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O dilema do sofrimento
humano

Não há nada de externo que garanta ausência emocional devido a problemas no trabalho,
de sofrimento. Mesmo quando nós, seres hu- nos relacionamentos, com os filhos e com as
manos, temos todas as coisas que tipicamente transições naturais que a vida apresenta a to-
usamos para medir o sucesso externo – ótima dos nós (Kessler et al., 2005). Em âmbito na-
aparência, pais amorosos, filhos incríveis, se- cional, existem aproximadamente 20 milhões
gurança financeira, um cônjuge atencioso –, de alcoolistas (Grant et al., 2004); dezenas de
isso pode não ser suficiente. Os seres huma- milhares de pessoas cometem suicídio a cada
nos podem estar aquecidos, bem alimentados, ano, e inúmeras outras tentam, mas falham
fisicamente bem – e ainda assim podem se (Centers for Disease Control and Prevention,
sentir infelizes. Podem desfrutar de várias for- 2007). Estatísticas como essas se aplicam não
mas de excitação e entretenimento desconhe- só àqueles que foram massacrados ao longo
cidas no mundo não humano e fora de alcance de décadas na vida, mas igualmente a ado-
para quase todos, exceto uma pequena fração lescentes e jovens adultos. Quase metade da
da população – TVs de alta definição, carros população em idade universitária satisfazia
esportivos, viagens exóticas para o Caribe –, os critérios para pelo menos um diagnóstico
e mesmo assim experimentam sofrimento relacionado ao Manual diagnóstico e estatísti-
psicológico excruciante. Todas as manhãs um co de transtornos mentais (DSM) recentemente
empresário de sucesso chega ao seu escritório, (Blanco et al., 2008).
fecha a porta e silenciosamente abre a última Se quiséssemos recorrer aos números para
gaveta da escrivaninha em busca de uma gar- documentar a universalidade do sofrimento
rafa de gim escondida. Todos os dias um ser humano no mundo desenvolvido, poderíamos
humano que tem todas as vantagens possíveis fazer isso quase indefinidamente. Terapeutas
e imagináveis pega uma arma, carrega com e pesquisadores com frequência mencionam
uma bala, gira o tambor e aperta o gatilho. tais estatísticas em inúmeras áreas-problema
Os psicoterapeutas e os pesquisadores do quando discutem a necessidade de mais clíni-
campo aplicado estão familiarizados com as cos, de mais financiamento para programas
sombrias estatísticas que documentam essas de saúde mental ou maior apoio à pesquisa
realidades. As estatísticas americanas, por psicológica. Ao mesmo tempo, profissionais
exemplo, mostram que as taxas de prevalên- e também o público leigo parecem não perce-
cia de transtornos mentais ao longo da vida ber a mensagem maior que essas estatísticas
estão atualmente beirando os 50%, embora comunicam quando tomadas no seu conjun-
ainda mais pessoas apresentem sofrimento to. Se somarmos todos aqueles humanos que

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estão ou já estiveram deprimidos, dependen- mos ver a coisificação e a desumanização em


do de substâncias, ansiosos, irritados, auto- termos éticos ou políticos – como se precon-
destrutivos, alienados, preocupados, com- ceito e estigma fossem estritamente atributos
pulsivos, trabalhando em excesso, inseguros, dos ignorantes ou imorais entre nós, e não dos
terrivelmente tímidos, divorciados, evitando leitores e escritores de livros como este. Há um
intimidade e estressados, somos levados a “elefante na sala” que ninguém parece admitir.
chegar a uma conclusão alarmante, ou seja, É difícil termos compaixão por nós mesmos e
a de que o sofrimento psicológico é uma carac- pelos outros. É difícil ser um ser humano.
terística básica da vida humana.
Os seres humanos também infligem sofri-
mento uns aos outros continuamente. Pense NORMALIDADE SAUDÁVEL:
em como é fácil coisificar e desumanizar os ou- O PRESSUPOSTO
tros. A comunidade mundial está literalmente
atordoada e cambaleante sob o peso da coisifi- SUBJACENTE DO
cação, com seus respectivos custos humanos e MAINSTREAM PSICOLÓGICO
econômicos. Somos lembrados desse triste fato
cada vez que temos de nos despir parcialmente A comunidade da saúde mental tem testemu-
para entrar em um avião ou colocar nossos per- nhado e gerado a “biomedicalização” da vida
tences em uma esteira rolante para podermos humana. A civilização ocidental praticamente
entrar em um prédio do governo. As mulheres cultua a ausência de sofrimento físico ou men-
recebem quase um quarto a menos de remu- tal. As maravilhas da medicina moderna “con-
neração do que os homens quando executam venceram as pessoas de que a cura era a causa
o mesmo trabalho. Minorias étnicas frequen- da saúde” (Farley & Cohen, 2005, p. 33) – não
temente encontram dificuldades para pegar somente a saúde física, mas todas as suas for-
um táxi nas grandes cidades. Arranha-céus mas. Pensamentos, sentimentos, lembranças
são atacados por terroristas em aviões como ou sensações físicas penosas passaram a ser
um símbolo do que é odiado; em retaliação, encarados predominantemente como “sinto-
bombas são jogadas do alto porque aqueles que mas”. Considera-se que ter determinado tipo
são considerados maus podem estar vivendo lá e número deles significa que você tem algum
embaixo. As pessoas não apenas sofrem; elas tipo de anormalidade ou mesmo algum tipo de
infligem sofrimento na forma de preconceito, doença. Os rótulos com frequência mascaram
discriminação e estigma de forma tal que isso o papel significativo que o comportamento
parece tão natural quanto respirar. e o ambiente social desempenham na deter-
Nossos modelos subjacentes mais popu- minação da saúde física e mental das pessoas.
lares de saúde e patologia psicológica pratica- Pessoas que costumavam ter desconforto de-
mente não abordam o sofrimento humano e sencadeado por ingerirem refeições pesadas
sua imposição aos outros como problemas hu- associadas a alimentos gordurosos hoje sim-
manos gerais. As ciências comportamentais e plesmente têm distúrbios que requerem que
médicas ocidentais parecem ter uma miopia tomem um comprimido lilás. A falta de sono
bem desenvolvida para verdades que não se que deriva das escolhas comportamentais não
encaixam perfeitamente em seus paradigmas saudáveis que as pessoas fazem em uma socie-
adotados. Apesar das evidências esmagadoras dade alerta 24 horas por dia, 7 dias da sema-
em contrário, nós também rapidamente con- na, é tratada como um transtorno que pode ser
ceituamos o sofrimento humano por meio de temporariamente atenuado por equipamento
rótulos diagnósticos como se ele fosse um pro- de pressão positiva contínua nas vias aéreas
duto de desvios da norma biomédica. Preferi- (CPAP) ou por uma das novas medicações para

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o sono que, juntos, produzem vendas equiva- mais se encontram na raiz dos transtornos men-
lentes a muitos bilhões de dólares. A mensa- tais e físicos. Esses pressupostos florescem e se
gem de que problemas psicológicos devem em transformam em pensamento e diagnóstico
geral ser tratados de forma muito semelhante à sindrômico. A identificação de síndromes –
que trataríamos uma doença médica se esten- conjuntos de sinais (coisas que o observador
de até mesmo ao fornecimento de água da so- pode ver) e sintomas (coisas das quais a pes-
ciedade ocidental contemporânea – na medida soa se queixa) – é o primeiro passo habitual
em que existem quantidades consideráveis de na identificação de uma doença. Doenças são
antidepressivos em nossos rios e até nos pei- entidades funcionais, ou seja, são distúrbios
xes que comemos (Shultz et al., 2010)! Mesmo da saúde com uma etiologia conhecida, curso
quando são prescritas adequadamente, tais e resposta ao tratamento. Depois que as sín-
medicações causam um impacto clinicamente dromes são identificadas, inicia-se a busca
significativo superior ao placebo somente nos para encontrar os processos anormais que são
casos mais extremos (Fournier et al., 2010; considerados a origem desse grupo particular
Kirsch et al., 2008), os quais são muito poucos de resultados e para encontrar maneiras de
para chegar a afetar o abastecimento de água, alterar esses processos a fim de modificar os
caso as drogas fossem prescritas unicamente resultados indesejáveis.
com base no mérito científico. Esses pressupostos e as estratégias diag-
A ideia de que o sofrimento é mais bem nósticas que eles geram são, de modo geral,
descrito em termos de uma normalidade bio- sensíveis dentro da área da saúde física, em-
neuroquímica tem outro lado atraente em sua bora mesmo ali tenham limitações notáveis.
superfície, isto é, que saúde e felicidade são os Afinal de contas, saúde não é meramente a
estados de homeostase natural da existência ausência de doença (Organização Mundial da
humana. Esse pressuposto da normalidade sau- Saúde, 1947), e sintomas médicos como febre,
dável se encontra no cerne das abordagens mé- tosse, diarreia ou vômitos têm funções adap-
dicas tradicionais da saúde física. Se levarmos tativas que podem ser negligenciadas quando
em conta o sucesso relativo da medicina física, o foco é voltado unicamente para os sintomas,
não causa surpresa que a comunidade de saú- e não para suas possíveis funções (Trevathan,
de comportamental e mental também tenha McKenna, & Smith, 2007). Ainda assim, den-
adotado esse pressuposto. A concepção tradi- tro de limites amplos, o pressuposto da nor-
cional de saúde física é simplesmente ausência malidade saudável funciona na medida em
de doença. Considera-se que, deixado por sua que a estrutura do corpo humano parece estar
conta, o corpo está propenso a ser saudável, projetada para oferecer um grau razoável de
mas que a saúde física pode ser perturbada saúde física como resultado natural da evo-
por infecções, lesões, toxicidade, pelo declínio lução biológica. Se determinados humanos
na capacidade física ou por desequilíbrios nos não têm os genes adequados para uma saú-
processos físicos. Igualmente, pressupõe-se de física suficiente para assegurar o sucesso
que os seres humanos são inerentemente fe- reprodutivo, com o tempo a evolução geral-
lizes, estão conectados com os outros, são al- mente elimina esses genes ou sua expressão.
truístas e estão em paz consigo mesmos – mas Sinais e sintomas físicos com frequência têm
que esse estado típico de saúde mental pode ser sido úteis como guias para a identificação de
perturbado por determinadas emoções, pensa- doença. A seleção natural, de modo geral, ga-
mentos, lembranças, eventos históricos ou es- rante que o desenvolvimento estrutural de um
tados do cérebro. organismo sirva às suas funções de autopre-
Um corolário para o pressuposto da nor- servação e reprodutivas. Portanto, desvios na
malidade saudável é o de que processos anor- estrutura costumam indicar anomalia e com

