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O PROCEDIMENTO DE REPROVAÇÃO,

SEM INSTRUÇÃO CRIMINAL,


DAS INFRAÇÕES PENAIS
DE MENOR E MÉDIO POTENCIAL OFENSIVO
BEM COMO DAS
PASSÍVEIS DE ACORDO DE NÃO PERSECUÇÃO PENAL

Prof. Marcelo Monteiro


 INFRAÇÕES PENAIS DE MENOR POTENCIAL OFENSIVO

1.1. IDENTIFICAÇÃO
A princípio são as que a lei comina pena máxima não superior a dois
anos (art. 61 da Lei 9099/95), mas o STJ admite exceções.

Indagação nº 01: Os crimes contra as relações de consumo (art. 7º da


Lei 8.137), de furto privilegiado (art. 155, §2º, do CP), estelionato privi-
legiado (art. 171, §1ª, do CP) e de receptação dolosa privilegiada (art.
180, §5º, 2º parte, do CP), mesmo com pena máxima superior a dois
anos, são de menor potencial ofensivo? De acordo com o STJ, SIM
 Tese nº 02 da Edição nº 96 da Publicação do STJ denominada
“Jurisprudência em Teses”:
“É cabível a suspensão condicional do processo e a
transação penal aos delitos que preveem a pena de multa
alternativamente à privativa de liberdade, ainda que o
preceito secundário da norma legal comine pena mínima
superior a 1 ano”.
 RHC 54.429 SP, Dje 29.04.2015
1.2. O TERMO CIRCUNSTANCIADO DE OCORRÊNCIA (TCO)
É o procedimento policial que investiga as infrações de menor
potencial ofensivo em relação às quais a lei admite a adoção da
fase preliminar do rito sumaríssimo do JECrim, na qual se busca
uma conciliação para espécies  transação penal e
evitar a ação penal  composição civil dos danos

1.3. QUEM PODE LAVRAR TCO?


1ª Corrente: apenas o Delegado de Polícia e não o PM ou PRF.
● À Polícia Militar cabe a missão de polícia ostensiva e à
Polícia Rodoviária Federal cabe o patrulhamento ostensivo
das rodovias federais (art. 144, § 2º e 5º, CF). Somente à Polícia
Civil e à Polícia Federal incumbem as funções de polícia
judiciária e apuração de infrações penais (artigo 144, § 1º e 4º,
CF).
● O TCO é um tipo de procedimento investigatório da polícia
judiciária.
 A Lei 9099 manteve nas mãos do delegado de polícia a função
de conduzir a investigação criminal, ao dispor que a “autoridade
policial que tomar conhecimento da ocorrência lavrará termo
circunstanciado” (artigo 69).
 O fato de a apuração de infração de menor potencial ofensivo
ser mais simples não desnatura o caráter investigativo do TCO.
 Referir-se ao TCO por meio de eufemismos como “mero registro
de fatos” ou “boletim de ocorrência mais robusto” consiste em
discurso enganoso visando a usurpação de função pública.
 Ainda que o TCO não seja complexo, sua lavratura não consiste
em simples atividade mecânica, mas jurídica e investigativa, na
qual o delegado decide sobre uma série de questões, tais como
tipificação da infração penal, concurso de crimes, qualificadoras
e causas de aumento de pena, restituição de objetos
apreendidos, requisição de perícia, representação por busca e
apreensão, entre outras atribuições de polícia judiciária e de
apuração de infrações penais comuns.
 A redação do § 1º, do art. 2º, da Lei 12.830/2013: “Ao delegado
de polícia, na qualidade de autoridade policial, cabe a condução
da investigação criminal por meio de inquérito policial ou outro
procedimento previsto em lei, que tem como objetivo a apuração
das circunstâncias, da materialidade e da autoria das infrações
penais”.
 RE 702.617 - AM, Rel. Ministro Luiz Fux: “3. (…) a atribuição de
polícia judiciária compete à Polícia Civil, devendo o Termo
Circunstanciado ser por ela lavrado, sob pena de usurpação de
função pela Polícia Militar” (Data de Julgamento: 26/02/2013,
Publicado no Dje-054 do dia 21-03-2013)
•2ª Corrente: Policiais Militares e Policiais Rodoviários Federais
também podem lavrar TCOs.

Argumentos:
 Em setembro/2017, Gilmar Mendes, na decisão monocrática
proferida no RE 1.050.631-SE, pontuou que a interpretação
restritiva de que o termo “autoridade policial”, contido no 69 da Lei
nº 9.099/95, se refere apenas ao delegado não se compatibiliza
com o art. 144 da Constituição Federal. Para o referido ministro
do STF, “pela norma constitucional, todos os agentes que
integram os órgãos de segurança pública - polícia federal, polícia
rodoviária federal, polícia ferroviária federal, policias civis, polícia
militares e corpos de bombeiros militares -, cada um na sua área
específica de atuação, são autoridades policiais”.
 Enunciado Criminal nº 34 do FONAJE: “Atendidas as
peculiaridades locais, o termo circunstanciado poderá ser lavrado
pela Polícia Civil ou Militar.
 Atentando para a realidade de muitos municípios de pequeno porte: (i)
por deficiência de pessoal, diversas delegacias de polícia civil não
funcionam à noite, nem nos fins de semana e feriados, obrigando as
vítimas dos crimes ocorridos nesses dias e horários a se deslocarem
até uma delegacia regional, o que acaba por inviabilizar o acesso ao
Sistema de Justiça; (ii) o deslocamento da guarnição da Polícia Militar
de serviço até a delegacia regional, além de deixar a respectiva cidade
sem policiamento durante horas, representa dispêndio de recursos
públicos; (iii) essa dificuldade imposta pela Polícia Civil aos cidadãos e
à Polícia Militar para a lavratura de TCO tem provocado o aumento
dos índices de subnotificação de crimes, já que as vítimas desistem de
registrar boletim de ocorrência e os policiais militares acabem
liberando indevidamente autores de crime de menor potencial
ofensivo.
 A Polícia Militar trabalha de forma ininterrupta, 24 h por dia e os 7 dias
da semana, conseguindo em muitas ocasiões, atender às ocorrências
no instante e local em que estão acontecendo os crimes, oportunidade
em que escutam as partes envolvidas e identificam as testemunhas
presenciais.
1.4. A QUEM COMPETE CONCILIAR E JULGAR AS
INFRAÇÕES DE MENOR POTENCIAL OFENSIVO?

