluir desidratação e desbalanço eletrolítico e ácidobásico. A anormalidade
mais comum é acidose metabólica, mas alcalose hipocalêmica também pode
ocorrer em animais com obstrução pilórica.
Radiografias: adequadas para diagnóstico de corpo estranho radiopaco,
porém muitos são radioluscentes. Sua presença pode ser sugerida por aumento na
largura de uma porção localizada do estômago. Gás e restos de ingesta
frequentemente se acumulam ao redor do corpo estranho gástrico, facilitando sua
localização. Pode ser necessária a realização de radiografia contrastada.
Diagnóstico: baseado em achados clínicos e, principalmente, radiográficos.
Se inconclusivo, realizar radiografia contrastada. Exames laboratoriais com análise
de eletrólitos e desbalanço ácidobásico podem auxiliar.
Tratamento: corpos estranhos devem ser removidos pois causam inflamação
crônica na parede gástrica e obstrução pilórica ou intestinal. A melhor técnica deve
ser escolhida baseada no tamanho, tipo e consistência do corpo estranho. Quando
circulares e de superfície lisa, podem ser removidos por vômito induzido, 30 minutos
após o animal ter feito sua alimentação regular. Em cães, apomorfina pode ser
usada na dose de 1-5 mg, e em gatos, 1 mg/kg de xilazina é mais indicado. Corpos
estranhos pequenos e de superfície lisa podem ser recuperados por endoscopia ou
com pinças de apreensão. Corpos estranhos grandes ou de superfície irregular, que
podem causar injúria ao esôfago quando retirados pela boca, devem ser removidos
por gastrotomia.
Prognóstico: bom, desde que a intervenção seja precoce.

Técnica operatória
 Anestesia;
 Animal em decúbito dorsal;
 Antissepsia;
 Colocação dos primeiros panos de campo;
 Celiotomia mediana; pré-umbilical; em alguns casos, pré-retro umbilical;

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 Colocação dos segundos panos de campo e de compressas umedecidas ao


redor da incisão;
 Afastadores para aumentar a exposição do estômago;
 Exploração da cavidade abdominal e exposição e isolamento do estômago,
através de duas suturas de apoio equidistantes ou de pinças Babcock na
área menos vascularizada do órgão; estruturas abdominais circundantes são
afastadas com compressas umedecidas;
 Rotacionar o estômago a 90º para que a incisão fique paralela à parede
abdominal;
 Incisão paralela e equidistante às duas curvaturas, em duas etapas:
a) Iniciar na camada seromuscular, aprofundando até a mucosa com bisturi.
Hemorragia pode ocorrer quando a incisão atinge a porção mais profunda
do leito seromuscular e a ligadura dos vasos será mais fácil se a mucosa
estiver íntegra, pois, quando incisada, costuma se dobrar sobre as outras
camadas da parede gástrica;
b) Faz-se uma incisão na mucosa com lâmina de bisturi ampliando-a com
tesoura em direção às pinças.
 Inspeção do órgão e/ou retirada do corpo estranho;
 Troca de luvas. Desprezar material contaminado (compressas, instrumental
cirúrgico);
 Sutura
Quanto à sutura, há autores que defendem a sutura realizada em um único
plano, por causar menor inversão e melhor aposição das bordas da ferida. Por outro
lado, a sutura realizada em dois planos proporciona melhor controle da hemorragia
e melhor coaptação da serosa. Quando realizada em um único plano a sutura não
perfurante total é preferencial para gastrorrafias, uma vez que a presença de fio de
sutura na mucosa gástrica seria fonte constante de atrito. Este procedimento tem
sido preconizado recentemente por causar menor isquemia e exsudação à ferida
cirúrgica.
Suturas realizadas em dois planos poderiam ter o primeiro padrão Cushing,
com fio absorvível sintético 3-0 a 4-0. A sutura se inicia na superfície serosa e
penetra (mas não atravessa) a mucosa (não perfurante total). O segundo plano é
realizado com pontos simples separados tipo Lembert, utilizando-se fio absorvível

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APOSTILA DE TÉCNICA CIRÚRGICA VETERINÁRIA 115

sintético 2-0 ou 3-0, passando a agulha em ângulo reto na incisão, através da


seromuscular. Outras combinações podem ser feitas, a critério do cirurgião e de
suas habilidades. O omento pode ser colocado sobre a incisão e fixado
(omentopexia) com dois pontos simples separados com fio absorvível sintético 2-0
ou 3-0.

Cuidados pós-operatórios
Além dos cuidados referentes à causa que conduziu à gastrotomia, os
cuidados pós-cirúrgicos constituem-se, basicamente, na restauração do equilíbrio
hidroeletrolítico. A fluidoterapia deve ser continuada até que a ingestão oral de fluido
se restabeleça adequadamente. Pequenas quantidades de água devem ser
oferecidas tão logo o animal se recupere da anestesia. Se a água é aceita pelo
animal, alimentação pastosa e em pequenas quantidades pode ser iniciada 24 a 48
horas após a intervenção cirúrgica. A quantidade e a consistência do alimento
devem ser gradualmente aumentadas até que a alimentação normal seja
restabelecida, aos quatro dias de pós-operatório.

6. ESPLENECTOMIA
Por muito tempo acreditou-se que o baço não era essencial à vida e,
portanto, poderia ser retirado sem maiores complicações. Sabe-se, hoje, que a
doença esplênica representa grande mortalidade e morbidade em cães idosos.
Embora os avanços das técnicas anestésicas e cirúrgicas e um cuidado pós-
operatório adequado permitam lograr êxito nas esplenectomias de cães e gatos, as
complicações pós-cirúrgicas que ameaçam a vida ainda persistem. As importantes

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funções desempenhadas pelo baço têm conduzido a métodos de preservação da


função esplênica e ao monitoramento da saúde de animais esplenectomizados.

Definição
Esplenectomia é a remoção cirúrgica do baço.

Anatomia
O baço situa-se no quadrante abdominal cranial esquerdo, encontrando-se
geralmente paralelo à curvatura maior do estômago. Entretanto, sua localização
mais precisa é dependente do tamanho e do posicionamento dos outros órgãos
abdominais. Com o estômago contraído o baço se localiza ao lado das costelas;
quando o estômago está repleto, o baço se encontra no abdômen caudal.

O suprimento sanguíneo é oriundo da artéria esplênica, ramo da a. celíaca. A


artéria esplênica possui de três a cinco ramificações primárias, que cursam no
omento maior em direção ao terço ventral do baço. A primeira ramificação irriga o
pâncreas. Os dois ramos remanescentes dirigem-se à metade proximal do baço, de
onde se projetam cerca de vinte a trinta ramificações que entram no parênquima. Os
ramos continuam, então, do ligamento gastroesplênico em direção à curvatura maior
do estômago, formando as artérias gástricas menores (que irrigam o fundo) e a
artéria gastroepiplóica esquerda (que irriga a curvatura maior do estômago). A
drenagem venosa é via veia esplênica. A contração do baço é regulada pelo grande
número de receptores alfa – adrenérgicos.

Indicações
As afecções cirúrgicas do baço podem ser focais (simétricas) ou difusas
(assimétricas). A esplenomegalia difusa pode ser atribuída à congestão (ex: torção
esplênica, insuficiência cardíaca direita, dilatação vólvulo-gástrica, fármacos) ou
infiltração resultante de infecção, doença imunomediada ou neoplasia (ex: linfoma).
A esplenomegalia focal pode ser causada por processos benignos (ex: regeneração
nodular, trauma, hematoma) ou neoplásicos (ex: hemangiosarcoma). A
esplenomegalia decorrente de neoplasia é a principal causa de esplenomegalia não
iatrogênica em cães e gatos.

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Trauma esplênico, ruptura de um hematoma ou uma doença concomitante


(ex: infecção crônica, doença imunomediada ou coagulação intravascular
disseminada) podem resultar em hemorragia seguida de anemia.

Esplenectomia parcial
Indicada para lesões focais ou traumáticas, quando se deseja preservar a
função esplênica.
- Técnica operatória

 celiotomia mediana pré-umbilical ou pré-retro-umbilical, para exploração


da cavidade abdominal;

 defina a área a ser removida;

 ligue duplamente os vasos da região e seccione-os;

 coloque pinças atraumáticas entre a região a ser excisada e a região


sadia;

 seccione o baço entre as pinças;

 suture o tecido esplênico com um padrão de sutura contínuo, utilizando fio


absorvível sintético 3-0 ou 4-0. Para conferir maior segurança à sutura,
pode-se utilizar um padrão duplo (ex. simples contínuo na ida, voltando
com a mesma sutura).

Esplenectomia parcial

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Esplenectomia total

Indicada para neoplasias esplênicas, obstruções isquêmicas (torções


esplênicas), aumento generalizado secundário a doenças infiltrativas e traumas,
doenças imunomediadas não responsivas à terapia podem requerer uma
esplenectomia. Sempre que possível, a esplenectomia parcial é preferida a
esplenectomia total.
As desvantagens de uma esplenectomia total são a perda do reservatório
sanguíneo, da defesa imune e das funções de filtração e hematopoiese do baço. É
contraindicada em pacientes que tenham hipoplasia de medula óssea.

- Técnica operatória

Pode ser necessária a transfusão sanguínea antes ou concomitante à


cirurgia.
 celiotomia mediana pré-umbilical ou pré-retro-umbilical, para exploração
da cavidade abdominal;
 exposição do baço, envolto em compressas. Em pacientes com lesões
neoplásicas, esta exposição torna-se difícil;
 ligar duplamente e seccionar todos os vasos do hilo esplênico, com fio
absorvível (preferencialmente) ou não absorvível;
Obs: Estudos recentes evidenciaram que o fluxo sanguíneo gástrico não se
torna comprometido pela ligadura das artérias e veias gastroepiplóica esquerda e
gástricas curtas, portanto, a esplenectomia pode ser realizada através da ligadura
destes vasos e da artéria e veia esplênica, para frente da artéria pancreática. Desta
forma, são requeridas menos ligaduras e menor manipulação tecidual. Entretanto,
em alguns pacientes a adesão do omento ou a massa neoplásica dificulta a
identificação da artéria e veia esplênica. Neste caso, a ligadura individual dos vasos
é mais indicada.
 se possível, preservar as artérias gástricas menores que irrigam a região
do fundo do estômago;
 identifique o ramo que nutre o pâncreas;
 ligue duplamente e seccione a artéria esplênica distal a estes vasos.
O material de sutura absorvível é mais indicado. Se houver peritonite, dê
preferência a fios monofilamentares, como poligliconato ou polidioxanone.

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Esplenectomia total

Pós-operatório
O animal deve ficar em observação durante as primeiras 24 horas, devido ao
risco de hemorragia, e o hematócrito aferido constantemente, até que tenha voltado
aos níveis normais. Se houver hemorragia, esta pode ser por falha técnica ou por
distúrbios de coagulação (CID). Pode-se observar leucocitose discreta. Leucocitose
acentuada é sinal de infecção. Manter a hidratação corpórea e analgesia.

Complicações
A maior complicação da cirurgia esplênica é a hemorragia, mais frequente
quando se realiza biópsia ou esplenectomia parcial. Pode decorrer de falhas nas
ligaduras dos vasos na esplenectomia total.

7. ENTEROTOMIA, ENTERECTOMIA E ENTEROANASTOMOSE


Definição
Enterotomia é uma incisão no intestino. Enterectomia é a ressecção
(remoção) de um segmento do intestino e enteroanastomose é o restabelecimento
da continuidade entre as extremidades rompidas.

Indicações
As cirurgias intestinais (principalmente intestino delgado) são indicadas para
casos de obstrução (corpos estranhos, massas), traumatismos (perfurações,

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isquemia), posicionamentos errados, infecções e procedimentos diagnósticos ou de


suporte (biópsia, cultura, citologia, sondas alimentares). A ressecção e a
anastomose intestinais são indicadas em pacientes com intussuscepção irredutível,
estenose do lúmen intestinal, lesões graves que comprometam o tecido ou
neoplasias intestinais.

Pré-operatório
Além dos procedimentos rotineiros (jejum, estabelecimento do animal,
tricotomia, etc.), preconiza-se a antibioticoterapia profilática imediatamente antes da
cirurgia. A microbiota é menor no duodeno e no jejuno que íleo, cólon e reto. O
maior número de bactérias (aeróbias e anaeróbias) se encontra no cólon.
Proliferação anormal de bactérias residentes ocorre no intestino envolvido devido ao
conteúdo luminal estagnado, e à desvitalização da parede, que se constituem em
excelentes meios de crescimento.
Dentre os antibióticos preconizados citam-se a Cefazolina (20mg/Kg IV) e a
Cefoxitina (15-30mg/Kg IV).

Enterotomia
- Técnica operatória
 decúbito dorsal; celiotomia mediana, geralmente pré-umbilical;
 a alça intestinal que contém o corpo estranho é tracionada para fora do
abdômen e isolada com compressas. Realiza-se o “ordenhamento” da
alça intestinal. Colocam-se pinças intestinais atraumáticas (clampes
intestinais) cranial e caudalmente ao local a ser incisado. A parede
intestinal é incisada longitudinalmente, no lado anti-mesentérico, e no
tecido sadio imediatamente caudal ao corpo estranho. A incisão deve ter o
tamanho suficiente para a retirada do corpo estranho sem causar mais
comprometimento ao tecido. Posteriormente sutura-se a parede intestinal
com pontos simples interrompidos que atravessam todas as camadas da
parede intestinal, usando fio de sutura absorvível sintético 3-0 a 4-0. A
agulha é inserida na parte serosa, atravessando a mucosa, para garantir a
inclusão da submucosa. Depois é reinserida na mucosa, chegando à
serosa, na borda oposta. Deve-se ter a cautela de evitar a eversão da

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mucosa, buscando-se produzir um bom alinhamento. Pode-se realizar a


omentopexia. Procede-se a celiorrafia plano a plano.

Enterectomia e enteroanastomose

- Técnica operatória
 decúbito dorsal; celiotomia mediana, geralmente pré-umbilical;
 avalie a quantidade de intestino a sofrer ressecção. Na maioria dos
pacientes, a área afetada pode ser tracionada para fora do abdômen. Em
casos de intussuscepção, sempre é válido tentar reduzi-la. Realiza-se um
leve “ordenhamento” na porção da alça intestinal a ser retirada. O
intestino é liberado de sua ligação com o mesentério através de
transecção e ligaduras (fio sintético absorvível 3-0 ou 4-0). Aplique um ou
dois clampes intestinais (ou os dedos) em cada extremidade que irá ser
seccionada. As pinças devem ser colocadas de maneira que o suprimento
sanguíneo da anastomose não seja impedido, e o mais próximo possível
da linha de corte, para evitar extravasamento de conteúdo intestinal.
 em pequenos animais, a técnica mais utilizada é a término-terminal (veja
ilustração abaixo). As disparidades do tamanho dos segmentos podem
ser resolvidas até certo ponto, pelo estiramento do segmento menor. Se
isto não for suficiente, o segmento menor pode ser seccionado em ângulo
de 60º, para formar uma maior circunferência.
 a sutura, em pontos simples interrompidos, com fio absorvível sintético
com agulha atraumática, é iniciada no lado mesentérico do intestino,
como mencionado anteriormente. Deixa-se o fio longo, e realiza-se outra
sutura no extremo oposto (lado anti-mesentérico) de maneira semelhante.