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frequência são úteis na identificação de do- a história – e estamos prestes a encontrar o


enças específicas. Por exemplo, no começo da gene, o neurotransmissor ou o neuromodu-
epidemia de HIV/aids, formas extremamente lador responsável pela etiologia da doença
raras de câncer levaram os pesquisadores a psiquiátrica. Com o passar das décadas, aque-
focar em um subgrupo particular de pessoas, les com melhor memória deverão constatar a
o que, por sua vez, simplificou a descoberta legitimidade de seu ceticismo original. Uma
do vírus. A seleção natural, de forma isolada, rápida consulta à listagem de doenças da Or-
não garante uma conexão tão próxima entre a ganização Mundial da Saúde (OMS) vai des-
forma e a função do comportamento, e a es- mascarar a história, mostrando a miragem
tratégia diagnóstica biomédica corre o risco que ela é. Nenhuma das síndromes mais co-
de ultrapassar os limites quando aplicada ao muns de saúde mental conseguiu satisfazer
sofrimento psicológico. nem mesmo os critérios mais básicos para ser
legitimamente considerada como um estado
patológico – mesmo transtornos graves como
O MITO DA DOENÇA as esquizofrenias ou os transtornos bipolares.
PSIQUIÁTRICA Cada nova edição do DSM até o momento
contém uma abundância de “novas” condi-
Nossa abordagem atual do sofrimento psicoló- ções, subcondições e dimensões da patologia
gico está baseada na ideia de que o exame das mental. A versão preliminar do DSM-5 deixa
características topográficas (i.e., sinais, sinto- claro que essa tendência expansionista ainda
mas e agrupamentos destes) leva a entidades perdura. Uma parte crescente da população
patológicas verdadeiramente funcionais que humana continuará a ser inserida no âmbito
abarcam por que essas características surgem e da nosologia psiquiátrica dominante. O ex-
como melhor alterá-las. O campo da psicopato- pansionismo diagnóstico seria aceitável se
logia foi dominado completamente por esses aumentasse a eficácia global do nosso sistema
pressupostos e pelas estratégias analíticas re- de saúde mental – mas isso não acontece. Em
sultantes. Poucos psicólogos e psiquiatras pes- vez disso, confrontamo-nos com uma Torre
quisadores parecem ser capazes de evitar ado- de Babel clássica, na qual novas dimensões,
tá-los. Seja como for, as doenças psiquiátricas conceitos e listas de sintomas são aglutinados
são, na verdade, mais mito do que realidade. formando uma nosologia com funcionamento
Dada a extraordinária atenção direciona- deficiente para disfarçar as falhas do empreen-
da para o modelo da anormalidade dentro da dimento em geral (veja Frances, 2010).
psicologia e da psiquiatria, é de causar sur- São inúmeras as deficiências no sistema
presa observar que não foi feito praticamen- diagnóstico atual, e abordaremos aqui ape-
te nenhum progresso no estabelecimento das nas algumas delas. As taxas de “comorbidade”
síndromes de saúde mental como entidades entre os transtornos são tão altas que desafiam
patológicas legítimas (Kupfer, First, & Re- a integridade da definição básica de todo o sis-
gier, 2002). Depois de relatar o desgastado e tema. Por exemplo, os transtornos depressi-
antiquado exemplo de paresia geral, não há vos maiores têm taxas de comorbidade que se
praticamente nenhuma outra história de su- aproximam de 80% (Kessler et al., 2005). Tais
cesso para contar. De forma lamentável, essa taxas espantosamente altas representam mais
ausência de sucesso não impede que os cien- um sistema diagnóstico deficiente do que a ca-
tistas continuem insistindo que essas síndro- racterização de uma verdadeira “comorbida-
mes psicológicas em breve irão representar de”. Além do mais, a utilidade do tratamento
entidades patológicas distintas. Neste mo- (Hayes, Nelson, & Jarret, 1987) dessas cate-
mento, estamos progredindo – como mostra gorias é extremamente baixa, uma vez que os

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mesmos tratamentos funcionam com mui- qualidade de vida. No entanto, os estudantes


tas síndromes (Kupfer et al., 2002). Essa ob- de psicopatologia são devidamente treinados
servação compromete o propósito funcional para conhecer praticamente todas as carac-
principal do diagnóstico, isto é, o aumento da terísticas de praticamente todas as catego-
eficácia das decisões de tratamento. O sistema rias de síndromes. Periódicos de pesquisa em
descarta formas importantes de sofrimento psicologia e psiquiatria clínica contêm muito
psicológico (problemas de relacionamento, pouco além de pesquisas sobre as síndromes;
crises existenciais, dependências comporta- na maioria dos países que financiam a ciência
mentais, etc.), e até mesmo seus defensores da saúde mental, o custeio é quase inteira-
concordam que algumas vezes ele parece pa- mente dedicado ao estudo dessas síndromes.
tologizar processos normais na vida, como O problema não é apenas o foco no pensa-
luto, medo ou tristeza (Kupfer et al., 2002). mento sindrômico. A psicologia positiva, por
Em contextos do sistema de saúde mental exemplo, redireciona nosso foco por meio do
pré-pago (em que “diagnosticar” para receber estudo dos pontos fortes e das virtudes que pos-
a cobertura do seguro não é mais necessá- sibilitam que as comunidades e os indivíduos
rio), a grande maioria dos clientes que rece- prosperem. Assim, isso repercute de muitas
bem tratamento psicológico não tem nenhu- formas com a abordagem que desenvolvemos
ma condição diagnosticável (Strosahl, 1994). e defendemos neste livro. A psicologia positiva,
Mesmo que os clientes recebam um rótulo no entanto, não poderá resolver integralmente
como “transtorno de pânico com agorafobia” as dificuldades profundas inerentes ao sistema
ou “transtorno obsessivo-compulsivo”, ainda atual até que explore os processos dimensionais
assim a terapia terá que abordar outros pro- centrais que criam os padrões do sofrimento
blemas, como emprego, filhos, relacionamen- humano que vemos bem à frente dos nossos
tos, identidade sexual, carreira, raiva, tristeza, olhos. Ou seja, precisamos de uma explicação.
problemas com álcool ou o sentido da vida. O sistema clínico tem abordado a área de
Tragicamente, à medida que a visão do so- saúde mental especificamente, e o sofrimen-
frimento humano do DSM tem-se expandido to humano em geral, usando o pressuposto da
pelo mundo e tem cada vez mais patologizado normalidade saudável; em consequência, ele
as dificuldades humanas normais, a capacida- encara os estados mentais de sofrimento como
de das culturas não ocidentais de lidar com o sinais de transtorno e de doença. Se essa estra-
sofrimento de uma maneira que mantenha tégia tivesse conduzido a formas muito mais
o funcionamento comportamental e social de- efetivas de psicoterapia, haveria poucas razões
caiu, em vez melhorar (Watters, 2010). para fazermos alguma objeção. “Sim”, podería-
Um foco na síndrome nos levou a desen- mos então dizer, “o sofrimento humano é uni-
volver abordagens de tratamento que enfati- versal, mas precisamos deixar isso para o padre,
zam excessivamente a redução dos sintomas o pastor ou o rabino. Nosso trabalho é tratar e
e minimizam os marcadores funcionais e prevenir as síndromes clínicas. Afinal de contas,
positivos de saúde mental. Com frequência, isso é o que os nossos clientes querem. E nós fa-
os efeitos generalizados da psicoterapia no zemos isso muito bem, na verdade”.
status funcional e na qualidade de vida são pe- Mas não podemos fazer essa afirmação.
quenos, e os efeitos mais marcantes tendem Embora o campo tenha desenvolvido trata-
a ser observados com medidas da gravidade mentos razoavelmente efetivos para os “trans-
dos sintomas. As reduções na frequência e na tornos mentais” mais comuns, os tamanhos
gravidade dos sintomas estão apenas mode- dos seus efeitos são modestos, e na maioria
radamente relacionadas à melhora no funcio- das áreas há anos não ocorre aumento apre-
namento social ou a medidas mais amplas da ciável nos tamanhos dos efeitos. A revolução