Regra:
Cabe ao JUIZADO ESPECIAL CRIMINAL (JECrim) - Art. 60 da lei 9099
Exceções:
(i) Os crimes de menor potencial ofensivo praticados com violência
doméstica e familiar contra a mulher (art. 41 da lei 11.340/2006) =>
competência do JUÍZO DE DIREITO da respectiva comarca, previsto
na Lei de Organização Judiciária (não cabe acordo para evitar a ação
penal);
(ii) Os crimes militares de menor potencial ofensivo (art. 90A da Lei
9099/95) => competência da JUSTIÇA MILITAR (a princípio, não cabe
acordo para evitar a ação penal);
(iii) Os crimes eleitorais de menor potencial ofensivo => competência
da JUSTIÇA ELEITORAL (cabe acordo para evitar a ação penal).
Indagação nº 02: Como fica a competência quando, no
procedimento policial, o Delegado atribuí à mesma pessoa a prática
de mais de um crime de menor potencial ofensivo?
1ª hipótese: DOIS CRIMES DE MENOR POTENCIAIS OFENSIVOS
CUJAS PENAS MÁXIMAS SOMADAS NÃO ULTRAPASSEM A 2 ANOS
=> JECrim é competente.
2ª hipótese: DOIS CRIMES DE MENOR POTENCIAL OFENSIVO
CUJAS PENAS MÁXIMAS SOMADAS ULTRAPASSAM 2 ANOS => Há
duas correntes:
●Entendimento do FONAJE (Enunciado Criminal nº 120): “O concurso de
infrações de menor potencial ofensivo não afasta a competência do
Juizado Especial Criminal, ainda que o somatório das penas, em
abstrato, ultrapasse dois anos”.
●Entendimento do STJ: “Na hipótese de apuração de delitos de menor
potencial ofensivo, deve-se considerar a soma das penas máximas em
abstrato em concurso material, ou, ainda, a devida exasperação, no caso
de crime continuado ou de concurso formal, e ao se verificar que o
resultado da adição é superior a dois anos, afasta-se a competência do
JECrim” (Jurisprudência em Tese, Ed. 96, tese 10).
3ª hipótese: UM CRIME DE MÉDIO OU MAIOR POTENCIAL
OFENSIVO + UM CRIME DE MENOR POTENCIAL OFENSIVO
=> Juízo Penal Comum é competente, devendo, no Juízo Penal
Comum, ser tentada a composição civil dos danos e a transação
penal em relação ao crime de menor potencial ofensivo.
A respeito, confira:
●Enunciado Criminal nº 10 do FONAJE: “Havendo conexão entre
crimes de competência do Juizado Especial e do Juízo Penal
Comum, prevalece a competência deste”.
Parágrafo único do art. 60 da Lei 9099: “Na reunião de

processos, perante o juízo comum ou o tribunal do júri,


decorrentes da aplicação das regras de conexão e continência,
observar-se-ão os institutos da transação penal e da composição
dos danos civis”.
Indagação nº 03: Como fica a competência nos casos de
desclassificação, na Justiça Comum, para crime de
menor potencial ofensivo?
1ª Corrente (majoritária): Desclassificando para crime de menor
potencial ofensivo, o juiz da Justiça Comum não pode continuar
na direção do processo criminal, devendo remeter os autos ao
Juizado Especial Criminal. Neste sentido, a seguinte decisão
monocrática do Ministro do STJ Joel Ilan Paciornik, proferida no
Edcl no Agravo em Recurso Especial nº 1.225.631 – ES:
“Operada a desclassificação para crime de menor potencial
ofensivo, o feito deve ser processado segundo o rito especial dos
Juizados Especiais Criminais. Em razão do julgamento ocorrido
pela Justiça Comum, necessária a anulação a partir do
recebimento da denúncia criminal. Ante o exposto, acolho os
embargos de declaração, com efeitos infringentes, para anular o
processo a partir do recebimento da denúncia, remetendo-se os
autos para o Juizado Especial Criminal competente”
(Dje:13.11.2018).
2ª Corrente (minoritária): O juízo que, após toda a instrução
criminal, operou a desclassificação da conduta, deve continuar na
direção do processo criminal, para conceder benefícios previstos
na Lei 9.099/95 ou aplicar eventual reprimenda em desfavor do
réu. Eis os argumentos transcritos na decisão monocrática do
Ministro do STJ Nefi Cordeiro, no Resp. nº 1.734.623 – MG:
“Embora a competência originária para o processamento do crime
de uso de entorpecentes seja dos Juizados Especiais, tendo a
instrução se desenrolado por inteiro perante a Justiça Comum, por
força do princípio da perpetuatio jurisdicionis, é neste Juízo que
deve ocorrer o julgamento do feito e a aplicação da sanção (…).
Inexistindo qualquer prejuízo ao acusado, não cabe a modificação
da competência para o Juizado Especial, mormente porque todo o
trâmite processual, até então, foi conduzido na Justiça Comum,
constituindo-se a concessão de benefícios previstos na Lei
9.099/95 e/ou a ulterior imposição de pena como sendo um
consectário natural da decisão desclassificatória” (Dje:
15.05.2018).
1.5. A CONCILIAÇÃO (NA AUDIÊNCIA PRELIMINAR)
PARA EVITAR A AÇÃO PENAL
Indagação nº 04: O que acontece quando o autor do fato,
injustificadamente, não comparece na audiência preliminar?
Essa situação se configura quando o autor do fato:
(i) Para não ser preso em flagrante, se comprometeu a com-
parecer à audiência preliminar no horário informado no
termo de compromisso e não comparece; ou
(ii) Foi pessoalmente intimado da audiência preliminar e não
comparece.
 Sendo o crime de ação penal pública incondicionada ou de ação
penal privada => pode ser oferecida oralmente a denúncia (pelo
Promotor de Justiça) ou a queixa (pelo advogado do ofendido),
respectivamente;
Sendo o crime de ação penal pública condicionada => primeiro
deve ser dada à vítima a oportunidade de exercer o direito de
representação verbal e, apenas após essa representação, é que
o Promotor de Justiça poderá oferecer oralmente a denúncia.
OBS1: Não cabe condução coercitiva do autor do fato que
não comparece à audiência preliminar, por não ter ainda um
processo penal instaurado. A relação processual nasce com o
recebimento da denúncia e produz eficácia em relação ao réu
com a citação deste. Recebida a denúncia (o que se dá
apenas na audiência de instrução e julgamento), o juiz poderá
determinar condução coercitiva das testemunhas intimadas
que não compareceram. Réu citado que não comparece à AIJ
é revel e perderá o direito de ser interrogado.