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Os fios são mantidos longos para servirem de apoio às demais suturas.


Para evitar eversão da mucosa durante a síntese, aplica-se pressão sobre
o tecido com pinças hemostáticas, para que a mucosa fique coaptada.
Completa-se a enteroanastomose realizando-se suturas equidistantes de
um lado da alça intestinal e depois do outro, voltando a alça sobre o outro
lado da compressa. O tracionamento dos pontos de sutura de apoio
nivelará a parede intestinal. Verificar se há extravasamento de conteúdo.
Para tanto, pode-se injetar solução salina estéril no local da incisão.
 procede-se a sutura do mesentério com pontos simples interrompidos,
mesmo fio, preservando os vasos que irão irrigar a alça intestinal. Segue-
se a omentopexia e a celiorrafia plano a plano.

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Pós- operatório

Continuidade da antibioticoterapia, analgesia, colar elisabetano. Água e


pequenas quantidades de alimento sólido podem ser oferecidas assim que o
paciente tenha se recuperado da anestesia.

Complicações
Deiscência de sutura, peritonite, septicemia.

8. CISTOTOMIA
Considerações gerais
A bexiga é um órgão tubular oco que recebe urina obtida do filtrado
glomerular dos rins por meio dos ureteres. Anatomicamente, a bexiga pode ser
dividida em três regiões: fundo, que é a parte cranial, corpo, que é a parte
intermediária e colo, a parte distal. Internamente a área do colo é também
denominada trígono vesical. A base desta área triangular é formada pelos dois
óstios ureterais (ureter) e o ápice pelo orifício uretral (uretra).

Interior da bexiga urinária: cicatriz do úraco (1); bexiga (2); ureter (3); óstio do ureter (3’); trígono vesical (4);
crista uretral (5); uretra (6).

A filtração sanguínea e a excreção de resíduos tóxicos resultantes do


metabolismo são de suma importância para a manutenção das funções orgânicas.
Quando há um funcionamento inadequado dos rins, ingestão excessiva de certos

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compostos que favorecem a formação de cristais como os de urato e estruvita e


formações neoplásicas na vesícula urinária, uma exploração cirúrgica da bexiga
pode se tornar necessária para a retirada de cálculos, amostras de tecido para
biópsia, dentre outros procedimentos.
A exploração cirúrgica da bexiga urinária é denominada de cistotomia ou
cistectomia e são procedimentos comuns em pequenos animais. Incisões na
vesícula urinária cicatrizam rapidamente, recuperando quase que 100% de sua
força tênsil em 14 a 21 dias após a cirurgia. Alguns estudos sugerem que 75% deste
órgão possa ser excisado, desde que se preserve o trígono vesical e a uretra.
O fechamento das incisões neste órgão é realizado com padrão de sutura
invaginante simples ou duplo. As suturas devem ancorar a submucosa para conferir
força à mesma. Entretanto, a mucosa não deve ser penetrada, uma vez que o
contato da urina com o material de sutura reduz o tempo de resistência tênsil da
mesma, ou a sutura pode favorecer a formação do cálculo. Padrões aposicionais
(opostos aos invertidos) resultam em fechamento seguro da vesícula urinária e são
preferidos quando esta é pequena, ou quando a parede do órgão está
demasiadamente espessa em decorrência de alguma patologia. Fios de sutura
absorvíveis sintéticos monofilamentados, a exemplo do polidioxanone e do
poligliconato são os mais indicados.

Definição
A cistotomia é a incisão cirúrgica da bexiga (vesícula urinária), diferente da
cistectomia, que se trata da retirada de um fragmento da vesícula urinária.

Indicações
É indicada em pacientes com urólitos (ex: oxalato de cálcio, fosfato de cálcio)
quando os cálculos não podem ser eliminados pelo tratamento conservador, ou
quando houver dúvidas a respeito da formação dos cálculos. Esta cirurgia também é
indicada nos pacientes com evidências radiográficas de alterações na mucosa da
vesícula urinária e pode ser utilizada para verificar a posição do orifício uretral nos
pacientes com incontinência urinária. É possível fazer a cateterização dos ureteres
por meio desta técnica.
Cálculos vesicais desenvolvem-se com maior frequência em animais de
meia-idade, mas podem ocorrer eventualmente em filhotes. Cálculo de estruvita

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(fosfato-amônio-magnésio) perfaz cerca de 45 a 50% dos cálculos encontrados em


cães, e o de oxalato de cálcio, 35%.

Técnica operatória
 acesso através de celiotomia mediana ventral;
 localizar a bexiga; colocar suturas de sustentação no ápice e tracionar a
bexiga em direção cranial;
 elevar e isolar a bexiga com compressas úmidas;
 colocar outro ponto de sustentação no aspecto caudal da bexiga, se a incisão
for na porção ventral da mesma. Cistotomia dorsal foi recomendada no
passado por diminuir o extravasamento de urina e por evitar aderências da
vesícula urinária com a parede do abdômen e reduzir a incidência da
formação de cálculo por acúmulo de sedimentos sobre a sutura exposta. Hoje
se sabe que a cistotomia ventral não resulta em aderência da parede
abdominal, e que não há diferenças quanto à morbidade, entre as duas
localizações. A cistotomia ventral também facilita a cateterização do ureter,
se necessária.
 uma incisão em estocada é realizada entre as duas suturas previamente
colocadas e a urina residual é removida por sucção ou, antes de se realizar a
incisão, a urina pode ser aspirada com uma seringa e agulha.
 estende-se a incisão cranial e caudalmente com uma tesoura. A incisão deve
ter tamanho suficiente para retirar os cálculos com curetas ou outro material
apropriado. Deve-se palpar a bexiga e passar uma sonda uretral,
assegurando-se de que não restaram cálculos dentro da uretra. Repetidos
procedimentos de flushing e aspiração removem cálculos discretos e
pequenas partículas.
 cistorrafia: simples contínua padrão Cushing ou Lembert ou a associação de
ambas com fio absorvível sintético 3.0 ou 4.0. Enchimento da bexiga com
solução fisiológica para avaliar se há extravasamento através do local da
incisão.

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A B C

D E F

G H I
A: Isolamento da bexiga; B: colocação de pinças de sustentação; C: aspiração do
conteúdo da vesícula urinária com seringa e agulha; D: incisão em estocada; E:
extensão cranial e caudal da incisão com a utilização de tesoura; F: retirada do
urólito; G: passagem da sonda uretral: H: cistorrafia utilizando padrão Cushing de
sutura; I: enchimento da bexiga com solução fisiológica

Pós-operatório
Deve-se permitir que o animal urine frequentemente, seja por micção
espontânea, seja por meio de sonda uretral estéril por até três dias, o que permite a
realização de cultura bacteriana da urina caso se faça necessário. A administração
de antibióticos também é importante e a escolha da dosagem e o período de
utilização varia de acordo com o princípio ativo e da avaliação que o cirurgião faz do
caso e de seu histórico, bem como da análise microbiológica.
Na presença de cálculos, estes devem ser enviados para análise laboratorial
e cujo resultado pode ajudar na profilaxia, evitando-se desta forma recidivas.

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Possíveis complicações cirúrgicas envolvem extravasamento de urina para a


cavidade abdominal, com formação de uroperitônio, que pode ser consequência de
deiscência de pontos ou outras causas como parede da vesícula urinária friável.
Vale ressaltar que no primeiro dia após a cirurgia é normal que haja pequena
quantidade de sangue na urina em decorrência do procedimento cirúrgico.

9. URETROTOMIA E URETROSTOMIA
Definição
Uretrotomia é a incisão na uretra. Uretrostomia é a criação de uma fístula
permanente na uretra.

Considerações gerais
A incidência de cálculos uretrais em cães machos e a obstrução uretral em
gatos machos têm diminuído em decorrência da adoção de dietas terapêuticas
apropriadas. Em cães, os cálculos são mais frequentes na região do arco isquiático
ou imediatamente caudal ao osso peniano. A obstrução uretral em gatos resulta da
presença de muco ou debris no terço distal da uretra.
A antibioticoterapia pré-operatória deve ser instituída em animais com
obstrução ou extravasamento de urina pois a infecção retarda a cicatrização e pode
causar estenose. Animais com cálculos uretrais ou vesicais devem ser tratados com
antibióticos baseados na cultura bacteriana. Um estudo mostrou que a E. coli foi o
organismo mais frequente dentre os 338 cães com infecção do trato urinário
persistente ou recorrente. Entretanto, mais da metade dos animais tinham infecção
bacteriana mista. Antibióticos potencialmente nefrotóxicos (tetraciclinas,
aminoglicosídeos) devem ser evitados em pacientes com obstruções.

Uretrotomia
É realizada em cães machos para remover cálculos uretrais que não são
expelidos e tampouco podem ser removidos com retrohidropropulsão (injeção de
solução fisiológica em uma sonda uretral, na tentativa de empurrar os cálculos
uretrais para o interior da bexiga). Este procedimento, na maioria das vezes, é
realizado na região pré-escrotal, mas pode ser feito na região perineal.

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- Técnica operatória
 posicionar o paciente em decúbito dorsal;
 passar uma sonda uretral estéril em direção ao escroto; demarcar o local
a ser incisado (referência pala obstrução);
 separar o músculo retrator do pênis deslocando-o lateralmente para expor
a porção peniana da uretra;
 fixar o pênis com uma das mãos e realizar uma incisão na linha média da
uretra, sobre o cálculo, com uma lâmina de bisturi nº.11 ou 15;
 mediante sangramento profuso, faça hemostasia compressiva;
 remover o cálculo;
 passar uma sonda uretral através do orifício criado em direção à ponta do
pênis e em direção à vesícula urinária;
 suturar a uretra com fio absorvível sintético monofilamentar 4-0 ou 5-0 em
padrão simples interrompido;
 suturar a pele com pontos intradérmicos (fio absorvível sintético 4-0) ou
simples interrompido (fio inabsorvível sintético, 4-0 ou 3-0);
 remover a sonda uretral.
Pode-se, alternativamente, deixar a uretra cicatrizar por segunda intenção,
isto é, não suturá-la. A cicatrização dá-se de maneira similar. Entretanto, tem-se
observado maior incidência de hemorragia pós-operatória quando a uretrotomia não
é suturada. O fechamento por primeira intenção é preferido quando a mucosa está
sadia e se consegue adequada aposição das bordas da mucosa.
A hemorragia é a complicação mais comum após a uretrotomia. A estenose
uretral é outra complicação e pode estar associada ao trauma decorrente do cálculo
uretral mais do que da manipulação cirúrgica.

Uretrostomia
A indicação primária para este procedimento é o dano permanente da uretra
distal. A uretrostomia pode ser realizada em cães que formam cálculos
cronicamente. Obstruções uretrais repetidas consistem na indicação primária para
uretrostomia perineal em gatos. Em cães, a uretrostomia pode ser realizada em
quatro locais: pré-escrotal, escrotal, perineal e pré-púbica. Embora seja um

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procedimento tecnicamente mais elaborado que a uretrotomia, a uretrostomia traz


menores riscos de estenose pós-operatória.
A localização pré-escrotal é preferida porque a uretra localiza-se
superficialmente e é relativamente larga e a hemorragia neste local é geralmente
menor que nas demais localizações. Uretrostomia na região perineal em cães
resulta no extravasamento de urina nos membros pélvicos. Uretrostomia em gatos
pode ser realizada na região perineal ou pré-púbica. Em fêmeas (cadelas ou gatas)
é limitada à região pré-púbica.

Uretrostomia escrotal
É a criação de uma abertura permanente na área do escroto. Ela requer a
orquiectomia bilateral e a ressecção do escroto. Antes de se iniciar a cirurgia deve-
se tentar irrigar a uretra sob pressão empurrando os urólitos para a bexiga. Se esta
tentativa obtiver êxito, os urólitos devem ser removidos através da cistotomia.
- Técnica operatória
 posicionar o paciente em decúbito dorsal;
 realizar uma incisão elíptica na base do escroto, no ponto onde a pele do
escroto junta-se à pele normal na área inguinal;
 divulsionar a gordura subcutânea com uma tesoura Metzenbaum;
 atingir o septo escrotal e separá-lo do lado ventral do pênis;
 expor e elevar os testículos e cordões espermáticos;
 realizar orquiectomia bilateral abrindo a túnica vaginal;
 dissecar a gordura e o tecido fibroso que envolve o pênis até que a
visualização do músculo retrator do pênis seja visível;
 separar o músculo retrator do pênis deslocando-o lateralmente para expor
a porção peniana da uretra;
 fixar o pênis com uma das mãos e seccionar o corpo esponjoso da uretra
com uma lâmina de bisturi nº.11;
 ampliar a incisão na uretra com pequena tesoura (de íris, por exemplo). A
incisão deve ter ao menos dois centímetros em cães pequenos, e ser
maior em cães grandes;
 suturar o tecido subcutâneo da pele à túnica albugínea do pênis com
pontos simples separados e fio absorvível sintético 3-0 ou 4-0;

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 suturar a mucosa uretral na pele com pontos simples separados, fio


absorvível sintético 4-0 (iniciar com quatro pontos cardeais para reduzir a
tensão).
A túnica albugínea é incluída na sutura para produzir ligeira compressão do
corpo cavernoso, ajudando na hemostasia. Os pontos devem ser equidistantes e os
nós feitos sobre a pele, e não sobre a mucosa. A incisão remanescente na pele
deve ser suturada com pontos simples interrompidos.

Sutura da mucosa uretral à pele, pontos simples interrompidos.

Pós-operatório
Manter a antibioticoterapia preconizada e realizar analgesia pós-operatória. A
hemorragia pós-operatória do orifício pode ocorrer por período superior a duas
semanas, mas não é séria. O repouso evita a hemorragia do corpo cavernoso. O
colar elisabetano é obrigatório.

10. NEFROTOMIA E NEFRECTOMIA


Definição
Nefrotomia é a incisão cirúrgica no rim. Nefrectomia é a excisão de um rim.