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da assistência baseada em evidências tem O objetivo de validar essas síndromes e


revelado esse problema repetidamente, mas de descobrir as etiologias comuns per-
poucos integrantes da comunidade científica manece difícil de definir. Apesar dos
parecem estar prestando atenção. Enquanto muitos candidatos propostos, nenhum
as verbas continuarem a ser transferidas para marcador laboratorial provou ser especí-
fico na identificação de qualquer síndro-
as universidades ou os institutos de pesquisa,
me definida pelo DSM. (p. xviii)
todos estarão satisfeitos. Enquanto as revistas
científicas focarem com tanta determinação Estudos epidemiológicos e clínicos apre-
no modelo de doença, ninguém vai perceber. sentaram taxas extremamente altas de
A maioria dos clínicos experientes irá comorbidades entre os transtornos, com-
prontamente expressar seu profundo ceticis- prometendo a hipótese de que as sín-
dromes representam etiologias distin-
mo acerca do sistema diagnóstico atual e a
tas. Além disso, estudos epidemiológicos
sua opinião de que a ênfase em tratamentos mostraram alto grau de instabilidade no
baseados nos transtornos é insuficiente em diagnóstico de curto prazo para muitos
alguns aspectos muito importantes. Os pro- transtornos. No que diz respeito ao trata-
fissionais, de modo geral, percebem a discre- mento, a falta de especificidade é a regra,
pância entre o que foi prometido e o que foi e não a exceção. (p. xviii)
realizado. Os clínicos frequentemente suge-
Muitas, se não a maioria, das condições e
rem que a visão acadêmica está muito mais sintomas representam um excesso pato-
preocupada com a forma dos problemas de lógico arbitrariamente definido de com-
saúde mental e insuficientemente interessada portamentos normais e processos cogniti-
nas funções que esses comportamentos têm vos. Esse problema levou à crítica de que
na vida do cliente. Outros críticos apontam a o sistema patologiza experiências comuns
aparente desconexão entre o tratamento clíni- da condição humana. (p. 2)
co de um transtorno particular e as influências A adoção servil, por parte dos pesquisa-
sociais, culturais e contextuais que conferem dores, das definições do DSM-IV pode ter
significado aos sintomas. atrapalhado a pesquisa sobre a etiologia
Até mesmo os pais da nosologia psiquiátri- dos transtornos mentais. (p. xix)
ca estão começando a questionar a abordagem
A reificação das entidades do DSM-IV,
sindrômica. Quando fazemos palestras sobre
a ponto de serem consideradas equiva-
os problemas inerentes à abordagem sindrô- lentes a doenças, mais provavelmente irá
mica, algumas vezes omitimos a procedência obscurecer do que elucidar os resultados das
das citações que apresentaremos a seguir e en- pesquisas. (p. xix)
tão pedimos que a plateia dê um palpite sobre
a fonte. Em geral, alguém na plateia imedia- Todas essas limitações no paradigma
diagnóstico atual sugerem que pesquisas
tamente grita “Você!”, mas isso está incorre-
exclusivamente focadas no refinamento
to. As considerações a seguir são extraídas do das síndromes definidas pelo DSM podem
relatório do comitê de planejamento da Asso- nunca ter sucesso em descobrir suas etio-
ciação Americana de Psiquiatria para a quinta logias subjacentes. Para que isso aconteça,
versão do DSM (Kupfer et al., 2002) – a mes- será necessário que ocorra uma mudança
ma organização (atuando na mesma tradição) para um paradigma ainda desconhecido.
que construiu a Torre de Babel em que esta- (p. xix)
mos vivendo. O relatório dificilmente poderia
ser mais condenatório. Acrescentamos itálico Apesar da honestidade do relatório do grupo
para destacar algumas das confissões mais de trabalho, o lançamento da versão do DSM-5
perturbadoras: mostra claramente que aqueles que controlam

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nossa nosologia psiquiátrica ainda não resolve- Mesmo quando está presente uma disfunção
ram esses problemas (Frances, 2010). fisiológica (como no diabetes ou na epilepsia,
O grupo de trabalho estava correto em por exemplo), a máxima de que “O bom médico
sua percepção de que se faz necessária uma trata a doença; o ótimo médico trata o paciente
abordagem verdadeiramente nova. Este li- que tem a doença” é uma doutrina sólida.
vro aborda como promover uma mudança de A observação anterior não significa que
paradigma necessária – em nossos clientes, não existam processos anormais. Eles eviden-
em nossa área e em nós mesmos. Essa mu- temente existem. Se uma pessoa sofre uma le-
dança é em parte presuntiva, comportamen- são cerebral e se comporta estranhamente em
tal e experimental, mas é também intelectual. consequência disso, esse comportamento não
O campo necessita de um modelo transdiag- é atribuído unicamente a processos psicológi-
nóstico unificado que esteja ligado a um esfor- cos normais (muito embora esses processos
ço científico mais amplo de criar uma psicolo- ainda possam ser relevantes ao se lidar com as
gia mais útil e integrada (veja também Barlow, consequências do dano cerebral).
Allen, & Choate, 2004). A mesma observação pode algum dia se
mostrar verdadeira para esquizofrenia, au-
tismo, transtorno bipolar, etc., embora as
A PERSPECTIVA DA reais evidências para uma etiologia orgânica
TERAPIA DE ACEITAÇÃO simples nessas áreas sejam muito limitadas,
conforme demonstrado pela ausência de mar-
E COMPROMISSO cadores biológicos específicos e sensíveis para
A abordagem descrita neste livro é denomi- essas condições (veja a primeira “confissão
nada terapia de aceitação e compromisso, ou perturbadora” de Kupfer et al., 2002, anterior-
ACT (do inglês acceptance and commitment the- mente). No entanto, mesmo com tais doenças
rapy). ACT é sempre pronunciada como uma mentais graves, o modelo subjacente à ACT
palavra (em inglês, “agir”), e não como letras sustenta que os processos comuns incorpora-
individuais, talvez porque A-C-T soe mais dos na linguagem e no pensamento autorrefle-
como E-C-T (em inglês, sigla para eletrocon- xivos podem na verdade aumentar as dificulda-
vulsoterapia), o que não é uma associação des centrais associadas a tais condições (para
favorável,1 e mais positivamente porque o ter- evidências mais detalhadas sobre esse ponto,
mo nos faz lembrar que essa abordagem enco- veja o Capítulo 13). Independentemente de
raja o envolvimento ativo na vida. quantas vozes uma pessoa escuta ou quantos
Segundo uma perspectiva da ACT, o sofri- ataques de pânico ela experimenta, esse indi-
mento humano emerge predominantemente víduo é um ser humano que pensa, sente e re-
de processos psicológicos normais, sobretudo corda. A forma como uma pessoa responde a,
aqueles que envolvem a linguagem humana. digamos, uma alucinação pode ser mais crítica
para o funcionamento sadio do que a alucina-
ção em si, e, segundo uma perspectiva da ACT,
1
A maioria dos profissionais que atuam na área da essa resposta é predominantemente determi-
psicoterapia usa acrônimos para identificar aborda- nada por processos psicológicos normais.
gens de tratamento. Assim, não utilizar iniciais tem
um benefício colateral imediato na medida em que
aqueles que explicam os pontos fortes e fracos da O exemplo do suicídio
“A-Cê-Tê” são imediatamente expostos como se não
tivessem feito nenhum treinamento sério ou leitura Não existe um exemplo mais dramático do
em ACT. Os leitores agora saberão encarar com uma grau em que o sofrimento faz parte da con-
dose de ceticismo o que esses observadores dizem. dição humana do que o suicídio. A morte por