OBS2: Se, na audiência preliminar, a vítima não representa e


nem renuncia ao direito de representar, os autos ficarão em
cartório, podendo o direito de representação ser exercido no
prazo previsto no art. 38 do CPP (6 meses), a contar do
conhecimento da autoria do fato (Enun. Crim. FONAJE nº 25).
Indagação nº 05: O que acontece quando a vítima
não comparece na audiência preliminar?

Sendo o crime de ação penal pública incondicionada


=> submete-se ao autor do fato proposta de
transação penal formulada pelo Promotor de Justiça.
Sendo o crime de ação penal pública condicionada
ou de ação penal privada => presume-se que a
vítima não deseja representar ou oferecer queixa e
arquiva-se o procedimento.
Enunciado Criminal nº 117 do FONAJE: “A ausência
da vítima na audiência,quando intimada ou não
localizada, importará renúncia tácita à
representação”.
1.5.1. COMPOSIÇÃO CIVIL DOS DANOS

Indagação nº 06: Vítima pode celebrar acordo de


composição civil dos danos sem advogado?
Claro que é recomendável que a vítima seja
acompanhada de advogado na audiência preliminar,
mas, se não o for e, na dita audiência, celebrar
acordo de composição civil dos danos, tal acordo
somente será declarado nulo se o prejuízo da vítima
ficar devidamente comprovado (não há presunção
legal do prejuízo), interpretação que se chega em
especial atenção à redação dos artigos 62 e 65, § 1º,
todos da Lei 9099/95.
Indagação nº 07: Quais as consequências na
esfera criminal da composição civil dos danos?
●Sendo o crime de ação penal pública incondicionada =>
praticamente nenhuma, devendo o termo do acordo ser
encaminhado ao juízo competente. Enunciado Criminal
nº 89 do FONAJE: “Havendo possibilidade de solução de
litígio de qualquer valor ou matéria subjacente à questão
penal, o acordo poderá ser reduzido a termo no Juizado
Especial Criminal e encaminhado ao juízo competente”.
●Sendo o crime de ação penal pública condicionada =>
importa renúncia ao direito de oferecer representação,
mesmo em se tratando de uma composição parcial.
●Sendo o crime de ação penal privada => importa
renúncia ao direito de oferecer queixa, mesmo em se
tratando de uma composição parcial.
Indagação nº 08: Quais os órgãos jurisdicionais
competentes para homologar e executar o acordo
de composição civil dos danos?
● Para homologar => JECrim., podendo a
homologação ocorrer mesmo já tendo ocorrido a
prescrição e a decadência (Enunciado Criminal
nº 74 do FONAJE).
● Para executar => JECível, desde que respeitado
o seu valor máximo de alçada, qual seja, 40 sm
(art. 53 da Lei 9099/95) ou 60 sm (art. 3º da lei
10.259/2001), a depender se for Juizado
Estadual ou Federal, respectivamente.
1.5.2. TRANSAÇÃO PENAL
Indagação nº 09: Quais os requisitos devem ser preenchidos para
que seja cabível a formulação de proposta de transação penal?
a) Não ter sido o autor do fato:
a.1) Condenado pela prática de crime (condenação anterior por
contravenção penal não inviabiliza transação), à pena privativa
de liberdade (condenação anterior à pena restritiva de direito
ou multa também não inviabiliza), por sentença definitiva;
a.2) Beneficiado nos últimos 5 anos por transação penal;
b) Indicarem os antecedentes, a conduta social e a personalidade do
agente, bem como os motivos e as circunstâncias, ser a transação
penal necessária e suficiente para a reprovação da infração criminal;
c) Sendo o delito de ação penal pública condicionada ou de ação
penal privada, não ter sido celebrado, na fase anterior da audiência
preliminar, acordo de composição civil com a vítima;
d) Não ser caso de arquivamento. Se for, o Promotor de Justiça tem
o dever de requerê-lo quando o delito for de ação penal pública.
Indagação nº 10: O Promotor de Justiça pode
formular proposta de transação penal sem indicar
o tipo infracional imputado ao autor?
Não. Sem saber qual infração penal lhe está
sendo imputada, o autor do fato fica sem baliza
para avaliar se há proporcionalidade entre tal
infração e a pena restritiva de direito proposta.
Sobre o tema, há o Enunciado Criminal nº 72 do
FONAJE: “A proposta de transação penal e a
sentença homologatória devem conter
obrigatoriamente o tipo infracional imputado ao
autor do fato, independentemente da capitulação
ofertada no termo circunstanciado”.
Indagação nº 11: A quem cabe formular proposta de
transação penal nas ações penais privadas?
1ª corrente => Cabe à vítima. A Corte Especial do STJ,
ao julgar a Ação Penal nº 634-RJ, no item II da ementa
do respectivo acórdão, assentou: “II - A jurisprudência
dos Tribunais Superiores admite a aplicação da transação
penal às ações penais privadas. Nesse caso, a
legitimidade para formular a proposta é do ofendido, e o
silêncio do querelante não constitui óbice ao
prosseguimento da ação penal”.
2ª corrente => Cabe ao Ministério Público. Neste
sentido o Enunciado Criminal nº 112 do FONAJE: “Na
ação penal privada, cabem transação penal e a
suspensão condicional do processo, mediante proposta
do Ministério Público”.
Indagação nº 12: A infração penal prevista no art. 28 da Lei
11.343/2006 recebe tratamento diferenciado?
SIM. Mesmo que já tenha sido definitivamente condenado por
outro crime ou tenha sido beneficiado por transação penal nos
últimos 5 anos, ainda assim o autor da infração penal prevista
no art. 28 da Lei 11.343/2006 poderá celebrar transação
penal. Neste sentido, o Enunciado Criminal nº 124 do
FONAJE: “A reincidência decorrente de sentença
condenatória e a existência de transação penal anterior, ainda
que por crime de outra natureza ou contravenção, não
impedem a aplicação das medidas despenalizadoras do artigo
28 da Lei 11.343/06 em sede de transação penal”.
Vale lembrar ainda que, de acordo com o Enunciado Criminal
nº 126 do FENAJE, “a condenação por infração ao artigo 28
da Lei 11.343/2006 não enseja registro para efeitos de
antecedentes criminais e reincidência”.
Indagação nº 13: Sendo o delito de ação penal pública,
o juiz poderá formular proposta de transação penal
quando o membro do MP se recusa a formulá-la?
NÃO. Ao discordar da recusa do Promotor de Justiça em propor
transação penal, o juiz deverá remeter os autos ao Procurador
Geral de Justiça. Este, entendendo que o autor do fato faz jus à
transação penal, designará um outro membro do MP para
propô-la (aplicação, por analogia, do disposto no art. 28 do CPP
- Vide Enunciado Criminal nº 86 do FONAJE).
No entanto, o juiz poderá:
 Substituir uma modalidade de pena restritiva de direitos por
outra, a requerimento do interessado, ouvido o MP
(Enunciado Criminal nº 68 do FONAJE);
 Alterar a destinação das medidas penais indicadas na
proposta de transação penal (Enunciado Criminal nº 77 do
FONAJE).
Indagação nº 14: Cabe recurso da decisão judicial que aprecia a
transação penal celebrada?
Da decisão homologatória => cabe apelação (art. 76, § 5º, Lei 9099).
Da decisão não homologatória (Enunc. Crim. 73 do FONAJE):
1ª corrente => Não cabe recurso, por ausência de expressa previsão
legal. Nesta hipótese poderá ser manejado mandado de segurança
por ser a homologação da transação penal um direito líquido e certo
do autor do fato, quando presentes os requisitos legais e após a
aceitação pelas partes envolvidas.
2ª corrente => Cabe recurso de apelação, por ser uma decisão
interlocutória não terminativa com força de definitiva por encerrar um
incidente, aplicando-se o art. 593, II, do CPP, como autoriza o art. 92
da lei 9099/95.
OBS: O Tribunal Pleno do TJ-RS entendeu, por maioria, que o juiz
poderá não homologar a transação penal por entender não presentes
todos os seus requisitos e também por entendê-la desproporcional ao
delito praticado, podendo, neste último caso, oferecer proposta de
transação alternativa (autos nº 0274879-62.2015.8.21.7000, Data de
julgamento: 18-09-2017).
Indagação nº 15: O que acontece se a transação penal
homologada for injustificadamente descumprida?
Deve ser proposta a ação penal.
Neste sentido, a Súmula Vinculante nº 35 do STF:
“A homologação da transação penal prevista no artigo 76 da Lei
9.099/1995 não faz coisa julgada material e, descumpridas suas
cláusulas, retoma-se a situação anterior, possibilitando-se ao
Ministério Público a continuidade da persecução penal mediante
oferecimento de denúncia ou requisição de inquérito policial”.
OBS1: Antes do oferecimento da denúncia, deve ser ofertada ao