Nefrotomia
A nefrotomia é realizada para a remoção de cálculos da pelve renal que não
causaram aumento da pelve renal, ureter proximal e da superfície côncava do rim.
A nefrotomia reduz temporariamente a função renal em 20 a 50%. Se há
cálculos presentes em ambos os rins, necessitando de nefrotomia bilateral, deve-se

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APOSTILA DE TÉCNICA CIRÚRGICA VETERINÁRIA 131

dar um intervalo de algumas semanas entre um procedimento e outro para


minimizar os riscos de uma falência renal aguda pós-cirúrgica.
- Técnica operatória
 paciente em decúbito dorsal;
 celiotomia mediana retro-umbilical;
 dissecar a gordura retroperitoneal para mobilizar o rim;
 ocluir temporariamente artéria e veia renal com fórceps vascular,
torniquete ou os dedos do auxiliar;
 mobilizar o rim para expor a superfície lateral convexa;
 incisar longitudinalmente a superfície convexa do rim com um bisturi. A
extensão da incisão deve ser o suficiente para remover os cálculos;
 aprofundar a incisão da cápsula para a pelve renal;
 remover os cálculos e irrigar com solução salina aquecida;
 acessar o ureter com um cateter, irrigando-o;
 realizar delicada pressão nos dois lados do parênquima renal, enquanto o
fluxo renal é restaurado;
 suturar a cápsula renal com fio absorvível sintético 3-0 ou 4-0 colocado
através da cápsula e da superfície do parênquima renal, em um padrão
simples contínuo;
 se não foi estabelecida adequada hemostasia, aplicar suturas no sentido
horizontal do córtex (ex: Wolff).
Após nefrotomia pode ocorrer hematúria por alguns dias. Fluidoterapia
durante e após a cirurgia ajuda a restaurar o fluxo renal e a eliminar coágulos
sanguíneos do trato urinário.

Nefrectomia
O rim deve ser removido quando ele afeta negativamente a saúde do animal,
geralmente em decorrência de infecção severa, trauma, neoplasia ou hidronefrose.
Hidronefrose e infecção podem resultar de cálculos renais ou uretrais que não
responderam à terapia médica.
- Técnica operatória
 paciente em decúbito dorsal;

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 celiotomia mediana retro-umbilical. A posição mais conveniente ao


cirurgião é no lado oposto ao rim afetado;
 peritônio e fáscia renal caudal elevados com auxílio de uma pinça; cortar
com a tesoura;
 expor o rim a ser excisado;
 dissecar o hilo renal para expor o ureter e a veia renal, os quais são
duplamente ligados com fio absorvível sintético 2-0;
 seccionar o ureter e a veia renal entre as ligaduras;
 realizar dissecção cuidadosa para expor a artéria renal; eventualmente
podem ser duas, especialmente no lado esquerdo;
 ligar duplamente (fio absorvível sintético 2-0) a artéria renal. No lado da
aorta colocar duas ligaduras ao invés de uma;
 seccionar a artéria renal entre as ligaduras, deixando-se que se retraia;
 celiorrafia rotineira.

11. ORQUIECTOMIA EM CÃES E GATOS

Definição
A orquiectomia refere-se à retirada de um (unilateral) ou de ambos os
testículos (bilateral).

Anatomia
Testículos, epidídimo, ducto deferente, glândulas genitais acessórias, uretra
pélvica e pênis constituem os órgãos genitais masculinos.
Os testículos são contidos dentro da bolsa testicular ou escroto, cuja parede
contém músculo liso e fáscia espermática externa. O testículo é coberto por fina
cápsula fibrosa, a túnica albugínea. Testículos e epidídimo unem-se pelo ligamento
próprio do testículo.
O ducto deferente inicia-se na cauda do epidídimo e cursa através da
cavidade abdominal pela parede do cordão espermático. Também contidos no
cordão espermático encontram-se vasos testiculares, linfáticos e nervos.
A veia testicular, de aspecto tortuoso, forma o plexo pampiniforme,
responsável pelo resfriamento do sangue que irriga os testículos. Dentro do cordão

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APOSTILA DE TÉCNICA CIRÚRGICA VETERINÁRIA 133

espermático o ducto deferente é fechado separadamente sobre sua própria prega


mesentérica, o mesoducto deferente. O ducto deferente ganha o abdômen através
do canal inguinal, que é um espaço em potencial entre os anéis inguinais superficial
e profundo. Existe conexão entre ducto deferente e uretra pélvica.

Indicações
 neoplasias testiculares;
 orquite não responsiva à terapia conservadora;
 aumento benigno de próstata;
 eliminação de comportamento indesejável do macho;
 evitar reprodução.

Técnica operatória
Existem algumas variações quanto às técnicas relativas à orquiectomia, a
saber: testículo e cordão espermático cobertos (de uso rotineiro em bovinos),
testículo descoberto e funículo espermático coberto (muito usada em equino, pela
localização proximal do testículo à parede abdominal e pela pressão que esta
exerce sobre ele) e a técnica de testículo e funículo espermático descobertos (a
mais indicada para cães, gatos e suínos). A seguir, a descrição desta última.
- Pré-operatório: jejum prévio.
- Trans-operatório: o paciente é posicionado em decúbito dorsal. O campo
operatório é colocado de tal forma que a bolsa escrotal fique coberta. Deve-
se evitar colocar pinças Backaus sobre o escroto. O testículo é impulsionado
para frente até que ele apareça sob a pele cranial à bolsa testicular, que é
então incisada na linha média sobre o testículo (trata-se de uma incisão pré-
escrotal). Deve-se evitar incisão na bolsa escrotal, o que resultaria em edema
do escroto e inflamação da pele. A tração é mantida enquanto a incisão é
dirigida ventralmente através da túnica vaginal e da túnica albugínea para o
parênquima testicular. A incisão é feita o suficientemente ampla para permitir
a passagem do testículo através das túnicas vaginal e albugínea para o
parênquima testicular. O testículo é impulsionado para cima enquanto o pólo
cranial é erguido da incisão. O pólo cranial do testículo com o plexo
pampiniforme move-se livremente, mas o pólo caudal está fixo à bolsa

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escrotal pelo ligamento escrotal. Este ligamento precisa ser incisado antes do
testículo ser removido. A hemorragia geralmente é mínima quando o
ligamento é simplesmente rompido. Uma gaze pode ser usada para obter
apoio firme sobre a superfície escorregadia do testículo e da túnica vaginal.
Uma vez Colocam-se três pinças no funículo espermático, sendo a primeira
pinça mais proximal ao animal. A ligadura por laçada é realizada abaixo da
primeira pinça e a secção é feita entre a segunda e a terceira pinça de modo
que duas pinças permaneçam no funículo e a outra saia juntamente com o
testículo.) A túnica vaginal pode ser reconduzida à bolsa escrotal sem a
necessidade de sutura ou pode ser suturada com um ponto Sultan. O tecido
subcutâneo é suturado com ponto simples contínuo, com fio de sutura
sintético, absorvível, 2-0 ou 3-0. Segue-se a sutura intradérmica em zigue-
zague, com o mesmo material. A sutura de pele é realizada com pontos
simples interrompidos, com fio não absorvível sintético monofilamentar, 3-0
ou 4-0.
Obs: em felinos, ao invés da incisão pré-escrotal, preconiza-se uma incisão
em cada lado do escroto. A incisão pode seguir o mesmo padrão de sutura ou ser
deixada aberta.
- Pós-operatório: consiste em limpeza da ferida cirúrgica e uso de colar
protetor tipo “elizabetano”. Produtos irritantes como tintura do iodo são
contraindicados.

Incisão pré-escrotal no cão Incisão escrotal no gato

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Colocação de pinças e ligadura do funículo espermático

12. OVARIOSSALPINGOHISTERECTOMIA EM CADELAS E GATAS


Conceito
Ovariosalpingohisterectomia consiste na retirada dos ovários, do útero e
dos ligamentos que os sustentam (ligamentos largo e redondo).

Anatomia
Ovários felinos são localizados imediatamente caudal aos seus respectivos
rins, no nível da terceira ou quarta vértebra lombar. O ovário direito deita-se mais
cranialmente que o esquerdo, assim como o rim.
Cada ovário é suspenso da parede do corpo pelo mesovário (uma prega do
peritônio). O ligamento cranial do ovário é fixo por um forte e fino ligamento
suspensor, que se estende para o diafragma na área da última costela.
A tuba uterina perfaz um curso tortuoso entre o ovário e o corno proximal do
útero. A mesosalpinge, uma extensão lateral do mesovário, suporta a tuba uterina.
Compõe-se o útero de um par de cornos, corpo e cérvix. Encontra-se na
cavidade abdominal e apenas a cérvix ocupa a cavidade pélvica. Os cornos uterinos
são estruturas tubulares longas, que se estendem da tuba para o corpo uterino.
Cada ovário é ligado a seu corno correspondente pelo ligamento próprio do ovário.
Cornos uterinos alongados são característicos de espécies que carregam seus
filhotes em ninhadas. Os cornos uterinos estendem-se caudalmente no abdômen e
encontram um corpo único, de aproximadamente 1/5 da extensão dos mesmos. O

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corpo encontra-se com a cérvix, estrutura curta e grossa que conecta útero e
vagina. Durante a gestação, ela permanece fechada, conferindo proteção ao útero
contra agentes externos.
Cornos e corpo uterino são suspensos na parede dorsal do corpo pelo
mesométrio; este, formado por músculo liso e pouca gordura, suporta o aumento de
peso ocorrido durante a prenhez.
O ligamento redondo do útero inicia-se na extremidade da tuba uterina e
termina próximo ao anel inguinal.
A combinação entre mesovário, mesosalpinge e mesométrio constitui o
ligamento largo. Este ligamento mantém o corpo uterino e os cornos suspensos na
parede dorsal do corpo.
A exata localização do útero varia na conformidade de três fatores: se a
fêmea já esteve gestante, estado não gravídico e estágio de gestação.
Nas fêmeas em boas condições, o útero pode retornar à posição normal que
possuía antes da primeira prenhez.
Prenhez induz mudanças nos órgãos reprodutivos. O útero aumenta de
tamanho, assim como seu suprimento vascular. O tamanho e a tortuosidade do
ovário e vasos uterinos próximo ao parto são, muitas vezes, aqueles observados
durante o estro. No animal gravídico, o aumento progressivo de peso desloca o
útero ventralmente. O músculo liso do ligamento largo permite estiramento.

Indicações
 endometrite;
 piometra;
 torção uterina;
 prolapso uterino;
 fetos enfisematosos;
 neoplasia de ovário, útero ou ambos;
 evitar a reprodução.
Quando realizada em animais jovens (antes do primeiro cio), reduz o risco de
neoplasias mamárias em até 0,5%. Quando efetuada em cadelas após 2 anos e
meio de idade já não possui caráter preventivo em relação ao tumor de mama.

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Pré-operatório
Consiste em jejum hídrico e alimentar. Nos animais com distúrbios
infecciosos, a profilaxia antimicrobiana é indicada imediatamente antes à cirurgia.

Técnica operatória
O paciente é posicionado em decúbito dorsal. O abdômen é abordado
através de incisão caudal na linha mediana. O cólon descendente é elevado e
tracionado para o lado direito do abdômen, com o objetivo de expor o ovário
esquerdo, já que sua localização é mais caudal que a do direito. Os ovários estão
ligados ao terço médio e ventral da última ou das duas últimas costelas pelo
ligamento suspensório. O ligamento é seccionado com tesoura ou lacerado, para
imobilizar o ovário, sendo perfurado com instrumento de ponta romba na região
imediatamente caudal à artéria e veia ovarianas. Como o percurso tortuoso da
artéria e veia ovarianas irá resultar geralmente em um pedículo curto, várias
técnicas foram desenvolvidas para a ligadura segura neste pedículo.
A técnica das três pinças modificada consiste na colocação da primeira e da
segunda pinça próximas ao ovário e ao complexo artéria-veia ovarianas (que pode
ser ligado isoladamente) e a colocação de uma terceira pinça entre o ovário e o
corno uterino. A individualização dos ovários na cadela é mais difícil que na gata. A
ligadura por laçada deve ser realizada abaixo da primeira pinça e imediatamente
antes de se cerrar o primeiro nó, a pinça deve ser afrouxada. A ligadura é realizada
com fio de sutura sintético tipo absorvível com o calibre podendo variar de 2-0 a 0
(zero), dependendo do tamanho do pedículo. Feita a ligadura, o excedente do fio
deve ser pinçado (tomando cuidado para não tracionar o fio e deslocar a ligadura) e
só é cortado depois da secção do pedículo e inspeção quanto à presença de
hemorragia. A incisão é realizada entre o ovário e a segunda pinça, de modo que as
duas primeiras pinças permaneçam no pedículo e a terceira pinça saia juntamente
com o ovário. Após a secção do pedículo, soltar a segunda pinça e, com ela,
segurar uma das extremidades do pedículo ainda preso pela primeira pinça. Retirar
a primeira pinça e avaliar a eficácia da ligadura. Se houver sangramento, recolocar
uma pinça no pedículo e realizar nova ligadura abaixo dessa pinça. Recoloca-se,
então, o pedículo na cavidade abdominal deixando o fio de sutura longo o bastante
para sustentá-lo. Na ausência de sangramento, o fio é cortado. A pinça superior

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(terceira pinça) pode ser deixada durante o resto do procedimento ou pode ser
substituída por uma ligadura por laçada.
Os ligamentos redondo e largo podem ser pinçados e ligados ao invés de
serem seccionados. A identificação e remoção do ovário e corno uterino direitos dá-
se da mesma maneira, com a diferença de que o duodeno descendente é afastado
para expor o ovário, ao invés do cólon.
Quando ambos os pedículos forem ligados, os ligamentos largo e redondo
são rompidos em ambos os lados a uma distância de vários centímetros do útero.
Deve-se ter o cuidado de incluir artéria e veia uterinas no segmento a ser removido.
Os vasos sanguíneos correm a uma distância de um a dois centímetros dos cornos
uterinos e seguem caminho convexo em relação ao útero. Nos pacientes com
moléstia infecciosa ou com torção uterina, pode ser necessário ligar os vasos
sanguíneos dos ligamentos.
Nos animais sadios o corpo do útero é ligado numa posição imediatamente
cranial à cérvix, preservando-a, mas se o útero estiver inflamado a ligadura é
colocada ainda mais caudalmente, permitindo a remoção de todo o endométrio. As
três pinças são colocadas no corpo do útero, sendo a primeira delas mais proximal
ao animal. A ligadura do corpo uterino é feita abaixo da primeira pinça e deve ser
feita por transfixação, podendo incluir na mesma a artéria e as veias uterinas, ou
estas serem ligadas isoladamente. O corpo do útero é seccionado entre a segunda
e a terceira pinça de modo que as duas primeiras pinças permaneçam no corpo
uterino e a terceira saia. O procedimento para avaliar a presença de hemorragia é
igual ao realizado no pedículo ovariano. Deve-se sempre proceder a inspeção das
ligaduras.
Uma sutura contínua padrão Cushing pode ser feita sobre o coto uterino
(Parker-kerr). A omentopexia é indicada no intuito de evitar aderências com a
bexiga. O fechamento da parede abdominal dá-se como preconizado na técnica de
Celiotomia.