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uma escolha deliberada é evidentemente o (Chiles & Strosahl, 2004). Essa é uma cifra as-
desfecho menos desejável que podemos ima- sustadoramente alta para explicar se devemos
ginar na vida; no entanto, uma proporção sur- ver a suicidalidade como “anormal”.
preendentemente considerável da humanida- Também relevante para nossa discussão é
de em algum momento na vida considera se o fato de que o suicídio é totalmente ausente
matar, e um número alarmantemente grande entre não humanos. Com o tempo, várias ex-
desses indivíduos realmente tenta colocar esse ceções alegadas foram observadas em relação
ato em prática. a essa generalização, mas, ao exame, elas se
Suicídio é o ato consciente, deliberado e revelaram falsas. Lemingues noruegueses são
intencional de tirar a própria vida. Dois fatos talvez o exemplo mais clássico. Quando a den-
são claramente evidentes em relação ao sui- sidade de sua população atinge um ponto que
cídio: (1) ele é universal nas sociedades hu- não pode ser mantido, o grupo inteiro se enga-
manas e (2) provavelmente está ausente entre ja em um padrão confuso de corrida que leva
todos os outros organismos vivos. As teorias à morte de muitos deles – geralmente por afo-
existentes do suicídio têm dificuldade para gamento. Porém, suicidalidade implica não
explicar esses dois fatos de forma lógica. Há meramente a morte, mas também atividades
relatos de suicídio em todas as sociedades hu- individuais que levam o indivíduo à morte
manas, tanto atualmente quanto no passado. pessoal como uma consequência deliberada
Cerca de 11,5 por 100 mil pessoas nos Esta- dessa atividade. Quando um lemingue cai na
dos Unidos cometem suicídio a cada ano (Xu, água, ele tenta escalar, e quando tem sucesso
Kochanek, Murphy, & Tejada-Vera, 2010), ele permanece fora d’água, mas há inúmeros
representando em torno de 35 mil mortes em casos documentados de uma pessoa saltando
2007. Sua ocorrência é praticamente inexis- de uma ponte, sobrevivendo e, então, imedia-
tente entre bebês e crianças muito pequenas, tamente saltando da mesma ponte outra vez.
mas começa a aparecer durante os primeiros Nos humanos, a autoeliminação pode ser-
anos escolares. Pensamentos suicidas e tenta- vir a uma variedade de propósitos, mas seus
tivas de suicídio são muito comuns na popula- propósitos declarados geralmente se originam
ção em geral. Um estudo recente encomenda- do léxico diário da emoção, da memória e do
do pelo Substance Abuse and Mental Health pensamento. Por exemplo, quando bilhetes
Services Administration encontrou uma taxa suicidas são examinados, eles tendem a ter
anual calculada de ideação suicida grave en- mensagens que enfatizam a pesada carga de
tre aproximadamente 8,3 milhões de indiví- viver e a conceitualização de um futuro estado
duos, com tentativas suicidas anuais entre de existência (ou não existência) em que es-
jovens adultos próximas a 1,2% nessa faixa sas cargas serão retiradas (Joiner et al., 2002).
etária – com níveis mais altos de incidência Embora os bilhetes suicidas com frequência
associados a abuso de substâncias (Substance expressem amor por outras pessoas e um sen-
Abuse and Mental Health Services Adminis- timento de vergonha pelo ato, também cos-
tration, 2009). Estudos da incidência ao lon- tumam expressar que a vida é penosa demais
go da vida sugerem que cerca de 10% de to- para ser suportada (Foster, 2003). As emoções
das as pessoas em algum momento irão fazer e os estados mentais mais comuns associados
uma tentativa contra suas vidas, e outras 20% ao suicídio incluem culpa, ansiedade, solidão
irão apresentar ideação suicida e desenvolver e tristeza (Baumeister, 1990).
um plano e meios para colocá-lo em prática. O fenômeno do suicídio demonstra os li-
Assim, aproximadamente metade da popu- mites e as falhas da perspectiva do sofrimento
lação total irá experimentar níveis modera- humano com base na síndrome. Suicídio não
dos a severos de suicidalidade em suas vidas é uma síndrome, e muitas pessoas que acabam

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com a própria vida não podem ser simples- sofrimento psicológico humano. Começamos
mente classificadas com um rótulo sindrômi- com algumas perguntas relativamente sim-
co bem definido (Chiles & Stroshal, 2004). Se a ples e diretas:
forma de atividade mais dramaticamente “no-
civa” que existe está presente em certa medida Como é possível que pessoas inteligentes,
nas vidas da maioria dos humanos, mas não sensíveis e atenciosas que têm tudo o
entre outros seres sencientes, somos levados a que necessitam para sobreviver e pros-
uma conclusão óbvia: a de que deve haver algo perar na vida precisem suportar tal so-
peculiar na condição de ser humano que faz frimento?
com que seja assim. Mais precisamente, deve Existem processos humanos universais
haver um processo em funcionamento que que de alguma maneira estejam liga-
leva tão prontamente a tamanho sofrimento dos ao sofrimento generalizado?
psicológico – um processo que é unicamente Podemos desenvolver uma compreensão
característico da psicologia humana. A estra- teórica sólida de como o sofrimento se
tégia de pesquisa que apoia a psicopatologia desenvolve e então aplicar interven-
contemporânea não irá necessariamente de- ções psicológicas para neutralizar ou
tectar esse processo porque ela não está es- reverter os processos centrais respon-
pecificamente focada nos detalhes mundanos sáveis?
cotidianos das ações humanas. Mesmo que
atribuíssemos a quase todas as pessoas um ou Uma pista importante para que possamos
mais rótulo diagnóstico, nenhum progresso encontrar respostas significativas a essas per-
no estudo da psicopatologia diminuiria nossa guntas desafiadoras exigiu apenas que nos
obrigação de abordar e explicar melhor a uni- olhássemos no espelho. Envolto pelo escudo
versalidade do sofrimento humano. Todos os protetor redondo da cabeça encontrava-se
seres humanos têm suas dores – só que uns um órgão com um lado positivo extremamen-
mais do que outros. Com efeito, é normal ser te brilhante e uma contrapartida igualmente
“anormal”. perturbadora.
É humilhante observar que esta ideia – a de
Normalidade destrutiva que processos psicológicos normais e neces-
sários funcionam de forma muito semelhan-
A universalidade do sofrimento por si só suge- te a uma faca de dois gumes – é básica para
re que ele se origina dentro de processos que muitas tradições religiosas e culturais, porém
se desenvolveram para promover a adaptabili- é muito menos valorizada na psicologia e em
dade do organismo humano. Essa observação outras ciências comportamentais. A tradição
é a ideia central por trás do pressuposto da nor- judaico-cristã (e, na verdade, a maioria das
malidade destrutiva, a ideia de que processos tradições religiosas, tanto ocidentais quanto
psicológicos humanos comuns e até mesmo orientais) adota a ideia de que o sofrimento
úteis podem conduzir a resultados destrutivos humano faz parte do normal estado das coi-
e disfuncionais, amplificando ou exacerbando sas na vida. É importante examinar essa tra-
quaisquer condições fisiológicas e psicológi- dição religiosa como um exemplo concreto do
cas anormais que possam existir. quanto a euforia por síndromes médicas nos
Quando a ACT estava sendo desenvolvida afastou de nossas raízes culturais nessas ques-
durante a década de 1980, ela foi projetada tões. O Gênesis, o princípio de todas as coisas,
como uma abordagem transdiagnóstica de parece ser um lugar apropriado por onde co-
tratamento baseada nos processos centrais meçar nossa análise da linguagem humana e
comuns que acreditávamos que explicavam o do sofrimento humano.

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Terapia de aceitação e compromisso  11

As origens do sofrimento ‘Ouvi a tua voz soar no jardim e temi porque


segundo a tradição judaico-cristã estava nu; e me escondi’. E disse Deus: ‘Quem
lhe disse que você estava nu? Por acaso você
A Bíblia é muito clara em relação à fonte ori- comeu do fruto da árvore?’” (Gen. 3:8-11).
ginal do sofrimento humano. Na história do O que acontece em seguida é igualmente signi-
Gênesis, “E disse Deus: ‘Façamos o homem à ficativo. Adão culpa Eva por convencê-lo a co-
nossa imagem, conforme a nossa semelhança’” mer do fruto da árvore, e Eva culpa o demônio.
(Gen. 1:26 [Nova Versão Internacional]), Adão Há algo de muito triste em relação a essa
e Eva foram colocados em um jardim idílico. narrativa descrevendo o primeiro caso de ver-
Os primeiros humanos eram inocentes e felizes: gonha e culpa humanas. Ela aborda algo mui-
“O homem e sua mulher estavam nus e não sen- to profundo dentro de nós relacionado à nossa
tiam vergonha” (Gen. 2:25). Eles recebem ape- própria perda da inocência. Os humanos come-
nas uma ordem: “Não comerás da árvore do co- ram o fruto da Árvore da Sabedoria: somos ca-
nhecimento do bem e do mal, porque no dia em pazes de classificar, avaliar e julgar. Como con-
que dela comeres, certamente morrerás” (Gen. ta a história, nossos olhos se abriram – porém
2:17). A serpente diz a Eva que ela não morrerá a um custo terrível! Somos capazes de julgar a
se comer daquela árvore, mas que “Deus sabe nós mesmos e nos percebemos desejosos; po-
que quando dela comeres teus olhos se abrirão demos imaginar ideais e achar o presente ina-
e serás como Deus, conhecendo o bem e o mal” ceitável por comparação; podemos reconstruir
(Gen. 3:5). Acontece que a serpente estava cor- o passado; somos capazes de vislumbrar futu-
reta até certo ponto, porque quando a fruta é ros que ainda não são evidentes e, então, pode-
comida “Os olhos dos dois se abriram e eles per- mos nos preocupar com a morte por atingi-los;
ceberam que estavam nus” (Gen. 3:7). podemos sofrer com o conhecimento certo de
Esta é uma história poderosa e muito ins- que nós e nossos entes queridos iremos morrer.
trutiva. Quando questionadas se é bom conhe- Cada nova vida humana reconstitui essa
cer a diferença entre o bem e o mal, a maioria antiga história. As crianças pequenas são a
das pessoas religiosas certamente diria que ter própria essência da inocência humana. Elas
tal conhecimento representa o próprio epítome correm, brincam, sentem – e, como no Gêne-
do comportamento moral. Pode ser que sim, sis, quando estão nuas não sentem vergonha.
porém a história do Gênesis sugere que ter esse As crianças constituem um modelo para o
tipo de conhecimento avaliativo também repre- pressuposto da normalidade saudável, e sua
senta o epítome de mais alguma coisa, isto é, inocência e vitalidade fazem parte do motivo
a perda da inocência humana e o início do so- pelo qual o pressuposto parece tão obviamente
frimento humano. verdadeiro. Porém, essa visão começa a se dis-
Na história bíblica, os efeitos do conhe- sipar à medida que as crianças adquirem a lin-
cimento avaliativo são imediatos e diretos. guagem e se tornam cada vez mais semelhan-
Os efeitos negativos adicionais da punição de tes às criaturas adultas que elas veem refletidas
Deus vêm posteriormente. Adão e Eva já esta- todos os dias em seus espelhos. Os adultos ine-
vam sofrendo antes que Deus descobrisse sua vitavelmente arrastam seus filhos para fora do
desobediência. Quando Adão e Eva descobri- Jardim com cada palavra, conversa ou história
ram que estavam nus, eles imediatamente “co- que contam a elas. Ensinamos as crianças a
seram folhas de figueira e fizeram cintas para falar, pensar, comparar, planejar e analisar.
si” (Gen. 3:7 [Nova Versão Internacional]) e E, quando fazemos isso, sua inocência se
“esconderam-se da presença do Senhor Deus desfaz como as pétalas de uma flor, para ser
entre as árvores do jardim. E chamou o Senhor substituída pelos espinhos e os galhos rígidos
Deus a Adão: ‘Onde estás?’ Ele respondeu: do medo, da autocrítica e do fingimento. Não