autor do fato oportunidade para se justificar.


●OBS2: Sem ação penal não pode haver conversão da pena
restritiva de direito em pena privativa de liberdade, pois esta
pressupõe a instauração de um processo penal condenatório no
qual tenham sido observados o devido processo legal, o
contraditório e a ampla defesa.
1.5.2.1. Objeto da transação penal: aplicação imediata da pena de
multa ou de pena restritiva de direitos (art. 76 da Lei 9099)

1.5.2.1.1. Pena de Multa (art. 49 do CP)


 É uma sanção pecuniária de natureza penal, que consiste no
pagamento de uma determinada quantia ao fundo penitenciário.
 Deve obedecer aos critérios gerais fixado pelo Código Penal (vide
Enunciado Criminal nº 08 do FONAJE), variando entre 10 e 360 dias-
multa, calculando cada dia em valores de 1/30 a 5 vezes o salário
mínimo, levando em consideração a situação econômica do autuado.
 Portanto, considerando o atual salário mínimo no valor de R$ 1045
reais, hoje o menor valor possível da pena de multa é R$ 348,33
(=10 x 1045/30).
 Raramente aplicada. Geralmente o MP, ao invés de enviar dinheiro
para o Fundo Penitenciário, opta pela prestação pecuniária, para
beneficiar a vítima ou entidade local sem fins lucrativos.
1.5.2.1.1. As penas restritivas de direito (art. 43 do CP)

 Prestação pecuniária (§§1º e 2º, do art. 45, do CP)


o Consiste no pagamento em dinheiro à vítima, a seus
dependentes ou a entidade pública ou privada com destinação
social, no valor não inferior a 1 sm e não superior a 360 sm.
o Tem caráter indenizatório quando destinada à vítima ou seus
dependentes.
o Sendo o delito de ação penal pública incondicionada, não pode
ser destinada à vítima que celebrou acordo de composição civil,
pois, por já ter ocorrido a reparação civil, a prestação pecuniária
não serviria como parcela dessa reparação (como determina a
parte final do §1 do art. 45 do CP) mas sim como uma forma da
vítima lucrar com o crime.
o A prestação pecuniária pode consistir em prestação de outra
natureza (§2º, do art. 45, do CP), como, por exemplo, doação do
objeto apreendido (Enunciado Criminal nº 58 do FONAJE),
doação de cestas básicas e doação de sangue.
Divergência quanto à aplicabilidade da prestação de outra
natureza, prevista no §2º, do art. 44, do CP:
 Doutrinadores como Renato Marcão e Cezar Roberto Bitencourt
entendem que a prestação de outra natureza ou inominada padece
de flagrante inconstitucionalidade, já que equivale a uma pena
indeterminada, contrariando o princípio da reserva legal albergado no
art. 1º do CP, de prestígio constitucional (art. 5º, XXXIX, da CF).
 O STF, no julgamento do Inq 272 DF (Dje 204, do dia 29.10.2009)
decidiu: “O crime investigado é daqueles que admitem a transação
penal e o indiciado cumpre os demais requisitos legais do benefício.
Embora haja controvérsia sobre a possibilidade de a prestação
pecuniária efetivar-se mediante a oferta de bens, a pena alternativa
proposta pelo Ministério Público - doação mensal de cestas básicas e
resmas de papel braile a entidade destinada à assistência dos
deficientes visuais, pelo período de seis meses - atinge à finalidade
da transação penal e confere rápida solução ao litígio, atendendo
melhor aos fins do procedimento criminal. Homologada a transação
penal”.
 Perda de bens e valores (§3º do art. 45 do CP)
o Não deve ser confundido com o confisco. Este constitui
efeito da condenação e atinge os instrumentos e o produto
do crime. Na pena em tela, os bens e valores são de
natureza e origem lícitas.
o Ocorrerá em benefício do Fundo Penitenciário, e seu valor
terá como teto – o que for maior – o montante do prejuízo
causado ou da vantagem recebida pelo agente ou por
terceiro, em consequência da prática da conduta típica.
o Raramente aplicada. Geralmente o MP, ao invés de enviar
dinheiro para o Fundo Penitenciário, opta pela prestação
pecuniária, para beneficiar a vítima ou uma entidade local.
Prestação de serviços à comunidade ou a entidades públicas (art.
46 do CP)
o Consiste no dever de prestar determinada quantidade de horas
de trabalho não remunerado e útil para a comunidade durante o
tempo livre, em benefício de pessoas necessitadas ou para fins
comunitários.
o As atividades atribuídas ao autor do fato devem guardar estreita
correspondência com as suas aptidões pessoais e não coincidir
com a sua jornada normal de trabalho, de forma a pouco alterar
a sua rotina diária.
o Entidade privada que visa lucro não pode ser beneficiada com a
pena alternativa de prestação de serviço.
o A quantidade de horas a ser trabalhada deverá guardar
proporcionalidade com o delito. Método prático: 1º) supondo que
o MP pudesse transacionar com o autor do fato uma pena
privativa de liberdade pela prática de um crime de menor
potencial ofensivo, o Promotor imagina que pena seria essa; 2º)
Depois, para definir a quant. de horas de trabalho que irá propor,
basta aplicar a proporção prevista no §3º, do art. 46, do CP - 1 h
de trabalho por cada dia dessa pena imaginária.
Interdição de direitos (art. 47 do CP)
o Proibição do exercício de cargo, função ou atividade pública,
bem como mandato eletivo;
o Proibição do exercício de profissão, atividade ou ofício que
dependam de habilitação especial, de licença ou autorização do
poder público;
o Suspensão de autorização ou habilitação para dirigir veículos;
o Proibição de frequentar determinados lugares;
o Proibição de inscrever-se em concurso, avaliação ou exames
públicos.
 Limitação de fim de semana (art. 48 do CP)
o Obrigação de permanecer aos sábados e domingos, por 5 horas
diárias, em casa de albergado ou outro estabelecimento
adequado.
o Não vem sendo aplicada. As casas de albergado estão
desaparecendo.
Audiência preliminar, para a qual autor do fato e vítima foram intimados