Pós - operatório
Resume-se à limpeza da ferida cirúrgica, uso de colar elisabetano,
analgésicos e anti-inflamatórios, restrição de movimentos e antibioticoterapia
quando esta é preconizada (OSH terapêutica).

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Complicações
 hemorragia (mais comum devido a coagulopatias, ruptura de vasos ovarianos
ou ligamento suspensório; gotejamento dos vasos do ligamento largo);
 piometra de coto uterino;
 fístula;
 ligamento do ureter;
 incontinência urinária;
 estro recorrente (tecido ovariano residual);
 em OSH precoce pode-se ter hipoplasia de vagina ou vulva, conduzindo a
dermatite perivulvar; persistência de comportamento juvenil.

Colocação de pinças e ligadura do pedículo ovariano

Aspecto após secção dos pedículos ovarianos e visualização da cérvix

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Colocação de pinças e ligadura do corpo uterino por transfixação

Aspecto após secção do corpo uterino

13. ENUCLEAÇÃO
A enucleação não deve ser entendida apenas como um procedimento
cirúrgico de rotina. Seu uso deve ser admitido quando o êxito terapêutico sobre
as afecções oculares não pode ser obtido.

Definição

Enucleação é a remoção do bulbo do olho e da terceira pálpebra. Deve ser


diferenciada de evisceração, em que se retiram as estruturas intraoculares,
preservando-se a túnica fibrosa do olho (córnea e esclera) e de exenteração. Na

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exenteração, além do bulbo ocular, retiram-se também os conteúdos


periorbitários e anexos oculares.

Indicações

É indicada para alguns casos de cegueira, olhos dolorosos (severo trauma


ocular e glaucoma intratável), endoftalmite incontrolável e neoplasias
intraoculares não responsivas a outras terapias.

Anatomia

Fonte: SLATTER, 2003

Técnica operatória

Pode ser por acesso subconjuntival ou transpalpebral. A subconjuntival é


contraindicada em casos de neoplasias.

Realiza-se a tricotomia da pele periorbitária e pálpebras, antissepsia,


lavagem da superfície ocular e saco conjuntival com PVPI diluído em solução
salina a 50%.

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Acesso subconjuntival

É o mais utilizado. Tem como objetivo remover o bulbo do olho, a terceira


pálpebra e as margens palpebrais. Deixar a máxima quantidade de tecido
possível para facilitar a sutura de aproximação e minimizar a depressão orbitária.

- Técnica operatória
 cantotomia lateral;
 iniciar no quadrante dorsal; incisão na conjuntiva aproximadamente a
5mm posterior ao limbo (dissecção romba com tesoura de enucleação);
 identificar e seccionar os músculos extraoculares, permitindo a mobilidade
do bulbo do olho;
 rotacionar medialmente o bulbo do olho; expor o nervo óptico;
 clampear o nervo óptico com pinça hemostática curva e seccioná-lo atrás
do bulbo do olho (aproximadamente a 5 mm);
 remover o bulbo do olho;
 preencher a órbita com gaze;
 remover a terceira pálpebra na sua base;
 remover as margens palpebrais (3-5mm) com tesoura;
 remover a gaze;
 suturar a conjuntiva (Vicryl 3-0 a 4-0) e pele (fio 4-0 não absorvível).
Obs: o diâmetro do fio é proporcional ao tamanho do animal.

Fonte: SLATTER, D. 2001

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Acesso transpalpebral

 sutura das pálpebras (padrão simples contínuo);


 realização de duas incisões elípticas posteriores às margens palpebrais (a
aproximadamente 5 mm) superior e inferior, unindo-as próximas aos cantos
medial e lateral;
 dissecção profunda; o tracionamento das pálpebras ajuda a sua realização;
 os demais procedimentos são iguais aos da técnica subconjuntival.

Fonte: SLATTER, 2001.

Pós-operatório

 uso de colar elisabetano até a retirada dos pontos;


 limpeza da ferida cirúrgica com solução fisiológica;
 aplicação de pomada antibiótica (Epitezan) três vezes ao dia durante 5 a 7
dias;
 anti-inflamatório sistêmico (ex: flunixin meglumine 1,1mg/kg, SC, SID, durante
1 a 3 dias);

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 informar ao proprietário sobre a possível presença de secreção sanguinolenta


nos primeiros dias de pós-operatório, inclusive na narina ipsilateral, até que o
canalículo nasolacrimal esteja obliterado.

14. ACESSO AOS OSSOS LONGOS: ABORDAGEM CIRÚRGICA


Acesso à diáfise umeral
As principais fraturas envolvendo o úmero são em terço médio, onde em 47%
dos casos a diáfise umeral é acometida. Lesões de alta velocidade (acidentes
automobilísticos, lesões por arma de fogo, trauma fechado, etc), são as causas mais
comuns de fraturas umerais em pacientes veterinários. A maioria das fraturas
diafisárias apresenta considerável deslocamento angular do segmento distal devido
às forças musculares, e estas forças não podem ser adequadamente neutralizadas
por talas, sendo indicada sua redução com outros métodos de fixação abertos.
- Técnica operatória
Incise a pele desde a margem cranial do tubérculo do úmero até o epicôndilo
lateral em sentido distal. A incisão deve seguir a curvatura normal do úmero. Incise
a gordura subcutânea e fáscia braquial, sendo cuidadoso para isolar e proteger a
veia cefálica. Incise a fáscia braquial, ao longo da margem do músculo
braquiocefálico e cabeça lateral do tríceps, buscando isolar o nervo radial. Uma vez
isolado o nervo radial, faça uma incisão através da inserção perióstea dos músculos
peitoral superficial e braquiocefálico em suas inserções na diáfise femoral. Para
fechar, suture o músculo braquiocefálico e os músculos peitorais superficiais na
fáscia do músculo braquial. Suture o tecido subcutâneo e a pele, utilizando métodos
padrão (simples contínua ou simples interrompida).

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Fig.1-Abordagem da diáfise proximal do úmero (PIERMATTEI E FLO, 1999).

Fig.2. Abordagem da diáfise do úmero através de incisão craniolateral. Os músculos


tríceps e braquial são caudalmente rebatidos, e os músculos bíceps, peitoral
superficial e braquiocefálicos são cranialmente rebatidos. O nervo radial é protegido
pelo músculo braquial, que também pode ser cranialmente rebatido para a melhor
exposição da diáfise distal (PIERMATTEI E FLO, 1999).

Acesso à diáfise do rádio e da ulna


As fraturas de rádio e ulna constituem 8,5 a 18% das fraturas em cães e
gatos.

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Muitos tipos de fraturas podem ocorrer no rádio e na ulna envolvendo um ou


ambos os ossos. As fraturas em terço distal podem apresentar como sequela a
união retardada, angulação e rotação no local da fratura e até a não-união óssea.
Estudos demonstram uma taxa de 75% de complicações sérias ocorrendo em
especial em raças Toy e miniatura neste tipo de fraturas ao inverso em cães de raça
de médio porte. Estes, com menos de um ano de idade, respondem bem às
reduções das fraturas sem complicações sérias.
- Técnica operatória
A escolha da abordagem radial pode variar, dependendo da localização da
fratura e do objetivo a ser atingido. A diáfise pode ser abordada tanto lateral quanto
medialmente, e na maioria dos casos, a última é a abordagem preferível, pois o
rádio é subcutâneo nesta área e pode ser exposto com hemorragia mínima.
Para uma abordagem craniomedial palpe o rádio diretamente sob a pele e
tecido subcutâneo sobre a superfície medial do membro. Faça uma incisão através
da pele e tecido subcutâneo para expor a diáfise radial. Estenda a incisão em
direção distal e levante os tendões extensores para expor a superfície cranial da
metáfise distal do rádio. Suture o tecido subcutâneo e a pele com padrão de
costume.

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Fig.3. Para uma abordagem craniomedial da diáfise radial faça uma incisão através
da pele e tecidos subcutâneos para expor a diáfise radial. Retraia o músculo
extensor radial do carpo em sentido lateral para expor a diáfise (FOSSUM, 2001).

Acesso à diáfise femoral


A diáfise femoral é a porção média do osso que se curva em sentido
craniocaudal e situa-se entre as extremidades articulares.
A incidência de fraturas no fêmur é de aproximadamente 25% de todas as
fraturas na maioria das clínicas veterinárias, sendo o osso longo mais acometido. A
origem das fraturas é geralmente traumática. O fêmur também tem a maior taxa de
não união e de osteomielites de todas as fraturas. A redução aberta e a fixação
interna são indicadas em praticamente todas as fraturas femorais.
- Técnica operatória
Para abordar a diáfise femoral faça uma incisão ao longo da margem
craniolateral da coxa. Tenha cuidado para que a incisão seja feita ligeiramente mais
cranial que a lateral, pois o plano de exposição estará na margem cranial do bíceps.
Incise a aba superficial da fáscia lata, ao longo da margem cranial do músculo
bíceps da coxa em sentido caudal, expondo o músculo vasto medial. Incise o septo
fascial do vasto lateral a partir da superfície do fêmur para expor a diáfise femoral.
Manipule cuidadosamente os tecidos moles e o hematoma da fratura de modo a
permitir a redução da fratura e a aplicação de um sistema de fixação. Faça a
aproximação da fáscia lata com padrão de sutura em X com fio absorvível, reduza o
subcutâneo e a pele como de costume.

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Fig.4. A. Para expor a diáfise femoral, faça uma incisão ao longo da margem
craniolateral da coxa. B. Incise a aba superficial da fáscia lata ao longo da margem
cranial do bíceps da coxa por toda a extensão da incisão. C. Retraia o bíceps da
coxa em direção caudal para expor o músculo vasto lateral. D. Faça a reflexão do
vasto lateral a partir da superfície do fêmur para expor a diáfise femoral (FOSSUM,
2001).

Acesso à diáfise tibial e fibular


As fraturas da tíbia são comuns em cães e gatos, compreendendo 21% das
fraturas de ossos longos, e 11,7% das fraturas apendiculares. Estas fraturas são
geralmente consequências de trauma no membro posterior. A tíbia está sujeita a
vários tipos de forças mecânicas podendo ser observadas fraturas por avulsão,
transversas, oblíquas, espirais e cominutivas.

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- Técnica operatória
As fraturas da diáfise tibial são abordadas através de incisão cutânea medial
ou craniomedial, já que não existem músculos significantes no lado medial da região
crural. Para a abordagem craniomedial da tíbia, faça uma incisão cutânea paralela à
crista da tíbia que se estenda ao longo da tíbia. Continue a dissecação através da
fáscia, evitando a veia safena medial e o nervo que cruza o terço médio a distal da
diáfise tibial. Faça a redução do subcutâneo e da pele com padrão de sutura de
costume.

Fig. 5. A. Para abordar a face craniomedial da tíbia, faça uma incisão cutânea
craniomedial. Em caso de aplicação de uma placa, estenda a incisão à extensão da
tíbia. B. Disseque através da fáscia, evitando a veia safena medial e o nervo que
atravessa os terços médio a distal da diáfise tibial (FOSSUM, 2001).

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TÉCNICAS OPERATÓRIAS EM
BOVINOS E EQUINOS

Prof. Dr. Edvaldo Nunes Martins


Profª. Drª. Rita de Cássia Campebell

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X. TÉCNICAS OPERATÓRIAS EM BOVINOS E EQUINOS


1. DESCORNA CIRÚRGICA
Conceito
Remoção cirúrgica dos chifres dos ruminantes.

Indicações
Para melhoria estética e valorização do animal, evitar acidentes, facilitar o manejo e
em casos de chifres fraturados ou com crescimento disforme. Também, para os
casos em que a idade do animal está avançada para realização da mochação com
ferro quente.

Cuidados pré-operatórios
Jejum de sólidos por 24 horas e água por 12 horas.

Anatomia cirúrgica
Os cornos podem variar de formato e tamanho, dependendo da idade e da raça do
animal. Na área entre o canto lateral do olho e a base do corno existe o sulco do
arco zigomático, por onde passam o nervo, a artéria e veia cornual. Os bovinos de
raças zebuínas possuem ramificações do nervo auriculopalpebral que inervam ao
redor do corno.

Técnica cirúrgica
Com auxílio de um bisturi, realizar incisão elíptica desde a eminência occipital até a
metade da região que compreende a base do corno ao canto lateral do olho. A
incisão deve ser rente ao corno, objetivando manter a maior extensão de pele
durante a aproximação das bordas da ferida. Posicionar pinças Backaus na borda
da pele para auxiliar a divulsão do tecido subcutâneo com bisturi. Rebater a pele
para que uma serra de arco (ou um fio serra) possa ser posicionada dorsal e
ventralmente ao chifre e realizar o corte do osso do crânio (ostectomia). Após a
retirada do chifre, os vasos sanguíneos devem ser torcidos para hemostasia com
auxílio de uma pinça Halsted ou Crile. Para coaptação das bordas da ferida cirúrgica
pode-se utilizar fio de náilon no3, utilizando um dos modelos de sutura: simples

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interrompido, Wolff, Sultan, Reverdin. Pode-se optar ainda pelo uso de grampos
metálicos.
Cuidados no pós-operatório
Penicilina benzatina na dose de 20.000 UI/kg, via intramuscular, a cada 48 horas,
totalizando 3 aplicações e flunixim meglumine na dose de 2,2 mg/kg, via
intramuscular, a cada 24 horas, durante 3 dias. Curativos diários e uso de repelente
ao redor da sutura. Manter o animal em local coberto, livre de chuva, evitando a
penetração de agentes que possam contaminar a ferida cirúrgica. Os pontos devem
ser retirados de 10 a 14 dias após o ato operatório.

Complicações
Deiscência dos pontos, contaminação da ferida cirúrgica, sinusite, encefalite e morte
do animal.

2. ESOFAGOTOMIA
Conceito
É a abertura do esôfago.

Indicações
Para acesso e remoção de corpos estranhos e materiais compactados, para
correção de perfurações causadas por manipulação cruenta de sondas esofágicas,
e presença de divertículos.

Cuidados pré-operatórios
Uma vez diagnosticada a obstrução esofágica deve-se verificar a ocorrência de
pneumonia decorrente da aspiração de alimentos por falsa via, que comumente é
vista nos casos de obstrução e poderá comprometer o prognóstico quanto à cirurgia
e à vida do animal.