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12  Hayes, Strosahl & Wilson

podemos impedir essa transformação gradual, tanto às realizações humanas quanto ao sofri-
nem somos capazes de suavizá-la completa- mento humano. Por “linguagem humana” não
mente. Nossos filhos precisam ingressar no nos referimos à mera vocalização humana,
mundo aterrador do conhecimento verbal. Eles nem ao inglês como oposto ao idioma francês.
precisam passar a ser como nós. Da mesma forma, não estamos nos referindo
As grandes religiões do mundo foram al- meramente à sinalização social, como quan-
gumas das primeiras tentativas organizadas do nosso cachorro late pedindo comida ou
de resolver o problema do sofrimento humano. quando um esquilo emite um grito de alerta.
Isso quer dizer que todas as grandes religiões Em vez disso, referimo-nos à atividade simbó-
têm um lado místico e que todas as tradições lica em qualquer forma que ela ocorra – seja
místicas compartilham uma característica de- por meio de gestos, figuras, formas escritas,
finidora: todas elas reúnem práticas que são sons ou o que quer que seja.
orientadas para a redução ou a transformação Embora pareça haver ampla concordância
do domínio da linguagem analítica sobre a de que os primeiros humanos eram capazes
experiência direta. A diversidade de métodos de utilizar símbolos (baseados em suas práti-
é impressionante. O silêncio é observado por cas funerárias, por exemplo), o uso sofisticado
horas, dias, semanas; charadas verbais insolú- dessas habilidades é espantosamente recente.
veis são contempladas; a própria respiração é Os primeiros registros permanentes e inques-
monitorada durante dias de cada vez; mantras tionáveis de atividade simbólica humana so-
são repetidos interminavelmente; cânticos são fisticada parecem ser os desenhos rupestres de
repetidos por horas a fio; e assim por diante. apenas 10 mil anos atrás. As primeiras evidên-
Até mesmo os aspectos não místicos das gran- cias de linguagem escrita como a conhecemos
des tradições religiosas – que se baseiam na têm cerca de 5.100 anos de idade. O alfabeto
linguagem literal e analítica – com frequência foi inventado apenas há 3.500 anos. Mesmo
focam em atos que não são puramente analí- dentro do registro escrito formal dos assuntos
ticos. A teologia judaico-cristã, por exemplo, humanos, existe uma clara progressão das ha-
requer que tenhamos fé em Deus (a raiz de fé bilidades verbais. Apenas há alguns milhares
provém do latim fides, que significa algo mais de anos, as pessoas comuns devem ter experi-
próximo de fidelidade do que de crença lógica e mentado autoverbalizações como declarações
analítica). O budismo foca nos custos do apego. dos deuses ou de outras entidades invisíveis
Diferentes religiões variam os detalhes da nar- (Jaynes, 1976), e nas primeiras histórias escri-
rativa, mas os temas em geral são os mesmos. tas “pensar por conta própria” era visto como
Em sua tentativa de busca do conhecimento, perigoso (p. ex., veja a análise de Jayne [1976]
os humanos perderam sua inocência, e o so- de Ilíada e A Odisseia). Hoje em dia, os adultos
frimento é um resultado natural disso. Apesar normais manipulam uma variedade de estímu-
dos excessos a que a religião muitas vezes está los simbólicos (tanto abertamente quanto de
propensa, há uma grande sabedoria nessa pers- forma relativamente velada) da manhã à noite
pectiva. Para se ter uma ideia, a tradição relati- enquanto simultaneamente atuam no mundo.
vamente recente da psicoterapia apenas agora O progresso da humanidade pode ser re-
está se aproximando disso. lacionado diretamente a esses mesmos mar-
cos verbais. O desenvolvimento das grandes
Os efeitos positivos e negativos civilizações foi impulsionado pela linguagem
da linguagem humana escrita, e as grandes religiões pelo mundo
se desenvolveram não muito tempo depois.
A essência da abordagem da ACT está baseada A enorme expansão da capacidade da espécie
na ideia de que a linguagem humana dá origem humana de alterar seu ambiente imediato por

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Terapia de aceitação e compromisso  13

meio da tecnologia começou com a ascensão O desafio da dor psicológica


gradual da ciência e vem crescendo exponen- para criaturas com linguagem
cialmente desde então.
O progresso resultante é surpreendente, Quando não humanos são expostos a estímu-
superando nossa habilidade de apreciar as los aversivos, eles reagem de forma previsível.
múltiplas e várias mudanças. Há aproximada- Eles se engajam em imediato comportamento
mente 200 anos, a expectativa média da vida de esquiva, emitem gritos de aflição, são hostis
humana era de 37 anos; agora se aproxima ou colapsam em um estado de imobilização.
de 88! Cerca de 100 anos atrás, um agricul- Essas reações de estresse geralmente têm um
tor americano conseguia alimentar em média tempo limitado e estão associadas à presença
apenas outras quatro pessoas; hoje, são 200! de estímulos condicionados ou incondiciona-
Cinquenta anos atrás, o Dicionário de Inglês dos. O comportamento relacionado ao estres-
Oxford pesava 13 quilos e ocupava 1 metro do se normalmente retornará aos níveis básicos
espaço na prateleira; atualmente, ele cabe em depois que o evento aversivo for removido e a
um pen-drive de 30 gramas ou pode ser aces- excitação autonômica abrandar.
sado via web de praticamente qualquer lugar! Os humanos são criaturas muito diferen-
Esse tipo de ladainha “surpreendente” é tes, principalmente devido à sua capacidade
fácil de descartar porque o impacto das habi- de se engajar em atividade simbólica. Os hu-
lidades verbais humanas de hoje é tão grande manos podem suportar eventos aversivos;
que é quase incompreensível. Mas não pode- criar semelhanças e diferenças entre os even-
mos avaliar plenamente o dilema humano se tos; e formar relações entre eventos históricos
não vemos claramente a natureza e a velocida- e eventos atuais com base nas semelhanças
de do progresso humano. O sofrimento e a coi- construídas. Podem fazer previsões sobre si-
sificação humanos só podem ser entendidos tuações que ainda não foram experimentadas.
no contexto das realizações humanas porque a Podem responder como se um evento aversivo
origem mais importante de ambos é a mesma estivesse presente quando ele já foi retirado
– a atividade simbólica humana. Os psicotera- há décadas. As poderosas funções indiretas
peutas, melhor do que a maioria das pessoas, da linguagem e da cognição superior criam o
conhecem o lado obscuro desse progresso. potencial para sofrimento psicológico na au-
Pedir que seres humanos individuais sência de pistas ambientais imediatas; no en-
questionem a natureza e o papel da lingua- tanto, estas são as habilidades cognitivas mais
gem em suas próprias vidas é equivalente a valorizadas e úteis no avanço humano.
pedir que um carpinteiro questione a utili- Parece improvável que os primeiros hu-
dade de um martelo. A mesma injunção se manos tenham desenvolvido habilidades cog-
aplica aos leitores deste livro. Você não pode nitivas primariamente para ponderar sobre a
ser um bom terapeuta de ACT se tomar as pa- própria adequação ou para se indagarem para
lavras como certas, corretas e verdadeiras em onde estão se dirigindo na vida. A linguagem
vez de perguntar: “Quão eficazes elas são?”. humana foi selecionada com base em con-
Essa observação se aplica até mesmo às pa- sequências muito mais substanciais da vida
lavras que você está lendo. Martelos não são e da morte e do controle social. Os humanos
bons para tudo, e a linguagem também não são uma das espécies mais cooperativas co-
é boa para tudo. Precisamos aprender a usar nhecidas. De fato, cooperação social é prova-
a linguagem sem sermos consumidos por ela. velmente um contexto necessário para os pro-
Precisamos aprender a manejá-la em vez de cessos de seleção multinível (dentro e entre os
ela nos manejar – os clínicos e também os grupos) que originalmente podem ter gerado
clientes. a cognição humana (Wilson & Wilson, 2007).