Autor do fato não Vítima não comparece Autor do fato e ví- Vítima não comparece (ação
comparece e, se (ação púb. incond.) tima comparecem penal priv. ou púb. cond.)
for o caso, vítima
representa Tentativa de Composição Civil dos Danos
Sem êxito ou
Com êxito, sendo o
Estão presentes os requisitos para Com êxito, sendo o delito delito de ação penal
proposta de transação penal ? de ação penal púb. incond. priv. ou púb. cond.

Não Sim Renúncia ao


Proposta de transação penal direito de oferecer
Queixa ou
O autor do fato aceitou? Representação
Não Sim
Juiz homologou?
Não Sim

Impetração de MS A transação penal foi cumprida ?


Não Sim

Propositura da Ação Penal, Intimação autor do fato


já com proposta de Sursis (exercício do contraditório)
Processual, se for o caso. Justificativa não acatada
Propositura da ação penal
Autor do fato, ainda na audiência preliminar, é citado e cientificado da AIJ designada

Propositura da Ação Penal, já com proposta de Sursis Processual,se for o caso.


1.6. A CONCILIAÇÃO (NA AIJ) PARA EVITAR A
INSTRUÇÃO CRIMINAL – transação penal
Art. 79 da Lei 9099/95: “No dia e hora designados para a
audiência de instrução e julgamento, se na fase preliminar não
tiver havido possibilidade de tentativa de conciliação e de
oferecimento de proposta pelo Ministério Público, proceder-se-á
nos termos dos arts. 72, 73, 74 e 75 desta Lei”.
No início da AIJ, presentes os requisitos, deve ser submetida
proposta de transação penal ao DENUNCIADO que,
injustificadamente, não compareceu à audiência preliminar. Aqui,
há uma exceção ao princípio da irretratabilidade da ação penal.
Enunciado Criminal nº 113 do FONAJE: “Até a prolação da
sentença é possível declarar a extinção da punibilidade do autor
do fato pela renúncia expressa da vítima ao direito de
representação ou pela conciliação”.
Enunciado Criminal nº 114 do FONAJE: “A transação penal
poderá ser proposta até o final da instrução processual”.
1.7. A CONCILIAÇÃO, NO INÍCIO DA AIJ DO JUIZADO, PARA
EVITAR A INSTRUÇÃO CRIMINAL – sursis processual
Art. 89 da Lei 9099/95: “Nos crimes em que a pena mínima
cominada for igual ou inferior a um ano, abrangidas ou não por esta
lei, o Ministério Público, ao oferecer a denúncia, poderá propor a
suspensão do processo, por dois a quatro anos, desde que o
acusado não esteja sendo processado ou não tenha sido condenado
por outro crime, presentes os demais requisitos que autorizariam a
suspensão condicional da pena”.

Indagação nº 16: Cabe suspensão condicional do processo também


nas ações penais privadas?

SIM. A 6ª Turma do STJ, ao julgar o RHC 1761 RJ 2004/0178023-2


(DJ 26/06/2006, p. 199), assentou que:
“O benefício processual previsto no art. 89, da Lei n.º 9.099/1995,
mediante a aplicação da analogia in bonam partem, prevista no art. 3.º,
do Código de Processo Penal, é cabível também nos casos de
crimes de ação penal privada”.
Indagação nº 17: Quem tem legitimidade para
propor a suspensão condicional do processo nas
ações penais privadas?
O querelante.
Item II da ementa do acórdão da 1ª Turma do STF que
julgou o HC 81720 SP, DJ 19/04/2002, p. 49 => “II -
Suspensão condicional do processo instaurado
mediante ação penal privada: acertada, no caso, a
admissibilidade, em tese, da suspensão, a legitimação
para propô-la ou nela assentir é do querelante, não,
do Ministério Público”.
Indagação nº 18: Quais os requisitos, previstos no art. 89 da Lei
9099/95, para o cabimento da suspensão condicional do processo?
 Pena mínima cominada até 1 ano (ou pena de multa alternativa – Tese nº 02,
Ed. 96, STJ - “Jur. em Teses”);
o Súmula 243 do STJ: “O benefício da suspensão do processo não é aplicável em
relação às infrações penais cometidas em concurso material, concurso formal ou
continuidade delitiva, quando a pena mínima cominada, seja pelo somatório, seja
pela incidência da majorante, ultrapassar o limite de 1 ano”.
 O acusado não estar sendo processado ou não ter sido condenado por
outro crime (condenação anterior for por contravenção penal não inviabiliza);
o Condenação anterior a pena de multa não impede a suspensão condicional do
processo (§1º, do art. 77, do CP).
o A existência de inquérito policial em curso não é circunstância idônea a obstar o
oferecimento de proposta de suspensão condicional do processo (Tese nº 07 da
Edição nº 96 da Publicação do STJ “Jurisprudência em Teses”).
 A culpabilidade, os antecedentes, a conduta social, a personalidade do
agente e os motivos / circunstâncias autorizem a concessão do
benefício (art. 77, II, do CP);
 Não ter sido o acusado beneficiado por anterior suspensão condicional
do processo nos últimos 5 anos (Tese nº 09 da Edição nº 93 da
Publicação do STJ “Jurisprudência em Teses”).
Indagação nº 19: A proibição do benefício da
suspensão do processo ao réu que responde a
outro processo criminal afronta o princípio
constitucional da presunção de inocência?

