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JUIZADOS ESPECIAIS CRIMINAIS (LEI Nº 9.

099/95)

PRINCÍPIOS
O art. 62 da Lei nº 9.099/95 apresenta os princípios que orientam o processo no JECRIM.

Art. 62. O processo perante o Juizado Especial orientar-se-á pelos critérios
da oralidade, simplicidade, informalidade, economia processual e
celeridade, objetivando, sempre que possível, a reparação dos danos
sofridos pela vítima e a aplicação de pena não privativa de liberdade.

Nesse sentido, é possível extrair os seguintes princípios:

PRINCÍPIOS

ORALIDADE

SIMPLICIDADE

INFORMALIDADE

ECONOMIA
PROCESSUAL

CELERIDADE

IMPORTANTE


Da leitura do mencionado dispositivo legal, percebe-se que todos os princípios elencados são
voltados a desburocratizar o procedimento do JECRIM, priorizando a simplicidade dos procedimentos
e celeridade do andamento processual.

Nesse sentido, o aluno não precisa decorar cada um dos princípios apresentados no dispositivo
legal, basta associar ao binômio SIMPLICIDADE/CELERIDADE.

FINALIDADE
É no art. 62 da Lei nº 9.099/95 que constam, também, as finalidades do JECRIM:

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FINALIDADE

Reparação
dos danos

Pena não
privativa de
liberdade


Sem dúvidas, a Lei do JECRIM priorizou a proteção da vítima, buscando, sempre que possível, a
reparação dos danos sofridos como principal meio de solução do conflito.

Por outro lado, é bem nítido que a intenção do legislador foi encontrar uma solução diversa do
encarceramento do agente infrator, com medidas diversas da prisão como forma de reprimenda do
ilícito praticado.

Não é por outro motivo que a Lei nº 9.099/95 trouxe diversos institutos inéditos para, de todas as
formas, evitar a pena privativa de liberdade, inclusive, algumas vezes, até mesmo o processo criminal.

OBS: Ao estudar o JECRIM, tenha sempre em mente sua finalidade, lembre-se


de que a intenção do legislador foi a reparação dos danos sofridos pela vítima e evitar
a pena privativa de liberdade.

INFRAÇÃO DE MENOR POTENCIAL OFENSIVO


CONCEITO
O rito processual do JECRIM é aplicável às infrações de menor potencial ofensivo.

Por isso, o art. 61 da Lei nº 9.099/95 apresenta seu conceito:

Art. 61. Consideram-se infrações penais de menor potencial ofensivo, para
os efeitos desta Lei, as contravenções penais e os crimes a que a lei
comine pena máxima não superior a 2 (dois) anos, cumulada ou não
com multa.

INFRAÇÕES DE
MENOR POTENCIAL
OFENSIVO

Crime com
pena máxima
não superior a
02 anos

Contravenções
penais


É importante registrar que o conceito de infração de menor potencial ofensivo tem grande
incidência nos concursos públicos.

DÚVIDA: O art. 28 da Lei de Drogas pode ser considerado infração de menor


potencial ofensivo?


A resposta é SIM.

O art. 28 da Lei de Drogas tem a seguinte redação:

Art. 28. Quem adquirir, guardar, tiver em depósito, transportar ou trouxer
consigo, para consumo pessoal, drogas sem autorização ou em desacordo
com determinação legal ou regulamentar será submetido às seguintes
penas:
I - advertência sobre os efeitos das drogas;
II - prestação de serviços à comunidade;
III - medida educativa de comparecimento a programa ou curso educativo.

Segundo a jurisprudência dos Tribunais Superiores, é possível a aplicação dos institutos previstos
na Lei nº 9.099/95 para o crime de posse para consumo.

CONCURSO DE CRIMES
O concurso de crimes ocorre quando o agente pratica uma ou mais condutas, resultando em mais
de um crime.

São as modalidades de concurso de crimes: concurso material, concurso formal, e crime
continuado.

DÚVIDA: No caso de concurso de crimes, é possível aplicar a Lei nº 9.099/95


se a soma dos crimes (em qualquer de suas modalidades) for superior a 02 anos de
prisão?


A resposta é NÃO.

MUITO IMPORTANTE


Segundo o STJ, não se aplica os institutos da Lei nº 9.099/95 (transação penal e suspensão
condicional do processo) quando o cálculo das penas, em qualquer modalidade de concurso de crimes,
supere 02 anos de prisão.

FASE PRELIMINAR
TERMO CIRCUNSTANCIADO DE OCORRÊNCIA (TCO)

MUITO IMPORTANTE

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Por se tratar de um processo simplificado, não se exige a instauração de inquérito policial
na fase investigatória, bastando lavrar o termo circunstanciado de ocorrência (TCO).