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14  Hayes, Strosahl & Wilson

As adaptações individuais (dentes grandes ou como metáforas baseadas em situações exter-


melhor camuflagem, por exemplo), em ge- nas comuns. Essa progressão é facilmente vis-
ral, são egoisticamente vantajosas, embora ta na etimologia das palavras disposicionais
adaptações sociais maiores possam ser mais (Skinner, 1989). Por exemplo, “querer” algu-
altruístas porque proporcionam vantagens na ma coisa provém de uma palavra que significa
competição entre os grupos. Cooperação tam- “faltando”; “pender” provém de uma palavra
bém é uma característica conceitual essencial que significa “inclinar-se”. Praticamente todos
na evolução da linguagem porque a lingua- os termos disposicionais são assim.
gem simbólica é útil, antes de qualquer coisa, Quando aprendemos a nos voltar para o
para a comunidade mais ampla (Jablonka & interior, nossas habilidades verbais e cogni-
Lamb, 2005). No entanto, embora a cognição tivas (nossas “mentes”) começam a nos aler-
humana tenha levado a uma maior capacida- tar com alarmes sobre estados psicológicos
de para detectar e afastar as ameaças ao gru- passados e futuros em vez de apenas alarmes
po, para coordenar o comportamento do clã sobre ameaças externas. Casos normais de dor
e para assegurar que essa propagação ocorra, psicológica se tornam o foco de nossa solução
ela também nos deu ferramentas cognitivas de problemas cotidiana – com resultados tó-
que podem se voltar despercebidamente con- xicos. Esse processo de aplicação de um pro-
tra nossos melhores interesses. cesso útil a um alvo inapropriado é similar à
No mundo desenvolvido, as pessoas rara- forma como as alergias envolvem a má apli-
mente se defrontam com ameaças imediatas cação de um processo útil das defesas corpo-
à sobrevivência. Elas têm o tempo e o incen- rais contra organismos intrusos aos próprios
tivo para pensar sobre qualquer coisa prática: processos corporais. O sofrimento humano
sua história, sua aparência física, seu lugar envolve predominantemente a má aplicação
na vida comparando com onde achavam que de processos psicológicos de solução de pro-
estariam, o que outras pessoas pensam sobre blemas (que em outros contextos podem ser
elas, etc. A cultura humana do mundo civiliza- positivos) a casos normais de dor psicológica.
do evoluiu de modo a aproveitar nossas habi- Em outras palavras, nosso sofrimento repre-
lidades simbólicas. A linguagem evoluiu para senta um tipo de reação alérgica ao nosso pró-
incluir cada vez mais termos que descrevem e prio mundo interno.
avaliam vários estados da mente ou da emo- Não é possível eliminar o sofrimento eli-
ção. À medida que esses termos evoluem, as minando a dor. A existência humana contém
experiências podem ser classificadas e avalia- desafios inevitáveis. Pessoas que amamos se-
das. À medida que os seres humanos cada vez rão feridas, e pessoas próximas a nós morrerão
mais olham para dentro de si, a vida começa a – na verdade, estamos conscientes desde uma
parecer mais um problema a ser resolvido do tenra idade de que com o tempo todos nós va-
que um processo a ser plenamente experimen- mos morrer. Nós também ficaremos doentes.
tado. As funções vão diminuir. Amigos e amantes
Podemos ver essa tendência começar ex- vão nos trair. A dor é inevitável, e (devido às
ternamente, mas por fim se voltar para dentro nossas inclinações simbólicas) rapidamente
na própria estrutura e história de nossas lín- nos lembramos dessa dor e podemos trazê-la
guas modernas. As primeiras palavras nas para a consciência em determinado momen-
línguas humanas quase sempre estão relacio- to. Essa progressão significa que os seres hu-
nadas a externalidades: leite, carne, mãe, pai, manos conscientemente se expõem a quanti-
etc. Somente foi possível falar sobre o “mundo dades excessivas de dor – apesar das nossas
interno” muito mais tarde, por meio do de- consideráveis habilidades para controlar suas
senvolvimento de palavras que funcionassem fontes no ambiente externo. Mesmo assim,

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Terapia de aceitação e compromisso  15

uma grande dor não é, por si só, causa sufi- Fusão cognitiva
ciente para o verdadeiro sofrimento humano.
Para que isso ocorra, o comportamento sim- Ocorre sofrimento quando as pessoas acredi-
bólico precisa ser levado um pouco mais além. tam tão fortemente nos conteúdos literais de
sua mente que ficam fusionadas com suas cogni-
O canto das sereias do ções. Nesse estado de fusão, a pessoa não con-
segue distinguir entre consciência e narrativas
sofrimento: fusão e esquiva cognitivas, já que cada pensamento e seus refe-
No clássico poema grego A Odisseia, de Ho- rentes estão fortemente ligados. Essa combina-
mero, Odisseu e seu bando de guerreiros pro- ção significa que a pessoa tem maior probabili-
curam retornar a seus lares na Grécia após o dade de seguir cegamente as instruções que são
fim da Guerra de Troia. Eles navegam pelo socialmente transmitidas por meio da lingua-
traiçoeiro Mar Egeu, enfrentando muitos pe- gem. Em algumas circunstâncias, esse resulta-
rigos pelo caminho, talvez nenhum mais de- do pode ser adaptativo, mas, em outros casos,
safiador do que o encontrado quando passam as pessoas podem se engajar repetidamente em
pela ilha das sereias. As sereias são criaturas conjuntos de estratégias ineficazes porque para
adoráveis que ficam escondidas nas rochas ao elas parecem ser “certas” ou “justas” apesar das
longo da costa, entoando cantos que prome- consequências negativas no mundo real. Pes-
tem o conhecimento do futuro. Os cantos são soas que se fundem às próprias cognições pro-
irresistíveis porque se dirigem ao desejo pelo vavelmente irão ignorar a experiência direta e
conhecimento de cada marinheiro, porém se tornar relativamente alheias às influências
aqueles que são arrebatados inevitavelmente ambientais. Com muita frequência, as pessoas
encontram seu destino. Alertado previamente entram em terapia devido ao desgaste emocio-
por Circe sobre esse perigo iminente, Odisseu nal de tais consequências, na esperança de uma
ordena que seus homens tapem seus ouvidos redução no desconforto dos sintomas. Mas elas
com cera de abelha. Entretanto, por desejar não têm a intenção de mudar sua abordagem
ouvir o canto das sereias, ele ordena que seus básica porque sua abordagem é efetivamente
homens o amarrem ao mastro principal e em invisível para elas. É como se estivessem apri-
nenhuma circunstância o desamarrem até que sionadas pelas regras que se originam em sua
o barco esteja muito além da costa da ilha. própria mente. Essas regras não são organiza-
Quando o navio passa pela ilha, Odisseu fica das de forma aleatória; pelo contrário, no nível
tão encantado com o canto das sereias que im- do conteúdo, elas seguem uma diretiva cultural
plora e apela que seus homens o desamarrem, específica sobre saúde pessoal e como melhor
mas eles se recusam, sabendo que ele irá saltar atingi-la. No nível do processo, elas estão im-
no mar e morrer. plicitamente baseadas no pressuposto de que
A história de Odisseu e do canto das sereias regras verbais e a solução de problemas delibe-
fala da relação básica dos humanos com o lado rada são a melhor ou até mesmo a única forma
obscuro da sua própria força mental e do seu de resolver problemas.
entrelaçamento com o conhecimento verbal. Considere, por exemplo, clientes com disti-
E, assim como na história do Gênesis, a his- mia, os quais diariamente têm diálogos inter-
tória alerta quanto ao aspecto ambivalente nos que interferem em sua experiência direta
do conhecimento verbal. Podemos começar a de vida. Na maior parte do tempo, esses pro-
entender o alerta focando em dois processos cessos de pensamento envolvem “verificar” se
principais: fusão cognitiva e esquiva expe- eles estão “se sentindo bem”. Se o cliente vai a
riencial – o “canto das sereias” do sofrimento uma reunião social, não vai demorar muito
humano (Strosahl & Robinson, 2008). para que comecem a surgir perguntas de autor-