Anatomia cirúrgica
O esôfago de um cavalo adulto varia de 125 a 200 cm de comprimento, dependendo
do tamanho do animal, e é constituído por três porções: cervical, torácica e
abdominal. Inicialmente a posição do esôfago é dorsal à traqueia, conforme ele se

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estende caudalmente, ele passará para o lado esquerdo do plano medial e na


entrada do tórax se encontrará ventralmente à traqueia. O esôfago é desprovido de
serosa, a musculatura é pouco resistente, porém, a mucosa é relativamente forte. O
suprimento sanguíneo do esôfago cervical é realizado por artérias provenientes da
artéria carótida. A irrigação do esôfago não possui vasos colaterais generosos,
portanto, ao ser feita uma intervenção mais cruenta neste órgão, deve ser tomado
cuidado especial para preservar ao máximo este delicado aporte sanguíneo. O
nervo vago e o laringeano recorrente correm paralelamente ao esôfago.

Técnica cirúrgica
A esofagotomia deve ser realizada com o cavalo em decúbito dorsal, sob anestesia
geral. Se necessário o cavalo deve ser sondado para facilitar a identificação do
corpo estranho no esôfago. A pele será incisada de oito a 10 cm, com auxílio de um
bisturi, na linha média ventral, sobre a área da obstrução. Os músculos esterno
hióides serão separados na linha média para exposição da traqueia. A fáscia no
lado esquerdo da traqueia será dissecada para localizar o esôfago. A parede ventral
do esôfago será exposta através de dissecação cuidadosa, e a artéria carótida e o
nervo vago serão identificados e rebatidos lateralmente. Um afastador deverá ser
posicionado no local. Incisar o esôfago em sentido longitudinal com auxílio do
bisturi, na região aboral a obstrução. A sutura esofágica será realizada em dois
planos, na mucosa e muscular. Em ambos os planos utilizar fio de náilon ou
polipropileno no 1, com pontos simples separados, posicionados muito próximos. Na
mucosa os nós devem ser atados para dentro do lúmen. Um dreno poderá ser
posicionado lateralmente ao esôfago para drenagem de secreções do local,
mantendo-o por 48 horas. O músculo e a fáscia serão reduzidos com fio
polipropileno, ou poliglactina 910 no 2, em padrão simples interrompido ou Sultan.
Na pele utilizar fio de náilon ou polipropileno no 1, utilizando pontos simples
interrompido.

Cuidados no pós-operatório
Deve-se utilizar a antibioticoterapia sistêmica, durante sete dias. O flunixin
meglumine deve ser utilizado para alívio da dor e por tempo não superior a três dias
(1,1 mg/kg a cada 24 horas, via intramuscular ou intravenosa). Na ferida cirúrgica
utilizar soluções antissépticas diariamente. A alimentação deve ser pastosa e

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administrada com auxílio de sonda nasogástrica durante os sete primeiros dias do


pós-operatório.

Complicações
Deiscência de sutura e extravasamento de conteúdo para o subcutâneo, ruptura
esofágica, fístulas esofágicas, estenose, pleurite, hemiplegia laringeana esquerda,
Síndrome de Horner.

3. TRAQUEOSTOMIA
Conceito
É a abertura da traqueia, mantendo-a exposta ao meio externo.

Indicações
Nas insuficiências respiratórias com origem no trato respiratória anterior e nas
cirurgias realizadas em laringe.

Cuidados pré-operatórios
Realizar tricotomia e preparo para cirurgia asséptica.

Anatomia cirúrgica
A traqueia está ventralmente ao esôfago e próxima de estruturas importantes, tal
como a veia jugular e a artéria carótida, além de músculos que sustentam o
pescoço. No terço superior e médio são locais com melhor acesso. A traqueia será
abordada pela região cervical ventral.

Técnica cirúrgica
A traqueostomia poderá ser realizada com o animal em pé. Com auxílio de um
bisturi a pele será incisada em sentido longitudinal, por 10 cm. O subcutâneo e os
músculos esternotiróideos serão divulsionados com auxílio de uma tesoura
Metzembaum, visibilizando os anéis traqueais logo abaixo. A abertura da traqueia
poderá ser realizada de duas formas e a escolha dependerá do tempo em que ela
permanecerá aberta. Uma das formas é a perfuração em sentido longitudinal, com
uma rápida introdução da ponta do bisturi, em extensão suficiente para introdução

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do tubo orotraqueal, que variará de espessura de acordo com o diâmetro da


traqueia. Outra forma é a incisão circular na traqueia e remoção de parte dos anéis
traqueais. Em ambas as situações o traqueotubo deve ser posicionado na abertura
e sua aba deve ser fixada à pele com pontos simples interrompidos, com fio de
náilon no 1.

Cuidados no pós-operatório
O local e o traqueotubo deverão ser limpos diariamente com solução antisséptica ou
salina fisiológica. O animal receberá antibióticos e anti-inflamatórios de acordo com
o problema primário que levou a realização da traqueostomia. Após resolução do
problema e remoção do traqueotubo a abertura não será fechada e a ferida será
conduzida para cicatrização por segunda intenção. A ferida será limpa diariamente
com solução antisséptica.

Complicações
Pneumonia, infecção da ferida cirúrgica, estenose de traquéia.

4. LAPAROTOMIA E CELIOTOMIA EM EQUINOS


Laparotomia em Equinos
Indicações
A laparotomia nos equinos é indicada na orquiectomia do criptorquida abdominal, na
ovariectomia, na correção da hérnia inguino-escrotal do garanhão, na correção de
deslocamentos de cólon maior e na exploração da cavidade abdominal. Para
realização desses procedimentos o animal deve estar em pé, sedado de maneira
adequada e em tronco próprio para contenção de equinos.

Pré-operatório
Uma tricotomia ampla deve ser realizada na região do flanco acompanhada de
antissepsia rigorosa. A abordagem preferencialmente é a esquerda. Instituir
antibioticoterapia sistêmica de acordo com a gravidade do problema. Quando
possível, instituir jejum de sólidos por 12 horas e hídrico por 6 horas.

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Técnica cirúrgica
Os panos de campo devem ser posicionados para procedimento asséptico. Por
possuírem dezoito pares de costelas, o flanco dos equinos é mais estreito que dos
bovinos, portanto, a incisão poderá ser feita apenas no centro do flanco. Com um
bisturi o cirurgião fará a incisão cerca de 10 cm abaixo das apófises transversas das
vértebras lombares, estendendo-a por 20 a 30 cm. As camadas a serem incisadas
são: pele, subcutâneo, músculo abdominal oblíquo externo e interno, músculo
abdominal transverso e peritônio. Logo será visibilizado o tecido adiposo
retroperitoneal. A hemostasia deve ser feita com auxílio de pinças hemostáticas tipo
Halsted e por compressão dos pequenos vasos. Após exploração e abordagem das
vísceras abdominais, os planos internos serão suturados com fio absorvível sintético
no 1 a 4, dependendo do porte do animal. O primeiro plano que receberá a sutura
compreende o peritônio e o músculo transverso do abdômen, seguido do músculo
obliquo externo e interno, redução do espaço morto subcutâneo e sutura de pele.
Na musculatura recomenda-se padrão Sultan, no subcutâneo zigue-zague, e em
pele, usar pontos simples separados ou Sultan. Uma bandagem poderá ser fixada
por 24 horas para proteção da ferida.

Pós-operatório
Limpeza da ferida cirúrgica diariamente com antisséptico não irritante, até remoção
dos pontos, que deverá ocorrer entre 10 e 14 dias do pós-operatório. Uma opção de
antibióticos é a utilização de penicilina benzatina na dose de 30.000 UI/kg, a cada
48 horas, totalizando 4 aplicações, associado a gentamicina na dose de 6 mg/kg, a
cada 24 horas, durante 7 dias.

Celiotomia em equinos
Indicações
Nos equinos, a celiotomia é indicada para abordagem a todas as vísceras
abdominais. Em todas as situações o animal deverá ser mantido em decúbito
dorsal.

Pré-operatório

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Segue o mesmo da laparotomia. O animal deverá ser submetido a anestesia geral


inalatória.
Técnica cirúrgica
Manter o animal em decúbito dorsal. Palpar a linha alba e incisar a pele com bisturi
por uma extensão de aproximadamente 20 a 30 cm, iniciando cerca de 5 cm cranial
à cicatriz umbilical. O sangramento deverá ser contido por compressão ou torção.
Nessa região os vasos são de pequeno diâmetro, portanto, não é esperada
hemorragia intensa. A aponeurose da musculatura reta do abdômen será localizada
para posterior incisão e aprofundamento até o peritônio. Vale lembrar que o
cirurgião deve estar familiarizado com a anatomia topográfica das vísceras
abdominais para que possa identificá-las corretamente quando o animal estiver em
decúbito dorsal. A primeira víscera a ser identificada em situação normal será o
ceco, que deverá ser exteriorizado através de tração e examinado. Logo, o
ligamento ceco-cólico será identificado, indicando o posicionamento ventral do colón
e dorsal do ceco. Para exame de todo o cólon, o cirurgião deve exteriorizar
primeiramente a flexura pélvica e em seguida as flexuras diafragmática e esternal,
até chegar na inserção do cólon maior à parede abdominal do lado direito. Através
do ceco, pelo ligamento íleo cecal, deve-se localizar o intestino delgado,
explorando-se principalmente o segmento do jejuno que é totalmente livre na
cavidade abdominal e possui sua inserção na parede dorsal do abdômen. O
pedículo do mesentério deve ser palpado buscando alterações, tais como a torção
mesentérica. A parede do intestino delgado é lisa e seu diâmetro é de cerca de
cinco centímetros. O cólon menor será identificado pela presença da tênia anti-
mesentérica. Neste ponto é possível a palpação de síbalas de fezes. As vísceras
intestinais devem ser reposicionadas na cavidade abdominal na sequência inversa
que foram expostas. Durante todo o procedimento as vísceras exteriorizadas devem
ser irrigadas com solução fisiológica ou ringer com lactato para manutenção da
hidratação. A bexiga pode ser abordada com uma incisão mais caudal. A sutura
será realizada em camadas isoladas para promover maior resistência ao local,
devendo-se utilizar de preferência o fio absorvível sintético como a poliglactina 910
no. 2 a 4. O padrão de sutura recomendado é o Sultan ou simples interrompido.

Pós-operatório
Segue o mesmo da laparotomia.

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Complicações
Deiscência de sutura decorrente do peso excessivo das vísceras abdominais sobre
a linha da sutura, infecção da ferida cirúrgica e peritonite.

5. LAPAROTOMIA E CELIOTOMIA EM RUMINANTES


Laparotomia

Conceito
A laparotomia é a abertura da parede abdominal lateral.

Indicações
São várias as indicações da laparotomia em bovinos e dependendo do órgão ou
víscera a ser explorada, a abordagem será em diferentes localizações. A
laparotomia é indicada para realização de cirurgias no trato digestório
(rumenotomia, rumenostomia, enterotomia, tiflotomia, correção do deslocamento de
abomaso). Também é indicada na cesariana, ovariectomia, como alternativa a
correção do prolapso uterino. Outras indicações menos frequentes são as
ressecções de tumores e drenagem de abscessos. Vale lembrar que nos animais de
grande porte a utilização de exames radiográficos e ultrassonográficos na região
abdominal é restrita, e por isso, a laparotomia nos bovinos é utilizada
frequentemente com função exploratória.

Pré-operatório
O animal deve ser mantido em jejum hídrico por 12 a 24 horas e jejum sólido por 24
a 48 horas. Nem sempre o jejum pode ser realizado devido a urgência de alguns
procedimentos ou à condição corpórea do animal decorrente da afecção a ser
tratada. Quando a laparotomia for realizada com o animal em pé, o jejum pode ser
desconsiderado. Devido às características dos ruminantes, que permitem a
contenção mecânica, comumente se utiliza um sedativo e uma técnica de anestesia
local. Realizar ampla tricotomia da região a ser operada e preparar de maneira
asséptica para a cirurgia.

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Técnica cirúrgica
A localização, a abordagem e os órgãos que podem ser acessados pela laparotomia
encontram-se no quadro abaixo. Na região do flanco, realizar incisão de pele de 10
a 30 cm (dependendo do tamanho do animal e a que fim se destina a laparotomia),
em sentido vertical com auxílio de um bisturi. O tecido subcutâneo deverá ser
penetrado até as camadas musculares, músculo oblíquo abdominal externo, oblíquo
abdominal interno, abdominal transverso. Esses músculos poderão ser incisados ou
divulsionados no sentido das fibras. Quando se opta pela divulsão observam-se
algumas vantagens, como pouca hemorragia, facilidade de aproximação do tecido
muscular ao término do procedimento, utilização de menor quantidade de material
de sutura e melhor cicatrização. Entretanto, há uma limitação da área de trabalho
devido às camadas musculares serem em sentidos diferentes. Logo, observa-se o
peritônio, um tecido fino e de coloração esbranquiçada que deverá ser incisado,
permitindo assim a visibilização da cavidade abdominal. Após a exploração da
cavidade, a laparorrafia deverá ser realizada em camadas. O fio a ser utilizado é
absorvível sintético. O diâmetro (no) do fio pode variar do um ao quatro, dependendo
do porte do animal. Primeiramente aproxima-se o peritônio e musculatura abdominal
transversa. Logo após, a musculatura oblíqua interna e externa. Nesses dois planos
podem ser utilizados modelos de sutura como o Sultan, simples contínua, ou
festonada. A sutura do subcutâneo pode ser realizada em padrão zigue-zague. A
sutura de pele pode ser realizada com modelos de suturas interrompidos (simples
separado, Sultan, Wolff) ou contínuo (Reverdin, simples contínuo), com fio de náilon
ou polipropileno no 3.

Pós-operatório
Antibioticoterapia sistêmica com penicilina benzatina na dose de 20.000 UI/kg, a
cada 48 horas, totalizando três aplicações. Outra opção seria a oxitetraciclina na
dose de 10-20 mg/kg a cada 48-72 horas. Para alívio da dor utilizar o flunixin
meglumine (2,2 mg/kg, a cada 24 horas, via intramuscular ou intravenosa). Na ferida
cirúrgica utilizar soluções antissépticas e repelentes diariamente. Os pontos devem
ser removidos entre o 10º e 14º dia do pós-operatório. Terapia suporte deve ser
instituída caso necessário.

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Complicações
Deiscência de sutura, infecção da ferida, peritonite.
Celiotomia em ruminantes
Conceito
Abertura da cavidade abdominal pela linha alba para abordagem aos órgãos
abdominais.