Art. 69. A autoridade policial que tomar conhecimento da ocorrência
lavrará termo circunstanciado e o encaminhará imediatamente ao Juizado,
com o autor do fato e a vítima, providenciando-se as requisições dos exames
periciais necessários.

DÚVIDA: O inquérito policial é proibido no JECRIM?


A resposta é NÃO.

É importante ressaltar que a desnecessidade do inquérito policial não impede sua instauração no
âmbito do JECRIM.

Por exemplo, se a investigação de uma infração de menor potencial ofensivo for complexa, a
autoridade policial pode optar pela instauração do inquérito policial.

PRISÃO EM FLAGRANTE E FIANÇA


No âmbito do JECRIM, não se impõe prisão em flagrante e, por consequência, não se arbitra fiança.

Art. 69, Parágrafo único. Ao autor do fato que, após a lavratura do termo,
for imediatamente encaminhado ao juizado ou assumir o compromisso de a
ele comparecer, não se imporá prisão em flagrante, nem se exigirá
fiança. Em caso de violência doméstica, o juiz poderá determinar, como
medida de cautela, seu afastamento do lar, domicílio ou local de convivência
com a vítima.

Portanto:

TCO
Sem prisão
em flagrante

Sem
arbitramento
de fiança

LAVRATURA DO TCO PELA PRF


MUITO IMPORTANTE

Trata-se de um tema bastante polêmico, mas que, no final de 2020, foi pacificado pelo CNJ e,
posteriormente, ratificado pela jurisprudência.

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Nesse sentido, na sua prova da PRF, assinale como correta a afirmação de que é possível
a lavratura de TCO por policial rodoviário federal.

COMPOSIÇÃO CÍVEL
CONCEITO
Após lavrado o TCO, será designada uma audiência preliminar para que as partes envolvidas
busquem uma composição cível, ou seja, reparação de danos à vítima da infração de menor potencial
ofensivo.

Art. 72. Na audiência preliminar, presente o representante do Ministério
Público, o autor do fato e a vítima e, se possível, o responsável civil,
acompanhados por seus advogados, o Juiz esclarecerá sobre a possibilidade
da composição dos danos e da aceitação da proposta de aplicação imediata
de pena não privativa de liberdade.

Caso as partes cheguem em um acordo, o juiz homologará por meio de uma sentença irrecorrível,
que terá eficácia de título executivo cível.

Art. 74. A composição dos danos civis será reduzida a escrito e, homologada
pelo Juiz mediante sentença irrecorrível, terá eficácia de título a ser
executado no juízo civil competente.

Portanto:

COMPOSIÇÃO
CÍVEL

Com a
Vítima

Reparação
dos danos

Sem efeito
penal

TRANSAÇÃO PENAL
CONCEITO
Não sendo possível a composição cível e feita a representação pelo ofendido, o Ministério Público
poderá apresentar proposta de transação penal.

Art. 76. Havendo representação ou tratando-se de crime de ação penal
pública incondicionada, não sendo caso de arquivamento, o Ministério

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Público poderá propor a aplicação imediata de pena restritiva de direitos
ou multas, a ser especificada na proposta.

Portanto:

TRANSAÇÃO
PENAL

Com o
Ministério
Público

Pena restritiva
de direitos ou
multa

Sem efeito
penal*

DÚVIDA: Caso o agente aceite a composição cível ou a transação penal, haverá


consequências (efeitos) penais em seu desfavor?


A resposta é NÃO.

É importante salientar que a transação penal aceita pelo infrator não gera efeitos penais ou
extrapenais, ou seja, não se trata de reconhecimento de culpa ou qualquer tipo de confissão por parte
do acusado.

Na verdade, é exatamente essa característica que torna os dois institutos tão interessantes para
quem opta por sua adesão.

Por exemplo, imagine, você, concurseiro, respondendo por uma infração penal de menor potencial
ofensivo, caso seja condenado, tal informação vai constar de seus assentos pessoais e, certamente, vai
dificultar seu acesso ao cargo público, principalmente, se for na área de segurança pública.

Contudo, caso adira à composição cível ou transação penal, para todos os efeitos, você será
considerado primário.

REQUISITOS
A transação penal exige o preenchimento de requisitos previstos no art. 76, §2º, da Lei nº
9.099/95.

§ 2º Não se admitirá a proposta se ficar comprovado:
I - ter sido o autor da infração condenado, pela prática de crime, à pena
privativa de liberdade, por sentença definitiva;
II - ter sido o agente beneficiado anteriormente, no prazo de cinco anos, pela
aplicação de pena restritiva ou multa, nos termos deste artigo;
III - não indicarem os antecedentes, a conduta social e a personalidade do
agente, bem como os motivos e as circunstâncias, ser necessária e suficiente
a adoção da medida.

