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AO JUÍZO DA VARA DO TRABALHO DE ...

MARIA, brasileira, vendedora, portadora do RG nº …, expedida pelo...,


CPF nº ..., CTPS nº…, Série…, PIS nº…, endereço eletrônico…, residente e
domiciliada…, por seu advogado infra-assinado conforme procuração anexa,
com escritório…, endereço que indica para os fins do Art. 77, V, do CPC, vem,
respeitosamente perante Vossa Excelência, com fundamento do Art. 840, § 1º
da CLT, e 319 do CPC ajuizar a presente

RECLAMAÇÃO TRABALHISTA CUMULADA COM AÇÃO DE


INDENIZAÇÃOPOR DANOS MORAIS (Rito Ordinário)

em face da empresa DELTA INDÚSTRIA FARMACÊUTICA LTDA, pessoa


jurídica de direito privado, inscrita no CNPJ nº …, com sede em…, pelas
razões de fato e de direito que passam a expor.

DA GRATUIDADE DA JUSTIÇA

A gratuidade da justiça está inserida no rol de direitos e garantias


fundamentais do Art. 5º da CRFB/88, que no inciso LXXIV, afirma que o Estado
prestará assistência jurídica integral e gratuita aos que comprovarem
insuficiência de recursos. No mesmo sentido o Art. 790, § 4º da CLT dispõe
que o benefício da justiça gratuita será concedido à parte que comprovar
insuficiência de recursos para o pagamento das custas do processo. Em
reforço, a súmula 463 do TST pacificou entendimento de que para concessão
da assistência judiciária gratuita à pessoa natural, basta a declaração de
hipossuficiência econômica firmada pela parte ou por seu advogado. Desta
forma, a reclamante requer os benefícios da justiça gratuita, já que está
desempregada, e ainda declara-se pobre na forma da lei, não dispondo de
condições econômicas de demandar em juízo sem sacrifício do sustento
próprio e dos seus familiares.

SÍNTESE DOS FATOS.

A reclamante foi contratada pela reclamada para trabalhar como


vendedora há 5 (cinco) anos. A reclamante se deparou com um novo
mecanismo imposto pela diretoria da reclamada, que, com suspeita de furtos
em seu estabelecimento, submeteu a todos os funcionários à revista pessoal
íntima, efetuada por uma segurança da empresa. Insatisfeita com tamanho
constrangimento, a reclamante recusou-se à revista íntima e por esse motivo,
foi demitida por justa causa em ...sob a alegação de insubordinação e
indisciplina, fato que foi amplamente repercutido pela reclamada entre os
demais funcionários como forma de intimidá-los a preservarem seus empregos.
Na certeza de que teria seu direito à intimidade violado, bem como a ausência
de fundamentação para realização de revista íntima, não restou outra opção
para reclamante a não ser a propositura da presente ação.

DA CONVERSÃO DA DEMISSÃO POR JUSTA CAUSA EM SEM JUSTA


CAUSA OU RESCISÃO INDIRETA DO CONTRATO DE TRABALHO

O motivo alegado pela empresa ora reclamada para a demissão da


empregada, foi um suposto ato de insubordinação ou desobediência, uma vez
que a funcionária recusou submeter-se a procedimento de vistoria íntima
realizada por uma segurança, procedimento este, implantado pela diretoria da
reclamada. Ocorre que a própria CLT veda esse tipo de procedimento aplicado
à funcionárias ao afirmar que, ressalvadas as disposições legais destinadas a
corrigir as distorções que afetam o acesso da mulher ao mercado de trabalho e
certas especificidades estabelecidas nos acordos trabalhistas, é vedado ao
empregador ou preposto proceder a revistas íntimas nas empregadas ou
funcionárias, consoante Art. 373-A, VI, da CLT. Logo, por esse motivo, merece
ser convertida a demissão por justa causa para demissão imotivada e o
consequente pagamento de todas as verbas rescisórias. Por outro lado,
considerando que não houve nenhuma fundamentação legal ou qualquer outro
motivo que justificasse a obrigatoriedade das funcionárias se submeterem a
controle por meio de revista íntima, houve ataque à honra e a boa fama da
funcionária. Assim, na forma do Art. 483, alínea e, da CLT a reclamante pode
considerar rescindido o contrato e pleitear a devida indenização, pois o
empregador praticou contra ela ato lesivo da honra e bom fama, o que enseja a
rescisão do contrato de trabalho pela obreira com o devido pagamento de
todas as verbas rescisórias que lhe são devidas.
DO DANO MORAL

