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UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ

PROGRAMA DE PÓS GRADUAÇÃO EM ECONOMIA


DISCIPLINA DE MÉTODOS QUANTITATIVOS

FUNÇÕES CÔNCAVAS E QUASE-CÔNCAVAS

Arthur Phillip Alberth Marques da Costa


Celso Sousa de Oliveira Junior
Cintia Antunes Gonçalves
Carlos Rafael Ferreira Góes
Erika de Sousa Kato
Timni Vieira

Belém/PA
2018
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SUMÁRIO

1. INTRODUÇÃO ................................................................................................................................ 2
1.1 Definição de Funções Côncavas ................................................................................................ 2
1.1.1 Formas de identificar a concavidade em uma função algébrica .......................................... 4
1.1.2 Testes analíticos para concavidade ................................................................................................... 5
1.2 TEOREMA – FUNÇÕES CÔNCAVAS ................................................................................. 8
1.3 PROPRIEDADES DE FUNÇÕES CÔNCAVAS ................................................................ 9
1.4 FUNÇÕES QUASE CÔNCAVAS ......................................................................................... 11
1.4.1 Diferença entre côncavas e quase-côncavas ............................................................................... 16
2

1. INTRODUÇÃO

O estudo das funções côncavas na aplicação econômica está, em geral, ligado a


otimização e objetiva encontrar um ponto de máximo. Esta característica permite uma alta
aplicabilidade em questões econômicas como em funções de produção, funções de custo,
funções de lucro, entre outras. Desta forma, exige-se certa compreensão acerca da intuição
que a concavidade informa ao leitor, assim como dos critérios analíticos.

Portanto veremos nas seções subsequentes uma abordagem simples e construtiva


das funções côncavas e quase-côncavas, abordando a definição, critérios analíticos e
propriedades, com recursos gráficos e exemplos de fácil compreensão.

1.1 Definição de Funções Côncavas1

Definição: Uma função real f definida num subconjunto convexo U de Rn é


côncava se, para quaisquer x, y em U e para todo t entre 0 e 1,

f tx(  (1 t y))  tf x()  (1 t f y) ( )

Esta definição e a sua expressão matemática podem ser explicitadas pelo gráfico
1 apresentado a seguir:

1
MATEMÁTICA PARA ECONOMISTAS, BLUME, L. E SIMON, C. P. CAP 21, p. 513.
3

Gráfico 1 – Representação da definição de funções côncavas

Fonte: elaborado pelos autores (2018).

A partir do gráfico, nota-se que ao traçar um segmento de reta secante2 que une
os pontos (f(x),x) e (f(y),y), qualquer ponto sobre o segmento de reta (vide a expressão
tf(x)+(1-t)f(y) verificada no eixo do lado esquerdo) estará situado abaixo de um ponto
situado na curva (vide expressão também situada no eixo do lado esquerdo: f (tx + (1 –
t)y)).

Isto significa que a função côncava é uma função que cresce a taxas decrescentes,
podendo inclusive apenas decrescer. Um bom exemplo seria a função de produção de uma
empresa.

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Segmento de reta que intercepta dois pontos em uma curva ou circunferência.
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1.1.1 Formas de identificar a concavidade em uma função algébrica

A forma mais simples de identificar a concavidade a partir de uma função


qualquer (equação qualquer) é testando possíveis pontos dentro na própria função.
Vejamos um exemplo, que ilustra o teste dos pontos e a obtenção de uma função côncava:
Função: y = - x2

A partir de um intervalo de valores de x [-4: 4] obteremos os respectivos valores


de y, com o intuito de através do par ordenado traçar os pontos no plano cartesiano e
observar a forma côncava.

Teremos para cada x um respectivo valor de y, com os seguintes pares ordenados


apresentados na tabela 1:

Tabela 1. Pares ordenados (x,y) definidos a partir da função y = - x².


X -4 -3 -2 -1 0 1 2 3 4

Y -16 -9 -4 -1 0 -1 -4 -9 -16
Fonte: elaborado pelos autores (2018).

Estes pares ordenados, ao serem dispostos graficamente, demonstram a seguinte


configuração apresentada no gráfico 2.

Gráfico 2 - Representação gráfica da função y = - x².

Fonte: elaborado pelos autores (2018).


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Assim, a partir do gráfico 2 é possível afirmar que a função é côncava. É


importante ressaltar que uma função f apenas é côncava se, e somente se, -f for convexa,
pois, a cada propriedade de funções côncavas corresponde naturalmente propriedades de
funções convexas. No exemplo acima, a função seria convexa se y = - (-x2), ou seja, se y
= +x2.