Indicações
Nos ruminantes, a celiotomia é indicada para abordagem à bexiga (urolitíases,
tumores) e ao útero gravídico (cesariana). A abordagem caudal é mais fácil de ser
realizada nos machos pois, nas fêmeas, a glândula mamária limita o acesso. A
abordagem cranial é indicada na cesariana quando o feto está muito grande e o
útero está projetado cranialmente, e isto acontece quando o feto está morto e
enfisematoso ou nas hidropsias dos envoltórios fetais. Outra indicação é para
correção do deslocamento de abomaso. Recomenda-se manter o animal em
decúbito dorsolateral, levemente inclinado.

Pré-operatório
Idêntico ao da laparotomia.

Técnica cirúrgica
O animal deverá ser sedado e mantido em decúbito dorsal. A linha Alba deverá ser
sentida através de palpação e com bisturi realizar incisão de pele por uma extensão
variável de 20 a 40 cm para os bovinos e 15 a 25 cm para os ovinos e caprinos. O
sangramento deverá ser contido por compressão ou torção. Nessa região os vasos
são de pequeno diâmetro, portanto, não é esperada hemorragia intensa. A
aponeurose da musculatura reta do abdômen será localizada para posterior incisão
e continuidade até o peritônio. Após exploração abdominal a sutura será realizada
em modelo Sultan ou simples interrompido, utilizando o fio de náilon no 2 a 5,
dependendo do porte do animal.

Pós-operatório
Segue o mesmo da laparotomia.
Complicações

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Deiscência de sutura decorrente do peso excessivo das vísceras abdominais sobre


a linha da sutura, infecção local, peritonite.

Abordagens cirúrgicas aos órgãos abdominais dos bovinos através da laparotomia


e da celiotomia.
Procedimento Localização Abordagem Órgão alvo
Laparotomia Flanco esquerdo Cranial e Fígado, baço, rúmen,
Média retículo, rim esquerdo.
Caudal Útero, bexiga, ovário
esquerdo e direito.
Flanco direito Cranial e Fígado, abomaso, alças
Média intestinais, rim direito.
Caudal Útero, bexiga, ovário
esquerdo e direito.
Paramamária e Útero
paramediana ---------
esquerda
Paramamária e Útero e abomaso
paramediana ---------
direita
Celiotomia Linha Alba Cranial Útero
Caudal Bexiga

6. RUMENOTOMIA
Conceito
Abertura da parede do rúmen.

Indicações
Fistulação com fins experimentais (colheita de suco rumenal), transfaunação
rumenal, exploração da cavidade rumenal e reticular.

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Pré-operatório
Nem sempre é possível a realização do jejum, por estar ocorrendo o problema em
rúmen ou outro compartimento gástrico. O pré-operatório é o mesmo utilizado para
realização da laparotomia.
Anatomia cirúrgica
O rúmen está localizado do lado esquerdo da parede abdominal e ocupa todo o
flanco esquerdo.

Técnica cirúrgica
Após a laparotomia pelo flanco esquerdo ter sido realizada, deve-se fazer a
rumenopexia para que não ocorra queda do conteúdo na cavidade abdominal. A
rumenopexia pode ser realizada de duas formas, dependendo da finalidade da
rumenotomia, ou seja, se é para implantação de uma fístula ou apenas para
exploração rumenal. Nos casos de implantação da fístula deve-se fazer a sutura da
parede rumenal à musculatura da parede abdominal, faz-se a incisão da parede
rumenal e posterior fixação das bordas do rúmen à pele. O padrão de sutura a
utilizar na musculatura pode ser o simples contínuo, e na pele pontos Wolff, sendo a
fixação mais resistente. Quando o intuito é a exploração rumenal, pode-se expor o
rúmen através da laparotomia, incisar a parede rumenal e fixar os bordos à pele,
com de sutura Wolff. Após exploração do rúmen, retirada de corpos estranhos,
sifonamento, reposição de conteúdo ruminal, realiza-se a rumenorrafia, podendo-se
realizar sutura simples contínua ou Schiemieden em todas as camadas do rúmen,
no sentido ventro-dorsal. Devido a contaminação, desprezar material e trocar luvas,
e após limpeza do local com solução fisiológica, realiza-se sutura invaginante
Cushing. O fio recomendado é absorvível sintético, como a poliglactina 910 ou ácido
poliglicólico, n.o 1. Retira-se a sutura de sustentação do rúmen da parede abdominal
e realiza-se a laparorrafia.

Pós-operatório
Seguir o recomendado para laparotomia

Complicação
Peritonite.

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7. ORQUIECTOMIA
Conceito
É a retirada de um ou ambos os testículos.

Indicações
Tratamento de neoplasias em testículo, evitar cobertura indesejável.

Cuidados pré-operatórios
A orquiectomia nos bovinos e equinos pode ser realizada com o animal em pé ou
em decúbito. Para realização com o animal em pé, é importante tomar alguns
cuidados. Quando o animal a ser operado é o cavalo, é necessária boa sedação
além da anestesia local. Quando a cirurgia for realizada em bovino, é necessário
que se tenha um tronco adequado de contenção e que permita a castração em pé
com leve sedação e anestesia local.

Anatomia cirúrgica
As estruturas anatômicas que servem como referência para realização da técnica
cirúrgica são o escroto, a rafe escrotal, os testículos que estão contidos no escroto,
o mesórquio que une a túnica vaginal ao testículo, o funículo espermático que
contêm o plexo pampiniforme e o ducto deferente.

Técnica cirúrgica
Existem duas técnicas que podem ser utilizadas, a castração aberta e a fechada. A
castração aberta consiste na abertura da pele e túnica vaginal e exposição dos
testículos. Pode-se optar por duas incisões de pele, cada uma para expor um
testículo ou apenas uma incisão (tampão) para expor ambos os testículos ao
mesmo tempo. A castração aberta é rotineiramente utilizada.
A castração fechada consiste na abertura da pele e manutenção da integridade da
túnica vaginal. A indicação da castração fechada é principalmente quando há
histórico de projeção temporária de vísceras no escroto (Hérnia inguinal).

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Técnica cirúrgica para castração aberta


Quando a abordagem for através de incisões separadas, deve-se fazê-las
paralelamente à rafe mediana, seguindo a incisão em túnica vaginal. Quando a
opção pela abordagem for em tampão, a pele ventral do escroto deve ser tracionada
e o bisturi posicionado transversalmente. Para ambas as abordagens o testículo
será exposto e o dedo indicador deve penetrar o mesórquio para separar a túnica
vaginal do testículo. Nos animais adultos é importante posicionar uma pinça
hemostática na túnica vaginal para contenção da hemorragia de pequenos vasos. A
túnica vaginal deve ser separada por completo de todo o plexo pampiniforme para
realização de transfixação ou a emasculação. O plexo é incisado com auxílio de
uma tesoura juntamente com o testículo. Uma vez comprovada a inexistência de
hemorragia, o plexo pampiniforme é liberado e deve-se repetir o mesmo
procedimento no outro testículo. A pele não é suturada e a ferida será conduzida
para cicatrização por segunda intenção.

Técnica cirúrgica para castração fechada


Realizar a incisão em pele paralela à rafe mediana e divulsionar o tecido
subcutâneo para separar o testículo juntamente com a túnica vaginal. No funículo
espermático deve-se posicionar uma ligadura, transfixação ou realizar a
emasculação. O mesmo procedimento deve ser realizado no outro testículo. Vale
lembrar que a túnica vaginal não é incisada durante a realização desta técnica.

Cuidados no pós-operatório
Pode-se utilizar a antibioticoterapia sistêmica com penicilina benzatina na dose de
20.000UI/kg, em dose única para os ruminantes e três doses com intervalo de 48
horas para os equinos. O flunixin meglumine deve ser utilizado para alívio da dor e
por tempo não superior a 3 dias, na dose de 1,1 a 2,2 mg /kg/ uma vez ao dia, via
intramuscular ou intravenosa. Recomenda-se a profilaxia com soro anti-tetânico na
dose de 5.000 a 10.000 UI, via intramuscular, em dose única nos equinos. Na ferida
cirúrgica utilizar pvpi tópico e repelentes, até total cicatrização. Manter o animal livre
para pastejo e evitar locais úmidos que possam contaminar a ferida cirúrgica

Complicações:
Funiculite pós-castração, miíases e tétano.

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8. PENECTOMIA OU FALECTOMIA
Conceito
É a amputação do pênis

Indicações
Nas neoplasias de pênis, nas obstruções e rupturas uretrais por urólitos, nas
paralisias penianas.

Anatomia cirúrgica
O pênis dos equinos apresenta diâmetro maior quando comparado aos ruminantes,
devido ao corpo cavernoso e esponjoso serem mais desenvolvidos. O pênis dos
ruminantes é fibroelástico e apresenta maior exposição do que ereção. Nos equinos
e ruminantes a uretra está localizada na área ventral do pênis. A parte livre do pênis
mantêm-se internamente ao prepúcio.

Cuidados pré-operatórios
Introduzir uma sonda na uretra até a bexiga para remoção da urina, evitar que
ocorra a drenagem durante o procedimento cirúrgico, e para melhor localização do
lúmen uretral durante a penectomia. Posicionar um torniquete na base do pênis para
evitar sangramento intenso.

Técnica cirúrgica
O animal deve ser posicionado na mesa cirúrgica em decúbito dorsal e preparado
de maneira asséptica para cirurgia. A técnica cirúrgica compreende a realização de
uma incisão triangular da pele no aspecto ventral do pênis, sendo continuada
através da fáscia e dos corpos cavernosos. O ápice do triângulo se localizará na
linha central em direção caudal. As incisões se ampliarão até a mucosa, e o tecido
conectivo no interior do triângulo será retirado e desprezado. A mucosa uretral será
incisada longitudinalmente da base até o ápice da incisão triangular. As bordas da
uretra serão suturadas às bordas da pele ao longo dos lados da incisão triangular
posicionando suturas interrompidas simples com fio poliglactina 910, no 2-0. Logo
após, far-se-á uma transecção através da uretra e do pênis. A incisão estenderá da
base do triângulo até um ângulo levemente oblíquo na direção cranial rumo à

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superfície dorsal do pênis. Os ramos das artérias dorsais e das veias do pênis serão
ligados em bloco com poliglactina 910, no 2-0, e os pequenos vasos cauterizados
com eletrocautério. A túnica albugínea será fechada sobre os corpos cavernosos do
pênis com suturas interrompidas simples de poliglactina 910, no 2-0. A base incisada
da mucosa uretral será suturada à pele com suturas interrompidas simples de
poliglactina 910, no 2-0. Logo após o torniquete deve ser retirado.

Cuidados no pós-operatório
Utilizar antibiótico sistêmico, ampicilina na dose de 10 mg/kg, a cada 8 horas,
durante 7 dias, via intravenosa. Analgésico como o flunixin meglumine na dose de
1,1 mg/kg, durante 3 dias. Antissépticos para limpeza diária da ferida cirúrgica.
Recomenda-se a utilização da acepromazina na dose de 0,03 mg/kg para exposição
do pênis e realização dos curativos locais.

Complicações
Hemorragias, deiscência de suturas, hemorragias e estenose uretral.

TÉCNICAS DE RUFIÃO

9. DEFERENTECTOMIA (VASECTOMIA)

Conceito
É a remoção cirúrgica parcial do ducto deferente.

Indicação
Preparo do rufião para identificação do estro.

Anatomia cirúrgica
As estruturas anatômicas que servem como referência para realização da técnica
cirúrgica são o escroto, a rafe escrotal, os testículos que estão contidos no escroto,
o mesórquio que une a túnica vaginal ao testículo, o funículo espermático que
contêm o plexo pampiniforme e o ducto deferente, que se inicia na cauda do
epidídimo e segue em sentido dorsal até o anel inguinal.

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Pré-operatório
Uma área na região proximal do escroto deve ser tricotomizada e preparada de
maneira asséptica. Tracionar os testículos para melhor exposição da área a ser
abordada.

Técnica cirúrgica
Fazer uma incisão em pele de aproximadamente dois cm, proximal ao escroto e
paralela à rafe mediana, sobre o funículo espermático, em sentido dorso ventral.
Com uma tesoura Metzembaum divulsionar o tecido subcutâneo até a túnica
vaginal. Incisar a túnica vaginal, tomando a precaução de não lesionar o plexo
pampiniforme. Em seguida, identificar o ducto deferente, caracterizado por uma
estrutura tubular, de pequeno diâmetro, branca, assemelhando-se a um canudo,
que fica aderida ao plexo pampiniforme através do mesórquio. Penetrar o mesórquio
com o dedo indicador, liberando e isolando o ducto. Fazer duas ligaduras com fio
poliglactina 910 no. 1-0, distantes a dois cm uma da outra. Incisar o ducto deferente
próximo às ligaduras, removendo um segmento. Suturar a túnica vaginal com
poliglactina 910 no. 2-0, em padrão simples contínuo. A sutura em pele deve ser em
padrão Sultan ou simples interrompido com náilon no 0. O procedimento deve ser
realizado em ambos os lados.

Pós-operatório
Antibioticoprofilaxia sistêmica com penicilina benzatina na dose de 20.000UI/kg, via
intramuscular, em dose única. Na ferida cirúrgica deve-se fazer limpeza diária com
antisséptico e uso de repelente. Os pontos serão removidos após 10 a 14 dias do
ato cirúrgico. Quando se realizar apenas a deferentectomia, o rufião poderá iniciar a
monta após 15 dias do procedimento. Quando se realizar a associação de técnicas
deve-se priorizar o tempo de repouso da técnica que exigir maior período de
recuperação.

Complicações
Infecção da ferida e miíases.

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10. DESVIO LATERAL DO ÓSTIO PREPUCIAL (NEOÓSTIO)


Conceito
É o desvio do pênis e da pele do óstio prepucial para um dos lados da parede
abdominal.

Indicação
Preparo do rufião para identificação do estro.

Anatomia cirúrgica
As estruturas importantes e que servem como referências são: prepúcio,
musculatura abdominal (músculo reto e oblíquo externo), a prega inguinal, o óstio
prepucial e a veia mamária.

Pré-operatório
O animal a ser escolhido deve apresentar prepúcio pendular evitando-se tração
excessiva após a confecção dos pontos. Uma ampla área do lado esquerdo deve
ser tricotomizada e preparada assepticamente.