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reflexão. Por exemplo, ele pode rapidamente se de controle e mais automonitoramento não é
perguntar: “Bem, como estou me inserindo?”. uma solução para esses transtornos; ao contrá-
A busca de pistas ambientais se inicia. O indi- rio, ele é o próprio transtorno.
víduo faz uma varredura nas pessoas próxi- Desvencilhar as pessoas das suas mentes é
mas para ver se está sendo feito contato visual, um dos principais objetivos da ACT, mas isso
se as pessoas estão olhando para outro lado é muito mais fácil de dizer do que de fazer, tanto
ou se ele está sendo totalmente ignorado. para os clínicos como para os clientes. As pesso-
Depois, são verificados os estímulos auditi- as recorrem às suas mentes porque linguagem e
vos para ver se as pessoas estão dizendo coisas pensamento são veículos extremamente efetivos
humilhantes ou o ridicularizando. O cliente no mundo cotidiano. Você deve definitivamente
se engaja em atos adicionais de autorreflexão: prestar atenção ao que sua mente está dizendo
“Quão bem estou me relacionando com essas quando está fazendo seu imposto de renda, con-
pessoas?”, “Estou realmente sendo eu mesmo?”, sertando uma máquina ou tentando atravessar
“Estou apenas fingindo estar feliz e normal?”, uma rua em um cruzamento movimentado.
“Eles podem realmente ver que não estou tão O problema é que não somos treinados para
feliz quanto finjo estar?”, “Afinal, por que estou discriminar quando a mente é útil e quando não
fingindo para as pessoas?”, “Achei que eu viria a é e não desenvolvemos as competências para
esta festa para me divertir um pouco e ficar feliz, passar de um modo de solução de problemas da
mas agora me sinto pior do que nunca!”. O ruído mente fusionado para um modo da mente en-
interno causado pelo automonitoramento que o gajado em descrever. A mente é ótima quando
cliente faz das causas e dos efeitos emocionais se trata de inventar aparelhos, construir planos
se torna tão crônico que, para ele, é praticamen- de negócios ou organizar programações diárias.
te impossível engajar-se em qualquer atividade Porém, isoladamente, a mente é muito menos
sem quase imediatamente destruir seu senti- útil em aprender a estar presente, aprender a
mento de “estar presente” ou ser espontâneo. amar ou descobrir como melhor carregar con-
Em um estado fusionado, a pessoa com dis- sigo as complexidades de uma história pessoal.
timia segue a regra de que há uma “forma certa O conhecimento verbal não é o único tipo de
de ser” e de que a “forma certa” é feliz. Atingir a conhecimento que existe. Precisamos aprender
forma certa de se sentir se transforma em um es- a usar nossas competências analíticas e avalia-
forço constante – um esforço que muitos clientes tivas quando isso promove operacionalidade
compartilham. Para o cliente com transtorno de e usar outras formas de conhecimento quando
pânico, o principal esforço é contra a ansiedade, elas servem melhor aos nossos interesses. Com
pensamentos de morte, perda do controle ou efeito, o objetivo final da ACT é ensinar os clien-
perda da razão. A fim de manter o controle, o tes a fazer essas distinções a serviço da promo-
cliente deve estar vigilante para reconhecer os ção de uma vida mais viável.
primeiros sinais de que reações indesejáveis
estão ocorrendo. Ele precisa examinar as sen- Esquiva experiencial
sações corporais, os processos de pensamento,
as predisposições comportamentais e as reações Outro processo-chave no ciclo do sofrimento é
emocionais para sinais de fracasso (ou sucesso) a esquiva experiencial. Ela é uma consequência
iminente. A solução para a busca por sentir-se imediata da fusão com instruções mentais que
da forma certa aparentemente reside em mais encorajam a supressão, o controle ou a elimina-
vigilância, mais rastreamento do ambiente in- ção de experiências cuja expectativa é a de que
terno e externo e mais controle. No entanto, sejam estressantes. Para o cliente que se enga-
o ciclo autoimposto pelo cliente de monitora- ja em padrões distímicos, o objetivo pode ser
mento, avaliação, resposta emocional, esforços sentir-se da forma certa e evitar sentimentos

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Terapia de aceitação e compromisso  17

ou pensamentos que o desviam do seu objetivo. problemas definissem quem elas são – e irão
Para o cliente que demonstra padrões obsessivo- se ater às particularidades de sua patologia ou
-compulsivos, o objetivo pode ser suprimir à peculiaridade e ao poder explanatório de sua
certos pensamentos ou controlar sentimentos trágica história como se isso fosse seu principal
de desgraça. Para o cliente com transtorno de direito de nascença. As pessoas com frequência
pânico, o objetivo primordial é evitar experi- mergulham em seus mecanismos mentais de
mentar ansiedade e pensamentos de morte, forma semelhante ao modo como os marinhei-
perda do controle ou perda da razão. (Ao longo ros mergulham no mar (i.e., não sem algum
de todo o tempo, durante o tratamento, o clíni- grau de prazer). No entanto, elas são engolidas
co também pode estar resistindo a impulsos de pelas ondas do orgulho e esmagadas contra os
sentir-se impotente, tolo ou perdido.) rochedos da vergonha. Em vez de ossos quebra-
Há um paradoxo inerente na tentativa de dos, temos casamentos rompidos. Assim como
evitar, suprimir ou eliminar as experiências os marinheiros de Odisseu ansiando pelas ver-
privadas indesejáveis na medida em que fre- dades adivinhatórias das sereias, as oportu-
quentemente tais tentativas levam a um re- nidades passam à nossa frente como navios va-
crudescimento na frequência e na intensidade zios quando não se encaixam na narrativa da
das experiências a serem evitadas (Wenzlaff & nossa mente. Quando você está muito ocupado
Wegner, 2000). Como a maior parte do conte- em ser o que sua mente diz que você é, deixar de
údo angustiante por definição não está sujeita lado seus hábitos normais se torna impossível,
à regulação comportamental voluntária, só res- mesmo quando isso seria obviamente útil.
ta ao cliente uma estratégia principal: esquiva A fusão cognitiva e a esquiva experiencial
emocional e comportamental. O resultado no também afetam a habilidade do indivíduo de
longo prazo é que a vida da pessoa começa a se prestar atenção de modo flexível e voluntário
restringir, as situações evitadas se multiplicam ao que está acontecendo interna e externa-
e se deterioram, os pensamentos e sentimen- mente. Atentar deliberadamente aos eventos
tos evitados se tornam mais preponderantes, internos que a pessoa quer evitar – ou mesmo
e a capacidade de estar no momento presente e aos seus desencadeantes externos – faria cair
desfrutar a vida gradualmente diminui. por terra o propósito da esquiva experiencial.
Observar os eventos que possam contradizer
O impacto do canto das sereias uma história muito fusionada significa afastar-
-se dessa história por um momento (que hor-
Tanto a fusão cognitiva quanto a esquiva expe- ror!). Para evitar tais resultados inoportunos,
riencial afetam significativamente quem pen- a atenção do indivíduo deve permanecer estri-
samos que somos. Ficamos cada vez mais en- tamente focada e inflexível. Com o tempo, ins-
redados em nossas auto-histórias, e as ameaças tala-se um tipo de entorpecimento vital. A pes-
às nossas autoconcepções se tornam centrais. soa passa pelos acontecimentos da vida diária
As possibilidades que são externas à nossa nar- sem muito contato momento a momento com
rativa oficial devem ser evitadas ou negadas. a vida em si. A vida segue no piloto automático.
Essa consequência vale tanto para as histó- O dano causado pela fusão cognitiva e pela
rias que são horríveis quanto para as que são esquiva experiencial é igualmente destrutivo
ilusoriamente positivas. Inevitavelmente nos em relação ao nosso senso de direção na vida
esquivamos de reconhecer os erros para sal- e ao nosso comportamento guiado por objeti-
var as aparências, mas ao custo de deixarmos vos. Nosso comportamento fica mais subme-
de aprender com eles. Pessoas que padecem tido ao “controle aversivo” do que ao “contro-
de transtorno de pânico com frequência irão le apetitivo” – mais dominado pela esquiva e
declarar “Eu sou agorafóbico” – como se seus escape do que pela atração natural. Nossas es-

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colhas vitais mais importantes passam a ser no mínimo, o cliente e o terapeuta imediata-
baseadas em como não evocar conteúdo pes- mente irão aprender a observar os pensamentos
soal angustiante em vez de seguirmos na dire- e os sentimentos que ocorrem para compreen-
ção do que mais profundamente valorizamos. der o problema que está sendo tratado. Em suas
As pessoas perdem completamente seus pon- formas mais elaboradas apresentadas na ACT,
tos de referência porque estão muito ocupadas desfusão envolve aprender a estar consciente-
em monitorar o nível de risco de cada evento, mente atento ao próprio pensamento quando
interação ou situação. ele ocorre, e aceitação envolve o processo ativo
de se engajar e algumas vezes aumentar a rica
complexidade das próprias reações emocionais
ACT: ACEITAR, como um meio de fomentar a abertura psicoló-
ESCOLHER, AGIR gica, a aprendizagem e a compaixão por si mes-
mo e pelos outros. Essas habilidades envolvem
Na abordagem da ACT, um objetivo de vida experimentar conscientemente os sentimentos
saudável não é tanto sentir-se bem, mas sen- como sentimentos, os pensamentos como pen-
tir bem. É psicologicamente saudável ter pensa- samentos, as lembranças como lembranças,
mentos e sentimentos desagradáveis, além dos e assim por diante. Elas permitem que a pessoa
prazerosos, e isso nos dá pleno acesso à rique- observe desapaixonadamente a própria mente
za de nossas histórias pessoais únicas. Ironi- em funcionamento enquanto ao mesmo tempo
camente, quando pensamentos e sentimentos “acolhe o momento”, dessa maneira permane-
se tornam fundamentais, praticamente ditan- cendo atenta a pistas ou sinais contextuais po-
do o que fazemos – ou seja, quando eles “sig- tencialmente importantes que de outra forma
nificam apenas o que dizem que significam” –, passariam despercebidos.
com frequência ficamos relutantes em sentir À medida que essas competências são ad-
os sentimentos ou pensar os pensamentos quiridas, o próprio sentido da atenção se tor-
abertamente e, assim, aprender com o que eles na mais flexível, focado e volitivo, possibili-
têm a nos ensinar. Em contrapartida, quan- tando que a pessoa veja melhor a si mesma e
do os sentimentos são apenas sentimentos as outras pessoas como parte de um mundo
e os pensamentos são apenas pensamentos, interconectado. A partir dessa perspectiva
eles podem significar o que eles realmente mais atenta e flexível, os clientes podem fa-
significam, ou seja, que partes da nossa his- zer com mais facilidade a mudança da con-
tória pessoal única estão sendo trazidas para duta de esquiva e enredamento para uma
o presente pelo contexto atual. Pensamentos de aumento no engajamento e na expansão
e sentimentos são interessantes e importan- comportamental.
tes, mas não devem necessariamente ditar o Raramente nos engajamos em esquiva
que acontece a seguir. Seu papel específico em como um objetivo em si. A esquiva bem-su-
cada caso depende do contexto psicológico cedida não é um objetivo de resultados, mas
em que ocorrem, e isso é muito mais variável um objetivo de processos. Se você perguntar
do que qualquer modo de solução de proble- a um cliente por que ele deve, digamos, evitar a
mas da mente normal que podemos imaginar. ansiedade, a resposta geralmente irá se refe-
A alternativa construtiva à fusão é a desfusão, rir a um impacto positivo desejado em alguma
e a alternativa preferida à esquiva experiencial parte da sua vida. O cliente pode acreditar, por
é a aceitação. Estes são os processos ensinados e exemplo, que a ansiedade indevida está atra-
estimulados na abordagem da ACT. Desfusão palhando uma promoção potencial, prejudi-
e aceitação em seus modelos mais básicos estão cando um relacionamento ou impedindo-o de
implícitas em qualquer psicoterapia porque, viajar. As estratégias da esquiva experiencial