Para o STF, NÃO.


O Ministro Dias Toffoli, no HC 132.411 Pará, Dje-034
24/02/2016, lembrou que “é pacífica a jurisprudência
do Plenário do Supremo Tribunal Federal no sentido
de que a existência de processos em andamento
obsta à suspensão condicional do processo (art. 89
da Lei nº 9.099/95) e que essa restrição não ofende
o princípio da presunção de inocência (art. 5º, LVII,
CF)”
Indagação nº 20: No JECrim, em qual momento a
proposta de suspensão condicional do processo deve ser
formulada e submetida ao réu?
A proposta deve ser formulada no momento da propositura da
ação penal (por exemplo, se na audiência preliminar o autor
do fato se recusa a se conciliar, o MP, na mesma audiência, já
oferece denúncia com proposta de suspensão).
Porém, a proposta somente deve ser submetida ao réu após o
recebimento da denúncia.
●Item 3 da Ementa do acórdão da 1ª Turma do STF, que
julgou o HC 120144 BA, Dje-148 01.08.2014 => “3. No
sistema processual penal, a manifestação do acusado sobre a
proposta de suspensão condicional do processo, em
observância aos postulados constitucionais da presunção de
inocência e da ampla defesa, há de ocorrer somente após o
eventual recebimento da denúncia. Precedentes”.
Indagação nº 21: Quais as condições podem ser
exigidas do acusado durante o prazo de suspensão
do processo? (vide §1º e 2º do art. 89 da Lei 9099/95)

 Reparação do dano, salvo impossibilidade de fazê-lo;


 Proibição de frequentar determinados lugares;
 Proibição de ausentar-se da comarca onde reside, sem
autorização do Juiz;
 Comparecimento pessoal e obrigatório a juízo, para
informar e justificar suas atividades;
 Outras a serem especificadas pelo juiz, desde que
adequadas ao fato e à situação pessoal do acusado.
Exemplos: prestação pecuniária e prestação de
serviços comunitários.
 “Não há óbice a que se estabeleçam, no prudente
uso da faculdade judicial disposta no art. 89, § 2º, da
Lei 9.099/95, obrigações equivalentes, do ponto de
vista prático, a sanções penais (tais como a
prestação de serviços comunitários ou a prestação
pecuniária), mas que, para os fins do sursis
processual, se apresentam tão somente como
condições para sua incidência” (Tese nº 4 da Edição
nº 93 da Publicação do STJ “Jurisprudência em
Teses”).
 “A perda do valor da fiança constitui legítima
condição do sursis processual, nos termos do art.
89, § 2º, da Lei n. 9.099/95 (Tese nº 5 da Edição nº
93 da Publicação do STJ “Jurisprudência em
Teses”).
1.7. A revogação do benefício da suspensão
condicional do processo
 Revogação obrigatória => se, no curso do prazo, o acusado for
processado por outro crime ou, injustificadamente, deixar de
reparar o dano (§ 3º, do art. 89, da Lei 9099);
 Revogação possível => se, no curso do prazo, o acusado vier a
ser processado, por contravenção, ou descumprir qualquer outra
condição imposta (§4º, do art. 89, da Lei 9099);
 Em caso de descumprimento das condições impostas durante o
período de prova da suspensão condicional do processo, o
benefício poderá ser revogado, mesmo se já ultrapassado o
prazo legal, desde que referente a fato ocorrido durante sua
vigência (Tese 4, da ed. 96 da publicação Jurisprudência em
Teses, do STJ).
AIJ, para a qual réu, vítima e testemunhas foram intimados

Réu não comparece Vítima ou testemunha não comparecem

Revelia Condução coercitiva

Proposta Sendo cabível transação penal e Se proposta de transação Advogado apresenta


de transa- não tendo o autor do fato com- penal tiver sido formulada defesa oral (Enunc. Crim.
ção penal parecido à audiência preliminar na audiência preliminar Nº 53 do FONAJE)
Se o réu não aceitou

Não sendo cabível sursis processual Juiz recebe a denúncia Juiz não
recebe a
Havendo proposta de sursis processual, denúncia
o réu aceitou?
Não Sim

Início da Juiz homologa, podendo acrescentar outras condições


instrução
réu cumpre todas No curso do prazo de suspensão, o réu
as condições durante o volta a ser processado criminalmente ou
período de suspensão descumpre alguma condição imposta

Extinção da Punibilidade (§ 5º, do art. 89, da Lei 9099), não Revogação da Suspensão
podendo o benefício ser valorado em desfavor do réu
como maus antecedentes, personalidade do agente e Designação de nova AIJ,
conduta social (Tese 8, Ed, 96, Jurisp. em Teses - STJ) para dar início à instrução
 INFRAÇÕES PENAIS DE MÉDIO POTENCIAL OFENSIVO