Técnica cirúrgica
Identificar a área ventral do óstio prepucial com um ponto simples separado. Fazer
uma incisão em pele circundando o óstio prepucial mantendo uma distância de
aproximadamente 8 cm. Outra incisão será realizada sobre a linha alba partindo da
incisão do óstio em sentido caudal por aproximadamente 30 cm. Utilizar a tesoura
Metezembaum ou Mayo para divulsionar o tecido subcutâneo, liberando o pênis e a
bainha prepucial da pele do prepúcio. O pênis, bainha prepucial e óstio prepucial
serão translocados lateralmente em angulação de 45o a 90o, tomando como
referência a prega inguinal. No local da implantação do óstio, fazer uma incisão
circular em pele correspondente ao tamanho do óstio prepucial, objetivando a
perfeita coaptação. Fazer um túnel subcutâneo utilizando o tubo metálico ou de pvc,
que iniciará da base caudal da incisão da linha alba em sentido ao novo orifício
circular (lateral). Introduzir uma pinça de antissepsia longa no orifício, passando pelo
túnel. Pinçar o óstio prepucial e tracionar para acomodação no novo orifício. Neste
momento, atenção deve ser dada para que não ocorra a rotação do óstio prepucial e

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consequente torção da bainha prepucial, motivo que justifica a identificação da


região ventral com fio antes de iniciar o procedimento. Suturar a pele do óstio e da
região ventral com fio de náilon no. 1 em padrão Sultan ou Wolf. Pode-se optar pelo
uso de grampos metálicos.

Pós-operatório
Antibioticoprofilaxia sistêmica com penicilina benzatina na dose de 20.000 UI/kg, a
cada 48 horas, via intramuscular, totalizando três aplicações. O flunixin meglumine
(2,2 mg/kg, a cada 24 horas, via intramuscular ou intravenosa, durante três dias)
poderá ser utilizado como terapia analgésica e antiinflamatória. No local da ferida
utilizar ducha fria durante 10 a 15 minutos em alta pressão, duas vezes ao dia, até
diminuição significativa do edema. Pomadas heparinóides podem ser utilizadas,
prevenindo a formação de coágulos. Na ferida cirúrgica deve-se fazer limpeza diária
com antisséptico e após utilizar repelente. Os pontos ou grampos serão removidos
após 10 a 14 dias do procedimento cirúrgico. O animal poderá iniciar o trabalho de
rufiação após 30 dias da retirada dos pontos.
Em alguns casos, o rufião poderá introduzir o pênis na vagina, desabilitando a
técnica. Entretanto, recomenda-se desviar o pênis em angulação próxima a 90º e
associar a esta técnica uma outra que promova a esterilização, como a
epididimectomia da cauda ou deferentectomia.

Complicações
Formação de hematomas, seromas, infecção, deiscência da sutura, retenção
urinária.

11. DESVIO LATERAL DO PÊNIS E PREPÚCIO


Conceito
É o desvio de todo o conjunto pênis e prepúcio para um dos lados da parede
abdominal.

Indicação
Preparo do rufião para identificação do estro.

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Anatomia cirúrgica
As estruturas importantes e que servem como referências são: prepúcio,
musculatura abdominal (músculo reto e oblíquo externo), a prega inguinal, o óstio
prepucial e a veia mamária.

Pré-operatório
O animal deve possuir prepúcio pendular para evitar a tração excessiva após a
confecção dos pontos. Uma ampla área do lado esquerdo deve ser tricotomizada e
preparada assepticamente.

Técnica cirúrgica
Para os bovinos, uma incisão cranial e distante aproximadamente 20 cm do escroto
será feita em sentido cranial até o óstio prepucial, contornando-o e voltando
caudalmente, de maneira que as duas incisões fiquem paralelas. Esta incisão será
feita em toda a junção do prepúcio à parede do abdômen. Com uma tesoura
Metzembaum ou Mayo, faz-se a divulsão e separação de todo tecido subcutâneo. A
hemorragia deverá ser contida através de torção dos pequenos vasos e ligadura dos
vasos de maior diâmetro. Uma vez separado o prepúcio da parede abdominal, deve
ser deslocado sobre a pele da parede abdominal lateral esquerda. Um retalho de
pele da mesma largura e comprimento será removido da região a ser implantado o
prepúcio. Este retalho será desprezado. O óstio prepucial deverá ficar em ângulo
aproximado entre 45º e 90º, sobre uma linha imaginária que vai até a prega inguinal.
A síntese será realizada em padrão simples separado, Sultan, Wolff, com grampos
metálicos ou em padrão simples contínuo, ou festonado (Reverdin). Vale ressaltar
que, caso ocorra deiscência da sutura, os pontos contínuos são mais susceptíveis à
exposição total da ferida, particularmente quando não festonado.
A síntese de pele na porção ventral do abdômen deve ser feita em padrão separado
e distantes um cm ou mais um do outro, pois, se ocorrer formação de seromas e
hematomas, facilita a drenagem.

Pós-operatório
Antibioticoterapia sistêmica com penicilina benzatina na dose de 20.000 UI/kg, a
cada 48 horas, via intramuscular, totalizando três aplicações. O flunixin meglumine
(2,2 mg/kg a cada 24 horas, intramuscular ou intravenoso, durante 3 dias) poderá

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ser utilizado como terapia analgésica e antiinflamatória. No local da ferida deverá


ser utilizado ducha fria durante 10 a 15 minutos em alta pressão, duas vezes ao dia,
até diminuição significativa do edema. Pomadas heparinóides podem ser utilizadas,
prevenindo a formação de coágulos. Na ferida cirúrgica deve-se fazer limpeza diária
com antisséptico e após utilizar repelente. Os pontos ou grampos serão removidos
após 10 a 14 dias do procedimento. O animal poderá iniciar o trabalho de rufiação
após 30 dias da retirada dos pontos. Nesta técnica, o animal fará a exposição do
pênis, durante a monta, em sentido lateral. Em alguns casos, o ruminante consegue
introduzir o pênis na vagina, desabilitando a técnica. Por isso, recomenda-se desviar
o pênis em angulação próxima a 90º. Também, recomenda-se associar a esta
técnica uma outra que esterilize o animal, como a epididimectomia da cauda ou a
deferentectomia.

Complicações
Formação de seromas e hematomas, deiscência da sutura, infecção da ferida.

12. EPIDIDIMECTOMIA DA CAUDA


Conceito
É a remoção cirúrgica parcial da cauda do epidídimo.

Indicação
Preparo do rufião para identificação do estro.

Anatomia cirúrgica
As estruturas anatômicas que servem como referência para realização da técnica
cirúrgica são o escroto, a rafe escrotal, os testículos que estão contidos no escroto,
o mesórquio que une a túnica vaginal ao testículo, o funículo espermático que
contêm o plexo pampiniforme e o ducto deferente, que se inicia na cauda do
epidídimo e segue em sentido dorsal até o anel inguinal.

Pré-operatório
Uma área na região ventral do escroto deve ser tricotomizada e preparada de
maneira asséptica.

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Técnica cirúrgica
Fazer incisão em pele de aproximadamente 2 cm, na área ventral do escroto e
paralela à rafe escrotal, sobre a cauda do epidídimo. Aprofundar a incisão de pele
até a túnica vaginal. Em seguida identificar a cauda do epidídimo, caracterizada por
uma estrutura oval e branca aderida ao testículo. Inserir a ponta da tesoura
Metzembaum para liberar o epidídimo do testículo. Posicionar uma pinça Halstead
(mosquito) entre o corpo e cauda do epidídimo e outra na transição entre cauda do
epidídimo e ducto deferente. Fazer uma ligadura com fio categute no. 1, poliglactina
910 no. 2-0 ou náilon no corpo do epidídimo e outra ligadura no ducto deferente.
Fazer a incisão entre a pinça e as ligaduras, retirando a cauda do epidídimo. A
sutura da túnica vaginal não é necessária. A pele deve ser suturada com pontos em
padrão Sultan com fio de náilon. O mesmo procedimento deve ser realizado para
remoção da cauda do epidídimo contralateral.

Pós-operatório
Antibioticoprofilaxia sistêmica com penicilina benzatina na dose de 20.000 UI/kg, via
intramuscular, em dose única. Na ferida cirúrgica, fazer limpeza diária com
antisséptico e após utilizar repelente. Os pontos serão removidos após 10 a 14 dias
da cirurgia. O animal poderá iniciar o trabalho de rufiação após 15 dias, isto quando
utilizar apenas esta técnica. Associada a esta, quando for utilizada uma técnica que
evite a introdução peniana, o período de início à atividade de rufiação dependerá do
período preconizado para a última.

Complicações
Formação de coágulos, infecção da ferida, miíases.

13. RESSECÇÃO DO LIGAMENTO APICAL DORSAL DO PÊNIS


Conceito
É a remoção cirúrgica parcial do ligamento apical dorsal do pênis do bovino.

Indicação
Preparo do rufião para identificação do estro.

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Anatomia cirúrgica
As estruturas anatômicas que servem como referência para a realização da técnica
operatória são o óstio prepucial, a glande do pênis, o corpo do pênis, o ligamento
apical dorsal que está localizado sobre o pênis e abaixo da mucosa peniana. Na
região ventral do pênis há a rafe peniana. A mucosa prepucial e peniana é toda
pregueada, se estende e flexiona com a exposição e retração do pênis.

Pré-operatório
Lavagem do prepúcio com solução antisséptica, podendo ser utilizado a solução de
iodo na diluição de 3:1.000 ou soluções antissépticas degermantes comerciais a
base de iodopovidona ou clorexidina, sempre diluídas para evitar danos à mucosa.
Expor o pênis, segurando a glande com auxílio de uma compressa cirúrgica,
evitando tração ou compressão excessiva.

Técnica cirúrgica
Realizar incisão de mucosa na região dorsal do pênis, caudalmente à glande. Como
referência deve-se identificar a rafe do pênis, localizada na região ventral e
diametralmente oposta à incisão. A incisão será de aproximadamente 10 cm,
aprofundando até a identificação do ligamento apical do pênis, que se apresenta
como uma estrutura branca em formato de fita e que recobre o corpo cavernoso do
pênis. Nesta região, o ligamento envolve cerca de 2/3 da circunferência peniana.
Divulsionar entre o ligamento apical e o corpo cavernoso do pênis com auxílio da
tesoura Metzembaum. Posicionar a pinça Halstead na região cranial do ligamento
apical e incisar cranialmente à pinça.
O tecido remanescente será tracionado com auxílio da pinça, e incisado na
extremidade caudal. Para certificação do resultado da técnica, deve-se posicionar
duas pinças Allis na extremidade caudal da mucosa incisada, prendendo e elevando
o pênis apenas com as mesmas. Se todas as fibras foram seccionadas, a glande se
posicionará ventralmente. Caso continue ereto, deve-se buscar por fibras que ainda
continuam a dar sustentação à glande, seccionando-as. A pequena hemorragia
poderá ser contida por compressão com gases ou torção de pequenos vasos com a
pinça Halstead. A síntese deve ser com pontos simples contínuos, com fio categute
no 1 ou poliglactina 910 no 2-0.

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Pós-operatório
Não é necessária a exposição do pênis para realização do curativo diário. Fazer
lavagem prepucial com solução antisséptica suave a base de iodo, duas vezes ao
dia, durante 5 dias. Antibioticoterapia sistêmica com penicilina benzatina na dose de
20.000 UI/kg, via intramuscular, em dose única. Os pontos não precisam ser
removidos. Normalmente não há aumento de volume local. Atenção deve ser dada a
possível hemorragia, exposição prolongada da glande, deiscência de sutura,
miíases e infecção. O rufião poderá entrar na reprodução após 10 dias do
procedimento cirúrgico.

Complicação
Infecção da ferida e formação de abscesso.

14. TELOTOMIA e TELORRAFIA


Conceito
Abertura e sutura do teto

Indicações
Na presença de nódulos e membranas congênitas em papila mamária (teto) que
obstruem o fluxo de leite, para remoção de corpo estranho, e nas lacerações.

Cuidados pré-operatórios
Na presença de nódulos em papila mamária, deve-se verificar a presença de
mastite e uma vez ocorrendo deve-se instituir antibioticoterapia sistêmica e local.
Quando há laceração, deve-se verificar o grau de contaminação e se há
vascularização na região ventral ao ferimento.

Anatomia cirúrgica
Na papila mamária há o óstio, o ducto papilar e o seio lactífero da papila mamária
(cisterna do teto). Na transição do ducto com o seio lactífero há a Roseta de
Furstenberg, e na transição do seio lactífero da papila com o seio lactífero da
glândula mamária há o anel venoso de Furstenberg. A parede do teto é composta
por cinco camadas. Internamente há uma fina mucosa junto à submucosa. A

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próxima camada é composta por tecido conectivo rico em vasos sanguíneos. Em


seguida há a camada muscular, composta de fibras musculares circulares e
longitudinais. Externamente, o teto é recoberto por epitélio escamoso estratificado.

Técnica cirúrgica
A telotomia deve ser realizada após anestesia local circular na base do teto. Uma
cânula mamária deve ser posicionada no seio lactífero da papila mamária para
referenciar o local a ser aberto. Com auxílio de um bisturi, incisar a pele do teto,
aprofundando até a mucosa. O nódulo deve ser removido através de dissecção com
auxílio de uma tesoura Metzembaum. O primeiro plano da sutura será constituído
pela mucosa e submucosa, o segundo plano com o tecido conectivo e muscular, e o
terceiro plano em pele. No primeiro e segundo planos utilizar modelo de sutura
simples contínuo com fio poliglactina 910, no 2-0. Em pele, utilizar o náilon no 2-0,
em modelo simples interrompido, Sultan ou Wolff. Nos casos de lacerações, deve-
se verificar a viabilidade do tecido e caso necessário, escarificar as bordas da ferida
para reavivação. A sutura segue o mesmo padrão sugerido para o fechamento das
telotomias, entretanto, deve-se atentar para as lacerações transversais ao teto, que
no processo de sutura podem induzir ao estreitamento do lúmen.
As nodulações e estenoses no ducto da papila mamária devem ser resolvidas com
auxílio de instrumentos adequados, tais como o bisturi e o dilatador de teto.

Cuidados no pós-operatório
Realizar limpeza do teto comprometido com água e sabão neutro, secar com toalha
de papel e na extremidade do teto utilizar iodo tópico. Introduzir uma sonda estéril
no teto para facilitar a saída do leite durante ordenha manual que deverá ser feita
delicadamente para não comprometer a sutura. A ordenha será realizada duas
vezes ao dia, e ao término de cada uma realizar novamente a antissepsia, e fazer
uma bandagem com esparadrapo, evitando a mamada do bezerro e o contato do
teto comprometido com o solo. Durante os primeiros três dias, ao término da
ordenha injetar pomada com antibiótico no teto, e utilizar o flunixin meglumine na
dose de 2,2 mg/kg, via intravenosa, a cada 24 horas, como anti-inflamatório /
analgésico. Os pontos devem ser retirados em 10 a 14 dias. Quando a mastite está
instalada, pode-se optar pela antibioticoterapia sistêmica (norfloxacina,
enrofloxacina, gentamicina). Nas ressecções de nódulos em ducto lactífero ou

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Roseta de Furstenberg, uma cânula mamária maciça deverá ser mantida no teto
para evitar uma nova formação de tecido fibroso que levará a estenose do ducto e
necessidade de nova abordagem cirúrgica. A cânula será mantida com auxílio de
bandagem com esparadrapo e será trocada a cada ordenha. Manter este
procedimento até total cicatrização do local.