Primeiramente, cabe trazer à baila o conceito de dano moral, nos dizeres


do professor Yussef Said Cahali (O Dano Moral – ed. Revista dos Tribunais),
vejamos:

“O dano moral é a privação ou diminuição daqueles bens que têm um valor


precípuo na vida do homem e que são a paz, a tranquilidade de espírito, a
liberdade individual, a integridade individual, a integridade física, a honra e os
demais sagrados afetos, classificando-se desse modo, em dano que afeta a
parte social do patrimônio moral (honra, reputação, etc.) e dano que molesta a
parte afetiva do patrimônio moral (dor, tristeza, saudade, etc.), dano moral que
provoca direta ou indiretamente dano patrimonial (cicatriz deformante etc.) e
dano moral puro (dor, tristeza, etc.)”.

A faculdade de um empregador implantar medidas de controle tais como


detectores de metal, filmagens, revistas, etc, decorre do seu poder diretivo, que
por sua vez, decorre do direito à propriedade, insculpido no Art. 5º, XXII, da
CRFB/88. Todavia, o poder diretivo, que se desdobra entre outros, no poder
disciplinar, não pode se sobrepor ou violar outros direitos também garantidos
constitucionalmente. Assim como garante o direito à propriedade, a
Constituição Federal também garante que são invioláveis a intimidade, a vida
privada, a honra e a imagem das pessoas, assegurando o direito a indenização
pelo dano material ou moral decorrente de sua violação, na forma do Art. 5º, X,
da CRFB/88. É de se destacar também que a República Federativa do Brasil
tem como fundamentos, entre outros, a dignidade da pessoal humana e os
valores sociais do trabalho e da livre iniciativa, como dispõe o Art. 1º, III e IV. O
que se evidencia até aqui é que há uma colisão entre direitos fundamentais. De
um lado há o direito a propriedade do empregador, sendo este o principal
fundamento a embasar o seu poder diretivo, e do outro lado, há o direito a
intimidade e a vida privada do trabalhador como manifestação da dignidade
humana. Ocorre que o direito a propriedade não é absoluto, encontrado
limitações na própria Constituição, expressados pela função social da
propriedade que, no tocante á função social, deve se moldar aos princípios da
atividade econômica insculpidos no Art. 170 da CRFB/88. Logo, pode-se
afirmar que dentre os limites ao exercício do direito de propriedade, encontra-
se a proteção aos direitos fundamentais do trabalhador, quais sejam, o direito a
intimidade e a vida privada. Ainda na Constituição Federal, pela dicção do Art.
5º, III e LVII, ninguém será submetido a tratamento desumano ou degradante,
nem será considerado culpado até o trânsito em julgado de sentença penal
condenatória. Já no inciso II do mesmo artigo, o comando é o de que ninguém
será obrigado a fazer ou deixar de fazer alguma coisa senão em virtude da lei,
como não existe lei que obrigue o trabalhador a ser submetido a revistas
íntimas em seu trabalho, mas ao contrário, existe proibição expressa, o
trabalhador pode se recusar a ser submetido a qualquer procedimento que
afronte sua dignidade. Ademais, a prática da revista sem qualquer fundamento,
acaba por inverter a presunção de inocência, prevista no Art. 5º, LVII da
CRFB/88, pois parte da presunção de culpabilidade do empregado. A conduta
da empresa em submeter funcionárias a revistas íntimas, assim como
favorecer a disseminação da demissão da reclamante entre os outros
funcionários e funcionários com o objetivo de intimidá-los a aceitar tal
procedimento vexatório, se configura em verdadeiro atentado ao direito
fundamental a intimidade e à vida privada, ao princípio da presunção de
inocência bem como a própria dignidade humana, merecedor da mais alta
reprimenda.