 Identificação => as que a lei comina pena mínima até 1 ano


e pena máxima superior a dois anos.
 Competência => Cabe ao Juízo Penal Comum a conciliação e o
julgamento dos crimes de médio potencial ofensivo.
 Momento de propor a suspensão condicional do processo => Já
na peça de denúncia;
 Momento de, no Juízo Penal Comum, submeter, ao acusado
por crime de médio potencial ofensivo, proposta de
suspensão condicional do processo, para evitar a instrução
criminal => Após a apreciação pelo juiz da resposta por
escrito prevista no art. 396 do CPP, uma vez que, nela,
poderá ser alegada alguma causa de absolvição sumária e é
mais benéfico ao réu ser sumariamente absolvido do que
cumprir as condições fixadas pelo período da suspensão do
processo.
 INFRAÇÕES PENAIS PASSÍVEIS DE ACORDO DE NÃO
PERSECUÇÃO PENAL – ANPP (art. 28-A DO CPP)
3.1. IDENTIFICAÇÃO => As que tem pena mínima inferior a quatro
anos e não são praticadas mediante violência ou grave ameaça.
3.2. A (IN)CONSTITUCIONALIDADE DE ANPP QUANDO ERA
DISCIPLINADO APENAS POR RESOLUÇÃO DO CNMP
Argumentos pela constitucionalidade:
 O CNMP pode expedir regulamentos autônomos, desde que
destinados a regulamentar diretamente a aplicação de princípios
constitucionais, ostentando suas resoluções caráter normativo
primário (neste sentido, o STF decidiu quanto às Resoluções do
CNJ – vide ADC 12 MC, DJ 01-09-2006).
 O art. 18 da Res. 181/17-CNMP, quando regulamentava
autonomamente o ANPP (quando ainda não vigorava o art. 28-A do
CPP), tão somente dava concretude aos seguintes princípios
constitucionais: acusatório (art. 129, I e VI), eficiência (art. 37,
caput), proporcionalidade (art. 5º, LIV) e celeridade (art. 5º,
LXXVIII).
 O ANPP:
o Não tem natureza processual, pois é celebrado em procedimento
administrativo, sem exercício da pretensão punitiva por meio de
denúncia;
o Não tem natureza penal, pois não impõe penas, apenas direitos e
obrigações de natureza negocial, de maneira que o investigado
somente cumpre as referidas obrigações se quiser, não existindo a
possibilidade do cumprimento forçado. Descumprido o acordo, faz-
se necessário o oferecimento de denúncia, com plena instrução
processual para a aplicação de pena (neste sentido, se diferencia
do plea bargain do direito anglo-saxão, no qual se aplica uma
pena, que é executada sem necessidade de instrução processual);
o Tem natureza de negócio jurídico extrajudicial, no qual o Ministério
Público veicula uma política criminal regrada pelo CNMP,
buscando respostas mais céleres e adequadas aos casos penais
de menor gravidade, no exercício do seu poder/dever de escolher
as prioridades na concretização da persecução penal.
o Não viola o princípio da obrigatoriedade penal, que não
obriga a propositura da ação penal sempre que haja
provas da materialidade e indícios fortes de autoria,
mas apenas:
o Impede que o MP, sem justa causa, abra mão de dar
uma resposta às investigações penais maduras e
viáveis (o que é bastante diferente de obrigá-lo a ser
um acusador cego e autômato);
o Pretende evitar o favoritismo e o protecionismo,
deixando claro que o MP não pode conceder favores
ilegítimos para determinadas pessoas;
Francisco Dirceu Barros entende que, ao invés de
violar, o acordo de não persecução penal faz é
concretizar o princípio da obrigatoriedade penal, na
medida em que fornece uma resposta mais eficiente e
célere aos casos penais.
Argumentos pela inconstitucionalidade formal:
 É insustentável a alegação de que a Resolução CNMP nº
181/2017 não usurpou a competência privativa da União de
legislar sobre direito processual (art. 22, I, da CF) pelo fato de ter
tão somente regulado um negócio jurídico extraprocessual, pois,
embora celebrado durante a fase de investigação, o ANPP versa
sim sobre processo penal, na medida em que:
o Envolve a renúncia ou o exercício negativo de direitos
fundamentais pelo investigado (este deve abrir mão da garantia contra a
autoincriminação e confessar circunstancialmente a prática da infração penal); e
o É submetido ao controle judicial (vide § 5º e 6º do art. 18 da
Resolução em tela)
 Se não versasse sobre direito processual, no mínimo teria que se
admitir que a resolução em tela versa sobre procedimentos em
matéria processual, afetos à atuação de membros do MP e de
magistrados (os § 5º e 6º do art. 18 da resolução emana regras
para juízes), o que afrontaria o art. 24, XI, da CF, que confere
competência concorrente à União, Estados e ao DF (e nunca ao
CNMP) de legislar concorrentemente sobre procedimentos em
matéria processual.
3.2. PRESSUPOSTO PARA A FORMALIZAÇÃO DO ANPP
Investigação de uma infração penal (crime ou contravenção) com pena
mínima inferior a 4 anos (considerando as causas de aumento e
diminuição), praticada sem violência ou grave ameaça.