Portanto, além de visualizar a forma de concavidade, podemos notar um ponto


de máximo3, plotando e ligando os pares ordenados. Pode-se notar que se ligarmos dois
pontos qualquer da curva com um segmento de reta, ainda assim existirão valores
superiores na própria curva. De uma forma geral, basta atribuir valores aleatórios à
incógnita da função que obteremos uma curva (formato da função) côncava, um U com a
concavidade voltada para baixo (dito de outra forma, um U invertido). Logo, é possível
verificar que ao longo do domínio a função é côncava.

Entretanto, nem sempre será fácil testar pontos para então assegurar que uma
função qualquer é côncava, pois existem expressões bastante densas que exigem um novo
tipo de procedimento para identificação de uma função côncava. Sabendo disso, devemse
adotar critérios de cálculo para se determinar a concavidade ou não.

1.1.2 Testes analíticos para concavidade

A delimitação da concavidade necessita do cumprimento dos seguintes critérios:


1) Uma função num intervalo é côncava se, e somente se, sua primeira derivada
é uma função decrescente;
2) Uma função é côncava num intervalo se, e somente se, sua segunda derivada
é ≤ 0 para todo x e y no intervalo.

Para melhor compreensão dos testes analíticos de concavidade, iremos


inicialmente analisar o gráfico da função côncava f(x,y) = -2x2+8xy-9y2 (anexo, gráfico
a), e verificar a ocorrência dos testes analíticos.

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Ponto apenas possível na função côncava. Função cresce até o ponto de máximo, após, apenas decresce.
6

Adotando o primeiro teste analítico, sabe-se que para que a função seja
caracterizada côncava é necessário observar o comportamento da sua primeira derivada,
que no exemplo da função descrita acima, seriam:

f’(x) = -4x+8y, e f’(y) = 8x-18y.

Vejamos o comportamento das funções das derivadas de primeira ordem de f’(x)


e de f’(y), nos gráficos presentes no anexo (gráficos b e c, respectivamente).

Pode-se notar que ambos os gráficos representam funções decrescentes. No


gráfico b, para um valor de y constante, um aumento no valor x gera um resultado da
função cada vez menor. De modo análogo, no gráfico c, para um valor de x constante, um
aumento no valor de y gera um resultado da função cada vez menor. Sendo assim,
podemos verificar a tendência de função côncava.

Considerando, por outro lado, o segundo teste analítico, é necessário que a


segunda derivada seja ≤ 0 para toda variável em questão (x, y ou x e y, no caso em
questão).

Conforme discutido anteriormente, as funções côncavas são caracterizadas por


apresentar ponto de máximo, como será visto no gráfico a (anexo), da função côncava
f(x,y) = -2x2+8xy-9y2.

Para afirmar que uma função é côncava, é necessário que sua matriz hessiana
seja negativa o que garante o ponto de máximo. Isto se dá pelos seguintes passos:

1) A partir da função f’(x,y) efetua-se a primeira derivada com relação a cada uma
de suas entradas (x e y no caso em questão) e iguala-se a zero – isso refere-se à
condição de primeira ordem.
2) A partir da condição de primeira ordem, encontram-se os pontos críticos, os quais
devem ser submetidos à segunda derivada para formar a matriz hessiana.
3) No caso da matriz hessiana conter alguma variável, é necessário encontrar os
valores absolutos trocando as variáveis pelos pontos críticos calculados para aí
sim calcular a matriz hessiana.
4) É importante ressaltar que para cada ponto crítico há uma hessiana a ser formada.
5) Por fim, calculam-se os menores principais, sendo que a condição para que a
matriz hessiana seja considerada negativa e, consequentemente, a função seja
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côncava, é que os n menores principais líderes da matriz alternem de sinal


sucessivamente, sendo os de ordem ímpar negativos e os de ordem par positivos.

Com base nas etapas descritas, apresenta-se um exemplo considerando a sua ordem e
numeração:

Para uma função côncava f(x,y) = -2x2+4xy-4y2,

Etapa 1) Calcular condição de primeira ordem:

= - 4x + 4y = 0 = - 8y + 4x = 0

Etapa 2) Encontrar os pontos críticos, pelo método de substituição:

- 8x+4x=0
-4x = 0
→x=0
Em – 4x+4y=0, substituindo x por 0, tem-se
0+4y=0
→y=0
Logo, x = y = 0.

Calculando a condição de segunda ordem (segunda derivada) e montando a matriz


hessiana:

=-4

=4

=4

= -8

−4 4
8

4 −8
Etapa 3) Não há necessidade de substituir o(s) ponto(s) crítico(s) na matriz
hessiana porque ela não apresenta variáveis.