A indenização por danos morais relacionada à exposição da pessoa


humana a situações vexatórias e humilhantes, seja em ambiente de trabalho,
seja em ambientes públicos é algo que já está consolidado na jurisprudência, o
que pode ser observado a partir do seguinte julgado:

DANO MORAL. PROVA DE HUMILHAÇAO E CONSTRANGIMENTO. É cediço


que o dano moral ocasiona lesão na esfera personalíssima do titular, violando
sua intimidade, vida privada, honra e imagem, implicando numa indenização
compensatória ao ofendido (art. 5º, incisos V e X, CF). Cabia a reclamante
comprovar nos autos a humilhação e constrangimento. Não se desincumbindo
desse mister, impõe-se o não deferimento do pedido. (Processo: RECORD
1705200820202008 SP 01705-2008-202-02-00-8; Relator (a): IVANI CONTINI
BRAMANTE; Julgamento: 23/03/2010; Órgão Julgador: 4ª TURMA; Publicação:
09/04/2010; Parte (s): RECORRENTE (S): Maria Isabel de Moura
RECORRENTE (S): Banco Santander DO (BRASIL) S/A

Desta forma, a reclamante estima e requer que lhe seja pago a título de
dano moral o valor de R$50.000 (cinquenta mil reais).

DAS VERBAS RESCISÓRIAS NÃO PAGAS

Frente ao até aqui exposto, o que se verifica é o completo


descumprimento do contrato de trabalho por parte da reclamada, sendo certo
que são devidas à reclamante as verbas referentes ao aviso prévio, às férias
integrais e proporcionais mais o adicional de um terço, ao FGTS e multa de
40% e ao adicional de no mínimo 25% pela transferência da empregada para
outra filial.

DOS PEDIDOS

Face ao acima exposto, a reclamante requer a nulidade da demissão por


justa causa e sua conversão em demissão sem justa causa, sendo o
reclamado condenado nas verbas abaixo discriminadas, acrescidas de juros e
correção monetária:

a) a conversão da dispensa por justa causa em dispensa imotivada, devido


à forma ilegal e arbitrária ao qual foi efetivada, condenando a
Reclamada ao pagamento de aviso-prévio, cf. art. 487, §4º, da CLT,
bem como pagamento das verbas rescisórias a seguir dispostas: férias
proporcionais, acrescidas do terço constitucional; 13.º salário
proporcional; indenização compensatória de 40% do FGTS e saldo de
salários;

b) a condenação da Reclamada pelos danos morais experimentados pela


Autora, fruto de assédio moral praticado pela empresa, a ser fixado em
valor não menor a R$ 100.000,00 (cem mil reais);

c) a condenação da Reclamada ao pagamento das custas processuais e


honorários advocatícios, cf. art. 22 da lei 8.906/94 c/c art. 85, §2º do
CPC, em percentual de 20 % sobre o valor condenatório;
d) a quitação das parcelas incontroversas em sede de audiência, com
fulcro no art.467, da CLT, sob pena de pagá-las acrescidas de cinquenta
por cento;

e) a notificação da Reclamada, no endereço constante desta peça, para,


querendo, apresentar contestação, sob pena de revelia e confissão;

f) querendo, apresentar
contestação, sob pena
de revelia e confissão;
REQUERIMENTOS FINAIS.

Diante o exposto, requer:

a) A notificação da reclamada para oferecer resposta à reclamação


trabalhista, sob pena de sofrer a revelia e confissão quanto à
matéria de fato.

b) A concessão do benefício da Assistência Judiciária Gratuita, por


tratar-se o Reclamante de pessoa pobre nos termos da lei, não
possuindo condições financeiras de arcar com os custos da
presente ação sem prejuízo de sua subsistência e de sua família.
Caso este MM. Juízo entenda que a documentação
comprobatória da situação de pobreza da reclamante, ora
acostada, é insuficiente à comprovação do estado hipossuficiente
alegado, requer a aplicação do § 3º do art. 99 do CPC,
presumindo-se verdadeira a declaração firmada pela reclamante,
documento este que também instrui a presente peça;
c) Produção de todos os meios de provas em direito admitidos, em
especial a prova testemunhal, depoimento pessoal e prova
testemunhal.
d) Por fim, a procedência de todos os pedidos com a condenação da
reclamada ao pagamento de verbas pleiteadas acrescidas de
juros e correção monetária.

Protesta provar o alegado por todos os meios de prova em direito admitidas,


em especial a oitiva de testemunhas, o depoimento pessoal da parte adversa,
depoimento pessoal da reclamante, a juntada de documentos, bem como
outras formas que mostrem necessárias à presente instrução.

Dá a causa o valor de R$ 100.000,00 (cem mil reais).

Termos em que, pede deferimento.

Local …. data …

Advogado…

OAB nº…

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