Complicações
Mastite clínica, fistulação e drenagem de leite, estenose do seio lactífero da papila
mamária, diminuição do fluxo de leite.

15. NEURECTOMIA DIGITAL PALMAR


Conceito
É a retirada de um segmento do nervo digital palmar.

Indicações
Indicada para equinos para aliviar a dor decorrente de doenças podais que não
responderam às terapias conservativas.

Anatomia cirúrgica
Os nervos palmares medial e lateral fornecem pequenos ramos para a articulação
metacarpo/metatarso falangeana e tendões dos músculos flexores e continuam,
como nervos digitais palmares lateral e medial. Cada um cede um ramo dorsal. O
ramo dorsal segue em sentido distal entre a veia e a artéria digitais. Na altura do
meio da quartela, o nervo se ramifica, a maior parte continuando dorsalmente,
superficial à veia digital palmar. Os ramos dorsais inervam a pele do boleto, porção
dorsal da articulação do boleto, porções dorsais das articulações interfalângicas,
córion coronário, porções dorsais dos córions laminar e solar, e porção dorsal da
cartilagem da falange distal. O ramo principal do nervo digital palmar desce
palmarmente e paralela à artéria digital do lado respectivo. Inerva a cápsula articular
do boleto e desce para inervar a pele, cápsula articular da quartela, bainha sinovial
digital, tendões flexores, ligamentos sesamóides distais, cápsula da articulação
interfalângica distal, osso navicular e seus ligamentos, bolsa navicular, porção
palmar da cartilagem da falange distal, parte do córion laminar, córions da sola e

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ranilha, e o coxim digital. O nervo digital palmar será identificado na porção palmar
da falange média, e estará sobre a borda do tendão flexor digital profundo, como
uma estrutura fina, tubular e esbranquiçada.

Preparo pré-operatório
Limpar o casco, realizar tricotomia e preparar de maneira asséptica para o
procedimento.

Técnica cirúrgica
Para realização da neurectomia duas técnicas serão descritas, a da guilhotina e o
stripping. Na técnica da guilhotina, para cada ramo será realizada uma incisão de
pele com auxílio do bisturi, de dois a três cm, sobre o plexo digital e em sentido
paralelo à borda do tendão flexor profundo, onde se procederá a dissecação romba
do nervo com uma tesoura Metzembaum. O nervo será exposto e seccionado
inicialmente na extremidade distal da incisão. Logo após, uma pinça hemostática
será aplicada no coto proximal, que será esticado e ao mesmo tempo seccionado
por um bisturi na linha proximal da incisão. O espaço morto será reduzido com fio
absorvível sintético no 2-0, e a pele suturada em pontos simples separados com fio
de náilon 1. Na técnica de stripping, para cada ramo, serão realizadas duas incisões
de pele. Primeiro, será feita a incisão distal, de um a dois centímetros, abaxial ao
tendão flexor digital profundo e imediatamente proximal à cartilagem colateral, onde
será localizado e exposto o nervo digital. Em seguida, será realizada a segunda
incisão de pele sobre o plexo digital, imediatamente distal à base do sesamóide. O
nervo será novamente dissecado, exposto e posteriormente seccionado com bisturi,
quando mantido sob tração, o mais proximal possível, adjacente à base do
sesamóide. O coto distal será então tracionado pela incisão distal até que haja sua
exposição completa. O nervo será seccionado novamente o mais distal possível,
próximo da cartilagem colateral. As duas incisões de pele serão suturadas, sem
redução do espaço morto, com náilon no 1, em pontos simples separados.

Pós-operatório
Ao final da cirurgia, serão aplicadas bandagens compressivas e substituídas a cada
três dias, até a retirada dos pontos que ocorrerá entre 10 e 14 dias. Os animais
receberão penicilina benzatina na dose de 30.000 UI/kg, a cada 48 horas,

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totalizando três aplicações, via intramuscular, e fenilbutazona na dose de 4,4 mg/kg


por dia, via intravenosa, por três dias.

16. DESMOTOMIA PATELAR MEDIAL


Conceito
É a incisão do ligamento tibiopatelar medial.

Indicação
Para tratar a Fixação Dorsal da Patela em equinos e bovinos. Para os bovinos a
técnica cirúrgica pode ser indicada como tratamento principal, tanto para a forma
intermitente como a permanente. Para os equinos é indicada nos casos que não
responderam aos tratamentos conservativos.

Cuidados pré-operatórios
A fixação dorsal da patela deve ser diferenciada das outras afecções que acometem
os membros pélvicos, evitando-se a realização da cirurgia com resultados
insatisfatórios. O jejum para sedação deve ser de 12 horas para os equinos e no
mínimo de 24 horas para os bovinos.

Anatomia cirúrgica
Os equídeos e bovídeos possuem três ligamentos tibiopatelares com a função de
manter a congruência da patela no sulco troclear femoral e são denominados
ligamentos tibiopatelares medial, intermédio e lateral. Os três ligamentos são extra-
articulares e estão localizados sobre a cápsula articular da articulação
femuropatelar. Uma fina fáscia muscular recobre os três ligamentos. Para
manutenção da estabilidade da articulação femurotibial, existem dois ligamentos
colaterais, o lateral e o medial. Como ligação entre a patela e o fêmur existem os
ligamentos femuropatelares medial e lateral.

Técnica cirúrgica
O bovino poderá ser mantido em posição quadrupedal ou em decúbito lateral. Para
os equinos a posição quadrupedal é a mais adequada. A área medial do joelho será
tricotomizada e preparada para cirurgia asséptica. Faz-se uma incisão de pele de 3

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cm sobre a borda medial do ligamento patelar médio, perto de sua inserção na


tuberosidade tibial. Uma tesoura tipo Metzembaum deve ser utilizada para divulsão
do tecido subcutâneo e da fascia muscular que recobre os ligamentos. Com uma
pinça hemostática curva (Kelly, Rochester ou Kocher), isola-se o ligamento das
estruturas adjacentes, evitando-se a perfuração da cápsula articular femoropatelar.
Após a certificação do isolamento do ligamento tibiopatelar medial, com o bisturi
deve-se proceder a secção em sentido transversal. A hemostasia dos pequenos
vasos pode ser contida por torção com auxílio de uma pinça Halstead. O cirurgião
deve se certificar que todas as fibras do ligamento foram seccionadas. É necessária
a sutura apenas da pele em padrão interrompido com fio de náilon no 1.

Pós-operatório
Penicilina benzatina na dose de 20.000 UI/kg, a cada 48 horas, via intramuscular,
totalizando três aplicações. Recomenda-se aplicar a primeira dose 24 horas antes
do procedimento cirúrgico. Para o curativo local utilizar diariamente uma solução
antisséptica e repelente até a retirada dos pontos que deverá ocorrer por volta do
10º dia.

Complicações
Deiscência de pontos e infecção da ferida, artrite séptica (na incisão acidental da
cápsula articular). Para os equinos, há relatos de casos clínicos e experimentais de
fratura de patela, erosão de cartilagem de patela, desmite do tibiopatelar intermédio
quando o animal retorna a atividade intensa dias após a realização da cirurgia.

17. AMPUTAÇÃO DE DÍGITO E PARADÍGITO


Indicações
A amputação digital ou ungulectomia é indicada na artrite séptica da articulação
interfalângica distal, na osteíte podal crônica, na pododermatite séptica e na perda
do estojo córneo. A amputação de paradígito é recomendada na pododermatite do
paradígito, quando não se obteve resultado satisfatório com uso de outros
tratamentos, além dos casos de avulsão parcial do paradígito.

Anatomia cirúrgica

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Os pés dos bovinos correspondem às extremidades dos membros, estendendo-se


do carpo ou tarso até as falanges distais dos dedos que são separados em dígitos
mediais e laterais. Quatro dedos estão presentes, destes, o terceiro (dígito médio) e
quarto (dígito lateral) estão completamente desenvolvidos. O segundo e quinto são
vestígios e se localizam palmar/plantar denominados paradígitos, cada um possui
dois pequenos ossos que não se articulam com o esqueleto. Nos membros pélvicos
os dígitos laterais são maiores por suportarem mais peso e nos torácicos ocorre o
inverso. Os cascos dos bovinos contêm: parte distal da falange média, articulação
interfalangeana distal, sesamóide distal, falange distal, bolsa podotroclear, inserções
dos ligamentos dos tendões extensores e flexores profundos, cório, coxim
coronariano e digital, ligamentos, etc. A área de união entre a pele e o casco é
denominada períoplo, seguida da banda coronária e da muralha do casco. A parte
inferior de apoio é denominada sola e é separada da muralha pela linha branca e, a
parte mais caudal constitui-se no talão que corresponde ao calcanhar.

Técnica cirúrgica
Amputação de dígito: Na região do metacarpo/metatarso (canela) deve ser
colocado um torniquete para realização da anestesia de Bier e contenção da
hemorragia durante a cirurgia. Após tricotomia e preparo para cirurgia asséptica,
com auxílio de um bisturi, realizar incisão na pele do espaço interdigital, rente ao
perióplio, estendendo por três a quatro cm pela área dorsal e palmar/plantar. Outra
incisão seguirá rente a toda a coroa do dígito. Pinças Backaus devem ser
posicionadas nas extremidades da pele para auxiliar a tração, e com um bisturi será
realizado o rebatimento da pele, o suficiente para posicionamento do fio serra. Para
ostectomia, o fio serra será posicionado no espaço interdigital, perpendicular ao eixo
longitudinal da falange proximal para assentar no osso, e através de movimentos de
tração, em sentido oblíquo. Esta forma de corte do osso permitirá o
reposicionamento da pele sobre a falange remanescente. A hemostasia deverá ser
realizada por compressão, torção ou cauterização dos vasos. Pontos em “U deitado”
ou Wolff, com fio de náilon no. 3 devem ser posicionados em toda extensão da ferida
cirúrgica. Se o retalho de pele não for suficiente para completo fechamento da
ferida, o cirurgião poderá confeccionar pontos captonados, aumentando a
resistência à tensão das bordas da ferida. Ao término da cirurgia, confeccionar uma

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bandagem compressiva para diminuir o espaço morto e o sangramento após a


remoção do torniquete.
Alternativa ao uso da ostectomia com fio serra, pode-se realizar a desarticulação na
articulação interfalangeana proximal. A cartilagem articular da falange proximal deve
ser curetada para acelerar o processo de reparação.

Amputação de paradígito: realizar incisão de pele em formato elíptico com auxílio


do bisturi, em sentido longitudinal ao membro. Durante a divulsão do tecido
subcutâneo, observa-se um coxim gorduroso que sustenta o paradígito e que facilita
a sua amputação sem afetar estruturas mais profundas. A sutura será realizada com
fio de náilon no 2, em padrão interrompido.

Pós-operatório
Quando a infecção da unha estiver latente, o cirurgião deverá utilizar antibióticos
sistêmicos e curativos locais dias antes ao procedimento cirúrgico, permitindo a
realização da cirurgia com menor contaminação.
No pós-operatório, várias antibióticos estão disponíveis para terapia sistêmica, tais
como as oxitetraciclinas (10-20 mg/kg, a cada 48 horas), tilosina (10 mg/kg, a cada
24 horas), sulfa + trimetropin (30 mg/kg, a cada 24 horas), penicilinas (20.000 UI/kg,
a cada 48 horas), entre outros, e por sete dias, e terapia analgésica com
fenilbutazona, na dose de 4,4 mg/kg, diariamente, por três dias. O curativo deve ser
trocado a cada 48 horas, impermeabilização do curativo com pomada a base de
alcatrão, e os pontos retirados entre o 10º e 14º dia. Manter o animal em local seco
e limpo.

Complicações
Luxação por sobrecarga da unha remanescente, artrite séptica, infecção da ferida
cirúrgica e osteomielite da falange remanescente. Vacas leiteiras que tem um dígito
amputado apresentam vida produtiva reduzida. Animais com paradígito amputado,
aparentemente não apresentam alterações na produção.

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18. AMPUTAÇÃO DE METACARPIANOS E METATARSIANOS ACESSÓRIOS

Indicação
Quando não há possibilidade de redução de fraturas nos metacarpianos acessórios
dos equinos.

Pré-operatório
O cavalo deve ser submetido a anestesia geral e posicionado em decúbito lateral de
forma que o lado da fratura permaneça voltado para cima, facilitando o acesso ou
em decúbito dorsal com o membro suspenso, se for necessário realizar a cirurgia
nos dois metacarpianos/metatarsianos acessórios. Realiza-se a tricotomia de uma
ampla área, preparando-a de maneira asséptica.

Anatomia
A canela dos cavalos possui três ossos, o metarcapiano principal que corresponde
ao 3º osso metacarpiano, e os acessórios que correspondem ao 2º e 4º ossos
metacarpianos. Palmar aos metacarpianos está o ligamento suspensório do boleto e
os tendões flexores profundo e superficial do dedo. Entre os metacarpianos
acessórios e os tendões estão o nervo palmar, a veia e a artéria metacarpiana.

Técnica cirúrgica
O cirurgião deverá incisar a pele com auxílio do bisturi, sobre o osso metacarpiano
fraturado e em sentido longitudinal, estendendo-se 1 cm distal à extremidade distal
do mesmo até aproximadamente 2 cm proximais ao local proposto da amputação.
Cuidado especial deve ser tomado na preservação da veia e artéria palmar. Com
auxílio de um osteótomo deve-se elevar e separar o metacarpiano acessório do
principal, no sentido proximal. O segmento fraturado será removido acima do local
da fratura, removendo-se quaisquer fragmentos e o coto remanescente deve ser
moldado para evitar esquírolas e pontas. O tecido subcutâneo deve ser reduzido
com fio absorvível sintético no 2-0, em padrão zigue-zague. A pele será suturada
com fio de náilon no1, com pontos simples interrompido ou Sultan. Uma bandagem
compressiva deve ser aplicada em toda a canela.

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Pós-operatório
Utilização de penicilina benzatina na dose de 20.000 UI/kg, a cada 48 horas, via
intramuscular, totalizando três aplicações. Uso de fenilbutazona na dose de 4,4
mg/kg, via intravenosa, a cada 24 horas, durante 3 dias. Na ferida cirúrgica deve ser
realizada limpeza com solução antisséptica a cada curativo. Utilizar bandagem
compressiva trocando-a a cada três dias, durante 15 a 30 dias. Os pontos devem
ser removidos entre 10 e 14 dias da realização do procedimento cirúrgico.

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XI. BIBLIOGRAFIA CONSULTADA

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Galera PD

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