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Portanto:

REQUISITOS

NÃO pode ser


reincidente

NÃO pode ter


usado o
benefício nos
últimos 05 anos

Circunstâncias
pessoais
favoráveis

DÚVIDA: O Ministério Público é obrigado a apresentar proposta de transação


penal?


A resposta é NÃO.

A transação penal não é um direito subjetivo do acusado, ou seja, cabe ao Ministério Público, num
juízo de conveniência e oportunidade, apresentar a proposta de transação penal.

DÚVIDA: O juiz é obrigado a homologar a proposta de transação penal para o


agente primário e que não tenha utilizado a transação penal nos últimos 05 anos
(incisos I e II do, §2º, do art. 76)?


A resposta é NÃO.

De fato, os requisitos dos incisos I e II são objetivos, contudo, o inciso III afirma que o juiz deverá
verificar a personalidade e conduta social do agente, dentre outros parâmetros, que possuem nítido
caráter subjetivo.

Dessa forma, caso o juiz entenda que não seja o caso de aplicação da transação penal, a autoridade
judicial pode deixar de homologar o acordo de transação penal.

TRANSAÇÃO PENAL E COISA JULGADA MATERIAL


MUITO IMPORTANTE


A decisão judicial que homologa a transação penal não gera coisa julgada material.

Assim, caso o agente descumpra as condições impostas na transação penal, retorna-se à situação
anterior, permitindo que o Ministério Público dê prosseguimento à persecução penal.

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TRANSAÇÃO
PENAL

NÃO gera
coisa julgada
material


Aliás, tal entendimento é, inclusive, objeto de súmula vinculante.

Súmula vinculante 35-STF: A homologação da transação penal prevista no
artigo 76 da Lei 9.099/1995 não faz coisa julgada material e, descumpridas
suas cláusulas, retoma-se a situação anterior, possibilitando-se ao
Ministério Público a continuidade da persecução penal mediante
oferecimento de denúncia ou requisição de inquérito policial.

SUSPENSÃO CONDICIONAL DO PROCESSO (SURSIS PROCESSUAL)


CONCEITO
Trata-se de instituto previsto na Lei nº 9.099/95, que permite a suspensão do processo, por um
período de 02 a 04 anos, que visa apurar crimes cuja pena mínima cominada for igual ou inferior a um
ano.

Art. 89. Nos crimes em que a pena mínima cominada for igual ou inferior a
um ano, abrangidas ou não por esta Lei, o Ministério Público, ao oferecer a
denúncia, poderá propor a suspensão do processo, por dois a quatro anos,
desde que o acusado não esteja sendo processado ou não tenha sido
condenado por outro crime, presentes os demais requisitos que
autorizariam a suspensão condicional da pena

Portanto:

SUSPENSÃO
CONDICIONAL
DO PROCESSO

SURSIS
PROCESSUAL

Crimes com
pena mínima
igual ou inferior a
um ano

Período de
prova de 02 a 04
anos

Agente não
processado ou
condenado por
outro crime

DÚVIDA: O requisito consistente em não ser processado criminalmente não


ofende o princípio da presunção de inocência?


A reposta é NÃO.

Segundo os Tribunais Superiores, o requisito trazido pela Lei nº 9.099/95 para concessão da
suspensão condicional do processo não viola o princípio da presunção de inocência.

Trata-se apenas da impossibilidade do agente se valer de um instituto criado para aquele que,
isoladamente, praticou um fato delituoso.

Para todos os efeitos, a inocência do agente só será afastada após a sentença condenatória com
trânsito em julgado.

TRANSAÇÃO PENAL X SUSPENSÃO CONDICIONAL DO PROCESSO


MUITO IMPORTANTE


Os crimes que admitem a suspensão condicional do processo não são, necessariamente, infrações
de menor potencial ofensivo.

Nesse sentido, a sursis processual é aplicável aos crimes cuja pena mínima seja igual ou inferior
a 01 (um) ano.

Dessa forma, é possível que até mesmo um crime de médio potencial ofensivo admita a incidência
da suspensão condicional do processo, como exemplo, o tipo penal do art. 288 do Código Penal
(associação criminosa).

Art. 288. Associarem-se 3 (três) ou mais pessoas, para o fim específico de
cometer crimes
Pena - reclusão, de 1 (um) a 3 (três) anos.

Portanto:

INFRAÇÃO DE SUSPENSÃO
MENO POTENCIAL CONDICIONAL DO
OFENSIVO PROCESSO

Crimes com Crimes com


pena superior pena mínima
igual ou inferior igual ou inferior
a 02 anos a um ano

PERÍODO DE PROVA
O período de prova consiste num estágio, de observação (02 a 04 anos), de modo a verificar se o
agente irá cumprir as condições previstas no art. 89, §1º, da Lei nº 9.099/95.