Etapa 4) A função apresentou apenas um ponto crítico (x=0, y=0), logo é


necessária somente uma matriz hessiana, já calculada.

Etapa 5) Calcular os menores principais líderes:

M1 = -4 < 0

M2 = (-4 * -8) – (4 * 4) = (32 – 16) = 16 > 0

Os menores principais líderes calculados alternam de sinal sucessivamente, sendo


o de ordem ímpar (1) negativo e o de ordm par (2) positivo. Assim, a função é negativa
definida, possuindo ponto de máximo. Afirma-se, então, que a função é côncava.

1.2 TEOREMA – FUNÇÕES CÔNCAVAS

Seja uma função C1 num intervalo I de R1. Então, f é côncava em I se, e somente
se,

f y()  f x( )  f '(x y)(  x)

para quaisquer x, y ϵ I.

Observação: Primeiro será apresentada a justificativa para que a condição garanta


que f’ é uma função decrescente. Para isso, efetua-se a divisão de ambos os lados por y –
x, com o cuidado de inverter a desigualdade:

() ()
→ ≤ ′() para quaisquer y > ϵ I.

() ()
→ ≥ ′() para quaisquer y < ϵ I.
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A partir da expressão acima, pode-se verificar o que ocorre no processo de


otimização, como mostra o gráfico 3. Nele verifica-se que com a derivação da função a
reta tangencia o ponto, satisfazendo a relação acima.

Gráfico 3 – Otimização e propriedade decrescente da função côncava

Fonte: elaborado pelos autores (2018).

1.3 PROPRIEDADES DE FUNÇÕES CÔNCAVAS

Algumas características são necessárias para a concavidade de funções:

1) Seus pontos críticos são máximos globais. Como vimos anteriormente, não existe
outro ponto crítico em todo domínio que seja mais elevado;
2) A soma ponderada de funções côncavas resulta em funções côncavas. É possível
verificar no gráfico 4 que a soma de duas curvas côncavas (Equações: y = -x2 e y
= -2x4) resulta em outra curva côncava.
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Gráfico 4 – Soma de funções côncavas

y 2x4  x²

Fonte: os autores.

3) Os conjuntos de nível de uma função côncava têm o formato ideal para a teoria do
consumo e da produção. Pode-se ver no gráfico 5 que as curvas de nível, situadas
na parte inferior (abaixo da curva), possuem similaridade com funções de
utilidade, onde o consumidor faz escolhas sobre a alocação da cesta de bens.
Também é possível relacionar esta similaridade com funções de produção, onde
um produtor escolhe a quantidade de insumos para produzir determinado bem.
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Gráfico 5 – Curvas de nível de uma função côncava

Fonte: elaborado pelos autores (2018).

1.4 FUNÇÕES QUASE CÔNCAVAS

Por definição, uma função quase-côncava é qualquer função que tenha


propriedades ordinais desejáveis de função côncava, ou seja, são as funções ordinais de
uma função côncava. As funções côncavas têm propriedade ordinal fundamental, pois,
seus conjuntos de nível limitam regiões convexas por baixo.

Teoricamente, todas as funções côncavas são quase-côncavas, entretanto, não


podemos afirmar o contrário. Segundo Simon e Blume (2008) uma função f definida num
subconjunto convexo U de Rn é quase-côncava se, para cada número real a,

C+a ≡ {x ϵ U: f(x) ≥ a

Uma função é quase-côncava quando para quaisquer x, y ϵ U e t ϵ [0, 1],

F(x) ≥ f (y) implica:

f tx(  (1 t y))  f y( )


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Para entender o conceito de funções quase-côncavas, é importante considerar as


noções de concavidade e convexidade de funções. Considerando uma determinada função
f(x) = f (x1, x2, x3,..., xn) pode-se escolher um número “c” que definirá o contorno da
função f(x). E para fins de análise, deseja-se que este contorno seja contínuo (sem saltos
ou brechas), como representado no gráfico 6.

Gráfico 6 – Contornos de uma função côncava

(a) Curva convexa; (b) Curva côncava.

Fonte: Elaborado pelos autores (2018)

Para analisar a concavidade dos contornos expressos no gráfico 6 devem-se


delimitar dois pontos, x’ e x”, de forma que f(x’) = f(x”) = c. A partir daí, seleciona-se
uma combinação convexa4 de x’ e x’’, que será representada por x* demonstrado no
gráfico 7.

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Um subconjunto X de um espaço vetorial é convexo quando todo segmento de reta de ligando dois
pontos (ou seja, a secante) de X está contido em X.
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Gráfico 7 – Contornos de uma função convexa e de uma função côncava

(c) Função conexa; (d) Função côncava.