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Terapia de aceitação e compromisso  19

prometem que serão obtidos desfechos impor- diagnóstico unificado do funcionamento e da


tantes e desejáveis na vida ao se livrar de maus adaptabilidade humanos (Capítulo 3). Depois
sentimentos. Na ACT, no entanto, tais desfe- disso, o modelo é aplicado a estudos de caso
chos na vida se tornam mais imediatamente específicos de modo que você, o clínico, pos-
relevantes e viáveis, uma vez que os profis- sa começar a identificar vários pontos fortes e
sionais podem se voltar diretamente para a pontos fracos psicológicos em seus clientes
questão dos valores pessoais profundamente e em você mesmo por uma perspectiva con-
arraigados e a como construir a vida focando textual (Capítulo 4). O Capítulo 5 aborda a
nesses valores. ferramenta mais poderosa que você tem como
A busca bem-sucedida de um valor vital é terapeuta, isto é, sua relação consigo mesmo e
complicada pela esquiva porque as áreas em com seus clientes. Ele mostra como você pode
que podemos ser mais magoados são justa- promover, demonstrar e apoiar a aceitação,
mente aquelas áreas com as quais nos impor- mindfulness e as ações valorizadas como uma
tamos mais profundamente. Pode ser muito abordagem da própria relação terapêutica.
confortável fingir “não se importar”. Não é Nos Capítulos 6 a 12, examinamos, por
possível escolher direções na vida valoriza- meio de detalhes específicos de estudos de
das, porém arriscadas, quando nossas cogni- caso, como engajar os clientes e encaminhá-
ções estão fusionadas porque a mente lógica -los pelos processos centrais da ACT. Cada
procura garantias dos resultados. No contexto capítulo descreve a relevância clínica do pro-
de maior flexibilidade psicológica, no entan- cesso central, fornece exemplos de casos dos
to, a dor psicológica que é inerente a situações métodos de intervenção e orienta sobre como
difíceis na vida pode ser aceita pelo que ela é, melhor integrar esse processo particular aos
e podemos aprender com ela; nossa atenção e demais processos da ACT. Na prática clínica,
foco podem, então, ser mudados para com- constatamos de forma consistente que traba-
portamentos de melhoria da vida. lhar em um processo específico da ACT tende
Nestas últimas páginas, descrevemos todo a desencadear um ou mais dos outros proces-
o modelo da ACT sem parar para explicar in- sos sempre que eles forem relevantes; assim,
tegralmente por que esses processos existem é importante saber como detectar os sinais de
e como eles funcionam. Em parte, esta breve que isso está acontecendo. Cada capítulo for-
introdução pretende dar ao leitor uma noção nece uma breve lista “do que fazer e o que não
de como pode funcionar uma alternativa ao fazer” para ajudá-lo a evitar alguns dos erros
pensamento sindrômico transdiagnóstica e mais comuns que estamos sujeitos a cometer
focada em processos. O restante deste livro em nosso trabalho clínico.
é planejado para entrar em mais detalhes. Esta No Capítulo 13, examinamos o passado e
será uma jornada que envolve primeiramente o futuro da ACT e lhe apresentamos a abor-
esclarecer os pressupostos teóricos, examinar dagem da ciência comportamental contextual
a ciência básica e clínica e, então, articular im- (CBS) para desenvolvimento do tratamento e
plicações e aplicações clínicas específicas. avaliação. Examinamos em detalhes os prin-
Organizamos este livro de modo que você cípios fundamentais do desenvolvimento do
primeiramente entenda os fundamentos do tratamento por meio dos quais estamos ten-
trabalho (Capítulo 2). Acreditamos que, lon- tando preencher a lacuna entre a ciência e
ge de ser um exercício árido, conectar-se com a prática clínica. Se você está intrigado com a
os pressupostos subjacentes à ACT prepara o abordagem da ACT, provavelmente deve estar
terreno para a utilização do modelo de uma igualmente interessado na estratégia científi-
forma vital. Poderemos, então, explorar a fle- ca que dá origem a ela e que com o passar do
xibilidade psicológica como um modelo trans- tempo está estendendo seu alcance.

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UMA ADVERTÊNCIA des em encontrar significado, propósito e vi-


talidade na sua existência. As armadilhas da
O mestre Zen Seng-Ts’an gostava de dizer: linguagem que ludibriam a todos nós preci-
“Se você trabalhar a sua mente com a sua sarão ser identificadas. Essa condição requer
mente, como é que consegue evitar uma gran- que o leitor permaneça aberto às contradições
de confusão?”. Muitas instituições humanas e aprenda a manter com leveza os dois lados
(incluindo o Zen Budismo proeminentemen- das aparentes contradições, em vez de ver um
te entre elas) tentaram “aparar as garras dos lado como totalmente certo e o outro como er-
leões” da linguagem humana. É inerentemen- rado.
te difícil usar a linguagem analítica para “apa- Às vezes usamos neste livro uma lingua-
rar as garras” da linguagem analítica, exigin- gem paradoxal e metafórica, sobretudo para
do, com efeito, que aprendamos a lutar contra evitar ficarmos aprisionados a um significa-
o fogo com fogo sem nos queimarmos. do muito literal. Todo esse blá-blá-blá verbal
Estamos escrevendo um livro, não dan- pode criar alguma confusão ocasional para o
çando ou meditando. Os leitores deste livro leitor, pelo quê pedimos sua indulgência. Se
estão interagindo com um material verbal. atingirmos nossos objetivos maiores, a confu-
Se a linguagem humana está na essência da são terá sido necessária e valido a pena.
maior parte do sofrimento humano, essa cir- Em sociedades antigas, os templos com
cunstância apresenta um desafio extremo, já frequência exibem um aparentemente intermi-
que nossas melhores tentativas de explicar e nável conjunto de degraus que levam até uma
“entender” a ACT estão firmemente baseadas melhor posição estratégica – simbolizando, su-
no próprio sistema de linguagem e, assim, es- pomos, o grande esforço necessário para passar
tão sujeitas a sistemas de regras culturalmen- a ver as coisas com mais clareza. Na sua base,
te incutidas. Para começar com um exemplo essa escada em geral é ladeada por estátuas de
trivial, este livro em geral será lido a partir do criaturas assustadoras como leões ferozes – tal-
começo até o fim. Essa estrutura de linguagem vez simbolizando os obstáculos assustadores
pode levar os leitores a presumir que o que que algumas vezes precisamos ultrapassar an-
vem primeiro quando descrevemos o modelo tes de abandonarmos as visões familiares em
de tratamento da ACT é o primeiro estágio do favor de outras novas e não familiares. Pode-
tratamento e que o último componente viria mos nomear esses leões de acordo com os pro-
no fim do tratamento. O que acontece é que cessos que acabamos de prever que o leitor irá
esse não é o caso. Dependendo da avaliação enfrentar neste livro – o que está à esquerda é
feita pelo terapeuta, qualquer processo central Paradoxo, e o que está à direita é Confusão. Não
da ACT (independentemente da sua ordem de colocamos os dois leões na capa do livro, mas
discussão neste livro) poderá ser o primeiro poderíamos ter feito isso.
processo abordado em situações reais de tra- A ACT não é simplesmente um método ou
tamento. técnica. Ela é uma abordagem multidimen-
Em um nível mais profundo, os objetivos sional de um modelo básico e aplicado e uma
finais da ACT são abalar a hegemonia da lin- abordagem de desenvolvimento científico. Ela
guagem humana e trazer nossos clientes e nós se aplica tanto aos clínicos quanto aos clien-
mesmos de volta a um contato mais abrangen- tes. Em um nível, nosso objetivo é apresentar
te com o conhecimento – incluindo intuição, uma explicação transdiagnóstica, unificada e
inspiração e a simples consciência do mundo. focada em processos da patologia humana
Esses processos não são diferentes para o tera- e do potencial humano. Em outro nível, con-
peuta que lê este livro na tentativa de entender vidamos você a explorar uma concepção dife-
a ACT, nem para o cliente que tem dificulda- rente da sua própria vida e a de seus clientes.

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