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§ 1º Aceita a proposta pelo acusado e seu defensor, na presença do Juiz, este,
recebendo a denúncia, poderá suspender o processo, submetendo o acusado
a período de prova, sob as seguintes condições:
I - reparação do dano, salvo impossibilidade de fazê-lo;
II - proibição de frequentar determinados lugares;
III - proibição de ausentar-se da comarca onde reside, sem autorização do
Juiz;
IV - comparecimento pessoal e obrigatório a juízo, mensalmente, para
informar e justificar suas atividades.
§ 2º O Juiz poderá especificar outras condições a que fica subordinada a
suspensão, desde que adequadas ao fato e à situação pessoal do acusado.

DÚVIDA: Caso o agente descumpra as condições impostas na sursis


processual, é possível revogá-la? Ou tal instituto faz coisa julgada material?


A reposta é SIM.

Segundo o STJ, caso o agente descumpra as condições impostas durante o período de prova da
suspensão condicional do processo, o benefício poderá ser revogado.

SUSPENSÃO CONDICIONAL DO PROCESSO E O CONCURSO DE CRIMES


Da mesma forma que ocorre com a transação penal, não é possível a aplicação da suspensão
condicional do processo, caso a cálculo da pena, sob qualquer modalidade de concurso de crimes, supere
o limite legal.

Nesse sentido, as seguintes súmulas dos Tribunais Superiores:

Súmula 723-STF: Não se admite a suspensão condicional do processo por
crime continuado, se a soma da pena mínima da infração mais grave com o
aumento mínimo de um sexto for superior a um ano.

Súmula 243-STJ: O benefício da suspensão do processo não é aplicável em
relação às infrações penais cometidas em concurso material, concurso
formal ou continuidade delitiva, quando a pena mínima cominada, seja pelo
somatório, seja pela incidência da majorante, ultrapassar o limite de um
(01) ano.

RECUSA DO MINISTÉRIO PÚBLICO EM OFERECER A SUSPENSÃO CONDICIONAL DO


PROCESSO
MUITO IMPORTANTE


Nos tópicos anteriores, foram abordadas as principais características da suspensão condicional
do processo.

Não há dúvidas de que o instituto é um excelente benefício para o réu, já que, uma vez cumprido
o período de prova, terá extinta sua punibilidade.

Diante disso, indaga-se: qual seria a consequência jurídica caso o Ministério Público deixasse de
ofertar a suspensão condicional do processo?

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DÚVIDA: O juiz pode suprir, ou seja, pode ofertar a suspensão condicional do


processo, caso o Ministério Público se recuse a oferta-la?


A resposta é NÃO.

A principal consequência de tal conclusão é que a suspensão condicional do processo não é um
direito subjetivo do réu.

Na verdade, trata-se de um poder-dever do Ministério Público e, assim, caso o juiz discorde da
recusa ministerial, deve remeter a questão ao Procurador-Geral de Justiça, aplicando-se por analogia o
art. 28 do CPP.

Súmula 696-STF: Reunidos os pressupostos legais permissivos da suspensão
condicional do processo, mas se recusando o Promotor de Justiça a propô-
la, o Juiz, dissentindo, remeterá a questão ao Procurador-Geral, aplicando-
se por analogia o art. 28 do Código de Processo Penal.

SUSPENSÃO CONDICIONAL DO PROCESSO E VIOLÊNCIA DOMÉSTICA


MUITO IMPORTANTE

Segundo o entendimento sumulado do STJ, não é possível aplicar a suspensão condicional do


processo para os crimes praticados com violência doméstica e familiar contra a mulher.

Súmula 536-STJ: A suspensão condicional do processo e
a transação penal não se aplicam na hipótese de delitos sujeitos ao rito da
Lei Maria da Penha.

PROCEDIMENTO NO JECRIM
Ao apreciar todos os institutos benéficos ao infrator que constam na Lei nº 9.099/95, percebe-se
que a intenção do legislador foi evitar o processo criminal e a aplicação da pena, prestigiando a rápida
solução do conflito com a reparação dos danos à vítima, sempre que possível.

Para facilitar a memorização do procedimento adotado no âmbito do JECRIM, apresenta-se o
seguinte esquema.

TERMO AUDIÊNCIA
COMPOSIÇÃO CÍVEL
CIRCUNSTANCIADO PRELIMINAR

PROCEDIMENTO
SURSIS PROCESSUAL TRANSAÇÃO PENAL
SUMARÍSSIMO

SENTENÇA
CONDENATÓRIA

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