Fonte: Elaborado pelos autores (2018).

Como já explicitado anteriormente, uma função é convexa quando f(x*) ≥ f(x’)


= f(x’’) = c e uma função é côncava se f(x*) ≤ f(x’) = f(x’’) = c. Neste sentido, uma
função é dita quase-côncava quando a combinação convexa dos pontos x’ e x” (pontos
situados no contorno) fornecer valores pelo menos tão altos quanto aos da função f(x).
Conclui-se, então, que para ser quase-côncava x* está sobre o contorno ou acima dele.
Fácil perceber com base no exposto que a função representada no gráfico 7 como côncava,
não é considerada uma função quase-côncava.
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Para exemplificar vejamos uma composição de pontos (pares ordenados) na


tabela 2 que perfazem o formato de uma função quase-côncava verificada no gráfico 8.

Tabela 2. Pares ordenados (x,y).


X -5 -4 -3 -2 -1 0 1 2 3 4 5

Y 0 1,25 2,5 5 8,5 10 8,5 5 2,5 1,25 0


Fonte: elaborado pelos autores.

Gráfico 8 – Representação gráfica de uma função quase-côncava

Fonte: elaborado pelos autores.

Em economia, as funções quase-côncavas são importantes, pois, podem servir para


análise de funções de produção e utilidade, por possuírem algumas propriedades que são
desejáveis nessas funções.
De modo geral, podemos dizer que toda a função côncava é quase-côncava (...). Além
disso, qualquer transformação monotônica de uma função côncava é uma função
quasecôncava. Em particular, como cada função Cobb-Douglas é uma transformação
monotônica de uma função Cobb-Douglas com retornos decrescentes de escala, cada
função Cobb-Douglas de duas variáveis é quase- côncava.
Para calcular a função quase-côncava existe um teste de primeira derivada necessário
e suficientes que fornece uma técnica útil para provar teoremas sobre funções
quasecôncavas.
F será quase-côncava em U se, somente se,
F(y)≥ F(x) implica que DF (x)(y – x) ≥ 0
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Considerando isto, convém definir o que entende-se por função estritamente


quase-côncava. Ela será assim definida quando a combinação convexa x* dos pontos x’
e x” for sempre acima do contorno e nunca sobre o contorno, como explicitado no gráfico
9. Nessa situação é possível selecionar uma combinação convexa que esteja sobre o
contorno. Assim, a função do gráfico 9 é quase-côncava, mas não estritamente
quasecôncava.

Gráfico 9 – Curva de uma função quase-côncava

Fonte: elaborado pelos autores.

Os conceitos supracitados têm importância na economia. Por exemplo, a


convexidade das preferências implica na quase-concavidade da função utilidade. Uma
função utilidade U: X→ R será quase-côncava se:

U x( ) U y() U ( x (1)y) U y( )

Onde 0 > α >1.

Ressalta-se (αx + (1-α)y) representa a seleção de uma combinação convexa de


duas cestas de bens que estejam no contorno da função utilidade U(y).
Conclui-se, também, que a convexidade forte das preferências implica na quase
concavidade estrita da unção utilidade U.
Dessa forma, x y e
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U x U y( ) ( )U x(  (1) )y U y ( )


1.4.1 Diferença entre côncavas e quase-côncavas

Segundo Simon e Blume as funções quase-côncavas deixam de ter duas das três
propriedades importantes de funções côncavas:
• Ponto Máximo: um ponto crítico de uma função quase-côncava não
precisa ser um máximo, muito menos um máximo global;
• Soma das funções: a soma de funções quase-côncavas não precisa ser
necessariamente uma função quase-côncava.

É importante considerar também que uma função quase-côncava é côncava se também


for homogênea de grau um.
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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

CUSINATO, R.T., Otimização. Notas de aula. Disponível em:<


www.carlosalberto.pro.br/arquivos/P1_quant_II_2_00.pdf> Acesso: 18-abr-18.

OLIVEIRA, R.G., Teoria do Consumidor: Preferências e utilidade. Slides de


apresentação Usp. Disponível em:<
https://edisciplinas.usp.br/mod/resource/view.php?id=103523> Acesso: 18-abr-18.

SIMON, C.P.; BLUME, L. Matemática para Economistas. Bookman. 2004.


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ANEXOS

Gráfico a – Função côncava f(x,y) = -2x2+8xy-9y2

Gráfico b – Representação de f’(x)=-4x+8y

Gráfico c – Representação de f’(y)=8x-18y

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