3.3. REQUISITOS PARA A FORMALIZAÇÃO DO ANPP


• O investigado deve confessar formal e circunstancialmente a prática
de infração penal;
• O ANPP deve ser “necessário e suficiente para reprovação e
prevenção do crime”;
• Não pode:
o Ser cabível transação penal;
o O investigado: (i) ser reincidente; (ii) nos 5 anos anteriores ao cometimento
da infração ter sido beneficiado por ANPP, transação penal ou suspensão
condicional do processo;
o O crime (não inclui contravenção) ter sido praticado no âmbito de violência
doméstica ou familiar, ou praticados por homem contra a mulher por razões
da condição de sexo feminino.
o Existir elementos probatórios que indiquem conduta criminal habitual,
reiterada ou profissional, exceto se insignificantes as infrações penais
pretéritas;
3.4. CONDIÇÕES LEGAIS, CUMULATIVAS E
ALTERNATIVAS, PARA A FORMALIZAÇÃO DO ANPP
a) Reparação do dano ou a restituição da coisa à vítima,
exceto na impossibilidade de fazê-lo;
b) Renúncia voluntária a bens e direitos indicados pelo MP,
como instrumentos, produto ou proveito do crime;
• O destinatário será o Fundo Nacional de Segurança
Pública (art. 3º., VI, da Lei nº. 13.756/18);
• Há um verdadeiro confisco de bens sem que tenha havido
uma sentença penal condenatória definitiva, como exige o
art. 91, II, CP;
c) Prestação de serviço à comunidade ou a entidades
públicas, por período correspondente à pena mínima
cominada ao delito, diminuída de 1/3 a 2/3, em local a ser
indicado pelo Juízo da Vara de Execuções Penais
(art. 46 CP);
d) Pagamento de prestação pecuniária a entidade pública ou de
interesse social, a ser indicada pelo Juízo da Vara de
Execuções Penais, que tenha, preferencialmente, como função
proteger bens jurídicos iguais ou semelhantes aos
aparentemente lesados pelo delito;
 A prestação pecuniária não pode ter como beneficiária a
vítima ou os seus dependentes.
e) Outra condição indicada pelo MP, a ser cumprida em prazo
determinado, e desde que proporcional e compatível com a
infração penal imputada; o caso concreto dirá qual a condição
melhor para ser acertada, cuidando-se para que condições
draconianas e impraticáveis não sejam propostas,
inviabilizando o acordo.
OBS: Para dar sentido à parte final do art. 28-A do CPP
(“mediante as seguintes condições ajustadas cumulativa e
alternativamente”), deve-se considerar obrigatórias, quando
possíveis, as condições “a” e “b” supra, a serem cumuladas com
uma ou mais das outras condições (“c”, “d”, “e”).
3.5. DÚVIDAS EM TORNO DO ANPP
3.5.1. ANPP e inquérito policial
Chegando ao MP um IP maduro para o oferecimento de
denúncia e que tenha por objeto a apuração de delito passível do
acordo, o Promotor deverá comunicar-se com o investigado para
propor o acordo. Caso exista interesse do investigado, deverá ser
designada uma audiência extrajudicial na sede da Promotoria, na
qual o investigado deverá confessar circunstancialmente a prática da
infração penal.
Como o IP é remetido ao MP já autuado no sistema do TJ, os
atos a serem praticados a partir dessa remessa (inclusive os
tendentes à celebração do acordo) devem ser registrados nestes
mesmos autos do IP, sendo prescindível a autuação de um PIC
(Procedimento de Investigação Criminal) pelo MP.
Uma das diretrizes da Resolução 181/17-CNMP, que continua
vigendo na parte que não conflita com o art. 28-A do CPP, é
desburocratizar e acelerar os atos pré-processuais, de modo que não
há qualquer nulidade na celebração do acordo de não persecução no
bojo do próprio inquérito policial.
3.5.2. ANPP e homologação judicial

Uma vez celebrado o ANPP entre o MP e o investigado, os


autos do IP ou do PIC serão conclusos ao juiz, que, verificando a
presença dos pressupostos e dos requisitos legais:
 Se considerar as condições do ANPP (i) inadequadas, (ii)
insuficientes) ou (iii) abusivas => devolverá os autos ao MP para a
formalização de um novo ANPP;
 Se considerar as condições do ANPP (i) adequadas, (ii) suficientes e
(iii) razoáveis => designará a audiência especial prevista no §4º do
art. 28-A do CPP, para constatar se o ANPP foi firmado
voluntariamente, sem coação. Constatada a voluntariedade, serão
praticados, sucessivamente, os seguintes atos: 1º) o juiz homologa;
2º) MP, investigado e eventual vítima são intimados da
homologação; 3º) os autos são enviados ao juízo de execução
penal, para que lá seja executado o ANPP.
Recusada a homologação, os autos serão devolvidos ao MP
para (i) complementação das investigações ou (ii) oferecimento da
denúncia.
3.5.3. ANPP e a ação privada subsidiária da pública
A celebração do acordo não autoriza o ajuizamento de ação penal
subsidiária da pública, uma vez que o pressuposto dessa ação penal é
a inércia do MP e o acordo constitui um claro impulso.

3.5.4. ANPP e audiência de custódia


O ANPP não deverá ser proposto no mesmo ato jurídico da
audiência de custódia (mesmo porque, nesse ato específico, não se
pode realizar perguntas sobre o mérito do caso penal - vide art. 8º, VIII
e §1º da Res. 213/15-CNJ), mas poderá sim o MP aproveitar a
presença física do acuado e de seu advogado para, em ato separado
da audiência de custódia, mas na mesma oportunidade, propor uma
solução consensual para o caso.
Inquérito Policial ou PIC

Não sendo caso de arquivamento, a infração penal, com pena mínima


Oferecimento inferior a 4 anos, foi praticada sem violência ou grave ameaça?
da Não Pressuposto
denúncia Sim

 Aplica-se a Lei Maria da Penha?


 O investigado (i) é reincidente; (ii) nos 5 anos anteriores ao cometimento da
da infração foi beneficiado por ANPP, transação penal ou susp.cond.proc.?
 Com exceção das infrações insignificantes, há elementos de prova que
indiquem conduta criminal habitual, reiterada ou profissional ?

Sim Não Requisitos Negativos

solicitação de audiência Cabe transação penal?


Preliminar no JECrim Sim
Não
O ANPP é necessário e suficiente para reprovar e prevenir o crime?
 O investigado concorda em confessar a prática da infração penal?
Não Sim Requisitos Positivos

MP propõe ANPP, definindo as condições a serem cumpridas pelo investigado


MP propõe ANPP, definindo as condições a serem cumpridas pelo investigado

O investigado aceitou a proposta de ANPP?


Oferecimento da denúncia Não Sim

Juiz constatou a presença do pressuposto e dos requisitos?

ANPP não é homologado e os autos são devolvidos Não


ao MP para denunciar ou solicitar mais diligências
Sim
Juiz entendeu que as condições acordadas são adequadas, suficientes e razoáveis?

ANPP não é homologado e os autos são devolvidos Não


ao MP para propor ANPP com outras condições
Sim
Realização de audiência especial para ouvir o investigado
Juiz constata a voluntariedade do acordo Juiz não constata a voluntariedade do acordo

ANPP é homologado. MP, investigado ANPP não é homologado e os autos


e eventual vítima devem são devolvidos ao MP para denunciar
ser intimados da homologação ou solicitar mais diligências

Autos são encaminhados ao Juízo de Execução Penal.


CLASSIFICAÇÃO DAS INFRAÇÕES PENAIS

Passíveis de Acordo de Não Persecução Penal (pena mínima inferior


a 4 anos, sem violência ou grave ameaça à pessoa, não sendo crime
hediondo e não incidindo a Lei 11.340)
De Menor Potencial Ofensivo (pena máxima até 2 anos - art. 61, Lei
9099 + interpretação ampliativa do STJ.
De Médio Potencial Ofensivo (pena máxima acima de 2 anos e pena
mínima até 1 ano).
De Maior Potencial Ofensivo (pena máxima acima de 2 anos e pena
mínima acima de 1 ano).
Crimes hediondos (indicadas taxativamente pelo legislador).

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